Os atos antidemocráticos de domingo (8) evidenciaram o radicalismo da oposição bolsonarista ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tendem a marginalizar ainda mais a extrema direita, avalia o cientista político Anthony Pereira, diretor do Centro Latino-Americano e Caribenho Kimberly Green, na Universidade Internacional da Flórida. Os ataques contra os Três Poderes poderão até "ajudar" no projeto de reconciliação nacional do novo governo, mas a pacificação provavelmente não virá no tempo de um mandato, avalia o estudioso.
O respeitado brasilianista anglo-americano acompanha a política brasileira desde a redemocratização e vê o movimento formado em frente aosquartéis brasileiros, para pedir uma intervenção militar mesmo após a posse de Lula, como integrado por pessoas com “uma perspectiva um tanto esquisita da história".
"Não é somente uma evocação do regime militar, mas uma afinidade com uma parcela desse regime, a mais linha dura, autoritária e intolerante, representada por pessoas como o general Sylvio Frota, que enfrentou Ernesto Geisel para manter um regime forte e repressivo, na fase da liberalização”, observa Pereira, em entrevista àRFI. “É também uma reflexão sobre o desespero com a democracia: a ideia de que ela é tão corrupta e disfuncional que seria necessário limpar o terreno para começar de novo. Mas acabar com democracia para salvá-la nunca funcionou”, salienta. "Você não vai melhorar a democracia acabando com as instituições democráticas, incluindo eleições legítimas.”
Risco político da antidemocracia
O cientista político nota que Jair Bolsonaro, ao se manter passivo diante das manifestações golpistas desde a eleição e dissuadir as Forças Armadas de dissipá-las em meio à ameaça crescente de atentados terroristas na posse de Lula, seguiu o exemplo “infeliz” de Donald Trump nos Estados Unidos. Bolsonaro e seus aliados, que também se recusaram a transmitir o cargo ao novo presidente e seu governo, "provavelmente receberam conselhos" de pessoas como o guru americano da extrema direita Steve Bannon.
"Talvez seja ingenuidade da minha parte, mas apesar dos danos e do choque das imagens, talvez isso vá ajudar no projeto de reconciliação. Muitas pessoas que apoiaram o Bolsonaro na eleição se juntaram àqueles que condenaram os atos de vandalismo e enfatizar que o Brasil terá eleições em 2024 e em 2026 – e esse é o canal legítimo para expressar as divergências políticas", afirma o pesquisador em Harvard. "O efeito de tudoserá, talvez, marginalizar ainda mais a ala radical do bolsonarismo, porque essas pessoas não tem lugar no espaçol público democrático.
Pereira ressalta que "havia outros exemplo melhores a seguir" no campo da direita latinoamericana, como José Antonio Kast, que ao perder para o Gabriel Boric no Chile, foi ao escritório do rival e o parabenizou. Rodolfo Hernández, embora seja apelidado de 'Trump colombiano’, também saudou o opositor nas urnas. Em ambos os países, a cultura democrática se mostrou forte apesar do avanço da extrema direita.
"Você não pode ser a favor da democracia em outros lugares e apoiar alguém que tentou derrubar a democracia no seu próprio país. Acho que Bolsonaro agora está entrando nesse terreno”, avalia o pesquisador, fundador do Instituto de Estudos Brasileiros no King’s College de Londres.
Pereira frisa ainda que, diferentemente do ex-colega americano, Bolsonaro nunca contou com uma máquina como a do Partido Republicano. Ele avalia que as omissões do ex-presidente deixam o caminho aberto para outras lideranças emergidas no bolsonarismo, como o ex-vice Hamilton Mourão ou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ocuparem o espaço na oposição nos próximos meses e anos.
Alianças para base aliada não significam reconciliação nacional
Enquanto isso, Lula se esforça em acomodar as forças políticas aliadas, mas também divergentes, como o União Brasil, em um novo governo com 37 ministérios. Pereira observa que, ao trazer Geraldo Alckmin e outras pessoas associadas a Fernando Henrique Cardoso, como Pedro Malan e Armínio Fraga, o petista "colapsou" o antigo eixo PSDB-PT e consolidou a frente anti-Bolsonaro.
"Essa coligação, me parece, não vai ser igual às maiorias que ele teve nos anos 2000, quando Lula chegou a ter 80% dos votos favoráveis no Congresso. Mas pelo menos ele vai conseguir chegar a uma maioria básica para passar projetos ordinários”, aposta Pereira.
“Apesar de as pesquisas mostrarem que Bolsonaro tem um índice maior de rejeição do que Lula, é por pouco. Vai ser difícil convencer a parte do eleitorado que associa Lula ao Petrolão e à corrupção sistemática”, sublinha. “Se você olha a questão das restrições de orçamento do novo governo,é pouco provável que todas as ansiedades da população brasileira, como a questão social, a inflação, o emprego, serão resolvidas. Duvido que o governo Lula vá solucionar todos esses problemas em quatro anos.”
Dora Longo Bahia, Revoluções (projeto para calendário), 2016 Acrílica, caneta à base de água e aquarela sobre papel (12 peças), 23 x 30.5 cm cada
Escreve Boaventura de Sousa Santos, sociólogo português
Prezado amigo Presidente Lula da Silva,
Quando o visitei na prisão em 30 de agosto de 2018, vivi no pouco tempo que durou a visita um turbilhão de ideias e emoções que continuam hoje tão vivas quanto nesse dia. Pouco tempo antes tínhamos estado juntos no Fórum Social Mundial de Salvador da Bahia, conversando, na companhia de Jacques Wagner, na cobertura do hotel onde Lula estava hospedado. Falávamos então da sua possível prisão. Lula ainda tinha alguma esperança de que o sistema judicial suspendesse aquela vertigem persecutória que desabara sobre si.
Eu, talvez por ser sociólogo do direito, estava convencido de que tal não aconteceria, mas não insisti. A certa altura, tive a sensação de que estávamos a pensar e a temer o mesmo. Pouco tempo depois, prendiam-no com a mesma indiferença arrogante e compulsiva com que o tinham tratado até então. Sérgio Moro, o lacaio dos EUA (é tarde demais para sermos ingênuos), tinha cumprido a primeira parte da missão. A segunda parte seria a de o manter preso e isolado até que fosse eleito o candidato que lhe daria a tribuna a ser utilizada por ele, Sérgio Moro, para um dia chegar à presidência da República.
Quando entrei nas instalações da Polícia Federal senti um arrepio ao ler a placa onde se assinalava que o presidente Lula da Silva tinha inaugurado aquelas instalações onze anos antes como parte do seu vasto programa de valorização da Polícia Federal e da investigação criminal. Um primeiro turbilhão de interrogações me assaltou. A placa permanecia ali por esquecimento? Por crueldade? Para mostrar que o feitiço se virara contra o feiticeiro? Que um presidente de boa-fé entregara o ouro ao bandido?
Fui acompanhado por um jovem polícia federal bem parecido que no caminho se vira para mim e diz: lemos muito os seus livros. Fico frio por dentro. Estarrecido. Se os meus livros fossem lidos e a mensagem entendida, nem Lula nem eu estaríamos ali. Balbuciei algo neste sentido e a resposta não se fez esperar: “cumprimos ordens”. De repente, o teórico nazi do direito Carl Schmitt irrompeu dentro de mim. Ser soberano é ter a prerrogativa de declarar que é legal o que não é, e de impor a sua vontade burocraticamente com a normalidade da obediência funcional e a consequente trivialização do terror do Estado.
Prezado Presidente Lula, foi assim que cheguei à sua cela e certamente nem suspeitou do turbilhão que ia dentro de mim. Ao vê-lo, acalmei-me. Estava finalmente na frente da dignidade em pessoa, e senti que a humanidade ainda não tinha desistido de ser aquilo a que o comum dos mortais aspira. Era tudo totalmente normal dentro da anormalidade totalitária que o encerrara ali. As janelas, os aparelhos de ginástica, os livros, a televisão. A nossa conversa foi tão normal quanto tudo o que nos rodeava, incluindo os seus advogados e a Gleisi Hoffmann, presidenta do Partido dos Trabalhadores.
Falámos da situação da América Latina, da nova (velha) agressividade do império, do sistema judicial convertido emersatzde golpes militares, das sondagens que o continuavam a destacar, do meu receio que a transferência de votos não fosse tão massiva quanto esperava. Era como se o imenso elefante branco naquela sala – a repugnante ilegalidade da sua prisão por motivos políticos nem sequer disfarçados – se transformasse em inefável leveza do ar para não perturbar a nossa conversa como se, em vez de estarmos ali, estivéssemos em qualquer lugar de sua escolha.
Quando a porta se fechou atrás de mim, o peso da vontade ilegal de um Estado refém de criminosos armados de manipulações jurídicas caiu de novo sobre mim. Amparei-me na revolta e na raiva e no desempenho bem-comportado que se espera de um intelectual público que à saída tem de fazer declarações à imprensa. Tudo fiz, mas o que verdadeiramente senti é que tinha deixado atrás de mim a liberdade e a dignidade do Brasil, aprisionadas para que o império e as elites ao seu serviço cumprissem os seus objetivos de garantir o acesso aos imensos recursos naturais do Brasil, a privatização da previdência e o alinhamento incondicional com a geopolítica da rivalidade com a China.
A serenidade e a dignidade com que o Lula enfrentou 582 dias de reclusão é a prova provada de que os impérios, sobretudo os decadentes, erram muitas vezes os cálculos, precisamente por só pensarem no curto prazo. A imensa solidariedade nacional e internacional, que fez de si o mais famoso preso político do mundo, mostraram que o povo brasileiro começava a acreditar que pelo menos parte do que fora destruído a curto prazo poderia ser reconstruído a médio e longo prazo. A sua prisão passou a ser o preço da credibilidade dessa convicção.
Prezado amigo Presidente Lula da Silva,
Escrevo-lhe hoje antes de tudo para o felicitar pela vitória nas eleições de 30 de outubro. É um feito extraordinário sem precedente na história da democracia. Costumo dizer que os sociólogos são bons a prever o passado, não o futuro, mas desta vez não me enganei. Nem por isso tenho maior certeza no que sinto necessidade de lhe dizer hoje. Como sei que não tem tempo para ler grandes elaborações analíticas, serei telegráfico. Tome estas considerações como expressão do que de melhor desejo para si pessoalmente e para o exercício do cargo que vai assumir.
(1) Seria um erro grave pensar-se que com a sua eleição tudo voltou ao normal no Brasil. Primeiro, o normal anterior a Jair Bolsonaro era para as populações mais vulneráveis algo muito precário ainda que o fosse menos do que é agora. Segundo, Jair Bolsonaro infligiu um dano na sociedade brasileira difícil de reparar. Produziu um retrocesso civilizatório ao ter reacendido as brasas da violência típica de uma sociedade que foi sujeita ao colonialismo europeu: a idolatria da propriedade individual e a consequente exclusão social, o racismo, o sexismo, a privatização do Estado para que o primado do direito conviva com o primado da ilegalidade, e uma religião excludente desta vez sob a forma de evangelismo neopentecostal.
A fratura colonial é reativada sob a forma da polarização amigo/inimigo, nós/eles, própria da extrema-direita. Com isto, Bolsonaro criou uma ruptura radical que torna muito difícil a mediação educativa e democrática. A recuperação levará anos.
(2) Se a nota anterior aponta para o médio prazo, a verdade é que a sua presidência vai ser por agora dominada pelo curto prazo. Jair Bolsonaro fez regressar a fome, quebrou financeiramente o Estado, desindustrializou o país, deixou morrer desnecessariamente centenas de milhares de vítimas da covid, propôs-se acabar com a Amazônia. O campo emergencial é aquele em que o Presidente se move melhor e em que estou certo mais êxito terá. Apenas duas cautelas. Vai certamente voltar às políticas que protagonizou com êxito, mas, atenção, as condições são agora muito diferentes e mais adversas.
Por outro lado, tudo tem de ser feito sem esperar a gratidão política das classes sociais beneficiadas pelas medidas emergenciais. O modo impessoal de beneficiar, que é próprio do Estado, faz com que as pessoas vejam nos benefícios o seu mérito pessoal ou o seu direito e não o mérito ou a benevolência de quem os torna possível. Para mostrar que tais medidas não resultam nem de mérito pessoal nem da benevolência de doadores, mas são antes produto de alternativas políticas só há um caminho: a educação para a cidadania.
(3) Um dos aspectos mais nefastos do retrocesso provocado por Bolsonaro é a ideologia anti-direitos capilarizada no tecido social, tendo como alvo os grupos sociais anteriormente marginalizados (pobres, negros, indígenas, Roma, LGBTQI+). Manter firme uma política de direitos sociais, económicos e culturais como garantia de dignidade ampliada numa sociedade muito desigual deve ser hoje o princípio básico dos governos democráticos.
(4) O contexto internacional é dominado por três mega-ameaças: pandemias recorrentes, colapso ecológico, possível terceira guerra mundial. Qualquer destas ameaças é global, mas as soluções políticas continuam dominantemente limitadas à escala nacional. A diplomacia brasileira foi tradicionalmente exemplar na busca de articulações, quer de âmbito regional (cooperação latino-americana), quer de âmbito mundial (BRICS). Vivemos um tempo de interregno entre um mundo unipolar dominado pelos EUA que ainda não desapareceu totalmente e um mundo multipolar que ainda não nasceu plenamente. O interregno manifesta-se, por exemplo, na desaceleração da globalização e no regresso do protecionismo, na substituição parcial do livre comércio pelo comércio com parceiros amigos.
Os Estados continuam todos formalmente independentes, mas só alguns são soberanos. E entre os últimos não se contam sequer os países da União Europeia. O Presidente Lula saiu do governo quando a China era o grande parceiro dos EUA e regressa quando a China é o grande rival dos EUA. O presidente Lula foi sempre adepto do mundo multipolar e a China é hoje um parceiro incontornável do Brasil. Dada a crescente guerra fria entre os EUA e a China, prevejo que a lua de mel entre Biden e Lula não dure muito tempo.
(5) O presidente Lula tem hoje uma credibilidade mundial que o habilita a ser um mediador eficaz num mundo minado por conflitos cada vez mais tensos. Pode ser um mediador no conflito Rússia/Ucrânia, dois países cujos povos necessitam urgentemente de paz, num momento em que os países da União Europeia abraçaram sem Plano B a versão norte-americana do conflito e condenaram-se ao mesmo destino a que está destinado o mundo unipolar dominado pelos EUA. E será também um mediador credível no caso do isolamento da Venezuela e no fim do vergonhoso embargo contra Cuba. Para isso, o Presidente Lula tem de ter a frente interna pacificada e aqui reside a maior dificuldade.
(6) Vai ter de conviver com a permanente ameaça de desestabilização. É a marca da extrema direita. É um movimento global que corresponde à incapacidade de o capitalismo neoliberal poder conviver no próximo período com mínimos de convivência democrática. Apesar de global, assume características específicas em cada país. O objetivo geral é converter diversidade cultural ou étnica em polarização política ou religiosa.
No Brasil, tal como na Índia, há o risco de atribuir a tal polarização um carácter de guerra religiosa, seja ela entre católicos e evangélicos ou entre cristãos fundamentalistas e religiões de matriz africana (Brasil) ou entre hindus e muçulmanos (Índia). Nas guerras religiosas a conciliação é quase impossível. A extrema-direita cria uma realidade paralela imune a qualquer confrontação com a realidade real. Nessa base, pode justificar a mais cruel violência. O seu objetivo principal é impedir que o Presidente Lula termine pacificamente o seu mandato.
(7) O presidente Lula tem neste momento a seu favor o apoio dos EUA. É sabido que toda a política externa dos EUA é determinada por razões de política interna. O presidente Joe Biden sabe que, ao defender o presidente Lula, está a defender-se de Donald Trump, seu rival em 2024. Acontece que os EUA são hoje a sociedade talvez mais fraturada do mundo, onde o jogo democrático convive com uma extrema direita plutocrata suficientemente forte para fazer com que cerca de 25% da população norte-americana continue hoje convencida que a vitória de Joe Biden em 2020 foi o resultado de uma fraude eleitoral. Esta extrema direita está disposta a tudo. A sua agressividade fica demonstrada pela tentativa recente de raptar e torturar Nancy Pelosi, líder dos democratas na Câmara dos Representantes.
Pensemos nisto: o país que quer produzirregime changena Rússia e travar a China não consegue proteger um dos seus mais importantes líderes políticos. E, tal como se irá observar no Brasil, logo após o atentado, uma bateria de notícias falsas foi posta a circular para justificar o ato. Portanto, hoje, os EUA são um país duplo: o país oficial que promete defender a democracia brasileira e o país não oficial que a promete subverter para ensaiar o que pretende conseguir nos EUA. Recordemos que a extrema direita começou por ser a política do país oficial. O evangelismo hiper conservador começou por ser um projeto norte-americano (vide o relatório Rockfeller de 1969) para combater “o potencial insurrecional” da teologia da libertação. E diga-se, em abono da verdade, que durante muito tempo o seu principal aliado foi o Papa João Paulo II.
(8) Desde 2014, o Brasil vive um processo de golpe de Estado continuado, a resposta das elites aos progressos que as classes populares obtiveram com os governos do Presidente Lula. Esse processo não terminou com a sua vitória. Apenas mudou de ritmo e de táctica. Ao longo destes anos e sobretudo no último período eleitoral assistimos a múltiplas ilegalidades e até crimes políticos cometidos com uma impunidade quase naturalizada. Para além dos muitos que foram cometidos pelo chefe do governo, vimos, por exemplo, quadros superiores das Forças Armadas e das forças de segurança apelarem a golpes de Estado e a tomarem publicamente partido por um candidato presidencial durante o exercício das suas funções.
Estes comportamentos golpistas devem ser punidos exemplarmente quer por iniciativa do sistema judiciário quer por meio de passagens compulsórias à reserva. Qualquer ideia de amnistia, por mais nobres que sejam os seus motivos, será uma armadilha no caminho da sua presidência. As consequências podem ser fatais.
(9) É sabido que o presidente Lula não põe grande prioridade em caracterizar a sua política como sendo de esquerda ou de direita. Curiosamente, pouco antes de ser eleito Presidente da Colômbia, Gustavo Petro afirmava que a distinção para ele importante não era entre esquerda e direita, mas antes entre política de vida e política de morte. Política de vida é hoje no Brasil a política ecológica sincera, a continuidade e aprofundamento das políticas de justiça racial e sexual, dos direitos trabalhistas, do investimento na saúde e na educação públicas, do respeito pelas terras demarcadas dos povos indígenas e da promulgação das demarcações pendentes.
Acima de tudo, é necessária uma transição gradual, mas firme da monocultura agrária e do extrativismo de recursos naturais para uma economia diversificada que permita o respeito por diferentes lógicas socioeconômicas e articulações virtuosas entre a economia capitalista e as economias camponesa, familiar, cooperativa, social-solidária, indígena, ribeirinha, quilombola que tanta vitalidade têm no Brasil.
(10) O estado de graça é curto. Não dura sequer cem dias (vide Gabriel Boric no Chile). O presidente Lula tem de fazer tudo para não perder o povo que o elegeu. A política simbólica é fundamental nos primeiros tempos. Uma sugestão: reponha de imediato as Conferências Nacionais para dar um sinal inequívoco de que há outra maneira mais democrática e mais participativa de fazer política.
Brasil terá de voltar a falar de ditadura, de ditadores e de torturadores, ou assumir que é um país resignado, alienado e acovardado
por Moisés Mendes
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O presidente Gabriel Boric é apresentado como o grande perdedor do referendo que rejeitou a nova Constituição do Chile.
A mobilização contra a Constituição acordou direita e extrema direita, quietas desde as manifestações de rua iniciadas em outubro de 2019, que levaram à Constituinte e agora à frustração.
Tanto acordou que grupos pinochetistas foram às ruas, em 11 de setembro, no aniversário do início da ditadura, para enfrentar manifestantes de esquerda.
E o que fez o presidente? Anunciou que, ao contrário do que os fascistas pensam, eles não terão paz. E que o Chile continuará avivando a memória do que aconteceu na era Pinochet.
Como parte do que está sendo planejado para o aniversário do 50º ano do golpe, em setembro do ano que vem, Boric informou que desde agora o governo participa de uma nova empreitada.
O Chile vai em busca de pistas que esclareçam o que aconteceu com os 1.192 cidadãos e cidadãs até hoje identificados como desaparecidos em algum momento a partir de 1973. Mais de 500 eram crianças.
O Chile teve mais de 3 mil mortes e desaparecimentos. Na Argentina, foram mais de 30 mil, mesmo que esse número seja sempre questionado.
No Brasil, o saldo macabro é oferecido quase como um consolo por fascistas e historiadores condescendentes: 434 pessoas mortas e desaparecidas. .
Mas Argentina, Chile e Uruguai conseguiram, uns mais, outros menos, avançar na punição dos criminosos das suas ditaduras. O Brasil nada fez, por conta da anistia de 1979.
O ambiente que se vislumbra, com uma vitória de Lula, nada assegura de mudança na área da reparação judicial.
O Supremo já fechou todas as portas que poderiam levar à punição criminal de torturadores e assassinos ainda vivos.
Mas o futuro governo poderá oferecer, por gesto político, suporte para que se retome o que foi levado adiante pela Comissão da Verdade e outras iniciativas, para que os horrores da ditadura não sejam esquecidos.
Boric está assumindo com os chilenos, em circunstâncias desfavoráveis ao seu governo, um compromisso com a História.
Um novo governo democrático no Brasil, em substituição ao poder fascista de Bolsonaro, também terá que assumir compromissos.
Pela reabilitação do debate em torno do que foi a ditadura. Pelo fortalecimento de lutas esparsas que ainda resgatam essa memória.
Pelo apoio às energias e aos afetos de todos os familiares e amigos que persistem e pelo respeito a torturados, mortos e desaparecidos.
Um novo governo democrata terá de dar conta de demandas desprezadas e perdidas desde 2016.
O Brasil terá que voltar a dizer, sem medo, todos os anos e de forma permanente, como fazem os chilenos e outros vizinhos, que aqui houve uma ditadura sanguinária.
E reconhecer que a impunidade ajuda a explicar o horror que ainda enfrentamos até hoje.
O esquecimento sustentou a vida tranquila de ditadores e de 377 agentes públicos (militares, policiais e outros) envolvidos em crimes de lesa humanidade entre 1964 e 1985, como torturas, assassinatos e ocultação de cadáveres.
O esquecimento nos levou às crueldades e aos crimes do bolsonarismo e à estrutura militar que tutela e sustenta um genocida.
O Brasil terá de voltar a falar de ditadura, de ditadores e de torturadores, ou assumir que é um país resignado, alienado e acovardado.
Para Mauro Lopes, a formação de 5 mil comitês populares decidida pelo PT pode mudar o espírito da campanha de Lula. Boric fez assim no Chile e fez a diferença. Natália Bonavides diz que as prioridades das pautas do PT no Congresso também serão debatidas nos comitês populares. "Nós temos lutado muito pra ser resistência neste momento difícil pelo qual o país passa. É chegada a hora de fazermos a travessia e abrirmos as alamedas, portas e caminhos pra derrotar este governo de fome, desemprego e mortes, e, com esperança e luta, enfim construirmos o Brasil Feliz de Novo! Simbora!", conclama a deputado do Rio Grande do Norte.
Escreve Mauro Lopes:
Uma das maiores críticas aos governos do PT de um ponto de vista da esquerda é o afastamento das bases populares do partido ao longo dos governos Lula e Dilma, com uma tendência forte à “burocratização” e profissionalização dos quadros do partido em diferentes instâncias governamentais. Além disso, houve uma crescente concentração do poder interno no partido nas mãos dos parlamentares -que tem mandato passou a ter mais voz e decisão.
Há olhares distintos para estas críticas, mas elas estão presentes mesmo na direção do PT. O próprio diretor de comunicação da Fundação Perseu Abramo (FPA), Alberto Cantalice, da direção nacional do partido,reconhece“uma certa burocratização que enfrentamos a partir do momento que fomos governo”.
Pois o partido prepara-se para retomar a tradição das origens, da íntima conexão e inserção nos meios populares, de maneira vida e capilarizada.
É o que decidiu o encontro virtual dos Setoriais do Partido dos Trabalhadores, em 24 de janeiro, com Lula e Gleisi e quase 3.500 militantes do PT. A principal decisão do encontro foi criar, até abril, cinco mil comitês populares em todo o país, em conjunto com movimentos sociais e outros partidos do campo progressista, como PSOL e PCdoB . O objetivo é estabelecer uma dinâmica de conversas presenciais, olho no olho, multiplicadas aos milhares e, quem sabe, aos milhões.
O mesmo movimento fez a campanha de Gabriel Boric e foi decisivo para sua vitória.
Quem testemunhou a iniciativa foiJeferson Miola, quando estava em Santiago como enviado especial do 247: “No início de dezembro a campanha de Gabriel Boric definiu a estratégia ‘Un millón de puerta a puertas por Boric’. Consistia numa convocatória militante e, ao mesmo tempo, um desafio arrojado de levar as propostas de Boric aos lares de 1 milhão de chilenos e chilenas.”A campanha “Un millón de puerta a puertas por Boric” foi tão bem sucedida que, ao final das eleições, a meta havia sido superada: mais de 1,2 milhão de casas visitadas.
A experiência de comitês populares ou a ideia de “visita de casa em casa” não é nova, nem foi a campanha de Boric que a inventou. É uma estratégia centenária, que precedeu em muito as redes sociais. O PT nos primeiros tempos e movimentos sociais lançaram mão dela, inúmeras vezes.
Mas o fato é que a campanha de Boric é o exemplo mais recente e vívido de sua efetividade. Elas hermanas y hermanoschilenos têm uma longa tradição. Veja que impressionante a organização e capilaridade da campanha de Boric, bairro a bairro, rua a rua:
Com as redes sociais, a estratégia dos comitês e visita porta a porta pode estabelecer uma teia de diálogos, sustentação e mobilização inéditas.
Na volta da democracia ao Chile, que estava ameaçado pelo terror fascista neste 2021, retomo um texto escrito muito antes, que o ZonaCurva republicou.
Um gol inesquecível contra Pinochet
Entre as imagens que nos vêm a partir do 11 de setembro de 1973, do dia em que houve o golpe militar contra Salvador Allende, entre tantas imagens vivas, uma poderia ser, com razão, do presidente Allende resistindo de capacete em último recurso, com alguns fiéis militantes às portas do palácio La Moneda. Essa imagem fala de um socialista democrata, que pela força das urnas julgava ter o poder, que é destruído ao fim, derrotado com a eloquência maior de bombas e crimes.
Outra imagem poderia ser também a que correu mundo, dos livros sendo queimados por soldados do Exército nas ruas do Chile. Em um país de grandes poetas e tradição humanista, essa foto escapou do paradoxo, porque ela se fez coerente com o assassinato do poeta Pablo Neruda pela ditadura. E depois, essa imagem dos livros no fogo é tão simples e pornográfica, ao mesmo tempo de tamanho didatismo sobre a ideologia fascista no seu carbono Pinochet, que um comentário passaria pelo já visto, ao lembrar e repetir ações de Hitler a Franco, todos ótimos queimadores de escritores, livros e inteligência.
Então falo rápido sobre uma imagem e personagem que marcam também. Não são muito divulgados no Brasil um gesto, a pessoa e o valor de Carlos Caszely. Ele foi um craque do futebol chileno. A wikipédia informa que Carlos Caszely é o jogador mais popular e querido da história do Colo-Colo e do Chile. Até hoje é chamado de El Chino, El Rey del Metro Cuadrado, ou de El Gerente. Mas o seu maior feito é este: astro da seleção de futebol do Chile, em cerimônia oficial dentro do palácio, no vigor de mortes e fuzilamentos de opositores, Carlos Caszely se negou a apertar a mão do ditador Augusto Pinochet.
Ou como ele próprio fala desse momento raro e belo, anos depois: “Eu ouvi passos. Foi pavoroso. De repente as portas se abriram. Apareceu uma figura vestindo uma capa, de óculos escuros e quepe. Tinha uma cara amarga, suja, dura. Ele foi cumprimentar cada um dos jogadores qualificados para a Copa. Quando ele se aproximou, eu botei minhas mãos atrás das costas. Ele estendeu sua mão, mas recusei a apertar. Como ser humano aquela era minha obrigação. Tinha todo um povo sofrendo nas minhas costas”. Mas que coisa.
As razões do gesto, desse heroísmo, são anteriores. Não foi um impulso louco. Antes, o jogador havia sido ligado ao ex-presidente Salvador Allende. Ele próprio, o jogador, socialista como o presidente morto. Depois do golpe, Caszely se transferiu para o futebol espanhol. E o que faz a canalha do regime no Chile? Perto da Copa de 1974, os militares sequestram, prendem e torturam a mãe do jogador. Supõe-se que isso era uma tentativa de calar Caszely e obrigá-lo a jogar pela seleção chilena. Entre os perseguidos da ditadura, ele era o principal jogador do futebol chileno, estrela do Colo-Colo e da seleção. Caszely achou o ato de tortura na mãe tão estúpido, que declarou recentemente:
“Ainda hoje não está claro por que fizeram aquilo. Eles a prenderam e torturaram selvagemente, e até hoje não sabemos de que ela era acusada. Recordo um país triste, calado, silencioso, sem risos. Uma nação que entrava nas trevas. Eu sabia o que viria de cima. Eu tinha medo. Não por mim, mas por meus amigos e por minha família. Eu sabia que estavam em perigo por minhas ideias”.
Então sua mãe é presa, torturada e solta, sem qualquer acusação. E pouco depois o jogador se encontra cara a cara com o ditador, na despedida para a Copa de 1974 na Alemanha. Este é o momento em que Caszely põe as mãos para as costas, enquanto Pinochet se aproximava a cumprimentar um a um. Caszely foi o único a rejeitar o ditador.
Enquanto escrevo, ao lembrar esse ato, sinto um cheiro de perfume, daqueles inesquecíveis, cujo cheiro e composição química vêm apenas da lembrança que cerca um gesto. Naquele maldito e mágico ano de 1973, quando o mundo conhecido vinha abaixo, no momento exato em que grandes eram as esperanças, houve esse gesto de Caszely tão pouco ou nada divulgado. Soube faz pouco tempo. Mas que coragem, podíamos dizer. E aqui, se espaço houvesse, deveríamos discutir o quanto estão errados os que julgam ser a coragem um atributo de valentões, de homens que zombam do perigo. Não é. A coragem é a fidelidade ao sentimento de honra, dever ou amor. Por isso dizemos: que afeto e grandeza em ser fiel ao mais íntimo sentimos naqueles braços para trás de Caszely, enquanto avançava contra ele o ditador. Com certeza, o jogador tremia, mas não podia ainda assim ceder à mão de Pinochet no cumprimento.
Não sei, mas esse me parece o maior gol de placa da história.
Jair Bolsonaro fez uma fala natalina ladeado pela esposa. Sergio Moro arriscou o mesmo.
Michelle Bolsonaro festejou a indicação de André Mendonça para o STF em transe (ou êxtase, no dizer da igreja), com uma oração na língua dos anjos.
Para Reinaldo Azevedo, Rosângela Moro desconhece a xenolália. Não sabe nenhuma palavra, não decantas. Para Reinaldo Azevedo, nunca tocou numa bíblia.
Reinaldo Azevedo
@reinaldoazevedo
“Então é Natal…” Mas não dá. Vejam msg de Moro-Rosângela tentando tomar o eleitorado evangélico de Bolsonaro. Ela cita “versículos”. Mas ñ diz de q. Nunca tocou numa Bíblia. Ah, sim: é Segunda Epístola de Paulo aos Coríntios! Nós, os corintianos, ñ caímos nessa. Vozes do além!
Jair Bolsonaro (PL) foi o último dos presidentes dos principais países da América Latina a se pronunciar sobre a eleição de Gabriel Boric no Chile. Ao ser questionado nesta sexta-feira (24) sobre os comentários do mandatário brasileiro e de seu filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ao seu respeito, Boric respondeu: “Claramente, somos muito diferentes”.
Já Eduardo Bolsonaro se mostrou contrariado com o resultado do pleito. No Twitter, escreveu que a proposta de Boric de elevar impostos para financiar políticas sociais é “algo muito parecido com o que prometiam Chávez e Maduro” na Venezuela.
Ele também fez um post tentado se comparar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que posou com o boné de Boric. “Quando vesti o boné do então presidente dos EUA fui criticado pela mídia, mesmo não sendo candidato a nenhum cargo do executivo. Por que o mesmo critério não se aplica a Lula, que faz campanha aberta para seus companheiros de Foro de SP e até usa boné de candidatos comunistas?”, questionou Eduardo.
Ao ser questionado sobre os comentários feitos por Bolsonaro e seu filho, Boric disse que “não havia visto, mas que analisaria depois”. “Não farei declarações destemperadas. Creio que em políticas de Estado é preciso ser um pouco mais cuidadoso. Claramente somos muito diferentes”, respondeu elegantemente.
Governo ignora presidentes eleitos democraticamente
Bolsonaro apostou todas as suas fichas na eleição do país vizinho em José Antonio Kast, um radical de extrema direita que, como ele, evocava o legado do general genocida Augusto Pinochet, que conduziu o país por 17 anos (1973 – 1990) sob uma sangrenta ditadura. Kast obteve apenas 44,1% dos votos, sendo derrotado por Boric, que conseguiu 55,9%.
Não é a primeira vez que o governo encabeçado por Bolsonaro dá esse tipo de vexame e ignora presidentes eleitos democraticamente só porque eles não pertencem à direita de seus países. Em 2020, o Brasil foi último país vizinho da Bolívia a saudar Luis Arce, um esquerdista que fez parte do ministério de Evo Morales. Já em 2019, a vítima da dor de cotovelo do presidente brasileiro foi Alberto Fernández, mandatário argentino, que não recebeu um telefonema ou telegrama de Bolsonaro.
No entanto, o mais conhecido dos papelões da diplomacia brasileira foi o atraso de 35 dias em reconhecer a vitória de Joe Biden na corrida eleitoral que levou o atual presidente norte-americano à Casa Branca. Notório fantoche nas mãos de Donald Trump, o subserviente Jair Bolsonaro embarcou nas maluquices do magnata derrotado na disputa à reeleição e passou a alardear a tal fraude eleitoral que nunca existiu.
Enquanto as redes de televisão e os jornais dos EUA reconheciam o democrata como o futuro chefe de Estado da maior potência militar e econômica do planeta em 10 de novembro, o líder extremista do Brasil só deu aval em 15 de dezembro para que um telegrama de boas-vindas fosse encaminhado a seu homólogo do norte.
Assim como a derrota de Donald Trump nos EUA não representou o fim do trumpismo e a derrota do Bolsonaro no Brasil em 2022 não significará o fim do bolosonarismo, a derrota de José Antonio Kast no Chile também não representa o fim do “kastismo”, ou seja, da ultradireita engajada e radicalizada.
Enquanto no Brasil o contingente de ultradireitistas deverá ser proporcionalmente menor devido ao baixo desempenho que Bolsonaro deverá ter, ao redor de 20%, segundo as pesquisas, no Chile e nos EUA o efeito é o contrário. Tanto que as chances de Trump retornar ao poder em 2024 são uma assombrosa realidade.
Trump e Kast foram eleitoralmente bastante competitivos contra seus adversários Joe Biden e Gabriel Boric, perfazendo 46,9% e 44,1% dos votos, respectivamente.
“Si ganho, ganho, y si pierdo, también gano” [Se ganho, ganho; e se perco, também ganho], declarou Kast horas antes do escrutínio que confirmou a vitória de Gabriel Boric/Frente Ampla com uma margem de 11,7%.
O ponto de partida de Kast não é a comparação com seu opositor direto, por quem foi derrotado, mas o desempenho dele [1] em relação a ele mesmo na eleição presidencial de 2017, quando concorreu pela primeira vez ao cargo como candidato independente, e [2] em relação à campanha do plebiscito para decidir a convocação de processo constituinte para escrever uma nova Carta constitucional para o país. No plebiscito, ele foi o principal líder e grande artífice da campanha “Rechazo”, contra a Constituinte.
Kast é a principal e mais carismática liderança da ultradireita chilena. Com sua falsa retórica antissistema e antipolítica, ele passou a ocupar progressivamente o lugar da direita tradicional e provocou a direitização da política – fenômeno contemporâneo, aliás, observável mundialmente, que combina ascenso da extrema-direita a partir da disseminação de anti-valores dantescos.
No Chile, portanto, em que pese a dinâmica virtuosa do progressismo, da centro-esquerda e da esquerda tanto no processo constituinte como na eleição de Gabriel Boric, a ultradireita não está em declínio, como parece à primeira vista.
Ao contrário disso, os dados evidenciam que este campo ideológico tem tido uma audiência crescente na sociedade chilena, como mostra o desempenho ascendente de Kast nos três últimos pleitos:
O desempenho eleitoral dele na eleição encerrada em 19 de dezembro não deixa de ser surpreendente.
Os 3.649.647 votos obtidos o colocam como um pretendente altamente competitivo na disputa pelos rumos do Chile, conforme quadro abaixo. Ele teve uma votação superior a de Piñera em 2009 e a de Bachelet em 2013, e ficou muito próximo de todos demais presidentes eleitos no país desde o último período de governo do ditador Pinochet.
Kast pertence a uma família vinculada ao nazismo e colaboracionista do terror de Estado da ditadura Pinochet. Ele tem uma capacidade mental e intelectual, visão programática e articulação orgânica internacional muito superior a Bolsonaro.
Nesta perspectiva, portanto, ele representa uma ameaça tão ou mais grave à democracia e, também, um perigo equivalente do ponto de vista da propagação regional e internacional desta vertente fascista.
Em setembro de 2022 o Chile terá nova decisão da soberania popular; será a terceira em três anos. Com o término dos trabalhos da Constituinte, se realizará o referendo para que o povo chileno decida a respeito da nova Constituição.
O quórum para aprovar a nova Carta constitucional que sepultará o arcabouço pinochetista vigente desde 1980 é de maioria simples – 50% dos votos mais um.
Kast terá papel central neste referendo; será um combatente da maior grandeza contra a nova Constituição. Será o ator mais tenaz na defesa da velha ordem para impedir que o novo tempo se imponha no Chile.
No domingo passado, quando a apuração evidenciou que a vitória de Boric estava selada, Kast contrariou as expectativas criadas na reta final da campanha com ameaças de virar a mesa. Além de se comunicar telefonicamente com Boric para reconhecer o resultado, ele também foi saudá-lo pessoalmente no bunker da Frente Ampla.
Este gesto pode dizer mais do que a súbita e nada crível conversão de Kast ao republicanismo e à democracia. Este simulacro de civilidade política pode ser produto de cálculo programático para fidelizar o impressionante eleitorado cativado com sua retórica monstruosa.
Se repetisse a truculência de seus homólogos fascistas – Trump, Bolsonaro, Keiko Fujimori – Kast veria parte considerável deste eleitorado se esfumaçar num passe de mágica.
Kast se considera um ganhador em relação à estratégia que ele acalenta de conquista do poder no Chile para promover a restauração do Estado ultraliberal mantido através do terror.
O Ratinho pai e o Ratinho filho, governador do Paraná, torciam pelo candidato de Bolsonaro no Chile, o candidato da extrema direita, da escola cívico-militar que tem Pinochet como patrono.
No V Congresso da Juventude do PT, que ficou solidário com Natália Bonavides, Lula mandou a oração dos jovens brasileiros para os chilenos. Escutem:
Escreve Jeferson Miola diretamente do Chile:
"No início de dezembro a campanha de Gabriel Boric definiu a estratégia 'Un millón de puerta a puertas por Boric'. Consistia numa convocatória militante e, ao mesmo tempo, um desafio arrojado de levar as propostas de Boric aos lares de 1 milhão de chilenos e chilenas.
Para isso, além de organizar o engajamento direto da militância frenteamplista, a ideia consistia em estimular a cidadania a tomar para si a proposta de mudança e multiplicar a iniciativa nos bairros, comunidades e territórios de todo o país.
O próprio candidato participa diretamente na ação, assim como a coordenadora da campanha Izkia Siches, que está em caravanas com o chamado 'Bus de la esperanza' – na verdade uma Kombi verde, não um ônibus, com o qual ela promove a campanha percorrendo milhares de quilômetros.
Ao final de cada jornada diária nas diferentes regiões do Chile, realizam atos e comícios com significativa participação de apoiadores.
O Chile tem uma importante tradição de organização político-institucional com base territorial, e esta lógica comunitária favoreceu o impulsionamento da estratégia Un millón de puerta a puertas por Boric, de modo que a meta está perto de ser atingida.
Este processo é auto-organizado em cada comuna [base administrativa e territorial], que é organizada em quadrantes [figura abaixo]. As visitas domiciliares nos quadrantes ficam então repartidas entre equipes ou apoiadores individuais.
Veja como as visitas são planejadas de maneira capilar:
A informação oficial da campanha de Boric dizia às 19h desta quarta (15) que já haviam sido reportadas 987.743 portas abertas. Você pode acompanhar todo o processo no portal da campanha: boricpresidente.cl
Nestas mídias a presença de Boric tem sido mais vantajosa. Recente reportagem do portal La Tercera descreve que a campanha Apruebo Dignidad, de Boric, tem 616 mil seguidores no Instagram e 1 milhão no Twitter, ao passo que Kast é seguido por 392 mil no Instagram e 526 mil no Twitter. No Facebook a vantagem se inverte: Kast tem 234 mil seguidores e Boric 127 mil.
A campanha de Gabriel Boric avança de casa em casa e de rede em rede. É uma mescla que combina a campanha corpo a corpo, com entrega de panfletos e conversas com as pessoas; com a campanha virtual que assume cada vez maior proeminência nos processos políticos.
Nesta reta final da eleição, a combinação eficiente destas duas dinâmicas que mesclam o presencial com o virtual na política tende a ser um fator determinante do resultado no próximo domingo, 19 de dezembro".
Acrescente ao relato de Jeferson Miola a cantoria do povo nas ruas do Chile. A mesma cantoria nas ruas do Brasil na campanha de Lula presidente neste Ano Novo:
Mulheres sindicalistas rechaçam violência contra deputada Natália Bonavides (PT-RN)
ISP, CUT, Fetam-SP e Sindsep reforçam apoio a parlamentar petista, agredida por Ratinho. Apresentador sugeriu metralhá-la e faz comentários machistas sobre a deputada federal potiguar
Mulheres sindicalistas divulgam nota criticando o estímulo à violência contra a deputada Natália Bonavides (PT-RN) feito pelo apresentador Ratinho, que sugeriu metralhá-la e fez comentários machistas sobre a deputada.
O que motivou os comentários e as agressões foi um projeto de lei de autoria da deputada, que derruba a expressão "marido e mulher" na celebração de um casamento civil.
Na nota, assinada por dirigentes da CUT, Internacional dos Serviços Públicos (ISP), Federação dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de São Paulo e do Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município de São Paulo (Sindsep)
"Não há outro caminho senão todas nos levantarmos denunciando cada ato de violência de gênero, seja na política ou em qualquer outro espaço”, diz trecho da nota.
“Como disse a companheira Natália, 'incitar homicídio é crime' e o apresentador se utilizou de uma concessão pública para cometer crime, portanto deve responder judicialmente e ser punido”.
O documento ressalta, ainda “todo apoio e solidariedade à deputada federal potiguar Natália Bonavides” e acrescenta: “Não vão nos calar, seguiremos juntas em marcha até que nenhuma de nós seja mais vítima da violência e do atraso que significa o machismo para toda a sociedade".
Lula, candidato a presidente no próximo ano, em entrevista ao portal Página 12, comparou o ex-juiz parcial Sergio Moro a Jair Bolsonaro.
Lula disse que Moro é “perigoso” e neofacista, que Bolsonaro é “fascista”.
“São dois personagens muito comprometidos com a extrema direita e, no caso de Moro, é um personagem perigoso. Quando era juiz, ousou mentir em um processo para me condenar e me levar para a prisão, evitando que eu fosse eleito presidente em 2018″, disse o ex-presidente.
“Então, eu diria que são dois extremistas, Bolsonaro é fascista e Moro é neofascista. Os dois vão tentar mentir para a sociedade o tempo todo. Eles terão que disputar entre si para quem vai ao segundo turno com o PT. […] Quantas mentiras eles podem contar aos brasileiros?”
Lula também falou sobre a possibilidade de uma “segunda onda” na América Latina com a volta de governos progressistas na América Latina, citando México, Argentina e Bolívia. “Acredito que os setores progressistas podem vencer no Chile, que temos muitas possibilidades no Brasil, que a vitória de Luis Arce foi uma vitória extraordinária da Bolívia, e tem o Peru sob Castillo”, disse.
Lula: "Brasil vive una situación que no creía que volvería a vivir, con 19 millones de personas que pasan hambre"
El líder brasileño es consciente de los problemas de Argentina, en donde además del acto de este viernes realizará varias actividades con líderes sindicales y organismos de derechos humanos. "Alberto Fernández recibió la deuda de la presidencia de Macri y entonces el pueblo argentino va a tener que tener mucha paciencia. La pandemia hizo otro tanto, pero creo que es posible que la economía argentina se recupere, que se generen empleos y mejoren los salarios para que la gente sea más feliz".
Será clave la negociación con el Fondo Monetario Internacional. Al respecto, Lula da Silva sostuvo: "esperemos que el Fondo no haga presión y llegue a un acuerdo que le permita a Argentina continuar creciendo, que permita que el pobre argentino tenga la posibilidad de recuperar su dignidad".
El candidato presidencial favorito para los comicios de octubre dijo que se va a casar el año próximo con "Janja", el apodo de su compañera Rosángela da Silva. "No es porque ella quiera. Yo necesito casarme, tengo un compromiso con ella y espero que sea antes de las elecciones". Su prometida, socióloga y militante petista, fue un gran apoyo cuando estuvo preso 580 días en la cárcel de Curitiba.
El sitio The Intercept reveló las tretas que urdieron el juez Sergio Moro y los fiscales para orquestar una condena ilegal. Al fin y al cabo, la causa Lava Jato fue anulada por el Supremo Tribunal Federal debido a la parcialidad de Moro. Al exjuez devenido en candidato Lula lo definió como "un neofascista que va a intentar mentirle a los brasileños". Moro compite por la porción electoral de Bolsonaro, a quien Lula directamente calificó de "genocida". "Brasil vive una situación que no creía que volvería a vivir, con 19 millones de personas que pasan hambre", afirmó el fundador del Partido de los Trabajadores (PT).
Mercedes López San Miguel entrevista Lula
--En Argentina, el macrismo dejó un enorme daño social con su política económica, en Brasil sucede eso mismo con las políticas neoliberales de Paulo Guedes. ¿Qué margen tendrá un futuro gobierno en Brasil para revertir esa herencia?
--El Partido de los Trabajadores (PT) es capaz de cambiar la situación de Brasil, necesita regresar al gobierno porque sabe poner en práctica las políticas de inclusión social, de generación de empleo, para que las personas más pobres participen del presupuesto de las ciudades y de los estados brasileños. No podemos aceptar que un país del tamaño de Brasil, que fue la sexta economía del mundo en mi gobierno, hoy sea la décimo tercera; no podemos aceptar que un país que acabó con el hambre en 2012 y hoy vea que el flagelo está tan fuerte : son 19 millones de personas que no tienen qué comer. Tanto Brasil como Argentina, como Bolivia, como Chile, precisan de gobiernos progresistas que involucren a los pobres en la participación activamente de la economía, para que puedan ser consumidores y comprar cosas y accedan a la educación. Estoy convencido de que América latina puede recuperarse. Lamentablemente personas como Néstor Kirchner y Hugo Chávez murieron, otras personas fueron violentadas como Rafael Correa y Dilma Rousseff, después de la violencia de lawfare, contra mí; el golpe contra Fernando Lugo. Los gobiernos conservadores destruyeron todo lo que nosotros construimos de bienestar social de nuestros pueblos. Sé lo que el compañero Alberto Fernández está pasando, lo que significa la deuda que Macri dejó con el FMI y de la presión de éste; por eso Alberto precisa trabajar mucho para que haya un acuerdo y que el pueblo argentino no sea víctima de los neoliberales.
-- ¿Qué espera de la negociación de Argentina con el FMI?
-- Es posible construir un acuerdo. El FMi fue tan benevolente con los países ricos con la crisis de 2008, entonces tiene que ser muy generoso para tratar la deuda argentina. El pueblo argentino no puede ser sacrificado.
-- ¿Cómo describe su relación con Cristina Fernández y Alberto Fernández?
-- Mi relación con Cristina es más antigua porque yo conviví con ella desde que Néstor Kirchner fue electo presidente de Argentina, y después con ella como presidenta. Mi relación con Alberto tuvo un momento que me conmovió y fue cuando me visitó cuando yo estaba detenido en la cárcel de Curitiba. Fue un acto de generosidad y de solidaridad de Alberto. Por eso, con mucho orgullo, voy a participar del gran acto de recuperación de la democracia en Argentina, son 38 años que deben valorarse. La victoria de Alberto y de Cristina demuestra que el pueblo no puede nunca desanimarse, que es posible para la gente recuperar la democracia en la medida en que el pueblo puede participar activamente en las decisiones. Yo tengo una estima especial por Argentina porque no concibo que Brasil crezca solo; Brasil, tiene que crecer, Argentina tiene que crecer, Uruguay lo mismo, Paraguay, Bolivia porque juntos podemos ser más fuertes. Cuando llegué a la presidencia en el 2003, el intercambio comercial entre Brasil y Argentina era apenas de 7 mil millones de dólares; cuando dejé la presidencia, era de 39 mil millones de dólares, demostrando el potencial económico y de ser socios. Para mí Argentina precisa de Brasil, y es mutuo; como necesitamos del resto de Sudamérica.
-- ¿Le resulta significativo que el exjuez Sergio Moro, que se presenta como candidato independiente, compita con la base electoral de Bolsonaro.?¿ Diría que son dos caras de la ultraderecha?
--Son dos personajes muy comprometidos con la ultraderecha y, en el caso de Moro, es un personaje peligroso: cuando era juez osó mentir en un proceso para condenarme y llevarme a prisión y así evitar que yo fuera electo presidente en 2018. Sigo pensando qué seriedad puede tener ese hombre para la sociedad brasileña. ¿Cuántas mentiras podrá contar a los brasileños? Entonces, yo diría que son dos extremistas, Bolsonaro es fascista y Moro es neofascista, los dos van a intentar mentirle a la sociedad todo el tiempo. Ellos van a tener que disputar entre ellos para ver quién pasa a la segunda vuelta con el PT.
-- Las encuestas señalan que usted ganaría el ballottage.
-- Todo indica que el PT tiene muchas posibilidades de ganar las elecciones. Tenemos que actuar con seriedad porque falta tiempo para los comicios, y entonces no podemos cantar victoria antes de tiempo. El PT tiene un legado político y económico y de inclusión social extraordinario en Brasil, vamos a intentar darle a la sociedad aquello que el PT hizo de bueno en el país. Vamos a trabajar para ganar las elecciones. De los dos que compiten conmigo, Bolsonaro, por ser presidente, tiene el uso de la maquinaria gubernamental, y Moro mismo, con ayuda de sectores de los medios que hacen el sacrificio enorme para que aparezca en las noticias. No sé si se percibe en Argentina pero aquí yo soy el mayor censurado del planeta tierra. Cualquier candidato que no sea el PT, que tiene un 1 por ciento en las encuestas, aparece más en la televisión que Lula que tiene un 46 o 47 por ciento de intención de voto. Siendo yo el que ganaría en primera o segunda vuelta, según todas los sondeos, las empresas de medios priorizan a candidatos que tienen uno o dos por ciento de intención de voto. No me preocupo porque yo tengo una relación con el pueblo muy verdadera y esto va a permitr que pueda ganar las elecciones.
--A propósito, qué rol cree que tienen que tener los sindicatos en los medios, como el caso de PáginaI12, en un contexto en que las corporaciones dominan la comunicación y el periodismo ?
--Estoy muy feliz con el papel del movimiento sindical en la comunicación argentina. Aquí en Brasil creamos una televisión pública, pero no recibió la inversión necesaria y ella no es hoy respetada por el gobierno de Bolsonaro. Tenemos un canal del sindicato de metalúrgicos y de los bancarios de San Pablo. Yo defiendo que los medios sean efectivamente democráticos y que las universidades y los sindicatos puedan tener canales de comunicación para conversar con la sociedad, para informarla, sea a través de la radio, la televisión, el periódico o internet. Es fundamental que la gente entienda que los medios han tenido un rol importante en la región para derrumbar a presidentes progresistas. La prensa ha apoyado golpes en Brasil, vemos cómo los medios atacan a la compañera Cristina Fernández en Argentina. Sé del comportamiento de la prensa contra Chávez y Correa. Yo sé cómo la prensa me trató en Brasil. La gente tiene que bregar por la democratización de los medios de comunicación, lo que significa garantizar que todas las personas tengan la misma oportunidad de hablar, el derecho de responder. Es una lucha muy difícil.
--Si usted gana las elecciones, Estima que Bolsonaro podría no reconocerlo al estilo Trump ante la victoria de Biden?
--No, no creo. Lo que va a suceder en Brasil es un golpe democrático: una gran mayoría del pueblo brasileño va a rechazar a Bolsonaro y elegirá un candidato progresista. Espero ser yo. El pueblo brasileño recuerda nuestro legado. Estoy convencido de que vamos a ganar.
--En México gobierna Andrés Manuel López Obrador, en Argentina, Alberto Fernández, en Bolivia, Luis Arce; podría ganar Gabriel Boric en Chile. Considera que esta es la segunda oleada de gobiernos progresistas en la región?
--Espero que sí, porque el mejor momento económico, político y social de América latina fue exactamente en el que Chile, Argentina, Brasil, Bolivia, Uruguay y Paraguay eran gobernados por políticos progresistas, presidentes que estaban preocupados por la situación de las personas más pobres. Fue un momento fuerte de inclusión social. Por eso estoy animando a que los sectores progresistas se fortalezcan para poder gobernar nuestra querida América del Sur y América latina. Creo que los sectores progresistas pueden ganar en Chile, que nosotros tenemos muchas posibilidades en Brasil, que lo de Luis Arce fue una victoria extraordinaria para Bolivia, Perú con Castillo. El pueblo está descubriendo que, incluso con muchas dificultades, los sectores progresistas gobiernan con un mayor compromiso con el pueblo trabajador y con los pobres. Creo que América latina necesita de la oportunidad de acabar con la pobreza. Nosotros somos ricos, tenemos materias primas, profesionales calificados, tenemos mucha tierra y capacidad productiva; la única cosa que lo explica es la incompetencia de muchos gobernantes que no saben gobernar para los pobres. Alberto Fernández recibió la deuda de la presidencia de Macri y entonces el pueblo argentino va a tener que tener mucha paciencia. La pandemia hizo otro tanto, pero creo que es posible que la economía argentina se recupere, que se generen empleos y mejores salarios para que la gente sea más feliz.
-- Está claro que usted buscará la integración regional. Qué expectativa tiene con el Grupo de Puebla?
-- El Grupo de Puebla tiene un papel muy importante, pero pienso que si los dirigentes progresistas vuelven a gobernar nuestros países, tendrán la chance de recuperar el Mercosur, de fortalecerlo, de fortalecer la Celac. Tenemos que comprender que tenemos un potencial productivo extraordinario, por eso necesitamos construir socios para hacer buenos acuerdos con la Unión Europea, con EE.UU., con China, porque necesitamos recuperar lo perdido en tiempos de pandemia. Voy a intentar reconstruir el Mercosur y crear las condiciones para que se logren acuerdos económicos que beneficien a los pobres de la región, nos merecemos recuperar en el siglo XXI todo lo que fue socavado en el siglo XX.
--¿Vive la victoria de Xiomara Castro en Honduras como una reivindicación histórica, tras la solidaridad de su gobierno con el destituido presidente Manuel Zelaya?
-- Zelaya fue víctima de un Golpe de estado y de los intereses de la elite; la elección ahora de su mujer es una recuperación. Espero que ella tenga suerte, que sea fuerte; espero que el Congreso tenga disposición de ayudarla. Porque es muy difícil si se tiene un congreso opositor, que logre la mayoría para poner en marcha las políticas sociales necesarias para sacar adelante a Honduras. En Brasil, en cambio, pasamos por situaciones muy difíciles porque tenemos un genocida que no cuidó la economía, descuidó al pueblo en la pandemia, no cuidó el crecimiento económico. Brasil vive una situación que no creía que volvería a vivir. Brasil ya estuvo mucho mejor, el pueblo brasileño necesita ser feliz.