Quem lava as cuecas de Ratinho? (vídeos)
Para Ratinho mulher só serve para
costurar a calça do marido
lavar roupa
a cueca dele
lavar louça
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RFI - Com as restrições mundiais impostas pela pandemia do novo coronavírus, nenhum país fica à margem da explosão colateral de agressões machistas e o fenômeno da violência contra a mulher se agravou em todo o mundo, informa a ONU. O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu nesta quarta-feira (25), Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, que as vítimas “não fiquem sozinhas” e denunciem as agressões.
De acordo com dados da ONU Mulheres divulgados no fim de setembro, as medidas de lockdown levaram a um aumento das denúncias ou pedidos de ajuda por violência doméstica de 30% no Chipre, 33% em Singapura, 30% na França e 25% na Argentina.
Na Nigéria e na África do Sul os estupros registraram forte alta, no Peru aumentaram os desaparecimentos de mulheres, enquanto no Brasil e México os feminicídios estão em alta. Na Europa as associações que ajudam as mulheres vítimas de violência estão sobrecarregadas.
Lockdown favoreceu violência doméstica
Em todos os países, obrigados a decretar medidas de restrições aos deslocamentos para frear a propagação do vírus, as mulheres e as crianças ficaram isoladas em lares inseguros. "A residência é o local mais perigoso para as mulheres", reiteraram em abril 30 associações marroquinas, que exigiram do governo uma "resposta urgente" ao problema.
Heena, uma cozinheira de 33 anos que mora em Mumbai (Índia), afirma que se sentiu "presa em sua própria casa", com um marido desempregado, consumidor de drogas e violento. "Durante a quarentena, ele passava o dia no telefone, jogando, me batendo ou abusando de mim", contou a indiana à AFP.
Em 15 de agosto, o marido a agrediu de maneira ainda mais violenta, diante do filho de sete anos, e a expulsou de casa durante a madrugada. "Eu não tinha para onde ir. Eu mal conseguia andar pois ele me bateu muito", relata a mulher, que não teve coragem de fazer uma denúncia na polícia por medo de ser mal atendida.
Atualmente, ela luta para voltar a ver o filho, mas "os tribunais não estão funcionando ainda 100% por causa da Covid", lamenta Heena, que não vê o filho há quatro meses.
Medidas insuficientes
Em todo o mundo, com as instituições funcionando parcialmente e com os fechamentos de empresas e de espaços culturais, esportivos e escolas, as vítimas ficaram sem locais de refúgio. Além disso, há o impacto econômico do vírus em muitas famílias.
"Assistimos a uma perigosa degradação da situação socioeconômica das famílias após o lockdown, com mais situações de pobreza, que podem levar a reações violentas", destaca Hanaa Edwar, da Rede de Mulheres Iraquianas, que há 10 anos pede uma lei contra a violência doméstica no país.
A longo prazo, as consequências do coronavírus nos direitos das mulheres podem ser muito graves. Em julho, a ONU advertiu que seis meses de restrições sanitárias poderiam comportar 31 milhões de casos adicionais de violência sexista no mundo, sete milhões de gravidezes não desejadas, além de colocar em risco a luta contra a mutilação genital feminina e os casamentos forçados.
Brasil
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Brasil registrou 648 feminicídios no primeiro semestre de 2020, 1,9% a mais que no mesmo período de 2019. O governo criou uma campanha para estimular as mulheres agredidas a denunciar a violência, mas, segundo o FBSP, as medidas para acompanhar as vítimas continuam sendo "insuficientes".
Em todo o mundo, apenas um em cada oito países adotou medidas para atenuar os efeitos da pandemia na vida de mulheres e crianças, afirma a ONU Mulheres.
Na Espanha, as vítimas conseguiram alertar as autoridades de forma discreta com a senha "Máscara 19" nas farmácias, que foram um dos poucos estabelecimentos autorizados a abrir durante a quarentena. Na França foram criados pontos de contato, administrados por associações, em supermercados.
"As mulheres que nos procuraram estavam em situações perigosas, que se aproximavam do insuportável. O isolamento teve um efeito tabu sobre o fenômeno", afirma Sophie Cartron, diretora adjunta de uma associação que atuou em um centro comercial da região de Paris.
Mobilização
Neste ano, justamente devido às restrições sanitárias em vigor em vários países, a tradicional mobilização de 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, é incerta.
"Não poderemos nos manifestar para expressar nossa revolta ou caminhar para lutar juntas, mas pelo menos faremos com que nossas vozes sejam ouvidas, virtual e visualmente", afirmou em Paris o movimento feminista Planning Familial.
Na manhã desta quarta-feira, em um vídeo publicado nas redes sociais, o presidente francês Emmanuel Macron pediu que as mulheres, vítimas de violência, “não fiquem sozinhas” e utilizem “os dispositivos de alerta”, para denunciar, e os “locais de alojamento existentes”, para se proteger. Macron garantiu que acabar com a violência contra as mulheres é “a grande causa de seu mandato”.
A cada ano, cerca de 220.000 mulheres são vítimas de violência doméstica na França e 93.000 sofrem estupro ou tentativa de estupro. O feminicídio está em alta no país. Em 2019, 146 mulheres foram assassinadas por seus maridos ou ex-companheiros, 25 a mais do que no ano anterior.
(Com RFI /AFP)
Segundo o boletim “Desigualdades nas Metrópoles”, a desigualdade de renda aumentou durante a pandemia entre pobres e mais ricos, mas foram os mais pobres quem mais sentiram. No Brasil tem sido assim, os ricos seguem ricos enquanto os mais pobres lutam para não passar fome.#FaltaÁguaEmCuritiba Os rodízios de até 48 horas em vários bairros de Curitiba para tentar conter a crise hídrica não são suficientes. Até quando ficaremos sem água? Quais os planos da prefeitura? Estão esperando por um milagre? Lamentável!A pandemia vem mostrando a desigualdade no ensino. Estudantes da classe E têm, em média, 2h2min de aula por dia, bem diferente dos estudantes das classes A e B, que chegam a ter mais de 3h de aula. E o governo ainda reduz a verba da educação. Lamentável!Queremos que você faça parte da nossa campanha! Manda um oi no zap pra gente e vamos juntos ocupar a política, ocupar os espaços e ocupar Curitiba!
Gripezinha, indicação de remédio sem eficiência comprovada, 150 mil mortos, corte de auxílio emergencial, Brasil de volta ao mapa da fome e veto para compra de vacina.No Brasil acontece 1 estupro a cada 8 minutos. Mais de 70% das vítimas são menores de idade, mais de 19% têm entre 5 e 9 anos e quase 12% são bebês de 0 a 4 anos. Com a pandemia, a violência contra a mulher cresceu, mas as denúncias diminuíram. Dados alarmantes!Uma vítima a casa 10 minutos, esse é o resultado da violência no Brasil, que aumentou mais de 7% comparado à 2019. Já foram 25.712 mortes, a maioria homens, negros e jovens. Onde estão as políticas públicas para frear a violência?Falam demais e fazem pouco para o povo. Precisamos de mudanças para ver a nossa cidade, o nosso estado, o nosso país crescer, e não a fome, a violência, a desigualdade e o preconceito. Nas eleições, não esqueçam do passado e dos erros daqueles que estão no poder. Vote consciente:
Meu nome é Ana Júlia, sou candidata a vereadora de Curitiba e acredito em um movimento participativo para #OcuparAPolítica, ou seja, um movimento feito por mim, por você, por nós, juntos. Te convido para vir comigo nessa caminhada rumo à Câmara de Vereadores de Curitiba. Bora?
“Gênero” e “raça”, categorias eurocêntricas, serviram ao extermínio de sociedades africanas e indígenas. O feminismo contra-hegemônico busca desfragmentar o olhar sobre a sociedade — e resgatar as experiências de base comunitária
Por Susana de Castro /Revista Cult /Outras Palavras
Imagem: Claudia Roquette-Pinto
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“Feminismo decolonial” nomeia uma corrente dos feminismos subalternos, contra-hegemônicos, que incluem também os feminismos pós-coloniais, negro, comunitário e indígena, cujas representantes, intelectuais não brancas, denunciam o racismo de gênero e a forma como a geopolítica do conhecimento silencia as vozes das intelectuais e dos intelectuais subalternos, isto é, todas as pessoas não brancas, indígenas, negras, chicanas, latinas, indianas, asiáticas, afrodescendentes, mestiças, imigrantes, e as vozes de sexualidade dissidente, pessoas transexuais, gays e lésbicas dos países periféricos do capitalismo (antes chamados de países do terceiro mundo, em desenvolvimento).
A geopolítica do conhecimento – dominada pelos países centrais do capitalismo, pelo continente europeu e pelos Estados Unidos – impõe a todos os países do mundo a epistemologia hegemônica baseada em categorias modernas universais de pensamento. Assim, quem está autorizado a falar em nome da raça humana e de toda a população do planeta são somente os intelectuais e acadêmicos dos países centrais, pois eles estariam mais capacitados a perceber o todo da questão, o todo do problema, de modo neutro e imparcial. As mulheres e os homens subalternos não têm autoridade e lugar de fala nessa geopolítica, porque a perspectiva a partir de um país não desenvolvido é sempre vista como parcial e incompleta, por não ter o domínio das categorias universais de análise.
O feminismo decolonial – constituído por intelectuais latino-americanas, afrodescendentes, mestiças, não brancas – denuncia a origem da geopolítica injusta do conhecimento na experiência colonial europeia nas Américas. A colonização europeia representa um marco na constituição de uma matriz capitalista-patriarcal de dominação econômica e intelectual que perdura até hoje, sustentando as desigualdades socioeconômicas e as desigualdades entre nações.
Além disso, o feminismo decolonial incorpora duas questões centrais do feminismo negro norte-americano: a não fragmentação das opressões e a desuniversalização do sujeito “mulher”.
A fragmentação das opressões é uma forma de dominação, pois nenhum oprimido subalterno sofre apenas um tipo de opressão. Todas as raças e nacionalidades subalternizadas são oprimidas pelo menos racialmente e economicamente, de modo que falar do racismo ou do sexismo sem falar da distribuição desigual de riquezas é desviar a atenção do fato de que a origem dessas opressões está no sistema capitalista mundial, ao mesmo tempo que não se questiona o próprio lugar de fala privilegiado desde o centro do capitalismo global. Além disso, a fragmentação das opressões serve também para separar e desunir, para dominar. Uma comunidade fragmentada, na qual homens e mulheres são inimigos uns dos outros, é dominada muito mais facilmente do que uma comunidade em que homens e mulheres são unidos pela solidariedade racial e de classe, e por laços comunitários.
Como o restante dos feminismos subalternos, o decolonial também não se vê reconhecido na representação do feminismo pelo feminismo hegemônico-liberal-branco-ocidental-heterocentrado. As experiências e vivências de um corpo feminino racializado, cis ou trans, e pobre, em países da periferia global é tão própria que não há como alguém que nunca viveu sob as mesmas condições saber seu significado ou poder descrever suas dores. Os feminismos, portanto, são diferentes, porque há inúmeras formas de viver em um corpo feminino. Mas quando o feminismo mainstream reivindica a universalização da opressão de gênero como se essa opressão atravessasse todas as culturas e classes sociais, e se sobrepusesse a outras formas de opressão, o que ele está fazendo, na verdade, é também oprimir. Isso é racismo de gênero.
A categoria “gênero” faz parte do sistema moderno-colonial eurocêntrico de dominação. Na medida em que o feminismo hegemônico reitera a centralidade dessa categoria de análise, ele é cúmplice e copartícipe do modelo de dominação mundial do capitalismo – que se fundamenta na separação entre ricos e pobres, entre países periféricos e centrais.
Na primeira fase do capitalismo global, iniciada com a invasão do continente sul-americano pelos colonizadores europeus no final do século 15, “gênero” foi, ao lado de “raça”, uma das categorias fundamentais usadas para exercer o controle e a dominação das populações nativa e escravizada. O poder e o domínio do colonizador sobre o colonizado, a população nativa e os negros escravizados trazidos do continente africano não se davam exclusivamente pelo uso de força e violência, mas também, e principalmente, pelo exercício do domínio psicológico e epistêmico (= colonialidade do ser e do saber).
A invasão do continente latino-americano coincide com o início da era moderna na Europa, mas normalmente os manuais sobre as histórias das ideias não associam os dois eventos. Para os intelectuais latino-americanos reunidos em torno do grupo que ficou conhecido como Grupo Modernidade/Colonialidade, no entanto, os dois eventos estão intrinsecamente ligados: a colonização é o lado escuro e oculto da modernidade. Filósofos europeus deram sustentação ao projeto exploratório colonial, pois nessa mesma época descreviam a humanidade por oposição ao natural e ao animal. O humano, diferente de toda a natureza não pensante, era pelo pensamento separado do mundo para melhor controlá-lo e dominá-lo. Dotado de uma racionalidade do tipo instrumental, a racionalidade para a qual a natureza é meio para o ser humano atingir seu progresso material e econômico, o colonizador não se apresentava mais como um conquistador de territórios e povos como antigamente, mas como um representante da cultura europeia elevada e civilizada – por oposição à cultura inferior dos povos nativos, presos à natureza. A não humanidade dos não europeus “autorizava” que os europeus os explorassem da mesma forma como faziam com os animais, sem dó nem piedade. Assim, o europeu colonizador branco identificou nos corpos não brancos de africanos e indígenas uma diferença “racial” que representava também uma diferença de graus de humanidade. Quanto mais escura a pele, mais bárbaro e não humano era o indivíduo, e isso justificava a exploração de sua força de trabalho da mesma forma que a natureza das colônias servia à economia extrativista europeia.
A sociedade colonial era, portanto, organizada a partir da divisão social e racial: negros e índios escravizados na base e europeus ricos no topo; no meio, entre eles, os brancos pobres e os mestiços. A dominação completa dependia da introjeção da ideia, pelo colonizado, de que o modo de pensamento “racional” europeu, baseado em estrutura de pensamento categorial dicotômica, europeu/não europeu, civilizado/bárbaro, humano/não humano, cultura/natureza, superior/inferior, rico/pobre, homem/mulher, era superior ao seu. Até, então, como mostra a vasta literatura sobre o assunto, as sociedades nativas, africanas ou indígenas, organizavam-se socialmente de forma completamente distinta. A base social era comunitária, todos os membros do agrupamento participavam das relações de produção e distribuição. Não havia divisão social baseada em riqueza ou pobreza. As lideranças locais eram ocupadas pelas pessoas mais velhas, e as famílias não eram estruturadas em núcleos e sob o domínio do pai, como no caso europeu.
Uma das formas de destruição desse modelo comunitário de organização foi a introdução do sistema moderno/colonial de gênero. Na medida em que as mulheres nativas eram retratadas como não humanas ou selvagens, eram assim retratadas contraditoriamente como “não mulheres”.
O sistema europeu de gênero identificava a humanidade como dividida pelo binômio de gênero homem/mulher. A feminilidade era considerada universalmente expressa pela oposição ao masculino, a mulher era o outro do homem. Isso significava que ela era o oposto do que se compreendia como característica exclusivamente do masculino: frágil, passiva, doméstica, materna, emotiva, insegura e fraca. Quem não reproduzisse esse modelo de feminilidade era evidentemente considerado não mulher e, portanto, não humana.
Mas claro que a relação entre homens e mulheres na época anterior à colonização não se baseava nessa dicotomia de gêneros opostos que se complementam, porque o modo de pensamento comunitário não era dicotômico e categorial. Não havia essa expectativa de que o sexo biológico determinasse de modo essencial a posição social e o comportamento das pessoas. A introdução do sistema sexo-gênero na colônia foi, por essa razão, uma ferramenta poderosa de dominação, pois fomentava a oposição entre homens e mulheres, pondo em risco os laços comunitários. A divisão e a fragmentação, a separação em categorias opostas, como as de gênero e raça, representam o modo do pensamento europeu moderno que perdura até hoje e que serve de estratégia de dominação e exclusão.
O feminismo surge justamente para contrapor-se a essas dicotomias de gênero e a esses ideais de masculinidade e feminilidade que colocavam as mulheres no lado doméstico e submisso. O hegemônico feminismo branco de classe média serve aos interesses de dominação capitalista patriarcal quando define a dominação masculina com base em sua experiência. Assim, por exemplo, durante um longo período a pauta do feminismo mundial foi o direito da mulher ao trabalho e à vida pública. Mas essas questões jamais fizeram parte da pauta, por exemplo, das mulheres negras ou das mulheres trabalhadoras. O feminismo negro norte-americano foi o primeiro a apontar essa falha ao anunciar que a matriz de dominação era múltipla e envolvia não apenas a diferença de gênero, mas também a econômica e a de raça.
As mulheres racializadas dos países periféricos do capitalismo global carregam no corpo a experiência da colonização. Na época colonial não foram consideradas mulheres; ao contrário, eram, na visão do colonizador, bestas sexuais, selvagens. Somente na medida em que foram “embranquecendo” ao longo dos séculos, isto é, submetendo-se ao ideal civilizado de feminilidade, foram então reconhecidas como “mulheres”. Essa ferida colonial nunca foi sarada, e o ponto de vista soberano do colonizador perdura até hoje nas relações centro-periferia. Para o feminismo hegemônico, as mulheres periféricas precisam de sua ajuda para se tornarem, como elas, mulheres economicamente independentes e autônomas – o que nos faz concluir que elas ainda nos veem com a mesma condescendência dos dominadores para com os não humanos.
O fim da colonização não significou o fim do eurocentrismo e da dominação do capitalismo global sobre a economia dos países não europeus. A população local já havia sido socialmente estratificada de acordo com o ideal de branquitude. O racismo se entranhou nas relações sociais das ex-colônias. Além disso, a relação de suposta superioridade cultural da metrópole para com a colônia foi transposta para o nível da geopolítica do conhecimento. As antigas colônias não realizaram um resgate cultural de suas raízes não europeias, valorizando seus saberes e pensamento. Muito ao contrário, mantiveram uma mentalidade de inferioridade diante da cultura branca europeia – e norte-americana, diríamos hoje. Qualquer indivíduo pode facilmente constatar como a mentalidade colonizada perdura nas sociedades latino-americanas, ao observar a mídia e a moda. Se um extraterrestre chegasse ao nosso país agora e assistisse aos programas de televisão, concluiria que a maioria da população é branca ou embranquecida – jamais imaginaria que mais da metade dos brasileiros é de afrodescendentes.
Dividir para governar: era esse o lema da matriz de dominação capitalista global. Nesse sentido, raça e gênero sempre foram tratados como temas distintos. Isso permitiu que o feminismo hegemônico branco descrevesse a opressão feminina separadamente de todos os outros vetores de dominação, como o racial, de classe ou de nacionalidade.
Sobretudo hoje, quando a crise pandêmica do capitalismo global traz à tona conflitos raciais e econômicos, fica mais patente a necessidade de o feminismo brasileiro buscar resgatar as experiências comunitárias dos povos originários, quilombolas, brasileiros, caribenhos e latino-americanos. Precisamos também resgatar e valorizar a contribuição do feminismo negro brasileiro para a crítica às categorias de pensamento ocidentais modernas, e nos alinhar ao projeto de decolonizar nossa mentalidade periférica fazendo pesquisa não de modo neutro, mas a partir da singularidade de nossas experiências.
Certamente não se trata de tarefa fácil, uma vez que o capitalismo global iguala todos os povos de modo artificial, ao nos fazer crer que pertencemos a uma aldeia global onde todos desejamos as mesmas coisas, os mesmos objetos de consumo. Valorizar as diferenças não significa excluir. Precisamos de uma nova metodologia de pesquisa que incorpore e valorize as diferenças e que não procure nivelar todas as experiências a um denominador comum: o da branquitude hegemônica, patriarcal, racista e heterocentrada. Precisamos de mais estudos sobre a branquitude, que nos mostrem por que o corpo branco não é racializado, enquanto todos os corpos não brancos são. Não falamos de feminismo branco, mas sim de feminismo negro e feminismo indígena. Por que será?
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Neste texto o leitor escutou as vozes de diversos autores: María Lugones, Yuderkys Espinosa Miñoso, Ochy Curiel, Aníbal Quijano, Oyèrónké Oyěwùmí, Angela Davis, bell hooks, Patricia Hill Collins, Lélia Gonzalez, Gayatri Spivak, entre outros. A elxs devo meu agradecimento pela oportunidade que me deram de reconhecimento libertador do meu lugar de subalternidade dentro da geopolítica do conhecimento e do feminismo hegemônico acadêmico.
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