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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

16
Mai23

Alexandre autoriza análise de telefones celulares de presos por atos golpistas

Talis Andrade

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ConJur - O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, atendeu nesta segunda-feira (15/5) a pedido da Polícia Federal para autorizar que os telefones celulares dos presos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro sejam analisados. 

No pedido, a PF sustentou que a análise dos telefones permitirá que sejam colhidas informações que viabilizem a abertura de ações penais contra os envolvidos.

No despacho, o ministro afirmou que as provas colhidas até o momento "revelam fortes indícios de prática de delitos por pessoas presas em flagrante nos atos, sendo indispensável a obtenção dos dados telemáticos para a completa elucidação dos fatos, sobretudo para evitar o desaparecimento de provas e possibilitar a continuidade da investigação em curso".

Por fim, o magistrado sustentou que os dados armazenados nos celulares apreendidos podem ajudar a esclarecer as circunstâncias e as ações dos presos por causa dos atos golpistas.

16
Mai23

Mais de mil invasores do Congresso já foram processados nos EUA

Talis Andrade

prestigo bolsonaro com trump.jpeg

 

por João Ozorio de Melo

O Departamento de Justiça (DoJ) estima, pelas investigações em andamento, que cerca de 2 mil pessoas invadiram o Congresso dos EUA em 6 de janeiro de 2021. Dois anos e alguns meses depois, mais de mil invasores já foram processados.

A maioria dos invasores (994) foi processada na justiça federal; 24 foram processados na justiça do Distrito de Colúmbia (o distrito federal dos EUA), onde está o Congresso.

De todos os casos, 541 réus fizeram acordo de admissão de culpa com os promotores; 67 foram a julgamento, por júri ou por juiz; 42 foram condenados por todas as acusações e um réu foi absolvido de todas as acusações.

Entre os que fizeram acordo e os que foram a julgamento, 445 já foram sentenciados — os demais aguardam suas sentenças. De um modo geral, as sentenças têm variado de sete dias a 10 anos de prisão. Apenas um réu, Peter Schwartz, foi sentenciado a mais de 14 anos, por violência contra um policial, entre outras acusações.

No entanto, sentenças mais pesadas estão por vir. Esse é o caso de 50 réus acusados de conspiração subversiva. Essa acusação mais séria, embora rara, implica a suspeição de que "o réu conspirou para derrubar o governo, opor sua autoridade ou suprimir suas leis", segundo o DoJ.

Esse é o caso de Stewart Rhodes, líder do grupo Oath Keepers, e de Enrique Tarrio, líder do Proud Boys. Ambos poderão ser condenados a até 20 anos de prisão.

Oath Keepers founder Stewart Rhodes convicted of seditious conspiracy in  Jan. 6 : NPR
Stewart Rhodes golpista
 

Tarrio não esteve na invasão do Congresso, porque ele foi impedido de entrar em Washington à época. Mas os procuradores do DoJ o acusam de coordenar o ataque em 6 de janeiro, de encorajar seus seguidores a subverter o processo democrático e interromper a transferência pacífica do poder.

 
Jury convicts Enrique Tarrio of the Proud Boys on seditious conspiracy  charge : NPREnrique Tarrio terrorista
 
 

Outras acusações

Cerca de 860 réus foram acusados de invasão de prédio federal restrito; 295 de tentar, por meios corruptos, obstruir, influenciar ou impedir a realização de procedimento oficial.

Além disso, 284 foram acusados de agredir, resistir ou impedir o trabalho de seguranças e funcionários do Congresso; 59 de destruir propriedade do governo; 36 de roubar propriedade do governo; e 11 de atacar a mídia e destruir equipamentos.

A maioria dos réus (85%) não são seguidores de grupos extremistas, como o Oath Keepers e Proud Boys, segundo o DoJ. De uma maneira geral, reconheceram que só participaram da invasão porque foram incentivados pelo ex-presidente Donald Trump.

Acreditaram que a eleição presidencial foi realmente roubada de Trump e se consideraram patriotas por atender o pedido do ex-presidente de protestar no Congresso.

Trump ainda é investigado por seu papel na invasão do Congresso pelo Departamento de Justiça. Por esse motivo, ele sofreu impeachment em processo na Câmara dos Deputados, mas foi absolvido pelo Senado, que tinha maioria republicana. As informações são da National Public Radio (NPR), Washington Post, Al Jazeera e NBC News.

18
Abr23

Globo vocaliza ameaça a Lula após visita de Lavrov e diz que Estados Unidos podem transformar o Brasil numa Ucrânia 

Talis Andrade
www.brasil247.com - Sergei Lavrov (à esq.) e Luiz Inácio Lula da Silva
O russo Sergei Lavrov (à esq.) e Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Agência Brasil)

 

"O perigo de provocar os americanos e europeus é evidente: Lula arrisca levar um tombo", aponta o editorial de quem deseja o Brasil colonizado e submetido 

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247 – O jornal O Globo publica editorial nesta terça-feira em que defende o alinhamento automático do Brasil à posição dos Estados Unidos no tema da guerra na Ucrânia. "Os últimos movimentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à guerra na Ucrânia demonstram não a neutralidade que ele e o Itamaraty afirmam manter em relação ao conflito, mas uma posição tacitamente favorável aos interesses da Rússia. Ao assumi-la, Lula comete erros de ordem factual, moral e diplomática", escreve o editorialista.

No último parágrafo, o editorialista vocaliza a ameaça e diz que Lula pode cair se não adotar uma semelhante à do Ocidente. "A tradição de não alinhamento poderia ser seguida de modo mais produtivo em questões onde a voz do Brasil importa, como mudanças climáticas ou transição na Venezuela. Em vez disso, dentre quase 130 'neutros' no conflito ucraniano, o Brasil é o único que se meteu a criar um 'clube da paz' e flerta abertamente com a Rússia. O perigo de provocar os americanos e europeus é evidente: Lula arrisca levar um tombo", finaliza o texto.

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Visão do Correio: O papel do Brasil na política global

 

 

 (crédito: Reprodução/pixabay)
Brasil livre indepente soberano

 

Editorial Correio Braziliense

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sempre que pode, ressalta que o Brasil voltou a ser um dos protagonistas internacionais. Sua concorrida agenda confirma que, depois de quatro anos de isolamento, realmente, o país retomou o diálogo com atores de todas as vertentes, movimento fundamental para as ampliação das relações comerciais. Logo depois da posse, em janeiro último, o líder brasileiro esteve nos Estados Unidos, maior potência global, num esforço para o fortalecimento da democracia, e, na última semana, passou pela China, a segunda economia do planeta. É o retrato claro da multipolaridade defendida pelo Itamaraty.
 

Nesta semana, Lula aportará em Portugal e, sem seguida, passará pela Espanha, dois tradicionais aliados do Brasil. Em maio, participará da coroação do Rei Charles III, na Inglaterra, e da reunião do G7, no Japão, grupo que reúne os sete países mais industrializados do mundo. Líderes como o chanceler Olaf Scholz, da Alemanha, fizeram questão de visitar o chefe do Executivo brasileiro, que deve receber, em breve, o presidente da França, Emmanuel Macron. Desde o início do ano, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, participou de quase 70 reuniões bilaterais, sendo 18 com chefes de Estado ao lado do presidente. Trata-se de um feito a ser comemorado.

Agora, é preciso que o país comece a colher os frutos desse amplo leque de contatos e que declarações polêmicas do presidente não coloquem em risco o reatamento das relações. O Brasil tem, no mercado internacional, um dos principais aliados para o crescimento econômico e um pilar importante para a boa saúde das contas externas. O forte avanço das exportações tem contribuído para o incremento do Produto Interno Bruto (PIB), ao mesmo tempo em que gera divisas para reforçar as reservas internacionais do país e conter os preços do dólar, que está sendo negociado abaixo de R$ 5, um alívio para a inflação.

É visível a disposição do mundo em trazer o Brasil para o palco central dos grandes debates. Contudo, o país deve manter a diplomacia conciliadora, que nunca foi confundida como uma postura de subserviência. Muito pelo contrário. Há acordos, como o que envolve o Mercosul e a União Europeia, que esperam para sair do papel há mais de 20 anos. O momento, portanto, é de aparar as arestas para que decisões que vão resultar em incremento da economia, em mais empregos e em aumento da renda se sobreponham a posições ideológicas. Os últimos quatro anos são o exemplo claro de como a ideologia custou caro ao Brasil.

O Estado brasileiro tem a exata noção de que os desafios globais são enormes e que terá função central para a consolidação do multipolarismo. Isso passa pelo reforço do Brics, acrônimo que reúne Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul, e também por parcerias estratégicas com os Estados Unidos e a União Europeia. Todos os países têm seus interesses, porém, não podem inviabilizar negociações em que a população, sobretudo, a mais vulnerável, seja a grande beneficiada. É a via de mão dupla que garantirá o jogo de ganha-ganha que se espera.

De forma mais imediata, as grandes lideranças têm a obrigação de encontrar um caminho para o fim da guerra entre Ucrânia e Rússia. É inaceitável que o maior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial esteja longe de um acordo de paz. O mundo todo sofre com tamanha aberração. A disputa na retórica só alimenta a tensão. É hora de todos baixarem as armas e selar a paz. No contexto atual, só há perdedores. Que o bom senso volte se sobreponha a pseudos ditadores e a oportunistas de plantão.

 
09
Abr23

Homem é condenado nos EUA por fazer arma com as mãos

Talis Andrade
 
Marcha para Jesus: Bolsonaro fez “arminha” e prometeu abrir mão da  reeleição - OitoMeia
Alexandre Padilha - Na Marcha para Jesus, em São Paulo, Bolsonaro defende  decreto de armas. Ache o erro. | Facebook
 
Para reconquistar eleitores, Bolsonaro inflama promessas não cumpridas |  Política | iG
Após polêmica, mais uma criança faz gesto de arma com Bolsonaro - Notícias  - UOL Eleições 2018
Bolsonaro: Não vi crianças sequer serem internadas com covid-19
O olhar triste de uma criança diz tudo que a velhice podre faz que não ver
 
 
 
por Vitor Paiva
 

Em um país com índices alarmantes de violência, especialmente através do uso de armas de fogo, uma supostamente simples ameaça pode provocar verdadeiro distúrbio, e ser vista como um crime – mesmo que ela seja feita sem arma alguma, somente com a mão. Apesar dos dados se encaixarem com a realidade brasileira, evidentemente que não estamos falando do Brasil, onde imitar uma arma com os dedos foi um ícone da campanha vencedora para presidência e atualmente é uma espécie de símbolo do governo federal. Nos EUA, porém, mais precisamente no estado da Pennsylvania, um homem foi condenado a pagar uma multa e teve sua ficha policial marcada por apontar os dedos na direção de seu vizinho feito fossem uma arma.

 

O incidente aconteceu em junho de 2018, quando Stephen Kirchner, de 64 anos, passeava com sua namorada pelas ruas da cidade de Manor. Quando passaram pela casa de vizinhos com os quais já haviam tido enfrentamentos e mesmo processos jurídicos, Kirchner apontou sua “arma de mão” e puxou o gatilho imaginário. Transeuntes e espectadores que testemunharam o gesto se viram especialmente perturbados e ameaçados pelo comportamento de Kirchner – e chamaram a polícia, que informou ao aposentado que o gesto era sim uma infração. A cena foi registrada por câmeras de seguranças da rua.

“Ele apontou seu dedo como se fosse atirar em alguém. Eu chamei a polícia pois não sabemos o que pode acontecer hoje em dia”, disse a testemunha. Depois de um ano de processo, o juiz considerou que o gesto não era inofensivo, e que de fato criou um clima tóxico e perigoso entre os vizinhos, e decidiu por condena-lo por desordem e ameaça. Kirchner recorreu a uma corte superior, que manteve a condenação – que o obrigou a pagar 100 dólares de multa e mais os custos do processo, e se manter distante dos vizinhos ameaçados. Publicado in 9 • 9 • 2019 

10
Jul22

Participantes da Marcha para Jesus mandam 'L de Lula' e irritam Bolsonaro (vídeo)

Talis Andrade

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“Alguns aqui vão aprender, bem na minha frente. Dado o gesto que fizeram quando passei ali embaixo”, ameaçou Bolsonaro

 

Jair Bolsonaro participou da Marcha para Jesus neste sábado (9) em São Paulo e demonstrou irritação após participantes fazerem o "L de Lula" para ele. “Alguns aqui vão aprender, bem na minha frente. Dado o gesto que fizeram quando passei ali embaixo”, disse Bolsonaro. 

Metrópoles
Participantes da Marcha Para Jesus fazem “L de Lula” para Bolsonaro e presidente reclama. “Alguns aqui vão aprender, bem na minha frente. Dado o gesto que fizeram quando passei ali embaixo”, disse o presidente.
 

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Jaildo petista o faxineiro órfão de pai e mãe.
@Jaildo04855476
Só pra lembrar que eles são os organizadores da marcha para Jesus e também são os mesmos que foram presos nos EUA por entrar com dinheiro escondido em fundos falsos de bíblias tá okei? (Veja vídeos)Image
Casal de pastores amigo de Bolsonaro já foi preso com dólares na Bíblia

Sônia e Estevam Hernandes, líderes da Igreja Renascer, ficaram presos nos EUA por não declararem 56 mil dólares em vôo

Marcelo Gonçalves  
@MarceloJGonca
Estevam Hernandes e Sônia Hernandes com fotos quando foram presos em Miami. São os idealizadores da Marcha com Bolsonaro (Jesus).
Image
 

20
Jun22

Amigo secreto

Talis Andrade

Hélio Oiticica, B11 Box Bólide 09, 1964
 

Comentário sobre o filme documentário

de Maria Augusta Ramos

 

por José Geraldo Couto /A Terra É  Redonda

O documentário Amigo secreto, dirigido por Maria Augusta Ramos, entrou em cartaz nesta quinta-feira, 16 de junho. O projeto expresso do filme – acompanhar o trabalho de jornalistas empenhados em investigar as entranhas da Operação Lava-Jato – acabou se desdobrando numa leitura consistente da história do país nos últimos cinco ou seis anos.

De acordo com o que vemos e ouvimos no documentário, a grande operação de combate à corrupção empreendida por uma força-tarefa sediada em Curitiba, tendo como figura estelar o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, está no centro da constelação de relações políticas, econômicas e midiáticas que, deliberadamente ou não, desembocou no pesadelo atual.

Em obras como Futuro junho e O processo, a experiente documentarista Maria Augusta Ramos já havia se mostrado capaz de, no calor da hora, documentar de modo crítico o que se passa por baixo da superfície do noticiário e dos discursos públicos. Seu foco é profundo, seu objeto são as entranhas dos processos históricos. Em Amigo secreto, trata-se de perscrutar paralelamente dois bastidores: o da Lava-Jato em si e o do trabalho jornalístico empenhado em desvendá-la (ou denunciá-la).

Em seus momentos mais envolventes, o documentário parece colocar o espectador lado a lado com os repórteres, como se os acompanhasse na investigação. São eles Leandro Demori, do site The Intercept, e as jornalistas Carla Jiménez, Regiane Oliveira e Marina Rossi, da edição brasileira do El país.

Essa busca é “ilustrada”, comentada ou adensada por material de arquivo (telejornais, depoimentos do ex-presidente Lula a Sérgio Moro, a fatídica reunião ministerial em que Bolsonaro manifesta a vontade de intervir na Polícia Federal, a primeira entrevista de Lula na prisão, manifestações a favor e contra o presidente, etc.) e por novas entrevistas que fornecem informações e interpretações sobre o funcionamento da Lava-Jato. Numa das entrevistas mais contundentes, um executivo da Odebrecht diz que os presos na operação eram pressionados a implicar Lula em suas delações.

Entre uma revelação e outra, breves planos de ligação fogem do esquema talking heads e conferem dinamismo e frescor ao relato: uma repórter trafegando de carro pela avenida Paulista, outra chegando a pé a uma manifestação pró-Bolsonaro, um fim de tarde na praça dos Três Poderes.

Curiosamente, é possível ver uma analogia entre a excitação dos jornalistas ao descobrir os podres da Lava-Jato e a excitação dos membros da própria força-tarefa nas mensagens secretas que trocavam entre si e que foram desveladas pelo Intercept. Num momento descontraído, ao ler para as colegas algumas dessas mensagens, Leandro Demori chega a imitar a voz esganiçada de Sérgio Moro. Uma investigação, de certo modo, espelha a outra, ou a parodia.

Haverá decerto quem acuse Maria Augusta Ramos de mostrar “só um lado” da questão e oferecer uma leitura unívoca do sentido dos acontecimentos. De fato, ainda que não haja uma locução nem letreiros explicitando uma interpretação, todo o material selecionado e montado aponta para o entendimento da Lava-Jato como uma operação politicamente enviesada desde o início, com flagrantes conexões internacionais (leia-se interesses norte-americanos), e que teve como consequência o desmantelamento e a desmoralização das instituições que estamos presenciando.

Em defesa da diretora, é forçoso admitir que, durante cinco anos, edificou-se na nossa mídia hegemônica uma narrativa favorável, de modo uníssono e acrítico, à atuação lavajatista, a ponto de erigir Sérgio Moro em salvador da pátria e paladino anticorrupção. Se a grande imprensa, nesse período, não se preocupou em investigar e apontar as evidentes distorções e desvios de conduta da Lava-Jato e de seu personagem-símbolo, Amigo secreto toma para si o direito de construir uma alternativa a essa mitologia.

É esse intuito de apresentar uma visão crítica abrangente que explica a inclusão no filme de elementos que, em princípio, parecem não ter a ver diretamente com a Lava-Jato. Por exemplo, cenas de UTIs lotadas no auge da Covid, ou o trecho da mencionada reunião ministerial em que Ricardo Salles, do Meio Ambiente, fala da pandemia como um momento propício para “passar a boiada” do enfraquecimento da legislação ambiental. Ou mesmo as últimas imagens, de uma imensidão de floresta destruída pelo fogo.

Na visão de Maria Augusta Ramos, tudo está conectado. O Brasil que resultou do conluio do lavajatismo com o bolsonarismo é uma terra arrasada. É isso que Amigo secreto nos diz, em palavras e imagens.

86 charges sobre o escândalo da #VazaJato (para compartilhar com aquele tio  reaça que adorava o Sergio Moro) – blog da kikacastro

Em primeiro encontro após vazamento, Moro é condecorado por Bolsonaro |  Exame

15
Jun22

Golpe de Bolsonaro não vai esperar a derrota eleitoral

Talis Andrade

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por Fernando Brito

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Impressiona a capacidade da imprensa brasileira – e, de resto, de toda a nossa pretensa elite intelectual – de tratar como “muito séria” qualquer pequena questão no “programa de governo” de Lula – por exemplo, para ficar em um só , a diferença entre “revisão” ou “revogação” da tal reforma trabalhista – e tratar quase que jocosamente a ameaça de golpe para manter Jair Bolsonaro no poder, como se isto fosse simples bravata presidencial, que esbarraria num inexpugnável Tribunal Superior Eleitoral.

Não é e também não é uma ameaça bem distante, no horizonte nebuloso de um longínquo cenário pós eleitoral, no caso provável de uma derrota do atual mandatário.

A um golpe não basta a força – e essa Bolsonaro tem, à medida em que o Exército está, de fato, sob o comando não de seus chefes formais, mas dos generais Braga Netto (bolsonarista antigo) e Paulo Sérgio Oliveira (neobolsonarista seduzido pela ascensão que experimentou com a queda do general Edson Leal Pujol, no ano passado, depois de este dizer que não queria “a política dentro dos quartéis).

Precisa, por falsas que sejam, de razões para legitimar a agressão que representa à institucionalidade democrática e à manifestação eleitoral da população.

Portanto, fazê-lo depois do pronunciamento eleitoral dos brasileiros é um risco, quase certeza, de não ser legítimo, aqui ou lá fora, porque será, por mais que se fale em “liberdade”, uma evidente negação desta, no seu ponto essencial: o de escolher seus governantes.

Esta é a fonte dos riscos de não terminarmos o processo eleitoral já no primeiro turno.

Entre os dias 2 e 30 de outubro, datas do primeiro e do segundo turnos – estão concentrados os perigos: deputados e governadores já eleitos dificilmente lutarão por mandatos que não sejam os seus; covardias se vestirão de “neutralidade” e nem-nens demonstrarão e tem um só “nem”.

O eleitor brasileiro percebe isso melhor do que os grupos políticos que se entregam a aventuras pessoais ou de grupos, com candidaturas pífias mas que, voluntária ou tolamente impedem que, desde já, se diga que o repúdio ao atual governo é tão esmagador que não se lhe dará a chance de conspirar – e não seria a primeira vez, pois fez-se o mesmo em 1950 – para, estranha expressão, recusar a vitória ao vencedor.

Não custará ao prezado leitor e à distinta leitora capacidade para imaginar o que, naqueles 28 dias, se fará para criar a histérica versão de que estaremos sob a ameaça da China, do comunismo, do gayzismo, da corrupção, das drogas, da dissolução da família e da perseguição religiosa. Há anos temos exemplos de que não lhes falta perversidade para gritar isso e nem tolos que façam coro.

Este é o terreno perigoso e não custa refletir o que poderia ter havido, mesmo num país sem histórico de golpes se o ataque ao Capitólio tivesse ocorrido antes de se formalizar a derrota de Donald Trump, e não depois de proclamados os resultados, como ocorreu.

Não estamos discutindo “voto útil”, algo que pode ou não ocorrer em eleições normais. O que está em questão é que o resultado das urnas prevaleça e, para isso, é preciso que elas falem alto, forte e definitivamente no primeiro turno.

Quem quiser fugir desta evidência, que o faça sabendo do perigo.Bolsonaro GIFs | Tenor

Golpistas são punidos... na Bolívia e nos EUA

 
 
13
Jun22

Ministro da Justiça de Bolsonaro golpista esteve nos Estados Unidos em evento com foragido

Talis Andrade

Terça livre. Quinta preso", internautas fazem piadas com prisão do  extremista Allan dos Santos - Brasil 247

 

Ministro alegou que Allan dos Santos não é considerado "foragido internacional" e que não poderia decretar prisão nos EUA. Que engraçada essa convivência com um espalha boatos e golpista de carteirinha que nem general bolsonarista!

 

 
- - -
O ministro da Justiça, Anderson Torres, participou de uma missa em Orlando, nos Estados Unidos, que contou com o ativista Allan dos Santosna plateia. O militante bolsonarista está foragido da Justiça brasileiradesde outubro do ano passado.
 
Allan dos Santos publicou vídeo no Instagram com Bolsonaro participando da cerimônia. Torres é visto ao fundo no mesmo palco, vestindo colete caqui.
 

O militante esteve na motociata que Bolsonaro organizou em Orlando.

No Twitter, Torres respondeu a uma postagem do deputado Alencar Santana, do PT de São Paulo, que o acusava de cometer o crime de prevaricação.

“Caso queira, posso poupar seu trabalho, pois as premissas são falsas. Não consta o nome do “foragido” na difusão vermelha da Interpol, portanto, na verdade, ele não é foragido. Alerto também que eu e o PR não temos poder de polícia nos EUA”, afirmou o ministro.

Apesar de o ministro do STF Alexandre de Moraes ter determinado a inclusão de Allan dos Santos na lista de procurados da Interpol e a sua extradição, o processo, que depende da atuação do Ministério da Justiça, se arrasta.Allan dos Santos - Desciclopédia

A delegada Silvia Amelia, que pediu a extradição de Allan dos Santos quando estava na chefia do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), foi exonerada do cargo em novembro de 2021. A delegada Priscila Santos Campelo Macorin é a atual diretora do DRCI.

Sleeping Giants Brasil
@slpng_giants_pt
Cármen Lúcia pede que PGR se manifeste sobre participação do blogueiro Allan dos Santos, foragido da justiça, em motociata com Jair Bolsonaro. Alguém da Justiça tem que agir diante desse escárnio!
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25
Mar22

Empresário Dallagnol troça da Justiça

Talis Andrade

 

 

 
ImageA Quarta Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu, por 4 votos a 1, determinar que o ex-procurador Deltan Dallagnol indenize o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por danos morais. A defesa de Lula pedia uma reparação de R$ 1 milhão, mas o tribunal fixou o valor de R$ 75 mil com juros e correção monetária. Dallagnol considerou o valor insignificante. E fez deboche com a decisão da injustiça. Publicou como escárnio a charge acima. Confira no Twitter antes que apague
Lenio Luiz Streck
Quando Dallagnol fez o Power Point, Reinaldo e eu falamos que era uma fraude. DD acusou o golpe e pediu arreglo por msm p/Moro dizendo “os ‘juristas’ RA e Lenio” nada sabem. Estávamos mais uma vez certos das picaretagens de Dallagnol.
O Blog do Prévidi: Terça, 9 - quarta, 10 de junho de 2020
Em culto, “pastor” Dallagnol diz: Quem veio de Portugal p/ o Brasil foram degredados, criminosos. Já para os EUA foram pessoas cristãs, que buscavam realizar seus sonhos. Era um outro perfil de colono. JÊNIO. Com J. Prêmio IgNobel. Tirou 0 em história.
Charges - Colonização da América | Imago História
Para Dallagnol, judiciário deveria funcionar assim: julgamentos iniciariam no STF/ STJ. Da decisão caberia recurso p/juíz 1 grau. Dali caberia recurso p/ Força tarefa Lava Jato. Na insatisfação com a decisão da Força tarefa, caberia recurso ao seu órgão máximo, Sérgio Moro. Bingo!
Sergio Moro está devidamente documentado como advogado. OAB deu carteira de  bacharel em direito para o ex-juiz e ex-ministro. O nobre causídico tem até  escritório - OgazeteirO
Dallagnol se diz “injustiçado”. Ora, ele escapou barato. Pintou e bordou. Ganhou dinheiros com palestras em conflito de interesse. Tentou uma fundação de bilhões e levou chinelada do STF. Na Europa estaria preso. Agora o STJ fez ele literalmente PAGAR pelos seus atos!
Reinaldo Azevedo
A imprensa não militante —chamava-se "grande" antigamente— deveria ter aproveitado a punição aplicada pelo STJ a Deltan Dallagnol para fazer um mea-culpa. Por 4 votos a 1, o tribunal decidiu que o ex-procurador tem de pagar ao ex-presidente Lula multa de R$ 75 mil, valor que ainda será corrigido, numa ação por danos morais. O agora pré-candidato a deputado federal está indignado e já anunciou uma suposta vaquinha espontânea na internet, que teria arrecadado quase o dobro desse valor.Deltan Dallagnol usa mesma manobra de mensaleiros com vaquinha on-line
 
 Faz chacota da Justiça. (...) O espetáculo grotesco do PowerPoint, no dia 14 de setembro de 2016, destroçava o devido processo legal. Leia a íntrega na Folha: Condenação de Dallagnol expõe conivência da imprensa com terror jurídico. Que o jornalismo não mais abandone a Justiça em favor de justiceirosDeltan Dallagnol usa mesma manobra de mensaleiros com vaquinha on-line

08
Out21

Escala “F” verde e amarela? Bolsonaro e a propaganda fascista

Talis Andrade

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Ouvimos constantemente por aí: “Bolsonaro é doente”, “Bolsonaro é louco”, mas na verdade ele nada mais faz do que estabelecer um acordo com seus seguidores a partir do exagero e da explicitação daquilo que estava presente de forma subterrânea no corpo social.

 
 

por Bruna Della Torre /Boitempo

“Pensando bem, eu poderia derivar o fascismo das recordações da minha infância. Como um conquistador nas províncias mais afastadas, ele enviara para lá os seus mensageiros muito antes de ocupar o território: meus colegas de escola. […] eu reconheci cada um deles nos traços da ditadura de Hitler.”
Theodor W. Adorno, Minima Moralia

Neste 7 de setembro, Bolsonaro conseguiu colocar centenas de milhares de pessoas nas ruas. Sua base mostrou sede de destruição e deixou evidente o caráter golpista de suas reivindicações. Quem estava na rua de verde e amarelo no dia 7 clamava por um regime militar, pelo fechamento do STF, do Congresso e da imprensa. Quanto mais as pesquisas de intenção de voto indicam um esgarçamento da popularidade de Bolsonaro, mais se radicalizam seus apoiadores. Mas Bolsonaro recuou. Não sabemos ainda ao certo por que e, seja a razão qual for, esse movimento quase lhe custou a adesão de um componente de sua própria base. Há aqui um fato inusitado, presente ao longo de seu mandato, e incrementado pelos acontecimentos recentes: há uma parcela da população para a qual nem mesmo Bolsonaro é autoritário o suficiente. Apesar das 600 mil mortes causadas pela política negacionista do governo em relação à pandemia da covid-19, de mais de 14 milhões de desempregados no Brasil, da crise econômica e da inflação, as manifestações bolsonaristas do dia 7 foram as maiores desde aquelas que defenderam o golpe que derrubou a presidente Dilma Rousseff em 2016.

Muita gente viu no dia 7 mais fumaça do que fogo, defendeu que a onda bolsonarista de 2018 chegou ao fim e retomou a certeza de que Bolsonaro não dará um golpe e que podemos seguir confiantes para derrotar eleitoralmente a extrema-direita em 2022. Suponhamos que essa análise seja correta. Ainda assim, resta um problema que não podemos ignorar: como Bolsonaro foi parar no Palácio do Planalto e como ele sustenta uma base, não tão pequena assim, com disposição violenta para segui-lo numa aventura golpista? Essa não é uma questão menor para um plano de longo prazo à esquerda. Bolsonaro ainda é presidente e, mesmo que ele não consiga dar um golpe no próximo ano, descobrimos desde 2016 que a democracia brasileira é mais frágil do que gostaríamos de acreditar. O que acontecerá se um candidato de extrema-direita mais hábil que Bolsonaro surgir nos próximos meses ou anos?

Em sua palestra sobre os “Aspectos do novo radicalismo de direita”, ministrada em 1967 na Áustria, Adorno discutia como “o fascismo é uma ferida da democracia”, uma ferida que pode estar mais ou menos aberta dependendo do contexto social e político em que nos encontramos, dependendo, por exemplo, do estado da luta de classes e da força política da esquerda num determinado momento. Por um lado, é certo que o que se convencionou chamar “bolsonarismo” não surgiu do nada. O machismo, o racismo, a LGBTQIA+fobia, o caráter antipopular, o reacionarismo, o fanatismo religioso e o anticomunismo já eram elementos presentes em nossa sociedade antes de Bolsonaro. Ou seja, esses elementos, que poderiam estar presentes numa “escala F verde e amarela”, são objetivos e socialmente produzidos. Por outro lado, Bolsonaro funcionou como uma espécie de “catalisador” dessas tendências subterrâneas (ou nem tanto) no corpo social. E esse efeito de ebulição social não ocorreu “naturalmente”, mas foi encomendado pela extrema-direita a um setor do mercado que se especializou em manipular eleições e destruir democracias. A seguir, proponho algumas reflexões, que não se pretendem de forma alguma definitivas, a respeito desses dois elementos acima descritos.

 

Bolsonarismo sem Bolsonaro

O fascismo só se realiza enquanto movimento organizado. Mas essa organização só é possível a partir de elementos presentes no próprio corpo social. Seria de um economicismo míope ou de idealismo ingênuo acreditar que a ascensão do fascismo pode ser compreendida apenas a partir de fatores econômicos, no sentido imediato do termo, ou pela pura e simples manipulação midiática. Uma das lições da Escola de Frankfurt é a de que para alcançar uma explicação sociológica e crítica do fascismo é preciso ir além de análises conjunturais centradas apenas na relação entre as classes sociais e nos agentes políticos partidários. Isso não significa abandonar esse tipo de análise ou dar uma explicação psicológica para o fascismo. Ao contrário, trata-se de incluir a própria subjetividade na análise das formas sociais capitalistas.

Algumas questões que podemos levantar, nesse sentido, são: como explicar que o ressentimento econômico se apresenta sob a forma do antissemitismo, da xenofobia, do racismo? Se as pessoas são manipuladas pela grande mídia, por que e como isso ocorre? O que o fascismo é capaz de oferecer às pessoas para que elas se engajem e encontrem um gozo enorme em sua própria destruição? O que Bolsonaro oferece às classes médias que estavam na Paulista e em Brasília no dia 7 de setembro que compensa as perdas que sem dúvida estas tiveram com o aumento da gasolina, do dólar, de itens alimentícios, entre outros? O que fomenta essa pulsão autodestrutiva que fez com que uma parcela do país estivesse disposta, por negacionismo e não por necessidade, a sacrificar a sua vida expondo-se ao vírus, a tomar remédios não indicados, a injetar ozônio em orifícios inusitados?

Em seus cursos na Alemanha do pós-guerra, Adorno pedia aos seus alunos e alunas que fizessem o exercício de construir uma “escala F”, a escala que, nos estudos sobre o preconceito realizados nos Estados Unidos na década de 1940, servia como referência para a investigação do fascismo. A ideia era que essa escala fosse pensada a partir do contexto social, político e cultural alemão daquele período. Uma maneira de se fazer isso poderia ser investigar a propaganda da extrema-direita, pois a agitação fascista pressiona pontos específicos da chamada “personalidade autoritária”. Isso ocorre porque haveria uma homologia entre emissor e receptor comprovada pelo sucesso dessa propaganda.

Observando os discursos de Bolsonaro e a agitação promovida pelas redes sociais que o apoiam, é possível notar uma série de questões recorrentes que estruturam sua propaganda. Não vale a pena repetir as frases criminosas de Bolsonaro e de seus youtubers incels, mas vale levantar alguns pontos. Ganham destaque: a defesa da “família tradicional” acompanhada de misoginia e da exaltação de uma masculinidade de churrascaria; a difamação de qualquer ideia de direito reprodutivo; o ódio contra a esquerda, na qual estão inclusos os comportamentos de gênero e sexuais “desviantes”; o elogio à tortura; o ressentimento enorme em relação à universidade e às pessoas instruídas; a transformação da doutrina cristã em slogans de violência; um nacionalismo preenchido com amor aos Estados Unidos.

Mas, conforme ressaltado anteriormente, Bolsonaro não inventou nada disso.

Seria possível, por exemplo, investigar as tendências fascistas no Brasil apenas a partir do repertório de piadas de classe média nas décadas de 1980 e 1990 e já se teria um prato cheio. O ódio aos pobres, às mulheres, negros e à população LGBTQIA+ ocupava uma grande parte da programação de humor da TV aberta nesse período. Se fizéssemos como Adorno em Minima Moralia e rastreássemos o fascismo nas nossas experiências mais longínquas e mais pessoais, certamente encontraríamos essa “disposição para o medo” que o fascismo impõe nos espaços e situações mais surpreendentes e reconheceríamos que aquilo que Bolsonaro representa já estava presente em incontáveis momentos da vida.

As condições objetivas para Bolsonaro certamente estavam dadas, pois a violência é parte da vivência do capitalismo e o fascismo não é o “totalmente outro” do capitalismo, ao contrário, ele nasce das entranhas de suas contradições. Para além da brutal divisão das classes, o Brasil é um dos países mais machistas do mundo, com índices de violência contra a mulher e à população trans que lhe garante as primeiras posições nos rankings internacionais. Enquanto alguns países da América Latina e central descriminalizam o aborto, muitas mulheres por aqui têm que pedir autorização do marido para implantar um DIU. O encarceramento em massa e a desigualdade econômica de base racial, isso para ressaltar apenas dois elementos, fazem do país o que os cientistas sociais gostam de chamar de case mundial. A bandeira monarquista do império presente nos protestos, aliás, pode indicar a reivindicação de uma herança supremacista branca e colonialista na base desses movimentos. Seriam essas questões menores? Identitárias, como alguns ainda insistem em dizer? Seria a luta contra o antissemitismo na Alemanha da década de 1930 uma luta particularista?

Além disso, o Brasil não acertou as contas com o fascismo de Estado do passado, este não foi vencido no imaginário político da sociedade brasileira. Uma parte da população não sabe o que foi a ditadura militar. Outra romantiza aqueles anos como um tempo de ordem, progresso e segurança – elementos extremamente apelativos numa realidade neoliberal e de precarização profunda do trabalho e da vida. Não é fortuito que o discurso punitivista atravesse as classes no Brasil. Não são só as classes médias e altas que se regozijam assistindo vídeos de uma pessoa sendo eletrocutada nos fundos de um supermercado por ter roubado um chocolate. Bolsonaro sabe mobilizar muito bem o ressentimento daqueles que trabalham, passam necessidade, mas não roubam e permanecem sujeitos à violência de seus vizinhos. Um ressentimento que é objetivamente produzido. O discurso do armamento e da punição dos “bandidos” é uma das maiores forças da propaganda bolsonarista.

Por isso, Adorno dizia que “o agitador fascista é usualmente um exímio vendedor de seus próprios defeitos psicológicos” (ADORNO, 2015, p. 144) e que “o líder pode adivinhar as demandas e necessidades psicológicas daqueles suscetíveis à sua propaganda, porque os reflete psicologicamente e deles se distingue por uma capacidade de exprimir, sem inibições, o que neles é latente” (ADORNO, 2015, p. 181). Ouvimos constantemente por aí: “Bolsonaro é doente”, “Bolsonaro é louco”, mas na verdade ele nada mais faz do que estabelecer um acordo com seus seguidores a partir do exagero e da explicitação daquilo que estava presente de forma subterrânea no corpo social. Ele é visto como corajoso pois diz aquilo que todo mundo pensa, mas não pode ou não consegue confessar.

O governo de Bolsonaro sem dúvida é baseado numa grande aliança de uma parte do capital financeiro com milícias, agronegócio, igrejas evangélicas, entre outros. Não há dúvida de que há interesses materiais em jogo. Mas o fascismo se implanta organizando ressentimentos difusos no corpo social, direcionando insatisfações, explorando o desejo de mudança, prometendo vingança contra quem se recusa a aceitar toda a renúncia exigida para sobreviver nesse mundo fechado da família, do trabalho, da religião – como disse Adorno (2015, p. 202) “numa sociedade não livre, a liberdade sexual é tão pouco concebível quanto qualquer outra”. Por isso, é imanente à dinâmica do fascismo a criação de “bodes expiatórios”. Trata-se do elemento ritual que faz parte da defesa do sacrifício de indivíduos ou grupos em nome da salvação do todo. A sua propaganda aponta para quem são os escolhidos.

Por outro lado…

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A internacional fascista e a máquina de propaganda

Todos esses elementos latentes no corpo social não teriam se transformado nessa onda de irracionalidade, violência e destrutividade que invadiu o país sem um líder, um forte aparato de propaganda e, claro, uma ou várias burguesias dispostas a financiar o colapso. Por isso, alerta Adorno, o fascismo precisa ser compreendido como “irracionalidade racionalmente aplicada” (2015, p. 143).

É sabido que um dos organizadores das manifestações de extrema-direita de 2015, o Movimento Brasil Livre (MBL) foi financiado pelos irmãos Koch, entusiastas da indústria armamentista e de institutos conservadores que combatam os direitos trabalhistas e a espoliação total do meio ambiente. E esse foi apenas o começo. Em diversos círculos, discute-se hoje uma “internacional conservadora”. O escândalo da empresa Cambridge Analytica, que mineirou dados do Facebook para manipular dezenas de eleições no mundo inteiro, os vazamentos mais recentes do site Wikileaks (“The intolerance network”) que revelou o financiamento de organizações de extrema-direita como o CitizenGo por grandes corporações, as visitas de deputados do partido neonazista AfD como Waldemar Herdt e Beatrix von Storch ao Brasil, a relação dos Bolsonaro com Jason Miller e Steve Bannon, estrategistas da campanha de Donald Trump, entre diversos outros elementos, mostram como essa onda fascista que busca tomar conta do mundo criou um forte aparato de propaganda, ligado às redes sociais, internacionalizado e financiado pelo grande capital. Há aí um fato curioso: uma rede internacional que fomenta o nacionalismo – o que só revela o caráter de engodo do último.

A função desse aparato de propaganda consiste justamente em produzir um efeito catalisador de tendências difusas no corpo social e, com isso, desestabilizar a política no mundo inteiro. Por isso, o que se chama de fake news é muito mais do que um fenômeno de espraiamento de notícias falsas que busca “desorientar” as pessoas. Trata-se também de insuflar aqueles pontos da “personalidade autoritária” comentados acima. Essa máquina de propaganda é a substância do bolsonarismo. Não é fortuito que seus conflitos com o STF atualmente, que atraíram todas aquelas pessoas no dia 7 de setembro, estejam diretamente ligados a essas questões: prisões de bolsonaristas com discursos antidemocráticos nas redes, inquérito das fake news, proibição do financiamento de youtubers etc.

Chamo a atenção para esses elementos para mostrar como aquilo que se convencionou chamar de bolsonarismo e que se revela pela sua propaganda – elementos que certamente deveriam ser levados em conta na composição de uma “escala F” brasileira – já estava anunciados antes de Bolsonaro. Isso não significa afirmar, como querem alguns críticos desse tipo de debate, que “tudo é fascismo”, mas ressaltar que derrotar o fascismo no Brasil não se resume à tarefa urgente de tirar Bolsonaro da presidência. É para ontem o debate a respeito das redes sociais, que são a infraestrutura do movimento fascista no mundo inteiro. Combater as fissuras sociais e subjetivas a partir das quais o fascismo se implanta não é uma tarefa fácil, mas também precisa estar na ordem do dia de qualquer programa de esquerda que se disponha a cumprir a vocação civilizatória que lhe cabe.

Por fim, vale ressaltar que muitos analistas ainda se recusam a reconhecer abertamente o que estamos vivenciando hoje no Brasil é um movimento fascista e que Bolsonaro é um representante desse tipo de política. O fascismo não deve vencer para que só então seja digno de ser nomeado. Precisamos diferenciar o fascismo enquanto um evento histórico temporal e geograficamente localizado e enquanto um fenômeno social mais amplo, teorizado por diversas correntes marxistas. Isso significa pensá-lo para além de sua configuração empírica passada. A questão da nomenclatura não é um problema menor. Como dizia Freud, ceder nas palavras é ceder também nas coisas – e nós já cedemos demais.

Referências bibliográficas
ADORNO, T. W. Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015.
ADORNO, T. W.; FRENKEL-BRUNSWIK, E.; LEVINSON, D. J.; SANFORD, R. N. The Authoritarian Personality. New York: Harper and Brothers, 1950.

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