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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

28
Fev23

“Não é sobre o Brasil, é sobre o mundo”: musical alemão sobre violência policial no Rio na Berlinale 2023

Talis Andrade
 
 
 
Ash Wednesday 2023 | Eventlas
 

O curta-metragem “Ash Wednesday”, uma produção alemã de alma brasileira, estreou na mostra Perspektive Deutsches Kino da 73ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Os diretores deste autêntico musical sobre violência policial, João Pedro Prado e Bárbara Santos, conversaram com a RFI na capital alemã.

 

 por Daniela Franco /RFI

A trama de “Ash Wednesday” (“Quarta-feira”, título em português) gira em torno da personagem Demétria, uma mulher negra, mãe solteira, que mora em uma favela no Rio de Janeiro. Ela aguarda a filha, Cora, voltar da escola quando se inicia uma operação policial no local.

A partir daí, Demétria é impedida de sair de casa. Bloqueada e desesperada, tenta argumentar com três personagens masculinos – o policial, o pastor e o governador – que se sentem no direito de invadir o espaço pessoal da personagem como bem entendem.

Segundo João, o objetivo era, por meio de um cenário de violência policial em uma comunidade do Rio, contar uma história épica. “Parte do filme é baseado no mito grego de Deméter e Perséfone, que contado na Antiguidade através de Romero, eram hinos. Afinal, existe algo muito forte nessa história de uma mulher que enfrenta os deuses que querem definir o destino dela e da filha, que é aquilo que a gente vê na nossa protagonista que enfrenta homens que se julgam ser deuses”, explicam.

Machismo, racismo, desigualdade social, violência policial – uma realidade comum e banalizada – que ganha uma perspectiva ainda mais impactante por meio do gênero musical. “A gente pensou em uma forma de contar essa história que não fosse realista, afinal, é impossível ser fidedigno à realidade do Rio de Janeiro, que é muito absurda. Tínhamos certeza de que não daria para contar como é de verdade, só através de um documentário. Não queríamos competir com o absurdo da realidade e o musical dá esse distanciamento”, ressalta Bárbara.

Segundo a cineasta, utilizando esse formato, o espectador é convidado a refletir sobre a complexidade da trama apresentada como um musical e não como um documentário. “O nosso maior objetivo era não banalizar essa história, era não normalizá-la. Às vezes, há filmes em que a violência é a grande estrela. Mas a gente não queria que no nosso filme a violência fosse a protagonista”, sublinha.

 

Reconstrução de um universo típico brasileiro

 

Com atores brasileiros, cantado em português, e reconstituindo um cenário típico do Brasil, “Ash Wednesday” foi inteiramente filmado em Potsdam, na Alemanha, um desafio que os dois cineastas se deram. “A gente contou com uma equipe extraordinária que tornou tudo isso possível. Fazer isso acontecer é algo que supera a nossa capacidade como diretores”, diz João. “O filme foi uma grande mistura intercultural e internacional de pessoas que trouxeram visões e experiências completamente diferentes para fazer o projeto se tornar realidade”, completa.

O cineasta não esconde o orgulho ao falar sobre sua equipe de música, que embora não conte com nenhum brasileiro, soube captar com maestria a essência do enredo. As composições vieram de um grupo formado por três alemães, uma croata e um argentino.

“Eles tiveram a tarefa de compor um funk carioca, uma percussão próxima do candomblé e da umbanda, um samba: gêneros musicais tipicamente brasileiros, com os quais eles nunca tinham trabalhado antes, mas eles estavam tão abertos a aprender, a nos ouvir e a pesquisar, que no final virou uma mistura nem só brasileira, nem alemã, mas algo muito único”.

Uma universalidade que tem relação com o tema do filme que, como lembra Bárbara, “não é só sobre o Brasil”. “É importante que a gente esteja consciente de que se trata de um problema do mundo. O avanço da direita, a normalização da violência, o sexismo e o patriarcado são problemas do mundo. Então, a gente não está só falando do Brasil, a gente está falando do mundo através dessa história particular”, enfatiza.

Por isso, segundo os dois diretores, o filme não terá dificuldade de alcançar o público da Berlinale. João lembra que o filme foi escolhido para competir na mostra Perspektive Deutsches Kino, dedicada a produções alemãs no Festival de Berlim, o que demonstra que o trabalho sensibilizou um comitê internacional.

Mas a expectativa de compartilhar o trabalho com o público brasileiro também é grande. “A gente tem visto que além de ter esse alcance intelectual de entender os conflitos que estão sendo mostrados, existe um apelo emocional muito forte. Pessoas do Rio e nossos amigos pretos que assistiram ao filme foram tocados de forma muito inesperada. Há referências que pessoas do Brasil e do Rio vão notar, mas o público alemão não necessariamente, então acreditamos que o filme ainda vai tocar em lugares mais profundos”, conclui João. 

19
Fev23

Conheça Ane Oliva, a alagoana que brilha em dois filmes brasileiros que competem na Berlinale 2023

Talis Andrade

 

A atriz alagoana Ane Oliva atua em dois filmes brasileiros que concorrem na Berlinale 2023.
A atriz alagoana Ane Oliva atua em dois filmes brasileiros que concorrem na Berlinale 2023

 

Ela tem 28 anos de carreira nas artes cênicas, mas resolveu se aventurar nas telonas há cerca de cinco anos. A atriz Ane Oliva brilha em dois concorrentes de peso que representam o Brasil na 73a edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim.

Ane Oliva na pele de Ludmilla, no curta "Infantaria", da diretora alagoana Laís Santos Araújo.
Ane Oliva na pele de Ludmilla, no curta "Infantaria", da diretora alagoana Laís Santos Araújo


por Daniella Franco /RFI

“Fiquei em estado de graça”, conta a alagoana de 46 anos que não esconde a emoção de atuar em duas produções brasileiras selecionadas para este que é um dos maiores festivais do mundo. “A Berlinale é um salto e está no desejo de todos que fazem cinema”, celebra.

A satisfação da atriz não ocorre à toa. No longa “Propriedade”, de Daniel Bandeira, Ane interpreta Sandra, uma das trabalhadoras rurais da fazenda no interior de Pernambuco que serve de cenário para a trama. “É uma mulher que tem uma força muito grande, uma determinação, um olhar crítico para aquela situação de opressão. Mas ao mesmo tempo que ela tem essa posição de enfrentamento, ela também age com ponderação”, descreve.

O trabalho de Daniel Bandeira faz sua estreia internacional neste sábado (18) na badalada mostra Panorama, levando para a capital alemã a temática de luta de classes no Brasil. A união dos personagens do longa na revolta contra a opressão foi ritmada pela coesão do elenco, segundo Ane.

Ana Oliva interpreta Sandra no longa "Propriedade", dirigido por Daniel Bandeira.
Ana Oliva interpreta Sandra no longa "Propriedade", dirigido por Daniel Bandeira

 

Já no curta “Infantaria”, da diretora alagoana Laís Santos Araújo, Ane interpreta Ludmilla, uma mãe solteira que, ao mesmo tempo em que cria um filho que idolatra o pai ausente, tem que gerenciar o dilema de uma filha de 10 anos que quer a todo custo se tornar adulta. O filme, que concorre na mostra Generation 14 Plus, também aborda o sofrimento das mulheres que não têm direito ao aborto no Brasil.

“É um assunto muito delicado, mas necessário e urgente. A Laís teve muita sutileza ao abordar esse tema difícil, tornando-o menos doloroso, através de um viés não violento. Porque a violência está na falta do direito da mulher sobre o seu próprio corpo”, salienta Ane.

 

 

Uma estrela ausente

Apesar de brilhar em dois filmes que representam o Brasil em Berlim, a alagoana não pôde vir participar presencialmente da Berlinale. Uma ausência que é resultado do estado do setor da cultura, após os anos de desmonte durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro.

“A gente andou uns passinhos para frente nos governos anteriores a essa tragédia que foi o governo Bolsonaro, iniciado pela gestão do Temer. Foi uma catástrofe para todo o setor cultural. O artista não foi apenas marginalizado, ele foi criminalizado”, aponta.

Ane classifica a ausência de políticas públicas para a área artística como uma perseguição explícita. “Não sei quantas vezes eu escutei frases que viraram slogans de bolsonaristas, como ‘acabou a mamata’, ‘acabou a lei Rouanet’. Foi um absurdo! Essa foi uma época em que eu tive que refletir não apenas sobre o que eu teria que fazer para seguir na minha profissão, mas também para aguentar aquela carga emocional”, desabafa a atriz.

No entanto, para a atriz alagoana, esse é um momento de esperança. “Acho que o governo Lula vai ter muito trabalho para reerguer tudo o que foi destruído. Mas ao mesmo tempo que levamos uma lapada com Bolsonaro, estamos muito motivados a seguir adiante, a fazer mais e mostrar que somos importantes para o desenvolvimento desse país. É uma burrice não considerar que o mundo se desenvolve a partir da cultura”, ela conclui.

 

19
Fev23

Berlinale 2023: “Propriedade”, de Daniel Bandeira, evoca thriller diário vivido por oprimidos no Brasil

Talis Andrade
A atriz Malu Galli interpreta a personagem Teresa no longa-metragem "Propriedade", de Daniel Bandeira.
A atriz Malu Galli interpreta a personagem Teresa no longa-metragem "Propriedade", de Daniel Bandeira

Racismo, desigualdade social, luta de classes: o longa dirigido e escrito por Daniel Bandeira leva problemas-chave da sociedade brasileira à 73ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Por meio de uma trama angustiante, grande concorrente da mostra Panorama, o cineasta pernambucano aborda as consequências dos séculos de opressão no país.

 

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