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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

24
Ago22

Schwarcz: Bolsonaro receber coração de D. Pedro como dignitário é palhaçada

Talis Andrade

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Lilia Schwarcz é historiadora, antropóloga e escreveu livros sobre Dom Pedro e a Independência do Brasil. Ela participou do UOL Entrevista hoje e criticou a chegada do coração de Dom Pedro ao Brasil: "Cultura mórbida", disse. Schwarcz criticou o presidente Jair Bolsonaro (PL) por receber o órgão como se ele representasse um "dignatário" (indivíduo que exerce um cargo elevado ou goza de um título proeminente).

 

O que ninguém comenta é o quanto isso vai custar, porque o coração vem e volta. Quanto vai custar esse empréstimo? E queria perguntar o que significa isso.

Lilia Schwarcz, historiadora

 

"Agora a assessoria de imprensa do governo e o Ministério das Relações Exteriores dizem que é como se significasse a presença de Dom Pedro no Brasil. Não é nada disso. É um coração mantido em formol, e vai ser uma palhaçada Bolsonaro aguardar o coração como se fosse um dignatário [dignitário].

"E precisamos perguntar que noção de história é essa. Uma história parada no tempo, morta, detida em órgão falido do corpo de um imperador. E um imperador que começou muito popular, mas, no momento em que saiu do Brasil, era profundamente impopular", opinou Schwarcz.

Bolsonaro quer posar como Dom Pedro com atos de 7 de setembro, diz Lilia Schwarcz

 

Ao citar os atos programados para 7 de Setembro, a historiadora alertou que Bolsonaro "quer posar como Dom Pedro" nos gestos e atitudes.

"Ele quer se apresentar como Dom Pedro. De que maneira? Dom Pedro foi obrigado a dar golpe em seu pai, Dom João VI, para garantir a independência e a soberania do Brasil por um bem maior. O que fará Bolsonaro? A mesma coisa. Vai ter que dar golpe para garantir o verdadeiro destino do Brasil, que não será entregue aos comunistas, segundo a liturgia bolsonarista".

Dessa forma, segundo Schwarcz, o coração de Dom Pedro será utilizado para conturbar o ambiente eleitoral do Brasil.

"Bolsonaro tem três objetivos: ser reeleito, suavizar a atmosfera de crise econômica com a 'PEC Kamikaze' e quer se impor como líder para seus fiéis seguidores. Ele quer conturbar o cenário eleitoral. Ele fará muito discurso antidemocrático e falará mal do processo eleitoral. O objetivo é conturbar e, nesse sentido, ele vai conseguir", concluiu.

Manifestações de 7 de setembro serão alimento para apoiadores de Bolsonaro, diz Lilia Schwarcz

Para a antropóloga, na mesma data do ano passado o efeito simbólico acabou não sendo o esperado por parte do presidente Jair Bolsonaro, porque a imagem que acabou sendo referência foi a do tanque de guerra do exército brasileiro soltando fumaça, sem o impacto de demonstração de força que seria o esperado.

" A festa e o ritual eles não impedem o choro, eles fazem chorar. Qual é o objetivo? É formar uma comunidade de emoção, uma comunidade de sentidos, uma comunidade que comunga juntamente. Mas ela, para comungar, é preciso que ela seja muito perfeita na ritualística senão ela funciona, não encanta. Em 2021, a imagem que ficou foi daquele tanque soltando fumaça preta".

Parada militar da República das Bananas. Por Amarildo LimaDesfile Militar de Jair Bolsonaro Vira Meme Nas Redes Sociais

 

A especialista afirma que, desta vez, no entanto, Bolsonaro vai querer fazer diferente e construir uma data que cause mais impactos e tumultue o cenário eleitoral. Mas ela diz não ser possível ainda identificar se esses impactos terão algum tipo de efeito nas eleições.

"Eu penso que ele vai tentar caprichar na festa, vai tentar caprichar nos efeitos, na eficácia simbólica da festa-ritual. E vai conturbar o ambiente, esse é o objetivo! A gente tem que sempre pensar quais são os objetivos para saber se eles vão ser cumpridos, se esse for o objetivo, eu quero crer que ele terá grande sucesso. Se isso terá impacto nas eleições de outubro, já é outra conversa, mas que impacto terá e que isso é alimento para os fiéis seguidores do 'mito' eu penso que sim, será um grande alimento".

Em virtude das comemorações do bicentenário da independência, a Companhia na Educação promoverá a live “O mito do 7 de setembro: uma visão crítica do bicentenário” com Carlos Lima Jr., Lilia M. Schwarcz e Lúcia K. Stumpf, autores do livro "O sequestro da Independência" (2022).

Pelo caráter educativo e crítico da história brasileira, a intenção dos autores nessa conversa é compartilhar com educadores de todo o país uma visão processual e multifacetada – balizada na análise de diferentes fontes históricas, mas principalmente imagens – acerca da independência do Brasil, datada de 7 de setembro de 1822.

Não perca! Aproveite para compartilhar com estudantes, coordenadores pedagógicos e professores de História, Arte e Humanidades. Essa é mais uma oportunidade para potencializar os conhecimentos e análises interdisciplinares.

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27
Set21

Vírus carregado para dentro da ONU é mais uma coisa só nossa

Talis Andrade

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Plano engenhoso irá para os anais da história do terrorismo mundial

 
 
 

Um terrorista com grande imaginação não faria melhor. Que grande ideia, invadir a sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, pela porta da frente, cercado de atenções e com direito às louvaminhas reservadas a chefes de Estado.

E, uma vez por lá, depois de defender o tratamento precoce com drogas ineficazes contra a doença e de lamentar que outros países não o tenham adotado, soltar o vírus letal. Enquanto seu discurso provocava espanto e indignação, o mal se espalhava em silêncio.

Como todos, no plenário da Assembleia Geral da ONU, usavam máscara e haviam sido vacinados, não há notícia até aqui de contaminados. De resto, Deus é grande e zela pelos que se acautelam e respeitam as boas regras de convivência social.

O Brasil de Jair Messias Bolsonaro, vulgo O Mito, mostrou que os tanques da Marinha que soltaram fumaça na Praça dos Três Poderes, em Brasília, durante o enterro no Congresso do voto impresso, eram apenas uma manobra diversionista.

Assim também como o golpe do dia 7 de setembro, mero recurso de contrainformação. O golpe, mesmo, foi contra as Nações Unidas, de repente ameaçada pela Covid-19 de bolso, método Made in Brazil de guerra moderna que já está sendo estudado.

Destaque-se o primor de execução: o vírus estava na lapela do ministro da Saúde, aquele que deu o dedo para manifestantes, e não na lapela de qualquer outro membro da gigantesca comitiva do ilustre visitante, um apreciador de pizza comida em calçada.

Coisa de gênio!

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26
Ago21

CPI, corrupção fardada e o papel da imprensa

Talis Andrade

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por Álisson Coelho /ObjETHOS

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Desde 1979 o Brasil, enquanto nação, tem reafirmado uma decisão fundamental para entendermos o buraco em que nos metemos. Desde a Lei da Anistia temos renunciado coletivamente ao nosso direito de punir aqueles que representavam o Estado pelos muitos crimes cometidos pela ditadura militar (1964-1985). Acreditamos verdadeiramente que esquecer os nossos traumas era a melhor solução para recomeçarmos, algo que qualquer psicólogo diria que é uma péssima decisão. Não há como ler o Brasil de Bolsonaro sem ter esse ponto como premissa fundamental.

Vivemos os efeitos de traumas não superados, lembranças horríveis que vão se alterando até que tenhamos reescrito porcamente nossa história para, então, romantizarmos um período de barbárie. Dentre os muitos efeitos que essa decisão gerou na sociedade brasileira está um mito que começa a cair (ao menos um): o de que não há corrupção em governos militares.

O combate à corrupção foi uma das bandeiras do golpe de 1964 (parece familiar, não?). Demonstrações públicas de honestidade eram alardeadas pelos presidentes fardados, mas por trás das aparências, corruptores e representantes do governo aparelharam a roubalheira começando pelo jogo do bicho até as grandes obras governamentais, passando pelo crescimento vertiginoso das empreiteiras nacionais (ainda mais familiar). A Super tem um bom texto sobre o tema.

A corrupção no Ministério da Saúde veste farda

O monstrengo anticorrupção gestado no Brasil na última década, que de anticorrupção tem pouco, mas de conservador tem muito, aproveitou-se enormemente do mito da honestidade verde oliva. E foi assim que parimos um governo militar eleito pelo voto (em urnas eletrônicas, diga-se de passagem). Nos primeiros dois anos de governo da extrema-direita cada crise havia sido respondida com mais militares nos ministérios, e esses não são nem de longe o problema maior. Os escalões inferiores da máquina pública foram completamente ocupados por militares. São mais de 6 mil fardados ocupando cargos civis no governo Bolsonaro, em funções onde, de fato, as decisões cotidianas do governo são tomadas.

O que a CPI da Pandemia tem conseguido mostrar é que os militares não mudaram em nada desde que deixaram provisoriamente o poder. Ao ocupar a máquina pública tomaram para si os velhos esquemas operados por civis e inovaram, passaram a criar as suas próprias formas de roubar dinheiro público. A corrupção no Ministério da Saúde veste farda.

O que muda

Se os militares mudaram pouco desde o fim da ditadura, é certo que o cenário é bem diferente hoje daquele visto entre 1964 e 1985. E nesse contexto a imprensa tem um papel fundamental. CPIs são, via de regra, shows midiáticos, palanques eleitorais, picadeiros em que senadores, deputados ou vereadores se aproveitam do espaço midiático para garantir alguns votos. No entanto, no meio da cacofonia, do negacionismo e dos silêncios vistos em muitas sessões, as investigações apresentaram um desfile militar ainda mais deprimente do que aquele realizado pela esquadrilha terrestre da fumaça no último dia 10 de agosto.

São sargentos, tenentes, coronéis (muitos coronéis, chega a ser confuso) e até um cabo da PM de Minas Gerais implicados nos escândalos. Sob o comando do general da ativa Eduardo Pazuello, o homem que não entendia a pressa das pessoas por vacinas, militares das mais diferentes forças e patentes negociaram vacinas e propinas com a tranquilidade de quem vê milhares de pessoas morrendo todos os dias. Pensando bem faz sentido, considerando que matar não é exatamente um tabu para os militares.

Até aqui a imprensa tem cumprido um papel importante em amplificar as descobertas da comissão. Sem a censura, que os acobertou durante a ditadura, os militares veem seus crimes estampados no horário nobre. É necessário, no entanto, que o jornalismo aprofunde os indícios que têm sido apresentados. Mais do que jornalismo de investigação, é necessário um jornalismo investigativo que amplie as luzes sobre os desvios de conduta de civis e militares durante a condução das políticas públicas relacionadas à pandemia.

A organização e a reorganização da narrativa

Contar a história da pandemia no Brasil não é e não será tarefa das mais fáceis. Quando iniciada a CPI da Pandemia, a impressão é de que ela serviria apenas para organizar a narrativa dos descaminhos do governo Bolsonaro na (não) condução do combate à Covid. A linha a ser seguida era bastante clara: mostrar o absurdo do investimento no chamado tratamento precoce, a aposta bolsonarista na imunidade de rebanho por contágio, a incompetência na compra de vacinas, a falta de um comando nacional na condução das políticas sanitárias e o descaso mesclado com incompetência do governo na crise de oxigênio em Manaus.

Organizada essa narrativa, tendo ela toda documentada, a CPI já teria cumprido uma missão extremamente importante. Com o passar do tempo, no entanto, a CPI acabou podendo prometer mais. Os indícios de corrupção no governo tiveram duplo efeito. Se por um lado a sociedade passou a dedicar ainda mais atenção às investigações, por outro os senadores parecem ter ficado confusos com a profusão de linhas de investigação.

Essa confusão tem feito com que cada vez menos pessoas falem e acompanhem a CPI nas redes, algo fundamental para dar visibilidade aos trabalhos. É certo que as liminares do Supremo Tribunal Federal que garantem aos depoentes a prerrogativa do silêncio não ajudam, mas é preciso que os senadores que comandam os trabalhos encontrem uma linha de condução mais eficiente.

Chegado o estágio final dos trabalhos da comissão é preciso reorganizar a narrativa, tarefa que compete tanto aos senadores quanto à imprensa. Primeiro, retomando a lista acima dos descaminhos claros e conhecidos, mas que precisam ser documentados e organizados de forma clara para a sociedade. Em seguida, desmembrando os diferentes casos de corrupção, apresentando as provas recolhidas e apontando responsabilidades. A reorganização de todas essas narrativas é fundamental ante o risco cada vez maior de que a sociedade perceba a CPI como perda de tempo e de recursos públicos, algo que já tem sido orquestrado pelas redes bolsonaristas.

Reorganizadas as diferentes narrativas que nos trouxeram até a calamidade em que vivemos, a partir dos dados já disponíveis, a bola volta a ser do jornalismo. É preciso aprofundar as investigações, ir além da função de divulgador de investigações já realizadas. Há farto material já coletado, mas é certo que há muito mais por ser descoberto e essa é uma tarefa também do jornalismo, especialmente em um governo que aparelhou as instituições de investigação do Estado. E que dessa vez nós, enquanto nação, tenhamos a sabedoria de não escolher o esquecimento. Sabemos que os custos de optar por esse caminho são altos demais.

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26
Ago21

Nazistas, fascistas e tanques não impedirão a chegada da primavera

Talis Andrade

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por Abdael Ambruster

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O mundo assiste perplexo o que se passa no Brasil, mais de meio milhão de mortos pelo COVID-19, a fome que volta a assolar os lares dos brasileiros, o desemprego aumentando e, enquanto isso, a Republica é corroída pela ferrugem não só dos tanques que “desfilaram em Brasília, mas pela ferrugem do autoritarismo, incompetência, corrupção, negacionismo, fundamentalismo e, NAZISMO. Sim isso mesmo, o presidente da república não é mais um fascistóide, que faz do apito de cachorro um aceno para a sua turba ensandecida, é um admirador do nazismo já devidamente identificado graças aos esforços de uma mulher de coragem, Dra Adriana Dias professora da UNICAMP, que há décadas se dedicada a identificação e desmantelamento de células nazistas no Brasil.

Eis que o que há de pior da humanidade se faz presente na representação do mandatário da nação, uma pessoa com profundas ligações com o nazismo, não bastava ser homofóbico, preconceituoso, intolerante, misógino, sim, tinha que ser nazista.

Um pouco de história nunca é demais, não podemos esquecer que o Brasil tinha a segunda maior célula nazista fora da Alemanha nazista nos anos 30 do século passado, não podemos esquecer que o país tinha o partido Integralista com quase um milhão de filiados, uma cópia tupiniquim do fascismo de Mussolini, também nos anos 30 do século passado.

A semente do mal não desapareceu com a morte de Hitler e Mussolini, canalhas também envelhecem, aqueles jovens que faziam parte destes dois partidos do ódio no Brasil, se transformaram em “respeitáveis” senhores de “certa tradicional família brasileira” e o ódio foi passado de geração pra geração.

Importante ressaltar que a semente da nossa polícia e política de segurança pública, além de ter sido regada pelos 400 anos de política escravocrata com o racismo ainda hoje pulsante, também foi regada pelo esgoto do nazismo, Filinto Muller, chefe da polícia política de Getúlio Vargas foi pra Alemanha Nazista se encontrar com Heinrich Himmler, chefe da Gestapo e da SS para trazer ao Brasil, as dicas odiosas para que pudesse adotar em sua polícia política.

Jair Bolsonaro jamais disfarçou a sua admiração por Hitler, não foi a toa que Roberto Alvim, que foi receber unção na Igreja Bola de Neve em dezembro de 2019, e o seu ministro da cultura, decidiu fazer aquele famoso vídeo imitando o Goebbls, não é a toa que as células nazistas no Brasil aumentaram muito em comparação com os anos anteriores. Hoje, segundo Adriana Dias, a corajosa brasileira que desnudou a face nazista de Bolsonaro, já foram identificadas 530 células, sendo que em 2020 eram 441 e em 2018 eram apenas 89.

O que leva pastores, apóstolos e bispos de igrejas como Renascer, Bola de Neve, Universal, Igreja Mundial, Igreja Internacional e outras denominações, apoiarem um governo que nunca disfarçou o seu tom autoritário e preconceituoso? Será que não é a toa,  ai vamos a mais uma aula de história, que a maioria dos evangélicos na Alemanha apoiaram a ascensão do nazismo e, levaram a prisão e morte de outros evangélicos que se opunham a política de Adolf Hitler. Fica o alerta.

No dia de ontem, 10/08, quando tanques desfilaram sobre Brasília, não foi apenas em cima do asfalto que desfilaram suas enferrujadas esteiras, foi em cima da República, sobre as instituições, STF,  Congresso e nas próprias forças armadas e,  no luto de mais de meio milhão de famílias que perderam o seus entes queridos sob a égide de um governo fadado ao fracasso. Estas esteiras também passaram por cima  do luto de milhares de famílias vítimas de décadas de uma política militarizada e ultrapassada de segurança pública que vitimou corpos pobres, pretos, periféricos, femininos, LGBTQIA+ e originários da nossa nação.

Mas a República haverá de resistir ao assalto de fascistas, nazistas e fundamentalistas, o povo brasileiro e o Partido dos Trabalhadores resistirão firmes. Para tentar destruir o PT, arruinaram  o país, impitimaram uma mulher honesta, prenderam um homem inocente  e, levaram o país a uma era de trevas, fome e morte.

No entanto, o alvorecer da esperança está chegando, os tanques podem passar por cima de duas ou três flores, mas jamais impedirão a chegada do alvorecer da nova  primavera, os seus dias como presidente estão acabando Bolsonaro, os dias de terror que você, seus filhos e toda sua súcia impuseram a nação, ao meio ambiente e em razão disso, ao mundo de um modo geral, estão com os dias contados.

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25
Ago21

Que Forças Armadas queremos?

Talis Andrade

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por Cristina Serra

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Além de golpistas e vocacionados para o ridículo – como foi demonstrado no desfile de tanques fumacentos e no treinamento em Formosa (GO) – generais bolsonaristas são também rematados mentirosos. Braga Netto, ministro da Defesa, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria Geral da presidência, confirmaram isso mais uma vez em depoimentos na Câmara dos Deputados.

Ambos mentiram ao negar a ditadura instaurada em 1964. O primeiro disse que houve um “regime forte”. “Se houvesse ditadura, talvez muitas pessoas não estariam aqui”. Braga Netto não consegue articular um raciocínio sem que esteja embutida uma ameaça. É um golpista raíz. 

Ramos disse que houve um “regime militar de exceção, muito forte” e que tudo é uma questão “semântica”. 

A ditadura matou, torturou, escondeu corpos, estuprou, perseguiu opositores, cassou mandatos, fechou o Congresso. Negar que houve ditadura ofende a honra e a memória de quem lutou pela democracia, os que sobreviveram e os que foram assassinados. Isso não é “semântica” nem “narrativa”. São fatos. É verdade histórica.  

Completa o trio de mitômanos o general Augusto Heleno, da Segurança Institucional, pregoeiro do “papel moderador” das Forças Armadas em situação de crise entre os poderes, como disse em entrevista. Papel moderador é outra mentira que só existe nas mentes delirantes desses generais que exalam naftalina de seus ternos mal-ajambrados. 

O general disse ainda outra frase, mais preocupante, ao comentar o ferro-velho apresentado na Esplanada: “Para atuar na garantia da lei e da ordem é um material perfeitamente compatível”. Ou seja, o equipamento é para ser usado internamente, nas controversas GLOs, pois o inimigo está aqui dentro. Declarações como essa reafirmam a origem, tradição e síndrome de capataz do exército brasileiro. Mais de trinta anos depois do fim da ditadura, os fardados não encontraram seu lugar na democracia. Essa reflexão precisa ser feita pelo poder civil: que Forças Armadas queremos?

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18
Ago21

Militares: do autoritarismo ao ridículo

Talis Andrade

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por João Paulo Cunha /jornal Brasil de Fato
 
Durante muito tempo os militares arrogavam uma aprovação que nunca era bem explicada. Considerada uma instituição respeitada pela maioria da população, até mesmo porque escondia sua vocação autoritária sob a capa da seriedade e disciplina, atravessou décadas como uma espécie de reserva moral a ser acionada em momentos de crise.

A história mostrou a falácia desse mito. Os militares saíram dos quartéis sempre que foi necessário preservar interesses de classe, ainda que metidos em argumentos como a segurança nacional, o desenvolvimento mesmo sem povo, e o anticomunismo acima de tudo. Nesse jogo, mostraram sempre sua carranca violenta e antidemocrática.

Mesmo assim, as Forças Armadas mantinham intocada outra mitologia orgulhosa e contida, que fazia par com o autoritarismo escancarado: a competência profissional. Se fosse preciso, era só convocar os fardados de todas as patentes para consertar os estragos, tapar buracos e caiar calçadas. Além das tarefas militares, ostentavam um positivismo de raiz, meio engenheiro, meio estafeta.

Pau para toda obra, os militares seriam na vida prática o que os evangélicos parecem exibir no campo dos valores para a classe média: não querem ser como eles, mas reconhecem que são confiáveis e não criam caso. Ambos obedecem por DNA o comando superior, seja laico ou sagrado. A ética evangélico-militar era a consagração do estado de submissão, tão ao gosto de um estrato que gosta de ser servido.

Além da defesa do autoritarismo como remédio para desvios populares ou esquerdizantes e da eficiência como superação da ineficiência do funcionalismo civil até que a privatização nos liberte, os militares seriam ainda protegidos do risco da corrupção. Os mecanismos de controle, o peso da disciplina e o rigor das punições seriam salvaguardas contra o monstro. Militar corrupto já nasceria morto. 

É claro que o elemento mais ativo dos atributos da honestidade da corporação - a falta de transparência - não era evocado. Como as denúncias eram tratadas no interior da própria instituição, com leis e juízes próprios, além da censura absoluta, os desvios nunca se tornavam públicos. A corrupção dos militares era uma impossibilidade lógica, já que o ato de transgressão implica em seu conhecimento público.

Retorno do recalcado

Pois bem, Jair Bolsonaro, um mau militar de acordo com seus próprios superiores durante sua atribulada carreira, vem contribuindo para desonrar as Forças Armadas nesses três parâmetros. Afastado por insubordinação, reformado para não receber punição mais grave, sem qualquer histórico de contribuição para o Exército, o ex-capitão oferece um exemplo clássico do que Freud chamava de “retorno do recalcado”.

Simplificando, quando um sujeito tem seus desejos negados pela realidade, tende a recalcar a insatisfação, desenvolvendo sintomas neuróticos que afastem o risco de angústia e tristeza pela sua derrota na vida. Em outras palavras, para não assumir que tem defeitos, projeta sua infelicidade nos outros. O recalcado sofre porque é cheio de defeitos e porque o outro tem méritos que ele não tem.

O inconsciente, para onde vai o recalque, não perdoa. É aí que entra em cena o retorno do recalcado. Como o sujeito não dá conta de seu fracasso, ele transforma o que foi reprimido, distorcendo a realidade. O resultado pode vir nos atos falhos, nas fantasias de onipotência, numa variada gama de sintomas neuróticos, na busca incessante de inimigos. Ou tudo isso junto, como no caso de Jair Messias.

Bolsonaro retornou seu recalque ao Exército fazendo todo o possível para destruir seu maior objeto de identificação. Seu amor ao militarismo é uma forma de ódio mal resolvido. Por isso ele precisa humilhar superiores hierárquicos, chamar de “sua” a corporação, defender estratos menos valorizados dos contingentes armados e se cercar do pior para não parecer tão ruim.

Militares em baixa

Assim, o reformado-recalcado contribuiu para desmoralizar os militares e tirar deles o conceito, ainda que questionável, de portadores de valores positivos para grande parte da população e dos próprios conscritos. Nunca os militares estiveram tão em baixa na sociedade. Perderam os três pilares que sustentavam seu mito: a autoridade, a competência e a honestidade.

A autoridade foi maculada pela sucessiva troca de titulares de cargos de comando das forças. O presidente foi rebaixando os critérios de seleção e desagradando cada vez mais os setores que defendiam a autonomia militar. Além de estampar a divisão, o que para os militares é uma forma de indecência institucional, foi perfilando oficiais dispostos a tudo, inclusive a apequenar a função de órgão de Estado a mera correia de transmissão de governo.

A competência se desmanchou como o inchaço da máquina pública de detentores de patentes, da ativa e da reserva, sem qualquer impacto na qualidade dos serviços prestados. Para ficar num exemplo paradigmático, o general Eduardo Pazuello se tornou a expressão da inépcia militar. Cercado de militares por todos os lados, conseguiu interferir até mesmo na mais estruturada política pública do país, o SUS, com seu choque de ineficiência.

O general agravou a crise sanitária, não foi capaz de comandar uma política unificada de combate à pandemia e nem mesmo em sua especialidade, a logística, foi capaz de garantir oxigênio, vacinas e outros insumos a tempo de evitar mortes. Nem mesmo a simples operação de distribuir imunizantes foi realizada sem falhas patéticas como confundir Amazonas com Amapá. Para humilhar ainda mais sua origem, defendeu a obediência burra na internet e a bajulação ilegal numa aglomeração política de motociclistas decadentes.

CPI da Covid

Com relação à honestidade, a CPI da Covid no Senado está cumprindo o papel de exposição e investigação de algumas das maiores e mais detestáveis operações de corrupção da história do país. Roubo, antecedido e seguido de mortes. Centenas de milhares de mortes. Atravessadores, propinas, intermediários, fabricantes de vermífugos e outros remédios imprestáveis para a doença, falsos empresários, reverendos e outros personagens escrevem uma farsa macabra.

Se conectam teorias negacionistas, defesa da morte como estratégia de contenção do vírus por imunidade coletiva, descaso com fabricantes respeitados na comunidade internacional, contatos com empresas suspeitas de fraudes, incentivo à fabricação de medicamentos ineficazes, pedidos de propinas denunciados pessoalmente ao presidente. O enredo, que é sórdido, tem várias pegadas militares. De coronéis-assessores do Ministério da Saúde a soldados-vendedores, a corrupção tem sempre o pano verde da farda, disfarçado em ternos, rondando os negócios.

O retorno do recalcado foi um trabalho psicopatológico eficiente da parte do presidente. A autoridade do Exército, que seria demonstrada pela autonomia da instituição, se tornou autoritarismo tacanho exercido pelos mais fracos da caserna, dispostos a tudo para corresponder às demandas do desejo do chefe. Se durante a ditadura militar eram as próprias Forças Armadas que impunham seu desiderato, hoje seguem ordens de um subalterno alinhado com a mais rasa extrema direita. Uma espécie de militarismo do baixo clero.

Corrupção em larga escala

A competência das forças armadas, aparentemente capaz de interferir quando necessário em vários setores da administração pública e mesmo na área privada, se mostrou com incapacidade técnica desprezível, das grandes políticas às tarefas mais chinfrins. Os militares que enxameiam o poder civil deixaram às claras que o melhor mesmo seria voltar para os quartéis e deixar o trabalho dos adultos nas mãos de profissionais.

E, finalmente, a honestidade está revelando a contraface da corrupção em larga escala. Em todas as denúncias que vieram à tona envolvendo a pandemia, sempre escapa uma patente, das menos às mais estreladas. Nem mesmo as fatiotas civis escondem o avesso pressentido dos uniformes, do soldado de Alfenas ao general da ativa especializado em logística. Sem falar dos laboratórios militares e das indústrias químicas que entraram no Ministério Militarizado da Saúde pela porta da frente.

Mas Bolsonaro não aquieta o facho em matéria de humilhar quem o humilhou. Com o desfile patético de máquinas de repressão imprestáveis no Eixo Monumental de Brasília, desceram mais um nível: o ridículo. Se era para pôr pressão nos congressistas que votavam a volta do voto impresso, não funcionou. Se foi para mostrar poder de fogo, deu chabu. Haja recalque.
 
18
Ago21

Nove grandes erros que os militares brasileiros nunca reconheceram

Talis Andrade

 

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Está na hora de as Forças Armadas entenderem que não são tutoras da sociedade brasileira, a quem devem desculpas por erros graves que listo aqui.

15
Ago21

Fumaça dos blindados velhos da Marinha é a imagem da futilidade de Bolsonaro

Talis Andrade

Gilmar Fraga: a imagem do Brasil lá fora | GZH

 

As instituições estão cercando cada vez mais as pretensões autoritárias e farsescas do presidente e por isso o seu mau humor e desespero aumentam a cada dia

 

 

O recente desfile patético dos blindados velhos da Marinha lançando fumaça em Brasília foi objeto de uma série de memes e piadas nas redes sociais ao mesmo tempo em que causa preocupação no exterior. A verdade é que aquela fumaça se tornou a imagem da futilidade e da debilidade do presidente Jair Bolsonaro, que se vê como dono do Exército e tenta usá-lo para intimidar as instituições. Na realidade, era apenas fumaça que se desfaz. Uma banalidade política, um anúncio de futilidade e debilidade.

A fumaça costuma ser o prenúncio de fogo que devora. No entanto, o fumo exalado por tudo o que envolve o presidente brasileiro, insignificante e ruidoso, está mais para paranoia, alimentada por seus alucinados seguidores com o fumo exalado por seu espírito destrutivo. No final, aquela fumaça dos blindados velhos do Exército não poderá cegar a visão das instituições que com todos os seus defeitos e fragilidades são a garantia de que o Brasil não renunciou a seus valores democráticos que são o fundamento de uma vida pacífica vivida em liberdade.

Como escreveu o ministro Bruno Dantas, do TCU: “Os ataques à democracia podem ser barulhentos. Ao desfilar, podem parecer vistosos, mas não passam de fumaça: pode ser escura e amedrontadora, mas se dissipa na atmosfera cristalina dos ares democráticos. Blindado é o nosso regime de liberdades, blindados são os nossos valores democráticos, blindado é o nosso plexo de garantias fundamentais, blindado deve ser o nosso compromisso irrenunciável com a Constituição que juramos respeitar, cumprir e fazer cumprir”.

A paranoia do presidente brasileiro, que tenta comprar a cumplicidade do Exército em seus sonhos violentos, pode atemorizar porque a história nos faz recordar tempos sombrios e sangrentos. Porém, depois de analisar a banalidade de um presidente que não só é incapaz de governar, como também até de falar sem cumplicidade com a linguagem vulgar do submundo das latrinas, não é difícil imaginar o seu fim. Sobretudo em um país que ainda conta no mundo e onde as instituições não parecem dispostas a rir de suas provocações e, sim, defender a qualquer preço a democracia e a fidelidade à lei.

A repercussão que a pantomima das forças da Marinha desfilando em frente ao Congresso teve no exterior é, no entanto, o melhor sinal de que o Brasil preocupa e conta no mundo, e que as bravatas golpistas de Bolsonaro começam a preocupar. O Brasil não está sozinho e o personagem que o preside é visto antes como um arremedo de uma ópera cômica.

Resta saber se a loucura do personagem não passa de caricatura e extravagância de mau gosto ou se ele pode acabar não se conformando com a fumaça dos blindados militares e levar a sério seus instintos de morte e devastação. Melhor, então, que as instituições não esperem para ver o fim do drama e busquem a forma mais eficaz e democrática de frear a tempo o que poderia ser impossível amanhã porque sua loucura não tem volta. Loucura que já produziu milhares de vidas que poderiam ter sido salvas, que está fazendo desmoronar uma economia que já foi a quinta maior do mundo, que está envenenando a convivência e destruindo o santuário da Amazônia, uma das maiores glórias e orgulho do país.

É verdade que a votação na Câmara que derrotou as pretensões e obsessões de Bolsonaro pelo voto impresso nas urnas também revelou que hoje o déspota ainda tem apoiadores suficientes no Congresso para impedir um processo de impeachment contra ele. No entanto, a verdade é que as instituições estão cercando cada vez mais as pretensões autoritárias e farsescas do presidente e que por isso o seu mau humor e desespero aumentam a cada dia.

Como escreveu Maria Hermínia Tavares em sua coluna na Folha de S. Paulo, Bolsonaro o colecionador de derrotas: “Quem vê no impeachment a única alternativa para o desastre em curso talvez não perceba que a sociedade organizada e as instituições democráticas estão impondo limites ao candidato tirano”.

É a melhor prova de que as instituições democráticas decidiram armar um cerco às loucuras golpistas do capitão complexado que, além do mais, está manchando o prestígio que as Forças Armadas sempre tiveram, depois da ditadura, na sociedade civil. Prestígio que a fumaça dos tanques desfilando no coração político do Brasil pode acabar sujando.

15
Ago21

Tanques esfumaçados como metáfora dos militares na democracia

Talis Andrade

A festa dos internautas para o desfile de blindados | Lu Lacerda | iG

 

Para compreender a gravidade e o contexto dos velhos tanques no Planalto é necessário olhar com atenção para o papel das Forças Armadas após a Constituição de 1988

 

por PEDRO ABRAMOVAY /El País
 
 

No final do século XVIII, muitos autores achavam absurda a ideia de Forças Armadas permanentes em tempos de paz. Uma extensão do poder do soberano, sempre pronta a servir a instabilidades e opressões, o corpo militar permanente seria, em si, uma ameaça à construção de sociedades democráticas que começavam a surgir na Europa naquele período.

Uma crítica ácida a um corpo militar em tempo de paz foi a grande pensadora Mary Wollstonecraft. Uma das mais interessantes e argutas pensadoras da época —provavelmente de todos os tempos— só não é mais conhecida porque filósofas mulheres não eram levadas a sério no século XVIII. E porque Wollstonecraft desafiava pontos muito essenciais das sociedades ocidentais, como a separação entre a razão e sentimentos. Homens devem ser racionais, mulheres sentimentais. A grande mentira que obriga os homens a esconderem seus sentimentos como se fossem razão e mulheres a esconderem suas razões em forma de sentimentos.

E é nesse contexto que Mary Wollstonecraft analisa que Exércitos permanentes são o oposto de uma sociedade baseada na razão. Alternam entre a obediência cega e uma certa admiração por coqueterias. Botas engraxadas, desfiles, cabelos bem cortados. Futilidades que a sociedade ao longo dos séculos parecia admitir para homens apenas se fossem soldados.

É verdade que os tanques esfumaçados que ocuparam a Esplanada nesta terça-feira, 10 de agosto, estavam longe da tradição de pompas e vaidades militares. Mas era essa a inspiração, sabemos, de quem os desejou ali.

E o desfile, para além da cortina de fumaça, nos obriga a pensar sobre o papel das Forças Armadas em tempo de paz, como se pensava de forma mais livre sobre o tema há mais de 200 anos. Considerando que o Brasil não tem que defender seu território de invasores há mais de 150 anos e contou modestas participações nos conflitos globais nos últimos anos, faz-se necessário pensar: para que servem as Forças Armadas quando não estão lutando contra inimigos externos?

Não vou aqui pregar uma solução costarriquense. O pequeno país da América Central aboliu suas Forças Armadas há mais de sete décadas e desde então tornou-se a mais sólida e próspera democracia da região.

Mas não se pode fingir que não é um problema mal resolvido para o Brasil o pensamento sobre o papel de suas Forças Armadas em tempo de paz. Paz aqui compreendida como a ausência de guerra contra outro país.

Na nossa jovem e instável república, as Forças jogaram sem dúvida um um papel mais desestabilizador e antidemocrático do que o contrário. Sua participação em deposições tentadas e consumadas de presidentes e na repressão à cidadania são marcas indeléveis de sua história. Mas para compreender a gravidade e o contexto dos velhos tanques no Planalto é necessário olhar com atenção para o papel delas após a Constituição de 1988.

Para fazer isso, nada melhor do que ler o indispensável livro da jornalista Natalia Viana, Dano Colateral - a Intervenção dos militares na segurança pública. Natalia faz uma arqueologia da volta dos militares ao poder no pós-88. A primeira novidade é que a jornalista situa, bem mais do que na transição acovardada de 1979, na própria negociação sobre o texto da Constituição a origem da presença bastante desastrada das Forças Armadas nos últimos anos da Nova República.

A inclusão, por pressão principalmente do então Ministro do Exército, da possibilidade de atuação das Forças Armadas em caso de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) mantinha a ideia de um duplo papel das Forças: inimigos externos e perturbadores da ordem interna.

No fundo, a definição de um papel interno resolve um problema de identidade para uma organização que mobiliza tantos recursos e fica, em tempos de paz, sem função clara. Mas cria uma série de outros, como prova o Brasil das últimas décadas.

Em seu livro, Natalia mostra como as Forças foram utilizando as operações de GLO ao longo dos governos da Nova República para ir conquistando relevância política. E, durante o Governo Lula, aparece também a presença no Haiti como outro elemento fundamental de construção de um papel público.

Acontece que, tanto a presença em GLOs quanto o papel no Haiti são marcados essencialmente por uma lógica mais militar do que democrática em sua atuação. A lógica democrática é a de reavaliação constante de erros e acertos. Seja pela imprensa, pela sociedade civil ou pelas eleições, os atores políticos estão constantemente submetidos ao escrutínio público e é esse julgamento público que faz com que as instituições possam aprender com seus erros e produzir futuros melhores.

A lógica militar é a lógica da hierarquia. Como bem disse Wollstonecraft, da obediência cega e da vaidade extrema. Não admite nunca estar errada. A honra militar se ofende ao ser criticada. A ética da democracia é justamente a de reconhecer a falibilidade dos líderes.

participação dos militares na política brasileira é trágica. Foi trágica durante a ditadura (tanto no que diz respeito ao país que entregou nos anos 1980 quanto na violência e repressão empregada) e foi trágica no pós-1988.

Danos Colaterais reconstrói essa última tragédia. Mostra que a atuação das Forças por GLO, que se acelera ao longo das gestões Dilma Rousseff (2011-2016) e culmina na intervenção militar no Rio de Janeiro, constitui numa coleção de fracassos, marcados pela impunidade absoluta no caso de mortes de civis (chamados de danos colaterais), opacidade de gastos e de avaliações de resultados.

No mesmo sentido vai a atuação no Haiti: extremamente criticada pela sociedade civil local, é tratada como êxito absoluto pelas Forças, incapazes de uma avaliação crítica dos processos.

Esses fracassos claramente subiram à cabeça da geração de generais que estiveram no centro dessas experiências. Comandantes no Haiti, na intervenção fluminense e de GLOs assumem postos-chave no Governo do capitão que tinha por ídolo não os ditadores de 64-85, mas seus porões sangrentos. Reconciliando a geração da inépcia de gestão com o que houve de pior na ditadura.

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O Governo Bolsonaro militarizado é consequência dessa malfadada experiência dos militares com a democracia. Incapazes de se olhar no espelho a não ser para admirar suas fardas, tanques ou caças e submarinos comprados em governos comandados por civis. Incapazes de aprender com os erros, pois reconhecê-los vai contra a honra militar, esse grupo de militares entra no Governo ocupando os espaços civis no meio de uma pandemia. E, mais uma vez, agem com a esperada arrogância incompetente com a qual têm atuado quando chamados a assuntos que, evidentemente, não deveriam competir a militares.

Os tanques esfumaçados que ocuparam a Esplanada não poderiam ser melhor metáfora do desconforto dos militares brasileiros com a democracia.Um teatro que ocorre no dia da votação do voto impresso na Câmara dos Deputados após reiteradas declarações de líderes militares e do presidente da República ameaçando o processo eleitoral. Seria patético, como são os desfiles militares, já nos alertava Wollstonecraft. Mas os danos colaterais à nossa democracia já são sérios demais para que possa ser tratado como mero exercício da vaidade masculina.

14
Ago21

Micareta militar virou vexame internacional

Talis Andrade

 

por Altamiro Borges

- - -


O patético desfile de tanques e blindados desta terça-feira (10) não conseguiu intimidar a Câmara Federal – que rejeitou o projeto diversionista do voto impresso –, mas serviu para desmoralizar ainda mais o “capetão” Jair Bolsonaro e os servis generais das Forças Armadas. No mundo inteiro, a “micareta militar” – como já foi batizada na internet – virou chacota. 

O renomado jornal britânico The Guardian foi um dos mais ácidos nas críticas. Tratou o triste episódio como uma “parada militar de república das bananas”. Ele ainda ridicularizou aliados do presidente, como o grotesco deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), que celebrou o ato com fotos de desfile militar na China, o que aumentou “a sensação de absurdo” do caso. 

The Guardian concluiu esculhambando o neofascista tupiniquim. “A parada militar também vem acompanhada de uma sucessão de pronunciamentos incendiários e antidemocráticos do líder brasileiro. Um capitão aposentado do Exército com visão autoritária que afirma que não haverá eleições caso suas propostas não sejam aprovadas”. 

Temor de um "cenário a la Trump"

Já o diário francês Le Monde afirmou que "Bolsonaro faz exército desfilar a poucos passos do Congresso, em meio a uma crise com as instituições brasileiras”. Após apontar que “pesquisas preveem uma grande derrota [em 2022] contra o ex-presidente Lula” e que há um temor no Brasil de um “cenário a la Trump”, o jornal afirmou que a democracia corre risco. 

Já o Financial Times destacou que o “desfile militar é ‘ataque à democracia’”, informando que “nove partidos de esquerda” rechaçaram a tentativa de intimidação do presidente fascista. E a revista alemã Der Spiegel registrou que “Bolsonaro provoca congressistas com desfile militar" e fustigou: “Pela primeira vez desde a ditadura, tanques rodam pela capital brasileira passando por parlamentares que votam reforma eleitoral”. 

Já o jornal estadunidense The New York Times, um dos mais lidos do planeta, não produziu reportagem ou editorial sobre o ridículo desfile, mas divulgou apenas uma charge que mostra Jair Bolsonaro em cima de um tanque com a palavra “ditadura” ao lado. O canhão do blindado vem no formato de uma urna para voto impresso. 

Diplomatas estrangeiros temem o pior

Diante da forte repercussão negativa da “micareta”, vários governos estrangeiros reforçaram seus temores com o Brasil, segundo levantamento do jornalista Jamil Chade no site UOL. “Nos organismos internacionais, capitais europeias, nos EUA e mesmo em vizinhos do Brasil, a atitude do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de questionar a eleição e recorrer de forma constante aos militares tem sido recebida com ‘preocupação’”. 

“Se o assunto é considerado como um tema doméstico do país, a instabilidade de uma eventual ruptura democrática no país já passou a entrar no radar de governos estrangeiros e a tendência é de um maior isolamento do presidente no palco internacional, caso mantenha essas atitudes”. Segundo o jornalista, a notícia sobre o desfile militar em Brasília “mobilizou as diplomacias estrangeiras, que informaram suas capitais sobre a ‘crescente tensão’ no país”. 

A reportagem ainda alerta sobre o acelerado isolamento do Brasil no cenário mundial. “Na Europa, deputados apontam que as imagens de tanques num desfile em Brasília vão tornar a ratificação do acordo entre Mercosul e UE uma realidade ainda mais distante. ‘Quem é que vai conseguir vender a ideia de que estamos fechando uma aliança com um governo que respeita os valores democráticos?’, questiona um dos parlamentares, na condição de anonimato”.
 
 

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