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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

07
Ago23

A "sentada" na música brasileira e seus impasses políticos

Talis Andrade

sentada.png

 

por GG Albuquerque | Imagem: Vitor Fugita

“O que que faz na quarentena?”, nos pergunta Adriana Calcanhotto, com voz séria e monocórdica fazendo passinhos robóticos sobre uma batida funk de Dennis DJ. Na sala branca da sua casa, iluminada por luzes coloridas piscantes e com uma bandeira do Brasil estendida ao fundo, ela encara a câmera fixamente com seus olhos azuis arregalados. E responde à própria pergunta:

 

Senta/

Senta/

Senta/ Senta/

[...] Senta a bunda/ 

Senta a bunda/

Senta a bunda/

[...] Senta a bunda e estuda/

Senta a bunda e estuda/

[...] Senta a bunda e lê, lê/

Senta a bunda e vai à luta.

 

“Para Adriana, o ato de sentar pode transformar o país”, escreve Igor de Albuquerque ao analisar, em Modos de sentar — texto vencedor do concurso de ensaísmo da revista Serrote —, a deserotização da sentada proposta pela cantora. Mas, afinal, por que deserotizar nossas demandas políticas? Por que o estudo e a luta estariam dissociados da energia erótica?

No clipe de Parabéns piranha (tu agora tá formada), Tati Quebra Barraco é uma professora que incentiva a quebra de uma placa de “proibido dançar” instalada numa universidade. Assim, Tati segue um caminho contrário ao tom imperativo de Calcanhotto e nos encaminha a um conhecimento que é avivado pelas capacidades da sentada. Em vez de castração, a luta política torna-se desejante e a revolução tem o calor do erótico como seu principal catalisador:

 

Parabéns, piranha, tu agora tá formada/

Continua estudando mas não esquece da sentada/ [...]                 

Piranha formada com diploma na mão/

Piranhas doutoradas farão revolução.

 

“Nós, professoras e professores, raramente falamos do prazer de eros ou do erótico em nossas salas de aula”, escreveu bell hooks. Como uma colega de sala da funkeira carioca da Cidade de Deus, a norte-americana faz uma análise (auto)crítica do eros e erotismo no processo pedagógico. “Treinadas no contexto filosófico do dualismo metafísico ocidental, muitas de nós aceitamos a noção de que há uma separação entre o corpo e a mente. Ao acreditar nisso, os professores entram na sala de aula para ensinar como se apenas a mente estivesse presente, e não o corpo. Chamar atenção para o corpo é trair o legado de repressão e de negação que nos tem sido passado por nossos antecessores na profissão docente, os quais têm sido, geralmente, brancos e homens. Mas nossos antecessores docentes não brancos se mostraram igualmente ansiosos por negar o corpo. As faculdades predominantemente negras sempre foram um bastião da repressão. O mundo público da aprendizagem institucional é um lugar onde o corpo tem de ser anulado, tem que passar despercebido”.[nota1]

O que hooks e Quebra Barraco nos mostram é que, mais do que um discurso moralista qualquer, a persistência em admoestar o rebolado funk, educar para transformá-lo na “bunda lê lê” que vai à luta por uma suposta pátria nacional revela uma atualização da tentativa de controle biopolítico do corpo negro. Enjaular os movimentos e os passinhos escuros, enquanto Nego do Borel e o DJ Rennan da Penha faziam o Baile da Gaiola, no Rio de Janeiro, cantar, todos os fins de semana: Me solta, porra.

 

Pode chegar, pode chegar/

Que a festa vai começar/

Sabe aonde você tá?/

Naquele lugar que tu ouviu falar/

Aonde tu senta, aonde tu sobe, aonde tu desce, aonde tu rebola/

Sabe aonde você tá?/

É no Baile da Gaiola/

Aaaaai, me solta, porra!//

Deixa eu dançar, deixa eu dançar, deixa eu dançar [...]/           

Aaaaai, me solta, porra!

 

Do funk ao pagodão, passando pelo trap e brega funk, as musicalidades periféricas do Brasil consolidaram um novo imaginário popular sobre a sentada, que efetivamente passou do ato de repousar as nádegas para o movimento sexual. Mas o erotismo que orbita o sentar — bem como sua associação íntima com a mulher negra — está longe de ser novo.

No conto A cadeirinha (1898), o mineiro Afonso Arinos fantasia sobre as sentadas recebidas por uma “cadeirinha azul, forrada de damasco cor de ouro velho”. O escritor excita-se imaginando “as cadeirinhas conduzidas por lacaios de libré, onde as moçoilas e as damas de outrora se faziam delicadamente transportar”. Mas o seu tesão é cortado instantaneamente quando a imaginação o tira das imagens das sinhás carregadas pelos escravizados e o lembra das pretas que “profanaram” o assento: “Alguma mulata velha e alentada, apreciadora da mecha ou do rolão, a refocilar-se na cadeirinha, espalhando a toucinheira das nádegas num dos assentos fronteiriços”.

A racialização da sexualidade e a sexualização do racial foram dispositivos constituintes da colonialidade e do mundo conceitual branco. E se por um lado as culturas musicais negro-periféricas envolvem imaginários e arquétipos sexuais do racismo, o sentido mais profundo desse vocabulário da putaria não está exatamente nos arquétipos, mas sim nos usos criativos que se faz deles. É comum ver, por exemplo, a sexualização do corpo negro ser positivada como poder racializado: “Elas gostam do preto porque o preto faz direito”, gaba-se o baiano O Poeta. “Tu se amarra na pretinha”, canta confiante a MC Rebecca. E onde L7nnon passa, escuta os gemidos de “ai, preto”. Para Osmundo Pinho, existe nas periferias um vínculo entre o antirracismo e a objetificação que dá as condições de uma versão vernácula do antirracismo. A sexualidade e o erótico tornam-se canais de expressão poéticos de um poder que irradia para além do sexual.

“Essa porra aqui/ Não é Tiktok/ Isso é baile funk/ Senta senta e fode fode” — a voz rasgada dos MCs Xangai e Bicho Solto estabelecem uma demarcação: em oposição à lógica algorítmica e dos modelos estabelecidos repetitivamente pelas trends em nossas linhas do tempo, o baile funk é o ambiente — físico e símbolo — de liberação. É deixar as correntes elétricas do desejo passarem embrazadas pelo corpo inteiro.

Então vem MC Naninha e anuncia: “Me separei, porra! Tô solteira agora! Aqui no baile de favela eu vou sentar na tua piroca!”. Mais que um hino de boas-vindas à farra e devassidão da solteirice, Naninha parece cantar de uma forma que faz da sua sentada uma arma. Uma arma sua — e só sua. A vibração de suas cordas vocais ao soltar o grito rouco do refrão encarna um tesão vigoroso, autoafirmativo e autocentrado que é capaz de concretizar o impensável. O seu rugido faz tremer também a nós, que sentimos sua voz perfurante. A MC Mari também alimenta a sentada como um dispositivo particular de sua própria força: “Você vai levar uma sentada!”, canta ela com voz gutural em um beat que soa como uma cascata de socos. Em ambos os casos, o tom envolvente e lúdico da sedução funkeira passa longe. Suas vozes parecem tirar da garganta uma força ardente e desconhecida, ainda sem nome, que é movida apenas por uma autodeterminação e uma vontade de colocá-la para fora. Acima de tudo, um poder que está contido nelas.

Em É por isso que sofre, Tati Quebra Barraco — ela de novo, a mamãe da putaria — retorna e aconselha: “Homem é para sentar/ vocês, vocês querem amar”. Os versos lembram outros hits recentes: Não pode se apaixonar e Sentada desapegada. Na primeira, a MC Danny alerta a Xand Avião: “A Danny senta com carinho/ só não pode se apaixonar”. Na segunda, Felipe Amorim e Nattan, dois expoentes do novo forró e piseiro, puxam os versos: “Eu me apaixonei pela mulher certa/ Que gosta da putaria, que gosta do que não presta/ A sociedade tá mal acostumada/ Tem mulher que quer amor, mas a minha só quer botada”. Entra, então, MC Mari, enfatizando sílaba por sílaba: “É só sentada sem amor sentada que não vale nada/ Sen-ta-da de-sa-pe-ga-da”.

Apesar de rondar o mesmo imaginário, as músicas possuem nuances diferentes. Enquanto Danny, Nattan, Felipe e Mari celebram o desapego em si, dentro de um prazer festivo, a música de Tati parece acionar outras coisas mais. Em Sentada desapegada, o sentar fala da/constitui a mulher — é ela que “gosta do que não presta” e que “só quer botada”. Em Por isso que sofre, ao contrário, a sentada é a ferramenta que transforma o homem no objeto — invertendo o que eles mesmos, em muitas outras músicas, gabam-se de ter feito com as mulheres. No filme Suzume (2022), do diretor Makoto Shinkai, uma maldição transforma o mocinho em uma cadeira (sugestivamente, uma cadeira três pernas). Na música de Tati, os caras são propositalmente transformados em cadeiras. Homem é pra sentar.

Em Sentadona, Davi Kneip, MC Frog e o DJ Gabriel do Borel versam sobre aquela que, eles supõem, é a mulher antítese da sentada desapegada. E portanto, aquela que eles (acreditam) que será iludida pelos seus dotes e sua malandragem:

 

Diz que o coração é gelado/

E que nunca emocionou/

Mas todos que ela senta essa mina apaixonou/ 

Quer dar golpe em bandido, logo eu experiente/

Em menos de duas semanas ela se iludiu com a gente.

 

Luísa Sonza interrompe a conversa contando uma outra versão da história em sentaDONA (Remix) s2, feita em parceria com os meninos — “Não fica preocupado se chamei de namorado/ É que contando com você eu acho que tenho mais uns vinte”:

 

Onde eu quico/

Onde eu sento/

Eles me pedem em casamento/

Coração da mãe é grande, eu não tô perdendo tempo//

Sentadona, sentadona, sen-ta-do-na/

Fala que é sem sentimento/

Mas quando eu sento apaixona.

 

Na voz de Luísa, a sentada serve de contranarrativa ao discurso masculino de dominação (pelo afeto) e superioridade (pela ausência dele, o “coração de gelo”). Invertendo a perspectiva, ela nos coloca no seu ponto de vista para exaltar aquela força rascante que arde nas vozes de MC Naninha e MC Mari, destacando os poderes que estão dentro de si. É uma intenção que parece escapar dos modos de sentar de Pipoco, o funknejo de Ana Castela com Melody e DJ Chris no Beat:

 

Nós tá embaçada/

Na galopada/

Nem oito segundo’/

O peão não aguenta com essa sentada [...]/

Meu beijo vai te viciar/

Minha pegada vai fazer você gamar/

Debaixo do meu chapéu não vai mais sair/

Eu sou o combo perfeito pra iludir.

 

Enquanto Luísa Sonza aborda uma espécie de soberania de si e consciência independente (como enfatiza com o “DONA” em caixa alta no título da música), para Ana Castela e Melody a sentada aparenta ser direcionada, sobretudo, ao homem e à conquista dele. É mais um recurso para seduzir e laçar o peão do que a celebração de suas próprias potencialidades. O poder erótico afasta-se de sua potência de autoconexão, do gozo que se sabe capaz de sentir (como descreveu Audre Lorde) e é reificado enquanto artifício para viciar e fazer gamar o peão, mantido sob controle debaixo da aba do chapéu delas.

Nestes contrastes sutis talvez residam os impasses políticos da disseminação indiscriminada do sentar na música atual: uma captura do poder erótico libertador construído coletivamente pelas culturas musicais das periferias brasileiras, deturpado e usado como via de reafirmação das hierarquias de gênero. Sabendo que o capitalismo encontrou e encontrará formas de transformar o “empoderamento” em commodity, podemos nos perguntar: em que contexto a sentada é meio de subversão que expande as possibilidades de experimentação e de sexualidade e em que situação (e para quem) ela voltará a reiterar os papéis de gênero?

Nestes embates, as mulheres negras adotaram o corpo e o movimento como um campo de batalha prazeroso. Uma luta contínua que desata tabus a partir da afirmação dos seus modos de sentar. Funkeira, dançarina e pesquisadora, Taísa Machado ressalta que “a ciência milenar de mexer com os quadris” vai das perspectivas ancestrais até a música contemporânea e exerceu papel fundamental na construção da liberdade e transformação das relações. “Aquelas meninas desenvolveram danças que mudaram o jeito de transar das pessoas. E ninguém considera aquilo um saber”, diz ela em entrevista no livro Afrofunk: A ciência do rebolado. 

Um vislumbre dessa transformação foi exibido em horário nobre, em plena TV Globo. A novela Páginas da vida, em 2006, encerrava seus capítulos com depoimentos de uma pessoa real, anônima, contando uma história relacionada ao episódio do dia. Em um deles, uma idosa negra, aos 68 anos, contou como só experimentou um orgasmo aos 45. “Eu fiquei dos meus 14 aos meus 45 anos sem saber o que era isso. Para mim era tudo normal: o homem terminava, eu terminava também”, diz ela, com leveza, mas também seriedade. “Só que aos 45 anos eu ganhei um LP do Roberto Carlos que tinha a música O côncavo e o convexo. Então eu botei na vitrola e fui dormir. E simplesmente, gente, quando eu acordei eu estava com a perna suspensa e a calcinha na mão e toda babada. Aí foi que eu comecei a comentar com as amigas, aí falou assim: ‘Poxa, você gozou!’. Aí foi que eu vim saber o que era o gozo. Aí moral da história: eu sou uma pessoa com 68 anos que o homem pra mim não faz falta”. Certas lutas só são possíveis sentando.

 

NOTA

[nota1] Trecho do ensaio Eros, erotismo e o processo pedagógico, em tradução de Tomaz Tadeu. Publicado em: Guacira L. Louro (org.), O corpo educado: Pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

28
Fev23

“Não é sobre o Brasil, é sobre o mundo”: musical alemão sobre violência policial no Rio na Berlinale 2023

Talis Andrade
 
 
 
Ash Wednesday 2023 | Eventlas
 

O curta-metragem “Ash Wednesday”, uma produção alemã de alma brasileira, estreou na mostra Perspektive Deutsches Kino da 73ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Os diretores deste autêntico musical sobre violência policial, João Pedro Prado e Bárbara Santos, conversaram com a RFI na capital alemã.

 

 por Daniela Franco /RFI

A trama de “Ash Wednesday” (“Quarta-feira”, título em português) gira em torno da personagem Demétria, uma mulher negra, mãe solteira, que mora em uma favela no Rio de Janeiro. Ela aguarda a filha, Cora, voltar da escola quando se inicia uma operação policial no local.

A partir daí, Demétria é impedida de sair de casa. Bloqueada e desesperada, tenta argumentar com três personagens masculinos – o policial, o pastor e o governador – que se sentem no direito de invadir o espaço pessoal da personagem como bem entendem.

Segundo João, o objetivo era, por meio de um cenário de violência policial em uma comunidade do Rio, contar uma história épica. “Parte do filme é baseado no mito grego de Deméter e Perséfone, que contado na Antiguidade através de Romero, eram hinos. Afinal, existe algo muito forte nessa história de uma mulher que enfrenta os deuses que querem definir o destino dela e da filha, que é aquilo que a gente vê na nossa protagonista que enfrenta homens que se julgam ser deuses”, explicam.

Machismo, racismo, desigualdade social, violência policial – uma realidade comum e banalizada – que ganha uma perspectiva ainda mais impactante por meio do gênero musical. “A gente pensou em uma forma de contar essa história que não fosse realista, afinal, é impossível ser fidedigno à realidade do Rio de Janeiro, que é muito absurda. Tínhamos certeza de que não daria para contar como é de verdade, só através de um documentário. Não queríamos competir com o absurdo da realidade e o musical dá esse distanciamento”, ressalta Bárbara.

Segundo a cineasta, utilizando esse formato, o espectador é convidado a refletir sobre a complexidade da trama apresentada como um musical e não como um documentário. “O nosso maior objetivo era não banalizar essa história, era não normalizá-la. Às vezes, há filmes em que a violência é a grande estrela. Mas a gente não queria que no nosso filme a violência fosse a protagonista”, sublinha.

 

Reconstrução de um universo típico brasileiro

 

Com atores brasileiros, cantado em português, e reconstituindo um cenário típico do Brasil, “Ash Wednesday” foi inteiramente filmado em Potsdam, na Alemanha, um desafio que os dois cineastas se deram. “A gente contou com uma equipe extraordinária que tornou tudo isso possível. Fazer isso acontecer é algo que supera a nossa capacidade como diretores”, diz João. “O filme foi uma grande mistura intercultural e internacional de pessoas que trouxeram visões e experiências completamente diferentes para fazer o projeto se tornar realidade”, completa.

O cineasta não esconde o orgulho ao falar sobre sua equipe de música, que embora não conte com nenhum brasileiro, soube captar com maestria a essência do enredo. As composições vieram de um grupo formado por três alemães, uma croata e um argentino.

“Eles tiveram a tarefa de compor um funk carioca, uma percussão próxima do candomblé e da umbanda, um samba: gêneros musicais tipicamente brasileiros, com os quais eles nunca tinham trabalhado antes, mas eles estavam tão abertos a aprender, a nos ouvir e a pesquisar, que no final virou uma mistura nem só brasileira, nem alemã, mas algo muito único”.

Uma universalidade que tem relação com o tema do filme que, como lembra Bárbara, “não é só sobre o Brasil”. “É importante que a gente esteja consciente de que se trata de um problema do mundo. O avanço da direita, a normalização da violência, o sexismo e o patriarcado são problemas do mundo. Então, a gente não está só falando do Brasil, a gente está falando do mundo através dessa história particular”, enfatiza.

Por isso, segundo os dois diretores, o filme não terá dificuldade de alcançar o público da Berlinale. João lembra que o filme foi escolhido para competir na mostra Perspektive Deutsches Kino, dedicada a produções alemãs no Festival de Berlim, o que demonstra que o trabalho sensibilizou um comitê internacional.

Mas a expectativa de compartilhar o trabalho com o público brasileiro também é grande. “A gente tem visto que além de ter esse alcance intelectual de entender os conflitos que estão sendo mostrados, existe um apelo emocional muito forte. Pessoas do Rio e nossos amigos pretos que assistiram ao filme foram tocados de forma muito inesperada. Há referências que pessoas do Brasil e do Rio vão notar, mas o público alemão não necessariamente, então acreditamos que o filme ainda vai tocar em lugares mais profundos”, conclui João. 

11
Fev22

Mulheres negras no poder amedrontam porque são vistas como ameaça, diz vereadora

Talis Andrade

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Eleita na Câmara Municipal do Rio, Thais Ferreira foi acusada de ter “estilo” de usuário de drogas e favorecer o crime, com projeto sobre direitos de crianças e adolescentes, por deputado bolsonarista que quebrou placa de Marielle; parlamentar entrou com representação por racismo, calúnia e difamação no Ministério Público

 

placa marielle.jpg

 

Foi assistindo à primeira sessão do ano da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), em 1º de fevereiro, que a vereadora da capital fluminense Thais Ferreira (PSOL) ouviu seu nome ser mencionado. Conhecido por ter quebrado a placa com o nome da vereadora Marielle Franco assassinada em 2018, já próximo aos minutos finais da sessão, com um quadro do presidente Jair Bolsonaro (PL) e outro com uma arma na parede, o deputado Rodrigo Amorim (PSL) começou a comentar operações das forças de segurança na praia para coibir crimes até que fala sobre a atuação da parlamentar, que teria sido informada por moradores e comerciantes dos bairros de Copacabana, Leme, Leblon e Arpoador, que são áreas ricas da zona sul. “Essa vereadora, querendo lacrar como sempre, com suas pautas repugnantes como sempre, resolveu lançar um manifesto, um circo que ela montou, que ela deu nome de ‘Partiu Praia’”, declarou.

Em seguida, ele alega que Thais “hostiliza, confronta essa operação de guerra montada [da PM] no litoral do Rio de Janeiro, mais precisamente em Copacabana” e que ela facilitaria a atuação de “vagabundos travestidos de crianças e adolescentes, ou seja, sementinhas do mal, aqueles que se transformarão em marginais no futuro” para irem à praia praticar assaltos e usar drogas. Depois, se refere à vereadora, que é uma mulher negra, de que ela “tem o estilo” de usuário de drogas e que ela defenderia que crianças fossem à praia sem acompanhamento de um responsável.Image

“Eu sei, presidente, que a maioria dos deputados e vereadores do PSOL são consumidores de droga, eu sei que eles fumam maconha, que eles adoram traficante, são drogados, drogadiços [sic], dependentes químicos, defendem traficante, essa vereadora tem até o estilo mesmo de que gosta de fumar maconhazinha”, disse o bolsonarista. Depois, que Thais seria da “mesma laia” de uma vereadora de Niterói que queria “legalizar o roubo”.

A resposta de Thais

À reportagem, a parlamentar disse que entrou com uma representação pelos crimes de racismo, calúnia e difamação contra Amorim no Ministério Público Estadual, por ele ter atribuído práticas criminosas à ela pela sua cor e aponta que, mesmo com o episódio da placa, ele não parou de atacar parlamentares negras: “Ele parece que se especializa nesse tipo de prática porque a garantia da impunidade também é flagrante”.

Acabamos de protocolar uma notícia crime contra o Deputado Estadual Rodrigo Amorim. O único “lacre” que a nossa MãeData quer e precisa é o lacre de segurança pra que a nossa atuação na cidade, e em qualquer lugar, seja respeitada! pic.twitter.com/kxPRcIFddf

— Thais Ferreira (@southaferreira) February 4, 2022

Ela explica que o programa Partiu Praia é uma iniciativa do seu mandato em levar informações sobre direitos das crianças e dos adolescentes num espaço que é público e democrático. “A gente abarca fases diferentes da infância e como elas podem estar expostas à violação de direito na praia desde a primeira infância.”

A assessoria do MPRJ informou que está analisando a representação. Já a assessoria do deputado disse que veria a possibilidade de uma entrevista com ele, mas não respondeu mais até a publicação.

Estimulada por Marielle para integrar o PSOL e disputar uma cadeira na Alerj em 2018, Thais alcançou a primeira suplência e, depois, se tornou vereadora nas eleições municipais de 2020, com 24 mil votos.

À Ponte, ela conta sobre sua trajetória, a violência política contra parlamentares negras e a importância de ocupar esse espaço.

ribis- marielle consciencia negra quebra placa car

 

Jeniffer Mendonça entrevista Thais Ferreira

 

Ponte – Gostaria que você contasse sobre a sua trajetória, por favor, e o que a fez entrar para a política.

Vereadora Thais Ferreira – Eu sou Thais Ferreira, tenho 33 anos e sou preta periférica, mãe de dois meninos pretos também. Faço esse trabalho político voltado para saúde da mulher e também para o desenvolvimento desde a primeira infância, por entender que essa é a principal mudança radical que a gente pode promover a partir da política, para dar dignidade para todo mundo desde o começo da vida. Eu venho dessa trajetória porque as mulheres da minha família foram mulheres e fizeram política no cotidiano. Foi o fazer político delas que me permitiu continuar viva. Então, é mais um um passo para aquela continuidade que eu falo que eu levo para minha atuação parlamentar. E, para além dela, também legados que a gente aprende, né? Com a nossa ancestralidade, que é de nos tornarmos bons ancestrais em vida.

 

Ponte – O que é o programa Partiu Praia?

Thais Ferreira – Partiu Praia é um programa da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da Câmara do Rio, que eu sou presidenta, e foi criado no intuito de fazer uma sensibilização e uma conscientização – no caso, educação política – com toda a população acerca dos direitos das crianças e dos adolescentes, principalmente no que tange ao direito à cidade. Direito a lazer, à cultura, ao brincar e à convivência também na cidade com segurança, sem que haja nenhuma violação de direitos. Então, nós estamos com as nossas equipes ocupando as areias, a orla da zona sul do Rio, para que a gente possa fazer essa divulgação ativa de todo o sistema de garantia de direito da criança.

Ponte – E como funciona? Vocês abordam as pessoas na praia?

Thais Ferreira – Sim. Nós fazemos a prestação de conta da atividade parlamentar, que é permitido por lei, falamos o que é a comissão, qual o caráter dela no Rio de Janeiro, quais instâncias que ela participa e falamos também sobre os direitos das crianças, sobre identificação civil, sobre as lições de responsabilidade dos pais, da família, responsabilidade do poder público, responsabilidade de toda a sociedade. A gente abarca fases diferentes da infância e como elas podem estar expostas à violação de direito na praia desde a primeira infância. Na verdade, até [a fase] gestacional, quando a gente encontra as mulheres gestantes e fala acerca da hidratação, da segurança alimentar das crianças e a oportunidade também toda a identificação civil, porque é flagrante o número de crianças perdidas que também acontece na praia. No tempo da segunda infância, a gente fala muito sobre brincar como o principal ferramenta de desenvolvimento infantil, então o brincar na praia, imaginar a cidade, as texturas, o lugar democrático da convivência com pessoas diferentes. E quando a gente troca para esse lugar de adolescente e juventude, a gente fala sobre a participação social: os incômodos da cidade, da violência com a criança, o adolescente ou os jovens dos territórios periféricos. A gente fala também sobre a questão de sensibilização sobre os direitos e os deveres da cidadania para que essas crianças estejam protegidas.

 

Ponte – Gostaria que você contasse sobre a sua trajetória, por favor, e o que a fez entrar para a política.

Vereadora Thais Ferreira – Eu sou Thais Ferreira, tenho 33 anos e sou preta periférica, mãe de dois meninos pretos também. Faço esse trabalho político voltado para saúde da mulher e também para o desenvolvimento desde a primeira infância, por entender que essa é a principal mudança radical que a gente pode promover a partir da política, para dar dignidade para todo mundo desde o começo da vida. Eu venho dessa trajetória porque as mulheres da minha família foram mulheres e fizeram política no cotidiano. Foi o fazer político delas que me permitiu continuar viva. Então, é mais um um passo para aquela continuidade que eu falo que eu levo para minha atuação parlamentar. E, para além dela, também legados que a gente aprende, né? Com a nossa ancestralidade, que é de nos tornarmos bons ancestrais em vida.

 

Ponte – O que é o programa Partiu Praia?

Thais Ferreira – Partiu Praia é um programa da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da Câmara do Rio, que eu sou presidenta, e foi criado no intuito de fazer uma sensibilização e uma conscientização – no caso, educação política – com toda a população acerca dos direitos das crianças e dos adolescentes, principalmente no que tange ao direito à cidade. Direito a lazer, à cultura, ao brincar e à convivência também na cidade com segurança, sem que haja nenhuma violação de direitos. Então, nós estamos com as nossas equipes ocupando as areias, a orla da zona sul do Rio, para que a gente possa fazer essa divulgação ativa de todo o sistema de garantia de direito da criança.

 

Ponte – E como funciona? Vocês abordam as pessoas na praia?

Thais Ferreira – Sim. Nós fazemos a prestação de conta da atividade parlamentar, que é permitido por lei, falamos o que é a comissão, qual o caráter dela no Rio de Janeiro, quais instâncias que ela participa e falamos também sobre os direitos das crianças, sobre identificação civil, sobre as lições de responsabilidade dos pais, da família, responsabilidade do poder público, responsabilidade de toda a sociedade. A gente abarca fases diferentes da infância e como elas podem estar expostas à violação de direito na praia desde a primeira infância. Na verdade, até [a fase] gestacional, quando a gente encontra as mulheres gestantes e fala acerca da hidratação, da segurança alimentar das crianças e a oportunidade também toda a identificação civil, porque é flagrante o número de crianças perdidas que também acontece na praia. No tempo da segunda infância, a gente fala muito sobre brincar como o principal ferramenta de desenvolvimento infantil, então o brincar na praia, imaginar a cidade, as texturas, o lugar democrático da convivência com pessoas diferentes. E quando a gente troca para esse lugar de adolescente e juventude, a gente fala sobre a participação social: os incômodos da cidade, da violência com a criança, o adolescente ou os jovens dos territórios periféricos. A gente fala também sobre a questão de sensibilização sobre os direitos e os deveres da cidadania para que essas crianças estejam protegidas.

 

Ponte – Quando esse projeto começou?

Thais Ferreira – É um projeto de verão. A gente começou a ir para rua em janeiro. E a ideia é que a gente perdure até esse período onde o sol fica forte aqui no Rio, no período do Carnaval, mês de fevereiro inteiro, março.

 

Ponte – Por que levar essas informações nesse tipo de ambiente?

Thais Ferreira – Porque a praia acaba sendo esse lugar de lazer democrático e gratuito, onde a gente consegue concentrar diferentes status da população que convivem ali na maior parte do tempo pacificamente. Então, a gente tem uma oportunidade única de abordagem nesse período falando sobre uma cidade do Rio de Janeiro onde consegue ampliar essa agenda para mais pessoas da cidade, do estado, pessoas até de outros estados também. E a gente sabe, por evidência de dados, que a agenda das crianças deveria ser prioridade absoluta, mas não é. A gente vive um momento até de desmonte dos direitos da criança e do adolescente. E a gente viu essa oportunidade a partir desse projeto.

 

Ponte – Na sua visão, por que o deputado Ricardo Amorim se incomodou tanto com essa atuação?

Thais Ferreira – Olha, eu creio que o efeito disso é a desinformação. A gente vive numa era de desinformação muito intensa. Até as próprias figuras públicas acabam propagando notícias que não são verdadeiras e chegam também para essas figuras públicas as notícias falsas. Então, imagine que o nosso projeto, que é esse projeto para defender direitos de crianças, sensibilizar toda a população, foi transformado em algo que ele não é, né? Colocando nesse lugar pejorativo os defensores de direitos humanos, aqueles que defendem a vida das crianças. Então, credito isso à desinformação. Juntando a desinformação com a vontade política deturpada, aconteceu violência conosco por todo o nosso trabalho.

 

Ponte – Você já sofreu outros ataques ou ameaças pela sua atuação após ingressar em um mandato legislativo?

Thais Ferreira – Sim, acho que desde o início do meu fazer ativista até, com princípio de ameaça que tenta mobilizar a nossa movimentação política. Enquanto liderança política, enquanto liderança pública, enquanto liderança comunitária, é infelizmente muito comum. Aí que a gente evidencia ainda mais o caráter do racismo estrutural, o caráter do machismo, da misoginia, e a gente tem essas preposições de desigualdade que desde sempre me atravessaram. Então, isso realmente é o modus operandi daqueles que não querem que nós participemos desses fatos. Eu tenho um histórico de mobilização social, até mesmo quando eu ainda não era uma vereadora eleita, eu sofria com esse tipo de ameaça, de desqualificação. Inclusive durante as minhas duas candidaturas, todas elas foram permeadas por esse lugar da violência política de gênero e da violência racial também.

 

Ponte – Lendo sobre você, não tem como não pontuar que você vem de uma candidatura a deputada estadual a convite da Marielle Franco (em 2018, quando alcançou a suplência) e o mesmo deputado que te desqualificou e criminalizou quebrou uma placa com o nome dela após o assassinato. O que isso te representa?

Thais Ferreira – Ele faz escárnio sobre um atentado político que é um atentado sobre todas nós, é sobre todos nós, na verdade. É um atentado ao Estado Democrático de Direito. Então, quando ele faz esse escárnio, quebrando essa placa tão significativa, ele dá o recado dele sobre esse tipo de postura política que ele vai ter. Como vai ser e como que ele vai se posicionar ao lado dos extremistas de ódio para se impulsionar eleitoralmente. Isso é evidente e deixa mais flagrante ainda quando ele continua, mesmo após esse episódio horrendo e nojento, de fato se especializando em fazer violência de gênero e violência racial com as parlamentares negras eleitas pela esquerda. Ele já praticou esse tipo de violência e outras. Com a deputada federal Talíria Petroni. Já atacou também outras deputadas estaduais do Rio de Janeiro. Então, ele parece que se especializa nesse tipo de prática porque a garantia da impunidade também é flagrante. Por isso, a gente precisa reforçar cada vez mais as ferramentas de proteção às mulheres que fazem política do cotidiano, as mulheres que fazem política na institucionalidade, porque, se não, esse tipo de figura continuará sendo impulsionada por esse discurso de ódio e, infelizmente, a gente não vai avançar no que tange à representatividade política, né?

 

Ponte – Como você tem lidado com esses casos como da vereadora de Niterói Benny Briolly, da Talíria, que você mencionou, aqui em São Paulo tivemos também casos como a da vereadora Erika Hilton? Por que parlamentares negras e que vieram dessa leva pós-Marielle incomodam?

Thais Ferreira – Acho que esse incômodo vem de uma máxima que a gente usa bastante para falar sobre as pessoas que ainda praticam racismo e que são muitas no nosso Brasil. Largar o chicote só. A mudança de cultura, abrir mão do poder, dos privilégios, da dominação, somente nesse lugar político é muito doloroso e, no lugar dessa dor que essas pessoas sentem, elas acabam inflamando ainda mais o ódio e indo contra esses corpos, contra essas identidades, contra essas pessoas que representam e que façam uma mudança. A personificação da alteração do status quo no poder é de fato termos mulheres negras, mulheres negras e trans, mulheres negras e LGBTQIA+. Essas pessoas ocupando essas cadeiras nos parlamentos mandam um recado para sociedade de que esses homens não estarão sossegados operando à distância, sem transparência. A nossa mudança de fato é ética, estética e política e isso amedronta demais, ameaça demais todos eles. E, nesse lugar de ameaça, como eles fazem parte desse espaço de poder, acabam cada vez mais reproduzindo e produzindo essas e outras novas violências, que às vezes vão ser explícitas, outras vão ser sutis, mas que todas vão ter esse intento de acabar com essa mudança.

 

Ponte – O que te impulsiona a continuar ocupando esse lugar e continuar exercendo um cargo político?

Thais Ferreira – Olha, com certeza é a continuidade. A gente vem trabalhando na nossa “mãedata” valores que são ancestrais, com muito respeito, que vieram antes de nós, e a continuidade do espaço dessas pessoas dependem também do nosso presente. E também para onde a gente vai no futuro. Então, a gente imaginar e tentar mudar radicalmente a política a partir do nosso imaginário é uma forma de continuar o legado de luta das pessoas que vieram antes de nós porque, se não fosse por elas também, não estaríamos vivas hoje. A gente está falando de pessoas que fizeram política com os braços e sangraram por isso. Para honrar essas vidas e restituir a humanidade de cada uma delas, mesmo depois de tanto tempo passado, é que a gente faz a luz na institucionalidade pela reparação histórica plena. E isso vem a partir da nossas identidades com ocupação do poder.

 

Ponte – Qual a sua perspectiva para as eleições gerais deste ano? Essa onda de violência vai se intensificar?

Thais Ferreira – Acredito que sim. Acredito que essa onda de violência infelizmente vai crescer justamente porque é ela que impulsiona muitas vezes essas figuras que tentam brecar as mudanças radicais na política. A gente tem que estar cada vez mais preparada com estratégia, com segurança também porque a gente está falando de vidas, das vidas de pessoas que se arriscam para promover mudança social. Então, nesse ano eleitoral, a gente precisa ter essa palavra de ordem, né? É estratégia para manter as mulheres que estão dispostas ao poder, as mulheres negras sobretudo, a população preta, pobre, periférica, LGBTQIA+ também, criar novos espaços confortáveis para que mais pessoas entrem com dignidade porque, quando a gente olha para essas candidaturas, a gente vê muitas vezes a ausência de recursos. Não só financeiros – mas são principalmente eles também, e isso tudo é que ajuda a gente a ganhar ou não o jogo, a virar ou não o tabuleiro. E a gente precisa se impulsionar para que essa mudança aconteça esse ano, já que estamos falando de uma eleição que, na verdade, é uma eleição mais geral, a gente não fala tanto da municipalidade que eu ocupo, mas a gente sabe que os impactos gerados pelos resultados das eleições vão atingir a todos nós e mudar também o cenário das próximas eleições. Essa polarização vai haver e a gente vai precisar de muita segurança, de muita visibilidade também dos nossos fazeres políticos para que a gente tenha cada vez mais oportunidade de legitimar esses espaços como os nossos e conquistar ainda outros.

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‘Efeito Marielle’: mulheres negras entram na política por legado da vereadora

Assassinato de Marielle Franco despertou em mulheres jovens, negras e periféricas o desejo de ir à luta e manter o legado da vereadora através de candidaturas.

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Funkeiros viram alvo da polícia a pedido de deputado que rasgou placa de Marielle

Rodrigo Amorim (PSL-RJ) nunca foi investigado por destruir homenagem a vereadora assassinada, mas bastou um pedido dele para a Polícia Civil investigar MCs Cabelinho e Maneirinho por apologia ao crime.

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Três anos após assassinato, Marielle e seus símbolos seguem incomodando grupos da extrema direita

Fake news, memes e ataques com autoria de radicais ainda surgem nas redes sociais e tentam degradar a imagem de Marielle. “Como a memória dela não foi assassinada, eles tentam assassinar com esses símbolos”, diz pesquisadora.

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28
Dez21

Austeridade, volver!

Talis Andrade

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por Fernando Brito

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Lembram quando Chico Buarque sugeriu a criação do “Ministério do Vai dar Merda”, para prevenir, na administração pública, atos que, sem apelação possível, fossem ter consequências negativas diante da opinião pública?

Conviria que as Forças Armadas criassem um balcão assim, para evitar o desgaste que lhes traz a manchete da Folha de hoje: “Defesa gasta verba da Covid para comprar filé mignon e picanha, diz TCU“.

 

Certamente não foi numa reunião do Alto Comando do Exército que um dos 16 generais da cúpula falou alegremente: em comprar filé mignon e vinho com o dinheiro da Covid” e os outros 15 concordaram.

Isso acontece simplesmente porque faz alguns anos que espraiou-se a ideia de que a oficialidade brasileira merece privilégios em seus apetites e nem sempre só os alimentares.

Austeridade, quase sempre, foi uma marca da caserna. Mas quando a farda começa a ser vista como um trampolim para o exercício do poder, é inevitável que isso aconteça, porque o poder, sem causas, é apenas o exercício do fruir.

Não fosse assim, não teriam de ler o relatório do Tribunal de Contas dizer que “”não parece razoável alocar os escassos recursos públicos na compra de itens não essenciais, especialmente durante a crise sanitária, econômica e social pela qual o país está passando, decorrente da pandemia”.

A reação natural seria a de verificar quem autorizou isso e “premiá-lo” com, no mínimo, um afastamento do cargo.

Mas quando as instituições militares se entregam ao um corporativismo que deixa de lado as obrigações hierárquicas e disciplinares e desconsidera o impacto social de seus atos, correm o risco de de verem assim, vexadas, por um esparramo de poder que atinge toda a oficialidade que conserva hábitos e posturas diferentes.

Notas dizendo que a tropa militar agiu no enfrentamento da pandemia é até uma ofensa aos militares que se expuseram no enfrentamento ao coronavirus. A eles, ninguém deu camarão, picanha, filé ou vinhos caros.

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Ao som de funk misógino, Bolsonaro transforma preconceito em hino de guerra  - 27/12/2021 - UOL Universa

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21
Dez21

Jair, o terrivelmente idiota (vídeos)

Talis Andrade

Bolsonaro, de colete, dança funk em praia de SP

 

por Fernando Brito

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O que acham Silas Malafaia e o Bispo Edir Macedo da “dancinha da cadela” protagonizada pelo presidente da República?

Dar ração na tigela a mulheres, sejam de esquerda, centro ou direita está de acordo com colocar Deus acima de tudo?

Quem sabe se os nossos severíssimos pastores ele a faça com a multidão dando vivas ao “tem mais pelos que cadelas”?

E o senhor, ministro André Mendonça, lá na sua festinha de posse, mandou tocar este funk para o presidente dançar? Quem sabe o presidente a faça no Supremo, em lugar do culto que prometeu por seu intermédio?

Isso incomoda o senhor, general Villas Boas, atrapalha os seus tuítes? Braga Netto o chamará para fazer ante a tropa formada, apenas pedindo que, patrioticamente, leve a mão ao peito e não ao sovaco para falar dos pelos femininos?

E a ministra Damares, vai dar uma de “poderosa”, e rebolar ao som do “Bonde do Tigrãos”?

É da Marinha o barco do bailão marítimo?

Nada demais em que o presidente festeje – embora o mar não esteja para peixe no mundo real dos brasileiros.

Mas, mesmo como homem comum, essa atitude de quem perde todos limites como nas libações de um porre, e mandado publicar por um coronel de estimação, tão atento à hierarquia que se auto enomina “Tenente” apenas para prestar vassalagem ao “capitão” (que, na ativa, foi tenente, apenas).

Não, Bolsonaro não tem vergonha e faz e fará de tudo para manter consigo os grosseiros, todos os estúpidos, todos os desqualificados como ele. Com o perdão pela expressão, todos os escrotos.

Quanto a vocês, corromperam-se tanto com suas ambições que nem mesmo lhes vem à cabeça a frase que o povo atribui ao Cristo, o “diga-me com quem andas e eu te direi que és”.

Vocês o criaram e vão para a lama com ele.

 

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