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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

22
Jan24

OS BÓIAS-FRIAS

Talis Andrade

 

 

                         1

                         (O Recrutamento)

                         Nas carrocerias de velhos caminhões

                         os bóias-frias são despachados

                         para longínquas terras

                         Vão trabalhar por alguns trocados

                         no cultivo dos latifúndios

 

                         Os bóias-frias jamais verão os rostos             

                         ou conhecerão os nomes dos patrões

                         Os bóias-frias inclusive ignoram

                         o itinerário dos caminhões

 

                        2

                        (O Acampamento)

                        A fome

                        remoendo as tripas

                        e no peito

                        a roncadeira

 

                        A tosse

                        corta o silêncio

 

                       A tosse

                       a tosse

                       úmido pássaro

                       das madrugadas

 

                      3

                      (A Resignação)

                      Como odiar um inimigo

                      de desconhecido nome

                                             escondido

                                             rosto           

                     Como enfrentar um comando

                     a agir por trás dos biombos

                                           das sociedades anônimas

                    Como discordar das ordens de serviço

                                           que vêm além dos mares

                                           além dos ares

                                           de insuspeitos lugares

                    Como exigir do companheiro

                    a revolta a luta

                    se a cotidiana ambição constitui

                                               um pedaço de pão

                    e depois dormir dormir

                    a rede estendida

                                              navegando a escuridão

 

                    4

                    (O Eito)

                     Antes de aparecer o sol

                     manso gado

                     embarcado pelos traficantes

                                                           de escravos

                     os bóias-frias seguirão

                     com a docilidade da sujeição

                     de um animal ao seu dono

                     por desconhecidas trilhas

                     - os caminhos sem termo

                     do sofrer eterno

                     no fogo seco

                     no fogo grego

                     do inferno

 

                     Vastos os caminhos

                     da fome e solidão

                     Vastos os caminhos

                     que temos de arar

                     quando se nasce

                     na servidão

 

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livro o enforcado da rainha, trajos do medo, talis andrade

fotografia sérgio carvalho

29
Jul23

Quase 800 indígenas foram assassinados durante governo Bolsonaro

Talis Andrade

genocidio amazonia morte índio.jpeg

 

Documento do Conselho Indigenista Missionário quer Comissão da Verdade para investigar mortes e conflitos armados


Bruna Bronoski

Agëncia Pública


* Maioria das mortes foi no Mato Grosso do Sul, Amazonas e Roraima
* No Mato Grosso do Sul, documento registra indígenas comendo lixo

 

Ao sair para buscar lenha numa fazenda vizinha à reserva de Taquaperi, no Mato Grosso do Sul, um jovem indígena Guarani-Kaiowá de 18 anos foi morto por cinco disparos de arma de fogo. No Amazonas, a cacique do povo Kulina denunciou o assassinato de ao menos sete indígenas das aldeias da região, entre eles o de um adolescente de 15 anos, decapitado. Em Roraima, a tentativa de assassinato de um grupo de cinco indígenas Xirixana por garimpeiros resultou na morte de uma liderança. Para fugir dos disparos, as vítimas se jogaram no rio Uraricoera. Todos os crimes ocorreram em 2022. Ao todo, quase 800 indígenas foram assassinados entre 2019 e 2022.

Os três estados citados acima — Mato Grosso do Sul, Amazonas e Roraima — são os mais letais para indígenas no Brasil, conforme o relatório anual do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), divulgado nesta quarta-feira (26) ao qual a Agência Pública teve acesso. Os dados do período de 2019 a 2022, sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), são da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e das secretarias estaduais de saúde.

Nos estados de Roraima e Amazonas, onde está a Terra Indígena Yanomami (TIY), houve 208 e 163 assassinatos de indígenas no período, respectivamente. Em terceiro lugar no ranking de mortes violentas contra indígenas aparece o Mato Grosso do Sul, com 146 casos. Juntas, as três unidades federativas foram responsáveis por 65% dos assassinatos no período. Em todo o país, foram registrados 795 homicídios nos quatro anos.

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Christian Braga/Greenpeace. No Amazonas e Roraima, onde está a Terra Yanomami, foram registrados 371 assassinatos de indígenas

 

As mortes por assassinato não são a única causa de extermínio indígena. Invasão de terras, negligência ou negativa de assistência médica, redução de verba pública para órgãos de proteção, racismo, ameaças e violência física e sexual são causas apontadas para o extermínio de indígenas. Outro ponto levantado pelo relatório é a falta de políticas públicas contra o suicídio.

O documento também pontua a necessidade de criação de uma Comissão Nacional Indígena da Verdade (CNIV), a exemplo da comissão instalada para investigar crimes da ditadura civil-militar brasileira.

 

Governo negligencia fome, doenças e mortes evitáveis

 

O governo Bolsonaro não demarcou nenhum centímetro de Terra Indígena no Brasil, como prometido antes da posse. Sua política indigenista é considerada “genocida” e promotora da “naturalização da morte indígena”. O governo Bolsonaro foi o primeiro desde a redemocratização a não homologar nenhuma TI, o que, para o CIMI, contribuiu para a desassistência à saúde e à morte indígena.

O relatório indica que, sem a demarcação de suas áreas, há grupos que não possuem terras ou águas suficientes para produzir os próprios alimentos. Eles ficam assim dependentes de políticas de assistência social.

O cerco, segundo o relatório, ocorreu dos dois lados sob o governo Bolsonaro. De um lado, não houve andamento dos estudos de Grupos Técnicos (GTs) da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), nem daqueles criados por determinação judicial, para que qualquer território indígena reivindicado fosse reconhecido no Brasil. De outro, o governo federal interrompeu o fornecimento de cestas básicas entre agosto e dezembro de 2022, antes e depois do período eleitoral, entre outras desassistências.

Segundo o documento, ao menos 800 indígenas das etnias Avá-Guarani, do oeste do Paraná, e Mbya Guarani, do Rio Grande Sul, vivenciaram situações de fome, principalmente entre crianças. Segundo o CIMI, os “espaços diminutos” em que vivem impedem qualquer forma de sobrevivência pela terra. 

Em Dourados (MS), houve registros de indígenas se alimentando de lixo para comer. O relatório traz o depoimento da liderança indígena Erileide Domingos, da aldeia Guyraroka, que denunciou o caso à Organização das Nações Unidas em agosto de 2022. “A fome é resultado da desorientação do Estado brasileiro. É muita falta de piedade com o outro, de olhar os pobres, sem condições, sem emprego, sem possibilidade de plantar, não conseguimos produzir nada, não conseguimos ser ninguém”, relata Erileide no documento.

 

Omissão na saúde matou mais de três mil crianças indígenas, diz relatório

 

A omissão na área da saúde é outro ponto que levou à morte centenas de indígenas em todo o país.

Mais de 3.550 crianças de até 4 anos de idade morreram entre 2019 e 2022 em territórios indígenas. Os estados de Roraima e Amazonas carregam a maior quantidade de casos, desta vez seguidos pelo Mato Grosso. 

Uma em cada três mortes infantis registradas pela Sesai eram evitáveis, conforme análise de dados do CIMI a partir da Nota Técnica do Ministério da Saúde. Falta de acompanhamento da gestação, casos de gripe e pneumonia, desnutrição, diarreias e doenças infecciosas tratáveis estão entre os motivos que evitaram que 1.504 crianças pudessem chegar à fase adulta.

Para o CIMI, a desassistência médica é fator diretamente ligado à política indigenista empregada pelo governo federal nos últimos quatro anos. O caso de maior repercussão foi a falta de acesso às políticas públicas de saúde por parte dos indígenas Yanomami, denunciado pela Pública em diversas reportagens. O Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Ye’kwana (Dsei-YY) registrou, só em 2022, 134 mortes de crianças entre 0 a 4 anos.

Na TI Yanomami, a invasão do garimpo estrangula serviços públicos indigenistas, entre eles os de saúde, denuncia a Hutukara Associação Yanomami (HAY) no relatório. “A captura da estrutura de saúde por garimpeiros gerou uma situação de desassistência generalizada no território”, afirma o documento sobre os postos de saúde que fecharam no território pela sensação de insegurança com a presença da atividade ilegal e armada.

 

Governo atrasou vacina e não reforçou políticas para prevenir o suicídio

 

Entre os adultos, a maior quantidade de mortes foi no Mato Grosso, com 136 casos. Entre as causas estão o atraso da chegada da vacina aos territórios, estadias em más condições quando grupos de indígenas se dirigem aos centros urbanos em busca de serviços, infecções gastrointestinais causadas por poluição da água, consumo de agrotóxicos pela água, entre outros.

Se crianças e adultos indígenas morrem por desassistência médica, a omissão estatal entre os jovens indígenas ocorre pela falta de outra política pública: a de prevenção ao suicídio. Novamente, estados já citados em outras estatísticas negativas lideram a causa da morte por suicídio entre indígenas. A cada cinco registros no quadriênio 2019-2022, dois ocorreram no estado do Amazonas e um no Mato Grosso do Sul. Ao todo, 535 indígenas tiraram a própria vida no período. Destes, 35% eram jovens menores de 19 anos.

 

Destruição de bens indígenas

 

O Conselho das Aldeias Wajãpi-Apina denunciou, em fevereiro de 2022, a poluição dos rios pela invasão garimpeira na Terra Indígena (TI) Waiãpi, no Amapá: “Fotos e vídeos de várias aldeias mostram as águas com muita lama e como dependemos dos rios para beber água e tomar banho, isto gerou muita preocupação para os nossos chefes e famílias.”

O registro afirma que os garimpeiros provocam danos aos bens naturais essenciais que afetam o modo de vida indígena no entorno e dentro da TI.

Mais ao oeste, outro caso de invasão ao maior patrimônio indígena, a floresta. A autorização para abrir um ramal dentro da TI Jaminawá/Iguarapé Preto, ligando dois municípios, partiu do Instituto de Meio Ambiente do Acre. Por se tratar de Terra Indígena, o licenciamento ambiental da obra deveria passar pelo órgão federal competente, o Ibama, e não pelos órgãos estaduais.

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Hellen Loures/CimiHellen Loures/Cimi. Relatório denuncia impactos de desmatamento, criação de gado, agrotóxicos e obras de infraestruturas nas terras indígenas

 

A lista de danos aos territórios, demarcados ou não, é grande. Construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), criação de gado, arrendamento de terras, uso de agrotóxicos, construção de presídios estaduais e federais, desmatamento de área sagrada, contaminação das águas e animais por mercúrio, loteamento e outras formas de invasão e destruição ao patrimônio indígena ocupam algumas páginas do relatório.

As maiores estatísticas ocorreram com casos de desmatamento, registrados em 74 TIs, segundo dados do Prodes. Em seguida, aparece a extração ilegal de madeira, areia, castanha e outros recursos naturais, com 65 ocorrências. Já as atividades ilegais de garimpo e mineração, assim como a de caça e pesca ilegais, atingiram, cada uma, ao menos 45 TIs, segundo o relatório. Uma TI pode constar em um, dois ou mais tipos de ocorrência.

De acordo com o CIMI, os danos ao patrimônio indígena têm como consequência o aumento de conflitos por direitos territoriais. O assassinato do jovem Guarani-Kaiowá com cinco disparos de arma de fogo que abre esta reportagem foi seguido de conflitos por território. 

O documento relembra que o crime incitou ações de retomada indígena, como são chamadas as manifestações e acampamentos para reivindicar uma área ancestral. Conforme documenta o CIMI, as manifestações no município de Coronel Sapucaia (MS) foram “reprimidas com violentas e ilegais operações policiais e emboscadas contra lideranças, que deixaram mortos e feridos”.

 

Sinal “verde” para violar direitos

 

Nomeado em julho de 2019 para presidir a Funai e exonerado só no penúltimo dia do governo Bolsonaro, em 29 de dezembro de 2022, o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier defendeu um ex-coordenador regional da fundação em Mato Grosso do Sul, preso por operação da PF pelo envolvimento no esquema de arrendamento de Terras Indígenas e cobrança de propina para aluguel de pastos. O ex-presidente da Funai disse, em ligação interceptada pela PF, que estava tentando intervir nas investigações que incriminavam o ex-servidor.

“As ações e discursos do governo federal e da Funai, sob a presidência de Marcelo Xavier, serviram como sinalizações que criaram nos invasores a expectativa de que suas posses ilegais dentro de terras indígenas seriam legalizadas em breve”, destaca o CIMI sobre as tentativas de Xavier, via normativas da Funai, de legalizar o garimpo e a extração de madeira em TIs.

O governo agiu em diversas frentes contra os direitos indígenas, aponta o CIMI. Na pasta da Justiça sob Bolsonaro, o então ministro Sérgio Moro definiu, com base da tese do marco temporal, uma relação de áreas indígenas que poderiam ser demarcadas. Proposta pela bancada ruralista, a tese retiraria amplamente os direitos indígenas, afirmam os povos originários e especialistas.

28
Jul23

Ditadura militar contribuiu para genocídio dos povos indígenas. Bolsonaro antropófago

Talis Andrade
Qual é a natureza da relação Moro-Bolsonaro?

O projeto antropofágico de encontro pela deglutição se esgotou na torrente de atrocidades do governo Bolsonaro. Está difícil coletar, digerir e incorporar o tecido necrosado do noticiário semanal. Doravante, aqui: mais imagens, adivinhas e mensagens crípticas. Por Gavin Adams

 

É possível ver semelhanças entre os Anos de Chumbo e o governo passado

Por Gésio Passos

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Devastação, violência, fome, doenças e morte de milhares de indígenas yanomami em sua terra, em Roraima. Esse foi o retrato do Brasil no período da ditadura militar. Além da tortura, censura e assassinato de milhares nas cidades e no campo, a ditadura causou um genocídio entre os povos indígenas brasileiros.

O relatório da Comissão Nacional da Verdade, finalizado em 2014, indica que, apenas na investigação de dez povos, foram estimadas mais de 8 mil mortes decorrentes do governo militar. No caso do povo yanomami, segundo a comissão, não há um número oficial de mortos, mas se estima que chegue aos milhares.

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, Davi Kopenawa, líder yanomami, relembrou o descaso do governo durante a realização de grandes obras. Segundo a liderança, as estradas abriram caminho para os invasores garimpeiros e fazendeiros.

“Eu não sabia que o governo vinha deixar estrada na terra yanomami. [A autoridade] não avisou antes de destruir o nosso meio ambiente, antes de matar o nosso povo yanomami. A estrada é o caminho de invasores garimpeiros, fazendeiros, pescadores e caçadores”.

A tomada das terras indígenas para ampliação da fronteira agrícola e para exploração mineral e de energia foi um dos eixos do Plano de Integração Nacional dos militares. No caso dos yanomami, a destruição veio primeiro com a construção da rodovia Perimetral, a BR-210, que liga os estados do Amapá, Amazonas, Pará e de Roraima.

Já na década de 1980, a situação se agravou com a invasão de cerca de 40 mil garimpeiros na região. Uma campanha internacional exigiu que a ditadura fosse responsabilizada pelo genocídio yanomami. O Brasil foi denunciado em várias esferas internacionais, como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A Terra Indígena Yanomami só foi demarcada após muita pressão, em 1992.

Marcelo Zelic, membro da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo e colaborador da Comissão da Verdade, afirma que a estratégia entre o governo dos militares e o governo Jair Bolsonaro, também com forte presença de representantes das Forças Armadas, foram similares. Expulsão dos territórios e falta de assistência de saúde, que levaram à dizimação do povo indígena.

“A saúde indígena foi utilizada como uma arma, uma estratégia de ocupação territorial pelo enfraquecimento da saúde das comunidades. Isso é um crime bárbaro, contra a humanidade. É o uso da saúde como essa ferramenta. Isso é parte da cartilha que aparece quando você olha os documentos do passado”.

Zelic ainda acrescenta que nos dois momentos políticos, a falta do Estado nos territórios contribuiu para o aumento da violência contra os povos originários. “Quando você tem então um governo que estimula o garimpo, que enfraquece a presença do Estado nos territórios, que cria portarias que desestruturam o direito indígena, facilitando a penetração e invasão dos territórios, você tem essa repetição de uma fama acintosa. E uma repetição que promoveu o volume de violência muito grande no Brasil contra os povos indígenas desde 2019 [até] 2022”.

Em janeiro deste ano, o governo decretou emergência federal na Terra Indígena Yanomami. A medida resultou na expulsão de milhares de garimpeiros invasores, além de atendimento médico e ações contra a fome que afligia a população. Só em 2023, 53 mortes foram registradas entre os yanomami.

A Comissão Nacional da Verdade, em seu relatório final, apresentou 13 recomendações relacionadas aos povos indígenas. Entre elas, um pedido público de desculpas do Estado brasileiro aos indígenas pela tomada de suas terras e demais violações de direitos humanos, além da instalação de uma Comissão Indígena da Verdade.

Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, a pasta ainda está sendo estruturada para retomada das discussões sobre essa Comissão.

14
Jul23

As 4 bestas do apocalipse de Bolsonaro (segunda parte)

Talis Andrade

cavaleiros apocalipse.jpg

 

Jair Bolsonaro foi um governo da fome, da peste (vide aqui verbetes).

E da guerra e da morte.

 

A morte. O jornalista Ricardo Noblat historiou:

Bolsonaro acreditou que a economia iria pelos ares e, com ela, seu governo, se combatesse a pandemia como Mandetta pedia. Então, preferiu associar-se à morte. Foram mais de 700 mil.

Se desejasse apenas se reeleger, não partiria para o confronto sangrento com a Justiça. O ápice foi no 7 de setembro de 2021, em comício na Avenida Paulista, quando ele explodiu:

“Acabou o tempo dele. Alexandre de Moraes: deixa de ser canalha. Eu quero dizer que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente nunca mais cumprirá. A paciência do nosso povo se esgotou. Ele tem tempo ainda de pedir seu boné e cuidar de sua vida. Ele para nós não existe mais.”   

Em live nas redes sociais, desafiou o ministro:

“Tu está (sic) pensando o quê da vida, que você pode tudo? E tudo bem? Você um dia vai dar uma canetada e me prender? É isso que passa pela tua cabeça?”

Quem quer pegar galinha não diz xô. A galinha dos ovos de ouro de Bolsonaro não era a reeleição, mas o golpe. Em legítima defesa do país e dela mesma, a Justiça decretou: “Chega! Basta! Fora!”

E Noblat finaliza: 

O imexível e imbrochável capitão de fancaria acabou castrado, tornando-se também inelegível. Falta a canetada. Que não será uma canetada, mas um julgamento que obedeça aos ritos da lei.

É assim nas democracias que não são relativas, mas de verdade.

O que se pretendia com a invasao e a quebradeira de 8 janeiro em Brasilia senao uma resposta sangrenta da policia estadual do DF e das policias federais e das Forças Armadas. Bastaria uma morte para ser a bandeira do confronto, da guerra civil, pretendida na noite de vandalismo do dia 12, ou a explosao de uma bomba no Aeroporto de Brasilia com milhares e milhares de morte. (continua)

12
Jul23

Mais de 21 milhões de brasileiros passaram fome severa em 2022, diz relatório da ONU

Talis Andrade

pão.jpg

EFEITO BOLSONARO

 

Relatório de cinco agências da ONU indica que a quantidade de brasileiros que enfrenta algum tipo de insegurança alimentar alcançou a marca de 70,3 milhões. O número se refere ao período de 2020 a 2022, ano de programas eleitorais de auxílios que consumiram bilhões para trocar votos por alguns trocados. Houve aumento de 14,6% em relação ao último levantamento da entidade, quando havia 61,3 milhões nessa situação.

Os dados ainda revelam que desse total, 21,1 milhões, ou seja, 9,9% da população brasileira, possui insegurança alimentar severa. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo, e portal Brasil 2447.

Para ofertar pão e circo (motociata, cavalgada, cantores sertanejos via prefeitos etc) foi criado um orçamento secreto, a pec das bondades ou pec do desespero eleitoral, ou ainda a pec do teto ou hímen complacente. Bilhões e mais bilhões gastos, e o povo com fome, e o povo sem agua, inclusive os índios - agua potável negada pela ministra Damares Alves - na Floresta dos rios envenenados. 

Leia abaixo reportagem da Télam sobre a situação da fome na América do Sul: 

O número de pessoas que sofrem com a fome no mundo se estabilizou em 2022 após sete anos de alta, representando um "avanço modesto" na América do Sul, uma das regiões que registrou um dos maiores progressos contra esse flagelo no último ano, de acordo com cinco agências da ONU que alertaram que ainda é "inatingível" cumprir a meta de alcançar a segurança alimentar no planeta até 2030.

O relatório alertou que cerca de 735 milhões de pessoas passaram fome naquele ano, o que equivale a 9,2% da população mundial. Os autores do relatório incluem a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Apesar do crescimento contínuo desde 2015, o número se estabilizou e até mesmo registrou uma ligeira queda, com 3,8 milhões de pessoas a menos em comparação com 2021.

A América Latina obteve avanços no combate à fome, exceto na região do Caribe, onde a situação se agravou. O relatório também aponta para o aumento da desnutrição crônica na Ásia Ocidental e na África, conforme divulgado pela agência de notícias AFP, que também mencionou a participação do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), do Programa Mundial de Alimentos (PAM) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) no documento.

O relatório anual sobre o estado da segurança alimentar e nutricional no mundo especifica que, na África, uma em cada cinco pessoas sofre de desnutrição crônica.

O documento retrata um "instantâneo de um mundo ainda se recuperando de uma pandemia global e agora enfrentando as consequências da guerra na Ucrânia, que agitou ainda mais os mercados de alimentos e energia", de acordo com o relatório.

Desde 2019, essas duas crises adicionaram 122 milhões de pessoas ao mapa da fome.

Embora a recuperação econômica após a pandemia tenha melhorado a situação, "não há dúvida de que esse progresso modesto foi prejudicado pelo aumento dos preços dos alimentos e da energia, amplificado pela guerra na Ucrânia" que eclodiu em 24 de fevereiro do ano passado, especificou o relatório.

O relatório adverte que, sem esforços mais bem direcionados, a meta de "acabar com a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição em todas as suas formas até 2030 permanecerá fora de alcance".

Na América Latina e no Caribe, a prevalência da desnutrição - o indicador que mede a fome - caiu de 7% em 2021 para 6,5% em 2022, o que representou uma redução de 2,4 milhões no número de pessoas que passam fome.

No entanto, essa redução é explicada pela evolução na América do Sul (de 7% para 6,1%), enquanto o Caribe registrou um aumento notável de 14,7% em 2021 para 16,3% em 2022. Se o progresso continuar nesse ritmo, cerca de 600 milhões de pessoas ainda podem sofrer com a fome em 2030, principalmente na África.

Isso representa "cerca de 119 milhões de pessoas a mais do que se nem a pandemia de Covid-19 nem a guerra na Ucrânia tivessem ocorrido", afirmaram as agências da ONU.

Os principais fatores de insegurança alimentar - conflitos, contração econômica e catástrofes climáticas - e as desigualdades recentes se tornaram um "novo normal", destacaram.

Álvaro Lario, presidente do FIDA, apontou a falta de investimento e "vontade política para implementar soluções em larga escala".

Cindy McCain, diretora-executiva do PAM, alertou que a fome está aumentando "ao mesmo tempo em que os recursos necessários para proteger os mais vulneráveis estão sendo perigosamente reduzidos".

Assim como no ano anterior, em 2022, 2,4 bilhões de pessoas sofriam de insegurança alimentar aguda ou moderada. Ou seja, três em cada dez pessoas não tinham acesso à alimentação adequada.

Por outro lado, a capacidade das populações de acessar alimentos saudáveis se deteriorou em todo o mundo, devido ao impacto prolongado da pandemia nas economias e ao aumento dos preços dos alimentos, ressaltou a ONU.

Mais de 3,1 bilhões de pessoas não puderam pagar por uma dieta balanceada em 2022, levando à desnutrição, deficiências ou obesidade.

12
Jun23

Prefeito de Campinas Dário Saadi constrói 'casa' popular de apenas 15m²

Talis Andrade

Mente doentia inimiga do pobre criou novo tipo da casa popular para o coitado do vivente morrer de fome frio no inverno e de fome e calor no verao e treinar para viver na cadeia quando vingar a ditadura de Bolsonaro com a rainha Ester 

 

Prefeito bolsonarista dos Republicanos esconde o custo da cada caixao de tijolos, que apelidou de descanso. Arquitetos dizem o monto contraria diretriz da ONU. Especialistas da USP e Unicamp chamam o forno de "inaceitável" para uma vida e morte Severina

 

A construção de casas populares em Campinas está em desacordo com as diretrizes da ONU para habitação adequada. O governo municipal está construindo 116 moradias de 15 m², com apenas um cômodo e um banheiro, para abrigar 450 pessoas no Residencial Mandela, no distrito do Ouro Verde. Essas pessoas atualmente vivem em áreas de risco e ocupações. O projeto custa R$ 6 milhões. O prefeito Dario Saadi esconde o pre₢o de cada casita. 

Reportagem do portal O Vale destaca que, de acordo com a ONU Habitat, uma moradia é considerada adequada quando até três pessoas compartilham um quarto habitável com uma área mínima de 9 m², além de espaços como cozinha e banheiro. Um cômodo tão pequeno compromete a saúde e o bem-estar dos moradores. No entanto, as casas em Campinas abrigarão, em média, 3,8 pessoas, chegando a ter famílias com até sete pessoas. Arquitetos consultados pela reportagem afirmam que as casas em Campinas comportam apenas uma pessoa, contrariando a determinação do órgão internacional.

As casas em Campinas têm o tamanho de uma van e não permitem que duas pessoas deitem lado a lado. Com apenas 15 m², elas representam menos da metade do tamanho minimo permitido das moradias do programa Minha Casa Minha Vida do governo federal.

As republicanas casas em Campinas não permitem que duas pessoas deitem lado a lado. Dizem que assim foram idealizadas pela senadora Damares Alves para evitar acasalamentos 
01
Mai23

O ‘equilíbrio fiscal’, exigido pelo BC e a casa-grande da Faria Lima, é profundamente escravista

Talis Andrade
 
 
Imagem
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e aquarela intitulada ''Proprietário sendo conduzido pela cidade numa liteira'', de Jean-Baptiste Debret (1768-1848). Obra que poderia ter um segundo titulo: Escravos transportando o seu senhor em passeio no Rio de Janeiro. Fotos: Marcos Oliveira/Agência Senado, Museu Museu Histórico Nacional, RJ e Marcio Vaccari, Twitter
 
 

A atualidade do combate ao escravismo

“Os exemplos brasileiros mostram que você tem que colocar o país em recessão para recuperar a credibilidade” – Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central

 

Por Roberto Amaral /Pedro Amaral /VIOMUNDO

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Chegamos ao terceiro milênio do que conhecemos como mundo civilizado, quinhentos anos de terra, natureza e homens depredados, dois séculos de país independente, ainda em busca da dignidade: em 2023 navegamos na periferia do capitalismo a cujo anti-humanismo intrínseco acrescentamos a miséria de brutal concentração de renda e riqueza, ou seja, de desemprego e fome, uma espécie de escravismo em plena revolução tecnológica.

Somos campeões de desigualdade mesmo entre os mais pobres: 1% dos brasileiros mais ricos controla 31% da riqueza nacional. O Brasil é o segundo país com maiores desigualdades dentre os membros do G20 (o primeiro é a África do Sul).

A renda média nacional de nossa população adulta é R$ 43,7 mil, sendo que os 10% mais ricos, com renda de R$ 253,9, são donos de 58,6% da renda total do país (dados do World Inequality Lab).

Aqui a classe dominante festeja o desemprego, e um Banco Central autônomo em face dos interesses nacionais combate o desenvolvimento impondo ao país uma taxa de juros que sufoca a atividade produtiva, ao tempo que atribui a persistência inflacionária à queda das taxas de desemprego e aos reajustes salariais, que abjura.

Quando o Banco Central aumenta os juros, seu objetivo claro é reduzir os investimentos produtivos (aqueles que criam emprego e fazem girar a economia) e, na sequência, o consumo das famílias (cujo poder de compra cai), criando um círculo vicioso que termina por promover a recessão, como, aliás, vimos no experimento do ministro Joaquim Levy em 2015.

A chamada “autoridade monetária”, dispensada de prestar satisfações à sociedade, usa a ociosidade mórbida da economia, de particular o freio na já agônica atividade industrial, como medida anti-inflacionária e lamenta (lamenta o BC e lamenta a Faria Lima) que o desemprego tenha caído menos que o projetado, e que menos que o projetado tenha caído o consumo das famílias, adiando a recessão também projetada.

O cenário, no curto e no médio prazos – os tempos que nos interessam, pois no longo prazo todos estaremos mortos, como lembrava o esquecido Lord Keynes – é o encontro da recessão com a política contracionista imposta pelo Banco Central, com seu rol inefável de perversidades: retração da economia, concentração de renda, desemprego e fome.

No segundo ou terceiro maior produtor de alimentos mundo, nada menos que 61 milhões de pessoas passaram dificuldades para se alimentar em 2022, nada menos que 33,1 milhões não têm garantido o que comer (dados do Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar).

Nosso país, sob o reino do agronegócio, está, desde 2018, de volta ao Mapa da Fome.

Burocratas, empresários e prepostos de empresários e banqueiros pensam em uníssono (todos estudaram nas cartilhas da Escola de Chicago traduzidas pela Fundação Getúlio Vargas), e chegam às mesmas conclusões, porque em suas equações não há espaço para o elemento humano.

Samuel Pessôa, escrevendo em julho de 2015 (“Luzes no final do túnel”) e comentando relatório do IBGE, comemora a queda dos rendimentos dos trabalhadores como fator deflacionário:

“A boa notícia foi a queda de 5% do rendimento médio real. (…) A ´boa notícia`, portanto, foi que os salários nominais têm crescido a taxas cada vez menores (…)”.

Já em nossos dias, o Valor (24/4/2023), em coluna assinada pelo repórter Alex Ribeiro, registra que a inflação não cai, apesar da política de juros altos, porque “a taxa de desemprego não vem subindo, até agora, da forma esperada e os reajustes de salários estão mais fortes do que o Banco Central antecipava”.

O governo se empenha na promoção de emprego e renda, o Banco Central se empenha em gerar desemprego.

O governo precisa investir para promover o desenvolvimento econômico; o BC, expressando a vontade da Faria Lima, cobra a redução de gastos e impõe o “equilíbrio fiscal” – e, assim, e a um só tempo, desorganiza a produção, promove o desemprego e reduz o poder de compra da população.

Confessadamente persegue a recessão e já nos deixa próximos do casamento da estagnação com a inflação.

Segunda maior concentração de renda do planeta, convivemos com a maior taxa de juros reais: 9,1%, contra -0,7% do Canadá, 0% dos EUA, 4,4% do México, 2,2% da França, -4,2% da Itália, 4% da Rússia em guerra, 2,9% da China, -4,2% da Turquia e -3,2% do Japão (fonte: https://tradingeconomics.com/).

Nada obstante a realidade, o presidente do BC reafirma que a meta da instituição é combater a inflação mediante a elevação dos juros, e sua vontade é, nas circunstâncias, imperial.

Mas ainda não é tudo, porque a casa-grande é insaciável.

Impõe o culto do ajuste fiscal, mantra do monetarismo que conquista almas à direita e à esquerda, sem necessidade de demonstração.

Assim não se discute, nem no governo nem no Congresso, e muito menos na academia e nos sindicatos, o caráter do modelo econômico que nos é imposto pelo grande capital – sem que tenha por trás de si o amparo da soberania popular que é o arrimo do mandato do presidente Lula, a quem é imposto um modelo de país e de economia que nega o pronunciamento eleitoral do dia 30 de outubro do ano passado.

E nega, acima de tudo, as necessidades de desenvolvimento do país, que requer gastos, investimentos em infraestrutura e saneamento, em saúde, em educação, ciência e tecnologia, além de incentivos à necessária e urgente recuperação da indústria manufatureira.

O país, inerme, não se dá conta dessa violência contra a soberania popular e as bases da democracia representativa, que é a usurpação do poder pelo Banco Central.

A esquerda de um modo geral absorveu o discurso do “equilíbrio fiscal” defendido pelos donos do poder.

Trata-se de um modelo verdadeiramente de fundo escravista, revela o ranço da casa-grande: um modelo baseado na manutenção de baixa atividade econômica, elevado desemprego e achatamento dos salários, tudo para garantir as taxas de lucro do capital.

É o desespero do pobre que garante o “equilíbrio” exigido pelos donos do poder.

Abandonada a alternativa industrial-desenvolvimentista, pela qual oportunamente optaram as grandes potências de hoje, somos, lembrando a origem colonial, uma grande província agroexportadora das commodities requeridas pelo chamado “ primeiro mundo”.

Os principais produtos comercializados pelo Brasil no último ano foram soja (14%), óleos brutos de petróleo ou de minérios betuminosos, óleos crus (13%) e minério de ferro in natura e seus concentrados (8,6%), reforçando o setor primário como protagonista da economia do país (https://www.domaniconsultoria.com). No terceiro milênio como na colônia, no império e na república velha.

Padecemos os males essenciais do capitalismo e contribuímos com a iniquidade de monstruosa desigualdade de renda, que aumenta a pobreza e aprofunda o atraso, na mesma medida em que concentra o poder nas mãos de uma minoria mínima de biliardários desvinculados da produção de riquezas e da geração de emprego.

Nossa burguesia, isto é, a burguesia aqui instalada, se conforma como procuradora da banca internacional.

Naturalizamos a violência em todos os modelos imagináveis, desde o genocídio das populações nativas (recentemente reavivado pelo bolsonarismo), e o escravismo, larvar, ostensivo, da colônia e do império, até, na modernidade capitalista, as mais variadas formas de trabalho análogo à escravidão.

Não me refiro apenas às formas clássicas de exploração do trabalho humano no campo, a corveia, a meação, a exploração do agregado, do morador.

Mas já a formas de espoliação que a imprensa identifica como “similares à escravidão” encontradas nas modernas vinícolas do Sul desenvolvido de hoje.

A herança escravagista e colonial, a ocupação predatória da natureza e dos homens na terra achada, são essenciais na moldagem da sociedade brasileira de nossos dias, exacerbadamente excludente, mas não encerram a história toda.

É preciso ter sempre em conta o papel crucial desempenhado pela classe dominante aportada e aqui criada.

A renúncia a um projeto próprio de sociedade, a opção consciente pelo atraso, pelo agrarismo e pela dependência econômica, política e cultural, o império autoritário e a república sereníssima, sem povo, obra de nossas elites, são essenciais na moldagem da história presente.

Coloca-se para o governo de centro-esquerda a resistência, e para os socialistas a denúncia do modelo político-econômico que aí está.

O modelo capitalista vigente, que, de um lado, exige a expansão da fronteira agrícola para garantir superávits das exportações no mercado global; de outro, tem como pré-condição a produção crescente de pobreza e miséria (pilar do “equilíbrio fiscal”), o que, por exemplo, empurra ribeirinhos e demais trabalhadores precarizados para dentro das reservas indígenas, em busca de sobrevivência – objetivo que a imensa maioria persegue.

A preservação do meio ambiente tanto quanto o combate à fome e ao desemprego está ameaçada pela simples continuidade do modelo – ainda que não tenhamos mais um facínora na presidência.

O grande tema da atualidade brasileira, neste 2023, portanto, é a abolição da escravidão.

 
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30
Abr23

É dando que se recebe

Talis Andrade

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O jogo do clientelismo político brasileiro profanou o significado da oração franciscana: cuidar da natureza e dos mais pobres

 

por Gustavo Krause

- - -

O tópico da Oração de São Francisco, a meu ver o mais belo e tocante cântico religioso, foi manipulado de forma desavergonhada para dar um torpe significado à troca de favores no jogo político do clientelismo brasileiro.

Aqui, o sentido é completamente diferente: é o chamamento para solidariedade e fraternidade humana, graves carências do nosso tempo. Padroeiro da ecologia, Giovanni Di Bernardone, (a quem o pai chamava “Francesco”), nascido em Assis, filho de família rica, desfrutou de uma vida burguesa, mundana e extravagante. Foi também um valoroso guerreiro.

O belo processo de conversão teve o testemunho de Tomas Celano, discípulo e seu primeiro hagiógrafo. Na literatura moderna foi alvo de enorme devoção de Hermann Hess a quem se referiu como o Poverello de Assis, “mensageiro e semeador divino”.

É possível que um leitor imagine que virei pregador, deixando de lado tantos temas importantes que têm levado pensadores, filósofos, estudiosos a debaterem sobre a natureza dos desafios superpostos que estamos vivendo se é ou não uma policrise. Independente da correção do conceito, o momento histórico é muito grave.

Ocorre que o Santo, fonte de inspiração do Papa Francisco, se dedicou a defender inteira e humildemente às duas causas impiedosamente fustigadas: a Natureza pelos maus tratos; aos mais pobres entre os mais pobres pela indiferença.

E o que dizemos nós diante da permanência das lições franciscanas? O que dizem os líderes políticos com a dissipação de portentosos gastos? O que dizem os tiranos em guerra com o cortejo fúnebre que geram? O que dizem os magnatas, os bilionários com seus gastos ostentosos? O que dizemos ou fazemos nós, cidadãos comuns, como membros de uma comunidade global em agonia?

Com o esgotamento da ideia de progresso como crescimento econômico a qualquer preço, nossa sobrevivência passou a depender da observância de três letras mágicas: ESG. Tirando o G (Governança) que é instrumental, ficamos diante de duas realidades: Social/Desigualdade e o Meio Ambiente que foram enxergadas, compreendidas e sentidas por São Francisco de Assis (1181-1226), como a sororidade entre os que moram sob o mesmo teto, aquecidos pela luminosidade do (irmão) Sol e encantados pelo brilho da (irmã) lua.

A salvação é transformar a solidariedade e a fraternidade em ações concretas e mobilizadoras. De fato, existem políticas públicas, políticas corporativas, iniciativas filantrópicas importantes, mas insuficientes para libertar as pessoas da forme, da sede e do universo ameaçado.

A argamassa que une uma mobilização global para enfrentar o risco da hecatombe é a disseminação de uma “a cultura da ajuda”, em grandes proporções, para enfrentar a tragédia da emergência climática e a vergonha que é a urgência da fome.

Preferi não citar nomes ou instituições e, até mesmo países, em que já se pratica algo como doar aos vivos e aos que vão nascer tudo ou quase tudo que construímos em vida. Uma espécie de contribuição voluntária ao futuro, assegurada por adequados arranjos institucionais.

Vou me olhar para avaliar se, na minha pequenez, estou dando para receber o retorno de uma consciência menos intranquila, a Natureza mais viva, e os bem-aventurados pobres abrigados no reino da dignidade humana.

15
Fev23

2021 foi ano de maior desnutrição entre crianças yanomâmi

Talis Andrade
 
 
Fome: foto de criança indígena Yanomami agonizando alerta o Brasil
 
 
 

Desnutrição ultrapassou os 50% de crianças yanomami de até 5 anos monitoradas pelo SUS

 

10
Fev23

Bolsonaro recuperou projeto da ditadura militar contra os Yanomami: mão de obra ou extinção

Talis Andrade
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Os órgãos de proteção aos indígenas foram aparelhados por militares com a intenção de favorecer o garimpo

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