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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

04
Jun20

E agora?

Talis Andrade

 

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V - Brasil sofre de fetiche da farda

EL PAÍS
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A ambiguidade do artigo 142 da Constituição resulta nesses dias em ambiguidade alguma. Claramente gente demais se comporta no país como se os militares não apenas estivessem fora da lei, mas teriam o direito de estar fora da lei. A ambiguidade da Constituição, no que se refere ao papel das Forças Armadas, se desfez na prática dos dias. Guardadas as exceções, o cotidiano mostra que em todas as instituições e também em uma parcela da imprensa há predominância de lambe-botas de generais, como se a ditadura nunca tivesse acabado. Se faz obrigatória a pergunta: a democracia então começou? Votar a cada eleição é suficiente para fazer um país ser considerado democrático?

O fetiche da farda pode nos levar a muitos caminhos de investigação. Tem qualquer coisa mais prosaica, também, de homenzinhos que gostam da mística da masculinidade, a estética da testosterona pelo uso de armas e pelo monopólio do uso da força costuma ficar em alta em momentos de grande insegurança. Quando leio a carta dos militares de pantufa em solidariedade a Augusto Heleno, o ameaçador-mor da República, parece mesmo que eles acreditam serem, como arrotam, os guardiões da honra. Que se ponham no seu lugar. “Chega” dizemos nós.

Nosso dinheiro paga suas aposentadorias e a reforma da Previdência deles foi de filho para pai. Quem esses homens pensam que são para ameaçar o Supremo Tribunal Federal, a instituição? São funcionários públicos aposentados e não ungidos por nenhum deus para decidir o destino de ninguém, muito menos de um país. Tampouco foram formados por “SAGRADA CASA” nenhuma, como ostentam em caixa alta, confundindo conceitos básicos. Se depois de mais de 30 anos de democracia temos que aguentar esse tipo de declaração golpista daqueles que deveriam estar servindo à democracia é porque a democracia que o Brasil conseguiu fazer derrete.

Ao apoiar Bolsonaro, os generais queriam muito fraudar a história do golpe de 1964, garantir que a lei de anistia, de 1979, nunca fosse reformada, e se assegurar de que os crimes cometidos durante a ditadura seguissem impunes. Quando Bolsonaro tentou festejar o 31 de março, data do golpe militar, como efeméride patriótica, no primeiro ano do seu mandato, houve protestos de diferentes áreas da sociedade. O problema, porém, era muito mais grave. E o risco, muito maior.

fraude da história está se dando na prática, na subjetividade que constitui cada um, na naturalização dos militares determinando destinos, proferindo ameaças e colocando-se acima da lei. Essa é a pior fraude, porque se infiltra nas mentes, altera os comportamentos e se converte em verdade. Fica cada vez mais evidente que a ditadura nunca saiu de nós, porque ao deixarmos os assassinos impunes, seguimos reféns dos criminosos que nos subjugaram por 21 anos.

Não vejo no mundo um país mais desafiado que o Brasil. Precisa lutar contra uma pandemia com um perverso no poder que contraria todas as leis sanitárias, que está levando o país ao pódio em número de casos e de mortes por covid-19, que está destruindo a Amazônia, da qual depende o futuro de todo o planeta, como se realmente não houvesse amanhã, e que está convertendo os brasileiros em párias globais. Ao mesmo tempo, o Brasil tem que restaurar a democracia que nunca se completou e, em plena crise, vestir as pantufas nos generais que foram infectados pela febre messiânica do poder e do autoritarismo.

Na penúltima vez que os generais estivaram no poder, deixaram um rastro de desaparecidos, torturados e mortos por assassinato. Isso sem contar a inflação explodindo e a corrupção vicejando. Na atual, deixarão um rastro de dezenas de milhares de mortos por covid-19, um número que poderia ser consideravelmente reduzido tivesse o governo seguido as normas sanitárias da Organização Mundial da Saúde, mantivesse no Ministério da Saúde um quadro técnico composto por profissionais experientes em saúde pública e epidemiologia e estivesse concentrando todos os seus melhores esforços para construir um plano consistente para enfrentar a pandemia. Poderão ainda, caso se mantenha o atual ritmo de destruição, levar a floresta amazônica ao ponto de não retorno. Abraçados, claro, com os vendilhões do Centrão, no que já é chamado de Centrão Verde-Oliva.

Lamento. Mas ou desdobramos a espinha agora ou peçam desculpas aos seus filhos porque seus pais são, como diria elegantemente Bolsonaro, uns bostas.

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03
Jan20

Terrorista que atacou Porta dos Fundos envolvido com tráfico de mulheres

Talis Andrade

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Foragido da Justiça brasileira, o empresário Eduardo Fauzi Richard Cerquise, de 41 anos, pode estar envolvido com outros crimes além do ataque contra a produtora do grupo Porta dos Fundos, segundo informações publicadas pela mídia nesta sexta-feira.

A 10ª Delegacia da Polícia Civil de Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, segue investigando o ataque feito contra a produtora no dia 24 de dezembro, na véspera do Natal, e apura a possibilidade de Fauzi também estar ligado ao tráfico de mulheres.

A informação foi publicada pela revista Época e tem como base o depoimento de uma dançarina, que teria acusado o empresário de estar envolvido com o tráfico de mulheres. Embora o suspeito não tenha nenhum inquérito contra si por esse motivo, a polícia deverá apurar a acusação.

A investigação ainda não chegou nessa fase. Priorizaremos o ataque e a identificação dos autores. Caso as informações cheguem nesses dados, iremos decidir se continuamos ou encaminhamos para outra unidade da polícia", contou um dos investigadores à revista.
 

Informações da polícia e imagens obtidas pela TV Globo confirmaram que Fauzi embarcou para a Rússia por volta das 16h30 do dia 29 de dezembro – um dia antes da Justiça determinar a sua prisão como um dos suspeitos pela participação no ataque com coquetéis molotov contra a produtora, localizada em Botafogo.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o delegado Marco Aurélio de Paula Ribeiro, responsável pelo caso, listou a longa ficha corrida de Fauzi e revelou algumas informações sobre o suspeito, até o momento o único identificado pelo ataque.

        Ele é uma pessoa violenta, com diversas ameaças, até lesão corporal", afirmou o delegado ao jornal, referindo-se a uma acusação de agressão física contra a ex-mulher. Fauzi também foi condenado no ano passado por dar um soco no então secretário de Ordem Pública da Prefeitura do Rio, Alex Costa, há seis anos.
 

Ainda de acordo com a publicação, Fauzi pratica artes marciais, fala russo e morou por cinco anos na Rússia. Em 2019 ele esteve em Moscou em três oportunidades, já que tem um filho de 3 anos com uma namorada russa.

Anteriormente, o Itamaraty informou que Brasil e Rússia possuem um acordo de extradição, e que daria andamento a um pedido formal do juiz responsável pelo caso. Segundo o SBT, a passagem de retorno de Fauzi ao Brasil está marcada para o próximo dia 29 de janeiro. [Transcrito do Sputnik]

 
28
Nov19

Extra, extra: Lenio Streck é a favor da prisão em segunda instância!

Talis Andrade

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Por Lenio Luiz Streck

ConJur

A manchete parece fake news. Porém, é necessária para demonstrar as falsas narrativas que se espalham todos os dias. Não, o título não é falso. Sou a favor da prisão em segunda instância. Só peço que tenham a pachorra de lerem até o final.

Escrevo isso porque o “fator Sardenberg” (esse “grande jurista” da terceira turma do GloboNews Supreme Court) parece estar vencendo a batalha. De fato, a grande mídia, somada às neocavernas do WhatsApp e Twitter (atuais células terroristas de ignorância artificial – C.T.I.A.) está convencendo parlamentares a virarem o jogo da presunção da inocência no tapetão. Ou seja, diz-se, à boca grande, que a decisão vinculante do STF “deve” ser revertida por PEC ou por alteração de lei ordinária. Até o dólar estaria nesse alto patamar por causa da decisão do STF. Afinal, Sardenberg foi quem disse...!

Vale tudo nessa batalha. Há uma PEC que é um perfeito strike jurídico. Para obrigar prisão em segunda instância, vale até mesmo destruir a tradição dos recursos especiais e extraordinários. Patético. O que colocar no lugar? Um tsunami, “tipo” ação rescisória? Pergunta-se: vai ter efeito suspensivo no pedido de rescisória quando se tratar de dívida tributária? Ou a liberdade vale menos que o patrimônio?

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Há também a tentativa de alterar o artigo 283 e outros dispositivos do CPP. Problema: ambas as teses violam a cláusula pétrea constante no artigo 5º, LVII, da Constituição Federal (sobre o assunto ler aqui).

Por tudo isso, peço ao Parlamento que tenha calma. Peço que não façam nada errado. Consultem um constitucionalista. E parem de dar ouvidos ao ministro da justiça, Sergio Moro, que claramente conspira contra a decisão do STF. Um ministro da justiça que não aceita uma decisão da Suprema Corte. A notícia da TV de terça-feira, dia 26 último: “Moro diz que temos de ter prisão em segundo grau”. Eu retruco: Moro não conhece Direito Constitucional. Registro importante: Gerson Camarotti informa, com exclusividade, na Globo News Supreme Court: “Bastidores: Moro diz que os dois projetos — PEC e alteração do artigo 283 — são constitucionais”. Ah, bom. Se Moro disse, então posso dormir tranquilo, pois não?

Falei no seminário da ConJur no auditório Nereu Ramos dia 26 (são os 20 minutos finais do vídeo anexo - assista aqui). Mostrei que eu, o STF e todas as pessoas racionais somos a favor da possibilidade de que se prenda em segunda instância. Surpreso com o que acabei de dizer, leitor?

Pare, tome uma infusão de rubiácea e prossiga na leitura.

Sigo. Mas, se é assim, por que essa onda toda? Por que Moro conspira contra a decisão do STF? Por que o Parlamento gasta tanta energia nesse tema?

Explico: eu, o STF, parlamentares e juristas que sabem ler, compreendem facilmente que a decisão das ADCs não proibiu a prisão em segunda instância. Quem espalhou essa lenda urbana de que a decisão do STF traria o caos é pessoa ingênua ou não tem boa fé.

Repito: nunca esteve proibida e não está proibido que se prenda pessoas condenadas em segundo grau. Foi manchete no jornal Estadão na segunda-feira: “Maioria do parlamento é a favor da prisão em segunda instância”. É? Pois eu também sou. O que não está dito é que o que muita gente está querendo — e não conta tudo — é automatizar TODAS as prisões no segundo grau. Como constava na revogada sumula 122 do TRF-4. Esse é o plano de Moro. Para isso, está disposto a rasgar a Constituição e desmoralizar a decisão vinculante em ADC do STF. Repito: o Supremo nunca proibiu a prisão em segunda instância. Nem em primeira, ora! O ponto é que Moros, Deltans e Carvalhosas (e Sarbenbergs, e Camarottis...) querem tornar a prisão obrigatória. Esse é o pulo do gato.

Isso tem de ser dito e denunciado. Estamos perdendo a guerra das mídias. Lutamos três anos para conseguir corrigir a decisão de 2016 do STF. E agora corremos o risco de perder para uma narrativa. Uma falsa narrativa. Tudo porque no meio está o personagem Lula. Esquece-se que, quando ingressamos com as ADCs, Lula nem réu era. Nem investigado. Mas, além do terraplanismo, voltamos a ignorar o heliocentrismo. O Brasil de 2019 segue o lulocentrismo. Tudo é Lula. O centro do universo que buscavam aqueles que precisam de um bode expiatório para rasgar a Constituição.

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Vamos falar a sério. Esse é o leitmotiv de parlamentes — e de Moro — arriscarem até mesmo a extinguir o recurso especial e o extraordinário. Não se importam de jogar fora a água suja com a criança dentro.

Disse-se que seriam 190 mil presos a serem liberados. Mentira. Assassinos e estupradores seriam soltos. Mentira. Ainda ontem vi um ex-desembargador postar em rede social que um latrocida, condenado em segundo grau, poderá recorrer em liberdade graças à decisão do STF. Isso se chama terrorismo digital. Fake News. Ou, em bom português: mentira. Simples.

Onde está o caos? No RS, por exemplo, até agora foram liberados 3 réus. E nenhum de crime violento. Na Lava Jato, consta terem sido 8. No resto dos Estados, não sei. Boa pauta para o ConJur. De novo, preclaros parlamentares, onde está o caos? Respondo. Eu sei onde está o caos. Caos é o sistema penitenciário brasileiro, já julgado como em Estado de Coisas Inconstitucional.

Caos é esse estado em que verdades já não há, só há narrativas.

Aliás, o ministro Moro, que circula, lépido e fagueiro, entre parlamentares articulando contra a decisão vinculante do STF, em vez de estar em outdoors propagandeando o Pacote Anticrime (parece o tal “MP Pró-Sociedade... existe um MP contra ela? E “anticrime”? Alguém é a favor do crime?! Genial: proibamos os crimes. Resolvido está.), deveria mandar um projeto para tornar o sistema prisional em Estado de Coisas Constitucional. Porém, ao contrário, quer colocar mais e mais pessoas nas prisões, ditas, conhecidas e reconhecidas como masmorras medievais por gente de tudo que é nível e autoridade.

Para quem tem dúvida do que estou falando sobre o conceito de presunção da inocência e a possibilidade de prisão em segunda instância, leia o que escrevi no artigo Juiz boicota STF ao soltar condenado a 29 anos! E Mazloum salva o dia!, em que mostro o modo como é possível fazer a coisa certa: estando presentes requisitos de prisão cautelar, o réu, condenado em segunda instância, não pode recorrer em liberdade para o STJ e STF. Poderão recorrer em liberdade os que não estiveram “bajo” tais requisitos. Insisto: leiam o artigo acima. Ali explico isso tudo tim-tim por tim-tim.

Qual é o problema, então? Por que o Parlamento quer arriscar chamuscar a própria institucionalidade, alterando decisão vinculante do STF, só para satisfazer um capricho? Vejam o risco. Imaginemos que o Parlamento viole a cláusula pétrea e aprove uma PEC ou altere o CPP. Imaginemos que o STF diga que essa alteração é inconstitucional. E o parlamento faça de novo. E assim por diante. Um modo contínuo que leva a uma crise institucional.

É o paradoxo da solução que nada soluciona. Como essa gente que cai na ideia de Constituinte. Ora, se não se obedece a esta que temos, e é uma das mais democráticas do mundo, por que haveriam de obedecer à nova? Mais: demonizam o Parlamento e pedem Constituinte. Quem vai elaborar? Parlamentares da Dinamarca? (Ou da Hungria? Esse é novo modelo, não?)

Então, de novo: é mentira que o STF tenha proibido prender em segunda instância. É mentira dizer que “temos de votar PEC para permitir prisão em segunda instância”. Mil vezes mentira. Ao dizer isso, Moro mente. Parlamentares mentem. Juristas que dizem isso mentem. Jornalistas e jornaleiros, ao espalharem essas mentiras, prestam desserviço à democracia.

Por isso, afirmo: sou a favor da prisão em segunda instância. Como o STF. Pelo simples fato de que nunca foi proibida. Havendo requisitos, cabe sempre prender. O STF não proibiu. O problema é que querem tornar obrigatório aquilo que apenas está permitido, conforme decidido nas ADCs, cujo efeito é vinculante: Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.

Ou seja, o amaldiçoado artigo 283, julgado constitucional pelo STF, não proíbe prender em segunda instância. Aliás, não proíbe em instância nenhuma. Apenas garante a presunção da inocência.

Viram, deputados e senadores? Viu, Sardenberg? Parem de jogar para a torcida. Amanhã essa torcida torcerá para outro time. E a metade estará afundada nas redes neocavernosas, espalhando fake news. Nem se importarão com vocês. E se reabrirem os bingos, então...

O resto é uma deslavada mentira. No tribunal da história, serão lembrados como conspiradores contra as instituições.

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28
Set19

Mensagens confirmam "lavagem de provas" por procuradores da "lava jato"

Talis Andrade

DRIBLE PROCESSUAL E COOPERAÇÃO ILEGAL DO FBI

 

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Por Tadeu Rover 

Mensagens trocadas pelo procurador Deltan Dallagnol com outros integrantes do Ministério Público Federal confirmam o uso de supostas provas produzidas ilicitamente na operação "lava jato".

O esquema para fabricar as "provas" fora dos trâmites legais vem sendo apontado desde 2015 pela ConJur, que mostrou não só o drible dos procuradores às regras, como também o risco dessa prática gerar nulidades.

Segundo as conversas divulgadas pelo The Intercept Brasil e pelo UOL, o procurador Deltan Dallagnol estava ciente dos riscos. "É natural tomar algumas decisões de risco calculado em grandes investigações", disse Dallagnol ao ser questionado por Vladimir Aras, então chefe da Secretaria de Cooperação Internacional do MPF.

As mensagens trocadas pelo aplicativo Telegram confirmam que o Ministério Público Federal driblava os trâmites legais para trazer supostas provas ao Brasil. Assim que a 'prova' fosse considerada útil, o MPF fazia o pedido legalmente numa tentativa de validá-la — quando ela já estava sendo utilizadas pelos procuradores.

Ao ser alertado por Aras sobre os riscos no uso desse tipo de truque, Dallagnol respondeu: "Concordo. Não usaria para prova em denúncia, regra geral. Vamos usar para cautelar. Se cair, chega pelo canal oficial e pedimos de novo".

Em 2015, época em que as mensagens foram trocadas, a ConJur publicou uma série de reportagens mostrando que o MPF trazia esses documentos informalmente e as utilizava.

Questionados à época pela ConJur, Aras e Dallagnol trocaram mensagens ao esboçarem uma nota com o posicionamento do MPF sobre a prática.

No dia seguinte à primeira reportagem, Aras enviou novamente uma mensagem a Deltan sobre o recebimento da prova ilegal: "Podemos dizer algo nesse sentido? Eles querem que confirmemos essa entrega. Não sei se é prudente", alerta. Porém, Dallagnol diz que não há problema em confirmar.

Mais tarde, Aras avaliou que, diante da possível polêmica provocada pela reportagem, o MPF teria que se mover para conseguir criar uma jurisprudência sobre a prática, que não existia naquele momento.

"Lamento que tenhamos chegado a esse ponto. Acho que a cooperação direta é importante, uma meta a alcançar com o tempo e estamos estrategicamente trabalho nisso, como já disse. Como já conversamos, acho que criamos um risco com esse procedimento e agora temos de convencer o STJ e o STF do nosso ponto de vista e tentar estabelecer jurisprudência como no caso Berezovski."

 

Cooperação informal do FBI


A cooperação informal também aconteceu com o FBI, que antes mesmo de a "lava jato" se tornar conhecida já havia reforçado seu time no Brasil. Durante um evento em São Paulo, neste ano, especialistas do departamento de Justiça dos EUA e do FBI tratam com certa naturalidade o compartilhamento de provas entre países sem a necessidade de passar pela burocracia exigida para compartilhamento de provas processuais.

George “Ren” McEachern, que, até dezembro, liderava a equipe de combate à corrupção internacional do FBI, foi claro em sua explicação: "A troca de informações e dados é feita o tempo inteiro entre investigadores. Só quando essas informações precisam ser usadas em um processo é preciso validá-las, com um ‘MLAT’." O MLAT, no caso, é o tratado entre países para troca de informações e provas na área criminal.

"O compartilhamento informal [de informações] é essencial para adaptar investigações rapidamente", disse Robert Appleton, ex-DOJ e atual advogado da CKR Law, especialista em crimes do colarinho branco. No caso de provas a serem usadas judicialmente, “o pedido de MLAT passa por um processo formal, cuidadosamente escrutinado, que depende de revisões muito profundas de ambos os governos envolvidos.”

O Ministério Público Federal também defende que não há nada de errado na prática. Segundo o órgão, os contatos diretos entre membros do Ministério Público do Estado requerente e do Estado requerido “são considerados boas práticas na cooperação internacional, sendo tais contatos diretos recomendados enfaticamente por órgãos como o United Nations Office on Drugs and Crime”.

 

Envio ilegal de dados bancários


Apesar do entendimento do MPF, o envio de dados sigilosos fora dos trâmites é questionado também na Suíça. Lá, o Tribunal Penal Federal considerou ilegal a entrega de documentos pelo Ministério Público do país a procuradores do Ministério Público Federal brasileiro que atuam na operação "lava jato". Segundo a decisão, trata-se de uma atitude "selvagem", que infringe os direitos processuais dos envolvidos.

Os documentos em questão foram considerados pelo juiz Sergio Fernando Moro, responsável pelos processos da operação em primeira instância, “provas materiais principais” do processo contra os executivos da construtora Odebrecht.

O tribunal suíço, no entanto, aponta que foram enviados dados bancários sigilosos de maneira ilegal, uma vez que houve produção de "provas" (no caso, documentos bancários) disfarçada de um pedido de cooperação jurídica internacional.

12
Ago18

Thompson do TRF-4 comandou Polícia Federal e não soltou Lula

Talis Andrade

É outro que vai para a cadeia

 

 

desvalidos justiça.jpg

por Paulo Henrique Amorim

---

 

O Conversa Afiada reproduz do Estadão trecho de entrevista de Andreza Matais com o diretor-geral da PF, Rogério Galloro:

 

Andreza Matais: (...) Recentemente, Lula mandou chamar dirigentes do PT para discutir, dentro da superintendência, a eleição presidencial. É um tratamento diferenciado?

Rogério Galloro: Não somos nós que organizamos isso (as regras para visitas), mas o juiz da Vara de Execuções Penais. O Lula está lá de visita, de favor. Nas nossas novas superintendências não vão ter mais custódia. No Paraná, não vamos mexer agora. Só depois da Lava Jato.

 

AM: O sr. conversou com o ex-presidente na prisão?

RG:Eu estive na superintendência, mas não fui vê-lo. É um simbolismo muito ruim. O segundo momento tenso para a PF envolveu a ordem de soltar Lula dada pelo desembargador Rogério Favreto e a contraordem de Moro e dos desembargadores Gebran Neto e Thompson Flores, do TRF-4. Eu estava no Park Shopping, em Brasília, dei uma mordida no sanduíche, toca o telefone. Avisei para a minha mulher: ‘Acabou o passeio’.

 

AM: Em algum momento a PF pensou em soltar o ex-presidente?

RG: Diante das divergências, decidimos fazer a nossa interpretação. Concluímos que iríamos cumprir a decisão do plantonista do TRF-4. Falei para o ministro Raul Jungmann (Segurança Pública): ‘Ministro, nós vamos soltar’. Em seguida, a (procuradora-geral da República) Raquel Dodge me ligou e disse que estava protocolando no STJ (Superior Tribunal de Justiça) contra a soltura. ‘E agora?’ Depois foi o (presidente do TRF-4) Thompson (Flores) quem nos ligou. ‘Eu estou determinando, não soltem’. O telefonema dele veio antes de expirar uma hora. Valeu o telefonema.

(...)

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