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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

03
Abr23

CIA, Sicília e Rio Grande do Norte

Talis Andrade

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Lições para bloquear o fascismo brasileiro

 

por Luiz Eduardo Soares /A Terra É Redonda

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Impactante o artigo que Seymour Hersh publicou esta semana em seu blog no Substack, desta vez não mais sobre o ato terrorista cometido pelo governo estadunidense contra os Nord Stream Pipelines, que levavam gás russo à Alemanha, mas sobre a operação secreta deflagrada pela CIA contra a máfia na Sicília, por determinação dos irmãos Kennedy. Na ocasião, John era presidente e Bobby, attorney general.[i]

Além de fazer menção a várias tentativas de assassinar Fidel Castro, Seymour Hersh descreve o longo percurso pelo labirinto de contatos, silêncios, pistas falsas, entrevistas canceladas e mensagens cifradas, até descobrir o que se passou em 1962. Para efeito do que nos importa, nos limites deste breve artigo, registro apenas o resumo: com vistas a enfraquecer grupos da máfia nos EUA, especialmente em Chicago, o agente Charley Ford foi enviado à Itália. Tratava-se da retomada de uma ofensiva anti-máfia, que marcara a atuação de Robert Kennedy como assessor de importante comissão de investigação no Senado, em 1959. Ofensiva sucedida por recuo, à época inexplicável, agora elucidada.

Cito Seymour Hersh em tradução livre: “Outro fator na decisão de Bobby de suspender as acusações contra Giancana [destacado mafioso] tinha de ser a crença difundida de que seu pai, com a aprovação de Jack (apelido de John), tinha feito um acordo com Giancana, cujas ligações políticas em Chicago eram amplas, pelo apoio nas eleições de 1960. Além disso, Jack Kennedy e Giancana estavam dormindo com a mesma mulher, um fato que só viria a público depois que seu nome, Judith Exner, vazou durante as audiências do Comitê Church. Bobby certamente também sabia disso.”[ii]

Bobby recuperou a iniciativa e ousou um lance arriscado: exigiu que a CIA deslocasse um agente para cumprir missão que ele mesmo determinaria e o mandou para a Itália. Sua tarefa era grampear lideranças de duas famílias da máfia, ambas fiéis à sociedade Camorra, sediada em Nápoles, e semear a discórdia entre elas, com vazamentos direcionados e seletivos de traições e roubos mútuos inverídicos, até provocar a conflagração violenta.

O plano de contra-informação contou com o apoio dos Carabinieri e não teria sido possível sem o conhecimento já acumulado pela CIA, que vigiava a Camorra a partir de Roma, se beneficiando da precariedade dos meios de comunicação empregados pelos criminosos. Seymour Hersh afirma que, desde o fim da segunda guerra, agentes americanos estavam infiltrados e mantinham políticos da Democracia Cristã em sua folha de pagamento.

Nas palavras de Seymour Hersh, que transcrevo a seguir: “A CIA jogou seu dinheiro nos democrata cristãos corruptos, na Máfia e na Mídia, depois da segunda guerra mundial, temendo que a esquerda – ou seja, o Partido Comunista –, com sua ênfase em programas sociais e estabilidade no trabalho, pudesse conquistar o poder”.[iii]

A guerra fratricida entre facções rivais provocou muitas perdas entre os mafiosos, mas acabou atingindo também militares e policiais italianos, assassinados num atentado, uma vez que a história chegou aos ouvidos da Camorra, que jurou vingança, inclusive contra Bobby e John. O presidente foi assassinado em novembro de 1963, mas a eventual participação da máfia jamais foi sequer considerada e essa trama nunca chegou à Warren Commission, responsável por investigar todas as linhas associadas ao homicídio.

Que lições podemos tirar, hoje, no Brasil, de um fato longínquo e distante no tempo? De meu ponto de vista, várias: (i) Em 2023, 60 anos depois, o monitoramento dos alvos prescinde da tecnologia rudimentar dos “grampos”, como nos mostrou Snowden. Os recursos são muito mais potentes. (ii) A ideia de mobilizar grupos criminosos contra seus competidores, parceiros ou potenciais oponentes, visando enfraquecer cada um deles ou o conjunto, não é nova e comprovadamente funciona. (iii) Funciona segundo uma perspectiva estreita e socialmente irresponsável, pois, como demonstra o caso em pauta, não é plenamente controlável: os desdobramentos eram (e são) imprevisíveis, uma vez que a dinâmica desencadeada não atendia a uma política sistêmica, compatível com a legalidade e o Estado de direito, mas, ao contrário, apenas realizava a lógica da guerra (Proxy) exportada para terreno alheio, em condições geopolíticas ostensivamente imperialistas.

(iv) A CIA não corrompe somente políticos, como se sabe. (v) A arena em que atua não se esgota no campo criminal, evidentemente. (vi) A questão criminal pode proporcionar um deslocamento do foco, mas a matriz das intervenções é política, e mesmo geopolítica, quando não diretamente econômica. Portanto, assim como o palco de operações num confronto bélico pode se deslocar para um terceiro país, as ações também podem se deslocar de uma esfera a outra. Por exemplo, se o objetivo for eliminar uma liderança de esquerda, pode-se tentar neutralizá-la via justiça, em lugar de matá-la, como nas décadas precedentes -foi o caso de Lula. São diversas as esferas em que se desenrolam ações estratégicas, de porte transnacional, da mídia à própria chantagem econômica -não por acaso os especialistas falam em guerra híbrida.

(vii) Finalmente, o ensinamento mais relevante, no momento presente: se o fascismo brasileiro quiser desestabilizar o governo, produzir crises e trazer de volta as Forças Armadas para o proscênio, devolvendo-lhes o protagonismo que a vitória da democracia lhe retirou, não será surpreendente se adotar estratagema análogo àquele descrito por Seymour Hersh, empregado pela CIA na Itália, em 1962: estimular conflagrações entre facções criminosas para provocar o caos. A Força Nacional dificilmente teria condições de garantir a segurança pública se as demandas locais se multiplicassem. A pressão para deflagrar uma operação de garantia de lei e ordem (GLO), que sabiamente foi descartada em 8 de janeiro e de novo refutada no Rio Grande do Norte – apesar da solicitação de alguns agentes políticos, entre eles o presidente do Senado –, pode se tornar incontornável.

Conclusão: convém formular com urgência um plano B, que não envolva os militares. De preferência, um plano de caráter preventivo. E um plano dessa natureza envolverá, necessariamente, uma política de segurança pública, ou melhor, a reforma estrutural da segurança. Dado o contexto político, eu tomaria a liberdade de recomendar que se iniciasse pelo sistema penitenciário, criando condições para que a LEP (Lei de Execuções Penais) seja cumprida e o Estado, não as facções, domine as unidades.

Para isso, será preciso sustar o encarceramento em massa de pequenos varejistas do comércio de substâncias ilícitas. Tais medidas corresponderiam ao fim da perversa, iníqua e racista guerra às drogas. Vejam como nos prevenindo de golpes fascistas terminaríamos beneficiando a luta antirracista.

 

Notas


[i] https://open.substack.com/pub/seymourhersh/p/the-kennedys-secret-sicilianoperation?r=6o9dw&utm_campaign=post&utm_medium=email

[ii] “Another factor in Bobby’s decision to drop the charges against Giancana had to be the widespread belief that his father, with Jack’s approval, cut a deal with Giancana, whose political ties in Chicago were extensive, for political support in the 1960 election. It was also the case that Jack Kennedy and Giancana were sleeping with the same woman, a fact that would not be known to the public until her name, Judith Exner, was leaked during the Church Committee hearings. Bobby surely knew that, too.” (Hersh, Seymour. The Kennedys’ secret sicilian operation; What the CIA didn’t tell the Warren Commission. Mar 29 at Substack)

[iii] “The CIA had thrown its money into the corrupt Christian Democrats, the Mafia, and the media after World War II in fear that the left—that is, the Italian Communist Party—with its emphasis on social programs and worker stability, would gain power”. (Idem, ibidem)

 
 

 

01
Mar23

Líder integralista (nazifascista) assume mandato de deputado federal

Talis Andrade

www.brasil247.com - Paulo Fernando Melo da Costa

Paulo Fernando Melo da Costa 

 

Bolsonarista Paulo Fernando Melo da Costa é próximo de Damares Alves e já fez parte da direção da Frente Integralista Brasileira no DF

247 - O líder integralista Paulo Fernando Melo da Costa, do Republicanos do Distrito Federal, foi diplomado deputado federal na segunda-feira (27), chegando ao cargo como suplente de Júlio César Ribeiro, do mesmo diretório, que foi para a Secretaria de Esportes do DF. 

Ele já fez parte da direção da Frente Integralista Brasileira no DF no passado e foi diretor da Casa de Plínio Salgado. É próximo da ex-ministra e senadora Damares Alves.

Em entrevista à Folha de S. Paulo em abril do ano passado, Melo da Costa citou algumas de suas inspirações intelectuais: "Dom Hélder Câmara, Vinicius de Moraes, Miguel Reale, Gustavo Barroso dentre outros, inspirado no primeiro mandamento bíblico ser um soldado que ama a Deus sobre todas as coisas, um sentinela da Pátria que zela por ela e um defensor da vida e da família". 

O Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas define a Ação Integralista Brasileira da seguinte forma: "A Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento de inspiração fascista mais importante organizado no Brasil, fundado por Plínio Salgado em 1932, tornou-se o primeiro partido nacional com uma organização de massa implantada em todo o país, cuja força política foi estimada, em 1936, entre seiscentos mil e um milhão de adeptos. Embora a primeira manifestação de fascismo nativo tivesse ocorrido em 1922, com a fundação da Legião Cruzeiro do Sul (imitando provavelmente o fascio italiano de 1919 e o Partido Nacional Fascista de Mussolini, estruturado em 1921), a expansão dos movimentos de tipo fascista no Brasil eclodiu sobretudo na década de 1930, com a formação de pequenos partidos e movimentos regionais tais como a Ação Social Brasileira (Partido Nacional Fascista), a Legião Cearense do Trabalho e o Partido Nacional Sindicalista".

16
Jan23

Os inimigos do governo Lula

Talis Andrade

 

Foto Reprodução NeoFeed

 

O bloco capital financeiro-mídia tradicional, com suas ramificações no exterior, é o adversário potencialmente mais perigoso.

 

Queria falar hoje dos inimigos do governo Lula. São muitos, como se sabe, alguns abertos, outros nem tanto. Nelson Rodrigues falava dos “desconhecidos íntimos” que o abordavam na rua sem a menor cerimônia. Podemos falar, também, dos “inimigos íntimos”. É perceptível a sua presença no governo, estão lá infiltrados, instalados em posições importantes. Talvez “inimigos” seja uma palavra exagerada para alguns deles. Digamos “adversários”, no mínimo.

Começo pelos inimigos declarados: a extrema-direita, fascistóide, bolsonarista. Arrisco o seguinte comentário. A extrema-direita é inegavelmente forte, vide o resultado apertado da eleição presidencial e o sucesso bolsonarista nas eleições para vários Estados importantes e, também, para o Senado e a Câmara. Mas ela não derruba o governo. Atrapalha, tumultua, coloca vidas em risco, assassina, pratica o terrorismo, destrói patrimônio público. Só que não tem força, nem apoio interno ou internacional, para virar o jogo.

Leia também: Com Litígio Zero, Governo quer reduzir endividamento de pequenas empresas

O principal efeito político da agitação da extrema-direita talvez seja enfraquecer Lula, pelo menos um pouco, na disputa com outras forças internas hostis. Refiro-me aos militares, ao centrão e, em especial, ao bloco formado pelo capital financeiro (o chamado “mercado”) e o seu puxadinho, a mídia tradicional. Não é fácil lutar contra tudo isso ao mesmo tempo. Deixo de lado hoje os inimigos ou adversários externos do governo, que têm menos peso do que os internos e que só podem influir decisivamente, num país da dimensão do Brasil, em aliança com eles.

 Se o “mercado” e a mídia tradicional estão pessimistas e até desesperados, como se noticia, isto se deve provavelmente ao fato de que Lula compôs ou tenta compor com o centrão, por intermédio de Arthur Lira e outros líderes políticos, e com os militares, por meio do ministro da Defesa, José Múcio, deixando, entretanto, o “mercado” e adjacências basicamente ao relento.

Assim me parece. O Presidente fez e ainda fará concessões ao capital financeiro, mas não atendeu muito esses interesses na escalação da área econômica – ou não tanto quanto eles esperavam. Diferentemente do que aconteceu no primeiro mandato de Lula, período em que Antônio Palocci, de triste memória, foi ministro da Fazenda, a turma da bufunfa não tem hegemonia. Dispõe, é verdade, do comando do Banco Central, garantido pela lei de autonomia, mas queria mais, sobretudo no Ministério da Fazenda, o mais importante dos que resultaram da subdivisão do Ministério da Economia.

A estratégia de Lula, se é que a estou entendendo bem, me parece correta. O bloco capital financeiro-mídia tradicional, com suas ramificações no exterior, é o adversário potencialmente mais perigoso. Tem muito poder real, econômico e político. É o segmento dominante do empresariado. E conta com uma legião de porta-vozes dos seus interesses, economistas e jornalistas que são funcionários matriculados do status quo. Sempre com grande repercussão na mídia, eles se dedicam agora ao que ficou conhecido como terrorismo econômico ou fiscal. Um tipo de terrorismo que pode ser mais danoso do que o dos bolsonaristas. E espalham, também, a desinformação econômica.

Vou pegar um desses economistas para Cristo: Armínio Fraga, que foi por um longo período presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso. Em entrevista de página inteira à Folha de S.Paulo (8/1/2023), Fraga combinou arrogância com argumentos falhos. A entrevista é longa, dou apenas alguns exemplos. Ele se declarou, primeiramente, altamente preocupado com a economia. Os sinais, disse ele, não são bons e podem levar a um “desastre econômico”. O governo ainda não completara uma semana, leitor, mas o economista já falava em “desastre” …

O entrevistado lamentou que o governo não esteja caminhando para o modelo do primeiro mandato de Lula, período em que prevaleceu a ortodoxia econômica: “Depois do Palocci, a estratégia mudou radicalmente – e foi esse erro que desembocou no colapso da economia.” A sua visão da evolução da economia brasileira é altamente distorcida, para não usar palavra mais forte. Fraga atribui o colapso da economia em 2015 e 2016 ao “buraco fiscal que começou em 2014 e 2015”. E, acrescenta a essa afirmação, sem fazer sentido algum: que “hoje, parte da herança que o presidente Lula recebe veio dele próprio”. Ligeiro problema com as datas. O segundo mandato de Lula terminou em 2010. Como responsabilizá-lo por um “buraco fiscal iniciado em 2014 e 2015”?

A política fiscal talvez tenha sido mesmo excessivamente expansionista em 2014, como costuma ocorrer em anos de eleição. Mas, em 2015, a gestão foi do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que fez um forte e fracassado ajustamento ortodoxo – ponto omitido por Fraga, talvez para proteger um outro membro da tribo de funcionários do status quo.

Leia também: Haddad anuncia medidas para melhorar contas públicas em R$ 242,7 bi

Seja como for, pode-se atribuir o colapso da economia em 2015 e 2016 exclusiva ou mesmo preponderantemente a erros de política econômica do governo Dilma? Como não mencionar, por exemplo, os efeitos desastrosos da crise política desencadeada para derrubar a presidente Dilma? Quem pode negar o grande impacto sobre a economia das pautas bombas no Congresso e da operação Lava Jato?

O economista pede “humildade” a Lula e espera que petistas e economistas reconheçam seus erros passados. Ok, autocrítica não faz mal a ninguém. Porém, Fraga não fez até hoje, que eu saiba, autocrítica da gestão econômica da qual participou em posição de destaque. Fernando Henrique Cardoso entregou a economia aos pedaços a Lula em 2002, mas Fraga não teve aparentemente nada a ver com isso…

11
Jan23

(Vídeo) Cantor Léo apoia atos golpistas. 'Precisa ser responsabilizado pela Justiça', diz Márcia Tiburi

Talis Andrade
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76% dos brasileiros não aprovam o vandalismo dos Bolsonaristas. "As massas estão sendo manipuladas por agitadores fascistas"

 

247 - O cantor de sertanejo Léo demonstrou apoio a bolsonaristas. O vídeo com as declarações do artista apareceu nas redes sociais em um contexto de investigação da Polícia Federal contra apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) que, no último domingo (8), invadiram o Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF). 

"Quem revoluciona este País é o cidadão. Põe a boca no trombone", disse o cantor em vídeo publicado no Twitter.

A filósofa Márcia Tiburi disse que "lideranças como esse cantor do sertanejo precisam ser responsabilizadas". "Afinal, as massas estão sendo manipuladas por agitadores fascistas como esse que aparece no vídeo".

Nesta quarta-feira (11), vários bolsonaristas chegaram ao sistema prisional do Distrito Federal depois de serem presos pela PF.  

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, decidiu que vai manter a Força Nacional de Segurança Pública em Brasília até o dia 19 de janeiro.

Não esquecer que os cantores sertanejos são meeiros de prefeitos que foram beneficados pelo orçamento secreto de Bolsonaro+Centrão, e pelas pecs de todos os pecados. 
Marcia Tiburi
Evidentemente, lideranças como esse cantor do sertanejo universitário precisam ser responsabilizadas. Afinal, as massas estão sendo manipuladas por agitadores fascistas como esse que aparece no vídeo :
Carol com Lula
@doceamargurah
Cantor Léo apoiando atos antidemocráticos. Algo precisa ser feito, pessoas que motivam esses atos tbm tem que pagar por isso.

 

10
Jan23

Movimentos sociais repudiam golpismo

Talis Andrade
 
 
 
 
 
 
 
Marcio Vaccari
@VaccariMarcio
 
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As organizações sindicais e populares que integram as Frentes Brasil Popular, a Frente Povo Sem Medo, o Fórum das Centrais Sindicais, a Coalizão Negra Por Direitos e a Convergência Negra, reunidas em defesa do Estado Democrático de Direito vêm a público para:

a. Registrar o mais veemente repúdio aos atos de vandalismo e criminosos praticados no dia de hoje em Brasília, que atentam contra a democracia e depredaram a sede dos três poderes da República. Adotamos estado de mobilização e vigilância permanente em defesa da democracia, do governo legitimamente eleito, contra o golpismo e pela punição dos responsáveis pelos ataques às instituições.

b. Orientar todas as organizações sindicais e populares, bem como toda militância social do campo democrático e progressista a manifestarem-se nas ruas de todo o país no final da tarde desta segunda-feira (9/01), em defesa da democracia, das instituições e da soberania do voto popular.

c. Construir ato político a realizar-se em Brasília na próxima quarta-feira (11/01) com foco na defesa da democracia, no repúdio aos ataques às instituições da República praticadas por fascistas neste domingo e na defesa de que aqueles que financiaram e praticaram crimes sejam responsabilizados. Realizaremos essas manifestações em aliança com todos as lideranças, autoridades e segmentos da sociedade comprometidos com a defesa do Estado Democrático de Direito.

d. Reunir-se, em preparação, com partidos, centrais sindicais, movimentos populares e organizações da sociedade com atuação nacional nesta segunda-feira, 09 de janeiro, às 14 horas, por videoconferência.
 
Brasil, 08.01.23

Fórum das Centrais Sindicais
Frente Brasil Popular
Frente Povo Sem Medo 
Coalizão Negra por Direitos
Convergência Negra
 
 
 
 
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10
Jan23

A segunda posse

Talis Andrade
 
 (crédito: kleber sales)
 

 

por André Gustavo Stumpf

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A segunda posse de Luíz Inácio Lula da Silva ocorreu ontem. Mas, quem subiu a rampa do Palácio do Planalto foram os derrotados na eleição do ano passado, inconformados com a derrota, dispostos a qualquer aventura para reverter o resultado do pleito. Jair Bolsonaro continua na pitoresca cidade de Kissmee, na Flórida, nos Estados Unidos, junto aos parques temáticos, esperando que aconteça alguma coisa séria no Brasil. O exemplo de Donald Trump, que incentivou a invasão do Capitólio há dois anos, frutificou em toda a América Latina.

 

O espetáculo foi dantesco e não será esquecido tão cedo. Foi mais sério do que o ocorrido em 2013, quando havia forte movimento contra a realização dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo no Brasil. Naquela época, o governo Dilma Rousseff ficou sob séria pressão. Agora, o presidente Lula na primeira semana de existência de seu governo descobre que ele será obrigado a lidar com inimigos abertos, não apenas adversários políticos. A divisão ideológica do país atingiu níveis jamais antes experimentados. Situação alarmante. O objetivo era vandalizar monumentos públicos e provocar um golpe de estado.

A depredação do prédio do Supremo Tribunal Federal é indesculpável. A demolição do plenário do Senado Federal não é algo que possa ser esquecido tão cedo. A destruição do Palácio do Planalto, sede do governo federal, é episódio intolerável para a convivência democrática. Tratou-se de invasão dos bárbaros que se levantaram de algum pântano da sociedade brasileira decididos a tomar o poder de acordo com suas baixas expectativas. Quebraram tudo o que viram pela frente. Destruíram impressoras, computadores, obras de artes. Não pouparam nada.

É o retrato de uma tragédia, que começou como problema político anos atrás e evoluiu para essa onda de violência que é absolutamente estranha à história do Brasil. Nunca houve aqui grandes explosões de violência pública, no estilo do que já aconteceu em países vizinhos de língua espanhola. Os brasileiros se revelaram no dia de ontem. Não respeitaram limites, não se detiveram diante da lei, nem da autoridade. Ultrapassaram todos as fronteiras da convivência e se jogaram de corpo inteiro no protesto violento e irracional. Tentar tomar o poder pela força é absurdo, ilógico e desborda para o simples terrorismo. É um golpismo sem ideologia. A violência pela violência.

Muito ainda vai se escrever sobre este episódio dantesco. Vários chefes de estado se solidarizaram com o presidente Lula. O Secretário de Estado Anthony Blinken lamentou o incidente. O presidente Joe Biden chamou o episódio de ultrajante. Os políticos norte-americanos começaram a protestar contra a presença de Bolsonaro na Flórida, onde, aliás, também está o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, que foi Ministro da Justiça no governo anterior. Coincidência incrível.

Do ponto de vista da política local, a intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal é um desastre de enormes proporções. O pedido público de desculpas do governador Ibaneis Rocha é insuficiente. Não resolve o problema e não alcança o âmago da questão. O governo não reagiu na medida da provocação. Foi omisso. As consequências serão sentidas ao longo dos próximos tempos. A convivência com o governo federal foi arranhada de maneira definitiva. Será muito difícil reparar a confiança. A provinciana política local ficará marcada pela incompetência e a inapetência na solução das sérias questões nacionais. As muitas prisões realizadas não reduziram o desgaste.

O dia 8 de janeiro de 2023 ficará marcado para sempre na história da jovem capital brasileira que sobreviveu a várias crises. Já assistiu a desfilar de tanques para fechar o prédio do Congresso Nacional, viu militar chicotear automóveis quando houve decretação de estado de emergência. A Esplanada dos Ministérios, imaginada pelo gênio de Niemeyer para receber as manifestações do povo assistiu ontem a marcha de fascistas, que não vestiam camisas negras, mas amarelas. O símbolo da nacionalidade decaiu para significar o que há de mais baixo no exercício da política. Aconteceu ontem a segunda posse do presidente Luíz Inácio Lula da Silva. Ele teve a noção clara do enorme desafio que o aguarda no Palácio do Planalto.

Em ato simbólico após ataque de bolsonaristas aos prédios do Planalto, STF e Congresso, membros dos três poderes caminharam do Palácio do Planalto ao plenário do STF.

O futuro líder do governo Lula no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou nesta segunda-feira (9) à CNN que foram encontradas cinco granadas após a invasão da Esplanada dos Ministérios por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Três delas estavam no Supremo Tribunal Federal e duas no Congresso. #CNNBrasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) culpou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela invasão por bolsonaristas ao Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF), neste domingo (8/1).

"Perdi a eleição em 89, eu perdi a eleição em 94, eu perdi a eleição em 98, e em nenhum momento vocês viram nenhum militante do meu partido fazer isso", disse. "Esse genocida [Jair Bolsonaro], não só provocou isso, estimulou isso, como ainda estimula nas redes sociais de Miami, para onde ele fugiu", seguiu Lula.

Para Lula, Bolsonaro “estimulou invasão dos Três Poderes sempre que pôde”. “Só não estimulou entrar no Planalto porque ele tava lá”,continuou. O presidente anunciou por meio de decreto a intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal.

27
Dez22

Dino: Lula espera fim "pactuado" de atos golpistas, mas não descarta retirada de bolsonaristas à força

Talis Andrade

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Futuro ministro da Justiça disse que a possibilidade de uma "retirada compulsória" não está descartada caso não haja uma solução de "modo pactuado, mediante conciliação"

 

247 - O senador eleito e futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), disse que o governo do presidente diplomado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), espera que o acampamento bolsonarista montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, seja desmontado de uma forma "pactuada”, mas que também não descarta a possibilidade de uma "retirada compulsória", caso necessário, para efetivar a desmobilização dos extremistas. 

“Quanto mais se der de modo pactuado, mediante conciliação, melhor. Essa é a opção do presidente Lula neste momento. É claro que se não houver essa providência, outras serão tomadas, mas isso num segundo momento", disse Dino nesta terça-feira (27).

Ainda segundo ele, a equipe de Lula espera que os extremistas bolsonaristas façam uma "desocupação voluntária" do acampamento antes da posse, mas que “se isso não ocorrer, aí se abrem outras possibilidades de uma retirada compulsória". 
 

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[A turba acampanda na porta de quartéis não representa o povo que trabalha, nem os desempregados pela política econômica do paisano de Pinochet, o Paulo Guedes, que fica mais rico quando, ministro da Economia, aumenta o valor do dólar.
 
A gentalha é constituída por militares aposentados que ocupam cargos civis. E filhas de militares que recebem pensões para não trabalhar.
 
E bolsonaristas milicianos, recrutados em currais eleitorais da extrema direita, da supremacia branca que empestam os Estados do Sul notadamente, com sua células nazistas. 
 
São defensores do golpe sangrento, de um banho de sangue, via luta armada, atentados terrorista que proclamem Jair Bolsonaro ditador perpétuo do Brasil.
 
Os acampamentos terroristas visitados pelos generais

 

Os bolsonaristas suspeitos por terrorismo, George Washington de Oliveira Sousa e Alan Diego Rodrigues, estiveram presentes em uma audiência pública no Senado Federal. A sessão ocorreu em 30 de novembro, e discutiu as denúncias da campanha de Bolsonaro que afirmou que faltou isonomia nas inserções nas rádios durante o período eleitoral

 
26
Dez22

Continuidade de acampamentos terroristas em frente aos quartéis indica que, no mínimo, Exército pode ser cúmplice do terrorismo

Talis Andrade

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Tudo o que acontece nos acampamentos em frente aos quartéis é do pleno conhecimento do setor de inteligência do Exército e, também, do GSI

 

por Jeferson Miola

A continuidade dos acampamentos terroristas em frente aos quartéis – mesmo depois da tentativa de explosão de bomba nas imediações do aeroporto [24/12] e dos atentados terroristas em Brasília no dia da diplomação do presidente e vice-presidente eleitos [12/12] – indica que, no mínimo, o Exército Brasileiro pode ser considerado cúmplice do terrorismo.

Se o Comando do Exército não dissolver imediatamente as células de terroristas amotinados nas áreas sob administração militar, estará confirmando a desconfiança de envolvimento com o terrorismo e, além disso, estará afiançando a conversão do Forte Apache [Quartel General do Exército, em Brasília] em centro de comando do terrorismo fascista.

Tudo o que acontece nos acampamentos em frente aos quartéis é do pleno conhecimento do setor de inteligência do Exército e, também, do GSI – Gabinete de Segurança Institucional, comandado pelo general Augusto Heleno.

Nestas áreas estão amotinados militares da ativa e da reserva, integrantes da “família militar”, mercenários, empresários e outros tipos de bolsonaristas que atentam contra a democracia e o Estado de Direito.

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Bundalelê  bolsonarista

 

Esses criminosos, que dispõem de um arsenal bélico formidável e estão fortemente armados, contam com a camaradagem dos comandos militares, que asseguram a eles infraestrutura, logística, parceria e, claro, segurança e proteção.

Além de oficiais da ativa que insuflam abertamente os baderneiros, como o sargento da Marinha lotado no GSI e o comandante da 10ª Região Militar, de Fortaleza, a esposa do general Villas Bôas já circulou alegremente pela célula terrorista na área do QG do Exército.

Lá, a senhora Maria Aparecida Villas Bôas foi festejada e homenageada como uma verdadeira celebridade.

Neste ambiente de familiaridade e camaradagem com os amotinados na frente dos quartéis, é difícil não se suspeitar do envolvimento dos militares com os atentados terroristas. Caso contrário, a outra hipótese é de que a inteligência do Exército e o GSI, que controla a ABIN, sejam totalmente incompetentes.

Reportagem da Revista Fórum [13/12] publicou denúncia de servidor da Polícia Federal lotado na Presidência da República que acusou o GSI de estar por trás dos bárbaros atos de terror perpetrados por fascistas em Brasília no dia 12 de dezembro.

De acordo com a fonte da matéria, “o que está acontecendo e, principalmente o que ocorreu ontem em Brasília, é terrorismo de Estado. O GSI está na cabeça disso, e o uso da área do QG, que é militar, é do Exército, não é à toa”.

O servidor da PF sustenta, ainda, que a PM do DF, hiper bolsonarizada, é conivente com os terroristas. Prova disso é que até o presente momento, apenas três criminosos foram identificados, mas nenhum deles foi preso.

Já o executor da tentativa de explosão da bomba próximo ao aeroporto da capital federal, um modesto gerente de posto de combustível no Pará, cuja esposa recebeu auxílio emergencial, teria investido R$ 170 mil para a aquisição do arsenal de armas.

Quem financiou o armamento deste criminoso que confessou que o atentado foi decidido e planejado no acampamento na área do QG do Exército?

Bolsonaro é responsável, sim, pelo caos e clima de terror bolsonarista no país.

Mas Bolsonaro é instrumento de uma estratégia superior, concebida e bancada pelas cúpulas partidarizadas das Forças Armadas, que não desistem da guerra fascista contra a democracia, na perspectiva de um projeto de poder militar.

Assim como nos estertores da ditadura, os militares linha GSI/SNI podem estar produzindo novos “Riocentros” para incendiar o país, tumultuar a democracia, causar pânico e terror para, com isso, terem pretexto para fecharem o regime.

Truque manjado.

Sobram razões para o governo Lula extinguir o GSI, que é um enclave das cúpulas militares no coração do poder civil, e transferir para a reserva a maior parte do atual oficialato.

Estas medidas integram uma profilaxia fundamental para garantir a governabilidade do governo e, também, a sobrevivência da democracia.

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28
Nov22

Amanhã há de ser outro dia

Talis Andrade

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Considerações sobre a canção “Apesar de você”, de Chico Buarque de Holanda

 

por Francisco de Oliveira Barros Júnior 

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Construção. Apesar de Você. Cálice. Samba de Orly. Acorda Amor. Meu Caro Amigo. Bom Conselho. Gota d’Água. O Que Será (À Flor da Terra). Fado Tropical. Tanto Mar. Angélica. Cordão. Deus lhe Pague. Títulos de 14 composições do repertório de “Chico, o político”. Uma singular dimensão da obra artística de um dos grandes nomes da história da Música Popular Brasileira. Das canções antes citadas, destaco Apesar de você, por um particular motivo: a sua sintonia com a expressão Fora Bolsonaro, explicitada pelos descontentes e indignados com um governo precário, de retrocessos e ameaçador dos valores democráticos.

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A crítica ao bolsonarismo, globalizou negativamente, em viralizações poliglotas: nas “reflexões sobre as grandes ameaças à existência humana”, Noam Chomsky alude aos “palhaços sociopatas”, arautos da “praga neoliberal” e cita a grave ameaça, chamada Jair Bolsonaro, “…o mais extremista, o mais abominável dos ultranacionalistas de direita que agora assolam o hemisfério” (CHOMSKY, 2020, p.108). Em francês, no contexto necropolítico de um “capitalismo pandêmico”, Edgar Morin alerta ser “hora de mudarmos de via” e faz referência ao Brasil “…que vive uma tragédia por ter no comando um presidente irresponsável, …” (MORIN,2020, p.30). No desassossego do português de sotaque lusitano, Boaventura de Sousa Santos interroga: “Brasil: política genocida?” Uma situação crítica “…provocada por um presidente irresponsável, golpista e de ultradireita, …” (SANTOS,2021, p.164).

Apesar de você, concebida em outra conjuntura histórica, não perde a sua atualidade por estar sintonizada com a luta contra todos os autoritarismos e tendências fascistas em suas tentativas de chegarem ao poder. “Apesar de você/Amanhã há de ser/Um novo dia”, trecho do texto musical focalizado, poderia receber uma outra versão, antenada com o momento histórico no qual estamos inseridos. Eis a possível troca: “Apesar de Bolsonaro, amanhã há de ser outro dia”. De 1970 aos dias de hoje, mudanças ocorreram, mas os progressos, em movimentos ambivalentes, caminham ao lado das regressões. O “apesar de você”, cantado hoje, ganha uma reatualização conjuntural. Peço licença ao Chico Buarque para fazer uma troca temporária do “você” pelo nome do atual ocupante do cargo de Presidente da República do Brasil.

Focalizando a canção Apesar de você, em seus tons políticos, vemos que é referenciada em diversos textos históricos sobre a Música Popular Brasileira. Censura nos “anos de chumbo da ditadura” (1970-1978). Rodrigo Faour esclarece sobre quem é o “você” da composição focalizada. Na tentativa de driblar os censores, em suas interrogações, não estava cantando sobre “uma mulher muito mandona e autoritária”, “e sim o general Médici, então presidente do Brasil” (FAOUR, 2021). Na companhia dos contos e cantos das letras buarquianas, a escrita desmascara “o serviço sujo nos porões” dos “anos de chumbo” (BUARQUE,2021).

Da “geração que fixou a moderna canção brasileira”, Chico Buarque experenciou “o furor antibuarquiano da censura”. Na perspectiva histórica de Jairo Severiano, pensamos com música pela escrita de “…um intelectual, autor de diversificada obra musical-literária, especialmente comprometida com questões sociais, nunca, porém, panfletária” (SEVERIANO, 2017, p.366). O samba Apesar de você está incluído entre as “101 canções que tocaram o Brasil”. Um discurso sonoro de “resistência democrática”, “um hino de protesto contra a ditadura militar” (MOTTA, 2016). Em seu torto e cortante canto, o Chico sambista incomodou os ditadores e incluiu mais uma das suas obras musicais no Dicionário da história social do samba (LOPES & SIMAS, 2021).

Apesar de você foi um dos destaques de 1970. Em “desabusado recado à ditadura”, Francisco Buarque de Hollanda desafinou o coro dos contentes e chegou ao ponto de apelar para o uso de pseudônimos como uma forma de disfarce e assim conseguir escapar dos censores do regime autoritário. Julinho da Adelaide e Leonel Paiva foram os nomes escolhidos para a assinatura disfarçada. É “a canção no tempo” em que os artistas bebiam um amargo cale-se (SEVERIANO & MELLO, 2015). “Driblando com uma caneta na mão”, Chico enfrentou os militares e tem um capítulo a ele reservado no livro que expõe sobre a “Mordaça”, no qual estão registradas as “histórias de música e censura em tempos autoritários” (PIMENTEL & McGILL, 2021). No repertório censurado, Apesar de você tem os seus aparelhos de escuta desligados.

Produzir arte “num tempo de tempestade”. Um contexto hostil para quem tonalizou os ais dolorosos emitidos pelo “sangue da repressão” e pela “tragédia social” de um momento histórico de sinal fechado. Na sua ousadia criativa, o artista, em seus dribles poéticos, torna-se “um símbolo da resistência aos governos militares”. Chico é “o poeta da fresta” (MIRANDA, 2001). No relacionamento “entre o texto poético e a construção melódico-harmônica da obra musical”, os “aspectos sociais e históricos” da composição tonalizam os “sintagmas recorrentes nas obras buarqueanas” para criticar os breus ditatoriais. “A música das palavras”, em estudo semiótico das canções de Chico Buarque, aponta para as várias possibilidades de lê-las (TORRES, 2014). Na ligação “música popular e moderna poesia brasileira”, Chico Buarque representa “a música contra o silêncio” (SANT’ANNA, 2004).

Apesar dos Aiatolás, atoladores históricos, o brasileiro, profissão esperança, na escuta de Chico Buarque, afirma: “vai passar”. Na “canção de desafogo” e “saudação à democracia”, o objetivo é virar as páginas infelizes da nossa história. A coisa aqui está sombria, indelicada, áspera, grosseira. Acordados, emitimos um abaixo ao tempo do cale-se. Chega de sofrimento para as Angélicas que buscaram pelos seus(as) filhos(as) desaparecidos(as). Na construção de um país mais justo e democrático, o bom conselho é votar em quem entoa o samba “liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”.

Chico – artista brasileiro (2015), filme de Miguel Faria Jr., apresenta imagens do Chico Buarque multidimensional. O Chico político é apenas uma das dimensões de um homem complexo. Nas cenas em que discursa sobre as pedras colocadas no seu caminho pela censura ditatorial, destaca o ocorrido com a sua cria Apesar de você: “Foi um sucesso grande, assim, imediato, e aí acendeu uma luz ali e o pessoal se tocou que tinha aprovado o bicho errado, eles não podiam ter aprovado aquela letra. E aí o disco foi retirado das lojas. Esse foi o começo de uma série de problemas que eu tive com a censura, porque aí também existia uma vontade de vingança do outro lado, porque eles se sentiram ludibriados, né?”.

Chico relata os bastidores da violência sofrida pelo artista nas pressões feitas para que altere o conteúdo das suas criações musicais: “Eu não tinha diálogo nenhum com a censura, mas a gravadora tinha, tinha um advogado que ia a Brasília, recorria, tinha uma certa negociação. Eu me lembro bastante disso, de eu estar em casa e o sujeito ligar de Brasília, aquela ligação interurbana, meio difícil, aí ele dizia: se você trocar esse verso, a música passa”. Aí eu: tá bom, então me liga, dá uns 15 minutos pra eu tentar dar um jeito nesse abacaxi aí”.

Qual o impacto subjetivo de ser “vetado” no seu processo produtivo? Quais os sentimentos e emoções deflagrados? Entre perdas e danos, o desconforto situacional de criar sob o risco do amordaçamento, é desvelado por Chico: “Nessa briga, saímos todos perdendo, eu saí perdendo também. Eu acho que a qualidade artística, tem coisas que eu fiz nessa época que eu gosto, mas tem muita coisa que eu fiz mesmo com raiva, sabe, e você começa a criar, pressionado, debaixo de uma pressão e começa a responder a essa pressão e começa a não sei o quê. E isso sim, você fica com raiva e escreve canções raivosas e coisas que depois perdem o sentido, que passa o motivo da raiva e fica aquela canção solta, sem chão. Com raiva você não cria nada bem”.

Atento aos sinais do tempo histórico no qual está situado, o artista experimenta o seu particular engajamento. Um ativismo no qual a sua arte pensa e responde às provocações da conjuntura histórica na qual afirma a sua presença: “Os jornais me chamavam de ativista: o ativista Chico Buarque. “Eu participei de uma porção de movimentos e me aliei a uma porção de gente de todas as áreas que se opunham à ditadura. De alguma forma, o que eu pudesse fazer, que não fosse para pegar em armas, eu podendo contribuir, eu contribuía”.

19
Nov22

O CERCO AOS MANÉS E A ARMADILHA DO MIGUÉ APLICADO PELOS FASCISTÕES

Talis Andrade

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Por Moisés Mendes 

Há manés agarrados ao para-brisa de caminhões, manés foragidos em Nova York e manés rezando e atirando-se ao chão em louvação ao hino, à pátria, à família e aos militares.

Há manés num nível intermediário, organizando os manés da base, e até financiando alguma coisa, um churrasquinho ou um banheiro químico. São os práticos, os operadores da turma do deixa-comigo.

Há manés mobilizadores, porque têm forte voz de comando e são referências econômicas e políticas inspiradoras da extrema direita. Eles sustentam moral e financeiramente a balbúrdia.

É provável que todos eles, da hierarquia do projeto golpista, estejam representados nas listas enviadas pelas polícias dos Estados e pelo Ministério Público ao ministro Alexandre de Moraes.

Todos também têm representantes na lista, ainda pequena, de 43 nomes de pessoas e empresas apontadas como articuladoras e financiadoras dos atos e que tiveram contas bancárias bloqueadas por ordem de Moraes.

Esses manés das estradas e dos acampamentos nos quartéis, já identificados porque expostos presencial ou virtualmente, serão encaminhados a sacrifícios. Alguns não terão como escapar.

Charge do JCaesar | VEJA

Mas ainda faltam os que estão certos de que aplicarão um migué nas polícias, no MP e no Judiciário. São os grandes indutores do golpe, os chefões a serviço de Bolsonaro.

O grande fascista, o fascistão que aciona as muitas camadas de manés, não aparece ainda entre os listados, pelo menos publicamente.

Os investigadores e Alexandre de Moraes sabem de quem se trata. São figuras manjadas, que até tiveram aparições públicas de incitação ao golpe, antes e depois da eleição.

É a figura clássica do fascistão com muito dinheiro, poder político conquistado pela fidelidade ao bolsonarismo, e mais a soberba da impunidade. Esse fascista sem escrúpulos está acima de todas as hierarquias de manés.

Um mané foragido em Nova York só existe como fora da lei e sobrevive numa das cidades mais caras do mundo porque o manezão milionário o protege.

Mas esse grandão vai dificultar o trabalho dos que caçam manés, porque ele não deve ter deixado rastros como pessoa física.

O fascistão não manda pix, não contrata empresas de banheiros químicos e não aparece nas concentrações dos tios do zap. Mas sua energia golpista está ali.

O fascistão tem prepostos e atua desde a eleição de 2018. Ele é o desafio para os caçadores de manés, porque se protege na sua pessoa jurídica.

Os grandões que aplicam migué no Judiciário há muito tempo, que escaparam das ações no TSE contra a chapa Bolsonaro-Mourão, e que continuaram agindo, às vezes descaradamente, são os golpistas só aparentemente camuflados. Moraes conhece todos eles.

MP e Justiça podem pegar milhares de manés e conter a bagunça nas ruas. Mas sabem que, se não pegarem os fascistões, o trabalho terá ficado pela metade.

O fascistão é especialista em aplicar miguéis nas instituições, até por achar que é temido em todas as áreas e instâncias.  

Se ficar impune, o grandão milionário que trabalha a mando direto de Bolsonaro formará mais adiante novas tropas de manés, para reorganizar a turba e continuar conspirando.www.brasil247.com - { imgCaption }}

 

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