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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

05
Mai23

Mulherizar, indigenizar, oncificar: a linguagem que expressa a força do movimento indígena

Talis Andrade

O Acampamento Terra Livre (ATL), a principal assembleia anual dos povos indígenas do Brasil, ocorreu entre os dias 24 e 28 de abril, e foi a prova de que a política começou a ser aldeada. O verbo “aldear” foi lançado pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, ainda em 2022, para ilustrar a necessidade de alcançar as esferas de poder. Os indígenas, agora, contam com representações que nunca tiveram nos órgãos federais. Além do ministério, a presidência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) é exercida pela advogada indígena Joenia Wapichana; há um indígena, Ricardo Weibe Tapeba, à frente da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai); a Bancada do Cocar está presente na Câmara, tendo Célia Xakriabá (PSOL-MG) como protagonista.

A representatividade política dos indígenas ainda é ínfima, mas inédita. Depois de aldear, vieram outras palavras e expressões fortes, com letras garrafais projetadas nas duas torres do Congresso Nacional: mulherificar, indigenizar, oncificar. Verbos necessários, pois os confrontos com os espaços de poder são iminentes. Os slogans são gritos de guerra, como em rituais nas aldeias: “O futuro indígena é hoje”, “Sem demarcação não há democracia”, “Nunca mais um Brasil sem nós”, “Nenhuma gota de sangue a mais”, “Antes do Brasil da coroa, existia o Brasil do cocar”. Essa linguagem veio para ficar. Com seus corpos e com suas palavras, os indígenas não vão recuar.

 

MARCHA DE POVOS INDÍGENAS QUE SAIU DO ACAMPAMENTO TERRA LIVRE EM DIREÇÃO AO CONGRESSO NACIONAL, EM BRASÍLIA, COM OS CARTAZES QUE RESUMEM A LUTA INDÍGENA. NA TARDE DE QUARTA-FEIRA (26/4), OS POVOS INDÍGENAS DECRETARAM EMERGÊNCIA CLIMÁTICA. FOTO: FERNANDO MARTINHO/SUMAÚMA

A DEPUTADA FEDERAL CÉLIA XAKRIABÁ DISCURSA NA SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM À 19ª EDIÇÃO DO ACAMPAMENTO TERRA LIVRE. FOTO: MATHEUS ALVES/SUMAÚMA

 

“Nosso marco não é temporal. Nosso marco é ancestral. Podemos até ter pouco tempo de Congresso Nacional. Mas temos muito mais tempo de Brasil.”

Deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), que lidera a chamada Bancada do Cocar na Câmara dos Deputados, durante plenária no Acampamento Terra Livre, em Brasília

 

NA PRIMEIRA MARCHA QUE SAIU DO ACAMPAMENTO TERRA LIVRE 2023, EM DIREÇÃO AO CONGRESSO, OS INDÍGENAS PROTESTARAM CONTRA OS PROJETOS DE LEI QUE ATINGEM SEUS DIREITOS, OS “PLS ANTI-INDÍGENAS”. FOTO: FERNANDO MARTINHO/SUMAÚMA

CACIQUE RAONI E MULHERES DO POVO KRAHÔ DURANTE O LANÇAMENTO DA FRENTE PARLAMENTAR MISTA EM DEFESA DOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS, NO CONGRESSO NACIONAL. FOTO: MATHEUS ALVES/SUMAÚMA

 

“Vocês precisam defender os territórios para não deixar os garimpeiros entrarem neles. Me considero um tio, um avô de todos vocês. Eu participei da posse do presidente Lula. Agora quero pedir ao presidente para fortalecer os recursos financeiros para o atendimento dos povos indígenas.”

O cacique Kayapó Raoni Metuktire, um dos mais emblemáticos líderes dos indígenas brasileiros, fez questão de marcar presença no ATL no dia em que Lula assinou a demarcação de seis terras indígenas. Raoni subiu a rampa do Palácio do Planalto ao lado do presidente em sua posse, em 1º de janeiro de 2023

 

ABERTURA DA 19ª EDIÇÃO DO ACAMPAMENTO TERRA LIVRE, EM BRASÍLIA. O ATL 2023 TEVE COMO TEMA “O FUTURO INDÍGENA É HOJE. SEM DEMARCAÇÃO NÃO HÁ DEMOCRACIA!”. FOTO: FERNANDO MARTINHO/SUMAÚMA

DETALHE DE PINTURAS E COCAR INDÍGENAS NA 19ª EDIÇÃO DO ACAMPAMENTO TERRA LIVRE, EM BRASÍLIA. FOTO: FERNANDO MARTINHO/SUMAÚMA

 

“Nossa luta não é só nossa. A luta dos povos indígenas é de todos. Somos nós os corpos impactados todos os dias, somos nós que passamos por toda a violência e os impactos das mudanças climáticas.”

Juliana Kerexu, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que discursou no Acampamento Terra Livre (ATL) no dia em que o presidente Lula esteve no local

 

MULHER INDÍGENA DO POVO XOKLENG EXIBE CARTAZ COM OS DIZERES ‘MARCO TEMPORAL É GOLPE’ DURANTE A SESSÃO SOLENE NO CONGRESSO NACIONAL NO DIA DE ABERTURA DA 19ª EDIÇÃO DO ACAMPAMENTO TERRA LIVRE. FOTO: MATHEUS ALVES/SUMAÚMA

A MINISTRA SONIA GUAJAJARA (AO CENTRO), AO LADO DA DEPUTADA FEDERAL CÉLIA XAKRIABÁ E DE SILJE MUOTKA, PRESIDENTE DO PARLAMENTO SÁMI (POVO INDÍGENA DA NORUEGA), COM MARCOS XUKURU: TODOS CAMINHAM CANTANDO, DE MÃOS DADAS, PARA A SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM À 19ª EDIÇÃO DO ACAMPAMENTO TERRA LIVRE. INDÍGENAS CELEBRARAM A ENTRADA PELA PORTA DA FRENTE DO CONGRESSO NACIONAL. FOTO: MATHEUS ALVES/SUMAÚMA

 

“Por mais de 500 anos, nós, povos indígenas, sofremos as consequências de um projeto colonial que desconsiderou a nossa ciência, saberes, nossas culturas, nossas línguas, crenças e rituais. Pela primeira vez na história deste país, temos um Ministério dos Povos Indígenas na estrutura do governo federal.”

Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva

 

INDÍGENAS EXIBEM CARTAZES, DURANTE A PRIMEIRA MARCHA DO ACAMPAMENTO TERRA LIVRE 2023, COM A PAUTA DE ENFRENTAMENTO DOS PROJETOS DE LEI ANTI-INDÍGENAS QUE TRAMITAM NO CONGRESSO NACIONAL. FOTO: MATHEUS ALVES/ SUMAÚMA

VISTA AÉREA DA MARCHA DOS POVOS INDÍGENAS DO DIA 26 DE ABRIL, NA 19ª EDIÇÃO DO ACAMPAMENTO TERRA LIVRE, EM BRASÍLIA. INDÍGENAS SEGURAM FAIXA COM AS PALAVRAS DE ORDEM ‘SEM DEMARCAÇÃO NÃO HÁ DEMOCRACIA’ E ‘POVOS INDÍGENAS DECRETAM EMERGÊNCIA CLIMÁTICA’. FOTO: FERNANDO MARTINHO/SUMAÚMA

JOVENS DO POVO XAKRIABÁ CANTAM DURANTE A SESSÃO SOLENE NO CONGRESSO PARA MARCAR A ABERTURA DA 19ª EDIÇÃO DO ACAMPAMENTO TERRA LIVRE. FOTO: MATHEUS ALVES/SUMAÚMA

Revisão ortográfica (português): Elvira Gago
Tradução para o espanhol: Meritxell Almarza

Tradução para o inglês: Ana Carolina Gasonato

Edição de fotografia: Marcelo Aguilar, Mariana Greif e Pablo Albarenga

 

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23
Abr23

As crianças Munduruku que não brincam e podem estar contaminadas por mercúrio

Talis Andrade
 
Maria Leusa coordena a Associação de Mulheres Wakaborun e é ameaçada de morte por empresários do garimpo e garimpeiros devido à resistência aos invasores

- - - 

Isaías, de 11 anos, não anda, não fala e é carregado no colo pelo pai, que esculpiu em madeira uma poltrona para suprir a falta de cadeira de rodas. Os irmãos Hélio, 12, Vandir, 8, e Juliana, 5, também não andam, nem falam. Seus braços e pernas são atrofiados, e os joelhos estão inchados e com arranhões de tanto se arrastarem no chão.

Médicos, agentes de saúde e familiares buscam há anos explicação para um fenômeno que faz das aldeias habitadas pelos indígenas do povo Munduruku, na divisa entre Pará e Mato Grosso, as que mais solicitam cadeira de rodas na comparação com outras terras indígenas. Além de crianças nascidas com malformações e atrasos no desenvolvimento, adultos estão cegos e relatam tremores e fraqueza.

Valdenilson Oyoy construiu um suporte para o filho, Isaías, enquanto aguarda o envio de uma cadeira de rodas pela Sesai

 

A principal suspeita é que eles estejam sofrendo as consequências da contaminação pelo mercúrio. Com população estimada em 14 mil pessoas, os Munduruku vivem em um território invadido ilegalmente pelo garimpo de ouro desde a década de 1980. A sanha pelo minério explodiu a partir de 2016 e não encontrou resistência do governo federal na gestão de Jair Bolsonaro. Com isso, aumentou também o consumo de mercúrio, que é usado para separar o ouro de impurezas, mas descartado sem qualquer preocupação ambiental.

“A cabeça das crianças está ficando mole e as mãos assim [retorcidas]”, afirma o cacique José Edilson Akay, da aldeia Nova Trairão, dobrando os dedos da mão direita. “Cabeça mole é criança doente por mercúrio. A gente fica com medo”, explica outro cacique, Luciano Saw, da aldeia Patawazal.

Leia também: 
Exclusivo: Apple, Google, Microsoft e Amazon usaram ouro ilegal de terras indígenas brasileiras

Quem está por trás do lobby pelo garimpo ilegal de ouro nas terras dos Munduruku

Hélio, Vandir e Juliana nasceram com malformação congênita. Juliana tem dificuldade para sustentar o pescoço, Vandir tem os dedos da mão contraídos e Hélio, os pés atrofiados

 

A contaminação por mercúrio ocorre principalmente pelo consumo de peixes, base da alimentação do povo Munduruku. O metal é despejado em rios e no solo pelo garimpo, ou então é queimado e evaporado durante o processo de separação do ouro, retornando por meio de chuvas. Nas mulheres grávidas, o mercúrio ultrapassa a placenta e contamina o feto em desenvolvimento até sete vezes mais do que as outras pessoas, causando danos irreversíveis.

“Por que esse fenômeno está acontecendo com tanta intensidade e frequência aqui na região do rio Tapajós?”, questiona o médico e pesquisador da Fiocruz Paulo Basta. “Está mais evidente do que nunca que a presença do garimpo no território tem provocado alterações importantes na saúde da população”, diz ele, que coordena um estudo sobre os efeitos do mercúrio em mulheres Munduruku grávidas e em seus filhos. A equipe vai monitorar gestantes e bebês por três anos, acompanhando ao todo 250 recém-nascidos de dez aldeias diferentes.

O tempo dos Munduruku, contudo, é mais urgente que o tempo da ciência. Eles não podem esperar enquanto suas crianças adoecem com a exploração de ouro. O território é o segundo mais afetado pelo garimpo ilegal no Brasil, atrás apenas da Terra Indígena Kayapó e à frente do território Yanomami.

 

A Repórter Brasil recebeu autorização de lideranças Munduruku, durante encontro da Associação de Mulheres Wakaborun, em março, para visitar cinco aldeias do Alto Tapajós e entrevistar indígenas adoecidos e seus familiares. O nome das crianças foi alterado para preservar suas identidades.

Por uma semana, a reportagem percorreu os rios Kabitutu, Kadiriri e Tapajós acompanhada de caciques e guerreiros do povo Munduruku – ameaçados de morte pelos garimpeiros por resistirem à exploração. A cada desembarque, chamou atenção o número de pessoas com problemas motoras ou neurológicas em pequenas aldeias, como Karo Muybu, Jardim Kaburuá, Curimã, Pombal e Saw Bimuybu.

Daniel Karu (no alto), de 5 anos, é mudo. Diogo Poxo (acima), 8, também não fala, nem consegue escrever na escola. Quando tenta brincar, cai no chão

 

“É a primeira vez que uma equipe de reportagem vem aqui”, disse o agente indígena de saúde Amarildo Kaba, da aldeia Jardim Kaburuá. O próprio Amarildo sente dores que se assemelham às características da contaminação por mercúrio. “Muita cãibra nas pernas, fui ficando sem força, passou um tempo comecei a amolecer. Não descobri o que é até hoje”.

Os sintomas são semelhantes aos narrados por Josiel Poxo a respeito do filho, Diogo Poxo, 8 anos. “Ele começou a chorar e não levantou mais. Ficava contraindo as mãos e a perna foi afinando. Não conseguia brincar”, recorda o pai. O menino chegou a ficar três meses deitado o dia inteiro, mas voltou a andar. “Só que ele não consegue escrever na escola e não consegue falar. Hoje, ele até brinca, mas cai”, descreve Josiel.

Na mesma aldeia, Rosita Tawe diz que o filho, Daniel Karo, de 5 anos, não fala nada. “Tem alguma coisa na garganta que deixa ele assim”. O menino já foi atendido por um médico, mas a mãe não sabe o que provoca a mudez.

As traduções das entrevistas são feitas pelas jovens de coletivos audiovisuais Wakabourun e Daok, de diferentes regiões da Mundurukânia – como eles se referem ao território formado pelas Terras Indígenas (TIs) Sai Cinza, Munduruku, Sawre Muybu, Sawre Bap´in. Praia do Índio e Praia do Mangue no vale do rio Tapajós, que se estende do norte do Mato Grosso ao Pará.

As jovens são o braço armado – com câmeras, celulares e drones – da resistência ao garimpo. Estão produzindo um documentário sobre a contaminação por mercúrio cujo título é “Awaydip Tip Imutaxipi”, ou “A floresta doente”, em português. Não há síntese melhor.

Jovens dos coletivos audiovisuais Wakaborun e Daok denunciam a invasão do território com câmeras, celulares e drones. Estão produzindo documentário sobre a contaminação por mercúrio
 
04
Abr22

Mineradora inglesa usa polícia para intimidar apuração da ‘Repórter Brasil’

Talis Andrade

Equipe foi abordada por policiais do Brasil colônia, um deles empunhando uma metralhadora, a pedido da mineradora Brazil Iron - Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil

 

‘Brazil Iron’ chamou policiais munidos de armamento pesado para apreender imagens produzidas pela reportagem investigativa que apura a denúncia de contaminação da Chapada Diamantina

 

por Hora do Povo

A mineradora inglesa ‘Brazil Iron’, em Piatã, na Chapada Diamantina (BA), alvo de muitas críticas por parte da população residente no entorno da mineradora, chamou a polícia para apreender gravações da equipe da ‘Repórter Brasil’, que aguardava um pedido de entrevista na sede local na última segunda-feira (28).

A tentativa de intimidação da equipe ocorreu enquanto os repórteres aguardavam autorização para realizar entrevista na sede da empresa. Ao chegarem ao local, os profissionais foram levados pelo gerente de logística da Iron Brazil , Roberto Mann, a uma sala de reuniões onde havia dois executivos ingleses da empresa, quando eles justificaram as razões da entrevista e as informações que necessitavam obter. O gerente pediu que aguardassem. Tudo seguia dentro da normalidade e até café foi servido aos profissionais.Roberto Mann - Head Of Logistics - Brazil Iron | LinkedIn

Roberto Mann, capataz de gravata

Os jornalistas aguardaram por cerca de uma hora até que dois policiais, um deles empunhando uma metralhadora, entraram na sala de reunião, alegando que estavam ali a pedido da mineradora. Disseram que receberam a denúncia de que os repórteres teriam invadido a empresa nos dias anteriores – acusação que não se confirmou. A Iron Brazil também havia solicitado a apreensão das imagens produzidas pela reportagem, de acordo com os policiais.

“Os repórteres foram, surpreendentemente, pressionados pela empresa e pela PM enquanto aguardavam para ouvir o posicionamento da Brazil Iron dentro de suas instalações”, explicou Leonardo Sakamoto, diretor da Repórter Brazil. Para ele, “é uma clara tentativa de intimidação ao trabalho jornalístico, de cerceamento da liberdade de imprensa, que não pode ser aceita”, sustenta.

Como o crime não se configurou, a empresa então tentou apreender as imagens captadas. Confiscar material jornalístico é uma ação ilegal e só pode ocorrer mediante autorização judicial, o que não aconteceu. Orientados pelos advogados da organização, os repórteres Daniel Camargos e Fernando Martinho se recusaram a entregá-las. Como não houve acordo entre empresa e jornalistas, todos foram conduzidos para a delegacia, no centro da cidade, liberados algumas horas depois. [Isso tem nome: condução coercitiva. A censura mais eficaz: a prisão do jornalista. A solução final: o assassinato do jornalista]

A Brazil Iron, fundo de investimentos que detém a Oakmont Mineração, atua no país desde 2011. A companhia possui, ao todo, 24 processos de mineração de ferro e manganês, concentrados na região do município de Piatã, na Bahia. A empresa, com sede no Reino Unido, anunciou para este ano a construção de um novo ramal ferroviário. Os 120km de linha férrea serão conectados ao entroncamento da Ferrovia Integração Oeste Leste (Fiol) com a Ferrovia Centro Atlântica (FCA), em Brumado (BA), informou a Brazil Iron.

Enquanto isso, cerca de 150 famílias moradoras das comunidades quilombolas do Mocó e Bocaina, na zona rural de Piatã, localizada na Chapada Diamantina (a 558 km de Salvador), denunciam estar respirando poeira de minério de ferro devido à ação da empresa. Muitos inclusive estão deixando de plantar devido à contaminação de rios e afluentes da região, que desembocam no Rio de Contas, uma das maiores bacias hidrográficas da Bahia.

“Nós estamos respirando poeira com resíduos de pó de mineração dia e noite. As comunidades consomem a água das nascentes que estão recebendo a lama das carretas e os resíduos de pó com ferro. Algumas pessoas estão deixando de plantar suas hortaliças com medo da contaminação. Muitas vezes as plantas amanhecem com gotas pretas do pó de ferro”, contou uma moradora, que não quis se identificar por temer represálias.Brazil Iron construirá ramal ferroviário para escoar produção

Comunidades quilombolas de Piatã sofrem com impactos da mineradora Brazil Iron

 

“Tem uma nascente [do Bocaína] que é bem abaixo da mineração. Ela traz água para as pessoas que ficam mais próximas do morro. Nos períodos de chuva, desce uma lama que entra na nascente e só sai barro. Não tem condições de tomar essa água. Temos idosos com problemas respiratórios que já tiveram que ir para o hospital por causa da poeira”, disse outra moradora.

Os moradores reclamam também que além da poluição do ambiente, a comunidade tem sofrido com a poluição sonora. Quando a Brazil Iron assumiu a mineração do local, em 2108, a empresa passou a trabalhar sem interrupção, o que gera um grande barulho por causa do maquinário.

“Como eles trabalham 24 horas por dia, a quantidade de poeira é enorme, a poluição sonora é enorme. E chegou em um momento que a gente não está mais suportando”, desabafou a moradora.

Os moradores também reclamam que os veículos pesados usados pela empresa ocasionalmente obstruem as vias de acesso à comunidade e têm provocado deterioração do sistema viário da região, como é o caso do trecho da BA-148 que liga Seabra a Piatã e Rio de Contas.Comissão Pastoral da Terra - Comunidades Quilombolas de Piatã, na Bahia,  sofrem com impactos da mineradora Brazil Iron

Manifestação quilombola contida pela polícia amiga dos colonos ingleses

 

Em setembro, durante audiência no Ministério Público da Bahia para discutir os problemas, a empresa anunciou a criação de uma ouvidoria no seu website para receber as reclamações dos moradores, mas até o momento não há informações sobre alguma providência para minimizar os danos causados à população.

Assim, em outubro, cerca de 30 moradores fizeram uma manifestação na região do Tijuco, às margens da BA-148. Cartazes e panfletos foram confeccionados e distribuídos para informar e sensibilizar os trabalhadores da Brazil Iron. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a manifestação foi desproporcionalmente dissipada pela Polícia Militar, que fora informada para atuar fazer a segurança dos manifestantes.

Segundo informação da CPT-Bahia, a própria instalação da mineradora no munício suscita dúvidas quanto à legalidade, já que não houve consulta prévia, livre e informada às comunidades quilombolas, com registro na Fundação Palmares, como é indicado na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e demais instâncias já foram acionadas, mas a situação tem se arrastado por meses. Parem a devastação ambiental 

Brazilian miners up in arms as lawmakers hike iron ore, gold royalties -  MINING.COM

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