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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

14
Mai23

Imprensa francesa entrevista exilados do governo de extrema direita de Bolsonaro

Talis Andrade

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Insultos, incitações ao estupro e ameaças de morte

 

Em 23/10/2022, o Libération traz uma reportagem sobre os exilados do Brasil de Bolsonaro. Em uma grande reportagem do jornalsita Julien Lecot, entrevista pessoas que deixaram o Brasil após a eleição de Bolsonaro por terem sofrido ameaças - inclusive de morte. 

Uma das entrevistadas, a geógrafa e professora da prestigiada Universidade de São Paulo (USP) Larissa Bombardi publicou, no final de 2017, um atlas sobre o uso de agrotóxicos no Brasil e suas consequências para os consumidores da União Europeia (UE). Um trabalho substancial, fruto de vários anos de pesquisa, diz Libération.

Quando seu trabalho foi traduzido para o inglês em meados de 2019 e distribuído na Europa, Larissa Bombardi ganhou fama e também as primeiras ameaças. Após aparições na mídia, ela recebeu intimidações por e-mail de pessoas que alegavam trabalhar na indústria de agrotóxicos. Essas ameaças aumentam quando o chefe de uma rede de supermercados sueca pediu um boicote aos produtos agrícolas brasileiros por causa do uso generalizado de agrotóxicos, a ponto de sua universidade se oferecer para protegê-la em seu local de trabalho.

Ao mesmo tempo, sua pesquisa foi atacada por figuras influentes do agronegócio e lhe disseram que estava sendo observada de perto pelo Ministério da Agricultura. Durante o verão de 2020, sua casa foi roubada por três homens enquanto ela estava lá com sua mãe. As duas mulheres foram trancadas no banheiro e ameaçadas de morte. Os ladrões só levaram um computador antigo contendo o trabalho da pesquisadora e o carro da família, que abandonam algumas centenas de metros adiante.

"Provavelmente fui ingênua, mas como só usei dados públicos e oficiais, não achei que minha pesquisa me causaria problemas", disse Larissa Bombard, exilada na Bélgica desde 2021, ao Libération, que destaca que o caso de Larissa não é isolado. 

"Nos últimos anos, vários brasileiros foram forçados ao exílio porque sentiram que estavam em perigo em seu próprio país. O discurso e a política de Jair Bolsonaro têm muito a ver com isso, ele que repetidamente atacou verbalmente a esquerda e, em geral, todos os ativistas e progressistas. Durante a campanha de 2018, prometeu assim enviar 'para o exterior' ou 'para a prisão' os 'vermelhos'", escreve o jornal francês, que destaca um discurso de Bolsonaro, naquele ano, em que ele dizia, sobre os opositores: "Serão banidos da nossa pátria. Será uma limpeza como nunca antes na história do Brasil".

Da fala ao ato

"Bolsonaro conseguiu criar uma espécie de terror na escala da sociedade brasileira, que, no entanto, havia começado alguns anos antes de ele chegar ao poder", denuncia ao Libération a filósofa Márcia Tiburi, que deixou o Brasil no final de 2018 e agora vive na França. Durante seus últimos anos passados em seu país natal, Tiburi recebeu ameaças diárias.

O repórter Julien Lecot destaca que Tiburi, candidata à governadora do Rio de Janeiro nas eleições de 2018, assim como o ex-deputado federal Jean Wyllys, foi uma das primeiras exiladas do bolsonarismo e frisa que mesmo a milhares de quilômetros do Brasil, as ameaças contra eles continuam e aumentaram consideravelmente durante a campanha presidencial de 2022.

Desde o lançamento oficial da campanha presidencial, em agosto, as ONGs Justiça Global e Terra de direitos contabilizam uma média de dois episódios de violência por dia no Brasil contra eleitos, candidatos ou outras pessoas que exerçam ou tenham exercido funções relacionadas à política. Esta violência "visa mais partidos de esquerda ou centro-esquerda, ou eleitos comprometidos com a defesa dos direitos humanos, a comunidade LGBTQIA+ ou a luta contra o racismo", sublinharam as organizações no início de outubro, apontando para um número de episódios violentos multiplicado por cinco em comparação a 2018.

Dentre os vários depoimentos recolhidos pelo jornal está o da psicanalista Renata, que mora na França na França desde 2019 e afirma que, por causa de Bolsonaro, tem "vergonha de ser brasileira". 

Horas antes de ser preso, Ivan Rejane Fonte Boa Pinto fez novas ameaças ao STF (Supremo Tribunal Federal) e desafiou o ministro Alexandre de Moraes. O homem teve prisão temporária decretada após dizer que iria "caçar" integrantes do tribunal e lideranças de esquerda, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pinto foi detido pela Polícia Federal, em Belo Horizonte. Além da prisão temporária, Moraes autorizou a PF (Polícia Federal) a fazer buscas em dois endereços ligados a Ivan, um em Belo Horizonte e outro em Esmeraldas (MG), na região metropolitana da capital mineira. 

Qual a diferença entre um general gira Girão e um soldado raso, o cabo Junio deputado federal, e um maluco tipo Rejane Pinto? Todo golpista pensa igual. Quem, safada e covardemente, trama Bolsonaro ditador é favorável a armar bomba no aeroporto de Brasília.

Nelson Piquet, receptador de objetos subtraídos por Bolsonaro, deseja ver Lula "no cemitério"

Mentes doentias no Congresso representam o Brasil genocida. Das 700 mil mortes por Covid. O Brasil do genocídio dos jovens negros nas favelas. O genocídio dos povos indígenas. A boma no aeroporto de Brasília lembra as bombas de Bolsonaro tenente nos quartéis. É o Brasil dos psicopatas. Dos serial killers. 

Com tanta gente de mente assassina entendo o exílio dos brasileiros. Como cantou Bandeira:

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

22
Fev23

O carnaval dos convidados de Bolsonaro

Talis Andrade
 
 
Mamilos à mostra no carnaval: com política contra assédio, mulheres se  sentem mais livres na folia do Rio | Carnaval | O Globo

 

"Brasileirinhas" site pornô.

Triste fama de 'prostituta'

Retirantes da pobreza, da fome, do desemprego, o exilado brasileiro, a exilada brasileira tiveram de escolher: na ditadura militar, a ponta da praia na terra natal ou a esquina da rua nas capitais dos Estados Unidos e Europa.

O racismo nos Estados Unidos, a xenofobia das ditaduras nos países da Europa, e a extrema direita no mundo hodierno facilitaram a pecha infame: brasileiro, brasileira, inclusive em alguns dicionários, sinônimos de gay, de prostituta.

O presidente gigolô, do lema nazi=fascista "deus, pátria e família", para propagar a má fama, o turismo sexual, convidou: "Quem quiser vir fazer sexo com mulher, fique à vontade", disse Jair Bolsonaro.

Os estrangeiros jamais celebraram o carnaval brasileiro como uma diversão inocente, colorida, de serpentinas, confetes, da alegria nas ruas, dos blocos de papangus, a festiva brincadeira, pela participação de crianças, pela música, pela dança do samba, pelos passos do frevo.

Este ano o carnaval vai propagar o escândalo da orgia. Escrevem Taís Codesco, Luana Reis e Giovanna Durães:

Mamilos à mostra no carnaval: com política contra assédio, mulheres se sentem mais livres na folia do Rio.

 
Mamilos à mostra no carnaval: com política contra assédio, mulheres se  sentem mais livres na folia do Rio | Carnaval | O Globo
Mamilos à mostra no carnaval: com política contra assédio, mulheres se  sentem mais livres na folia do Rio | Carnaval | O Globo
 

 

Depois de dois anos de privação, nos blocos de 2023 só se fala em uma coisa: liberdade. Em meio às fantasias elaboradas , apenas uma hot pant e um tapa-mamilo, que estão em alta entre as mulheres, foram capazes de expressar a alegria desse momento. Não se sabe ao certo quando o adereço tomou conta dos cortejos, mas se tornou uma verdadeira tendência. Os acessórios lembram aqueles usados pelas dançarinas em espetáculos burlescos nos séculos XIX. Se antes remetia a sensualidade feminina, hoje foi ressignificado como um símbolo de autonomia do próprio corpo.

Os melhores do carnaval: Beija-Flor é a melhor escola pelo Estandarte de Ouro

Carnaval 2023: confira em tempo real tudo sobre os desfiles das escolas de samba e os cortejos dos blocos de rua no Rio

É a primeira vez que Luciana Abud, 35 anos, de São Paulo, está saindo de casa para pular carnaval usando somente um pequeno pedaço de fita colante nos seios, a hot pant, uma peça que há vários carnavais virou hit. Ela conta que, a princípio, se sentiu insegura, e até levou uma blusa, mas depois o sentimento de liberdade foi tomando conta. O seu maior medo era o assédio, mas Luciana se surpreendeu com o respeito das pessoas nos espaços.

— Está sendo uma experiência muito legal. Todo mundo olha, isso é inevitável, até mesmo mulheres. Mas não me incomoda. Sinto que isso gera uma curiosidade — conta.

Sua amiga, Lorena Ribeiro, advogada de 28 anos e também de São Paulo, aderiu a um visual parecido, com uma blusa de renda transparente e sem nenhuma outra peça tapando os mamilos.

— É óbvio que os caras olham, mas eu acho que há 10 anos seria muito pior. Eu sinto que a gente venceu, mesmo que um pouquinho, mas só de conseguir andar pela orla sem ser importunado já é uma vitória. Isso para mim também é uma evolução pessoal, tanto mulher quanto como feminista, considero até mesmo uma licença poética — diz Lorena. Elas concordam que o visual é mais confortável, ainda mais em meio ao calor e à multidão dos blocos.

O Brasil devia realizar programas para eliminar a má dos brasileiros e brasileiras no exterior. O Governo Brasileiro precisa promover campanhas contra a xenofobia, o racismo, tormento dos exilados brasileiros nos Estados Unidos e países europeus, notadamente Portugal. Criar políticas que evitem o tráfico humano, a propaganda sexual, inclusive a  permanência de sites pornôs 'verde e amarelo', as cores de uso exclusivo das prostitutas na Roma Antiga.

Publica a revista 'Veja': 

O mistério sobre a assinatura de Carta Zambelli em site pornô

Suposto extrato do "Brasileirinhas" em nome da deputada circula pelas redes sociais

Desde a manhã desta quarta-feira, 22, circula pelas redes sociais um suposto extrato de débito, atribuído à deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), referente à assinatura mensal do site pornô Brasileirinhas. No recibo, não aparece o nome da parlamentar, apenas uma montagem com sua foto. O assunto tornou-se um dos mais comentados do Twitter. Desde que recuperou acesso às redes sociais, a parlamentar tem se manifestado sobre vários temas, mas ainda não tocou no caso Brasileirinhas, apesar das insistentes cobranças dos internautas.

Procurada pela reportagem de  VEJA, a parlamentar não respondeu aos pedidos para confirmar ou não a informação. O diretor do Brasileirinhas, Clayton Nunes da Silva, em contato com a revista, afirmou que precisaria ter acesso aos dados pessoais da parlamentar para confirmar ou não se a assinatura realmente foi feita por ela. Ou seja, o mistério permanece.

Este proxeneta Clayton Nunes da Silva devia ser processado por usar o nome de "Brasileirinhas" em site pornô. Não é de estranhar tal absurdo, esse crime contra a imagem do Brasil, contra a mulher brasileira, que Paulo Guedes, que era super ministro da Economia de Bolsonaro, criou sites de relacionamentos, segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo. De acordo com o texto, Guedes é dono, ao lado do irmão, da empresa Nol Web Services, que se propõe a encontrar “soluções para solteiros que procuram um relacionamento sério”. O grupo Nol atua em inúmeras frentes, mantendo diversas marcas na área amorosa. “O Romance Cristão” é um site de relacionamento para evangélicos e “Nunca é Tarde para Amar” dedica-se à terceira idade. Já o “Namor o Online” é a versão mais liberal. Ao inscrever-se, o usuário pode dizer se tem interesse em amizade, namoro, sexo casual, casamento ou apenas em “ficar”. Há opções para heterossexuais e homossexuais.

15
Out22

"Quebrando Mitos": filme que faz uma autópsia da grande tragédia brasileira

Talis Andrade

 

QUEBRANDO MITOS - a frágil e catastrófica masculinidade de Bolsonaro -  YouTube

Documentário que todos deveriam ver se possível antes da eleição de 2 de outubro

 

por Ricardo Kotscho /UOL

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Que porrada! Poucas vezes na vida me senti tão arrasado ao terminar de ver um filme e, ao mesmo tempo, encantado com a excelência que atingiu o cinema brasileiro, após anos de destruição sistemática da nossa cultura.

No dilacerante filme-documentário "Quebrando Mitos" sobre a "masculinidade catastrófica" do governo de Jair Bolsonaro, de Fernando Grostein Andrade e Fernando Siqueira, lançado esta semana no país, o Brasil é um corpo estendido no chão, recolhido pelos dois jovens cineastas para fazer a mais completa autopsia da grande tragédia brasileira.

Partindo dos seus dramas pessoais, Andrade e Siqueira, homossexuais assumidos num país homofóbico, machista, misógino e violento, que glorifica a ignorância e a estupidez humana, tiveram que sair do Brasil para um autoexílio em Los Angeles, quando Bolsonaro assumiu o poder, para poder montar em paz e segurança o filme das suas vidas, ameaçadas pela intolerância galopante.

Como foi possível chegarmos a esse ponto de degradação humana, tão bem retratado no filme, com o país de cócoras, devastado por um exército de ocupação?

Bolsonaro seria incapaz de fazer isso sozinho. Foi preciso um trabalho coletivo, envolvendo muita gente de poder político, religioso e militar, amplos setores da elite nacional, e eu diria que até com a ajuda de forças de fora, para abalar os alicerces institucionais desta grande nação.

Essa gente agora não vai querer largar o osso. É tudo muito assustador. Vai levar décadas para apagarmos essa chaga da nossa história.

"Está tudo ali, a ponto de doer", escreve o amigo Fabio Altman, em sua brilhante resenha na revista Veja, sobre o "tempo da insensatez", onde recolhi esta síntese do que acabei de ver:

"A apologia do machismo. o ataque às políticas de proteção ao meio ambiente; a promoção das milícias; o descaso irresponsável com a pandemia; a transformação da fé dos evangélicos em massa de manobra e o culto às mentiras como atalho de ascensão nos corredores de Brasília, até a eleição de um deputado apagado como presidente da República".

O primeiro capítulo dessa tragédia, contado com grande destaque no filme, aconteceu na verdade antes da posse do inominável: o assassinato da vereadora Marielle Franco, até hoje não esclarecido, que revela as origens milicianas do grupo levado ao poder em Brasília nas ondas da Operação Lava Jato, numa joint venture com a polícia e a justiça americanas.

Está lá o cenário macabro das covas rasas abertas nos cemitérios da Amazônia, durante a pandemia, tendo ao fundo a floresta que arde em chamas com a cumplicidade do governo que liberou as boiadas, o garimpo ilegal e a pesca predatória, sem esquecer de falar no assassinato de Dom e Bruno, os esquartejados símbolos da resistência.

Estão lá as marchas dos fanáticos gritando "Mito!", as poças de sangue dos pobres lavadas nas favelas, os desafios à Justiça, a grosseria das declarações cafajestes do presidente, como se estivéssemos assistindo a um thriller de terror, mas é tudo real.

"Tem história que um dia dormirá nos livros e enciclopédias, mas tem também a sensibilidade de tocar no que sempre soou tabu, mas que não pode mais: a repressão, por vezes silenciosa, imposta ao grupo LGBT", assinala Fabio Altman. Na narração em primeira pessoa, Gostein conta ter sido estuprado duas vezes e forçado a perder a virgindade com uma coelhinha da Playboy aos 17 anos (seu pai, Mario de Andrade, foi editor da versão brasileira da revista).

Em meio a esse circo de horrores, tem espaço também para as belas cenas da história de amor de Grostein e Siqueira, em contraste com os gritos de "imbrochável" pronunciados por Bolsonaro e repetidos por seus devotos em Brasília, na pajelança cívico militar do último dia 7, em que até tratores e grupos religiosos desfilaram pela Esplanada dos Ministérios num espetáculo grotesco, que prosseguiu no Rio de Janeiro com exibições da Marinha e da Aeronáutica, motociatas e corridas de jet-sky, com a apoteoso sobre um trio elétrico de Silas Malafaia.

Nenhuma ficção de Glauber Rocha seria capaz de superar a realidade desta grande tragédia brasileira autopsiada pelos dois Fernandos nesse documentário que todos deveriam ver _ se possível, antes da eleição de 2 de outubro.

Mas, preparem-se: é uma porrada na boca do estômago.

Vida que segue.

 

09
Out22

Todos os crimes de Bolsonaro…

Talis Andrade

Todos os crimes de Bolsonaro...

O presidente Bolsonaro e o ministro Tarcísio de Freitas trafegam pela Ponte de Abunã,
na BR-364/RO, sem capacete e escoltados pela PRF. Foto: Divulgação/Palácio do Planalto. Quem paga essa farra, inclusive os serviços do fotógrafo?

 

Para a juíza Tamara Matos, “agressões e ameaças vindas do réu, que é nada menos do que o Chefe do Estado, encontram enorme repercussão em seus apoiadores, e contribuíram para os ataques virtuais e até mesmo físicos que passaram a sofrer jornalistas em todo o Brasil, constrangendo-os no exercício da liberdade de imprensa, que é um dos pilares da democracia

 
por Marco Weissheimer     
 
 

Aos poucos, começam a aparecer algumas condenações do presidente da República, Jair Bolsonaro, por falas de ódio e preconceito dirigidas por ele contra jornalistas. A 8ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) manteve por quatro votos a um, no dia 29 de junho, a condenação ao presidente Jair Bolsonaro, por ofensas dirigidas à repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S. Paulo. O valor final da multa foi elevado de R$ 20 mil, decisão em primeira instância, para R$ 35 mil.

Bolsonaro já havia sido condenado em 2021, em primeira instância, após usar a expressão “furo”, um jargão jornalístico, com conotação sexual. Entre outras coisas, o presidente da República afirmou que a repórter queria “dar o furo” para obter informações. A jornalista Patrícia Campos Mello publicou reportagens sobre um esquema de disparo de mensagens em massa contra o PT para favorecer Bolsonaro nas eleições de 2018. Após essas reportagens, a jornalista passou a ser alvo de mensagens de ódio e ameaças vindas de apoiadores de Jair Bolsonaro.

No dia 7 de junho, a juíza Tamara Hochgreb Matos, da 24ª Vara Cível da Comarca de São Paulo, determinou  que Jair Bolsonaro pague R$ 100 mil de indenização por ataques a jornalistas. Foi a primeira vez que um presidente da República em exercício foi condenado pela Justiça  por dano moral coletivo à categoria. A ação foi iniciada no dia 7 de abril do ano passado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. Para o coordenador da entidade, Raphael Maia, “esta é uma vitória enorme para os jornalistas e para o movimento sindical brasileiro: não conheço algum caso semelhante em que uma entidade sindical conquistou uma condenação por dano moral coletivo de uma categoria a um presidente da República em pleno exercício do mandato”.

A máquina do ódio - Patrícia Campos Mello - Grupo Companhia das Letras

Para a juíza Tamara Matos, “agressões e ameaças vindas do réu, que é nada menos do que o Chefe do Estado, encontram enorme repercussão em seus apoiadores, e contribuíram para os ataques virtuais e até mesmo físicos que passaram a sofrer jornalistas em todo o Brasil, constrangendo-os no exercício da liberdade de imprensa, que é um dos pilares da democracia”. Ela acrescentou:

“Ao ofender a reputação e a honra subjetiva de jornalistas, insinuando que mulheres somente podem obter um furo jornalístico se seduzirem alguém, fazer uso de piadas homofóbicas e comentários xenófobos, expressões vulgares e de baixo calão, e pior, ameaçar e incentivar seus apoiadores a agredir jornalistas, o réu manifesta, com violência verbal, seu ódio, desprezo e intolerância contra os profissionais da imprensa, desqualificando-os e desprezando-os, o que configura manifesta prática de discurso de ódio, e evidentemente extrapola todos os limites da liberdade de expressão garantida constitucionalmente”.

A repercussão que a violência verbal de Bolsonaro encontra entre seus apoiadores e as repercussões desse clima em atos de violência acabam se materializando na vida cotidiana do país. Em um artigo publicado em 2018, o antropólogo Luiz Eduardo Soares antecipou o que estava por vir a acontecer no Brasil. Soares lembrou nesse artigo que grande parte de nossas vidas é regida pelo que é invisível – emoções, afetos, expectativas, desejos, memórias, fantasias. Na política, não é diferente. Ele argumentou: “Não é preciso incluir no programa de governo referências a um plano de extermínio, não é preciso apresentar publicamente um programa genocida. Não é necessário exaltar a violência e o preconceito, ou incitar o ódio, explicitamente – ainda que isso tenha sido feito. O que põe em circulação a barbárie não está nos argumentos racionais da candidatura ou em suas propostas de políticas públicas. A mensagem já foi passada à sociedade. E a mensagem se resume a uma autorização. Autorização à barbárie. A morte foi convocada. A barbárie está autorizada. O horror saiu do armário”.

Além das condenações já proferidas na Justiça brasileira e das denúncias feitas contra Bolsonaro em tribunais internacionais, outras iniciativas semelhantes começam a aparecer dentro e fora do país. Ricardo Henrique Rao, indigenista especializado da Funai, que, para não ser morto, saiu do país em 2019, está ajudando a articular em Roma uma campanha para responsabilizar Bolsonaro pela morte de cidadãos brasileiros que também têm cidadania italiana, durante a pandemia de covid-19. A violência verbal e o posicionamento negacionista de Bolsonaro durante a pandemia já chegaram aos tribunais, para não falar de outras práticas do atual presidente brasileiro. [Publicado em 11 de julho de 2022]

01
Out22

Carta de Marcia Tiburi: Querido presidente Lula

Talis Andrade

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Querido Presidente Lula,  

Nem acredito que estou a escrever para você, dois dias antes de poder votar em você; depois de anos catastróficos; da tua prisão injusta marcada por tantos eventos tristes; dos horrores vividos no Brasil, do exílio que eu vivo e que vejo se tornar cada vez mais comum, quando hoje várias pessoas são obrigadas a deixar o Brasil. Que bom te ver sorrindo, irradiando coragem e esperança. Que bom te ver como fênix voltando a ser candidato, na iminência de se tornar presidente de novo e, mais uma vez, a abrir possibilidades, a despertar as potencialidades apagadas do país massacrado que temos em comum. É terrível pensar que nosso país experimente tal catástrofe social e política desde o golpe de 2016. 

Há poucos dias escrevi uma carta para um homem mau. Hoje eu poderia dizer que esse pequeno bilhete aberto vai para o homem bom que você é.  

Mas você é mais que um homem bom. Você é um líder popular mundialmente reconhecido, você é um fenômeno histórico. 

E você é brasileiro.  

E você está ao nosso alcance.  

Você é alguém que muitos brasileiros, inclusive eu, aprenderam a reconhecer. Demorei a te entender. Demorei a entender a tua generosidade, o teu jeito de ser, demorei a compreender o teu destino e a tua missão. Demorei a perceber que deveríamos estar todos contigo desde sempre. 

Demorei a saber que um país é um corpo e um espírito que avançam juntos no tempo.  

Demorei a entender que não deve ter sido nada fácil segurar tantas ondas, respirar fundo e voltar à tona.  

Depois de compreender o que somos, como país colonizado e ameaçado desde o seu nascedouro, entendi rapidamente que nunca será fácil.  

E que mesmo assim, você estará aí, sempre pronto para a luta.  

Você é um grande exemplo de resiliência e superação.  

Te vendo tão firme e forte penso que o Brasil é também possível.  

Você que veio da fome e da miséria, que conhece os piores sofrimentos na pele, sabe o quão mágico é estar orientando um país inteiro na direção do diálogo e do amor.

Eu te agradeço por não desistir nunca.

A gente que vota em você não vai desistir também.  

Obrigada por me ensinar tanto.  

Gratidão e amor e #lulanoprimeiroturno  

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Professora de Filosofia, escritora, artista visual, Marcia Tiburi encontra-se exilada em Paris, depois de candidata à governadora derrotada nas eleições de 2018 no Rio de Janeiro, ex-Cidade Maravilhosa, zona de guerra miliciana

 

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09
Set22

Conheça dez casos de corrupção que assombraram o clã Bolsonaro e Sérgio Moro ministro da Justiça e da Segurança Pública tratou de abafar

Talis Andrade

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Conta El País, da Espanha:

Embora o núcleo duro do clã Bolsonaro seja claramente masculino, ele também inclui mulheres, as três com quem o presidente compartilhou sua vida, as mães de seus filhos. Por motivos diferentes, elas também são notícia. A atual esposa, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, nasceu em 22 de março de 1982, em Ceilândia, DF, protagonizou um fenômeno viral, por conta de um dinheiro de origem suspeita que recebeu de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro. A segunda mulher, Ana Cristina Valle nasceu em 13 de maio de 1967, em Resende, RJ, uma advogada também sob suspeita por esse mesmo caso de desvio de dinheiro público. E a primeira, Rogéria Nantes Nunes Braga, de 67 anos, mãe dos três filhos mais velhos do mandatário, os três políticos profissionais com vários mandatos legislativos nas costas.

Pragmatismo Político narrra que Rogéria Nantes Braga acusou Jair Bolsonaro (PSL) de ter sido o mandante do espancamento de um assessor político e seu ex-colega de Exército, Gilberto Gonçalves, ocorrido em uma rua da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, no mês de setembro do ano 2000.

O motivo, de acordo com o depoimento de Rogéria, foi o fato de Gonçalves estar trabalhando, à época, como cabo eleitoral de sua candidatura à 2ª reeleição a vereadora do Rio. Quando o fato ocorreu, ela já não era mais esposa de Bolsonaro, e o ex-capitão do Exército tentava eleger para o seu lugar na Câmara o filho Carlos, então um estudante do ensino médio com 17 anos de idade.Tudo isso consta em registros e depoimentos dados à Polícia Civil do Rio de Janeiro pela própria Rogéria Bolsonaro, que afirmou à imprensa na ocasião que seu ex-marido sofre de “desequilíbrio psicológico e mental”.

 Ana Cristina Siqueira Valle também denunciou o marido por atos de violência e instabilidade emocional. Conforme publicou a revista “Veja”,  Ana Cristina Siqueira Valle acusou Bolsonaro não apenas de agressão, mas de ameaçá-la de morte, ao ponto dela fugir do país para escapar do ex-marido.

Juntas, compõem uma árvore genealógica complexa, uma família com vários ramos cujo lema poderia ser “política (ou o poder) acima de tudo”, parafraseando seu lema de Governo, “Brasil a cima de tudo, Deus acima de todos”. Os laços −incluindo os trabalhistas e políticos− sobrevivem às rupturas sentimentais. Desde que se casou pela primeira vez, em 1978, Jair Bolsonaro nunca chegou a ficar um ano solteiro.Image

 

Conheça dez casos de corrupção que assombram o clã Bolsonaro no primeiro ano de governo

Conforme reportagem do DCM:

Durante toda a sua campanha eleitoral, Jair Bolsonaro prometeu “acabar com a mamata”. A promessa não durou nem até a posse. No início de dezembro, o caso Queiroz – uma mistura de milícias e desvio de dinheiro público por meio de fantasmas na Assembleia do rio de Janeiro –  foi revelado, envolvendo seu filho mais velho e senador Flávio (sem partido). Desde então, o que ficou provado nesse primeiro ano de governo é que entre kit gay, terraplanismo e olavismos, a maior fake news disseminada pelo presidente foi o “combate à corrupção”.

 

Caixa 2 laranja

 

Em novembro, Jair Bolsonaro decidiu fundar o próprio partido: Aliança pelo Brasil.

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Após acabar com a já fraca reputação do PSL, Bolsonaro tem se esforçado para se afastar ao máximo da sigla, representada por ele nas eleições do ano passado. O distanciamento é nada mais que um recurso de Jair para abafar seu envolvimento com o “laranjal” do PSL. O partido está sendo investigado desde o início do ano por candidaturas laranjas em dois estados: Pernambuco e Minas Gerais. Algumas candidatas mulheres da legenda receberam grandes repasses do fundo partidário para suas campanhas, mas obtiveram números inexpressivos nas urnas. O esquema era comandado pelo atual ministro do Turismo, o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), bancado por Bolsonaro no cargo apesar do “laranjal”.

Em outubro, reportagem da Folha de S. Paulo aponta que o depoimento de um ex-assessor do ministro e uma planilha apreendida em uma gráfica sugerem o desvio de recursos do esquema de candidaturas laranjas para as campanhas de Jair Bolsonaro à presidência da República e de Marcelo Álvaro a deputado federal. A prática configuraria caixa 2, movimentação de recursos de campanha sem declaração oficial à Justiça.

O ministro foi indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais acusado dos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa. Ao invés de retirá-lo do governo, Bolsonaro resolveu dar mais poder a Marcelo Álvaro. Em novembro, a Secretaria Especial de Cultura foi transferida para a pasta do Turismo. A ação também evidencia as intenções de Jair de desmontar as políticas públicas voltadas à cultura.Image

 

 

Caso Marielle

 

No dia 14 de março de 2018, a vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados, vítimas de treze disparos dados por dois homens que estavam em um carro ao lado. O caso continua sem solução. A investigação da polícia possui dois principais suspeitos: os ex-policiais Ronnie Lessa, citado como autor dos disparos, e Élcio Queiroz apontado como motorista do veículo.

À época do crime, Lessa morava no condomínio Vivendas da Barra, onde moram Jair Bolsonaro (em uma casa) e seu filho Carlos (em um apartamento) e o filho O4 Renan (em outro apartamento). 

PM Ronnie Lessa, preso por morte de Marielle, já foi ...

De acordo com reportagem do Jornal Nacional, no dia em que matou Marielle e Anderson, Élcio Queiroz visitou Lessa no Vivendas da Barra. Porém, ao chegar na portaria, o ex-policial teria dito ao porteiro que ia à casa 58, onde vive Jair.

Para piorar, o presidente declarou que pegou o áudio das ligações da portaria de seu condomínio para impedir que o material fosse “adulterado”, segundo ele. A atitude é clara obstrução de Justiça. Carlos Bolsonaro, outro residente do Vivendas, publicou vídeo em seu Twitter, rede social favorita da família, confessando que ele acessa todas as ligações gravadas do condomínio, colocando em risco a integridade do material a ser investigado.

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Caso Queiroz

 

Em dezembro de 2018, Fabrício Queiroz, então motorista e assessor do deputado Flávio Bolsonaro, foi convocado pelo Ministério Público do Rio de janeiro para prestar depoimento sobre movimentações bancárias suspeitas no valor de R$ 1,2 milhão. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) informou que as transações bancárias eram “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira” do policial reformado. O relatório financeiro também identificou depósitos de Queiroz na conta de Flávio, o que levantou suspeitas sobre um possível esquema de “rachadinha”.

O ex-assessor faltou ao depoimento duas vezes, alegando ter sido “acometido por inesperada crise de saúde”. Desde então, Queiroz sumiu, teve suas relações com milicianos descoberta e continua negociando cargos na Câmara do Rio de Janeiro. Até hoje, nem ele e nem Flávio prestaram seus devidos depoimentos ao MP-RJ.

O Ministério Público cumpru um pedido de busca e apreensão contra o senador e vários outros integrantes do esquema. O pedido foi baseado em um relatório que aponta que Flávio e sua mulher, Fernanda, compraram em dinheiro vivo, de forma ilegal, dois imóveis no valor de R$ 638 mil, localizados em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro (RJ). O então deputado estadual teria usado o dinheiro proveniente da ‘rachadinha’ na compra

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FAB – Família nos Aviões Brasileiros

 

Em maio, o deputado Eduardo Bolsonaro usou um helicóptero da Presidência da República para transportar parentes para o seu casamento. Os vídeos do “passeio” foram compartilhados nas redes sociais por Osvaldo Campos Bolsonaro, sobrinho de Jair.

Familiares da região do Vale do Ribeira, em São Paulo, se deslocaram de helicóptero entre o aeroporto de Jacarepaguá e Santos Dumont, próximo ao local da cerimônia. De carro, o trajeto de 35 km demora só 35 minutos mas a família preferiu fazer o uso da aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB). Nas imagens publicadas, é possível ver um grupo de 10 pessoas chegando à pista de embarque, com as irmãs de Jair Bolsonaro e o deputado federal Helio Lopes (PSL-SP), amigo pessoal do presidente.

 

Amor financiado pelo fundo partidário

 

A farra do casamento de Eduardo não se limitou ao uso do helicóptero. O deputado também usou dinheiro do fundo partidário para pagar a sua viagem de lua de mel com a coach e psicóloga Heloísa Wolf. A negociação teria sido feita pela advogada do PSL, Karina Kufa. Relatos obtidos pela reportagem da IstoÉ mostram que Kufa, contratada pelo partido a pedido de Eduardo e conhecida por cumprir diversos favores ao deputado, teria sido a responsável por acertar os detalhes da viagem de lua de mel.

Usando o nome de Eduardo, a advogada teria ligado para Antonio Rueda, vice-presidente nacional do PSL, pedindo dinheiro do fundo do partido. De acordo com a revista, Rueda teria desabafado com colegas próximos que não aguentava mais “essa mulher me telefonando para pedir dinheiro para o Eduardo”. No entanto, ele liberou o que faltava para arcar com a viagem do casal.

 

Câmara e faculdade ao mesmo tempo

 

Com apenas 18 anos, Eduardo Bolsonaro foi nomeado para um cargo comissionado na liderança do PTB em Brasília, partido de seu pai em 2003. De acordo com reportagem da BBC Brasil, o emprego exigia que o “filho 03” de Jair trabalhasse 40 horas semanais, com remuneração de R$ 3.904 por mês (R$ 9.780 na cotação atual). Só existia um detalhe: três dias antes da nomeação, Eduardo foi aprovado no curso de Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

As normas da Câmara vigentes à época determinavam que esse tipo de cargo tinha “por finalidade a prestação de serviços de assessoramento aos órgãos da Casa, em Brasília. Desse modo, (os servidores) não possuem a prerrogativa de exercerem suas atividades em outra cidade além da capital federal”.

Ou seja, durante um ano e quatro meses, Eduardo tinha obrigação de trabalhar 40 horas por semana em Brasília e, inexplicavelmente, cursou Direito no Rio de Janeiro, à 1.100 km de distância. No curso desses 16 meses, o atual deputado ganhou R$ 160 mil de dinheiro público, na cotação atual.

 

Parentes fantasmas

 

Carlos virou alvo de investigação do Ministério Público (MP) do estado do Rio de Janeiro por denúncias de colocar ao menos sete parentes como funcionários fantasmas em seu gabinete. Os familiares seriam contratados para a prática da “rachadinha”, deixando parte dos salários com o filho de Jair.

O esquema foi divulgado em maio pela revista Época, que revelou que Carlos empregou a madrasta, Ana Cristina Siqueira Valle, e outros sete parentes dela em seu gabinete. Esses funcionários fantasmas chegavam a devolver 90% do salário ao vereador.

 

Envolvimento com Itaipu

 

No início de agosto, deputados paraguaios do Partido Pátria Querida (PPQ) protocolaram pedido de julgamento político do vice-presidente do país, Hugo Velázquez, sob acusação de tentar beneficiar uma empresa brasileira num acordo entre os dois países envolvendo a venda de excedente de energia da hidrelétrica Itaipu Binacional. Um pedido de impeachment do presidente Mario Abdo Martinez, mas a Câmara já rejeitou o processo.

Mensagens divulgadas entre o presidente da estatal elétrica do Paraguai e José Rodríguez, assessor de Velásquez, revelaram possível participação da família Bolsonaro no esquema. Nos chats, Rodríguez tentava marcar uma reunião entre o diretor da empresa pública e representantes da empresa brasileira Leros, interessada na compra de energia paraguaia. A Leros seria representada por Alexandre Luiz Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP), e que falaria, segundo as mensagens, em nome da “família presidencial do país vizinho”, referência clara ao clã Bolsonaro.

 

Assessores de “sorte”

 

Logo no início do ano, surgiram denúncias contra os filhos de Jair: Eduardo usou verba da Câmara para contratar empresa de mulher de assessor, enquanto Flávio beneficiou uma assessora e parentes em seu gabinete. Tudo sempre em família.

Eduardo pagou R$ 960 à Locar1000, locadora de veículos que pertence à mulher de um assessor de Jair, pelo aluguel de um carro em fevereiro, de acordo com a revista Época. A Locar1000 pertence a Ghislaine Maria de Oliveira, mulher de Joel Novaes da Fonseca, assessor do gabinete pessoal da Presidência da República desde 18 de janeiro. Joel é velho conhecido da família, já que trabalhou com o próprio Eduardo entre 2015 e 2017.

Já Flávio, o filho mais velho, usou dinheiro do fundo partidário entregue a candidatas do PSL para pagar empresa de uma ex-assessora dele na Assembléia Legislativa do estado, segundo informou a Folha. A empresa Ale Solução e Eventos, da contadora Alessandra Ferreira de Oliveira, primeira-tesoureira do PSL carioca, recebeu R$ 55,3 mil vindos de pagamentos de 42 candidatos do partido dos Bolsonaro no Rio de Janeiro.

 

Mamata é tradição familiar

 

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Desde 1991, o atual mandatário da república e seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo empregaram ao menos 102 pessoas com algum laço familiar ou parentesco entre si, além de 37 funcionários com fortes indícios de que não trabalhavam de fato em seus cargos. A apuração feita pelo jornal O Globo evidencia velha política de cabide de empregos e o uso dos gabinetes como reduto de funcionários fantasmas.

Este foi o primeiro ano do governo Bolsonaro presidente.

Neste primeiro ano Sergio Moro era o ministro super. Ministro da Justiça e da Segurança Pública.

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30
Jul22

Gilberto Gil no Recife, uma difícil entrevista

Talis Andrade

Gilberto Gil, quando fala, compõe. Ele compõe enquanto fala, ele é músico à procura da letra, o que fica mais claro quando reitera palavras, expressões, na busca. Refrão e degrau para o movimento seguinte

 

28
Jul22

As mulheres e Bolsonaro: nós sim, ele não!

Talis Andrade

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Ele não CuritibaProtestos contra Bolsonaro ocorrem em 26 estados e DF; atos a favor, em 16  - OitoMeia
Ele não Cinelândia, Rio
 
 
 

 

Há um ano protagonizamos o que foi o maior protesto já realizado por mulheres no Brasil, e a maior concentração popular durante a campanha da eleição presidencial.

Há um ano gritamos ao mundo, de todas as regiões do país, que não tolerávamos a candidatura à Presidência de um homem que faz declarações misóginas. Um homem que proferiu ameaças à democracia e afirmou a uma colega de parlamento que não a estupraria porque é muito feia.

Um homem que disse que seus filhos não namoram mulheres negras porque foram “muito bem educados”, que as mulheres devem ganhar menos porque engravidam, que prefere que o filho morra num acidente de trânsito a ser homossexual, que os negros dos quilombos não servem nem para “procriar” e que tem um coronel torturador como herói.

Há um ano dissemos não a ele. Ele não!

Não eram apenas mulheres ligadas à esquerda, mas que, de algum modo, compreendiam quais poderiam ser as consequências da irresponsabilidade de uma escolha como a que se desenhava. Algumas em focos de cidadania organizados e consolidados, outras que se insurgiram naquele momento.

Os atos reuniram cidadãs que assumiram a incumbência de participar e de pressionar por outro caminho para dirigir o país.

Eleito, a atuação de Jair Bolsonaro é considerada uma verdadeira afronta aos direitos humanos, em geral, ao meio ambiente, à cultura e à educação, ao Estado laico, aos direitos trabalhistas, às liberdades individuais, aos povos tradicionais.

Tem sido duro e exaustivo acompanhar cada passo dado para trás pelo governo: da revisão dos processos de anistia às ameaças e perseguições político-ideológicas, que levaram mulheres e homens que lutam para transformar realidades, como Márcia Tiburi e Jean Wyllys, a deixar o país.

Há um ano dissemos não a ele. Mas não estávamos profetizando nada.

Bolsonaro, em essência e inteiramente, nos forneceu todas as informações do que seria a realidade de um governo seu. Não havia necessidade de ser decifrado.

Nos instou a dizer se queríamos habitar seu mundo binário, onde se encontravam a tirania, o machismo, o racismo, a homofobia e a misoginia, em contraste com a defesa de valores humanitários básicos.

Fizemos, pois, de nosso grito, nosso brado, um alerta e um chamamento do que não pode caber na ideia de democracia, como o escárnio público e o deboche que apontam que nós, mulheres, não merecemos sequer respeito.

Já governante, quando convidou, em abril deste ano, turistas a virem ao Brasil e “ficarem à vontade se quiserem fazer sexo com uma mulher”, Bolsonaro deu a senha de que nos enxerga como objetos, utilizáveis, como se pudesse dispor de nossos corpos.

Como habitantes deste imenso pedaço de mundo chamado Brasil, sabemos que estamos incluídas no coletivo de todos que acreditam e lutam por um país plural, diverso e mais igual.

Um ano depois de termos ocupado as ruas, nos encontramos, de certo modo, paralisadas pelo formato dado ao debate público.

Polemizamos pelas redes o “direito de vestir azul” como sendo a contenda central do enquadramento da discussão de gênero, que passa, na verdade, por uma fixação muito mais profunda de novos padrões de moral e costumes, com protagonismo das igrejas evangélicas e adentrando às escolas.

Em tempos que desafiam nossa capacidade de prosseguir e nosso senso de realidade, que nos atingem nesse festival de intolerância, opressão e medo, em que as políticas para mulheres são ridicularizadas e desprestigiadas pela voz de uma ministra que responde aos problemas com frases de efeito de fundamentalismo religioso, precisamos de novo gritar: Ele não!

Em tempos em que o governo é como uma maldição, condenando tudo a fenecer, como um bando de gafanhotos em um campo de trigo – para usar a metáfora bíblica que tanto gosta a ministra Damares - precisamos mostrar que seguimos e seguiremos.

Sair do marasmo e reencontrar nosso aprendizado, reinventando os mecanismos de ocupação do espaço público, nas ruas e fora delas, para afirmar nosso compromisso essencial com nossa agenda de conquistas.

Nosso presente é assustador e, por isso mesmo, muito desafiante. Na catástrofe posta, estamos em guerra. Uma guerra que possui muitos elementos, inclusive a linguagem.

Na batalha das narrativas, existem as ferramentas que falseiam a realidade e prestam informações distorcidas, que nos indicam que é necessário construir - outra vez e coletivamente - respostas que não sejam as do individualismo.

Não custa lembrar sempre que “em tempos de guerra, a primeira vítima é a verdade”. Publicado em 5 de Outubro de 2019 

Mulheres lideram atos contra Bolsonaro no Brasil e no mundo | Política

Pela democracia, #Mulheres Contra Bolsonaro vão às ruas gritar "Ele, não" -  Ponte Jornalismo

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23
Jul22

Colega de Bruno Pereira vive exilado na Europa (vídeo entrevista concedida hoje)

Talis Andrade

Colega de Bruno Pereira vive exilado na EuropaEx-agente da Funai, Ricardo Rao fez curso preparatório com o indigenista desaparecido e vive na Noruega desde 2019, porque tem medo de regressar ao Brasil e ser assassinado

 

 

por Jotabê Medeiros /Amazonas Real

São Paulo (SP) – Com medo de ser assassinado, o indigenista Ricardo Henrique Rao, que foi colega de Bruno Araújo Pereira no Curso de Formação de Política Indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Sobradinho, no Distrito Federal, vive exilado na Europa desde 2019. Ele tem medo de morrer. Ele é um dos servidores da Funai que se sentem perseguidos por fazer o seu trabalho de fiscalização. Inicialmente, Rao viveu em Kristiansand, abrigado como asilado em uma comunidade no extremo sul da Noruega. Desde abril, mora em um prédio ocupado no centro de Roma, na Itália, equilibrando sua sobrevivência com os 150 euros que sua mãe lhe envia mensalmente.

Em 19 de novembro de 2020, um ano após se exilar, Ricardo Rao foi exonerado pelo presidente da Funai, Marcelo Xavier. Também escritor, ele prepara a publicação de um romance, Jumentos na BR, de 624 páginas, que tem como pano de fundo a substituição de jegues por motocicletas como meio de transporte no Maranhão. Ele vai dedicar o livro ao colega indigenista Bruno Pereira. 

Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips desapareceram juntos em 5 de junho na região do Vale do Javari, em Atalaia do Norte, no Estado do Amazonas, na fronteira com o Peru. O desaparecimento da dupla, que investigava a ação de caçadores e pescadores ilegais, madeireiros, invasões de territórios indígenas e do crime organizado na Amazônia, causou repercussões no mundo todo. Fontes indígenas informaram à Amazônia Real que ambos teriam sido vítimas de uma emboscada

O destino de Bruno e Dom ficou mais claro após a prisão do pescador Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”. Na manhã de 4 de junho, ele e outros homens foram vistos ameaçando com armas Pereira e Phillips. O indigenista Ricardo Rao lembra que os indigenistas recebem ameaças com frequência, mas “o fato novo é que agora estão cumprindo”. 

Ricardo Rao está em Roma como integrante de um grupo que pretende apresentar uma denúncia na Justiça Penal italiana contra o presidente Jair Bolsonaro, em nome dos cidadãos italianos que viviam no Brasil e morreram de Covid-19, por conta da atuação do governo na pandemia. O objetivo é tornar Bolsonaro réu em uma corte internacional. Eles estão fazendo um levantamento das vítimas italianas para entrar com a ação – estimam que algumas dezenas de italianos morreram no Brasil durante a pandemia devido a atos diretos do governo, e têm até setembro para finalizar seu relatório. 

“A gente nunca engoliu esse governo criminoso, e vislumbramos o precedente do (juiz espanhol Balthasar) Garzón com o Pinochet e no precedente do coronel gaúcho (Attila Rohrsetzer) na morte e desaparecimento do italiano”, disse Ricardo Rao. O general Augusto Pinochet foi preso na Europa em 1998 por determinação de Garzón e Rohrsetzer morreu em 2021, pouco antes de sua condenação à prisão perpétua pelo assassinato do cidadão ítalo-argentino Lorenzo Viñas, em Uruguaiana (RS), em 1980.

Ricardo em foto de acervo pessoal na época das fiscalizações

Amazônia Real – Como você conheceu o indigenista Bruno Pereira?

Ricardo Rao – Conheci o Bruno quando fizemos treinamento juntos em Brasília e também estive em algumas missões com ele. Estou destruído. E estou surpreso, porque o que aconteceu com o Bruno é o que aconteceu comigo: eu pedi asilo depois que protocolei um dossiê, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, denunciando milícias, madeireiras e traficantes no Maranhão. A gente só não tinha garimpeiro. Mas eu sempre percebi que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) cagavam para os índios, essa é a verdade. Eu sabia que se protocolasse o dossiê na Polícia Federal ou na Procuradoria da República, eles iriam vazar na mesma hora, não ia dar tempo nem de eu correr. E, para minha surpresa, nada foi feito. Surpresa não, eu esperava isso.

Amazônia Real – Você buscou asilo para não morrer?

Rao – Não sou covarde, não. Eu saí porque… Olha aí o Bruno! Olha aí o Bruno! Essa bola estava cantada. Não sei por que ele foi entregar esse relatório para o MPF e o DPF [Bruno Pereira iria entregar os flagrantes de crimes ambientais e das ameaças que sofreu na segunda-feira, 6 de junho]. Não sei como. Vazaram, vazaram. E os caras mandaram o “Pelado”, o “Churrasco” e os outros bandidos lá. Mas se nunca tinham feito nada com ele antes, por que fizeram agora? Fizeram porque os nomes que o Bruno apontou no dossiê dele foram vazados. 

Amazônia Real – Você foi ameaçado muitas vezes?

Rao – Na Funai, no nosso cargo, quando a gente faz a repressão ao crime ambiental e à invasão, a ameaça é constante. Mas a gente nunca teve medo de ameaça. Nunca teve. Não era só um emprego para mim. Na Funai tem uma tradição: para os mais combativos, sempre houve a tradição de se fazer uma rotatividade para preservar. Ameaça sempre teve. No Mato Grosso do Sul, em Marabá, me ameaçaram dentro da Assembleia Legislativa. O Ricardo Bacha (ex-deputado) me ameaçou. Matamos um boi dele. O cara engorda o boi no pasto do indígena? Ameaça é o pão nosso de cada dia no ofício. O problema é que, depois do (Jair) Bolsonaro, eles passaram a cumprir as ameaças. E, com o Bolsonaro, o apoio relutante que a gente conseguia da Polícia Militar e da Polícia Federal virou hostilidade clara. Ali na região de Imperatriz (MA), esses caras estão trabalhando para os madeireiros. Um subcomandante da PM invadiu a minha sala no melhor estilo miliciano, com correntão de ouro e o cacete. Isso porque eu tinha apreendido uma motocicleta, e ele foi lá recuperar a motocicleta. De graça? Não, não é de graça. É porque o Lauro Coelho (madeireiro) está pagando mesada para eles. Apreendemos um caminhão dele e iríamos queimar, mas a mata estava meio seca e, por receio de incêndio florestal, levamos o caminhão para a aldeia e o inutilizamos na marretada. Esses dossiês, esses vídeos, todo mundo está sabendo. O Flavio Dino (ex-governador do Maranhão) está sabendo, mas está todo mundo ‘encagaçado’. Hoje em dia, os governadores têm medo de PM, não dão mais ordem às PMs. O Flávio Dino é um homem honesto, mas não é um homem corajoso.

Amazônia Real – Ainda acredita que vão tentar matar você?

Rao – Desde o Bruno, eu não durmo direito. É uma culpa muito grande. Um cara gente fina, um rondoniano clássico, um exemplo pra nós. Estudamos juntos, fizemos treinamento em Brasília, bebemos pinga juntos. O que pode ter matado Bruno foi esse relatório. Mas respondendo à sua pergunta: o indigenista recebe ameaças frequentemente. O fato novo é que agora estão cumprindo. Um investigador carioca botou uma pistola na minha cabeça. E acho que ele está envolvido na morte do Paulino (Paulo Paulino Guajajara, Guardião da Floresta morto na Terra Indígena Arariboia em novembro de 2019). Depois que mataram o Paulino foi que vi que ia ser o próximo.

Amazônia Real – Como está vivendo aí na Europa? Recebe algum tipo de provento da Funai como ex-indigenista?

Rao – Eu não sei de onde vem a minha próxima refeição. Moro com vários veteranos da luta armada italiana aqui. São muito solidários, e os padres dão comida. Estou vivendo na miséria absoluta. A minha mãe me manda 150 euros por mês. É bom de trabalhar com os indígenas, porque a gente aprende a viver sem dinheiro. Meu contato com o Bruno foi no treinamento, e estivemos numa missão juntos em Marabá. Eu o encontrei em Belém e de lá fomos para Jacareacanga (PA). Era um amigo distante, digamos assim. O contato mais estreito foi mesmo na academia, passamos no mesmo concurso. E depois, em Belém e Jacarecanga.

Amazônia Real – Qual foi a justificativa para sua exoneração?

Rao – Eu não estou recebendo os vencimentos. A legalidade foi pro c… mesmo. Eu tinha nove anos de Funai. A gente passa por um estágio probatório de três anos. Se fizer cagada nesse período é exonerado. Mas eu não fui, cumpri meu estágio, tenho diversos elogios de superiores hierárquicos, tive promoções. Mas quando vim para a Noruega, pensei: eles vão abrir um PAD (Processo Administrativo Disciplinar), depois vão me intimidar, eu ganho tempo. Mas olha o que o Marcelo Xavier fez: eles me exoneraram. Para fazer isso, voltaram ao meu estágio probatório, encontraram uma irregularidade formal lá em Marabá, um burocrata que deixou de assinar umas folhas. O que fizeram? Eles me exoneraram retroativamente, alegando que eu não tinha superado o meu estágio probatório em 2015. O Marcelo Xavier mandou me exonerar retroativamente e me condenando a pagar seis anos de salários e diárias que ganhei enquanto exercia minhas funções.

Amazônia Real – Você chegou a trabalhar na mesma base que o Bruno Pereira?

Rao – A gente só usa o termo “base” quando se trata de povo isolado. Em Campo Grande (MT), Marabá (PA), Barra do Corda (MA) e Imperatriz (MA), que foram minhas quatro locações, não tinha povo isolado. Em Imperatriz (MA), tem lá com os Awa Guajá. Grosso modo, quando tem indígena isolado, qual é a estratégia? Trancar os acessos. Ninguém entra, ninguém sai. Se existe algum problema sério, a gente presta atendimento. Mas só se os indígenas vierem até a gente. Ficamos mais na contenção. É por isso que no Mato Grosso do Sul não tem base.

Amazônia Real – Tem planos de voltar para o Brasil algum dia?

Rao – Está todo mundo acovardado. Me preocupa minha dignidade. Estou me sentindo muito covarde. Depois do golpe, eu tomei uma atitude. Eu não fiquei parado não, irmão. Nem eu, nem o Guaraci (Mendes da Silva, primeiro indígena a ocupar um cargo de coordenador da Funai) nem o Bruno. Eu tentei, mas ia me dar mal. Era certo. Isso aí é a vergonha da Funai, porque esses indígenas aí não eram para eles estarem correndo risco. Quem ganha dez conto para correr o risco é o indigenista da Funai, não é o indígena, não. Mas sem ele não tem operação. E quem tem procurado os desaparecidos são os indígenas. Tão cedo eu não volto para o Brasil. Nem com a vitória do (Luiz) Lula (Inácio Lula da Silva). Os petistas não enfrentam, eles têm medo também.

21
Jul22

Presidente da Funai é expulso de evento internacional em Madri; veja vídeo

Talis Andrade

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por Jamil Chade

O presidente da Funai, Marcelo Xavier, foi obrigado a deixar um evento em Madri depois que passou a ser atacado por grupos que questionavam sua presença em uma reunião internacional sobre a situação indígena.

Ricardo Rao, ex-funcionário da Funai, usou o evento para denunciar a presença de Xavier, alegando que ele não teria motivo para estar naquela sala. Constrangido, o presidente da Funai deixou o local.

"Esse homem não pertence aqui", gritou Rao, apontando o dedo ao presidente da entidade. "Esse homem é um assassino, esse homem é um miliciano", disse.

"Ele é responsável pela morte de Bruno (Pereira) e Dom Phillips. Você é um miliciano, bandido", completou Rao, que também deixou a sala. O UOL procurou a Funai e aguarda um posicionamento da entidade. Bruno, também ex-funcionário da Funai, e Dom, jornalista britânico, foram assassinados no Vale do Javari, no mês passado.

O incidente ocorreu na 15ª Assembleia Geral da FILAC, o Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e Caribe. O mecanismo se reúne nesta semana na sede do Ministério das Relações Exteriores da Espanha. Não ficou claro se o presidente da Funai voltou para a sala ou para qualquer outro evento.

A FILAC não é um órgão da ONU (Organização das Nações Unidas). No início dos anos 90, para marcar uma nova relação entre estados e os povos indígenas, a Cúpula Iberoamericana estabeleceu o mecanismo que, nesta semana, cumpre 30 anos de existência. Naquele momento, a adesão do Brasil foi assinada pelo então presidente Fernando Collor de Mello.

 

Mais protestos

 

Com diversos representantes de órgãos indigenistas e de povos indígenas presentes, a entidade Survival International ainda está planejando um protesto formal nas próximas horas diante da chancelaria espanhola contra a presença de Xavier.

Segundo eles, trata-se de um rechaço à gestão de Xavier e por causa da "cumplicidade frente ao genocídio indígena em curso no Brasil, assim como diante dos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips".

 

Manifestante diz que se exilou para não ser morto

 

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Em novembro de 2019, depois de sofrer repetidas ameaças de morte, ver companheiros assassinados e ter até uma arma apontada para sua cabeça, Ricardo Rao decidiu que não poderia mais ficar no Brasil. Naquele momento, ele atuava como agente da Funai no Maranhão. Mas, para fazer seu trabalho, tinha de enfrentar não apenas os criminosos ambientais. Ele era alvo também de milícia e processos administrativos que, segundo o agente, se transformaram em instrumentos para silenciar e constranger os funcionários considerados indesejados.

Rao entrou na Funai em 2010, no mesmo período de Bruno Pereira, assassinado no Vale do Javari (AM). Hoje, ele vive em Roma, depois de ter passado dois anos na Noruega com um status temporário de exilado. Procurada pela reportagem, a Funai não respondeu aos pedidos de esclarecimento sobre o caso.

"A milícia controla hoje a Funai", disse o indigenista em entrevista ao UOL. "Sempre recebemos ameaças. Bruno recebeu, eu recebi e até minha mãe recebeu. Agora, a diferença é que as ameaças se cumprem. Quem faz a ameaça acha que pode matar. Afinal, o Bolsonaro falou, não é", afirmou.

Seu relato é de um órgão que foi desmontado nas mãos de Bolsonaro e de uma região que passou a ser controlada por ameaças, milícias e mortes. Antes mesmo de o governo começar, a simples perspectiva de uma vitória bolsonarista e seu discurso de ódio já havia sido traduzida no maior número de indígenas mortos.

Poucos, porém, imaginavam que o cenário seria tão rapidamente deteriorado. Sem confianças nas autoridades policiais locais, ele decidiu viajar até Brasília e apresentar um informe com todas essas informações ao Conselho de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Dois dias depois, em 28 de novembro de 2019, ele embarcou para Oslo, onde pediu asilo por conta das ameaças que estava sofrendo. Seu pleito ainda foi sustentado por cartas enviadas por deputados para o rei da Noruega, ao primeiro-ministro e ao parlamento.

Rao recebeu um status provisório de asilo e foi hospedado na casa de pastores luteranos, enquanto seu processo estava sendo avaliado.

Mas, por ter também nacionalidade italiana, o pedido de asilo permanente poderia ser um negado e, dois anos depois de ter desembarcado na Noruega, Rao optou por se instalar em Roma, onde continua seu exílio.

"Eu quero voltar um dia. Mas não sei como. Eu tentei fazer barulho antes. Bruno ficou e morreu", completou o indigenista, indignado.

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