
A Lava Jato uma quadrilha que roubou bilhões que sumiram pelos paraísos dos ladrões de toga - II
O desafio é saber onde foi parar o dinheiro arrecadado com multas e que foi depositado em contas designadas pelo então juiz Moro & sócios
por Márcio Chaer
Os lucros se deram de diferentes maneiras. Moro virou senador; Deltan, deputado; Joaquim Falcão amealhou uma cadeira na Academia Brasileira de Letras e foi remunerado com dinheiro público para divulgar a sua visão de mundo em palestras a servidores estatais. Por ter perseguido o então ex-presidente Lula e ajudado a eleger Jair Bolsonaro, Moro conseguiu ser ministro da Justiça. Por ter sido uma espécie de mentor intelectual das práticas da “lava jato”, Falcão foi convidado a ser coordenador da campanha de Moro para a Presidência da República — que não decolou.
Falcão fez por merecer a presença de Sergio Moro na primeira fileira do auditório na sua posse na ABL. Ele e sua equipe foram fundamentais para emparedar os ministros do STF com suas falsas pesquisas, que, com a vassalagem da imprensa, tornaram os juízes odiados pela classe média brasileira.
Mentira em dose dupla
Agora na clandestinidade, os acólitos da “lava jato” tentam restaurar o reinado do populismo. Nesta semana, os dois principais jornais de São Paulo publicaram a mesma mentira para atacar o Supremo. Em manchete, os dois diários gritaram: “STF libera juiz para atuar em causa de escritório de parente” e “STF decide que juízes poderão julgar causas ligadas a parentes”. O tribunal não decidiu nada disso. Nos tempos áureos da finada “operação”, era raro o dia em que não se publicavam notícias fraudulentas, oferecidas pelo esquema criado em Curitiba. O tipo de empulhação que os arquitetos da dita “operação” semeavam por meio de seus assessores de imprensa, travestidos de jornalistas.
Os órfãos da “lava jato” não se envergonham de ser hipócritas. O melhor exemplo é o que envolve parentes de juízes que advogam. Cria-se um cenário de presunção de desonestidade. Se um juiz vai a um evento acadêmico que tenha patrocinador, isso significa que ele irá beneficiar ilegalmente a empresa. Aplicado esse raciocínio às empresas jornalísticas que promovem eventos e aceitam patrocínios, no entender dos jornalistas, é porque eles são corruptos.
Não se exercita a lógica simples: há escândalo quando o julgador responde a um eventual “benfeitor” com alguma contrapartida. Qual seja, uma decisão judicial que não se baseie em precedentes, na doutrina ou jurisprudência. Conflito de interesses em potencial, jornalistas e empresas jornalísticas enfrentam o tempo todo. A prática corrupta só se concretiza caso haja uma contrapartida comprovável. Ainda bem que existe a presunção de inocência para jornalistas, empresários e até para juízes.
O objetivo de jogar a população contra os ministros foi bem-sucedido. Jornais, revistas e emissoras engajaram-se de corpo e alma na campanha. A revista Veja chegou a dar capa contra o ministro Gilmar Mendes, descrito como “o inimigo do Brasil”. Tornaram-se comuns agressões a ministros no país e na Europa. A patranha desenhada pela “força-tarefa estendida” só começou a ser contida com o inquérito aberto pelo ministro Dias Toffoli, com a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
O trem da alegria alçou nomes obscuros ao estrelato. Neófitos se metamorfosearam em radialistas surfando as ondas da pós-verdade. Sem constitucionalistas ou profissionais respeitados, essa ala da imprensa saiu à caça de quem dissesse o que se queria publicar: que a “lava jato” era o que nunca foi: um movimento sério de combate ao crime.
Foi a deixa para cronistas como Joaquim Falcão, Conrado Hübner Mendes, Modesto Carvalhosa, Diego Werneck Arguelhes, Roberto Livianu e Rubens Glazer se tornassem fontes de aluguel prontas a fornecer qualquer tipo de aspas incensando os falsos “salvadores da pátria”. Mas o trabalho sujo de verdade foi a fabricação de injúrias para comprometer juízes e seus familiares. Os juízes, claro, que não se ajoelhavam aos pés dos santos de Curitiba.
Não por acaso, Falcão foi demitido da Fundação Roberto Marinho e da Fundação Getúlio Vargas. Hoje é pauteiro da revista criada com dinheiro do Itaú-Unibanco, a Piauí. O fuzilamento de ministros foi retomado recentemente — ele, por exemplo, foi uma das vozes a atacar o inquérito aberto pelo STF que revelou a articulação de ataques à democracia e às instituições de Estado como o que depredou o Congresso e o STF em 8 de janeiro. As decisões do Supremo voltaram a ser descritas de forma, deliberadamente, distorcidas. O grupo de Falcão na FGV mudou de endereço: foi para o Insper, onde continua fazendo pesquisas fake contra os ministros do STF.
A revista Piauí, que pagou a um repórter uma longa estadia em Brasília para “provar” que os ministros do STF eram desonestos, sem um único fato em que se basear, atribuiu às fontes frases que não disseram. A mesma revista trabalhou para o então deputado Eduardo Cunha e seu sócio, Lúcio Funaro, num caso de extorsão.
Os dois estavam entre os personagens que rodeavam as empresas que tinham contrato com a Petrobras para extorqui-las. Como presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha tinha poderes não só de criar CPIs para entrincheirar suas vítimas, como parceiros no governo com tentáculos na Receita Federal e outros órgãos de fiscalização com poderes de pelotão de fuzilamento. Quem não cedesse caía em desgraça. (continua)