Anistia para golpista nunca mais

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) se irritou hoje ao ser questionado sobre a compra de imóveis em dinheiro vivo por parte de sua família. Reportagens exclusivas do UOL mostraram que o clã Bolsonaro adquiriu 51 propriedades com pagamentos em espécie ao longo das últimas três décadas.
O governante disse que não sabia "o que estava escrito na matéria", mas rebateu. "Qual é o problema de comprar com dinheiro vivo algum imóvel, eu não sei o que está escrito na matéria... Qual é o problema?", disse, após participar de uma sabatina promovida pela Unecs (União Nacional do Comércio e dos Serviços), em Brasília.
"O que eu tenho a ver com o negócio deles?", completou o postulante à reeleição, depois de reclamar de ataques da imprensa aos filhos e a familiares que moram no Vale do Ribeira (SP).
O uso de dinheiro em espécie para transações imobiliárias pode indicar operações de lavagem de dinheiro ou ocultação de patrimônio. O Senado discute um projeto de lei que sugere a proibição desse tipo de operação, mas o texto está travado há quase um ano, aguardando a designação de relator para que tramite na CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania).
Questionado se temia impacto eleitoral em razão da repercussão da reportagem, Bolsonaro respondeu que "não vai ter", e criticou o UOL. "Quem está fazendo é um órgão de imprensa que não tem mais qualquer credibilidade no Brasil", afirmou.
O presidente disse ainda não se importar com eventuais investigações referentes aos imóveis comprados com dinheiro vivo.
"Então tudo bem. Investiga, meu Deus do céu. Quantos imóveis são? Mais de cem imóveis... Quem comprou? Eu? A minha família? Meus filhos já foram investigados. Desde quando eu assumi, quatro anos de pancada em cima do Flávio, do Carlos, Eduardo menos... Familiares meus do Vale do Ribeira. Eu tenho cinco irmãos no Vale do Ribeira."
Minutos antes, durante a sabatina da Unes, o presidente citou brevemente as reportagens. "Se formos punidos por fake news, iriam fechar muitos órgãos de imprensa. Sou o primeiro a defender a imprensa. Pode continuar me criticando sem problema nenhum. Fiquei sabendo que um órgão está fazendo levantamento dos meus imóveis desde 90 com minha família, inclusive vi que minha mãe, que faleceu, está no processo, dona Olinda, com 94 anos de idade", disse.
Metade em dinheiro vivo Os colunistas Thiago Herdy e Juliana Dal Piva apuraram que, desde os anos 1990 até os dias atuais, o presidente, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo, segundo declaração dos próprios integrantes do clã.
Levantamento em cartórios As compras registradas nos cartórios com o modo de pagamento "em moeda corrente nacional", expressão padronizada para repasses em espécie, totalizaram R$ 13,5 milhões. Em valores corrigidos pelo IPCA, este montante equivale, nos dias atuais, a R$ 25,6 milhões.
Não é possível saber a forma de pagamento de 26 imóveis, que somaram pagamentos de R$ 986 mil (ou R$ 1,99 milhão em valores corrigidos) porque esta informação não consta nos documentos de compra e venda. Transações por meio de cheque ou transferência bancária envolveram 30 imóveis, totalizando R$ 13,4 milhões (ou R$ 17,9 milhões corrigidos pelo IPCA).
25 negócios levaram a investigações Ao menos 25 deles foram comprados em situações que suscitaram investigações do Ministério Público do Rio e do Distrito Federal. Neste grupo, estão aquisições e vendas feitas pelo núcleo do presidente, seus filhos e suas ex-mulheres não necessariamente com o uso de dinheiro vivo, mas que se tornaram objeto de apurações como, por exemplo, no caso das "rachadinhas" (apropriação ilegal de salários de funcionários de gabinetes).
Por meio de sua assessoria, o UOL perguntou ao presidente Jair Bolsonaro qual a razão da preferência da família pelas transações em dinheiro, mas ele não se manifestou.
1.105 páginas de 270 documentos O levantamento considera o patrimônio construído no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília pelo presidente, seus três filhos mais velhos, mãe, cinco irmãos e duas ex-mulheres.
Nos últimos sete meses, a reportagem consultou 1.105 páginas de 270 documentos requeridos a cartórios de imóveis e registros de escritura em 16 municípios, 14 deles no estado de São Paulo. Percorreu pessoalmente 12 cidades para checar endereços e a destinação dada aos imóveis, além de consultar processos judiciais.
Até a mãe de Bolsonaro, Olinda, falecida em janeiro deste ano, aos 94 anos, teve os dois únicos imóveis adquiridos em seu nome quitados em espécie, em 2008 e 2009, em Miracatu, no interior de São Paulo. Entre os imóveis comprados com dinheiro vivo pela família, estão lojas, terrenos e casas diversas.
Aman licitou mais de 13 toneladas de rabo e lombo para serem comidos ali onde Bolsonaro, Braga Netto, et caterva foram escarrados para o Brasil. In Natura e naturalmente para manter ereto “o moral da tropa”
Em 2021, após estourar o escândalo, digamos, orçamentário-nutricional dos milhões gastos pelo governo Jair Bolsonaro com gêneros nem tanto alimentícios, o presidente da República e o Ministério da Defesa correram para destacar que sem mascar chicletes, sem consumir um mundão de latas de leite condensado, o Exército Brasileiro não poderia existir.
As gomas de mascar para aliviar a pressão auricular “durante a atividade aérea”; o Leite Moça para dar aos recrutas a energia da onça-pintada. “Selva!”. Na época, Bolsonaro acrescentou que as unidades militares, desculpe, as unidades enlatadas de 395 gramas de leite condensado tinham ainda a utilidade metafórico-funicular de “enfiar no rabo da imprensa”.
Guardem a palavra, o corte: “rabo”.
Os brigadeiros e os enfeites de frutas
O Leite Moça não é, está longe de ser o único produto altamente calórico na tabela da “alimentação nutricionalmente balanceada” que o Ministério da Defesa afirmou, em nota anti-escândalo do leite condensado, ter a responsabilidade de promover, em nome da “saúde da tropa”; não é, está longe de sê-lo no rol do “mais alto padrão alimentar dentro das possibilidades orçamentárias disponibilizadas”, como diz o edital de pregão eletrônico 20/2020 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), lançado para a compra de “quantitativo de subsistência” pela Organização Militar (OM) que nutriu, susteve e proveu Jair Bolsonaro, bem como todo o generalato que compõe o Governo Federal.
Naquele edital, o Comando do Exército, via Aman, convocou à licitação de 73 artigos de padaria das mais diferentes qualidades e nas mais gigantescas quantidades, entre eles sete toneladas e meia de pão doce com cobertura de creme de confeiteiro e outras três toneladas com recheio de doce de leite; noventa mil unidades de bolinhos de baunilha, laranja ou chocolate; 500 quilos de bolo de aniversário com recheio de baba de moça, brigadeiro, ou doce de leite e enfeites de frutas; 62.500 unidades de docinho brigadeiro, a mesma quantidade de queijadinhas e de tartaletes e um pouco mais, 67.500 unidades, de quindim.
Mais artigos de padaria: 19 mil quilos de esfirra; 1.700 quilos de mini croissants recheados com ameixa com bacon, banana com canela, goiaba, maçã com canela ou queijo e presunto. Três mil e quinhentos quilos de folhados; cinco mil quilos de panetone; sorvete, muito sorvete; e 90 mil bombas – não o artefato bélico, mas o doce de confeitaria, especificado no edital como de “creme patissier, doce de leite ou goiabada com cobertura de chocolate preto ou branco”.
Açaí cremoso, não necessariamente da Wal
Destrinchando o documento, a certa altura supõe-se que a cereja do bolo seriam as 50 mil unidades de cupcake com recheio de doce de leite e cobertura de chantily com cereja, quitutes com os quais a Aman previa gastar até R$ 155 mil.
Mas nada chegou perto do que foi reservado para comprar 10 mil discos de pizza brotinho e nada menos que 100 mil unidades de mini pizza. Só neste edital, só em pizza, a Aman – só esta OM do Exército – previu gastar cerca de 750 mil reais, naturalmente para garantir “o mais alto padrão alimentar dentro das possibilidades orçamentárias disponibilizadas”, quesito em que brilha ainda a previsão de compra pela academia de algumas toneladas de quibe com catupiry.
Catupiry não é gênero alimentício, mas sim marca registrada de requeijão, no que o edital de pregão eletrônico 20/2020 da Aman está em desconformidade com a Lei de Licitações, que proíbe indicação de marcas, salvo quando for “tecnicamente justificável”. Não fosse isso e as quinhentas caixas de torrada “Wickbold ou similar” para canapés, nada haveria a ser justificado, com que escandalizar-se, neste retrato, neste instantâneo das compras do governo.
Nem as cinco toneladas de panetone. Nem os 50 mil copinhos de 200 ml de açaí cremoso pelos quais o edital previa pagar um total de mais de R$ 300 mil. Afinal, nada no edital induz a favorecimento de alguma Wal de Angra dos Reis.
Seu milico merece Baton
Por falar em marcas registradas, em um outro edital, anterior, o de número 38/2019, a Aman abriu chamamento para a compra de 20 mil tabletes de chocolate branco “Galak ou equivalente”; outros 20 de mil tabletes de chocolate ao leite crocante “Diamante Negro ou equivalente”; 30 mil tabletes de chocolate com flocos “Chokito ou equivalente”; outras 30 mil unidades de chocolate com leite maltado “Lollo ou equivalente”; mais 30 mil de “Charge ou equivalente”; e nada menos que 150 mil tabletes de 16 gramas de chocolate “Baton ou equivalente”.
Galak, Diamante Negro, Chokito, Lollo, Charge, Baton; R$ 157 mil só em tabletes de 16 gramas de Baton, só para a Aman; compre Baton, compre Baton, seu milico merece Baton.
Das seis marcas de chocolate citadas no edital, só uma da Lacta, só uma da Garoto e quatro cobertas com delicioso chocolate Nestlé. Assim, realmente, não é possível, com as empresas do jeito que estão, passando fome… Mas, pelo menos para a Lacta, a coisa melhora um pouco quando chegamos, no edital 38/2019 da Aman, na parte dos bombons, quando a OM anuncia intenção de compra de 3,2 toneladas de “Sonho de Valsa ou equivalente”.
Neste outro edital, datado de julho de 2019, a Aman anunciou intenção de compra também de onze toneladas e meia de muçarela. Daria mais de um quilo de muçarela para cada disco de pizza brotinho, pelo número de discos de pizza brotinho comprados na licitação de um ano depois, em julho de 2020. Mas não seria honesto fazer este tipo de associação, porque, além de ter que se levar em conta o misto-quente do oficialato, os cadetes da Aman devem consumir muçarela de outros jeitos, ainda que, em matéria de queijos, no mesmo edital tenham sido licitados nove toneladas de queijo minas padrão, quase três de parmesão, 12.700 quilos de queijo prato, 100 quilos de ricota, outros 100 de provolone, mais 100 quilos de gorgonzola, além de oito mil potes de requeijão.
Foi de oito mil também, no edital no número 38/2019 da Aman, o número de latas de leite condensado, que elas não poderiam faltar.
Lula, mas em anel
Numa laive feita à época do leite condensado, Jair Bolsonaro apareceu com uma lata de Leite Moça para marcar posição de que “aqui não tem lagosta”, numa referência a um famigerado edital pregresso do STF que licitou o crustáceo, além de vinhos internacionalmente estrelados, para a ceia das excelências.
No edital número 38/2019 da Aman, de fato não constava lagosta, mas abriu-se licitação para 300 quilos de lula, sem metáfora desta vez, mas sim em anel; 250 quilos de siri; 600 quilos de camarão branco, variedade grande (VG), a R$ 80 o quilo; mais de 600 quilos de camarão sete barbas; e 250 quilos de polvo.
Duzentos e cinquenta quilos de polvo, alimento que de resto tem poucas calorias, ao contrário do Leite Moça. Pode ser um sinal da “alimentação nutricionalmente balanceada” citada pelo Ministério da defesa na nota anti-escândalo dos chicletes e leites condensados. Ou pode ser que, além das insígnias das patentes, os frutos do mar também informem sobre postos e graduações do Exército Brasileiro.
O efetivo da Aman é de aproximadamente 4.630 militares, dos quais apenas 1.700 são cadetes. Os demais são aqueles que manuseiam, se não tentáculos, os 150 mil alfinetes para mapa licitados em outro edital da Aman do ano retrasado, o de número 30/2019, este para aquisição de “material de expediente”.
Cento e cinquenta mil alfinetes para mapa. Se não estamos em guerra, parece que vamos entrar numa em breve.
Cupcakes para “o moral elevada da tropa’
Nos outros editais, tanto naquele para compra de artigos de padaria, de 2020, quanto no de 2019, para compra de outros gêneros alimentícios, a Aman justifica as contratações de toneladas de quindins, cupcakes e “Sonho de Valsa ou equivalente” dizendo que “os cadetes realizam mais de 30 atividades de acampamento durante o ano letivo, nos quais (sic) são simuladas operações táticas de combate, sendo o fator alimentação primordial para suprir as necessidades de gastos calóricos, bem como para a manutenção do moral elevada da tropa empregada nessas situações”.
O curioso é que, mesmo com toda esta comilança, a Aman abriu recentemente, em setembro de 2020, edital para “contratação de empresa especializada na exploração e funcionamento de uma cantina (com a comercialização de alimentos e bebidas), mediante cessão onerosa de uso da área com pagamento de taxa de ocupação, para atender as necessidades dos militares e demais usuários desta OM”.
Não é de hoje, não é desde que chegou à presidência que Bolsonaro está sempre na Aman, na qualidade de ex-aluno e de “mito”. No dia 18 de outubro daquele 2020, ele postou em sua conta no Twitter um vídeo com imagens daquele dia, em que saudava a turma de cadetes formandos ao lado do então ministro da Defesa, general de Divisão Fernando Azevedo e Silva, mais um ex-aluno da academia.
As imagens eram intercaladas com outras, da saudação que Bolsonaro fez a outra turma de formandos da Aman, em 2014, ocasião em que disse à tropa: “alguns vão morrer pelo caminho, mas em 2018 nós vamos jogar para a direita esse país”.
Alguns, hein?
Agora sim, uma metáfora de respeito
No edital 38/2019, a Aman pediu preços ainda para 2.800 quilos de rabo bovino in natura e outros 2.800 de rabo de porco salgado in natura também. Isto para não falar nos lombos: exatos 7.437 quilos de lombo in natura para serem comidos na Aman.
Mais de 13 toneladas de rabo para serem comidos ali onde Bolsonaro, Azevedo e Silva, Mourão, Heleno, Braga Netto, et caterva foram paridos, escarrados para o Brasil. In Natura e naturalmente para manter ereto “o moral da tropa”.
Junte isso aos 35 mil comprimidos de Viagra e, agora sim, senhoras e senhores, agora sim é uma metáfora.
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