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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

16
Nov23

Repórter é condenada a 1 ano de prisão e R$ 400 mil de multa por revelar o Caso Mari Ferrer - III

Talis Andrade

 

Mulheres de movimentos sociais fazem manifestação por justiça no caso de Mariana Ferrer e contra a cultura do estupro, em frente ao STF, em Brasília (DF), em 4 de novembro de 2020. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Mulheres de movimentos sociais fazem manifestação por justiça no caso de Mariana Ferrer e contra a cultura do estupro, em frente ao STF, em Brasília (DF), em 4 de novembro de 2020. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

 

O desfecho surreal do Caso Mari Ferrer.

A mesma Lei que suicidou o juiz Cancelier

 

Vamos relembrar a história do caso Mari Ferrer: em 9 de setembro de 2020, o juiz Rudson Marcos absolveu o empresário André de Camargo Aranha da acusação de ter estuprado a influenciadora digital Mari Ferrer. O crime teria acontecido dois anos antes em um clube de luxo em Florianópolis. 

Em suas alegações finais, o promotor Thiago Carriço de Oliveira afirmou que não havia como o empresário saber, durante o ato sexual, que a jovem não estava em condições de consentir a relação, não existindo, portanto, a intenção de estuprar. Mari afirma ter sido dopada e, posteriormente, violentada sexualmente por Aranha.

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Juiz Rudson Marcos e promotor Thiago Carriço de Oliveira, ambos do "caso Mariana Ferrer". O primeiro pede indenização de R$ 450 mil; o segundo, de R$ 300 mil. Leia aqui denúncia do jornalista Reinaldo Azevedo

 

Dois meses depois, o Intercept publicou a reportagem que revela a gravação da audiência de instrução, durante a qual Mari Ferrer foi humilhada e constrangida várias vezes pelo advogado de defesa do acusado, Cláudio Gastão da Rosa Filho.

Mari chega a implorar pela ajuda do juiz. “Excelentíssimo, eu estou implorando por respeito, nem os acusados, nem os assassinos são tratados do jeito que estou sendo tratada, pelo amor de Deus, gente. O que é isso?”, diz. Rudson Marcos achou suficiente pedir a Gastão que mantivesse o “bom nível”.

De acordo com o subprocurador Callou, integrante do CNJ, “cabia ao juiz interromper o advogado, suspender a audiência, se fosse o caso, e advertir o advogado de que ele não podia fazer aquilo. Mas nada disso aconteceu. Uma audiência que durou, salvo engano, cinco horas, o advogado foi o absoluto dono do ambiente. Isso é reconhecido pelo próprio tribunal.”

Vídeo: As condutas vergonhosas do juiz e o advogado de defesa que atuam no Caso Mari Ferrer. Vídeo mostra detalhes do comportamento agressivo do defensor e da passividade do magistrado, que acatou a tese de estupro culposo para absolver o réu. Nas imagens, Mari Ferrer está visivelmente constrangida, chora, e é ridicularizada pelo advogado do acusado. Continua

Vídeo: Veja trecho que Mariana Ferrer chora durante audiência de estupro

14
Nov23

Em 2022, lucro dos cinco maiores bancos do país soma R$ 106,7 bilhões

Talis Andrade

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Veja vídeo:

O ano de 2022 foi marcado pela manutenção, por parte do Banco Central, de uma elevada taxa básica de juros (a Taxa Selic) e, com isso, pelo crescimento do endividamento das famílias e a elevação da inadimplência do segmento Pessoa Física (PF).

Este cenário já havia levado os bancos a elevarem seus provisionamentos para risco de crédito (as provisões para devedores duvidosos – PDD), mas, em janeiro de 2023, antes da divulgação dos balanços anuais dos bancos, a Americanas S.A. divulgou ao mercado um “Fato Relevante”, para informar a detecção de inconsistências contábeis em suas demonstrações financeiras de exercícios anteriores. Essas inconsistências, estimadas inicialmente em cerca de R$ 20 bilhões, levaram a empresa a entrar, posteriormente, com pedido de recuperação judicial, por dívidas em montante de mais de R$ 40 bilhões.

O fato impactou ainda mais significativamente os resultados dos cinco maiores bancos do país (Bradesco, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Caixa Econômica e Santander), que precisaram constituir significativos provisionamentos extraordinários, para fazer frente ao provável prejuízo. Ainda assim, os lucros dos cinco bancos, somados, atingiram o expressivo montante de R$ 106,7 bilhões, com alta média de 2,5% em doze meses.

Esses são alguns dos destaques desta 18ª edição do estudo Desempenho dos Bancos, produzido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) - Rede Bancários.

 

Os gigantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN)

 

Em 31 de dezembro de 2022, o total de ativos das cinco maiores instituições bancárias do país atingiu R$ 8,9 trilhões, alta média de 9,2% em relação a dezembro de 2021. Grande parcela dos ativos desses bancos corresponde às suas operações/carteiras de crédito, cujos montantes, somados, totalizaram R$ 4,6 trilhões ao final de 2022, com crescimento de 12,2% no período. O patrimônio líquido (PL), que representa o capital próprio dos cinco bancos, atingiu R$ 694,3 bilhões, alta de 8,5% em doze meses, como pode ser observado na Tabela 1.

O Itaú Unibanco segue sendo o maior banco do país em ativos, os quais atingiram um montante aproximado de R$ 2,5 trilhões ao final de 2022, com alta de 14,0% em doze meses (a maior alta observada no período entre os cinco bancos).

A instituição com o segundo maior ativo é o Banco do Brasil, totalizando pouco mais de R$ 2,0 trilhões, com alta de 5,0%, seguido do Bradesco, que obteve crescimento de 7,6% em seus ativos, chegando a, aproximadamente, R$ 1,8 trilhão ao final do ano. Os ativos da Caixa Econômica superaram R$ 1,5 trilhão, com alta de 9,4% no período. O banco Santander, por sua vez, apresentou alta de 8,8% em seus ativos, totalizando pouco mais de R$ 1,0 trilhão.

Itaú Unibanco e Banco do Brasil apresentaram alta nos seus lucros em relação a 2021. O Lucro Líquido do Banco do Brasil cresceu expressivos 51,3%, chegando a R$ 31,8 bilhões (o maior resultado entre os cinco bancos), em 2022. Cabe ressaltar que a instituição apontou em seu relatório que não provisionou toda a carteira do cliente em questão (Americanas S.A.) e que iria acompanhar o caso para decidir se provisionaria ou não o restante nos próximos períodos.

O Itaú Unibanco apresentou o segundo melhor resultado do ano, com um Lucro Líquido de, aproximadamente, R$ 30,8 bilhões, alta de 14,5% em doze meses.

Os demais apresentaram queda em seus resultados no período. Bradesco, com Lucro Líquido de R$ 20,7 bilhões, teve queda de 5,5% em relação a 2021. Santander obteve resultado líquido de R$ 12,9 bilhões e queda de 21,1% em doze meses. A Caixa, por sua vez, lucrou R$ 9,8 bilhões, com redução de 43,4%. Esse resultado teria sido ainda pior, não fosse o fato de a instituição ter feito uso de créditos tributários, o que fez com que o saldo da conta de impostos e contribuições subisse mais de 720%, totalizando quase R$ 1,8 bilhão, amenizando, em parte, os efeitos negativos da PDD elevada.

Rombo da Americanas R$ 50 bilhões aponta relatório

O rombo nas contas da rede varejista Americanas é de pelo menos R$ 45 bilhões, segundo apontou, nesta terça-feira (13), um relatório produzido por assessores jurídicos, baseado em documentos de um comitê de investigação independente. O montante é mais que o dobro do valor estimado inicialmente, em fevereiro deste ano, de R$ 20 bilhões.

O documento também indica que as demonstrações financeiras da empresa vinham sendo adulteradas pela diretoria anterior. É a primeira vez que a informação é admitida pela companhia.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Americanas concluiu suas investigações nesta terça-feira (26) sem indiciar os possíveis culpados pela fraude de R$ 20 bilhões na varejista. Parte do colegiado apontou “blindagem” ao trio de controladores da empresa (Carlos Alberto da Veiga Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Hermann Telles). O relatório final foi aprovado por 18 votos contra 8 contrários.

Apesar de reconhecer a possível participação da cúpula da empresa, o relator, deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), disse não haver provas suficientes para indiciar os responsáveis pelas irregularidades no balanço contábil que mascararam o rombo bilionário.

“Não tem comprovação e não deu tempo para sermos inquisidores, fazer papel de polícia, juiz e promotor”, disse. “Não tenho a coragem de acusar pessoas antes das investigações, a cada dia saem novos fatos”, reiterou o parlamentar.

Para o deputado Mendonça Filho (União-PE), a opção do relator foi no sentido de preservar a empresa, manter empregos e deixar que a Justiça conclua as investigações. Em sua opinião, “não há nada que implique diretamente os acionistas de referência”.

Na mesma linha, o deputado Alberto Mourão (MDB-SP) acredita que o colegiado ficou “sem instrumentos para aprofundar as investigações”, inviabilizando o indiciamento de suspeitos pela fraude.

“A gente poderia avançar em um relatório onde colocassem indicações ao Ministério Público para que pudessem aprofundar as investigações”, disse. Mourão observou que executivos estratégicos do conselho administrativo e fiscal não foram ouvidos pelo colegiado.

 

Blindagem
Por outro lado, a deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS) lamentou o desfecho dos trabalhos da CPI que, segundo ela, foi uma “tentativa de blindar” grandes acionistas e bancos implicados na fraude. “É muita subserviência aos interesses do capital que lesa em bilhões de reais a empresa, quem paga são os trabalhadores, os pequenos acionistas e o povo brasileiro”, criticou.

“O mercado de capitais sofreu a maior corrupção de sua história promovida por aqueles que não só deveriam estar indiciados no relatório, deveriam estar presos”, concluiu a parlamentar.

Melchionna havia apresentado voto em separado ao texto inicial de Chiodini, divulgado na última reunião, para responsabilizar os três principais acionistas da Americanas, os quais não foram ouvidos pela comissão.

Mesmo após ter acesso à carta de Miguel Gutierrez, ex-CEO da empresa, que apontava envolvimento do trio de acionistas na fraude, Chiodini optou por não ouvi-los antes de encerrar as investigações da CPI.

 

Relatório da Blindagem

O deputado João Carlos Bacelar (PL-BA) chamou o texto de “relatório da blindagem”. “Estamos acabando hoje lamentavelmente essa CPI com a blindagem que tirou a condição dos membros da comissão de ouvir essa turma que assaltou o Brasil”, disse.

 

Projetos de lei

Em seu parecer, Chiodini sugere quatro projetos de lei para combater crimes na gestão de empresas e aprimorar a fiscalização do mercado de capitais. Em uma das propostas, é criado o crime de infidelidade patrimonial com pena de reclusão de um a cinco anos, além de multa, para quem causar dano ao patrimônio de terceiros sob sua responsabilidade.

 

Lojas Americanas criminosos impunes deitados em berços esplêndidos

Dona das marcas Lojas Americanas, Americanas.com, Submarino, Shoptime, o grupo que hoje representa a Americanas tem como principais acionistas os brasileiros Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. O trio é dono da gestora 3G, que detém 31% das ações da Americanas e é sócio de outros negócios, como a fabricante de bebidas Ambev e a gigante de alimentos Kraft Heinz.

14
Nov23

Cerrado, berço das águas esquecido

Talis Andrade
 09/09/2023 Crédito: Carlos Vieira/CB. Cidades.  Dia do Cerrado. -  (crédito:  Carlos Vieira/CB)
Foto Carlos Vieira/CB
 
 

Seres humanos e animais não podem ser privados do acesso à água. O desmatamento no cerrado e na Amazônia, com eliminação de nascentes, poderá comprometer gravemente a oferta do líquido da vida

 

por Correio Braziliense

A onda de calor das últimas semanas tem assustado os brasileiros. A seca dos grandes rios da Amazônia vem se repetindo, ano após ano, com maior gravidade, deixando comunidades inteiras desamparadas, sem alimentos e água potável para o consumo humano e dessedentação animal. Uma calamidade, atribuída às mudanças climáticas, que afetam a vida de milhares de pessoas espalhadas em várias comunidades abrigadas na maior floresta tropical do planeta. As tragédias não são restritas ao Brasil. Elas vêm ocorrendo no mundo, resultado de uma relação hostil dos humanos com a natureza. Os eventos climáticos extremos têm se tornado mais agressivos, letais e desorganizadores da economia e das sociedades.
 

Os negacionistas da ciência insistem em contradizer cientistas e climatologistas, que há décadas — desde o século passado — têm alertado governos e populações, sobre a necessidade de revisão das relações com o meio ambiente. O aquecimento do planeta está ocorrendo e avança em rapidez contrária ao da revisão dos modelos econômicos, das indústrias, da mineração, do fornecimento de energia, entre outras atividades que impactam o patrimônio natural.

No início deste ano, após constatar o drama enfrentado pelos povos indígenas da Amazônia, em especial na Terra Yanomami, o governo federal investiu contra os garimpeiros e desmatadores ilegais que, há muito, afrontam as leis ambientais e os direitos dos povos originários. Hoje, os índices de desmatamento têm caído a cada mês, devido às intervenções da fiscalização dos órgãos de Estado, bem como por iniciativa dos povos tradicionais e originários.

Países desenvolvidos e comprometidos com políticas de mitigação do efeito estufa se engajaram para conter os avanços das atividades predatórias na Amazônia, reconhecendo a importância da preservação do bioma para o planeta. Doações de milhões de dólares garantiram ao governo federal recompor a composição dos órgãos ambientais, desmontados nos últimos quatro anos, e recuperar os instrumentos necessários ao combate dos agressores. De agosto de 2022 a julho deste ano, o desmatamento diminuiu 22,3% na comparação com igual período anterior. Pela primeira vez, a derrubada da vegetação ficou abaixo de 10 mil km², segundo os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

As mesmas iniciativas não alcançaram o cerrado, berço das águas. Responsável pelo abastecimento de nove das 12 grandes bacias hidrográficas, inclusive uma transnacional, o bioma está sendo dizimado. O estado de Tocantins perdeu 198,6km² de vegetação nativa, o correspondente a 29% da área do cerrado em outubro. Na sequência, Maranhão, com perda de 129,3km², Bahia (74,5km²) e Piauí (68,8km²) — unidades que, juntas, formam a região Matopiba, a nova fronteira do agronegócio, onde 71% da perda de vegetação nativa ocorreram no ano passado, inclusive em áreas suscetíveis à desertificação.

Repetidas vezes, a professora Mercedes Bustamante, presidente da Fundação de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), tem alertado para os danos que a falência do cerrado poderá causar ao país. Um dos alertas se refere à crise de abastecimento de água numa região que se destaca pela produção agropecuária. Mas as advertências tanto da bióloga e pesquisadora, quanto especialistas em clima não parecem suficientes para uma ação mais incisiva no cerrado, voltado à preservação da flora e da fauna. Alega-se que o desmatamento se dá em propriedades privadas e, portanto, não há como o Estado intervir.

Seres humanos e animais não podem ser privados do acesso à água. O desmatamento no cerrado e na Amazônia, com a eliminação de nascentes, poderá comprometer gravemente a oferta do líquido da vida. A solução desse impasse desafia não só o governo, mas toda a sociedade. Todos ficarão de braços cruzados ante a degradação do berço das águas? — é a questão que exige rápida resposta. 

Vídeo: A ecologista Mercedes Maria da Cunha Bustamante é uma das principais referências no bioma Cerrado – trabalha com o tema há quase 30 anos. Nascida no Chile, formou-se em Ciências Biológicas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), concluiu o mestrado na Universidade Federal de Viçosa e o doutorado na Universidade de Trier (Alemanha). É professora do Instituto de Ciências Biológicas (IB) da Universidade de Brasília. A docente atua principalmente na área de ecologia de ecossistemas. Além do Cerrado, pesquisa temas relacionados a mudanças no uso da terra, biogeoquímica e mudanças ambientais globais. Desde 2018, integra a Academia Mundial de Ciências e em 2014 passou a fazer parte da Academia Brasileira de Ciências. Em 2020, foi eleita bolsista honorária da Association of Tropical Biology and Conservation (ATCB). Em 2021, foi eleita membra da Academia de Ciências dos Estados Unidos (NAS) e entrou para a Earth League. A influência acadêmica de Mercedes Bustamante é reforçada pela sua presença em rankings internacionais. Em 2021, ficou entre os cientistas de universidades mais citados da América Latina nos últimos cinco anos – repetindo o destaque obtido em 2020, em que esteve entre os pesquisadores mais citados do mundo. O reconhecimento das suas contribuições científicas também engloba prêmios, como o Verde das Américas e o Cláudia, na categoria Ciências, pelos seus estudos sobre o Cerrado. Em 2018, recebeu a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico. Foi ainda co-coordenadora do Grupo de Trabalho Mitigação do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, responsável pela elaboração do relatório técnico sobre Mitigação de Mudanças Climáticas no Brasil, entre 2011 e 2014, e já trabalhou junto ao Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – na mesma área, estudando as possibilidades na redução de impactos.

Império agrário de Arthur Lira avança no Cerrado ocupando terras indígenas e derrubando matas para a passagem da boiada 

14
Nov23

De Olho nos Ruralistas detalha em novo dossiê a face agrária de Arthur Lira e seu clã em Alagoas

Talis Andrade
 

 

Donos de 20 mil hectares, ao lado dos Lira, os Pereira criam gado em terra indígena e vendem carne para prefeituras controladas pela família; relatório “Arthur, o Fazendeiro” revela violências, despejos e uso político sistemático da máquina pública

10
Nov23

“Não há dúvidas de crime humanitário nos bombardeios na Faixa de Gaza”

Talis Andrade

Vídeos: Em uma entrevista exclusiva à NINJA, o jornalista internacional Jamil Chade, trouxe à tona preocupações cruciais sobre a atual crise humanitária na Palestina ocupada. Economia de Israel pode entrar em colapso com a guerra, informa Eduardo Moreira. Brasileiros em Gaza: Fala de embaixador mostra que é Netanyahu quem decide lista, diz Reinaldo Azevedo

Foto: UN Photo/Jean Marc Ferré

 

Em uma entrevista exclusiva à NINJA, o jornalista internacional Jamil Chade, trouxe à tona preocupações cruciais sobre a atual crise humanitária na Faixa de Gaza, destacando desafios significativos da diplomacia internacional nos pedidos para que Israel pare os bombardeios e autorize ajuda humanitária chegar até Gaza.

Em meio ao conflito em andamento entre Israel e Gaza, Chade deixou claro que não há espaço para dúvidas em relação às violações das leis internacionais humanitárias e dos direitos humanos por parte de Israel. Ele enfatizou que essa é uma questão inegociável e que as ações de Israel estão em flagrante desacordo com o direito internacional.

Na última semana, mais de 150 países, incluindo o Brasil, condenaram as ações de Israel contra a Faixa de Gaza, e, em um documento oficial, pediram o imediato cessar fogo e a abertura de corredor humanitário. Israel ignorou este pedido, o que foi duramente criticado pela comunidade internacional.

O jornalista, que mantém uma coluna no UOL, também ressaltou a importância de manter relações diplomáticas com todas as partes envolvidas no conflito. Ele argumentou que, para desempenhar um papel significativo na cena internacional, o Brasil deve manter diálogo com todos os atores, independentemente de concordância ou simpatia.

Mediação não significa concordar. Se o Brasil quer ser um ator que pode dialogar com todos, ele precisa manter relação com todos”, afirma Jamil Chade.

O jornalista apontou as limitações dos Estados Unidos e da Rússia como mediadores no conflito entre Israel e Palestina. Segundo Chade, outros países, como o Brasil, têm um papel a desempenhar na mediação, mesmo que isso envolva críticas a ações específicas. Ele destacou que a paz é uma necessidade urgente, e a comunidade internacional não pode depender apenas das superpotências tradicionais para facilitar o diálogo.

“No fundo, o Brasil fez a mesma coisa na Ucrânia. O Brasil manteve relações com a Rússia, mas nunca deixou de votar na ONU uma resolução que condenava a invasão. O Brasil votou a favor da resolução que condena a invasão da Ucrânia e, ao mesmo tempo, mantém relações diplomáticas com ambos. Essa é uma tentativa de equilíbrio que não é fácil”, disse Chade para NINJA.

Além disso, Chade observou a grave deterioração da situação humanitária em Gaza devido ao conflito. Ele expressou preocupações sobre o trauma psicológico enfrentado pelas crianças palestinas, que crescem em um ambiente de medo e perda constante.

Na última semana, o sociólogo e ativista palestino Baha Hilo concedeu uma entrevista para NINJA, e ofereceu uma visão intensa sobre a atual crise em Gaza, onde as pessoas estão enfrentando ataques implacáveis de Israel e a comunidade internacional está se mobilizando em apoio à Palestina, sob pressão de protestos. Até o momento, mais de 10 mil palestinos foram mortos. 

Foto: Motaz Azaiza

 

A discussão também incluiu o contexto geopolítico, destacando que a atual situação é complexa e desafiadora. Israel ignora tradicionalmente as resoluções da ONU, sabendo que conta com o apoio dos Estados Unidos, um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Chade alertou para o impasse no Conselho de Segurança, que muitas vezes fica imobilizado devido a vetos.

“Existe uma pressão muito grande hoje, inclusive na Europa. Isso não é uma questão só dos países em desenvolvimento. Não é só uma questão dos aliados da causa palestina. Você tem vários governos, inclusive os europeus, muito preocupados com o nível de violência de Israel em Gaza. Esse nível de violência obviamente cria uma situação de muito risco internacional”, afirma Chade.

O jornalista levantou questões sobre a viabilidade de uma solução de dois estados, citando desafios práticos, como o deslocamento de colonos israelenses. Ele também mencionou a importância do Tribunal Penal Internacional em investigar potenciais crimes de guerra.

“Eles [Governo Israelense] vão ser, pelo menos pré-investigados. Agora a gente vive aquela outra situação anterior, mesmo condenados, qual vai ser o impacto real disso, sendo que a gente tem um governo americano ainda em apoio ao governo israelense? Então é um grande teste, no fundo, para a própria credibilidade do Tribunal Penal Internacional”, conclui Chade.

07
Nov23

Vaquinha do ICL para Núcleo Periférico de Renato Freitas

Talis Andrade

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O deputado Renato Freitas (PT) recebeu nesta segunda-feira (30) o fundador do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Eduardo Moreira.

Pela manhã, o empresário e economista Eduardo Moreira, com anos de atuação no sistema financeiro, visitou a sede do Núcleo Periférico de Curitiba, projeto idealizado por Freitas há 10 anos. À tarde, o empresário acompanhou parte da sessão plenária na Assembleia Legislativa do Paraná, quando recebeu uma homenagem do deputado.

“Aqui nessa tribuna ouvimos pessoas mentirem e destilarem todo o tipo de ódio para depois, subirem aqui e dizer: - “Eu? Eu nunca menti”. E assim, vociferam mais uma mentira”, lamenta Renato.

De acordo com o deputado, para combater as fake News que ameaçam a democracia brasileira é necessário, além do sufrágio universal, da garantia do voto a cada dois anos, o povo precisa de informação. “As pessoas têm o direito de saber quem são aqueles que se dizem representantes públicos, mas, diferente da maioria do povo, não frequentam a unidade de saúde, não usam transporte público e não estudam nas escolas da rede estadual ou municipal de ensino”, explicou o deputado.

Para ele, “A mídia tem um papel fundamental na democracia brasileira, mas não a mídia monopolizada, nas mãos de cinco famílias, e sim a mídia independente, como o Instituto Conhecimento Liberta, o ICL. E presto nesse momento, uma homenagem ao Eduardo Moreira que visita esta casa de leis e faz jornalismo com o mais alto grau de qualidade.

 

Quem é Eduardo Moreira

Um dos principais apoiadores do Núcleo Periférico, Moreira doou um forno industrial, com capacidade de produzir 1.000 pães diariamente, e ontem, participou da primeira fornada. “As pessoas falam muito em pão “nosso”, mas a gente vive em um modelo de sociedade na qual só tem o pão “meu”. E aqui no Núcleo Periférico, podemos ver que o pão é realmente nosso, que mata a fome, que dá esperança, qualificação profissional para que as pessoas saiam daqui mais fortes para enfrentar esse mundo repleto de obstáculos”, afirmou.

“Todo mundo enfrenta dificuldades na vida, mas as pessoas não têm ideia dos obstáculos percorridos por quem é atendido aqui, situações que elas passam desde que nasceram, são histórias de abuso de toda a ordem. Então, reconhecer que essas pessoas vivem com dificuldades muito além das outras, é o primeiro passo para nos oferecermos para ajudar”, disse.

Ex-banqueiro, Eduardo foi eleito um dos três melhores economistas do Brasil pela Revista Investidor Institucional, foi reconhecido como o melhor aluno do Curso de Economia da Universidade da Califórnia nos últimos 15 anos e, entre outras honrarias recebidas, Moreira foi o primeiro brasileiro a ser condecorado pela Rainha Elizabeth II por seu esforço para eliminar o uso da violência no treinamento de cavalos no Brasil.

 

Como funciona o Núcleo Periférico de Curitiba

O Núcleo Periférico oferece apoio para quem está em situação de rua, dependentes químicos e quem já teve passagem pelo sistema penitenciário e não tem condições sequer de buscar um emprego. As atividades oferecidas são: aulas de capoeira, de dança, de yoga, muay-thai, cursos de corte e costura, criminologia, panificação, serigrafia e de cinema. Além dos cursos, o núcleo oferece também acolhimento para orientação jurídica, psicológica e assistência social. O atendimento é feito de segunda à sexta-feira, das 9h às 20h.

 

Vaquinha do ICL para o Núcleo Periférico de Curitiba

Em Curitiba, Moreira disse que está preocupado com as ameaças que Renato Freitas vem sofrendo e com a perseguição que o deputado petista tem que enfrentar na Assembleia Legislativa do Paraná, onde frequentemente os adversários cogitam cassar o seu mandato.

O principal trabalho social mantido por Renato é o Núcleo periférico, que atende a pessoas de rua e em risco alimentar, onde são oferecidos cursos e servida alimentação e espaço para banho.

Mas por falta de recursos a iniciativa não consegue atender à demanda. Foi aí que, no programa ICL Notícias – 1ª Edição de hoje (31), Eduardo pediu à comunidade do ICL que ajudasse. “O tempo inteiro o poder público conservador de Curitiba tenta desmobilizar o trabalho que o Renato faz em Curitiba, mas saiba, irmão, que você vai montar um centro de referência e esses caras vão ter de se curvar à vontade do povo e a energia da mudança. O sonho vira verdade porque o povo comprou a sua ideia e a briga agora é nossa”, disse Moreira.

“Vamos fazer um centro de referência no país, que ofereça um serviço melhor que o da Prefeitura, que tem nojo de pobre. Vai oferecer um serviço mais digno que os deputados que têm ódio de pobre. Com esse centro sendo referência e as pessoas encontrando ofício, com as oficinas, com a padaria, com os cursos de corte e costura, com a parte de serigrafia, professores de artes marciais e outros cursos tudo isso funcionando de maneira exemplar, ninguém vai querer te matar, Renato. Porque te matar vai ter um custo alto”.

“Atendemos mais de 300 pessoas diariamente. Alguns estão há dias sem tomar banho e a gente oferece uma ducha, dá um kit de higiene, toma café da manhã, passa por enfermeiros, advogados e serviço social”, explica Renato Freitas. Ele lembra que o prefeito Rafael Greca (PSD) tentou criminalizar e punir qualquer que oferecesse uma quentinha para os moradores de rua. Sem o apoio do poder público, centro social mantido por ele tem alcance limitado. Greca é o político profissional que declarou ter " nojo de pobre".

O Núcleo Periférico oferece apoio para quem está em situação de rua, dependentes químicos e quem já teve passagem pelo sistema penitenciário e não tem condições sequer de buscar um emprego. As atividades oferecidas são: aulas de capoeira, de dança, de yoga, muay-thai, cursos de corte e costura, criminologia, panificação, serigrafia e de cinema. Além dos cursos, o núcleo oferece também acolhimento para orientação jurídica, psicológica e assistência social. O atendimento é feito de segunda à sexta-feira, das 9h às 20h.

Para participar, acesse: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/urgente-ajude-o-renato-freitas-a-construir-um-centro-de-referencia-para-pessoas-em-situacao-de-rua-em-curitiba ou clique aqui

Disse Renato Freitas: Hipócritas, distorcem minhas palavras e editam minhas ações nos bastidores dos jornais comprados e tendenciosos da mídia especializada em lavagem cerebral. O protesto pacífico pela vida, com mensagem de amor e justiça, é passado pelos jornais como vandalismo criminoso que merece ser preso e ter a casa invadida e revirada às 6h da manhã de um dia qualquer. Assim as “autoridades” como Matheus Laiola estão acostumados a lidar com nóis, “pé na porta, mão na cabeça, cadê a droga, cadê a arma? Como assim não é bandido? Melhor confessar, senão vai ser pior!” E fazem isso porque contam com a cumplicidade da mídia, que pertence ao próprio governador, como no exemplo aqui do Paraná com o filho do Ratinho, o Júnior. Por isso a importância fundamental do ICL Notícias para o que resta da democracia e dos democratas brasileiros. O conhecimento liberta.

Renato Freitas: Fui censurado pelo presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, que me interrompeu e cortou meu microfone porque eu critiquei os hipócritas religiosos que se escondem atrás da bíblia para pregar o ódio, a vingança e a morte. Ironicamente, Ademar Traiano, presidente da casa e deputado há mais de 30 anos, vestiu a carapuça e passou a se comportar como um rei esnobe frente aos súditos. Já não é a primeira vez que esse coronel da velha política tenta me silenciar com ameaças de cassação, as últimas foram arquivadas, já que infundadas. A verdade é que ele não consegue ver em mim um deputado igual a ele, talvez porque eu não seja mesmo, mas em direitos e deveres eu sou, e exijo respeito!

Discurso de Renato Freitas no dia da Cassação do seu Mandato de Vereador

01
Nov23

Apoie a luta do deputado Renato Freitas contra os que querem calá-lo. Vamos fortalecer o Núcleo Periférico em Curitiba e salvar milhares de vidas

Talis Andrade
 
 
 
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A campanha foi lançada pelo jornalista Eduardo Moreira, com apoio do ICL - Instituto Conhecimento Liberta

 

O deputado estadual no Paraná Renato Freitas (PT) é alvo de novos ataques da extrema direita. A vida do parlamentar, nato de Curitiba, não é fácil. Desde sua jornada como vereador, Freitas é alvo constante dos extremistas, dominantes em seu estado. Os ataques são múltiplos. Ele passa pela quarta tentativa de cassação de seu mandato desde o início de legislatura, em janeiro deste ano. Agora, sua defesa arrolou os ministros Anielle Franco (Igualdade Racial) e Flávio Dino (Justiça) no processo. 

A ameaça da extrema direita é do racista e corrupto presidente da Assembléia Legislativa do Paraná Ademar Traiano de terrível vocação e atuação nazi-bolsonarista. 

Para defender Renato Freitas e sua obra de assistência educacional, cultural e social - no Núcleo Periférico em Curitiba, escreve Gabriel Valery:

A ideia é escancarar a natureza racista de seus processos. Freitas toca seu mandato com palavras que simbolizam sua luta “um de nós”. Preto e periférico, ele é o alvo favorito daqueles que defendem, entre outras coisas, que os atentados bolsonaristas do dia 8 de janeiro foram resultado de “esquerdistas infiltrados”.

A teoria irracional e sem base na realidade tem como defensores no Paraná os que tentam cassar Freitas, Ricardo Arruda (PL) e Ademar Traiano. 

Arruda também tem processo correndo no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa do Paraná. Contudo, também pesa sobre o bolsonarista denúncia do Ministério Público sobre os crimes de: tráfico de influência, associação criminosa e peculato (enriquecimento ilícito).

Sobre as tentativas de silenciar o jovem deputado, ele mesmo sentencia: censura. “Esses processos realmente restringem a nossa atividade parlamentar. Quando ocorre esse tipo de perseguição, coage a gente. Gasta-se uma energia que poderia estar sendo investida em projetos de lei, por exemplo. Por isso, me sinto censurado”, afirma. Freitas é alvo de críticas frequentes por criticar o governador, bolsonarista Ratinho Jr (PSD), ou até mesmo o empresário radical de extrema direita Luciano Hang.

Já sobre Arruda, Freitas, que é advogado e com carreira pública, aponta uma série de preconceitos. “É racismo primeiro pela forma como Ricardo Arruda se dirige a mim, dizendo ipsis litteris que eu sou funkeiro. E eu não sou exatamente do funk, eu sou do hip hop, que é uma outra cultura. Diz ainda que sou maconheiro, incapaz e bandido. São rótulos que caracterizam uma deturpação racista das nossas imagens. Um estereótipo”, disse, em uma entrevista recente à Folha de S.Paulo.

Renato Freitas vencerá mais uma tentativa de cassação no Paraná do Rato e seu capitão do mato Ademar Traiano

Publica a redação do RBA:

“É preocupante que os donos do poder se utilizem do Conselho de Ética como instrumento de perseguição e abuso de autoridade para tentar censurar quem ousa combater o ódio e a mentira.Uma política de vida se faz com a verdade. E quem fala a verdade não merece castigo”, afirma Renato Freitas.

Das tentativas antidemocráticas da parelha governador Ratinho e presidente Traiano, eles são tão pequenos quanto os vereadores capangas do prefeito Rafael Greca. Prefeito que tem nojo de pobre. Vereadores supremacistas brancos que cassaram o mandato de Renato vereador.

 

A luta do Renato deputado está sob ataque dos poderosos que querem calá-lo, afirma Eduardo Moreira, "coragem do deputado para falar a verdade está incomodando as elites de todo o país.

Mais do que nunca, o Renato precisa do nosso apoio para que essa luta não tenha fim. Ninguém pode impedir a verdadeira transformação social", afirma Eduardo Moreira que anuncia:

"Para isso, vamos fortalecer o Núcleo Periférico em Curitiba e construir o maior Centro de Referência para pessoas em situação de rua de todo o país. Vamos ajudar na revolução que o Renato está levando adiante".

A sua doação irá possibilitar a ampliação da rede que busca fornecer assistência social e atendimentos psicológico, jurídico e médico.

O projeto hoje auxilia egressos do sistema prisional, pessoas em situação de rua ou em situação de desemprego e dependentes químicos.

Já são mais de 300 pessoas na cidade de Curitiba beneficiadas. O projeto luta para oferecer o básico existencial: café da manhã e almoço, banho, kit higiene e uso da lavanderia.

Através do centro, as populações beneficiadas também podem acessar cursos profissionalizantes como aulas de serigrafia, de corte e costura e de padeiro(a).

Eduardo Moreira reafirma: "Com a sua doação, o projeto será ampliado. O Núcleo Periférico pretende construir um Centro de referência para essas populações, e assim salvar a vida de mais pessoas, promovendo a dignidade, a autoestima e um recomeço.

Fortaleça o Núcleo Periférico, a humildade não ocupa espaço".

>>> Quem quiser colaborar com a vaquinha pode acessar este link e participar! 

01
Nov23

Apoie a luta de Renato Freitas contra os que querem calá-lo. Contra os inimigos da verdade. Contra quem tem nojo de pobre

Talis Andrade

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Vamos fortalecer o Núcleo Periférico e salvar milhares de vidas: os sem profissão, os sem emprego, os sem nada, os moradores de ruas, "os que têm fome e sede de justiça"

 

A luta do Renato Freitas está sob ataque dos poderosos que querem calá-lo. A coragem do deputado para falar a verdade está incomodando as elites de todo o país.

Mais do que nunca, o Renato precisa do nosso apoio para que essa luta não tenha fim. Ninguém pode impedir a verdadeira transformação social.

Para isso, vamos fortalecer o Núcleo Periférico em Curitiba e construir o maior Centro de Referência para pessoas em situação de rua de todo o país. Vamos ajudar na revolução que o Renato está levando adiante.

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A sua doação irá possibilitar a ampliação da rede que busca fornecer assistência social e atendimentos psicológico, jurídico e médico.

O projeto hoje auxilia egressos do sistema prisional, pessoas em situação de rua ou em situação de desemprego e dependentes químicos.

Já são mais de 300 pessoas de Curitiba beneficiadas. O projeto luta para oferecer o básico existencial: café da manhã e almoço, banho, kit higiene e uso da lavanderia. O projeto visa atender milhares de pessoas na cidade que o prefeito tem nojo de pobre

Através do centro, as populações beneficiadas também podem acessar cursos profissionalizantes como aulas de serigrafia, de corte e costura e de padeiro(a).

Com a sua doação, o projeto será ampliado. O Núcleo Periférica pretende construir um Centro de referência para essas populações e assim salvar a vida de mais pessoas, promovendo a dignidade, a autoestima e um recomeço.

Fortaleça o Núcleo Periférico, a humildade não ocupa espaço.

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31
Out23

Vaquinha pró Renato Freitas arrecada meio milhão de reais em 6 horas

Talis Andrade

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Renato e Eduardo, em encontro no Núcleo Periférico, em Curitiba. Foto: Reprodução / Instagram

 

Patrocine o sonho brasileiro de ter uma profissão para ganhar o pão nosso de cada dia. De real em real uma vida salva!

 

Redação Tribuna do Paraná

Iniciada pelo ex-banqueiro e palestrante Eduardo Moreira, uma vaquinha online conseguiu somar em apenas seis horas o total de R$ 500 mil (e o valor cresce a cada minutos). O beneficiário dessa arrecadação será o projeto Núcleo Periférico, que tem o deputado estadual do Paraná Renato Freitas como coordenador. O objetivo é construir um centro de acolhimento para pessoas em situação de risco.

A meta inicial era de R$ 250 mil, mas ainda nas primeiras horas da manhã ela foi alterada para R$ 400 mil. Com o volume de doações crescente, o valor teve um novo ajuste de meta para R$ 550 mil, montante atingido por volta das 16h. A nova meta é de R$ 600 mil. Até próximo deste horário, 6710 doações haviam sido recebidas na página da arrecadação no site Vakinha.

“É inacreditável o poder de uma comunidade que tem uma causa. Acabamos de completar R$ 400 mil arrecadados para transformar o Núcleo Periférico, no Centro de Curitiba, coordenado pelo Renato Freitas”, disse Eduardo Moreira e o seu perfil no Instagram.

O objetivo da “causa”, além de ajudar às pessoas assistidas pelo Núcleo Periférico, é dar visibilidade a Renato, “protegendo com isso a vida do Renato, pois tendo uma obra tão importante como essa, que já é e vai se tornar ainda mais depois das doações, ninguém vai querer fazer nada contra o Renato, vai aumentar o custo de se fazer algo contra ele”, disse o ex-banqueiro.

Eduardo Moreira se refere ao processo contra o petista que corre no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa do Paraná, protocolizado pelo presidente da casa, Ademar Traiano, desafeto político de Renato. Eduardo, um dos fundadores do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), mobilizou sua comunidade para ajudar na arrecadação. O projeto Núcleo Periférico foi fundado por Renato há cerca de 10 anos.

O ex-banqueiro esteve em Curitiba na segunda-feira (30) e disse que está preocupado com as ameaças e a perseguição que o deputado petista tem que enfrentar na Alep.

“Atendemos mais de 300 pessoas diariamente. Alguns estão há dias sem tomar banho e a gente oferece uma ducha, dá um kit de higiene, toma café da manhã, passa por enfermeiros, advogados e serviço social”, explica Renato Freitas, em material divulgado pro sua assessoria de imprensa. Sem o apoio do poder público, centro social mantido por ele tem alcance limitado.

“O tempo inteiro o poder público conservador de Curitiba tenta desmobilizar o trabalho que o Renato faz em Curitiba, mas saiba, irmão, que você vai montar um centro de referência e esses caras vão ter de se curvar à vontade do povo e a energia da mudança. O sonho vira verdade porque o povo comprou a sua ideia e a briga agora é nossa”, disse Moreira.

O Núcleo Periférico oferece apoio para quem está em situação de rua, dependentes químicos e quem já teve passagem pelo sistema penitenciário e não tem condições sequer de buscar um emprego. As atividades oferecidas são: aulas de capoeira, de dança, de yoga, muay-thai, cursos de corte e costura, criminologia, panificação, serigrafia e de cinema.

Além dos cursos, o núcleo oferece também acolhimento para orientação jurídica, psicológica e assistência social. O atendimento é feito de segunda à sexta-feira, das 9h às 20h.

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25
Out23

Diários do Apocalipse

Talis Andrade
Foto: Oliver Weiken/EPA

 

Sob terror e escombros, humanidade e poesia. Crônica da guerra, por uma escritora palestina. A família confinada em Gaza. As bombas gritam, os telefones se calam. As mortes que não contam. Em meio ao terror de Israel, a Palestina viverá

 

Por Sarah Aziza, The Baffler | Tradução: Antonio Martins, Outras Palavras

- - -

Acordo cedo, de maneira estranha, em 7 de outubro, sonolenta após uma noite que terminou tarde. Coloco a chaleira para ferver e ligo o rádio na BBC. Um momento depois, ouço um noticiário que começa com “Lutadores palestinos de Gaza cruzaram a fronteira para Israel…”. Viro na direção do som desencarnado. Estou acostumada a acordar com notícias de violência na Cisjordânia – pelo menos uma manhã a cada semana começa assim, com uma história de ataques de colonos ou outra incursão do exercito de Israel. Labib Dumaidi, um estudante universitário palestino de dezenove anos, foi baleado ontem durante outro pogrom em Huwara, na Cisjordânia. Mas este relato é algo diferente, e minha mente luta para compreender as palavras. Gaza? Como?

* * *

Uma imagem: uma escavadeira estoura uma cerca em torno a Faixa de Gaza, vinda de Israel, e corpos passam pela abertura. Fora da câmera, um homem rouco grita em árabe: “Quebrei! Deus é grande! Quebrei!” Por um instante, Gaza já não significa inacessível, encurralada, inerte. Toda a minha vida, esse nome tem sido uma dor, amada e intransponível, íntima e fora de alcance. É a terra onde meu pai nasceu como refugiado, um lugar que ele amou apesar da Grande Tragédia [Nakba] que enroscou sua família por lá. Gaza, um lugar que nasceu em mim da primeira vez que ele me contou histórias do mar. Quando tinha seis anos, ele mergulhava no Mediterrâneo a caminho de casa, nadando nu na água até que seu irmão chegasse para puxá-lo de volta. Vejo Gaza retornar em seus olhos cada vez que ele avista as ondas.

Gaza, também o lugar onde meu pai viu minha avó cavar trincheiras à medida que se aproximava a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Ele não entendeu as valas até que os aviões rasgaram o céu. Por toda a vida, lamentei os familiares mantidos cativos lá, suas vidas tornando-se mais desesperadas a cada ano de cerco que começou em 2007. Prendi a respiração com eles através de quatro guerras, seus corpos presos sob céus em queda, impedidos de qualquer fuga. Um massacre tão rotineiro que Israel o chama de “aparar a grama”. Minha família e dois milhões de outros, enjaulados por um poder nuclear que os chama de ervas daninhas. Muitas vezes desesperei que jamais viveria para vê-los livres.

No entanto, por um instante, vendo aqueles corpos correndo sob o sol, parece absurdamente simples. Um muro é apenas um muro.

* * *

“Lutadores palestinos romperam as barreiras israelenses…”. Aguardo a inevitável sequência – notícias de que esses guerrilheiros em potencial foram mortos, como é o destino da maioria dos palestinos que se rebelam. Em vez disso, ouço que dezenas de israelenses foram mortos – a contagem acabou de começar. Ruptura. O único status quo que já conheci – aquele em que qualquer violência desvia-se para a morte brutal dos palestinos – foi, ainda que brevemente, derrubado. Uma sensação estranha: minha visão embaçando, meu corpo se dividindo ao meio, as partes se separando. Meu corpo sabe o que ainda está além da minha capacidade de compreensão. Uma história terminou, e estamos caindo, já sangrando, na próxima.

* * *

Começam a chegar mensagens de um dos meus primos em Gaza começam: “Exatamente às seis e trinta [em 7 de outubro], acordamos com o som de mísseis partindo da Faixa de Gaza como relâmpagos. A pergunta repetida por todos foi: ‘O que está acontecendo???’. . . A situação até este momento não é nada. . . mas tememos a resposta da ocupação. Eles não nos deixarão dormir esta noite. . . Pedimos a Deus segurança. . .”

* * *

Levará dias para saber o número final de israelenses mortos pelo Hamas. Mas quando ultrapassa cem, entro em pânico. Embora meu estômago se revolte com imagens dos mortos, tenho certeza de que eles já estão sendo metabolizados pela máquina sionista. Receio a maneira como a violência – tanto real quanto fabricada – será alavancada para lançar um arsenal do tamanho de um século em uma jaula humana. Este é o cálculo cruel de nossa opressão: minha compaixão pelos mortos é ofuscada pelos números altos de nossos já mortos e dos que em breve morrerão.

“Eles nos chamam de terroristas, Sarah”. A voz do meu pai está perplexa, ferida. Por trinta anos, ele esperou, certo de que os Estados unidos retribuiriam seu amor. Estamos falando no domingo, 8 de outubro, e as últimas 36 horas passaram por nós como dentes. “Eles chamaram isso de massa…?”. Sua boca gagueja a palavra em inglês. “Massacre, Baba. Isso significa matar em grande escala. E sabe de uma coisa? Acho que foi um massacre… Muitas pessoas foram mortas”. Na cozinha, meu parceiro judeu mantém-se discreto sobre o fogão, preparando comida que não iremos provar. Meu pai suspira. Estamos nos afogando em um luto complexo.

É uma pesar muito maior que as palavras. Grande o suficiente para reconhecer a dor judaica, tanto recente quanto histórica. Como palestina, recuso-me a imitar o opressor negando a humanidade dos falecidos. Mas essa tristeza situa-se dentro da cratera da certeza de que o mundo continuará a recusar a nossa. É um abismo esculpido por décadas de discurso, no qual apenas certos corpos sangram. Dentro deste consenso, não há desapropriação violenta da nossa terra, nenhuma forma aceitável em que possamos resistir às nossas muitas mortes lentas e instantâneas. Recusa o fato de que, por décadas, enterramos centenas de mortos para cada israelense morto. Nesse olhar seletivo do Ocidente, só há a nossa barbárie, que deve ser brutalmente contida.

Para o meu pai e para mim, o assassinato de cidadãos israelenses em 7 de outubro vibra com uma familiaridade primal, uma espécie de déjà vu. Minha família foi expulsa etnicamente da região a nordeste da Faixa de Gaza durante a Nakba em 1948 – bem perto do local dos ataques. Muitos dos meus parentes perderam irmãos, pais e filhos para balas e bombas sionistas. O horror vivenciado em 7 de outubro pareceu estranho, como se eu já tivesse visto isso antes. Essa ressonância não mistura tristezas ou histórias únicas, mas para nós a terra há muito tempo está assombrada, o chão já está manchado. Por mais chocados que estejamos com os ataques, também os vemos pelo que são – as convulsões inevitáveis de um corpo político violento. A erupção de uma verdade purulenta: a de que um regime de apartheid é sempre um território de morte.

* * *

Passei a maior parte de 2023 em uma profunda depressão, que se enraizou durante uma visita à Palestina em março. Enquanto estava lá, senti o sabor de eletricidade de cobre no ar. As condições materiais atingiram novos níveis de miséria absurda. Recordes de violência foram quebrados e quebrados novamente, enquanto o governo de extrema direita de Israel se regozijava na linguagem do genocídio. Das colinas da Cisjordânia devoradas por assentamentos ilegais a Jerusalém segregada, um sentimento selvagem pairava vermelho e espesso. Uma vibração, ameaçando se tornar um grito.

Voltei para as chuvas de abril. Minhas entranhas estavam secas como ossos. “Sinto que algo violento está iminente”, disse ao meu parceiro. Diante de mim, vi anos longos e lentos de perda angustiante. Vi levante. Vi nossas ruas banhadas em sangue.  

* * *

O breve silêncio do Ocidente é substituído por um rugido. Políticos de Washington a Bruxelas gritam com uma sincronia que parece ensaiada. Apenas horas se passam antes que a justa tristeza pela perda de vidas judias seja transformada em declarações de guerra. Pedidos para “arrasar” e “liquidar” conosco. Demandas de “nenhuma restrição” [à ação de Israel]. Somos declarados “animais” pelo ministro da Defesa de Tel Aviv, e o consenso ocidental concorda – senadores dos EUA nos chamam de selvagens, que merecem ser aplainados no chão. Um segundo tipo de déjà vu: o de meus piores pesadelos, realizados. A retórica da guerra ao terror é reprisada; palestinos, muçulmanos, ISIS e Hamas são reduzidos a um monte degradado. As facções antiárabes mais extremas de Israel estão em alta, enquanto celebridades e governos ocidentais ecoam os clamores do pós-11 de setembro de bem contra o mal. A própria noção de civis palestinos desaparece. Este é o primeiro tipo de morte.

* * *

“Você acha que o Hamas matará os reféns?” Meu pai pergunta ao telefone. “Não faço ideia, Baba. Acho que eles querem trocá-los por prisioneiros palestinos.” “Ahhhh. Eu realmente espero que eles não os matem. Isso não é… não queremos isso.” “Não. Isso não é o que queremos.”

Meu primo em Gaza manda outra mensagem: “Agora estamos todos reunidos em um quarto, ouvindo as notícias no rádio e também pelas redes sociais. Meu irmão Mahmoud [nove anos] sempre sente medo em todas as guerras, e tentamos acalmá-lo. Ele pergunta: ‘Como é a morte?’ Ele chora, ‘Tenho medo de morrer’. Ele não quer comer nada e está muito assustado. Tentei fazê-lo assistir a um filme até que esquecesse, mas ele ainda pensa na morte e pergunta: ‘Como é a morte e o que sentimos quando morremos?’ Seu rosto está pálido. . . Sinto um sentimento estranho e diferente.”

* * *

Alguns leitores esperam que eu denuncie a resistência violenta. Eles imaginam que, sem essa garantia, que não pedem de nenhum israelense, não tenho o direito de falar. Acreditam ter direito a uma versão de palestina que abre mão de tudo o que o liberalismo branco oferece a nossos opressores e a si mesmo: o direito de existir, o direito à autodefesa. Eles criminalizaram nossas formas não violentas de protesto, mataram manifestantes pacíficos, prenderam nossos poetas e assassinaram nossos jornalistas. Eles não acreditam em nosso sofrimento histórico ou contemporâneo. Ao mesmo tempo, acreditam que é nosso estado natural – parte da paisagem marrom e nebulosa do chamado “mundo árabe”. É uma abjeção que devemos aceitar, em silêncio e acima da dor dos nossos mortos.

E nossos mortos – oh, nossos mortos. Às vezes me pergunto se morremos de verdade. Quando centenas de manifestantes pacíficos de Gaza foram abatidos por soldados israelenses, nós os contamos sozinhos. Este ano, até o dia anterior aos ataques do Hamas, os palestinos foram assassinados a uma taxa de cerca de um por dia – mais de duzentos até 6 de outubro. Para nós, até funerais podem se tornar cenas de assassinato ou lugares para ataques de soldados.

Se um assassino não se incomoda em cobrir seus rastros, eles realmente mataram?

* * *

Estou empenhada em manter minha humanidade. Leio testemunhos de israelenses das áreas visadas pelo Hamas. Quase invariavelmente, eles narram a busca de esconderijo em uma área segura, um abrigo destinado a proteger a vida. Um homem diz ao New York Times: “Em cada casa em nossa comunidade [perto da fronteira com Gaza], há o que chamamos de uma área segura, que é um construída com concreto muito forte e tem um tipo especial de porta, supostamente resistente à queda de morteiros e foguetes. É geralmente onde as crianças dormem”. Acho esse detalhe tão arrepiante. Eu me pergunto, em que tipo de mundo alguém imagina que vive, em que tais estruturas são normalizadas? Que tipo de status quo alguém aceita, em que seus filhos se abrigam dessa maneira todas as noites? Realmente parece paz? Será que ocorre aos arquitetos se perguntar o motivo de os foguetes serem lançados? Ou essa sociedade aceitou completamente que os morteiros lançados de Gaza são apenas mísseis de ódio? As filhas deles não sentem falta de acordar com o sol?

* * *

Mensagem da minha prima. Uma casa em sua rua, no Campo de Refugiados de Nuseirat, é bombardeada. Outras pessoas são mortas enquanto compram comida em um mercado próximo. Quando pedem para fugir, ela responde: “Não sabemos para onde ir… Eles tratam as pessoas de Gaza como monstros. Por quê?”

* * *

Rehan, uma jornalista de Gaza em seus vinte anos, usa a bateria do telefone que está acabando para gravar um diário em áudio. Coloca sua filha na cama. Abre a janela para alimentar um gato faminto. Diz ao gravador: “Minha gata Yara teve três gatinhos adoráveis há três semanas… mas como posso cuidar deles agora?” Por trás de sua voz, há o som de bombas caindo.

* * *

Segunda-feira, 9 de outubro. A previsão em Gaza é de tempo ensolarada com nuvens passageiras. Eu acordo em Nova York. O ar está frio.

* * *

“Cinco em Khan Younis”, diz meu pai. Está falando dos nossos parentes mortos. Não usa a palavra mortos. “Cinco se foram em Khan Younis”, ele diz. “Apenas duas crianças sobraram.”

الله يرحمهم.

* * *

“Mas e o Hamas?” Cresci com esta pergunta sendo lançada em minha cara toda vez que declarava o direito de meu povo à sobrevivência. “E o Hamas?” Não importava se eu acabara de pedir água limpa ou o direito de retornar à nossa terra roubada. “E o Hamas?”, perguntavam, mantendo minha humanidade como refém. Seus sorrisos presunçosos a esta pergunta, que eles viam como um golpe retórico. Eu lhes dei horas, páginas das minhas palavras. Enchi salas com o meu hálito quente, ofegando: “Nós não somos terroristas – o Hamas é um sintoma da opressão – sim, claro que condeno o extremismo – esta é uma luta pelos direitos humanos – Israel sustentou o Hamas por anos – por favor, olhe para nossas crianças – por favor, você não vê nossos idosos indefesos? – por favor, se você não nos respeita como seres humanos, poderia poupar um pouco de piedade?”

* * *

Outra tia desaparece.

* * *

“Seu nariz está sangrando”, meu parceiro aponta enquanto choro.

* * *

Israel anuncia que a fronteira com Gaza está novamente “totalmente segura”.

* * *

O telefone da minha prima está morrendo; Israel cortou toda a eletricidade, gás, água e comida. “Também sentimos cheiro de fumaça agora. Acho que é gás [branco] de fósforo que eles jogaram no céu hoje”, ela manda mensagem. “Me sinto sufocada por isso. Meu amigo morreu inalando gás de fósforo branco na guerra de 2008.”

* * *

Você está bem?
Você está bem?
Você está bem?
Você está bem?

* * *

A matemática do apocalipse: 1,1 milhão intimados a evacuar o norte de Gaza em vinte e quatro horas. Pediram a mais de um milhão que empurrem seus corpos para um pedaço de terra onde mais de um milhão de corpos já estão.

Isso não é algo que corpos humanos possam fazer. Notícias de nossa não existência vêm e vêm novamente.

* * *

Atravesso uma passarela de pedestres em Queens várias horas antes do amanhecer. Eu me curvo. Minha mão está na minha boca. Não sei mais como mover o ar para dentro ou para fora.

* * *

Como é ficar à beira da aniquilação? Só posso falar do meu ponto, distante alguns graus do epicentro da guerra. Aqui, parece que estou caindo por uma garganta infinita. É a incredulidade misturada com a sensação de que este dia já chegou. É saber que qualquer possível sobrevivência estará inscrita na consciência de que este planeta é um lugar onde seu extermínio foi decretado, e milhões o acolheram.

* * *

Um amigo palestino me manda uma mensagem: “Você já comeu hoje?”

* * *

Outro me manda mensagem de sua casa na Cisjordânia, onde mais de trinta palestinos foram mortos em uma semana. “É difícil, mas apenas nos tornará mais determinados a sermos livres.”

* * *

Os Estados Unidos anunciam que duplicarão sua presença militar no Oriente Médio. Eu fico acordada até tarde em um quarto cheio de amigos libaneses e sírios, cercada por fantasmas.

* * *

O desafio: manter um senso de agência no meio de formas sobrepostas de déjà vu; reconhecer que o ímpeto de um século de tentativas de apagamento está por trás dos eventos atuais e, no entanto, resistir ao desespero. Acreditar, até insistir, que de alguma forma ainda é possível deter a máquina imperialista genocida.

É uma esperança que morre e ressuscita a cada hora. Revivida, incontáveis vezes, pela narrativa em mudança radical nas ruas. Em mais de dez anos de organização em prol das vidas palestinas, nunca vi tanta solidariedade vibrante, diversa e urgente. A mudança que senti em 2021, quando um ciclo anterior de brutalidade israelense instigou protestos em massa de um público pós-George Floyd, parece ter se mantido. Embora eu tenha cuidado em confiar no meu feed de mídia social para refletir a realidade política, estou chocada com o volume da resposta antissionista de base.

Meu telefone é inundado com mensagens de texto e postagens em redes sociais de amigos, colegas e figuras culturais de todo o mundo. Esmagadoramente, as mensagens reconhecem o contexto do colonialismo e da violência desproporcional, bem como a piora da crise humanitária em Gaza. Tentando subverter uma resposta da mídia norte-americana lamentavelmente distorcida, os amigos compartilham relatos de organizações humanitárias e jornalistas independentes no local. Postagens de judeus antissionistas proclamam este como um momento para cumprir o juramento de “nunca mais”. Meu parceiro, membro ativo da Jewish Voice for Peace, participa de ações diárias enquanto o grupo denuncia a manipulação do luto.

Mais importante talvez, seja o rápido movimento para as ruas. Dezenas de milhares se reúnem de cidade em cidade, bandeiras palestinas voando de Nova York e Londres a Bagdá e Kuala Lumpur. Manifestações pró-Palestina são proibidas na França, Viena e Berlim. Manifestantes franceses, desafiando essas ordens, são pulverizados com gás lacrimogêneo. Centenas de ativistas judeus bloqueiam a casa do senador Chuck Schumer no Brooklyn, protestando contra seu apoio enfático aos bombardeios israelenses. Dezenas, incluindo descendentes de sobreviventes do Holocausto, são presos. “Isso parece diferente”, sussurramos eu e meus amigos um para o outro. A pergunta que não fazemos: Vai durar?

Há momentos que sempre desafiarão palavras. Há crimes tão hediondos que toda a alma humana estremece. Bombas atingem o Hospital al-Ahli em Gaza, matando pelo menos quinhentas pessoas. A negação de Israel segue rapidamente. Meios de comunicação norte-americanos, após inicialmente relatarem a bomba como israelense, logo se alinham sugerindo que os palestinos podem ser culpados.

الله يرحمهم.

* * *

“Costumava ter esperança”, meu pai me diz ao telefone.

“E agora?”

“Eu não sei”, ele diz. “Eu não sei. Mas sei que continuaremos.”

Conheço essa verdade, embora não conheça sua forma. Não é necessário chamá-la de esperança, mas não se pode negar que o ethos palestino é esmagadoramente de vida. Insistimos em sobreviver, em amar mesmo as versões destroçadas da existência que nos foram concedidas. Somos mestres em paradoxo, criando beleza e cuidado dentro de jaulas, sob destroços. Somos fluentes em absurdo, mudando de forma para sustentar nossa humanidade dentro de paredes cada vez mais estreitas. Setenta e cinco anos de justiça adiada não apagaram nossa determinação de construir, reconstruir, escrever, casar, dar à luz, dançar, permanecer.

Mesmo assim, sabemos que merecemos muito mais, e por isso pressionamos contra nossa opressão com imaginação e amor desafiantes. Como a estudiosa palestina Sophia Azeb coloca, “Não estamos obrigados a estruturar nossas epistemologias, estéticas e políticas apenas dentro da arquitetura desta catástrofe.” Embora nunca tenhamos conhecido uma Palestina livre, nenhum número de bombas pode extinguir a vontade inata de viver com dignidade. Desta forma, nossa resistência é, para citar Mahmoud Darwish, incurável. Este é o cerne do problema de Israel – não se trata de barbárie palestina, mas de vida palestina. É uma praga para o projeto sionista, nossa recusa de um século em desaparecer. Continuará sendo uma praga enquanto o Estado de Israel existir como uma estrutura baseada em nossa morte. Israel está enganado se acredita que esta será a última palavra. A Palestina viverá.

Damares Alves espalha fake news sobre Gaza

 
 
Heloísa Villela, em Ramalah, a rotina no conflito

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