Foi aprovado o PL que prevê a igualdade salarial entre homens e mulheres, nesta quinta-feira (04), na Câmara dos Deputados, por 326 votos a favor e 35 votos contrários. Entre estes votos contrários, 10 são mulheres, incluindo as deputadas Carla Zambelli (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF) e Rosângela Moro (União-SP).
Do total de 10 mulheres que votaram contra a igualdade salarial, 6 são do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Outras 2 deputadas são do União Brasil, 1 do Cidadania e 1 do Partido Novo. Este último orientou a bancada inteira de deputados a votarem contra. Os demais partidos deixaram a escolha livre.
Outros 15 homens também votaram contra a proposta, incluindo o filho 03 do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro Ricardo Salles (PL), o ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos-PR) e Kim Kataguiri (União-SP).
Confira a lista completa de mulheres que votaram contra a igualdade salarial na Câmara:
A constatação é de um estudo da psicóloga Vera Paiva e revela que o suicídio nem sempre é motivado por doenças mentais e que pode estar atrelado a motivos sociais
Texto Jornal USP
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Neste mês comemora-se o Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização da população acerca do suicídio, criada em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens entre 15 a 29 anos e 77% deles ocorre em países pobres.
O artigo Prevalência e determinantes sociais da ideação suicida entre estudantes brasileiros em escolas públicas do ensino médiobusca sanar uma lacuna nas estatísticas de suicídio entre jovens brasileiros. Comumente associado a doenças mentais, o suicídio pode estar atrelado a motivos sociais, “à desigualdade econômica, um crescimento de desemprego, da flexibilidade de emprego, a falta e a destruição das políticas de proteção social”, como explica a professora do Instituto de Psicologia da USP e um dos autores do estudo, Vera Paiva. Ela também ressalta que esse problema “tem sido associado com desigualdade de gênero”.
O estudo revela que a taxa de suicídio é maior entre meninos e que está diretamente ligada a fatores socioeconômicos, de bem-estar social e pertencimento, como a renda baixa, bullying e até ao estudo no período noturno. Ainda assim, jovens que estão diretamente expostos à LGBT+ fobia e que se assumem parte da comunidade LGBTQIA+ são o grupo mais afetado.
Mesmo que o número de suicídios não tenha aumentado consideravelmente na pandemia, o que aconteceu foi uma mudança nos grupos que o idealizam. “A gente não viu um aumento expressivo, a gente viu mudanças dos grupos que estão mais ou menos afetados”, explica a professora.
O papel da escola
O projeto, financiado pela Fapesp e liderado pela professora e por Marcos Roberto Vieira Garcia, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), surgiu a partir de uma demanda das escolas e dos professores para que o assunto de saúde mental fosse abordado nas escolas.
“A escola não tem condições plenas de resolver esse assunto, mas tem sim condições de evitar a discriminação, o bullying baseado em qualquer uma desses elementos e fazer o compartilhamento das situações de sofrimento”, ressalta Vera. “As professoras não são capacitadas para lidar com um evento de saúde mental ou lidar com famílias”, observa.
A atuação das escolas na prevenção do suicídio e na diminuição do sofrimento psicossocial desses grupos mais afetados é muito importante, porém, deve ser direcionado. Abordar o assunto, promover um ambiente de segurança a esses grupos, pautar temas como a LGBT fobia e estar atento a sinais são medidas que podem ser tomadas por essas instituições. Uma das melhores formas de prevenção, segundo Vera Paiva, é o sentimento de pertencimento e poder conversar e se reunir com pessoas parecidas.
Vera Paiva
Sistema de saúde
A culpabilização dos pacientes e o encaminhamento destes não são o mais recomendado. O Sistema Único de Saúde, que oferece acompanhamento nesses casos, não dispõe de atenção individualizada, o que é imprescindível. “A maior parte do que é oferecido para eles é o atendimento em grupo, e na primeira chegada eles querem ser recebidos individualmente, querem ser escutados individualmente”, explica a pesquisadora. “É necessário mudar o modo como o serviço de saúde acolhe os jovens”, finaliza Vera.
"O Brasil está vivendo o maior risco desde a sua constituição como Estado independente. O que quer Bolsonaro? Ele mesmo disse. Uma guerra civil"
247 -"O presidente da República tem a violência como projeto. Por isso fez o incessante trabalho de ampliar o acesso às armas, vociferar contra pessoas que ele escolhe como alvo e jamais desautorizar ato truculento de seus seguidores", diz a jornalista Míriam Leitão em artigo publicado nesta quinta-feira (15) no jornalO Globo.
"O governante autoritário quer eliminar a imprensa e para isso começa intimidando alguns jornalistas", diz Míriam Leitão, que prossegue: "não por acaso as pessoas escolhidas para serem assediadas pelo presidente e por seus seguidores são mulheres. Bolsonaro com sua aversão às mulheres organiza a misoginia e alimenta o ressentimento contra o avanço feminino".
"O presidente da República gosta da violência, ele sente prazer nela. Ele se regozija em saber, ver ou provocar o sofrimento alheio. É isso que explica sua louvação da tortura. Mas é preciso ver além da perversão. O trabalho de Bolsonaro tem tido um objetivo, uma direção, é parte do projeto maior de elevar o conflito dentro da sociedade brasileira e realizar seu sonho autoritário para o Brasil", afirma a jornalista.
Ela aponta que Bolsonaro quer provocar uma guerra civil no país e diz que a "democracia" errou ao não puni-lo no passado. "O livro de Juliana Dal Piva sobre a corrupção da família Bolsonaro, 'O negócio do Jair', resgata a frase que ele disse em uma entrevista à Bandeirantes, em 1999. 'Através do voto, você não vai mudar nada neste país. Nada, absolutamente nada. Você só vai mudar, infelizmente, quando nós partirmos para a guerra civil aqui dentro. E fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando 30 mil pessoase começando por FHC'. Esse indicador antecedente do seu projeto deveria ter sido punido com o rigor da lei. Era uma pessoa com mandato que em uma única declaração defendia a morte do então presidente, lamentava não terem morrido outros 30 mil e propunha a guerra civil. Não levar a sério um inimigo declarado e violento da democracia foi um dos erros da democracia em relação a Jair Bolsonaro".
"Há um processo para o qual o país está sendo arrastado, com a conivência das Forças Armadas, a displicência de algumas instituições e autoridades, a bênção de algumas igrejas. Esse é o golpe. O Brasil está vivendo neste momento o maior risco desde a sua constituição como Estado independente. O que quer Bolsonaro? Ele mesmo disse há 25 anos. Uma guerra civil", conclui.
Bolsonaro e Pedro Guimarães realizam ritual nazista de tomar leite
Metrópoles - O agora ex-presidente da Caixa tinha acessos de fúria e usava termos de baixo calão em reuniões com subordinados
Os depoimentos revelados com exclusividade pela coluna nos quais funcionárias da Caixa denunciam episódios de assédio sexual envolvendo Pedro Guimarães, que até esta quarta-feira comandava o banco público, trazem também uma série de relatos de assédio moral.
Os testemunhos incluem situações em que Guimarães, a partir do cargo de presidente da Caixa, submeteu subordinados a constrangimentos diversos.
Ao longo da apuração, a coluna falou ainda com outros empregados da Caixa e reuniu elementos que corroboram os relatos.
Tivemos acesso, também com exclusividade, a registros em áudio que dão a dimensão dos arroubos, que ocorriam inclusive em reuniões de diretoria.
Guimarães, que deixou o cargo nesta quarta em razão das denúncias, detestava ser contrariado.
Com frequência, ele elevava a voz e usava palavreado grosseiro e até chulo para reagir a decisões tomadas pelos subordinados que o desagradavam.
Eis algumas dessas situações:
A fúria por perder remuneração de conselhos
Em uma reunião no fim do ano passado, Pedro Guimarães estrilou com executivos da Caixa em razão de uma decisão que havia sido tomada pelo conselho do banco sem que ele tivesse sido informado.
A coluna apurou com fontes ligadas ao Ministério da Economia que a fúria tinha a ver com dinheiro: o conselho havia aprovado uma mudança nas normas internas que passou a estabelecer um limite à nomeação de Guimarães para conselhos da própria Caixa e de empresas nas quais o banco tem participação.
Após a decisão, ele só poderia ser remunerado pela atuação em, no máximo, dois conselhos. Na prática, a mudança representava menos dinheiro no bolso do então presidente.
A partir de um levantamento em documentos oficiais da Caixa, a coluna apurou que, desde que assumiu o comando do banco, no primeiro dia do governo Jair Bolsonaro, Guimarães integrou pelo menos 18 conselhos. Pela participação na maioria deles, recebia remuneração.
A soma dos jetons a que ele tinha direito nesses conselhos alcança a cifra de R$ 130 mil. Além desses valores, Pedro Guimarães recebia ainda o salário mensal de presidente da Caixa, de R$ 56 mil.
A partir da alteração nas normas internas, a remuneração “extra” diminuiu sensivelmente. Guimarães atribuiu a aprovação da nova regra a uma suposta sabotagem de seus subordinados, que teriam deixado passar a mudança para prejudicá-lo financeiramente.
A certa altura da teleconferência, claramente irritado, ele diz que os executivos do banco estariam trabalhando contra ele e contra o governo, e que eles mereciam “se f.” com um eventual retorno do ex-presidente Lula ao poder. Ouça:
Na mesma reunião, Pedro Guimarães pede a Celso Leonardo Derziê Barbosa, um amigo pessoal que ele alçou à posição de vice-presidente da Caixa, para anotar o CPF de todos os subordinados que estavam na conferência, para que fossem punidos com a perda dos cargos que ocupavam caso o teor da reunião vazasse.
Celso Leonardo, que chegou a ser cotado para suceder Guimarães na presidência da Caixa, é apontado como o diretor encarregado de promover a perseguição interna contra os funcionários que desagradavam ao amigo.
Neste momento da reunião, Guimarães diz que a tarefa tinha que ficar a cargo de Celso Leonardo porque Álvaro Pires, outro amigo dele levado para o banco e nomeado como assessor do gabinete da presidência, é “pau mole” e não teria coragem de adotar as providências. Pires é conhecido pelo apelido de Vreco. Ouça esse trecho da reunião:
O jeito grosseiro fica explícito em outros trechos das gravações às quais a coluna teve acesso.
Em uma das oportunidades, ao se queixar de decisões que haviam sido tomadas no banco sem passar pelo seu crivo, Guimarães diz não se importar com a opinião dos subordinados.
“Caguei para a opinião de vocês, porque eu que mando. Não estou perguntando. Isso aqui não é uma democracia, é a minha decisão”, afirma. Ouça:
Eram comuns as situações em que o caráter centralizador de Pedro Guimarães derivava para ataques e ameaças aos funcionários.
Nesta outra gravação, ele reclama de mais uma decisão dos executivos do banco que não havia passado pela aprovação da presidência.
E diz que, ainda que algum dos vice-presidentes da Caixa tivesse avalizado a decisão, o assunto deveria ter passado pelo crivo da chefe de gabinete da presidência, Rozana Alves Guimarães. “Manda todo mundo tomar no c.”, afirma.
Os funcionários ouvidos pela coluna afirmam que era comum Pedro Guimarães fazer acareações entre eles quando percebia alguma divergência em respostas a seus questionamentos. Além disso, a ameaça de demitir muitas vezes era cumprida, o que explicaria a alta rotatividade nos cargos de chefia da Caixa.
“A gente tem 37 cargos de dirigentes e mais de 100 pessoas já passaram por esses cargos desde que ele (Guimarães) chegou”, afirma uma subordinada do gabinete.
Perder um cargo de confiança pode significar muito. Executivos do banco recebem salários a partir de R$ 30 mil. Quando são demitidos das funções de chefia, eles voltam a receber o salário original, até dez vezes menor. Por isso, dizem os funcionários, muitos cediam aos caprichos de Guimarães.
“Você chega no nível máximo e de repente despenca. Vira um técnico bancário”, diz a funcionária de carreira, que relata ter sido vítima de assédio moral do então presidente do banco.
“Faixa branca” e “Long Dong”
No dia a dia, dizem os funcionários, a relação de Guimarães com seus subordinados mais próximos era repleta de palavrões, termos pornográficos e expressões ácidas que mexiam com a auto-estima deles.
“‘Pau mole’, ‘júnior’, ‘faixa branca’… É assim que ele chama todo mundo”, afirma um dos empregados da Caixa ouvido pela coluna.
As expressões eram usadas quando Guimarães queria dizer que os subordinados estavam desempenhando suas tarefas como se fossem profissionais iniciantes, inexperientes.
Quando não estava satisfeito com o resultado do trabalho de algum empregado, ele reagia irado. “Ele dizia: ‘Até meu filho faria isso melhor do que você’.”
Não eram incomuns as situações em que o assédio moral vinha acompanhado das expressões de cunho sexual, segundo o relato de uma funcionária que, assim como os demais colegas, pediu para não ser identificada nesta reportagem.
“Tem uma coisa que ele sempre fala que é assim: ‘Vai vir o Long Dong, vai entrar pelo c. e sair pela boca’. Fui até pesquisar por qual motivo ele falava tanto desse Long Dong. É um ator pornô. É muito assustador”, diz ela.
A neura com celulares
Segundo os depoimentos, por vezes Guimarães cismava que estava sendo gravado e, de repente, pegava os telefones dos subordinados para se certificar de que aplicativos de gravação não estavam acionados.
“Ele implantou na Caixa um ambiente de medo e de submissão, com o clima sempre tenso”, afirma uma funcionária.
A cultura do medo, diz ela, era um instrumento que ele entendia como necessário para uma gestão eficiente. “E ele fala que, se a sua equipe gosta de você, é porque você é um péssimo gestor. Funcionários, na visão dele, têm que te odiar o chefe. Diz que você tem que arregaçar todo mundo “, prossegue.
Surto ao vivo
Uma funcionária relata que Guimarães chegou a dar um murro na TV instalada em uma das salas usadas pela diretoria da Caixa por causa de um problema no som. Depois, mandou tirar o aparelho do local. A cena foi assistida por executivos do banco que, sob reserva, concordaram em falar à coluna.
Ainda de acordo com os relatos, Guimarães já danificou um computador da Caixa e arremessou um celular funcional contra a parede durante um dos acessos de raiva, na frente de funcionários.
Em uma live feita no canal da Caixa no YouTube para explicar o pagamento do auxílio emergencial durante a pandemia, ele ficou revoltado com um problema ocorrido na transmissão. “Ele estourou e falou no ar que era para mandar todo mundo embora”, conta uma funcionária.
Pimenta na comida
Um episódio relatado pelos funcionários que aceitaram falar para esta reportagem tem pitadas de sadismo, embora envolva uma prática à qual Pedro Guimarães procurava dar contornos de brincadeira.
Em jantares, especialmente durante viagens de trabalho, ele despejava pimenta nos pratos dos subordinados e os exortava a comer tudo até o fim, ainda que a contragosto.
A prática era entendida como mais uma das várias técnicas polêmicas usadas por Guimarães a pretexto de motivar as equipes sob seu comando – ele chegou a ser processado por obrigar empregados a fazer flexões em eventos públicos do banco e, quando decidia descer de escada os 21 andares do edifício-sede da Caixa, saía colhendo os funcionários que encontrava pelo caminho e os constrangia a acompanhá-lo.
No caso da pimenta, uma funcionária diz: “Quanto mais você chora e passa mal, mais ele ri. Ele é bem sádico. Em toda refeição de trabalho com ele tinha pimenta no prato de alguém”.
Citado em denúncias de assédio, vice-presidente da Caixa renuncia
Um dos executivos mais próximos de Guimarães, Celso Leonardo Barbosa também foi citado em denúncias de funcionárias da Caixa que já prestaram depoimento aos investigadores. A renúncia dele foi aprovada pelo Conselho de Administração do banco.
Barbosa, que nega as acusações, também é alvo de denúncia por abuso sexual apresentada na ouvidoria da Caixa. O Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Tribunal de Contas da União (TCU) também se debruçam sobre o caso.
Em entrevista à Imprensa SMetal, a socióloga e especialista em psicopedagogia, Carolina Canon, comenta sobre como o "ser mulher" foi decisivo para as violações dos direitos humanos na Ditadura Militar
Foi em um 31 de março que o Brasil dormiu em um regime democrático e acordou com uma ditadura que perseguiu, torturou e matou centenas de pessoas, entre de 1964 e 1985, incluindo jovens, mulheres e crianças. Há 57 anos, era instaurado o regime militar no país e, até os dias de hoje, há discussões sobre as violações gravíssimas aos Direitos Humanos registradas no período.
Nessa esteira, as mulheres fazem parte de um grupo que, além de suportar as violências à carne, precisaram se deparar com violações de gênero. O estupro e os abortos causados pelas inúmeras torturas, são a ponta de um iceberg muito maior do que isso. Para dar conta da questão, o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) conversou com a socióloga e especialista em psicopedagoria, Carolina Canon, para abordar ponto a ponto a questão.
Confira entrevista na íntegra:
SMetal: Durante o período do regime militar, a questão de gênero foi usada como uma das formas de tortura. Sociologicamente, como podemos entender esse “fenômeno”?
Carolina: Historicamente, os papeis de gênero nas sociedades ocidentais são pautados por estruturas patriarcais. Não é à toa que, somente a partir da década de 1960, com intensificação das lutas do movimento feminista em diversos lugares do mundo, a própria classificação “feminino” e “masculino” mudou de caráter e passou a ser conceitualizado, de fato, enquanto gênero, termo que evidencia a construção social acerca dos papeis desempenhados por homens e mulheres, e não mais como sexo, orientado por determinismos biológicos. Sob a ótica da Sociologia, essa distinção opressora entre papeis de gênero – e aqui me refiro a aspectos relacionados exclusivamente à binaridade – é constructo de séculos de exercício de funções sociais diferentes que, via de regra, colocavam e colocam a mulher em posição de subalternidade em relação ao homem, ou seja, as construções simbólicas, culturais, morais e políticas acerca do padrão comportamental dos sujeitos na vida social significaram o feminino como algo menor, quase irrelevante diante da vida pública e por isso mesmo de natureza exclusivamente privada, pertencente aos domínios domésticos e de propriedade – aspecto extremamente importante - do masculino.
Pierre Bourdieu, sociólogo francês, em sua obra A dominação masculina, conceitua muito bem a dimensão da violência simbólica que existe nas sociedades de estruturas patriarcais para com o gênero feminino: Espera-se do sujeito masculino, o homem cisgênero e heterossexual, que ele tenha o Capital (capital econômico, social, cultural e simbólico) maior que o do sujeito feminino, a mulher cisgênero e procriadora; graças à naturalização da dominação masculina na sociedade; em função disso, o status de propriedade privada do homem é atribuído à mulher, condição que demostra o porquê, até hoje, a violência sexual representa um significativo instrumento de violação da figura feminina como tentativa de restabelecer essa suposta ordem natural da vida social.
A ditadura civil-militar no Brasil, através das figuras algozes de seus torturadores, usou amplamente não só do estupro, mas também da brusca separação dos filhos e filhas de suas mães militantes, no intuito de, mais do que puni-las por seus comportamentos subversivos, faze-las exemplos para outras mulheres que pudessem insurgir contra o Estado, na tentativa de suprimir qualquer tipo de mudança, tanto ao que dizia respeito ao regime totalitário instaurado, quanto a esta pseudo-naturalização de papeis femininos e masculinos na vida social.
SMetal: Alguns especialistas acreditam que as violências sexuais são uma forma de “relação de poder”. Você acredita nisso? Se sim, por quê?
Carolina: Sim, acredito. Nesse aspecto eu sou absolutamente foucaultiana, a normatização da sexualidade é um dos alicerces da biopolítica ou do biopoder no sentido de domesticar e controlar os corpos dos indivíduos, torná-los dóceis e produtivos, de modo a perpetuar as estruturas sociais hegemônicas e vigentes. Sob esta ótica, as violências de ordem sexual cometidos contra os corpos e identidades femininas traduzem e materializam a biopolítica aplicada aos nossos corpos, porque não são motivadas por desejos e instintos de caráter sexual, mas sim intentam disciplinar através da força física e do ato de dominar e subjugar nossos corpos. Sendo assim, a prerrogativa de que as violências de natureza sexual são uma forma de expressar as relações de poder vigentes é válida, uma vez que o efetivo exercício deste poder sob os indivíduos vinculados ao gênero feminino em nossa sociedade se dá através dicotomia domesticação-punição, já que expressam a configuração das forças sociais, políticas, econômicas, simbólicas e culturais moralmente articulas e que se destinam a disciplinarização dos corpos e mentes femininos.
SMetal: Hoje em dia, as formas de cerceamento do corpo da mulher estão em um novo contexto. Como podemos associar os dias de hoje com o período do regime militar?
Carolina: Para que possamos fazer tal associação, é importante demarcarmos os limites entre os campos da vida social. Apesar de, no Brasil, os domínios daquilo que compete ao Público e ao Privado não serem claros em nosso imaginário coletivo, apesar do brasileiro ser o homem cordial, para citar o grande sociólogo e historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda; é fundamental que separemos, como modalidades organizativas da vida social, o campo do Público, o campo do Privado e ao campo do Público-Privado, uma espécie de estagio intermediário, em razão de aspectos jurídico-normativos, de modo que tal associação seja o mais objetiva possível.
É inegável que nós mulheres rompemos muitos paradigmas sociais, às custas de muito sangue, suor e lágrimas, conquistamos espaços e direitos que, há pouco mais 50 anos atrás seriam impensáveis; no entanto, há muito ainda para se avançar. No que concerne ao campo Público, o Estatuto da Mulher Casada, restituiu à figura feminina certa autonomia quanto às garantias civis, no entanto foi apenas com a Constituição de 1988 que nós mulheres passamos a gozar plenamente de toda a gama da direitos e tivemos o reconhecimento do Estado de sua condição de igualdade em relação ao sexo masculino, ao menos no que concerne à lei.
Maria Auxiliadora Lara Barcelos, conhecida como Dora, foi presa em 1969 e estuprada no quartel da Polícia do Exército, na Vila Militar
Quanto ao exercício de nossa liberdade na vida social, pouca coisa efetivamente mudou. A revolução sexual, característica da luta feminista no mundo, alterou alguns aspectos do padrão comportamental feminino aqui no Brasil também, porém, percebo certo anacronismo social ao analisar a condição da mulher nos dias de hoje, ao mesmo tempo em que conquistamos do direito de trabalhar fora do ambiente doméstico sem necessitarmos da anuência de nossos pais, maridos e companheiros, o que temos hoje é a estatística de que nossas jornadas de trabalho semanais são, em média, de 8 horas a mais que os homens, porque além de trabalharmos fora de casa, notório espaço da vida Pública , continuamos a ser as principais responsáveis pelas tarefas do campo da vida privada (afazeres domésticos, educação e cuidados dos filhos), ainda enfrentamos em entrevistas de empregos perguntas relacionadas ao estigma da maternidade inerente, do tipo “você tem filhos? Pretende ter? Se adoecerem, quem cuidará?” e mesmo quando conquistamos a vaga de emprego, ganhamos, em média, 30% menos que um homem no mesmo posto. Ou seja, em termos de prática social, nós mulheres apenas acumulamos funções, conjuntura que destoa da condição de igualdade social, ao contrário, amplia ainda mais a desigualdade, quase abissal, entre gêneros no Brasil.
Mas a evidência mais emblemática deste anacronismo social e exatamente o que associa os dias atuais com a ditadura civil-militar, é o posto que Brasil ocupa no ranking de feminicídios mundial: somos o quinto país que mais mata mulheres no mundo, apenas pelo fato de serem mulheres, e cerca de 70% destes crimes são cometidos em ambiente doméstico, isto é, no campo da vida Privada.
A atual figura, que ocupa o mais alto cargo executivo neste pais, sustenta através de seu discurso e de muitas ações também, quando nomeia para cargos ministeriais figuras alinhadas ideologicamente com seu modelo conservador e autoritário de gestão, a perpetuação desta lógica e violência sociais e de todas as estruturas que as mantém ativas até hoje, tal qual o regime militar operava naquela época, com a diferença de que hoje, em termos legais, esta prática é condenável e durante a ditadura civil-militar fazia parte do modus operandi do regime. A narrativa, o discurso do presidente legitimam ações dessa natureza no campo do Público-Privado, que configuram as relações entre indivíduos que não possuem vinculo parental, mas que expressam em suas práticas os valores morais vigentes na sociedade, é neste ponto que reside a inegável semelhança entre contexto social da ditadura e dos dias atuais: a violência contra a mulher, principalmente aquelas que envolvem a subjugação e objetificação de nossos corpos, mais do que atos físicos e materiais, tem uma dimensão simbólica, cuja efetivação independente de sujeitos femininos ou masculinos, mas se configura enquanto patologia estrutural da nossa sociedade, de modo a buscar o reestabelecimento de uma ordem moral opressora sobre o corpo feminino.
Inês Etienne Romeu foi a única sobrevivente da 'Casa da Morte', lá foi submetida as mais diversas formas de abuso físico e sexual
SMetal: Na sua visão, qual a importância da comissão nacional da verdade para os esclarecimentos?
Carolina: No meu ponto de vista, a importância da comissão nacional da verdade é de ordem histórico-social e de natureza jurídico-legal. Em relação ao aspecto histórico-social, é fundamental para que se preserve a memória da barbárie que foi a Ditadura Civil-Militar, no sentido de que não se repita e que as gerações futuras sejam formadas a partir de valores sociais opostos e divergentes aos que os regimes políticos totalitários e autoritários pregam. Do ponto de vista jurídico-legal, sua importância reside em investigar, esclarecer e responsabilizar os agentes do estado que torturaram, mataram e desapareceram com muitos militantes contrários ao regime, além de garantir as famílias dessas vítimas o direito de enterrarem seus mortos de verdade com todos os ritos e simbologia que esta ação carrega, a fim de encerrar a expiação que a dúvida carrega.
Em entrevista, o mestre em Linguística pela Unicamp Gustavo Conde analisa que a adoção de uma linguagem inclusiva é um “processo que nos torna mais fortes enquanto sociedade e enquanto sujeitos”
Em um dos filmes mais importantes produzidos por Hollywood, na década de 1990, Malcolm X (Spike Lee, 1992), os atores Denzel Washington e Albert Hall interpretam a que talvez seja a cena mais significativa do filme: a que condensa a biografia do ativista, que marcaria a história política contemporânea. Nessa cena, o personagem Baines, interpretado por Hall, coloca em jogo a importância da ordem simbólica na sustentação de um sistema racista que distorce a percepção que o negro tem de si mesmo. Para trazer à tona a ideia, ele faz Malcolm ler a definição de negro que aparece no dicionário da prisão. No dicionário, “negro” aparece associado a conceitos como trevas, malvado, perverso e sujo, entre outras associações pejorativas. Malcolm percebe que existe um plano invisível, ou imaterial, no qual o racismo se manifesta de forma plenamente impune: no plano da construção de sentido. Um território pouco explorado, e por consequência, atravessado pela subjetividade. O militante intelectual, que logo se tornaria a conhecida figura política, inicia sua viagem de desconstrução do mundo branco, decodificando seu próprio ato de fala. Na época do lançamento do longa-metragem, a epifania chegou para todo ocidente: o racismo está no ato de fala. O cinema ajudou a popularizar a luta histórica do movimento negro, que teve Malcolm X como um dos seus exponentes mais proeminentes nas décadas de 1950 e 1960.
É logo por esses anos que surgem as primeiras críticas feministas para denunciar as marcas masculinas da língua espanhola. A linguagem é apresentada como “neutra” ao mesmo tempo que reúne referências sucessivas ao homem e nega às mulheres. Quando as feministas apontaram para “todos”, a fim de questionar onde as mulheres estavam, elas avançaram em direção a uma compreensão da linguagem como tecnologia de governança de gênero. Até a atualidade, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) orienta a utilização de expressões inclusivas e a incorporar o feminino aos genéricos masculinos.
Nos dias de hoje, essa discussão vê-se revitalizada pela crítica queer e trans dos essencialismos. Aqui, nem uma marcação de gênero, nem duas – nem todas são suficientes para uma “linguagem inclusiva”. Tais usos alertam que a linguagem é finita e reducionista em suas marcações masculinas ou em sua dose de visibilidade feminina. O questionamento tenta trazer para a cena variações irredutíveis ao entendimento cisheterocentrado. Quando utilizamos o “todes” nos distanciamos de uma presunção do mundo dividido em “homens” e “mulheres”. Essa aposta política não foi compreendida por aqueles que a criticam como uma nova forma de invisibilidade das mulheres. Pelo contrário, não se trata de colocar a transvisibilidade antes da das mulheres cisgênero, e sim de assumir a impossibilidade de conter, pela linguagem, as múltiplas experiências de gênero.
Juan Manuel P. Domínguez entrevista Gustavo Conde
Um dos intelectuais mais importantes do século XX, Antonio Gramsci, desenvolveu como ninguém antes o conceito de “hegemonia cultural”, que revela a importância do plano simbólico para a consolidação de um poder dominante dentro de um sistema social. Até que ponto você vê a língua fortalecendo uma hegemonia de poder em um setor social?
A língua é a tecnologia mais avançada já produzida pelas sociedades humanas. Quando se fala em tecnologia no sentido corrente – redes sociais, algoritmo, nanotecnologia, engenharia, astrofísica, botânica – é preciso ter em mente que uma tecnologia muito mais complexa precede todas estas: a língua humana. Ela possibilita a existência de todos esses campos do conhecimento e, a rigor, é ela quem apresenta o potencial mais devastador – ou restaurador – para mexer no “sistema”, seja ele social, tecnológico ou político. Se o algoritmo colapsar, a vida continua. Se a língua colapsar – a Babel bíblica – a história cessa e os sujeitos se estilhaçam. Em suma, falar da língua com a própria língua é o grande desafio.
Respondendo objetivamente a sua pergunta, a língua não apenas fortalece hegemonias de poder, ela cria essas hegemonias. Um exemplo comum: achar que o estudo formal é a referência máxima no campo do conhecimento e na dimensão intelectual não corresponde à “verdade” mas a um discurso. Este discurso, no entanto, é tratado como verdade e, na dança dos sentidos e das argumentações ad hoc, tem-se a consolidação de uma hegemonia, a “hegemonia do estudo formal”. Não é possível afirmar que o estudo formal seja o grau máximo da performance cognitiva, ou que ele seja superior a outros tipos de manifestação do intelecto humano. As tradições de oralidade presentes na cultura dos povos indígenas são mananciais extraordinários de conhecimento e percepção de mundo. A rigor, poder-se-ia questionar, expandindo a semântica da palavra “formal”: afinal, o que é ser “formal”?
Essa é a engrenagem linguística básica de toda e qualquer disputa por hegemonia social: mobiliza-se uma série de pressupostos, verdadeiros ou não, e defende-se um tipo de prática simbólica-técnica e seus adeptos, numa quase-repetição do que ocorre na difusão das religiões, com diferenças de procedimento quase invisíveis de tão sutis, se contempladas à lupa teórica dos estudos contemporâneos da linguagem. Alguns podem questionar: mas não se trata de “argumentação”? A resposta não é tão simples. Há um conjunto de fatores que “pressionam” e “controlam” o sentido, como a imprensa, os governos, as instituições e, hoje, o algoritmo e as big techs – que instauraram um novo problema para os estudos linguísticos que é a massificação da produção de sentido via interação digital.
Em Racismo e linguagem, Virginia Zavala e Michele Back expõem as relações existentes entre linguagem e racismo, algo que já era questionado pelos movimentos antirracistas liderados por Malcolm X, os Black Panters e outros mais. Existem pontos de encontro entre aqueles que buscam uma “neutralização” e a sua “desracialização”?
Neutralização é o que busca a hegemonia branca heteronormativa. O sentido não pode ser neutro porque a sociedade não é neutra. O sistema empurra essa ilusão da neutralidade para sua própria perpetuação. “Desracializar”, a meu ver, é um outro processo, mas pode ser lido de maneira ambígua. De um lado, trata-se, justamente, de tirar as marcas de racismo presentes na língua. De outro, de “apagar” as marcas semântico-gramaticais de racismo. A literatura antirracista parece tratar este verbo majoritariamente na primeira acepção. Eis aí mais uma disputa de sentido que não pode ser ignorada.
Eu diria – para escapar dessa questão específica e ao mesmo tempo tentar respondê-la – que a língua social ainda guarda marcas profundas de racismo, e que talvez esse seja o maior desafio técnico e ético do nosso tempo: É preciso re-formatar a linguagem para que ela não pressione a perpetuação do racismo, do machismo e da transfobia.
Isso implica em mexer, de fato, na questão do gênero gramatical e nas expressões arraigadas, presentes em redações de jornal que destacam um entrevistado, por exemplo, com o sintagma “pesquisador negro”. Por que destacar “pesquisador negro” se não destaco “pesquisador branco”? Nesse sentido, as pautas identitárias são uma resposta espontânea da saturação racializada da atividade linguageira. Muitos intelectuais torcem o nariz para elas sem sequer tentar entender as razões de seu surgimento. Sentem-se desautorizados. E a questão é exatamente esta: eles perderam a autoridade para tratar deste tema, justamente porque estão radicalmente imersos no estudo formal – o que lhes tirou a percepção concreta da realidade social que, ademais, acelerou-se de maneira vertiginosa nos últimos dez anos.
Dentro da linguística se estipula que a linguagem é algo como um “produto de um inconsciente coletivo”, que tem um corpo mutante, difícil de regrar. Nesse sentido, todo movimento que pretenda intervir no ato da fala pode chegar a parecer uma frustrada tentativa de “exorcizar” a língua. Porém, cada vez mais vemos que os Estados modernos garantem instituições para resguardar as pessoas de serem discriminadas e injuriadas, que combatem o sexismo ou a discriminação por cor de pele ou gênero. Você acha que a língua pode ter tido mudanças, que algumas sentenças perderam força, algumas palavras viram seu sentido transmutado a partir dessas ações institucionais?
A língua tem seu aspecto selvagem, “indomesticável” como diria Lacan. É exatamente por isso que fomos obrigados ao longo da história a tentar domesticá-la com relativo fracasso – uma vez que a padronização de certas práticas é condição sine qua non para a atividade social. Você não controla a língua, você controla o sentido, e controlar o sentido significa mexer no regime de ocorrência das palavras. Palavras marcadas podem ser banidas, assim como neologismos e novas expressões podem ser adotadas. Esse é o curso natural do avanço civilizatório, que deu um salto violento no século XX, não por acaso, o século de surgimento da linguística moderna – e da consequente organização mais acelerada das ciências humanas e dos campos epistemológicos.
Não é à toa a catástrofe social e linguística que se abateu no Brasil nesses últimos anos. Há um descompasso nítido entre aquilo que foi banido de nossas práticas linguageiras e sociais e sua não aceitação por determinados setores da sociedade. Bolsonaro e sua trupe ainda vivem na ditadura militar racista dos anos 1970. Eles não aceitam que o mundo mudou, não aceitam a democracia (deturpam o sentido de democracia de maneira crassa). Mudanças sempre são traumáticas para a espécie humana, mas é justamente a assombrosa capacidade de adaptação e aperfeiçoamento da espécie que caracteriza sua incidência hegemônica no planeta (falemos também de hegemonia entre as espécies?).
Em tempo e mais uma vez – para responder diretamente à excelente questão: as práticas linguísticas seguirão sendo moldadas de acordo com as necessidades sociais de turno. Aliás, é bom que se diga: sempre foi assim. Desde sempre, setores sociais hegemônicos disseram o que poderia e o que não poderia ser dito – e todo mundo aceitou. A única diferença, agora, é que setores não hegemônicos (negros, mulheres, comunidades LGBTQI+) estão replicando essas formas de controle.
[Em 17 de agosto de 1758, o Marquês de Pombal proibiu o uso da língua geral (indígena) falada no Brasil, e decretou a língua portuguesa como idioma oficial e único, através de um decreto]
Do ponto de vista acadêmico, que inconvenientes pode provocar o avanço da linguagem inclusiva em uma sociedade como o Brasil?
Inconveniente nenhum. A linguagem inclusiva é uma realidade irreversível. A academia terá de entendê-la, absorvê-la e aperfeiçoá-la (quando não, “deturpá-la”, mas isso seria outro debate). A língua e sua prática linguageira correlata moldam, em conjunto, a realidade social que a fundamenta e cerca. Em outras palavras, a língua cria a realidade. Não é, de forma alguma, extravagante dizer isso. Trata-se de uma máxima teórica amplamente aceita por pesquisadores do campo.
A hipótese Sapir-Whorf, que inspirou o filme A chegada, lida diretamente com esse processo de criação de realidade pelas línguas humanas. Nesse sentido, a linguagem, inclusive, tende a produzir uma sociedade e um conjunto de práticas inclusivas – e democráticas. O dilema é similar àquele falso dilema do neoliberalismo, com relação à distribuição de renda: esperar o bolo crescer para, depois, dividir. O mundo já entendeu que não é assim que funciona. É preciso fazer crescer o bolo e ir dividindo ao mesmo tempo, por razões técnicas e éticas. Traduzindo, essas são práticas sociais que devem ser trabalhadas em primeiro lugar para que a linguagem se torne depois, espontaneamente, mais inclusiva. São práticas sociais somadas a práticas de modelação da linguagem, juntas, que irão produzir algum tipo de avanço no que diz respeito à inclusão social e combate à desigualdade. Há uma formulação muito auspiciosa dentro desta espiral de composição mais democrática da sociedade, via intervenções no plano simbólico: a língua passou a fazer parte do processo. Agora, ela é protagonista, geradora de políticas públicas – e não apenas o suporte fragilizado e vulnerável ao domínio do poder retórico hegemônico instalado em parte considerável de setores acadêmicos. A formulação de um novo paradigma foi para as ruas, e isso é muito bom.
Alguns linguistas acreditam que já não tem ponto de retorno e que a linguagem inclusiva irá se impor. Qual sua visão sobre o assunto?
Esta questão está, em parte, contemplada na resposta anterior. Eu diria ainda: eu sou um destes linguistas. Há um prazer, um gozo, em repovoar as próprias práticas linguageiras. É maravilhoso deixar de ser machista. É um processo poderoso combater o racismo estrutural que lhe habita o pensamento. Quem combate e vence o próprio racismo passa a ser capaz de realizar qualquer desafio cognitivo e intelectual. Não é, portanto, uma certeza no limiar da lamentação oriunda de nossos fantasmas estruturais do passado, entender que a linguagem inclusiva irá prevalecer. Trata-se de um processo que nos torna mais fortes enquanto sociedade e enquanto sujeitos. Se a tarefa for a perpetuação da espécie – e uma perpetuação que nos signifique como seres gregários e simbióticos e não parasitas virais – estamos no caminho certo.
Primeira vereadora negra eleita na Câmara de Curitiba, Carol Dartora recebeu ameaças de morte por e-mail
Ataques contra vereadoras de várias cidades ocorreram em dezembro e polícia ainda busca autores. Vítimas relatam rotina de medo especialistas alertam para escalada das ameaças no país, enquanto os EUA refletem sobre banalização dos discursos de ódio nas redes
por ISADORA RUPP /El País
Injúrias raciais, infelizmente, não são uma novidade para a professora Ana Carolina Dartora, 37 anos. Primeiro vereadora negra eleita nos 327 anos da Câmara Municipal de Curitiba, e a terceira mais votada na capital paranaense nas eleições 2020, sua campanha foi permeada por ataques, sobretudo nas redes sociais. Até então, Carol Dartora ―como é conhecida a vereadora filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT)― considerava as mensagens inofensivas. Mas no início de dezembro ―logo após uma entrevista do prefeito Rafael Greca (DEM) na qual o mandatário disse discordar da existência de racismo estrutural na cidade― ela recebeu por e-mail uma mensagem a ameaçando de morte, inclusive com menção ao seu endereço residencial.
No texto, o remetente chama a vereadora de “aberração”, “cabelo ninho de mafagafos”, e diz estar desempregado e com a esposa com câncer. “Eu juro que vou comprar uma pistola 9mm no Morro do Engenho e uma passagem só de ida para Curitiba e vou te matar.” A mensagem dizia ainda que não adiantava ela procurar a polícia, ou andar com seguranças. Embora Carol tenha ouvido de algumas pessoas que as ameaças eram apenas “coisas da Internet”, especialistas ouvidos pelo EL PAÍS ponderam que não se deve subestimar os discursos de ódio ―a exemplo de toda a discussão que permeiam os Estados Unidos desde a quarta-feira, 6 de janeiro,quando extremistas apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio em protesto contra a derrota do presidente, provocando cinco mortes.
O e-mail, com texto igual, também foi enviado para Ana Lúcia Martins (PT), também a primeira mulher negra eleita para vereadora em Joinville (SC). As vereadoras trans Duda Salabert (PDT), de Belo Horizonte, e Benny Briolly (PSOL), de Niterói (RJ), também foram ameaçadas pelo mesmo remetente. Até aqui, as investigações policiais dão conta de que o ataque orquestrado partiu de uma célula neonazista que atua sobretudo nas profundezas da internet, a chamada deep web. O provedor do qual a mensagem foi enviada tem registro na Suécia, o que dificulta o rastreamento por parte das polícias civis e, no caso do Paraná, do Núcleo de Combate aos Cibercrimes.
“Fiquei olhando para a mensagem perplexa, sem conseguir processar muito. O espanto de outras pessoas do partido me deu o alerta”, contou Carol ao EL PAÍS. “A violência não é só objetiva. A violência política acompanha a minha trajetória e a das outras vereadoras ameaçadas, com barreiras que vão se criando para que a gente não tenha êxito. Nenhuma mulher deveria enfrentar tanta coisa para exercer um direito básico da democracia”, frisa.
Desde então, o medo faz parte do cotidiano da vereadora de Curitiba. “Tô tentando ser mais discreta. Estou pensando até em mudar o meu cabelo. Isso é muito minimizado, desprezado. As pessoas pensam que é bullying, coisa de Internet. É muito nítida a questão de gênero, do sexismo aliado ao racismo.” Mas foi na Internet, por exemplo, que foi planejado, durante semanas, os ataques ao Capitólio dos EUA por grupos de extrema-direita que não aceitam a derrota de Trump para o democrata Joe Biden. (Continua)
“Gênero” e “raça”, categorias eurocêntricas, serviram ao extermínio de sociedades africanas e indígenas. O feminismo contra-hegemônico busca desfragmentar o olhar sobre a sociedade — e resgatar as experiências de base comunitária
Por Susana de Castro /Revista Cult /Outras Palavras
Imagem: Claudia Roquette-Pinto
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“Feminismo decolonial” nomeia uma corrente dos feminismos subalternos, contra-hegemônicos, que incluem também os feminismos pós-coloniais, negro, comunitário e indígena, cujas representantes, intelectuais não brancas, denunciam o racismo de gênero e a forma como a geopolítica do conhecimento silencia as vozes das intelectuais e dos intelectuais subalternos, isto é, todas as pessoas não brancas, indígenas, negras, chicanas, latinas, indianas, asiáticas, afrodescendentes, mestiças, imigrantes, e as vozes de sexualidade dissidente, pessoas transexuais, gays e lésbicas dos países periféricos do capitalismo (antes chamados de países do terceiro mundo, em desenvolvimento).
A geopolítica do conhecimento – dominada pelos países centrais do capitalismo, pelo continente europeu e pelos Estados Unidos – impõe a todos os países do mundo a epistemologia hegemônica baseada em categorias modernas universais de pensamento. Assim, quem está autorizado a falar em nome da raça humana e de toda a população do planeta são somente os intelectuais e acadêmicos dos países centrais, pois eles estariam mais capacitados a perceber o todo da questão, o todo do problema, de modo neutro e imparcial. As mulheres e os homens subalternos não têm autoridade e lugar de fala nessa geopolítica, porque a perspectiva a partir de um país não desenvolvido é sempre vista como parcial e incompleta, por não ter o domínio das categorias universais de análise.
O feminismo decolonial – constituído por intelectuais latino-americanas, afrodescendentes, mestiças, não brancas – denuncia a origem da geopolítica injusta do conhecimento na experiência colonial europeia nas Américas. A colonização europeia representa um marco na constituição de uma matriz capitalista-patriarcal de dominação econômica e intelectual que perdura até hoje, sustentando as desigualdades socioeconômicas e as desigualdades entre nações.
Além disso, o feminismo decolonial incorpora duas questões centrais do feminismo negro norte-americano: a não fragmentação das opressões e a desuniversalização do sujeito “mulher”.
A fragmentação das opressões é uma forma de dominação, pois nenhum oprimido subalterno sofre apenas um tipo de opressão. Todas as raças e nacionalidades subalternizadas são oprimidas pelo menos racialmente e economicamente, de modo que falar do racismo ou do sexismo sem falar da distribuição desigual de riquezas é desviar a atenção do fato de que a origem dessas opressões está no sistema capitalista mundial, ao mesmo tempo que não se questiona o próprio lugar de fala privilegiado desde o centro do capitalismo global. Além disso, a fragmentação das opressões serve também para separar e desunir, para dominar. Uma comunidade fragmentada, na qual homens e mulheres são inimigos uns dos outros, é dominada muito mais facilmente do que uma comunidade em que homens e mulheres são unidos pela solidariedade racial e de classe, e por laços comunitários.
Como o restante dos feminismos subalternos, o decolonial também não se vê reconhecido na representação do feminismo pelo feminismo hegemônico-liberal-branco-ocidental-heterocentrado. As experiências e vivências de um corpo feminino racializado, cis ou trans, e pobre, em países da periferia global é tão própria que não há como alguém que nunca viveu sob as mesmas condições saber seu significado ou poder descrever suas dores. Os feminismos, portanto, são diferentes, porque há inúmeras formas de viver em um corpo feminino. Mas quando o feminismo mainstream reivindica a universalização da opressão de gênero como se essa opressão atravessasse todas as culturas e classes sociais, e se sobrepusesse a outras formas de opressão, o que ele está fazendo, na verdade, é também oprimir. Isso é racismo de gênero.
A categoria “gênero” faz parte do sistema moderno-colonial eurocêntrico de dominação. Na medida em que o feminismo hegemônico reitera a centralidade dessa categoria de análise, ele é cúmplice e copartícipe do modelo de dominação mundial do capitalismo – que se fundamenta na separação entre ricos e pobres, entre países periféricos e centrais.
Na primeira fase do capitalismo global, iniciada com a invasão do continente sul-americano pelos colonizadores europeus no final do século 15, “gênero” foi, ao lado de “raça”, uma das categorias fundamentais usadas para exercer o controle e a dominação das populações nativa e escravizada. O poder e o domínio do colonizador sobre o colonizado, a população nativa e os negros escravizados trazidos do continente africano não se davam exclusivamente pelo uso de força e violência, mas também, e principalmente, pelo exercício do domínio psicológico e epistêmico (= colonialidade do ser e do saber).
A invasão do continente latino-americano coincide com o início da era moderna na Europa, mas normalmente os manuais sobre as histórias das ideias não associam os dois eventos. Para os intelectuais latino-americanos reunidos em torno do grupo que ficou conhecido como Grupo Modernidade/Colonialidade, no entanto, os dois eventos estão intrinsecamente ligados: a colonização é o lado escuro e oculto da modernidade. Filósofos europeus deram sustentação ao projeto exploratório colonial, pois nessa mesma época descreviam a humanidade por oposição ao natural e ao animal. O humano, diferente de toda a natureza não pensante, era pelo pensamento separado do mundo para melhor controlá-lo e dominá-lo. Dotado de uma racionalidade do tipo instrumental, a racionalidade para a qual a natureza é meio para o ser humano atingir seu progresso material e econômico, o colonizador não se apresentava mais como um conquistador de territórios e povos como antigamente, mas como um representante da cultura europeia elevada e civilizada – por oposição à cultura inferior dos povos nativos, presos à natureza. A não humanidade dos não europeus “autorizava” que os europeus os explorassem da mesma forma como faziam com os animais, sem dó nem piedade. Assim, o europeu colonizador branco identificou nos corpos não brancos de africanos e indígenas uma diferença “racial” que representava também uma diferença de graus de humanidade. Quanto mais escura a pele, mais bárbaro e não humano era o indivíduo, e isso justificava a exploração de sua força de trabalho da mesma forma que a natureza das colônias servia à economia extrativista europeia.
A sociedade colonial era, portanto, organizada a partir da divisão social e racial: negros e índios escravizados na base e europeus ricos no topo; no meio, entre eles, os brancos pobres e os mestiços. A dominação completa dependia da introjeção da ideia, pelo colonizado, de que o modo de pensamento “racional” europeu, baseado em estrutura de pensamento categorial dicotômica, europeu/não europeu, civilizado/bárbaro, humano/não humano, cultura/natureza, superior/inferior, rico/pobre, homem/mulher, era superior ao seu. Até, então, como mostra a vasta literatura sobre o assunto, as sociedades nativas, africanas ou indígenas, organizavam-se socialmente de forma completamente distinta. A base social era comunitária, todos os membros do agrupamento participavam das relações de produção e distribuição. Não havia divisão social baseada em riqueza ou pobreza. As lideranças locais eram ocupadas pelas pessoas mais velhas, e as famílias não eram estruturadas em núcleos e sob o domínio do pai, como no caso europeu.
Uma das formas de destruição desse modelo comunitário de organização foi a introdução do sistema moderno/colonial de gênero. Na medida em que as mulheres nativas eram retratadas como não humanas ou selvagens, eram assim retratadas contraditoriamente como “não mulheres”.
O sistema europeu de gênero identificava a humanidade como dividida pelo binômio de gênero homem/mulher. A feminilidade era considerada universalmente expressa pela oposição ao masculino, a mulher era o outro do homem. Isso significava que ela era o oposto do que se compreendia como característica exclusivamente do masculino: frágil, passiva, doméstica, materna, emotiva, insegura e fraca. Quem não reproduzisse esse modelo de feminilidade era evidentemente considerado não mulher e, portanto, não humana.
Mas claro que a relação entre homens e mulheres na época anterior à colonização não se baseava nessa dicotomia de gêneros opostos que se complementam, porque o modo de pensamento comunitário não era dicotômico e categorial. Não havia essa expectativa de que o sexo biológico determinasse de modo essencial a posição social e o comportamento das pessoas. A introdução do sistema sexo-gênero na colônia foi, por essa razão, uma ferramenta poderosa de dominação, pois fomentava a oposição entre homens e mulheres, pondo em risco os laços comunitários. A divisão e a fragmentação, a separação em categorias opostas, como as de gênero e raça, representam o modo do pensamento europeu moderno que perdura até hoje e que serve de estratégia de dominação e exclusão.
O feminismo surge justamente para contrapor-se a essas dicotomias de gênero e a esses ideais de masculinidade e feminilidade que colocavam as mulheres no lado doméstico e submisso. O hegemônico feminismo branco de classe média serve aos interesses de dominação capitalista patriarcal quando define a dominação masculina com base em sua experiência. Assim, por exemplo, durante um longo período a pauta do feminismo mundial foi o direito da mulher ao trabalho e à vida pública. Mas essas questões jamais fizeram parte da pauta, por exemplo, das mulheres negras ou das mulheres trabalhadoras. O feminismo negro norte-americano foi o primeiro a apontar essa falha ao anunciar que a matriz de dominação era múltipla e envolvia não apenas a diferença de gênero, mas também a econômica e a de raça.
As mulheres racializadas dos países periféricos do capitalismo global carregam no corpo a experiência da colonização. Na época colonial não foram consideradas mulheres; ao contrário, eram, na visão do colonizador, bestas sexuais, selvagens. Somente na medida em que foram “embranquecendo” ao longo dos séculos, isto é, submetendo-se ao ideal civilizado de feminilidade, foram então reconhecidas como “mulheres”. Essa ferida colonial nunca foi sarada, e o ponto de vista soberano do colonizador perdura até hoje nas relações centro-periferia. Para o feminismo hegemônico, as mulheres periféricas precisam de sua ajuda para se tornarem, como elas, mulheres economicamente independentes e autônomas – o que nos faz concluir que elas ainda nos veem com a mesma condescendência dos dominadores para com os não humanos.
O fim da colonização não significou o fim do eurocentrismo e da dominação do capitalismo global sobre a economia dos países não europeus. A população local já havia sido socialmente estratificada de acordo com o ideal de branquitude. O racismo se entranhou nas relações sociais das ex-colônias. Além disso, a relação de suposta superioridade cultural da metrópole para com a colônia foi transposta para o nível da geopolítica do conhecimento. As antigas colônias não realizaram um resgate cultural de suas raízes não europeias, valorizando seus saberes e pensamento. Muito ao contrário, mantiveram uma mentalidade de inferioridade diante da cultura branca europeia – e norte-americana, diríamos hoje. Qualquer indivíduo pode facilmente constatar como a mentalidade colonizada perdura nas sociedades latino-americanas, ao observar a mídia e a moda. Se um extraterrestre chegasse ao nosso país agora e assistisse aos programas de televisão, concluiria que a maioria da população é branca ou embranquecida – jamais imaginaria que mais da metade dos brasileiros é de afrodescendentes.
Dividir para governar: era esse o lema da matriz de dominação capitalista global. Nesse sentido, raça e gênero sempre foram tratados como temas distintos. Isso permitiu que o feminismo hegemônico branco descrevesse a opressão feminina separadamente de todos os outros vetores de dominação, como o racial, de classe ou de nacionalidade.
Sobretudo hoje, quando a crise pandêmica do capitalismo global traz à tona conflitos raciais e econômicos, fica mais patente a necessidade de o feminismo brasileiro buscar resgatar as experiências comunitárias dos povos originários, quilombolas, brasileiros, caribenhos e latino-americanos. Precisamos também resgatar e valorizar a contribuição do feminismo negro brasileiro para a crítica às categorias de pensamento ocidentais modernas, e nos alinhar ao projeto de decolonizar nossa mentalidade periférica fazendo pesquisa não de modo neutro, mas a partir da singularidade de nossas experiências.
Certamente não se trata de tarefa fácil, uma vez que o capitalismo global iguala todos os povos de modo artificial, ao nos fazer crer que pertencemos a uma aldeia global onde todos desejamos as mesmas coisas, os mesmos objetos de consumo. Valorizar as diferenças não significa excluir. Precisamos de uma nova metodologia de pesquisa que incorpore e valorize as diferenças e que não procure nivelar todas as experiências a um denominador comum: o da branquitude hegemônica, patriarcal, racista e heterocentrada. Precisamos de mais estudos sobre a branquitude, que nos mostrem por que o corpo branco não é racializado, enquanto todos os corpos não brancos são. Não falamos de feminismo branco, mas sim de feminismo negro e feminismo indígena. Por que será?
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Neste texto o leitor escutou as vozes de diversos autores: María Lugones, Yuderkys Espinosa Miñoso, Ochy Curiel, Aníbal Quijano, Oyèrónké Oyěwùmí, Angela Davis, bell hooks, Patricia Hill Collins, Lélia Gonzalez, Gayatri Spivak, entre outros. A elxs devo meu agradecimento pela oportunidade que me deram de reconhecimento libertador do meu lugar de subalternidade dentro da geopolítica do conhecimento e do feminismo hegemônico acadêmico.