O pastor, velho palhaço de pastoril, deputado Otoni de Paula, que ameaçou matar o presidente Lula, além do instinto assassino, sente prazer em ofender as pessoas. Veja ele dando uma de exagerado afeminado gay, para ridicularizar e humilhar o deputado David Miranda.
Veja o vídeo:
Escreveu Gabriel Barreira, no G1 Rio:
Otoni de Paula (PSC) fez gestos polêmicos ao fim do discurso em que defendeu o prefeito Marcelo Crivella (PRB). Olhando para David Miranda (PSOL), que é assumidamente gay, ele fez gestos considerados homofóbicos.
Logo antes, ao acabar o seu discurso, ele havia feito o mesmo gesto olhando para os espectadores. Ele também "deu uma banana" com as mãos.
Vereadores da oposição afirmaram que vão processar Otoni na Justiça por homofobia.
Em setembro do ano passado, Otoni se envolveu em outra polêmica ao fazer uma postagem no Facebook com o título 'cantora ou garota de programa?' usando fotos da cantora Anitta em um show. O político posteriormente pediu desculpas por ter usado a expressão "vagabunda de quinta" na postagem, e atribuiu a abaixaria misógina a assessores. Anitta respondeu às críticas na própria página do parlamentar.
O mais grave é que o pastor, fundamentalista do movimento cristofascismo, com o seu propagado, exibionista e espalhafatoso falso amor cristão, ameaçou Lula de morte.
Otoni de Paula usa o plenário da Câmara para ameaçar Lula: ‘Vai ser na bala’
Publica Carta Capital: O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) é mais um a fazer ameaças ao ex-presidente Lula. Em discurso no plenário da Câmara, o bolsonarista se dirigiu a “vagabundos igual a Lula” e afirmou que “lá no Rio a gente tem um métodode tratar bandido, e é na bala”.
O "método de tratar bandido": o lavajatista "excludente de ilicitude" das chacinas, dos massacres policiais, e genocídio dos jovens negros.
“Prudentópolis está de portas abertas aos nossos irmãos ucranianos. Temos o mesmo sangue, somos todos o mesmo povo“, disse o presidente da Sociedade Brasileira da Ucrânia.
A fala de Adalberto Kravchenko não ecoou convincente. A palavra povo parecia oca por dentro, algo tão palpável quanto tenha sido a existência da Bósnia Herzegovina.
O homem falava em um caminhão de som, assistido por seis pessoas na praça José Melnyk.
Grita-se povo, ninguém aparece.
E no entanto, no mesmo dia em que uma bomba explodia em Khárkiv, em Prudentópolis, ErmíniaTkachukcozinhava sua dor, atenta ao barulho da televisão.
–
No quinto dia de confronto, o jornal britânicoDaily Mailpublica a manchete: Brasil festeja carnaval enquanto o resto do mundo protesta contra a guerra. NoInstagram, 23.678 comentários.
“ Se rolasse carnaval no leste europeu, não tinha treta.”
“ Por que ninguém me chamou para a suruba do Boris Johnson?”
“ América Latina bode expiatório da culpa.”
“ É que comentar nessa rede ajuda muito… kkk.”
“ Rio de Janeiro dando lição.”
–
A percepção mais sagaz, contudo, foi enunciada por Roberto, o taxista mais carismático da praça Tiradentes: “O GNV vai bater em oito reais, um monte de gente com fome e diz que a guerra é lá na Ucrânia.”
Taxistas, até onde se sabe, sempre foram termômetros do social, ainda que sem um pingo de prestígio.
–
Na mesma linha de raciocínio, a pesquisadora franco-brasileira Alice Gagnon publica a tese“Por que não a guerra? Uma análise de linguagem envolvendo a cobertura jornalística das chacinas no Rio de Janeiro”, na qual discorre sobre a supressão da palavra guerra, lá onde milicianos matam mais do que o exército russo instalado na Síria. Segundo Alice, a inutilização da palavra servia à banalização da barbárie.
–
Há um século e uns tantos anos, Franz registrou em seu diário: “Hoje a Alemanha declarou guerra à Rússia, à tarde fui nadar.”
Diários são imorais por natureza, mas naquele dois de agosto de mil novecentos e catorze, escancarou-se o fato de que o escândalo não são as bombas, o barulho ou os velhos despedaçados: a banalidade é que é obscena, e Franz, muito tranquilo de si, optava por refrescar-se nas piscinas públicas de Ostrava sempre que o sol permitia.
Um vídeo, que circula nas redes sociais, mostra o momento em que um parrudo policial militar segura uma jovem de 21 anos pelo pescoço, em uma abordagem na cidade de Iacanga, no interior de São Paulo. A garota - suspensa no ar - parece uma boneca desengonçada.
Um agente a segura pelo pescoço, enquanto ela está encostada na viatura. E outros, com força, colocam os braços dela para trás e a algemam.
A corporação informou, por meio de nota cômica, que a “contenção foi realizada, visando a integridade física das outras mulheres e dos próprios policiais” porque a jovem, magrinha e desarmada, “estava muito agitada”, reclamando, reclamando da abordagem desconforme, dessemelhante, desigual.
Tivesse sido um negrinho estaria hoje estirado, com um tiro na nuca.
Vem dançar, vem requebrar Vem fazer o corpo se mexer Acordar
É a mão direita, mão direita, mão Direita agora A mão direita, que eu acordar É a mão esquerda, a mão esquerda A mão esquerda agora As duas juntas que eu vou acordar
É o ombro direito, é o ombro direito É o ombro que eu vou acordar É o ombro esquerdo, é o ombro Esquerdo Os dois juntos que eu vou acordar
É o cotovelo direito, é o cotovelo Direito É o cotovelo que eu vou acordar É o cotovelo esquerdo, é o cotovelo Esquerdo Os dois juntos que eu vou acordar
É o braço direito, é o braço direito É o braço que eu vou acordar É o braço esquerdo, é o braço Esquerdo Os dois juntos que eu vou acordar
É o joelho direito, é o joelho direito É o joelho que eu vou acordar É o joelho esquerdo, é o joelho Esquerdo Os dois juntos que eu vou acordar
É o pé direito, é o pé direito, é o Pé direito agora É o pé direito, que eu vou acordar É o pé esquerdo, é o pé esquerdo É o pé esquerdo agora Os dois juntos que eu vou Acordar
É a cabeça, os ombros, as mãos Cotovelos e braços Que eu vou acordar A cintura, a barriga, o bumbum Os joelhos Tudo junto que eu vou acordar
Em conversa com apoiadores, no Palácio da Alvorada, o presidente voltou a estimular a população a comprar armas de fogo
Porque bandido bom é bandido morto. E a polícia bolsonarista não combate nem o crime armado nem o desarmado. Que soldado é polícia de dia, milícia de noite. Assim sendo fica justificado o povo armado, que a polícia não serve para nada.
Ou será que Bolsonaro quer o fuzil apenas para os extremistas da direita volver? Para a luta armada, a guerra civil, derrubar o governo de Lula depois de 1 de janeiro de 2023, que Lula derrota Bolsonaro nas urnas do primeiro turno.
Em conversa com apoiadores nesta sexta-feira (27), no Palácio da Alvorada, Bolsonaro voltou a estimular a população a comprar armas de fogo. O presidente disse que é idiota quem afirma que é preciso comprar feijão em vez de fuzil.
“O CAC está podendo comprar fuzil. O CAC, que é fazendeiro, compra fuzil, o 762. Tem que comprar é... tem que todo mundo comprar fuzil, pô. O povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Tem um idiota: 'ah, tem que comprar é feijão'. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”, disse Bolsonaro.
CAC, a que Bolsonaro se referiu, é a sigla para Caçador, Atirador e Colecionador. Fera da extrema direita. CAC é CCC é KKK é TFP.
Bolsonaro quer o fazendeiro armado para eliminar o sem terra, o grileiro armado para matar índio.
Grileiros, garimpeiros armados para tocar fogo no povo e nas florestas. E assassinar ambientalistas, líderes sindicais, defensores dos direitos humanos, lideranças indígenas, lideranças comunitárias
Vejo como simplistas e exageradas as análises que situam em campos opostos hoje os militares e o Centrão, na disputa pela hegemonia no governo Bolsonaro.
No quesito briga por ocupação de cargos e, consequentemente, controle de verbas, de fato, a queda de braço é real. Não satisfeitos com os mais de 6 mil cargos que detêm na administração direta e nas estatais, os militares querem mais.
Quanto ao Centrão, os cargos de poder e as fatias polpudas do orçamento constituem-se na própria razão de ser do agrupamento.
Contudo, a tese do antagonismo incontornável entre o “partido militar” e os políticos vorazmente fisiológicos do Centrão não resiste a um exame mais cuidadoso.
Antes, abro parênteses: qualquer país essencialmente democrático deve contar com forças amadas estritamente profissionais, dedicadas exclusivamente à soberania nacional e sem envolvimento em política, como cabe a instituições de Estado, e não de governo. No caso do Brasil, bastaria que se cumprisse o que prevê a Constituição, a lei maior do país. Fecho parênteses.
Voltando à vida como ela é, pensei em alguns pontos reveladores das semelhanças entre boa parte das forças armadas e o Centrão.
Patriotismo sem povo: Os militares jactam-se de serem mais patriotas que os civis. Só que esse peculiar conceito de patriotismo da caserna passa ao largo do sofrimento do povo desempregado, precarizado e desalentado, do corte de direitos da classe trabalhadora, dos milhões de irmãos brasileiros que não têm o que comer, onde morar nem terra para plantar. Já os políticos do Centrão estão sempre prontos a apresentar e votar em projetos de lei que ceife conquistas históricas dos trabalhadores, aumentando a concentração de renda e a desigualdade. É só ver como votou o Centrão nas reformas trabalhista e da previdência.
Venda do patrimônio da nação: O apreço dos militares ao patrimônio estratégico do país ficou no passado. Convertidos ao neoliberalismo mais tosco, ou fazem vistas grossas ou apoiam abertamente a venda, na bacia das almas e a toque de caixa, de estatais como a Embraer, a Eletrobrás e os Correios. Os fardados bateram palmas também para a entrega da riqueza do pré-sal às petroleiras estrangeiras e para a liquidação do Fundo Soberano criado nos governos petistas, cujos recursos eram carimbados para a saúde, educação, cultura e ciência e tecnologia. Esse verdadeiro passaporte para o futuro do povo brasileiro virou pó no governo golpista de Temer. Os parlamentares do Centrão ajudaram a aprovar todas essas leis lesa-pátria e antipovo no Congresso Nacional.
Déficit de convicção democrática: As forças armadas e a quase totalidade dos partidos e parlamentares que compõem o Centrão apoiaram o golpe contra a presidenta Dilma. Fingindo neutralidade institucional, os militares se deixavam trair por declarações de membros de sua cúpula em favor do impeachment sem crime. Já a caçada e a prisão ilegal de Lula contaram não só com aval das forças armadas, mas também com ações explicitamente à margem a lei, como a pressão do então comandante do Exército, general Villas Bôas, para que o STF não concedesse habeas corpus a Lula.
Indiferença em relação ao extermínio de pretos e pobres: Mesmo na pandemia, as estatísticas apontam um crescimento exponencial da letalidade policial. E a imensa maioria das vítimas é formada por jovens negros e pobres, moradores das favelas e bairros das periferias dos centros urbanos. Para ficar só num exemplo recente, em 6 de maio deste ano, a Polícia Civil do Rio assassinou a tiros ou com objetos de corte nada menos do que 29 pessoas tidas como “suspeitas”, na favela do Jacarezinho. O mundo político conservador e de direita, fortemente presente no Centrão, e os milicos se calaram, quando não saíram a justificar o massacre taxando as vítimas de criminosas, mesmo que a elas tenha sido negado o direito à defesa, ao contraditório e a um julgamento justo.
Operação policial na favela do Jacarezinho deixou 28 mortos, um deles um policial
O PORÃO VOLTOU
por ConJur
A Polícia Civil do Rio de Janeiro abriu inquérito para investigar se o editor-executivo do site The Intercept Brasil, Leandro Demori, cometeu calúnia ao questionar a operação policial que deixou 28 mortos na favela do Jacarezinho, zona norte da capital fluminense, em 6 de maio.
Dois dias após a operação, Demori reproduziu nas redes sociais trechos de uma newsletter sua em que afirmou que policiais que participaram do ação do Jacarezinho "são conhecidos à boca pequena como 'facção da Core', a Coordenadoria de Recursos Especiais".
"A história cresce quando juntamos outros fatos: a 'facção' está envolvida no caso João Pedro (menino de 14 anos, morto durante uma operação), na chacina do Salgueiro (oito mortos) e no caso do helicóptero da Maré (oito mortos). São 41 homicídios somente nesses casos. Quantos mais?", disse Demori.
Quem comunicou a suposta calunia foi o delegado Pablo Dacosta Sartori, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI). Segundo a Polícia Civil, a delegada Daniela dos Santos Rebelo Pinto assinou a abertura da investigação porque Sartori estava afastado por licença medica.
"Trata-se de ocorrência realizada por determinação de autoridade policial, com objetivo de apurar o teor de diversas acusações realizadas contra policiais civis do estado do Rio de Janeiro, em especial contra os policiais lotados na Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), uma vez que, após buscas virtuais realizadas pelo setor técnico desta delegacia especializada, foram identificados perfis nas redes sociais, onde há afirmação de que os policiais são criminosos e que fazem parte de uma 'facção' que mantém um grupo de assassinos", afirma o inquérito, instaurado em 12 de maio.
Leandro Demori, que deverá depor nesta quinta-feira (10/6), afirmou à Folha de S.Paulo que a apuração é arbitrária. "O que me espanta é que, em vez de usarem o aparato policial para investigar a denúncia, investigam o jornalista."
O Intecept Brasil, em editorial publicado nesta terça (8/6), disse que "tudo indica que a DRCI se tornou uma delegacia de repressão política".
"Em democracias saudáveis, a polícia estaria preocupada com a pilha de mortos que a Core vem deixando em suas operações. No Brasil dos nossos tempos, a polícia quer intimidar e pressionar o mensageiro. Demori foi intimado a comparecer na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática na próxima quinta-feira, às 14h. A DRCI é a mesma que intimou Willam Bonner, Renata Vasconcellos e Felipe Neto, em casos com evidente viés político. Tudo indica que a DRCI se tornou uma delegacia de repressão política. O Intercept não vai se curvar a isso, nunca."
Também é investigado no inquérito o biólogo Lucas Sá Barreto Jordão. Isso porque ele publicou o seguinte comentário sobre a operação no Jacarezinho no site do El País: "Operação de bandidos fardados mata 25 pessoas".
Histórico arbitrário
Titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, Pablo Dacosta Sartori foi o responsável por instaurar, a pedido do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), inquérito contra o youtuber Felipe Neto. A investigação, com base na Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/1983), foi aberta após ele chamar o presidente de “genocida”.
Sartori também abriu inquérito contra os apresentadores do Jornal Nacional William Bonner e Renata Vasconcellos. Isso por eles noticiar que o Ministério Público do Rio havia oferecido denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). As investigações contra Felipe Neto e os jornalistas da Globo foram arquivadas pela Justiça.
Além disso, a Justiça trancou inquérito em que Sartori acusou a Ordem dos Advogados do Brasil de ser uma organização criminosa.
Em maio de 2019, as advogadas Carolina Araújo Braga Miraglia de Andrade e Mariana Farias Sauwen de Almeida acompanharam a cliente Izaura Garcia de Carvalho Mendes em ida à Delegacia de Combate à Pirataria do Rio. Na ocasião, Izaura, portando um falso registro da Biblioteca Nacional, acusou o padre Marcelo Rossi de plágio. O delegado Maurício Demétrio Afonso Alves então decretou a prisão em flagrante das três mulheres por uso de documento falso, formação de quadrilha, denunciação caluniosa e estelionato.
A seccional do Rio de Janeiro da OAB afirmou que a decretação de prisão das advogadas no exercício da atividade foi ilegal e apresentou representação contra o delegado por abuso de autoridade no Ministério Público.
A pedido de Maurício Alves, o delegado Pablo Dacosta Sartori abriu inquérito contra os dirigentes da OAB-RJ para investigar a prática de uso de documento falso, denunciação caluniosa e associação criminosa e os convocou para prestar esclarecimentos.
Pablo Dacosta Sartori
Em seu relato, Alves afirma que representantes da Ordem estariam protocolando uma petição relatando supostos crimes e transgressões disciplinares cometidos por ele. No entanto, o delegado diz que os advogados praticaram "omissões criminosas" na acusação de abuso de autoridade e alegou inocência. No inquérito, por duas vezes, os dirigentes foram chamados de "os criminosos da OAB" por Sartori.
Por Sheila de Carvalho, Douglas Belchior e Jaime Alves /Folha de S. Paulo
Situação exige posicionamento da sociedade civil, da comunidade internacional e do sistema ONU; Coalizão Negra por Direitos convoca protestos
Em 1951, o movimento pelos direitos civis nos EUA acusava aquele país de genocídio de sua população negra por meio da histórica petição “We Charge Genocide”. O documento fazia um paralelo entre “o assassinato bárbaro de milhōes de judeus” e “os negros mortos por causa de sua raça”. Também na África do Sul ativistas negras e negros sul-africanos chamaram a atenção do mundo por mais de quarenta anos para o terror racial do apartheid, levando a ONU a condenar o regime em 1973 e declarar sanções econômicas nos anos seguintes.
O movimento negro brasileiro tem sistematicamente pedido a solidariedade do mundo para denunciar o genocídio antinegro colocado em curso pelo Estado brasileiro. É genocídio! Tomando a definição da ONU, da qual o Brasil é signatário, “entende-se por genocídio (…) atos cometidos com a intenção de destruir no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”. Quando se olha para o número de mortes de negros pelo Estado brasileiro, evidencia-se esse processo. Somente no ano de 2020, mais de 5.600 pessoas foram mortas pelas polícias no Brasil. Há mortes sistemáticas de jovens negros e negras nas periferias brasileiras. Pelo menos 75% das vítimas do terror policial pertencem a esse grupo racial.
A chacina do Jacarezinho contabiliza, até o momento, ao menos 29 mortes. Vidas e histórias exterminadas pelas forças do Estado, sem respeito e nenhum direito previsto em lei. Corpos cuja humanidade e cidadania são negadas na vida e na morte. Assassinatos resultantes de uma operação policial ilegal e proibida pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Desde junho de 2020 até março deste ano, mais de 823 pessoas foram mortas em operações policiais, mesmo com a proibição da Suprema Corte (ADPF das Favelas).
Vivemos em um país no qual amanhã poderemos estar mortos pelo fato de sermos negros. Seja pelo coronavírus, seja pela fome, seja pela bala, o projeto político e histórico de genocídio negro avança no Brasil. Mas a sociedade não acredita nisso, ou não se importa.
Em 1994, um grupo de pastores de uma pequena comunidade no interior de Ruanda escreveu uma carta ao líder de sua congregação pedindo ajuda frente ao perigo iminente. A carta, imortalizada em publicação de Philip Gourevitch, intitulada “Desejamos informar-lhe que amanhã seremos mortos”, foi ignorada. Todos foram assassinados. Mais tarde, o apelo se transformaria em uma denúncia do desprezo do mundo frente às mais de 800 mil vítimas do genocídio de Ruanda.
bala
Até quando as manifestações, a elaboração e os apelos do movimento negro brasileiro serão ignorados? O que vimos no Jacarezinho foram execuções sumárias de indivíduos eleitos como inimigos públicos por sua origem racial. A cor dos mortos nesta e nas inúmeras operações policiais nas periferias urbanas do país revelam a prática sistemática do genocídio da população negra brasileira.
A situação exige um posicionamento da sociedade civil brasileira, da comunidade internacional, do sistema ONU e da sociedade civil global acerca do que vivemos.
Neste 13 de maio, Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo, a Coalizão Negra por Direitos, uma aliança que reúne mais de 200 organizações de todo país, convoca manifestações em todos os estados pelo fim do genocídio negro, das operações policiais assassinas, das chacinas de todo dia e pela construção de mecanismos objetivos de controle social da atividade policial.
Em entrevista à Globo News, defensor Rodrigo Pacheco citou a Constituição da República, que proíbe pena de morte, e relembrou o episódio que ficou conhecido como ‘Tiro na cabecinha’, de Wilson Witzel.
O defensor público geral do estado do Rio, Rodrigo Pacheco, disse que ter antecedente criminal não pode ser justificativa para grande número de mortes no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. O operação na comunidade deixou 28 mortos, entre eles o policial civil André Farias, de 48 anos, e foi considerada a mais letal da história no estado.
“(…) Nesse momento esse debate se tinha antecedente ou não tinha antecedente é irrelevante”.
“A Constituição da República proíbe pena de morte e determina que a pessoa que pratica crime seja processada, tenha direito à defesa e seja julgada por um juiz isento e imparcial. Essa é a defesa da instituição da Defensoria Pública”, disse Pacheco em entrevista à GloboNews.
“Por isso, eu vejo com muita preocupação quando a gente mistura, para tentar justificar um grande número de mortes, o fato de todos terem antecedentes criminais, condenações”, falou.
Segundo ele, na quinta-feira (6), logo após o início da operação, a Defensoria foi acionada para prestar atendimento a moradores. Familiares dos mortos, dos presos e outras pessoas que sofreram danos psicológicos e viram suas casas serem invadidas também estão sendo assistidos.
Na entrevista, Pacheco lembrou ainda sobre episódio que ficou conhecido como “Tiro na cabecinha“. A proposta estava entre as mais repetidas do programa de governo de Wilson Witzel (PSC), eleito apoiado no discurso do combate ao tráfico de drogas e à corrupção.
“A perversidade desse discurso do 'Tiro na cabecinha' é porque ele deixa um policial ainda mais vulnerável”.
“Esse policial da ponta ver o chefe do executivo estimulando e falando ‘policial, dê tiro na cabecinha e eu vou lhe proteger’, só que é uma promessa que ele não pode cumprir porque esse policial, confiando na chefia máxima do poder executivo, vai pro confronto, cumpre a missão de 'Tiro na cabecinha' e depois vai ser réu porque quem controla depois a responsabilização desse policial é o Ministério Público, é o judiciário”.
“Ao invés de proteger, [esse discurso] vulnerabiliza ainda mais o trabalhador policial civil e o trabalhador policial militar porque quem vai sofrer lá na ponta, sequer vai ser a chefia desse policial, sequer vai ser o chefe do poder executivo. Vai ser o próprio policial”, disse.
Investigação do MP
Além da Defensoria, o Ministério Público do Rio (MPRJ) também investiga se houve abuso na operação no Jacarezinho.
Patrick Marcelo da Silva Francisco e Max Arthur Vasconcellos de Souza disseram que foram agredidos pelos policiais civis com socos, chutes, pisões e golpes de fuzis. Eles falaram ainda que as agressões teriam deixado marcas em seus corpos.
O preso Vinícius Pereira da Silva também disse ter sido agredido com socos e chutes pelos policiais. O RJ2 teve acesso ao resultado do exame de corpo de delito feito por ele.
No documento, há fotos do olho inchado e de um ferimento na coxa de Vinicius. Em resposta à pergunta do investigador se há vestígios de lesão à integridade corporal ou à saúde da pessoa examinada com possíveis relações ao fato narrado pelo preso, o legista respondeu que “sim”.
Na semana passada, ao divulgar informações sobre a operação, a polícia disse que todos os mortos na operação, que é considerada a mais letal da história do estado, tinham antecedentes criminais e que entraram em confronto com os agentes.
Nesta segunda-feira (10), o RJ2 mostrou o relatório com as fichas criminais dos baleados – dos 27 mortos, 25 tinham passagens pela polícia.
Detalhamento de supostos crimes
O documento aponta que 12 deles tinham envolvimento com o tráfico de drogas no Jacarezinho;
Outros 12 tinham registros por outros crimes, como posse e uso de drogas, furto, roubo, porte ilegal de armas, ameaça e lesão corporal. Um foi fichado por desacato;
Dos 12 mortos sem denúncia de envolvimento com o tráfico, a polícia afirma que, em três casos, parentes confirmaram em depoimento a ligação deles com facções criminosas;
No caso dos outros nove, a polícia justificou o envolvimento deles com o tráfico a partir de fotos e mensagens publicadas em redes sociais;
Em relação aos dois sem antecedentes criminais, a polícia afirmou que eles tinham envolvimento com o tráfico confirmado em depoimento por parentes. Um deles era menor de idade;
O relatório traz, ainda, fotos dos mortos retiradas de redes sociais. Em muitas, eles aparecem portando armas. Em outras, não.
Três citados em denúncia
Também no documento, dos 27 mortos, só três eram citados na denúncia oferecida pelo Ministério Público, que orientou a Justiça nos mandados de prisão e motivou a polícia a entrar na favela.
Para assistir a entrevista na íntegra clique aqui.
“A gente precisa se organizar para lutar pelo direito de autodefesa das comunidades pobres”, afirmou o coordenador do coletivo de negros João Cândido e dirigente do PCO, Juliano Lopes, durante ato em São Paulo, no sábado, 8, contra a Chacina do Jacarezinho.
“A comunidade e o povo trabalhador tem o direito legítimo e democrático de reagir à altura diante dos ataques cometidos pela polícia”, emendou. “Nesse sentido, toda a reação violenta é legítima contra os órgãos de repressão que estão matando a população pobre nos becos, nas favelas e nas ruas”.
A declaração destoou do restante das organizações de esquerda que estiveram presentes no ato. Na maioria dos casos, além de importantes denúncias que foram feitas, os movimentos e partidos presentes faziam apelos emocionais, como “parem de nos matar”, ou imitavam a luta nos Estados Unidos, com “vidas negras importam”.
Os gritos revelam que boa parte da esquerda carece de um programa para combater a política, cada vez mais recorrente, de chacina da classe operária brasileira, de maioria negra. Os que têm alguma reivindicação, pedem “justiça” e a “desmilitarização” da Polícia Militar.
Ilusões na "Justiça"
No primeiro caso, Juliano Lopes tratou de esclarecer o problema: “A Justiça é o Sergio Moro. A Justiça arquivou os processos do Carandiru, vai arquivar os de Osasco, vai arquivar os da Candelária. O policial que mais mata é promovido”.
A Justiça, desta forma, é um instrumento do Estado para garantir a política da burguesia, de extermínio da população pobre. Geralmente, quando ocorre alguma forma de punição a agentes da repressão, que seriam promovidos pela matança, é resultado de uma intensa mobilização popular.
Mas, mesmo assim, pegando o caso dos Estados Unidos. Se por um lado as manifestações mostraram de qual forma se luta contra a repressão - com organizações nos bairros operários e fazendo uso da violência se for preciso -, elas também mostraram o que não fazer em relação ao programa a ser defendido.
“Justiça para George Floyd” levou ao aprisionamento de apenas um policial, Derek Chauvin, enquanto salvou a pele de toda a corporação e dos chefes da unidade que sufocou o cidadão. Da mesma forma, mesmo com “Justiça”, o que observamos após o caso Floyd foi uma onda de casos de repressão policial, levando ao assassinato de diversas pessoas negras. Assim, a “Justiça” é um ouro de tolo usado para tentar estancar a luta contra a repressão.
"Desmilitarização da PM"
A reivindicação pela “desmilitarização” é confusa, mas na maioria dos casos é associada ao fim da Polícia Militar. Seria já um avanço acabar com esse órgão exclusivo do Brasil e resquício da ditadura, mas não resolve a questão do banho de sangue promovido pelo Estado.
No início de sua fala, Lopes destacou: “os autores da chacina fazem parte da Polícia Civil, e não da militar, o que mostra que a polícia precisa ser dissolvida de cabo a rabo. Não basta só o fim da Polícia Militar, mas o fim de todos os órgãos repressivos, que são eles que promovem essa matança na periferia”.
Nesse sentido, o caso do Jacarezinho é esclarecedor, pois não foi a PM que invadiu a favela e executou a sangue frio 27 pessoas. Foi a Polícia Civil. Do que adianta, então, dissolver a PM e manter vigente um órgão tão assassino quanto?
Programa de reivindicações
Os casos nos EUA mostram que não basta se mobilizar contra a repressão. Lá, os protestos, com razão, foram violentos, explosivos e combativos, mas as organizações dirigentes, tanto do movimento negro, quanto dos partidos de esquerda, não tinham um programa objetivo de reivindicações.
Por isso, é necessário colocar em discussão um programa real para acompanhar as manifestações que tendem a crescer no Brasil.
Primeiro, unificar a luta contra a repressão na luta geral contra o golpe de Estado. Junto com “Fora Bolsonaro e todos os golpistas”, a luta pelos direitos políticos de Lula, contra o desemprego e a fome, e pela quebra das patentes da vacina para imunizar em massa a população contra a Covid-19 e barrar o genocídio sanitário.
Dissolução da polícia
Segundo, na questão da repressão, é fundamental colocar a dissolução de toda a polícia. Conforme disse o dirigente do coletivo de negro João Cândido, “o que aconteceu no Jacarezinho não foi um acidente, não se trata de um desvio de conduta, mas é a prática regular, orientada pelas forças de repressão do Estado”.
A polícia é um órgão da burocracia estatal para reprimir a população pobre, isto é, impor um controle sobre o povo para manter o regime de ataques contra os trabalhadores. É um órgão vindo de cima, cujos agentes não têm nenhum vínculo com os bairros onde promovem banhos de sangue.
A reivindicação mais democrática, nesse sentido, é a substituição dos órgãos de repressão estatal por milícias organizadas por bairros, aldeias e assentamentos, eleitas pela população. Quem se coloca contra isso tem um profundo preconceito contra a capacidade do povo de se organizar e tem profundas ilusões na “Democracia”. Não pode ser considerado socialista e muito menos democrático (no real sentido da palavra).
Para estes, devemos lembrar incansavelmente que nas favelas brasileiras os bairros, do saneamento às casas, foram construídos pelos próprios moradores, com os recursos precários e escassos disponíveis. Portanto, o povo é amplamente capaz de se organizar em defesa de seus interesses.
Essa questão, no entanto, não resolve em absoluto o problema da repressão, pois a direita, organizada regionalmente, irá, sem dúvidas, influir em tal processo eletivo. Mas, pelo menos, ameniza a situação, dando mais controle popular sobre a segurança, que será feita por moradores dos próprios bairros - pessoas que não estão alheias ao que lá ocorre.
Armamento do povo
Terceiro, para facilitar o controle do povo sobre o Estado é necessário levantar a reivindicação essencial do armamento massivo da população. Não é um problema revolucionário socialista, mas um problema democrático. A burguesia, em seu tempo revolucionário, defendeu a legalização do armamento popular para quebrar o monopólio das armas pela aristocracia, levantando a ideia de que um povo desarmado é um povo escravizado.
Conforme disse Lênin, “democracia é uma arma no ombro de cada trabalhador”. Essa reivindicação, no entanto, não é a mesma política defendida pela extrema-direita. Os fascistas querem flexibilizar o porte de armas para facilitar o armamento de suas milícias, ao mesmo tempo em que, historicamente, restringem o seu acesso à ampla maioria da população, colocando empecilhos burocráticos.
O que o movimento operário defende historicamente é o armamento massivo da população, começando pelos sindicatos, mas estendendo esse direito para todo o povo brasileiro.
Para exemplificar. Nesta segunda-feira, 10, garimpeiros chegaram com sete barcos e atiraram contra indígenas na Terra Yanomami, em Roraima. Os indígenas revidaram. O que poderia ter sido mais uma chacina no campo, não ocorreu, deixando um saldo de quatro garimpeiros feridos e um indígena.
Mostrou a importância de fundar os comitês de autodefesa no campo e nos bairros operários para impedir as chacinas.
Casos semelhantes deram em nada. A chacina do Fallet, que deixou 15 mortos em 2019, até hoje não teve desfecho. A investigação sobre a morte do adolescente João Pedro, morto em operação da Polícia Civil com a PF em 2020, está parada
A maior chacina da história do Rio de Janeiro foi cometida por um grupo de extermínio em 2005, na Baixada Fluminense. Foram 29 mortos. A segunda maior, acontece nesta quinta-feira, pelas mãos da Polícia Civil, no Jacarezinho, na zona norte do Rio. Até a publicação deste texto havia 29 mortos ―entre eles, um policial civil. No fundo, no fundo, o Governo do Estado é responsável pelos dois massacres, uma vez que o grupo de extermínio citado tinha quatro policiais militares em seus quadros.
A operação desastrosa foi comunicada ao Ministério Público após três horas de seu início. Em junho do ano passado o Supremo Tribunal Federal, estipulou, pela Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, que durante a pandemia operações policiais não urgentes em favelas sejam suspensas ou previamente comunicadas ao órgão. Dois passageiros do metrô foram baleados dentro de um vagão na altura da estação Triagem e um morador foi atingido no pé, dentro de casa. Ou seja, sendo o objetivo da decisão do STF preservar a vida de moradores durante a maior crise sanitária da história, houve violação da medida.
E não só sob esta perspectiva. A polícia disse que 28 mortos são “suspeitos”, mas não deu detalhes sobre quem eram ou o que faziam quando foram mortos. Moradores dizem que mesmo quem estava se rendendo, foi executado, que os números são maiores do que os oficialmente relatados e que há corpos pelo chão, invasão de casas e celulares. Houve execução até na frente de crianças. Corpos estão sendo removidos e inviabilizando perícias ―uma tática de desfazimento de cena de crime e de culpa― muito corriqueira.
Esse tipo de operação, genérica, “contra o tráfico”, mostra que a ação das polícias é ineficaz tanto do ponto de vista da utopia de acabar com o crime quanto de não se preocupar sequer com os próprios quadros: um policial foi morto e outros dois feridos, hoje. Uma ação com base em inteligência pouparia a vida dos moradores, dos usuários do metrô e também dos policiais. Mas isso não é uma preocupação.
O Gaesp, grupo do Ministério Público responsável por investigar abusos e má conduta policial, foi extinto no mês passado, como noticiou o EL PAÍS. Diante da pressão pública, o órgão criou um grupo temporário para lidar com violações cometidas por policiais. O plano de trabalho da Coordenação do Grupo Temático Temporário foi apresentado nesta quarta-feira e frisava a “recepção e acolhimento de notícias de violações de direitos e abusos por ocasião de operações policiais no Estado do Rio de Janeiro, em atendimento à determinação” do STF.
A depender das polícias do Rio, a coordenação não poderá ser temporária. Nos últimos cinco anos houve 274 chacinas no Grande Rio. Elas deixaram mais de 1.000 mortos. Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, 75% das chacinas foram decorrentes de ações e operações policiais e resultaram em 799 mortos.
Casos semelhantes deram em nada. A chacina do Fallet, que deixou 15 mortos em 2019 em operação da PM, até hoje não teve desfecho. E vale lembrar: a investigação sobre a morte do adolescente João Pedro, morto aos 14 anos durante uma operação também da Polícia Civil, em parceria com a Polícia Federal, no ano passado, está parada. Esta morte fez com o Ministério Público Federal exigisse o plano de operação da ação ―e pedisse a suspensão de operações não urgentes durante a pandemia. Depois dela, veio a decisão do STF.
Durante coletiva de imprensa, questionados sobre a afirmação de que há “ativismo judicial” impedindo o trabalho da polícia, claramente uma alusão ao STF, um dos policiais disse que “seria leviano da nossa parte nomear a, b ou c. Mas são diversas organizações que querem impedir o trabalho da polícia. Temos um objetivo, e eles outro. São grupos ideológicos”.
Um dos maiores efeitos positivos da decisão do STF, que não é cumprida em sua amplitude, foi em relação às chacinas, um dado historicamente assustador no Rio de Janeiro. Durante os 10 meses de vigência da medida, houve 30% menos chacinas. Porque será que as chacinas diminuíram marcadamente depois que a polícia diminuiu suas operações? Se a missão dos agentes é proteger, como é possível que esta proteção venha de sua não ação?