Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

09
Set23

Editorial: Leite está surpreso. O Sul21, não

Talis Andrade

 

A surpresa do governador Eduardo Leite só pode se explicar pela desimportância que a pauta ambiental tem em sua gestão

A tragédia que assola o Rio Grande do Sul nos últimos dias já é uma das maiores de nossa história. Dezenas de mortos, milhares de desabrigados e desalojados. “De tão irreconhecíveis, parece que soltaram uma bomba”, descreveu um morador de Lajeado sobre as cidades da região do Vale do Taquari, as mais atingidas pelas enchentes.

Diante do caos, o governador Eduardo Leite tem insistido no discurso de que as autoridades foram surpreendidas pela magnitude da tragédia. Primeiro, Leite jogou a responsabilidade para os modelos matemáticos de previsão dos institutos meteorológicos, que não teriam indicado o volume de chuva que atingiu o Estado. A Metsul Meteorologia não deixou por menos, divulgou uma nota dura, com links para notícias anteriores às chuvas, advertindo para a possibilidade de volumes acima de 300 mm na metade norte gaúcha.

Não foi suficiente. Em entrevista à GloboNews, Leite voltou a dizer que a chuva intensa não havia sido prevista. Foi então a vez do jornalista André Trigueiro, que acompanha a pauta ambiental há décadas, rebater o governador, lembrando que o discurso é o mesmo repetido por outros políticos, sempre que ocorre uma tragédia como essa. Leite não gostou, acusou o repórter de falta de empatia, e o clima esquentou ao vivo.

A surpresa do governador, entretanto, só pode se explicar pela desimportância que a pauta ambiental tem em sua gestão, e que não é surpresa nenhuma para quem a acompanha de perto. Vejamos:

Muito antes desse episódio, entre junho e julho de 2020, o RS e SC foram atingidos por dois ciclones-bomba, que causaram perdas de vidas humanas e grandes prejuízos materiais. Na ocasião, Francisco Eliseu Aquino, professor do Departamento de Geografia da UFRGS e coordenador do Laboratório de Climatologia, do Centro Polar e Climático da Divisão de Climatologia Polar e Subtropical da UFRGS, alertou que aquele era um cenário que vinha para ficar e até se intensificar nos próximos anos. Cabe perguntar, o que fez o governo do Estado a respeito?

Se você acompanha o Sul21 com regularidade, provavelmente sabe que a pauta ambiental não é exatamente um tema do qual o governo Leite possa se orgulhar. Em uma retrospectiva do ano de 2021, por exemplo, expomos as controvérsias do governo envolvendo o assunto. Da falta de ação para preservar o pampa, bioma que tem sofrido a maior remoção da vegetação nativa dentre todos os biomas do Brasil, à aprovação do autolicenciamento ambiental, são inúmeros os movimentos do governo Leite, desde o primeiro mandato, que provocam críticas fervorosas de ambientalistas. Ainda em 2021, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) alertava que o “discurso verde” do governador, levado à COP26, na Escócia, priorizava o mercado e não a proteção ambiental.

Da chuva à seca, outro fenômeno climático que tem castigado os moradores do Estado nos últimos anos, sem que o poder público aja em tempo e à altura do que necessita a população, a natureza vem mostrando há anos e com cada vez mais intensidade que os governantes não têm a opção de relegar a pauta ambiental a segundo plano. Em Porto Alegre, não é diferente. Árvores ao chão, prédios ao céu poderia ser o slogan do prefeito Sebastião Melo.

Exercendo nosso papel no jornalismo local, cobramos recentemente da Prefeitura da Capital qual o plano para enfrentar a crise climática. A resposta que obtivemos é que ele está sendo preparado e será apresentado em julho de 2024. Infelizmente, nem precisamos esperar o plano oficial do Município para saber qual o caminho trilhado por Porto Alegre. Em uma das reportagens da série especial Que Porto É Esse?, publicada em 2021, mostramos os rumos do “extrativismo sem limites” na cidade. O geólogo e professor da UFRGS Rualdo Menegat alertava na ocasião que a preocupação com a “carga” que o ecossistema da cidade pode suportar, em especial o Guaíba, deveria balizar o planejamento urbano. Contudo, avaliava que as transformações em andamento na cidade vão no sentido oposto. Em 2022, ele mantinha análise semelhante: ‘Porto Alegre é uma cidade ambientalmente abandonada

Diante de tais escolhas, podem ainda nossos governantes alegar surpresa?

Aqui mais informações sobre como doar aos atingidos pelas enchentes.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub