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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

15
Jul22

A brasileira que sequestrou um avião acompanhada de dois filhos pequenos durante a ditadura

Talis Andrade

A saga da guerrilheira que sequestrou um avião para fugir da ditadura  militar brasileiraA saga da guerrilheira que sequestrou um avião para fugir da ditadura  militar brasileiraMarília Guimarães: a brasileira que sequestrou um avião - Mega Curioso

 

 

 

Marília Guimarães tinha apenas 22 anos em 1º de janeiro de 1970, quando adentrou o Aeroporto Internacional de Carrasco, em Montevidéu, determinada a embarcar no voo 114 da Cruzeiro do Sul com destino ao Rio de Janeiro - uma viagem que, ela já sabia, mudaria radicalmente sua vida, para o bem ou para o mal.

Acompanhada dos filhos Marcelo e Eduardo, então com 3 e 2 anos, Marília estava carregada de bolsas com fraldas, mamadeiras e brinquedos, além das bagagens. Por baixo do vestido que trajava, levava ainda, colados ao corpo, seis revólveres.

A jovem professora fazia parte de um grupo de seis guerrilheiros - ou terroristas, como preferia a ditadura militar vigente - de um movimento de esquerda radical contrário ao regime. O objetivo dos seis era sequestrar o avião Caravelle e levá-lo para Cuba, onde Marília e os dois filhos poderiam viver em liberdade.

Há um ano na clandestinidade com as duas crianças pequenas, Marília dormia a cada noite em um lugar diferente para despistar os militares. A captura de uma aeronave era a única saída que ela conseguia vislumbrar para voltar a ter uma vida normal. Naquele momento, a ideia não parecia mais perigosa do que vagar sem rumo com os meninos sob a ameaça constante da prisão e da tortura.

Quando você já está no perigo, tem uma força que nem sabe de onde vem", explica. "É como parir: chegou a hora, vai doer, mas não tem outro jeito."

A bagunça que os meninos faziam no saguão do aeroporto era tanta que acabou concentrando a atenção de policiais e funcionários do aeroporto. O embarque ocorreu sem nenhum problema - na época, não havia detector de metais no terminal de Montevidéu.

"Ironicamente, os policiais estavam tomando conta das crianças", lembra Marília.

Além dela e das duas crianças, embarcaram Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, o primeiro marido da ex-presidente Dilma Rousseff, James Allen da Luz, o comandante da ação, Athos Magno Costa e Silva, Isolde Sommer e Luiz Alberto da Silva.

Enquanto os passageiros ajeitavam as bagagens e se sentavam, Marília distribuiu as armas entre os companheiros. Assim que o avião levantou voo, o sequestro foi anunciado. "Vamos para Cuba", asseverou James, lendo, em seguida, um manifesto político, em que explicava os motivos da ação.

O que os guerrilheiros não sabiam era que aquela aeronave estava com uma turbina defeituosa e só tinha autonomia de combustível para duas horas de voo, o que complicaria muito os planos de pousar na ilha de Fidel Castro ainda naquele dia. Leia mais. Reportagem de Roberta JansenMarília Guimarães lança livro sobre clandestinidade, sequestro e exílio

Aos 71 anos, Galeno vive na Nicarágua, com a segunda mulher, Mayra, e as filhas Iara e Anna

Os fichados do Dops: primeiro marido da presidente Dilma participou de sequestro de avião

Reportagem de Zero Hora traz à tona 4,6 mil fichas de "coleta e processamento de informações" do Dops gaúcho, papéis que hoje estão sob a guarda do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Nessa parte da reportagem, veja histórias de políticos e militantes de oposição que aparecem no acervo.

Uma das mulheres mais poderosas do planeta hoje, a presidente Dilma Rousseff não mereceu mais do que cinco linhas nos arquivos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) gaúcho. Foi um mero apontamento em 14 de março de 1969 na ficha nº 25, classificando Dilma como comunista e trotskista.

Ela não tinha atividade subversiva no Rio Grande do Sul, e a informação parece servir mais como um alerta. Mas o documento inclui uma observação adicional (que não faz parte da biografia oficial da presidente no site do Planalto): "É esposa de Cláudio Galeno de Magalhães Linhares". O fichado nº 24.

O cadastro de Galeno contém apenas três tópicos datados de março de 1969, dezembro de 1971 e junho de 1972. Um precário resumo da trajetória do homem que, além de influenciar a formação político-ideológica de Dilma, foi protagonista de uma das mais ousadas ações da esquerda armada na América Latina: o sequestro de um avião brasileiro levado do Uruguai para Cuba.

- Estou surpreso com essa ficha. Foi feita para encher linguiça, fabricada para efeitos de divulgação. Seguramente, queimaram os arquivos verdadeiros. Em 1971, eu estava no Chile e foi registrado que estava no Brasil - recorda Galeno, 71 anos, por telefone, da Nicarágua, onde vive com a segunda mulher, Mayra, e as filhas.

Conhecido pelo codinome Lobato, Galeno, mineiro de Ferros, um estudante de sociologia, repórter de jornal, ex-preso político, vivia em Porto Alegre no final dos anos 1960. Caçado por militares depois da prisão de companheiros da Colina (Comando de Libertação Nacional), Galeno e Dilma foram obrigados a sumir de Belo Horizonte. Desmancharam um casamento de dois anos registrado em cartório e celebrado com festa. Leia mais.

Em site, veja especial multimídia e faça pesquisas nas fichas do Dops

 

21
Fev22

POEMAS PARA EXUMAR A HISTÓRIA VIVA

Talis Andrade

história viva.png

 

Organizada pelo professor e poeta Alberto Pucheu, a antologia Poemas para exumar a história viva; um espectro ronda o Brasil apresenta 25 poemas escritos sobre a Ditadura por poetas que foram presos políticos ou assassinados pelo regime militar. Diversos poemas e autores resgatados neste livro foram esquecidos ao longo dos anos – inclusive pela crítica especializada – exatamente por tematizarem a ditadura e a resistência a ela. 

Além de sua parte principal com poemas referentes ao golpe de 64 e ao que a partir de então foi instaurado no país, o livro tem um poema adicional, escrito em 2019 por Pedro Tierra – um dos poetas que constam da seleção –, que tematiza o momento histórico que hoje vivemos, criando um vínculo entre o passado, o presente e os diferentes modos de autoritarismo que historicamente nos concernem. Ao vincular esses diferentes períodos, o livro mostra como os poemas mais antigos são assustadoramente atuais e como nosso tempo remete ao anterior.

 Tanto em seus poemas quanto em diversos modos de ativismos, que vão, dentre outros, das guerrilhas urbanas e rurais às intervenções culturais e jornalísticas, os 25 poetas presentes na antologia, por suas posições políticas, foram presos e alguns chegaram a ser assassinados pelo regime, caso de Carlos Marighella e Luiz Eurico Tejêra Lisboa. Pucheu apresenta nomes pouco conhecidos do público majoritário da poesia, como, dentre outros, Pedro Tierra, Maria Celeste Vidal, Alípio Freire, Wilma Ary, Raimundo Nonato da Rocha, Lara de Lemos, Stênio Freitas e Loreta Valadares, além de outros poetas mais conhecidos, tais como Ferreira Gullar, Thiago de Mello, Eduardo Alves da Costa, Álvaro Alves de Faria, Moacy Félix e Nicolas Behr, para mencionar alguns exemplos.

O projeto gráfico de Fernando Saraiva conta com uma riquíssima pesquisa iconográfica realizada nos arquivos do Serviço Nacional de Informação (SNI), hoje disponíveis ao público. Criando uma narrativa própria com documentos imagéticos e textuais, Saraiva nos dá a ver modos como o governo apreendia – e porque os prendia – os poetas da antologia que a ele resistiram. Saraiva joga com as cores e traz todas as imagens em verde militar, representando o exército e a força autoritária. Já os textos estão em vermelho, representando o sangue dos que, lutando contra ditadura, foram mortos e torturados, bem como o comunismo que muitos defendiam.

01
Fev22

Moïse Kabamgabe: Milícia matou cruel e covardemente congolês no Rio sem governo e lei

Talis Andrade

Image

 

Moïse, de 24 anos, veio para o Brasil em 2014 com a mãe e os irmãos, como refugiado político, para fugir da guerra e da fome. Ele trabalhava por diárias em um quiosque perto do Posto 8, na Barra da Tijuca.

A família disse que o responsável pelo quiosque estava devendo dois dias de pagamento para Moïse e que, quando o congolês foi cobrar, foi espancado até a morte.

Mãe pede justiça

Ivana Lay, mãe de Moïse Kabamgabe, jovem congolês morto na Barra da Tijuca — Foto: Reprodução/ TV Globo

Ivana Lay, mãe de Moïse Kabamgabe, jovem congolês morto na Barra da Tijuca — Foto: Reprodução/ TV Globo

 

O corpo foi enterrado no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio, no domingo (30). O sepultamento foi marcado por protestos. A família de Moïse pediu justiça.

“Meu filho cresceu aqui, estudou aqui. Todos os amigos dele são brasileiros. Mas hoje é vergonha. Morreu no Brasil. Quero justiça”, afirmou Ivana Lay, mãe de Moïse.

“Uma pessoa de outro país que veio no seu país para ser acolhido. E vocês vão matá-lo porque ele pediu o salário dele? Porque ele disse: ‘Estão me devendo’?”, questionou Chadrac Kembilu, primo de Moïse.Image

Agressões filmadas

As agressões teriam durado pelo menos 15 minutos e foram gravadas pelas câmeras de segurança do quiosque. Moïse apanhou de homens que, segundo testemunhas, usaram pedaços de madeira e um taco de beisebol.

"O início da gravação que eu vi é ele reclamando com o gerente do quiosque. Alguns minutos seguintes, o gerente pegou um pedaço de madeira para ameaçar ele. Até então, ele estava só recuando. E o cara foi atrás dele. Como ele estava reivindicando alguma coisa, ele pegou uma cadeira e dobrou para se defender. Ele não chegou a atacar ninguém. O gerente chamou uma galera que estava na frente do quiosque. Até então tinha só um sentado", contou Yannick Kamanda, primo da vítima.

Segundo o familiar, as agressões se agravaram.

"Veio uma galera que o arremessou no chão, tentando dar um golpe de mata-leão nele. Vieram mais algumas pessoas bater nele com madeira, veio outro com uma corda, amarrou as mãos e as pernas para trás, passou a corda pelo pescoço. Ficou amarrado no mata-leão, apanhando. Tomando soco e taco de beisebol nas costelas. Até ele desmaiar", disse o primo.

De acordo com o relato do primo que viu as imagens, o dia de trabalho continuou, mesmo com a morte de Moïse.

"Eles foram embora e ficou só o gerente do quiosque. E ele deitado no chão, como se nada estivesse acontecendo. Trabalhando, atendendo cliente. E o corpo lá”, afirmou Yannick.

Os parentes só souberam da morte na manhã de terça-feira (25), quase 12 horas após o crime.

'Ele foi morto por R$ 200. Esse é o valor de uma vida', diz deputada

Dani Monteiro, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, afirmou que Moïse foi morto ao cobrar R$ 200 reais, diária de dois dias de trabalho.

— É difícil falar desse tema. Negros e negras daqui, e também os asilados, não são vistos como cidadão. Ele foi morto por R$ 200. Por R$ 200. Quanto vale a nossa vida negra? Estamos falando de um trabalhador que vendeu sua força de trabalho e foi apenas receber. No entanto foi morto. O corpo dele foi amarrado, espancado na rua e tudo foi naturalizado. As pessoas passavam e não falavam nada. Temos o relato (das agressões) da família e todas as informações da perspectiva cabe àa Polícia Civil — disse a parlamentar, que completou:

— A comunidade congolesa está conversando com a embaixada e estamos à disposição. (No Rio) São cerca de cinco mil imigrantes do Congo e boa parte deles são refugiados. O caso do Moïse mostra o quanto esse estado é racista.

Milícia da Barra da Tijuca tortura e mata

Image

Moises Kabagambe, 24 anos, foi amarrado e espancado até a morte por 5 homens quando foi cobrar o seu salário atrasado em um quiosque no RJ. O quiosque se chama TROPICALIA, e situado em área de milicia. ISSO NÃO PODE SER CONSIDERADO NORMAL. NÃO PODE FICAR IMPUNE.

Renato Antonini
Imaginem espancaram alguém com bastão de basebol até a morte, por causa de dois dias de trabalho. A vida do negro, do pobre sendo desrespeitada por nada, todo dia. Por gente covarde, racista, cruel. Dois dias de trabalho!!!!! #justicaparaMoises
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CristianaFC
Para entender o que aconteceu com Moïse, para entender como a milícia está se espalhando pelo Brasil, em metástase, incontrolável, vale ler e ouvir e e LER, como livro de cabeceira, A República das Milícias, do Bruno Paes Manso
 
Rudá Morcillo
A foto mostra selo de contribuinte que a milícia usa para marcar território. Percebam que não é escondido. Possuem lojas de gatonet e Internet no comércio - entre outras coisas - sem fiscalização. Milícia é autoridade estabelecida no Rio de Janeiro. O último a sair apague a luz.
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Nilto Tatto - #ForaBolsonaro 
O assassinato do jovem congolês Moïse Kabamgabe, tem as digitais da milícia, facção criminosa apoiada por autoridades que as defendem e empregam seus familiares. Outras facções criminosas exploram garimpo em terras indígenas, também c/ a cumplicidade de autoridades. Coincidência?
Marianna Araujo
na alerj, na câmara, no leblon, na tijuca, na lapa (pra cacete!), em dezenas de secretarias, em tudo quando é praia do estado do rio. a milícia da "zona oeste" é um conto de três temporadas atrás, gente.
Orlando Calheiros
Pelamor, apenas parem de falar que "as milícias controlam a Zona Oeste carioca e a baixada fluminense". As milícias controlam o estado, controlam a capital, tudo. Não tem só milícia na Barra da Tijuca, tem milícia em Laranjeiras, em Copacabana, em condomínio chique em Angra...
Orlando Calheiros
A pergunta se tal lugar é "área de milícia" não faz sentido algum - e no fundo só reforça estereótipos racistas, demofóbicos e classistas sobre a cidade. Todo o Rio de Janeiro é área de milícia, da Gávea até Santa Cruz, de Macaé até a Morro Agudo.

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