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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

01
Set21

Feijão, fuzil e Araçatuba

Talis Andrade

 

feijao fuzil .jpeg

 

 

por Frei Betto


No sábado, 28 de agosto, cometi tremenda idiotice: comi feijoada. Tivesse dado ouvidos a milicianos, teria caído de boca num prato de balas de fuzil. Mas se careço de inteligência, esbanjo memória. Lembro-me do cerco de Jerusalém, no ano 70, comandado pelo general romano Tito, filho do imperador Vespasiano. No desespero da fome dentro da cidade sitiada, moradores ricos clamavam por trocar joias e ouro por um pedaço de pão.
 
Desconfio que os assaltantes dos bancos de Araçatuba trilharam o caminho inverso. Armaram-se de fuzis e bombas para roubar dinheiro e comprar feijão.
 
Devido aos aumentos do gás de cozinha, da gasolina e do diesel, num país cujos produtos trafegam em quatro rodas, somados à alta da inflação e dos preços dos alimentos, falta feijão na mesa do brasileiro. Nos últimos 12 meses, o preço do feijão-fradinho subiu 42,4%. O do arroz, 39,7%. E todos que nascemos ao som do grito do Ipiranga bem sabemos que o bem-estar do brasileiro se apoia em cinco efes: feijão, farinha, futebol, festa e fé.Image

Se o feijão anda escasso na mesa do brasileiro, as armas abundam nos arsenais. Dados do Ministério da Economia informam que, em 2020, nossa população importou US$ 29,3 milhões (equivalente a 150 milhões de reais) em revólveres e pistolas, um recorde histórico. O volume importado foi 2.656% maior que a média da série histórica, iniciada em 1997. Hoje, o Brasil importa mais armas de fogo que bicicletas e lápis.

Segundo Bernardo Mello Franco (O Globo, 29/08/2021), em 2020 praticamente dobrou o número de armas registradas na Polícia Federal. Foram 186 mil, aumento de 97,1% em relação ao ano anterior. E o governo facilitou também o acesso a armas de alto poder ofensivo, como fuzis semiautomáticos, cujo uso era restrito às forças de segurança.

E você, preclaro leitor ou estimada leitora, onde pensa que vai parar a maioria dessas armas, no prato dos brasileiros ou nas mãos de bandidos como os de Araçatuba?

Não é à toa que BolsoNero escolheu como lema de seu governo o verso truncado de nosso hino nacional: “Pátria armada, Brasil”.
 
01
Set21

Como falar em fuzil e feijão?

Talis Andrade

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A sociedade está profundamente sensível por carregar os dramas de 18 meses de pandemia, temores, perdas e um futuro incerto. O pior governo a enfrentar esta tragédia foi o brasileiro, tanto no aspecto sanitário como econômico. Quem anda pelas ruas vê a miséria entristecendo os rostos das famílias vivendo nas calçadas

 

por Jandira Feghali 

As frases de efeito não deveriam nos pautar, pois são lançadas para desviar a atenção do que mais importa para a maioria e para unificar a base que está sempre a postos para os levantes insanos e irracionais diante de um governo em descenso. O problema é que os conteúdos das declarações são muito chocantes e tem como autor o principal mandatário da nação, que insiste em expressar seu desprezo pelas pessoas, pela miséria que sua gestão provoca, pelo sofrimento e morte, cuja responsabilidade é absolutamente sua.

A sociedade está profundamente sensível por carregar os dramas de 18 meses de pandemia, temores, perdas e um futuro incerto. O pior governo a enfrentar esta tragédia foi o brasileiro, tanto no aspecto sanitário como econômico. Quem anda pelas ruas vê a miséria entristecendo os rostos das famílias vivendo nas calçadas. Segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, 19 milhões de pessoas passam fome, no Brasil. Mas aquele que deveria se comportar como líder do nosso País declara que as pessoas deveriam comprar fuzis e debocha da necessidade de comprar feijão. Por mais chocante e cruel que seja a situação, precisamos olhar para além do caráter desumano e bélico de tal declaração.

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Bolsonarismo

Como diz o professor João Cezar de Castro Rocha, em seu livro Guerra Cultural e retórica do ódio, estamos presos num paradoxo. O bolsonarismo se estrutura por uma guerra que impede a existência do governo. Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, Damares e seus principais aliados precisam manter seus seguidores em constante excitação, com inimigos mortais definidos. Isso porque não possuem conteúdo e capacidade de diálogo para construir nada além do ódio. Quando o sr. presidente abate um inimigo, como um Ministro, por exemplo, para ele esse deixa de existir, tornando necessária a criação de novos.

O Supremo Tribunal Federal é o alvo da vez. A eleição de um pilar da nossa democracia como antagonista, no entanto, deflagra mais uma perigosa tentativa de ruptura institucional, o que tem sido seu projeto desde que chegou ao Planalto. Mas, até aqui, todas as tentativas fracassaram. O STF não se acovardou, o voto impresso foi derrotado pela Câmara dos Deputados, o Senado da República não encaminhou o impeachment do Ministro Alexandre de Moraes, nem tampouco do Ministro Luís Barroso, após várias ofensas desferidas contra os dois. O desfile de tanques na Esplanada dos ministérios virou chacota internacional, levando à humilhação desnecessária e à reação saudável de parlamentares valorizando a democracia brasileira.

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Escândalos expostos na CPI

Depois dos escândalos expostos na CPI, o governo Bolsonaro sequer pode sustentar o discurso da honestidade, porque vários de seus integrantes, inclusive militares, estão sob investigação de grandes esquemas de corrupção na compra de vacinas. Imagine, um governo que rouba dinheiro público na compra do que pode salvar vidas, enquanto brasileiras e brasileiros morrem nas UTIs ou por falta de acesso a elas.

A recente convocação para transformar o 7 de Setembro em algo às avessas do que sempre foi pode aproximar o líder medíocre de sua cartada final.

Essa data nunca teve outra marca que não a celebração da independência e da soberania. Uma data em que militares em todo o país marchavam respeitosamente em homenagem à sua pátria, em que escolas faziam desfiles e cantavam o hino nacional em homenagem à criação de uma nação a partir do ato de independência assinado por uma mulher, D. Leopoldina, que, resguardado o contexto histórico em que se deu, tirou o Brasil da condição de colônia, em 1822. Mas o mandatário que está no governo quer dar a esta data, 199 anos depois, um sentido destruidor, desrespeitoso com as instituições e com o povo. Um governante violento, agressivo, causador de desordem, mobilizando gente armada e financiada para atingir o objetivo de promover o caos.

Um presidente que comete crimes sucessivos contra a vida, contra o Estado brasileiro, contra o erário, contra o meio ambiente e principalmente contra a democracia e a Constituição, que comete crimes de responsabilidade. Neste 7 de setembro às avessas de Bolsonaro é preciso resgatar o sentido de nossa tão cara independência. Recuperar os valores que Bolsonaro tenta destruir. É preciso que uma resposta fundamental seja dada pelo parlamento brasileiro, o impedimento!

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30
Ago21

Bolsonaro debocha da fome e da dor do povo

Talis Andrade

 

por Adilson Araújo /CTB

A insensibilidade diante da fome e das agruras do povo brasileiro é uma característica das classes dominantes brasileiros e seus representantes políticos. Com Jair Bolsonaro este desprezo pela dor alheia (a dos pobres) está ganhando requintes de crueldade.

Na quinta-feira (26), o presidente chamou de “idiota” quem diz que precisa comprar feijão. “Tem que todo mundo comprar fuzil”, esbravejou.

Um comportamento que nos remete ao personagem Justo Veríssimo, de Chico Anísio, um deputado que detesta o povo brasileiro.

A carência de compaixão e o desprezo pela vida foram explicitadas pelo presidente por mais de uma vez durante a pandemia do coronavírus em frases como “mi mi mi”, zombando dos que lamentam a tragédia sanitária, ou “e daí?”, ao negar suas notórias responsabilidades no genocídio.

Infelizmente as palavras do chefe do Executivo têm sérias consequências práticas para o povo. Não é sem razão que, sob Bolsonaro, o Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU.

Em abril deste ano, 116,8 milhões de pessoas passaram a viver em insegurança alimentar: 43,3 milhões não têm acesso aos alimentos em quantidade suficiente (insegurança alimentar moderada) e 19 milhões passam fome (insegurança alimentar grave).

Os dados constam da pesquisa da Rede PENSSAN – Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, realizada em dezembro de 2020. São a contrapartida lógica do arrogante e criminoso descaso presidencial.

O drama do povo é agravado pela alta dos preços dos alimentos e gás de cozinha, superior à inflação e aos reajustes salariais, o que impõe a trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo os mais pobres, dolorosa perda de poder aquisitivo.


Apologista da morte

Ao mesmo tempo em que debocha da dor do povo, o presidente genocida faz apologia da morte, da violência e das armas.

“O CAC [NR: caçadores, colecionadores de armas e atiradores] está podendo comprar fuzil. O CAC que é fazendeiro compra fuzil 762”, comemorou.

Uma arma do gênero custa cerca de R$ 15 mil e evidentemente não é objeto do desejo dos pobres. Corresponde, contudo, aos interesses de fazendeiros que contratam jagunços para assassinar trabalhadores sem terra e lideranças rurais, grilar terras e dizimar indígenas.

Como notou o jornalista Guilherme Mazui, Bolsonaro tem como hábito chamar de “idiota” pessoas que o criticam ou que o cobram pela calamitosa situação do país.

Em março, o golpista usou a palavra ao se referir às críticas pelo atraso na compra de vacinas. “Tem idiota que a gente vê nas redes sociais, na imprensa, [dizendo] ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe”.

Ele também chamou um jornalista de “idiota” durante uma entrevista na Bahia. Parece coisa de psicopata, conforme alertaram alguns especialistas. Seja como for, não é um comportamento condizente com a dignidade do cargo.

Temos mais um forte motivo para mobilizar a classe trabalhadora e o povo para no dia 7 de setembro amplificar o grito de liberdade: Fora Bolsonaro.

Facínora no governo sugere compra de fuzil

 
 
30
Ago21

Estudo mostra consequências da violência armada à saúde mental dos moradores de favelas

Talis Andrade

Operação policial no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.

Operação policial no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. © Rosilene Miolitti/Redes da Maré

Um estudo lançado segunda-feira (23) mostra como a saúde mental dos moradores de favelas pode ser afetada pela violência armada. A pesquisa “Construindo Pontes” avaliou o cotidiano dos habitantes do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, que frequentemente testemunham assassinatos, agressões e tiroteios, vivendo em um estado permanente de medo.

A ideia de realizar o estudo surgiu com a diretora da ONG Redes da Maré, Eliana Sousa Silva. Moradora do complexo, ela se interessou por investigar o estado da saúde mental dos moradores do local, expostos a uma violência armada cotidiana. Para realizar a pesquisa, ela convidou o britânico radicado no Brasil Paul Heritage, professor de Teatro e Artes Performáticas na Queen Mary University of London e diretor da People’s Palace Projects. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) também é uma parceira do trabalho.

No total, Eliana e Paul dedicaram três anos a investigações do dia a dia dos moradores das 16 favelas que compõem o Complexo da Maré, entre 2018 e 2020. Mais de 1.400 pessoas foram entrevistadas para o trabalho, que resultou em um levantamento quantitativo e qualitativo inédito.

Através deste trabalho foi feito um imenso apanhado sobre o perfil dos moradores da Maré, com dados sobre gênero, idade, cor, origem, nível de estudos e trabalho, mostrando, por exemplo que o local é composto por uma população jovem: 75% dos moradores da Maré tem menos de 50 anos. A pesquisa registrou também a violência armada que essas pessoas vivenciam no cotidiano: tiroteios, assassinatos, agressões, assaltos e até mortes de membros das famílias dos entrevistados nesses incidentes.

“É alarmante. Nossa pesquisa mostra essa exposição à violência armada que chamamos de ‘objetiva’, de fatos que ocorreram. Mas também queríamos saber mais sobre a violência ‘subjetiva’, como a sensação de medo, que é altíssima e constante nessas comunidades”, diz o professor Paul Heritage, em entrevista à RFI.

 

Medo permanente

O estudo avaliou, por exemplo, que 50,2% dos entrevistados vivem, na Maré, uma permanente preocupação de ser atingido por balas perdidas ou que seus familiares sejam alvo de projéteis (55,6%). Esse medo também cerceia as ideias e pensamentos: quase 50% das pessoas ouvidas se preocupa em emitir opiniões no local.

“Claro que tudo isso vai influenciar toda a vida da pessoa: a possibilidade de estudar, de ter um bom emprego, de cuidar de sua saúde física ou mental”, avalia o professor. Segundo ele, a incidência deste medo vem aumentando ao longo dos anos e prejudicando vários aspectos da vida dessas pessoas.

“Esse é um alerta para todos nós como sociedade porque a gente está criando uma geração que está perdendo a capacidade de ter uma vida saudável. Todas as sequelas vão além da violência armada, da pobreza e da restituição de direitos. Além disso, a pandemia de Covid-19 deu mais foco a essa questão de saúde mental”, reitera Heritage.

O professor diz que tem esperanças de mobilizar as autoridades para o problema. Na ausência de políticas públicas que tratem desta questão, a ONG Redes de Desenvolvimento da Maré vem criando iniciativas como a semana de conscientização de saúde mental “Rema Maré”.

A partir desta segunda-feira até o próximo sábado (28), debates, intervenções, webinários e performances artísticas acompanham o lançamento do estudo “Construindo Pontes”.

Charge mostra uma montagem fotográfica, que aparece um prato, garfo e faca sobre uma toalha de mesa listrada em verde amarelo. Sobre o prato, está um fuzil. A legenda da charge aparece a inscrição "Fuzil maravilha".

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30
Ago21

A ‘feijoada’ macabra de Araçatuba

Talis Andrade

 

 

por Fernando Brito

A madrugada de horror m Araçatuba é só uma prévia – mais uma – do quadro de horror que se faz quando um país, pela boca de seu presidente, torna ter fuzis algo normal e desejável do que se reunir em volta de uma saborosa feijoada.

Os mais de 30 assaltantes têm uma organização paramilitar e que não conseguiriam tamanha quantidade de armas e de explosivos sem cumplicidades no aparelho policial e nos controles alfandegários.

Igualmente, se não houvesse falhas inaceitáveis na cada vez mais politizada organização policial, qualquer serviço de inteligência teria percebido uma mobilização deste porte, onde além de armamento, dinamite e uniformes de combate, foram empregados em torno de uma dezena de carros, novos e potentes, usados na fuga macabra, com reféns amarrados nos tetos e capôs.

Aliás, nem é bom pensar o que aconteceria se alguns dos moradores de Araçatuba já tivessem seguido os conselhos presidenciais e tivessem fuzis para dispararem sobre eles, sem perícia e sem coordenação (e certamente com revide em rajadas disparadas sobre prédios residenciais).

Banho de sangue talvez fosse uma definição suave.

Daqui a pouco, o episódio, porém, estará sendo usado como argumento para a propaganda do programa “Armas, não feijão’, como se ele não fosse exatamente o contrário, um libelo contra a facilidade em obterem-se, de forma legal ou clandestina, armamento pesado.

E tudo isso em São Paulo, onde parte da Polícia Militar parece estar mais interessada em participar do ato da vergonha do dia 7 do que em detectar e evitar a feijoada de fuzis em Araçatuba.

 

29
Ago21

Sergio Leo explica o que acontece quando um violão é colocado nas mãos do primata Bolsonaro

Talis Andrade

Sergio Leo e o desafinado e perigoso Bolsonaro

Sergio Leo e o desafinado e perigoso Bolsonaro 

 

247 - O jornalista, escritor e artista plástico Sergio Leo explicou significado do gesto que Bolsonaro fez ao receber neste sábado um violão de presente. O ocupante do Palácio do Planalto usou o violão como se fosse um fuzil.

É o que acontece "quando você coloca um instrumento musical nas mãos de um primata num degrau pouco elevado da escala evolutiva”, afirmou Sergio Leo.

O violão foi um presente do deputado federal Glaustin da Fokus.O instrumento musical é autografado por cantores sertanejos bolsonaristas, como Gusttavo Lima, Leonardo e Amado Batista.

Bolsonaro chegou a Goiânia na sexta-feira. Em um evento, ele disse:

"Homem armado, jamais será escravizado", disse, ao ganhar uma muda de pequi durante encontro com lideranças de Goiás.

Em outro evento, ele voltou a defender que a população se arme.

"Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Daí tem um idiota que diz 'ah, tem que comprar feijão'. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar", afirmou.

Pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgada há dois meses, revelou que a esmagadora maioria dos policiais militares é contra o armamento da população.

Bolsonaro, assim mesmo, está incentivado os brasileiros a comprarem fuzis, à véspera da convocação que fez para atos golpistas no Brasil.

Para entender Bolsonaro, vale também ouvir Homem Primata, do Titãs:

 

 

 
29
Ago21

Intervenção armada: crime inafiançável e imprescritível

Talis Andrade

Sorriso Pensante-Ivan Cabral - charges e cartuns: Charge: Pátria Armada  Brasil

 

por Ricardo Lewandowski

Na Roma antiga existia uma lei segundo a qual nenhum general poderia atravessar, acompanhado das respectivas tropas, o rio Rubicão, que demarcava ao norte a fronteira com a província da Gália, hoje correspondente aos territórios da França, Bélgica, Suíça e de partes da Alemanha e da Itália.

Em 49 a.C., o general romano Júlio César, após derrotar uma encarniçada rebelião de tribos gaulesas chefiadas pelo lendário guerreiro Vercingetórix, ao término de demorada campanha transpôs o referido curso d'água à frente das legiões que comandava, pronunciando a célebre frase: "A sorte está lançada".

A ousadia do gesto pegou seus concidadãos de surpresa, permitindo que Júlio César empalmasse o poder político, instaurando uma ditadura. Cerca de cinco anos depois, foi assassinado a punhaladas por adversários políticos, dentre os quais seu filho adotivo Marco Júnio Bruto, numa cena imortalizada pelo dramaturgo inglês William Shakespeare.

O episódio revela, com exemplar didatismo, que as distintas civilizações sempre adotaram, com maior ou menor sucesso, regras preventivas para impedir a usurpação do poder legítimo pela força, apontando para as severas consequências às quais se sujeitam os transgressores.

No Brasil, como reação ao regime autoritário instalado no passado ainda próximo, a Constituição de 1988 estabeleceu, no capítulo relativo aos direitos e garantias fundamentais, que "constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis e militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático".

O projeto de lei há pouco aprovado pelo Parlamento brasileiro, que revogou a Lei de Segurança Nacional, desdobrou esse crime em vários delitos autônomos, inserindo-os no Código Penal, com destaque para a conduta de subverter as instituições vigentes, "impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais". Outro comportamento delituoso corresponde ao golpe de Estado, caracterizado como “tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído”. Ambos os ilícitos são sancionados com penas severas, agravadas se houver o emprego da violência.

No plano externo, o Tratado de Roma, ao qual o Brasil recentemente aderiu e que criou o Tribunal Penal Internacional, tipificou como crime contra a humanidade, submetido à sua jurisdição, o "ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil", mediante a prática de homicídio, tortura, prisão, desaparecimento forçado ou "outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental".

E aqui cumpre registrar que não constitui excludente de culpabilidade a eventual convocação das Forças Armadas e tropas auxiliares, com fundamento no artigo 142 da Lei Maior, para a "defesa da lei e da ordem", quando realizada fora das hipóteses legais, cuja configuração, aliás, pode ser apreciada em momento posterior pelos órgãos competentes.

A propósito, o Código Penal Militar estabelece, no artigo 38, parágrafo 2º, que "se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato manifestamente criminoso, ou há excesso nos atos ou na forma da execução, é punível também o inferior".

Esse mesmo entendimento foi incorporado ao direito internacional, a partir dos julgamentos realizados pelo tribunal de Nuremberg, instituído em 1945, para julgar criminosos de guerra. Como se vê, pode ser alto o preço a pagar por aqueles que se dispõem a transpassar o Rubicão.

Desde o século XIX que “intervenção militar” é prática frequente no Brasil  | Jornalistas Livres

29
Ago21

Lewandowski alerta: Bolsonaro e sua milícia podem cometer crime inafiançável e imprescritível no 7 de setembro

Talis Andrade

ConJur - Leia voto do ministro Ricardo Lewandowski sobre união homoafetiva

 

 O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, publica neste domingo um importante alerta para todos aqueles que estejam eventualmente planejando um golpe de estado ou um ataque a outros poderes no dia 7 de setembro. "No Brasil, como reação ao regime autoritário instalado no passado ainda próximo, a Constituição de 1988 estabeleceu, no capítulo relativo aos direitos e garantias fundamentais, que 'constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis e militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático'”, escreve o ministro, em artigo publicado na Folha.

"O projeto de lei há pouco aprovado pelo Parlamento brasileiro, que revogou a Lei de Segurança Nacional, desdobrou esse crime em vários delitos autônomos, inserindo-os no Código Penal, com destaque para a conduta de subverter as instituições vigentes, 'impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais'. Outro comportamento delituoso corresponde ao golpe de Estado, caracterizado como 'tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído'. Ambos os ilícitos são sancionados com penas severas, agravadas se houver o emprego da violência", lembra ainda o ministro.

"E aqui cumpre registrar que não constitui excludente de culpabilidade a eventual convocação das Forças Armadas e tropas auxiliares, com fundamento no artigo 142 da Lei Maior, para a 'defesa da lei e da ordem', quando realizada fora das hipóteses legais, cuja configuração, aliás, pode ser apreciada em momento posterior pelos órgãos competentes", destaca o ministro. "Como se vê, pode ser alto o preço a pagar por aqueles que se dispõem a transpassar o Rubicão", finaliza.

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27
Ago21

Gilmar Mendes: quem usa armas e diz que irá atirar ‘neste ou naquele’ não faz uso da liberdade de expressão

Talis Andrade

 

247 - O decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, comentou na GloboNews a prisão do ex-deputado federal e presidente do PTB, Roberto Jefferson, e disse que as declarações do bolsonarista em ameaça à Corte não estão contempladas no direito constitucional à liberdade de expressão.

"Há limites para a liberdade de expressão. Eu já disse, inclusive, a próceres do presidente da República [Jair Bolsonaro], que me trouxeram essa preocupação: 'olha é um exagero este caso da prisão do Roberto Jefferson', aquilo não se trata de liberdade de expressão", falou o ministro.

Mendes afirmou que quem usa armas e diz que irá atirar "neste ou naquele" ou que irá receber um oficial de Justiça "a bala" não está fazendo uso do direito à liberdade de expressão. 

O ministro ainda relatou ter conversado com Jair Bolsonaro e dito a ele que seu governo se desgastou demasiadamente ao enfrentar diálogos "pouco produtivos", como o voto impresso. "Para usar uma expressão que é muito comum e que o público usa, temos gastado muita vela com defunto ruim".
 

 

A BESTA BOLSONARO GANHA VIOLÃO E FAZ ARMINHA - YouTube

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