O cronista e compositor Antônio Maria nasceu em 17 de março de 1921. Faleceu em 15 de outubro de1964. Ele foi, é um homem que todos deveriam ter como um companheiro de jornada e de leitura permanente. Não fosse ele o compositor de canções eternas como Frevo número 1:
ou a linda Manhã de Carnaval:
e tantas outras. Não fosse ele o autor de um grito de amor, “nunca mais vou fazer o que o meu coração pedir, nunca mais ouvir o que o meu coração mandar”
Não fosse tal beleza, as suas crônicas deveriam ser lidas todos os dias, como uma lição e dever para educar sensibilidades. Suas crônicas, quase digo, suas mãos, misturavam humor, crueldade e lirismo, a depender dos dias e da vida, que não eram iguais, para ele ou para ninguém. Como neste perfil arguto da cantora Aracy de Almeida:
“Não é bonita, sabe disso e não luta contra isso. Não usa, no rosto, baton, rouge ou qualquer coisa, que não seja água e sabão. Ultimamente corta o cabelo de um jeito que a torna muito parecida com Castro Alves… Faz de cada música um caso pessoal e entrega-se às canções do seu repertório como quem se dá um destino. Não sabe chorar e não se lembra de quando chorou pela última vez. Mas a quota de amargura que traz no coração, extravasa nos versos tristes de Noel: ‘Quem é que já sofreu mais do que eu?/ Quem é que já me viu chorar?/ Sofrer foi o prazer que Deus me deu’… e vai por aí, sem saber para onde, ao frio da noite, na espera de cada sol, quando o sono chega, dá-lhe a mão e a leva para casa”.
Ou aqui, dias antes de morrer:
“Há poucos minutos, em meu quarto, na mais completa escuridão, a carência era tanta que tive de escolher entre morrer e escrever estas coisas. Qualquer das escolhas seria desprezível. Preferi esta (escrever), uma opção igualmente piegas, igualmente pífia e sentimental, menos espalhafatosa, porém. A morte, mesmo em combate, é burlesca…
Só há uma vantagem na solidão: poder ir ao banheiro com a porta aberta. Mas isto é muito pouco, para quem não tem sequer a coragem de abrir a camisa e mostrar a ferida”.
Ou então nestas considerações que ele escreveu sobre o sono:
“Ah, que intensos ciúmes, no passado e no futuro, sobre a nudez da amada que dorme! Só você a viu, só você a verá assim tão bela!
Nas mulheres que dormem vestidas há sempre, por menor que seja, um sentimento de desconfiança.
A amada tem sob os cílios a sombra suave das nuvens. Seu sossego é o de quem vai ser flor, após o último vício e a última esperança.
Um homem e uma mulher jamais deveriam dormir ao mesmo tempo, embora invariavelmente juntos, para que não perdessem, um no outro, o primeiro carinho de que desperta.
Mas, já que é isso impossível, que ao menos chova, a noite inteira, sobre os telhados dos amantes.“
E finalmente aqui, ao lembrar o carnaval na sua infância:
“Muitas vezes, de madrugada, o menino acordava com o clarim e as vozes de um bloco. Eles estavam voltando. O canto que eles entoavam se chamava ‘de regresso’. Não sei de lembrança que me comova tão profundamente. Não sei de vontade igual a esta que estou sentindo, de ser o menino que acordava de madrugada, com as vozes de metais e as vozes humanas daquele Carnaval liricamente subversivo”.
O carnaval da infância de Antônio Maria e nossa, inesquecível.
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Nota deste correspondente: Estava no Diário de Pernambuco, de noite, quando o chefe de reportagem Edmundo Morais ordenou: - Vá entrevistar meu primo Antônio Maria.
Eu já era conhecido da portaria do Grande Hotel. Telefonei para o apartamento dele: - Estou descendo. Quando a porta do elevador abriu: a beleza deslumbrante de Danuza Leão, e a incontida felicidade de Antônio Maria.
Para o jovem repórter dois desconhecidos. Certo que admirava Antônio Maria, pela conquista da esposa do patrão, o todo poderoso Samuel Wainer, dono do jornal Última Hora.
- Onde tem um bar aberto, perguntou.
Noutro dia me deparei com a raiva de Edmundo: - Fiquei lhe esperando até a madrugada.
Respondi: Antônio Maria pediu para você ligar para ele.
Antônio Maria me nomeu entrevistador exclusivo no Recife.
No Rio, em 1964, procurei Antônio Maria. Não me lembro qual jornalista me disse: Ele está numa correria suicida pelos bares.
Aconteceu de me deparar com ele na madrugada de Copacabana. Não tive a coragem de me aproximar, de falar. Estava de paletó e gravata, a farda dos jornalistas na época, mas sua aparência era de desleixo, de sujeira, de tristeza, de bêbado.
Os jornalistas culpavam Danuza. Todos jornalistas eram machistas.
Retirantes da pobreza, da fome, do desemprego, o exilado brasileiro, a exilada brasileira tiveram de escolher: na ditadura militar, a ponta da praia na terra natal ou a esquina da rua nas capitais dos Estados Unidos e Europa.
O racismo nos Estados Unidos, a xenofobia das ditaduras nos países da Europa, e a extrema direita no mundo hodierno facilitaram a pecha infame: brasileiro, brasileira, inclusive em alguns dicionários, sinônimos de gay, de prostituta.
O presidente gigolô, do lema nazi=fascista "deus, pátria e família", para propagar a má fama, o turismo sexual, convidou: "Quem quiser vir fazer sexo com mulher, fique à vontade", disse Jair Bolsonaro.
Os estrangeiros jamais celebraram o carnaval brasileiro como uma diversão inocente, colorida, de serpentinas, confetes, da alegria nas ruas, dos blocos de papangus, a festiva brincadeira, pela participação de crianças, pela música, pela dança do samba, pelos passos do frevo.
Este ano o carnaval vai propagar o escândalo da orgia. Escrevem Taís Codesco, Luana Reis e Giovanna Durães:
Mamilos à mostra no carnaval: com política contra assédio, mulheres se sentem mais livres na folia do Rio.
Depois de dois anos de privação, nos blocos de 2023 só se fala em uma coisa: liberdade. Em meio às fantasias elaboradas , apenas uma hot pant e um tapa-mamilo, que estão em alta entre as mulheres, foram capazes de expressar a alegria desse momento. Não se sabe ao certo quando o adereço tomou conta dos cortejos, mas se tornou uma verdadeira tendência. Os acessórios lembram aqueles usados pelas dançarinas em espetáculos burlescos nos séculos XIX. Se antes remetia a sensualidade feminina, hoje foi ressignificado como um símbolo de autonomia do próprio corpo.
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É a primeira vez que Luciana Abud, 35 anos, de São Paulo, está saindo de casa para pular carnaval usando somente um pequeno pedaço de fita colante nos seios, a hot pant, uma peça que há vários carnavais virou hit. Ela conta que, a princípio, se sentiu insegura, e até levou uma blusa, mas depois o sentimento de liberdade foi tomando conta. O seu maior medo era o assédio, mas Luciana se surpreendeu com o respeito das pessoas nos espaços.
— Está sendo uma experiência muito legal. Todo mundo olha, isso é inevitável, até mesmo mulheres. Mas não me incomoda. Sinto que isso gera uma curiosidade — conta.
Sua amiga, Lorena Ribeiro, advogada de 28 anos e também de São Paulo, aderiu a um visual parecido, com uma blusa de renda transparente e sem nenhuma outra peça tapando os mamilos.
— É óbvio que os caras olham, mas eu acho que há 10 anos seria muito pior. Eu sinto que a gente venceu, mesmo que um pouquinho, mas só de conseguir andar pela orla sem ser importunado já é uma vitória. Isso para mim também é uma evolução pessoal, tanto mulher quanto como feminista, considero até mesmo uma licença poética — diz Lorena. Elas concordam que o visual é mais confortável, ainda mais em meio ao calor e à multidão dos blocos.
O Brasil devia realizar programas para eliminar a má dos brasileiros e brasileiras no exterior. O Governo Brasileiro precisa promover campanhas contra a xenofobia, o racismo, tormento dos exilados brasileiros nos Estados Unidos e países europeus, notadamente Portugal. Criar políticas que evitem o tráfico humano, a propaganda sexual, inclusive a permanência de sites pornôs 'verde e amarelo', as cores de uso exclusivo das prostitutas na Roma Antiga.
Publica a revista 'Veja':
O mistério sobre a assinatura de Carta Zambelli em site pornô
Suposto extrato do "Brasileirinhas" em nome da deputada circula pelas redes sociais
Desde a manhã desta quarta-feira, 22, circula pelas redes sociais um suposto extrato de débito, atribuído à deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), referente à assinatura mensal do site pornô Brasileirinhas. No recibo, não aparece o nome da parlamentar, apenas uma montagem com sua foto. O assunto tornou-se um dos mais comentados do Twitter. Desde que recuperou acesso às redes sociais, a parlamentar tem se manifestado sobre vários temas, mas ainda não tocou no caso Brasileirinhas, apesar das insistentes cobranças dos internautas.
Procurada pela reportagem de VEJA, a parlamentar não respondeu aos pedidos para confirmar ou não a informação. O diretor do Brasileirinhas, Clayton Nunes da Silva, em contato com a revista, afirmou que precisaria ter acesso aos dados pessoais da parlamentar para confirmar ou não se a assinatura realmente foi feita por ela. Ou seja, o mistério permanece.
Este proxeneta Clayton Nunes da Silva devia ser processado por usar o nome de "Brasileirinhas" em site pornô. Não é de estranhar tal absurdo, esse crime contra a imagem do Brasil, contra a mulher brasileira, que Paulo Guedes, que era super ministro da Economia de Bolsonaro, criou sites de relacionamentos, segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo. De acordo com o texto, Guedes é dono, ao lado do irmão, da empresa Nol Web Services, que se propõe a encontrar “soluções para solteiros que procuram um relacionamento sério”. O grupo Nol atua em inúmeras frentes, mantendo diversas marcas na área amorosa. “O Romance Cristão” é um site de relacionamento para evangélicos e “Nunca é Tarde para Amar” dedica-se à terceira idade. Já o “Namor o Online” é a versão mais liberal. Ao inscrever-se, o usuário pode dizer se tem interesse em amizade, namoro, sexo casual, casamento ou apenas em “ficar”. Há opções para heterossexuais e homossexuais.
O frevo, que antes se tocava todos os dias nas rádios do Recife, hoje tem apenas 2 dias, além do tempo de carnaval: 9 de fevereiro e 14 de setembro. Em 09/02, comemora-se o dia em que apareceu no Jornal Pequeno, de 9 de fevereiro de 1907. Em 14/09, faz-se uma homenagem ao jornalista Oswaldo Oliveira, nascido em 14 de setembro de 1882, que teria batizado a palavra frevo. O certo é que a dança, o ritmo, a manifestação musical surgiu no século dezenove, bem antes que os intelectuais e jornalistas achassem digno de registro o seu nome. Mas não é sempre assim? O povo cria, e os dicionários e eruditos depois querem ter o domínio.
O texto a seguir é uma adaptação do verbete Frevo no Dicionário Amoroso do Recife. Ele será lido na noite desta sexta-feira, entre 22 e 23 horas, por Marcelo Araújo na Rádio Jornal do Recifehttps://radiojornal.ne10.uol.com.br/ao-vivo.
Ao texto para o rádio.
No Aeroporto dos Guararapes, ou Gilberto Freyre, pode ser vista uma reprodução do quadro Frevo, de Lula Cardoso Ayres. Ele bem que podia ser uma primeira aproximação do frevo dançado em Pernambuco. Ele é imagem precisa e preciosa de um tempo do frevo ao ser dançado nas ruas, numa dança que os pernambucanos chamam de “fazer o passo”, e haja passos, saltos, acrobacias, explosão de energia humana. Dizemos explosão e, para quem não viu nem conhece, esclarecemos que isso não é bem uma metáfora. No reino animal, o fenômeno que mais lembra o passo da gente, quando os metais de sopro jogam no calor, para o azul do céu o frevo Vassourinhas, no reino animal o que mais lembra o passo coletivo é um estouro de boiada.
A poeira sobe. Os gritos de libertação se gritam com força. É uma felicidade, um desassossego e um sufoco. Quando Vassourinhas é anunciado como se deviam anunciar os batalhões na guerra, e quando por fim, num surto, Vassourinhas avança, sobe uma nuvem de violência no ar. É uma forma de ser de Pernambuco, desde a bebida, a grossa aguardente, aos pratos da gastronomia, que mais se devia chamar de gastro-violência. Nada de mais ou menos. É preto negríssimo, ou é branco de incandescer. Ou estás vivo, ou estás morto.
O frevo de rua, que vem encantado em instrumentos de sopro, de metais, e mais está para sangue coagulado de porco, que melhorado com suas vísceras chamamos de sarapatel, o frevo de rua ainda guarda elementos de música de guerra. Nelson Ferreira, que era maestro supremo do gênero, dava uma lição bem prática: “Peguem o Hino Nacional. Toquem rápido, mais rápido… isso já é frevo”. E de rua, ele foi para o frevo-canção, que se espraiou para o frevo de bloco, com um andamento mais leve, suave, mais família e menos raivoso, digamos assim.
“Por que o frevo não se renova?”, me perguntou uma vez o amigo Joaquim Ancilon no Pátio de São Pedro, enquanto ouvíamos frevos de bloco. Joaquim era um professor, um homem honesto, mas nem por isso imune a perguntas de provocação. E em que momento oportuno ele fez a pergunta! Porque lá no palco a senhora Lilia, ex-presa política, cantava:
“Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon, Cadê teus blocos famosos? Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôis-Fum, Dos carnavais saudosos?
Na alta madrugada
O coro entoava Do bloco a marcha-regresso Que era o sucesso Dos tempos ideais Do velho Raul Morais: ‘Adeus, adeus, ó minha gente, que já cantamos bastante…’ E Recife adormecia Ficava a sonhar Ao som da triste melodia… “
Não sei se foi o calor do uísque ou da raiva diante da pergunta, não sei se foi a lembrança da fase de ouro do frevo, com Nelson Ferreira, Capiba, Levino Ferreira, Edgard Moraes, João Santiago; não sei se foi a recordação do que um dia escrevemos sobre o gênio de Nelson Ferreira, quando dissemos que esses compositores de frevo de Pernambuco tinham o dom de falar do sentimento da gente com uma voz que atravessava a parede de uma sala vizinha. Queremos dizer, dissemos, não somos nós que falamos, mas esses compositores se referem ao que sentimos com tamanha intimidade que são essa maravilha ainda não descoberta: um parente, amigo, da infância, com quem não brigamos que tem crescido em nosso afeto, nutrido no tempo incessante… não sei. Mas deve ter sido uma mistura de tudo isso, porque à pergunta:
— Por que o frevo não se renova?
Respondi com outra:
— Por que Dante não se renova?
Por que um clássico não se renova? Por que não temos mais A Divina Comédia? Por quê? As obras seminais, que fundam o nosso ser, não se renovam, não se encontram no mercado, não estão à venda. Estão para sempre, para a nossa reconstrução. A sua modernidade é a sua infindável permanência. A sua renovação é o seu dom de ser insubstituível. Ora. Mas ainda assim, ficamos matutando. Ficou um travo de coisa ruim, de coisa que não está resolvida, na garganta, no peito. Está certo, viemos pensando, está certo, Nelson Ferreira hoje é impossível, ninguém mais, nunca mais será Nelson Ferreira, o grau de excelência que ele alcançou não se faz mais. Certo. Mas por que o frevo tem que ser somente à maneira e feição de Capiba, Nelson e Levino? Ora, se Dante não se renova, a poesia continua e continuará em outras faces que não a de Dante. Sim, e por que não, como não? É impossível hoje algo como a Evocação número 1, é certo. É absolutamente improvável, absurdo, que se faça de novo Último Dia, de Levino Ferreira.
O frevo se renovou? Mas o que é mesmo renovar? — Certamente, não é repetir. Certo. Será algo então jamais visto, tão novo quanto seria um extraterrestre para o nosso convívio? E se assim for, como dizer que essa coisa jamais vista ainda é do mesmo gênero, do frevo? Ora. Então esse renovar deve com mais certeza aliar, resolver a tradição no presente. Há caminhos ainda não percorridos, a partir mesmo da tradição. Como pode ser visto com a orquestra Spok em suas apresentações.
Olhem de novo, incrédulos. Que me dizem, ó insensatos? O ET não precisa ser a negação do humano. Spok vai no caminho das estrelas, na jornada das estrelas. Aquelas antecipações de Felinho ao executar Vassourinhas antes de 1950 agora são retomadas pela orquestra de Spok, ao improvisar com liberdade sobre a base da história do gênero, livre com liberdade, que sem ela nada se cria nem se transforma. Dele disse o maestro e compositor Clóvis Pereira: “A Spok Frevo, afinadíssima e conduzida por Spok, é uma orquestra formada por jovens de irrecusável talento musical e nos mostram que o frevo está mais vivo do que nunca, evoluindo cada vez mais até o alvorecer do novo século. Quem viver verá!”. Que dizer, então, em outro ponto, de J. Michiles, autor de muitos sucessos na voz de Alceu Valença? Me segura senão eu caio, Diabo Louro, Roda e Avisa. Que dizer do Maestro Forró, da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério? Que dizer da ação civilizadora de Antonio Nóbrega, que dança, toca, canta e distribui o gênio do frevo em todo o mundo? Como veem, o mundo continua, a vida segue, apesar da saudade que dá na gente de Nelson Ferreira em todos os carnavais.
Nem sequer sonhávamos com algo assim, a renovação criadora, que pula da estagnação. O frevo venceu. Todos podemos afinal dizer que o frevo venceu desde 9 de fevereiro de 1907. Toca, maestro Spok!
Democracia, passinho, Constituição de 1988, forró, demarcação de terras indígenas, frevo, racismo e maracatu. Um espetáculo de circo, um mergulho (auto)reflexivo, uma sopa de Brasil. Tudo isso está no palco do espetáculo bilíngue de circo "23 fragments de ces derniers jours" (23 fragmentos dos últimos dias), em cartaz em Paris até 18 de fevereiro, no Teatro Silvia Monfort.
Idealizado pela "circógrafa" francesa Maroussia Diaz Verbèke e pelo coletivo Instrumento de Ver, de Brasília, o espetáculo incita a refletir sobre o momento histórico atual no Brasil.
Maroussia contou àRFIsobre o processo de criação.
"O processo se deu em duas partes. A primeira, no Brasil, quando o coletivo Instrumento de Ver, de três mulheres artistas, me convidou para um festival de circo que elas organizam. Em seguida, a gente começou a trabalhar juntas com a pesquisa que elas já desenvolviam sobre objetos, e a nossa relação artística funcionou muito bem", explica.
Mas a situação política e artística no Brasil começou a se deteriorar muito, relembra, e ela então propôs continuar o trabalho na França, por meio de residências artísticas.
Destruição e fragmentos
"Eu cheguei ao Brasil no final de 2018. Foi um momento difícil para o país. Logo começou o governo de Bolsonaro e eu acompanhei o momento que, pelo menos no aspecto cultural, foi uma destruição", conta.
"Então, a gente trabalhou, nesse início, com essa ideia de destruição, de fragmento, do tempo quebrado... É por isso que no espetáculo tem uma forte pulsação, necessária para enfrentar a situação que estávamos vivendo, porque a gente fez (um trabalho de) resistência lá no Brasil."
"A segunda parte do projeto foi desenvolvida na França, com a minha companhia, que se chama 'Le troisième cirque' (O Terceiro Circo), e eu convidei três artistas masculinos dançarinos, porque antes mesmo de conhecer o coletivo, eu já tinha um amor pelo Brasil, para onde já fui várias vezes e tive a chance de descobrir um pouco da cultura, do Carnaval e das danças brasileiras".
A circógrafa - palavra de vem de "circografia", neologismo que ela mesma criou para definir a escritura e a realização de um espetáculo de circo - tenta explicar em palavras o seu arrebatamento pelo Brasil, sua cultura e o Carnaval.
"É difícil explicar um amor. A gente ama antes de saber o porquê. Eu acho que as culturas francesa e brasileira são muito complementares. E eu encontrei no Brasil uma coisa que me faltava na França, que tem a ver com o prazer de viver, o prazer de estar juntos", sublinha a circógrafa francesa.
O carnaval é também um ponto de virada na trajetória do contorcionista e dançarino Lucas Cabral Maciel. Ele explica o poder do Carnaval sobre os corpos e como trouxe isso para o espetáculo.
"Tem um momento no espetáculo em que a gente relata como o meu primeiro encontro com o Carnaval teve um efeito muito forte em mim. O Carnaval de Recife, em particular, com a força da música e do frevo e como aquilo realmente tirou uma trava que estava estabelecida há muito tempo em mim de não poder dançar, eu não me permitia. E foi o Carnaval que me permitiu, poiso Carnaval é a festa em que tudo pode, onde você pode ser, em teoria, pelo menos na fantasia, o que você quiser", reflete Lucas, que tem raízes pernambucanas, mas cresceu entre Salvador e Maceió.
E eu acho muito importante que a gente entenda que Carnaval não é evento. Carnaval é significado. Carnaval é momento, é todo um sentido para quem vive, é uma maneira de afirmar a existência. Então, quando você vive isso e coloca os pés lá, é muito poderoso. E a gente tem de trazer um pouco dessa ideia para cá", conta Lucas, que dança frevo no espetáculo.
E, por falar em corpos, o racismo é um dos temas tratados pelo dançarino e artista baiano Marco Motta, que mora há 13 anos em Madri.
"Eu falo de racismo dentro do show e sobre a questão linguística, do racismo no idioma e também sobre os corpos da gente. A forma como a gente se expressa com o corpo, por exemplo, varia dependendo da cultura de onde a gente vem", reflete Marco.
"Eu faço breakdance, que é uma dança da diáspora africana norte-americana, e um pouco de capoeira, que é da diáspora africana no Brasil", explica o dançarino.
O espetáculo já foi apresentado na Suíça, na Bélgica e em outras cidades francesas. O dançarino carioca André Oliveira, que estreia no circo com esta peça, conta como tem sido a recepção do público na Europa:
"São coisas que eles não conhecem, em geral. É interessante trazer essa vivência do nosso corpo brasileiro, da minha vivência na favela, com a minha dança, para o outro lado do mundo", conta.
Além do Carnaval e das danças típicas brasileiras, os 23 fragmentos destes últimos dias tratam de temas políticos atuais. Julia Henning, uma das fundadoras do coletivo Instrumento de Ver, de Brasília, criado em 2002 na capital federal, explica que o circo e a política andam de mãos dadas.
"A gente sempre lidou com o momento histórico, que é o que a gente entende como sendo o circo, a contemporaneidade, que não tem a ver exatamente com uma estética, mas tem a ver com o diálogo com o seu tempo e estar aberto às influências do momento; não estar desconectado do mundo", explica.
"Quando a Marisa chegou, a gente não hesitava em passar muito tempo discutindo sobre o assunto. E durante todo o processo de criação, a gente teve que manter a energia mesmo assim, porque foi depressivo, sim, para quem trabalha com cultura", diz Julia, referindo-se ao governo Bolsonaro (2019-2022).
"Arte em geral é política. Desde que a gente começou, nós sempre estivemos abertas às influências do que está acontecendo no mundo, o que está acontecendo com a gente e como trazer isso para a cena", conclui.
Maíra Moraes, artista circense desde os 18 anos e cofundadora do Instrumento de Ver, acrescenta: "No sistema de produção cultural do Brasil, a gente se reveza em todas as funções. A gente passa de artistas, acrobatas, para produtoras, para quem divulga, para quem limpa... Somos só nós três e temos que dar conta de tudo o que o coletivo precisa para sobreviver. Então, é inevitável a gente estar realmente por dentro de todos os movimentos".
Béatrice Martins, acrobata desde os 5 anos, a terceira integrante do coletivo Instrumento de Ver, resume o espetáculo:
"É um espetáculo brasileiro. Fala sobre o Brasil, tem músicas totalmente brasileiras. Trazemos, além das acrobacias, danças típicas do Brasil. A gente trouxe toda essa brasilidade para o espetáculo aqui na França, um calorzinho brasileiro", fala.
As artistas do coletivo, que são também cocriadoras deste espetáculo, frisam o jeito brasileiro de encarar as mazelas do dia a dia sem perder a esperança.
"A esperança está viva e tem a ver com arte. Parece com coisa inocente, mas é com a esperança que a gente constrói as coisas. E é matando a esperança que a gente destrói as coisas. A esperança é a única arma que a gente tem de construção de um novo mundo. E não é tão utópico, mas algo mais pragmático mesmo: eu preciso saber aonde eu quero chegar para construir os caminhos para ir até lá. Então, a esperança tem um lugar importantíssimo agora", completa Julia Henning.
O espetáculo "23 fragmentos dos últimos dias" deve ser apresentado no Rio de Janeiro e em São Paulo em meados de 2023.
Cantora e compositora conta sobre novo trabalho e diz: ‘É preciso entender qual o jogo político que está por trás do boicote à cultura’.
O frevo foi sua primeira terra fértil nas artes. Por meio dele e de outros da cultura popular que conviveu no Recife, construiu sua carreira na música. Hoje, Flaira Ferro caminha para o seu terceiro álbum, depois de Cordões Umbilicais (2015) e Na virada da Jiraya (2019). O segundo disco surgiu em um momento delicado, de novo governo, de desmonte da cultura.
“[O disco] veio com força da raiva, de sair do silenciamento, da opressão do corpo feminino, do senso crítico”, diz. “O Áua (nome do terceiro disco) é de buscar e cuidar um dos outros”.
O novo trabalho é um projeto junto com a cantora paulista Clara Coelho. “Fomos entendendo toda a filosofia que tínhamos em comum. A gente foi bebendo de muitas influências”, afirma. Segundo a cantora pernambucana, o trabalho atual está ligado ao autoacolhimento: “A gente vive num mundo onde tudo é muito descartável. As relações humanas estão muito fragilizadas”.
Da parceria de Flaira e Clara nasceram sete das nove canções do disco. As duas restantes, uma é assinada pela própria Flaira e a outra foi composta em parceria com Juliano Holanda.
Flaira conta uma curiosidade do disco. O título completo do álbum é Áua: Nove Luas para Nascer Outra Vez (Selo Tropical Gold), com lançamento de uma música por mês (aliás, duas já foram lançadas), fechando um ciclo de gestação. “No meio do processo [de produção], acabei engravidando e teve essa coincidência, sincronicidade. Foi uma surpresa feliz”.
A cantora integra um dos mais importantes coletivos de música surgidos no País nos últimos tempos, o Reverbo, que reúne cerca de 30 cantores-autores do Recife e de outras regiões de Pernambuco. “Ele abraça a diversidade desse mundo que a gente precisa, para deixar de padronizar a canção que muitas vezes a indústria cultural faz",
O grupo, liderado por Juliano Holanda, conta ainda com nomes como Almério, Isadora Melo, Gabi da Pele Preta, Jr. Black, Martins, Sam Silva, Una, entre outros.
“Não tem alternativa para a vida não ter arte. Entendo a arte como necessidade básica. É a maior forma de resistir a esse desmonte, do pensamento do governo”, diz. “É preciso entender qual o jogo político que está por trás de todo esse boicote à cultura. A cultura faz as pessoas pensarem, sentirem, refletirem. A ignorância é uma aliada do desmonte da cultura. Por isso a gente não pode se silenciar".
O Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares é uma iniciativa do Ministério da Educação, em parceria com o Ministério da Defesa, que apresenta um conceito de gestão nas áreas educacional, didático-pedagógica e administrativa com a participação do corpo docente da escola e apoio dos militares.
O Estado do Paraná da supremacia branca, do racismo, do conservadorismo, do prefeito de Curitiba que tem nojo de pobre, do Ratinho pai que ameaça mulheres de morte, do Ratinho Filho também podre de rico, seguindo a política da extrema direita do governador Richa, danou-se a criar escolas cívico-militares. Foi a represália, o castigo imposto pela ousadia dos estudantes com o Movimento Ocupa Escola.
As escolas cívico-militares é uma pobre compensação, que nas escolas militares impera o corporativismo. A prioridade das matrículas uma herança dos filhos dos militares.
As escolas cívico-militares ensinam ordem unida, valores do conservadorismo caduco da Tradição, Família, Propriedade - a triunfante TFP da pregação do golpe de 1964, misturada com a Teologia da Prosperidade da campanha bolsonarista de 2018, bem representada pelos pastores dos negócios da educação, e pelos coronéis da vacina na militarização do Ministério da Saúde.
Ana Júlia Ribeiro Ocupa Escola
Duvido nas escolas militares e nas escolas cívico-militares um movimento ocupa escola para prostestar contra o kit robótica (roubótica), para um exemplo. Duvido chegar uma Ana Júlia, que liderou o Ocupa Escola no Paraná, para falar na sala de aula:
"O pior ministro da educação da história acaba de ser exonerado. Milton Ribeiro sucedeu o pior ministro da educação da História, Abraham Weintraub, que sucedeu o pior ministro da educação da história, Vélez, e deve dar lugar, mais uma vez, ao pior ministro da educação da história.
Milton Ribeiro correu e se escondeu pra evitar que o governo sangrasse com mais um escândalo. Mas e agora? Os atos do ex-ministro precisam ser investigados e punidos".
O governo Bolsonaro forma o aluno disciplinado, obediente, subordinado, hierarquizado, nivelado, passivo, decoreba, elogiado pelo comportamento automático, treinado na ordem unida, no passo de ganso. Um estudante robotizado.
A corrupção do Mec vai além da comelança do dinheiro público.
Não vou teorizar aqui.
E sim propor a volta das aulas de História.
Que a ginástica da ordem unida e as aulas de hinos marciais sejam substituídas pelo frevo. O frevo é ritmo, arte, educação física, ginástica, dança, cântico, poesia, música, cultura popuar, alegria, liberdade, democracia, fraternidade, igualdade, felicidade, (re) união, união, povo.
O presidente vem repetindo que “o povo armado” representa um obstáculo para o surgimento de um “ditador"
Propaga Bolsonaro:
Os bandidos estão armados, você não tem paz nem dentro de casa. Eu não consigo dormir, apesar de uma segurança enorme aqui no Alvorada, sem ter uma arma do meu lado.
Quem não quer ter arma, é só não comprar. Não tem problema nenhum. Agora, se estiver sofrendo uma invasão, até pegar o telefone e ligar, muitas vezes a polícia leva horas. Uma arma é sua defesa, ou será que você não se garante? Arma protege a sua vida, sua família. Arma não mata; quem mata é o elemento que está atrás dela.
Eu tenho 2 [fuzis] em casa. Se a mulher sair do quarto, tudo bem. Mas o fuzil fica lá. Tá certo? Ele não sai. E para chegar no meu quarto tem duas portas […] E sempre foi assim a minha vida. Meu tempo de tenente, capitão do Exército, deputado federal. Nunca deixei de dormir com arma em casa.
Dificilmente alguém invade ou rouba uma casa em que há uma arma. A pessoa armada é uma segurança para sua família.
A arma é inerente à defesa da sua vida e à liberdade de um país. Meus filhos todos atiraram com cinco anos de idade, real, não é de ficção nem de espoleta não, tá ok?
Não há nada de errado em ensinar valores e disciplina aos nossos filhos, pelo contrário, é fundamental e edificante. A bronca de parte da imprensa agora é que não vesti meus filhos de menina, nem incentivei o ensino de sexo para crianças na escola.
Canta e encanta Flaira:
O meu revólver É um estado de espírito E o pessimismo É luxo de quem tem dinheiro
A covardia Impera sob a ignorância Mas a esperança É substância pra mudar (é substância pra mudar) Mudar as coisas de lugar (mudar as coisas de lugar)
Uma cidade triste É fácil de ser corrompida (é fácil de ser corrompida) Uma cidade triste É fácil ser manipulada
No contra-ataque da guerra, arte! Pra não viver dando murro em ponta de faca. No contra-ataque da guerra, arte! Ninguém nessa terra vai comer farinata
Eu quero ver você dizer que Não vai ter mais frevo Eu quero ver você dizer que Não tem frevo mais
Eu quero ver você dizer que Não vai ter mais frevo Eu quero ver você dizer Eu quero ver quem vai
O frevo é um ser humano O frevo é o nosso Rock O frevo é a luta armada De Zenaide, de Capiba e de Spok
Meu corpo é uma cidade Com pernadas de aço Pra furar um buraco Na rocha do egoísmo A revolta do passo
Ferrolho, tramela Rojão, abre alas Tesoura, martelo Espalhando brasa
Ferrolho, tramela Rojão, abre alas Tesoura, martelo Espalhando brasa
Eu quero ver você dizer que não vai ter mais frevo Eu quero ver você dizer que não tem frevo mais
Uma cidade triste É fácil de ser corrompida Uma cidade triste É fácil ser manipulada
No contra-ataque da guerra, arte! Um corpo liberto deixa a mente afiada No contra-ataque da guerra, arte!
Artista recifense apresenta afiado repertório autoral no segundo disco, gravado com participações do pianista Amaro Freitas e do cantor Chico César.
por Mauro Ferreira
"Explodam / Saiam daqui / Quero me divertir / Com as minhas coleguinhas...", ordena Flaira Ferro aos machos nos versos cheios de som, ironia e fúria deFaminta, parceria da cantora e compositora pernambucana com o conterrâneo Igor de Carvalho.
Famintaé a composição que abreVirada na jiraya, o forte, firme e sólido segundo álbum dessa artista que vem despontando na movimentada cena musical do Recife (PE).
Quatro anos após o álbum de estreiaCordões umbilicais(2015), Flaira Ferro reaparece com álbum reativo aos desmandos e injustiças do mundo ainda patriarcal. O títuloVirada na jirayareproduz expressão popular que significa estar com raiva.
Esse título sinaliza que há leveza e eventual humor (mordaz) na ira feminina destilada por Flaira no álbum produzido por Yuri Queiroga, com exceção deCoisa mais bonita, faixa produzida por Pupillo Oliveira e previamente apresentada em março de 2018.
Capa do álbum 'Virada na jiraya', de Flaira Ferro — Foto: Matheus Melo
Música formatada em tom lúdico,Ótima(Flaira Ferro) é exemplo da habilidade de Flaira de sustentar a leveza de ser mulher apta a amar em mundo em que muitos homens ainda sujam as mãos de sangue para impor vontades e desejos.
Tal leveza se alterna com o som arretado do disco.Revólver(Flaira Ferro) disparamixhardcore de frevo, rock ebeatseletrônicos em mistura que reverbera emSuporto perder(Flaira Ferro e Igor de Carvalho)."Minha alma é a arma", fuzila a artista com altivez existencial nessa música gravada pela cantora com a adesão de Chico César.
Flaira Ferro tem alvos certeiros no álbumVirada na jiraya."Tem lábia de fascista / Joga o jogo da milícia / Por dentro é terrorista / E paga de espiritual", vocifera emLobo, lobo(Flaira Ferro, Igor de Carvalho e Mayara Pêra).
"Mesmo que o destino / Reserve um presidente adoecido / E sem amor / A juventude sonha sem pudor / Flor da idade e muito hormônio / Não se curva ao opressor", ensina emEstudantes(Flaira Ferro), balada turbinada pela guitarra climática de Yuri Queiroga.
Flaira Ferro lança o segundo álbum, gravado com participações do pianista Amaro Freitas e de Chico César — Foto: Matheus Melo / Divulgação
Por mais queGerminar(Flaira Ferro e Ylana Queiroga) faça brotar sons delicados, evocativos de caixinha de música na faixa formatada com participações como a de Isaar, o álbumVirada na jirayadança conforme o ritmo de tempos embrutecidos.
A atitude é a do rock em músicas comoEssa modelo(Flaira Ferro), mesmo que a batida quase nunca seja a do rock mais ortodoxo.Maldita(Flaira Ferro), por exemplo, é música belamente subjugada ao toque luminoso do piano de Amaro Freitas, gênio do Recife (PE) que vem ganhando o mundo no manuseio do instrumento.
As letras afiadas, atuais e diretas da artista dão vigor aVirada na jiraya, álbum que firma Flaira Ferro na cena alternativa brasileira com repertório quase inteiramente autoral (a exceção éCasa coração, de Isabela Moraes).
"Eu me sinto ótima / Forte, firme e sólida / Solidária ao mundo", perfila-se a cantora na letra da já mencionada músicaÓtima.Virada na jiraya corrobora a sensação de Flaira Ferro.
Além de cantora, compositora você é bailarina. Conte para os leitores, como foi o seu envolvimento com cada uma dessa área?
A memória mais viva sobre meu envolvimento com a dança e com a música vem aos seis anos de idade, quando brinquei meu primeiro carnaval em Recife, em 1996. Sou de Recife e lá fevereiro é mês de tradição carnavalesca, a cidade fica em função da festa. Há uma explosão de manifestações populares, ritmos, danças e fantasias, o que me seduziu desde o primeiro contato.
A dança, em especial o frevo, foi minha porta de entrada para o universo das artes. Fui me interessando, me dedicando, e entrei na Escola Municipal de Frevo do Recife, tive aulas com o Mestre Nascimento do Passo e nunca mais parei. Aos poucos, conheci outras linguagens, fiz sapateado, ballet, dança contemporânea e a dança virou profissão.
Meu envolvimento com a música e a composição foram consequências diretas dessa relação com o movimento corporal. Sinto que essas linguagens conversam o tempo todo entre si, tudo passa pelo corpo.
Queria saber um pouco mais sobre seu passado pré-musica. O que você ouvia quando era pequena? E quando você descobriu seu amor pela musica e composição?
Por influência dos meus pais, ouvi muita música regional na infância. Coco, ciranda, maracatu, bumba-meu-boi, forró e frevo sempre foram ritmos presentes na prateleira de CDs da minha casa. Só vim conhecer música internacional na adolescência. Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Elis Regina e Raul Seixas eram os artistas que mais tocavam no som do carro durante as viagens da família pro interior de Pernambuco.
Meu pai é um poeta tímido. Apesar de não seguir carreira artística, sempre gostou de declamar poesias e escrever versos e rimas. Acredito que por influência dele tomei gosto pela palavra escrita, falada e cantada. Compus minha primeira música aos 8 anos e descobri esse amor quando percebi que através da composição eu conseguia desafogar minha energia criativa. Coisas que eu não conseguia dizer numa conversa ou ideias que eu não desenvolvia na escola iam acumulando na minha cabeça e desaguavam em poesias e canções. Até hoje é um tipo de escape que me ajuda a entender meus sentimentos.
Há pouco tempo você lançou seu álbum “Cordões Umbilicais”. Como foi a escolha do nome do álbum e do repertorio do seu novo trabalho?
O nome do álbum veio da necessidade de dar uma imagem ao afeto. Quando vim morar em SP tive que me reinventar para me adequar a uma cidade na qual eu não tinha vínculos afetivos. Conheci a solidão e aliada a ela, paradoxalmente, o sentimento de não estar só, de estar conectada com todas as pessoas, com a criação de algo maior, o divino.
Além das questões existenciais, minha mãe é obstetra e assisti muitos partos feitos por ela. Um certo dia, após presenciar uma cesariana, saí inspirada e compus uma música que nomeei Cordões Umbilicais e é também uma faixa do disco.
Quanto ao repertório, percebi que a temática do autoconhecimento era predominante na maioria das minhas letras. Selecionei as músicas que mais representavam meu momento de vida e organizei o repertório. O disco é um estado de espírito.
No seu álbum você traz 11 faixas de autorais. Qual música do seu cd mais te representa?
Por se tratar de um disco inteiramente autoral no qual a maioria das letras são minhas, cada música é um pedaço do que sinto e penso. Sou tudo que tá lá, o que muda é a intensidade, eu acho. Tem dias que me vejo mais numa música do que noutra, por exemplo. Depende.
O álbum vem com ritmos bastante brasileiros e você mistura esses ritmos. Qual ritmo musical mais te encanta ou chama sua atenção?
Além do frevo, eu tenho um carinho especial pelo caboclinho perré e pelo batuque de umbigada. São ritmos que adoro dançar e me tocam de maneira mais visceral.
Como foi o processo de composição para o álbum “Cordões Umbilicais”? Alguma influencia em especial?
Tom Zé, Elis Regina, Gilberto Gil, Lenine e Bjork são artistas que me influenciam muito. Mas não teve nenhuma música que pensei em um artistas específico para compor. Eles estão presentes de maneira inconsciente, tudo que escuto é referência e alimenta meu processo de composição.
No disco você contou com algumas participações especiais. Como maestro Spok e do pandeirista Léo Rodrigues entre outros. Como foi a escolha das participações especiais?
Conheço Spok há 12 anos, trabalhamos juntos em vários projetos. Além de excelente maestro e instrumentista, ele é um grande amigo que a vida me deu. Eu queria que o disco tivesse um frevo e ninguém melhor do que ele para compor o arranjo instrumental na faixa Bom dia, doutor cuja letra é de outro grande amigo, Ulisses Moraes. Já Léo Rodrigues eu o conheci no Instituto Brincante e tornamo-nos amigos rapidamente. Quando vi ele tocar fiquei encantada com a propriedade e o domínio do pandeiro de couro. Admiro muito o trabalho dele e o convidei pra participar na música Mundo invisível.
Como você descrever no geral o seu álbum?
É uma obra de afeto e um retrato do tempo.
Gostaríamos de saber mais sobre seu gosto musical. Quais as 6 músicas preferidas e o por que?
Como falei antes, cada música me representa com muita verdade e não tem nenhuma que eu ache menos importante. Elas estão dentro de um conceito e a ideia de cada uma agrega à mensagem do disco como um todo. Mas se eu fosse fazer um pocket show e tivesse que escolher seis músicas, eu escolheria: Templo do tempo, Atriz Cantora ou dançarina?, Pondera, Me curar de mim, Bom dia, doutor e Lafalafa.
Fiz duas matérias sobre você aqui no blog. E as criticas foram muito positivas. Como é para você ver o carinho do publico e até mesmo dos críticos musicais falando bem do seu álbum?
É bom né? Um estímulo, sem dúvida. É gostoso compartilhar algo que ressoa em outras pessoas de maneira positiva. A coisa vai ganhando outras dimensões, interpretações e significados. Mas acredito que a aceitação do público nunca deve ser o objetivo de um artista. A opinião dos outros, positiva ou não, deve ser apenas consequência daquilo que nasce da verdade de quem cria.
Como é seu contato com o publico? Você usar muito as redes sociais para bate um papo com os fãs? Você acha importante esse contato?
Não gosto muito da palavra fã como denominação de alguém. Tenho a impressão de que ela cria uma fronteira entre o público e o artista que não deveria existir. Tenho pavor desse endeusamento do artista, essa coisa de colocá-lo num pedestal para se admirar e contemplar, como algo inalcançável.
Sim, uso muito as redes sociais e quem se interessa pelo meu trabalho e entra em contato eu adoro trocar ideia. Respondo, pergunto, leio, opino, etc. E é isso que rola, uma troca constante com quem chega junto.
Entrevista quase no final. Quais as próximas novidades, lançamento e agenda de show?
Recentemente gravei dois clipes. Um da música Lafalafa, dirigido por Patrícia Black e outro da música Me curar de mim. Em breve estarei lançando eles nas redes sociais. Quanto aos shows, as agendas são divulgadas na fanpage e no meu site flairaferro.com.br
Qual mensagem você deixa para os fãs e leitores do blog?
Leiam a autobiografia de Gandhi.
AgoraFlairalança um clipe, no qual pode, de alguma forma, unir música e dança. Escolheu a canção “Lafalafa”para inspirar esse primeiro vídeo que foi gravado em junho de 2015, entre as ruas de São Paulo e o Instituto Brincante, espaço onde atua como artista e professora.
Os vídeos de dança solo da bailarina Sylvie Guillem foram grandes fontes de inspiração. O minimalismo, a simplicidade estética e a pesquisa de intenções de movimento de seu trabalho clarearam o rumo do que seria o clipe e a performance deFlaira.“Como venho da dança popular e o ritmo de ‘Lafalafa’ é o cavalo-marinho, mergulhei numa pesquisa de movimentos que partissem dessa matriz. Decidimos que minha atuação se basearia no improviso, sem coreografia definida”– explica ela. Quando a música termina, o clipe ainda continua por alguns instantes. Fique por dentro de todas as novidades sobre a cantora:
Cairão um por um! Valter Nagelstein foi condenado a dois anos de reclusão e poderá ficar inelegível após áudio racista contra a bancada negra de Porto Alegre nas últimas eleições. Racistas não passarão!
Absurdo! Enquanto lotamos as ruas no #AtoPelaTerra contra o pacote da destruição, foi aprovada a urgência do projeto que quer liberar a mineração em terras indígenas. Não podemos recuar, cobre seu deputado para que esse PL seja derrotado na Câmara! #PL191Nao
A aprovação do projeto que quer liberar a mineração em terras indígenas é um grande retrocesso para o Brasil. Vamos pressionar nossos deputados! #PL191Nao
Não consigo contar o nº de vezes que fui agredida no mercado ou na rua por conta de mentiras e ameaças. Há 8 anos, eu sinto medo por mim e pelos meus.
Eu lembro a primeira vez em que fui agredida por causa de uma fakenews: era 2014. Eu estava tomando café com meu marido e um menino olhou para mim e passou a me agredir por conta de uma notícia mentirosa publicada num perfil de Twitter e num site que mentia ser de humor.
Mas eu ando nas ruas de cabeça erguida porque sei quem sou e o que defendo e sei quem são os mentirosos que me atacam. Já esse deputado tem medo de sair na rua porque descobriram exatamente quem ele é.
Ontem escrevi esse fio. Logo depois, o Presidente em pessoa, sem intermediários, passou a me atacar em suas redes. Tipo confissão de culpa. Ficou nervosinho, né? Vai trabalhar!
A atual política de preços da Petrobras é a responsável pela alta dos preços? Entendam nesse vídeo! O completo está no canal:
Quatro anos da morte de Marielle e nosso país ainda exige saber quem mandou matá-la!!!
Da mesma maneira, as sementes de Marielle florescendo são esperança de que podemos ser um país mais próximo daquilo que ela sonhou e lutou.
Eu olho sua imagem e penso em Dona Marinete, em Anielle, em sua filha Luyara. Penso nas mesas de domingo com a imensidão de sua ausência. Penso em Monica. Desejo que meu carinho e solidariedade chegue até cada uma delas.