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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

07
Jul22

O padre, os vereadores e o cachorro

Talis Andrade

 

 

Nós de Curitiba somos vítimas de três déspotas, Rafael Greca, o esclarecido, ou outros dois Ratinho Jr – há que se saber por que o apelido do pai e do filho – e o energúmeno que ocupa a presidência. Todos fascistas

 

21
Mai22

Pai, amigo e brincalhão: quem era Durval Teófilo, o homem morto por um vizinho que o confundiu racista

Talis Andrade

Durval e Luziane: juntos há 13 anos — Foto: Reprodução/Redes sociais

Durval e Luziane: juntos há 13 anos — Foto: Reprodução/Redes sociais

 
 

por g1

Um homem brincalhão, de sorriso fácil e apaixonado pela filha de 6 anos. Esses são alguns dos adjetivos atribuídos a Durval Teófilo Filho, de 38 anos, morto na quarta-feira (2) por um vizinho, quando chegava em casa, em São Gonçalo.

Sem acreditar na morte e no motivo torpe - em que um sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, de 51 anos, alegou ter confundido Durval com um assaltante-, os amigos contam ainda que ele era muito prestativo, solidário e, mais uma vez, sorridente - característica sempre associada ao homem que trabalhou como letrista em uma plataforma da Petrobras e atualmente estava empregado como repositor de supermercado.

“Durval era um cara muito humano, muito menino, muito inocente. Era um camarada que não tinha maldade com ninguém. Era um amigo responsável, um trabalhador completo”, falou o letrista Eloir Malta, que trabalhou com Durval no estaleiro.

O padrinho da menina, Carlos Souza, contou durante o enterro do amigo e compadre na sexta-feira (4) que eles eram muito grudados e que, quando chegava, Durval descia com lixo na companhia de Letícia. Era um ritual da dupla, que está sem ser cumprido desde quarta-feira.

 

Ela pergunta o tempo todo onde está o pai”, conta Carlos sobre a menina, que não sabe que o pai morreu.

 

Letícia não sabe, e os amigos não acreditam que Durval se foi para sempre.

 

Se trata de um milhão de sorrisos, risadas, situações de apoio, companheirismo, muito trabalho, um bom papo. Mas é dessas risadas que ouvíamos mil vezes por dia que estamos perdendo; um cara que nunca se intrometeu em nada de ilícito, essas risadas perdemos. Resta guardar na memória. Sobrou pra gente só o nosso choro”, postou o amigo Wallan Stott Oliver.

 

O compadre Carlos contou ainda que Durval tinha medo da violência e de ser assaltado, um dos motivos que o fez sair da comunidade do Capote, onde vivia, e se mudar para o condomínio no Colubandê, em São Gonçalo. Não teve jeito. A violência foi encontrá-lo.

Durante o enterro, a mulher Luziane disse palavras em tom de desespero

e desabafo:

 

Parabéns seu Aurélio, parabéns por acabar com minha vida, da minha filha, da minha família. Estou aqui sangrando, ele não deu a chance de o meu marido viver”, disse a agora viúva depois de 13 anos ao lado de Durval.

 

O crimeDurval Teófilo: gente boa e amigo  — Foto: Reprodução/Redes sociais

Durval Teófilo

 

Durval Teófilo, de 38 anos, foi morto na noite da quarta-feira (2), em São Gonçalo, por um sargento da Marinha quando chegava do trabalho. Ele foi alvejado por tiros na porta do condomínio onde morava, em São Gonçalo.

O autor dos disparos foi o sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, preso em flagrante. Ele alegou que confundiu Durval com um bandido. Confundiu... 

 
19
Mai22

Racismo na igreja

Talis Andrade
Lubaina Himid, Entre os dois meu coração está equilibrado, 1991


O vereador Renato de Freitas é mais um negro vítima do racismo cristão
 
 
por Simony dos Anjos

- - -

Renato Freitas, frente à violência das mortes de Moïse Kabamgabe e de Durval Teófilo Filho, se juntou a outras pessoas negras em uma manifestação em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito, na capital do estado do Paraná. Por ser um sábado havia uma missa em curso e após o encerramento da missa, os manifestantes adentraram à Igreja. Em uma cidade conservadora e cristã, como Curitiba, isso soou como “vilipêndio da religião alheia”, nas palavras de um dos vereadores que propuseram a cassação do mandato de vereador de Renato Freitas (PT).

Temos aqui muitos elementos a serem discutidos em relação a toda a violência e racismo que envolvem essa situação: (i) a entrada de manifestantes em uma igreja revolta mais os “cidadãos de bem” do que a própria morte de Moïse e Durval; (ii) a oportunidade de acusar um parlamentar negro de quebra de decoro e, assim, cassar seu mandato e (iii) a indiferença ao que a população negra tem a dizer sobre esse acontecimento.

O que torna a questão ainda mais complexa é que a Igreja que foi então ocupada por manifestantes é nada mais, nada menos, que uma igreja que mobilizou muitas pessoas negras no decorrer da história da cidade de Curitiba. Portanto, a igreja tem uma simbologia na luta negra e antirracista da cidade. Fundada em 1737, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito teve a sua primeira construção – que foi demolida em 1931 –, feita por escravizados e para que os escravizados pudessem frequentar a missa.

Ora, nada mais justo que uma manifestação desse porte e conteúdo acontecesse em um local historicamente pertencente às pessoas negras e que serviu de cenário para articulação de pessoas escravizadas na resistência à escravidão brasileira. Como pessoa negra cristã, o que me chama a atenção nesta história toda é que ao invés de cristãs e cristãos se arrependerem do pecado do racismo e se colocarem na trincheira da luta por reparação histórica, se resignam e ainda se ofendem ao serem confrontados com seu próprio racismo.

Sim, esse caso se trata de racismo das igrejas cristãs, pois afirmam que houve desrespeito com o espaço religioso, mas não admitem nunca o papel crucial da Igreja Católica na justificação moral e religiosa da escravização, no Brasil. Lembro-me do quadro do Debret, Jovens negras indo à Igreja para serem batizadas (1821), no qual as mulheres sequestradas em África vão para a igreja antes de serem estupradas, exploradas e torturadas nas mãos dos senhores de engenho. Portanto, frente às atrocidades que a Igreja Católica (e muitas protestantes) cometeram e apoiaram contra negros e indígenas brasileiros, ceder seus templos para que o movimento negro faça denúncias é o mínimo!

O fato é esse, as mãos dos cristãos estão cheias de sangue, e não há cassação que faça essas mãos se limparem. E o próprio fato de certos cidadãos ditos de bem se incomodarem mais com um ato antirracista dentro de uma Igreja que historicamente é referência do movimento negro curitibano, do que com as mortes de Moïse e Durval, mostra que esses cidadãos querem silenciar o movimento negro.

O segundo ponto é fulcral neste debate: a cassação de Renato. A própria diocese de Curitiba se pronunciou contrária a esse absurdo e em nota disse que essa punição é desproporcional. Contudo, a pena de cassação foi proposta por Sidnei Toaldo por “realização de ato político no interior da igreja”. Sabemos do que se trata na verdade: uma vez que entramos nos espaços de poder, a branquitude faz de tudo para que saíamos. Seja por manobras institucionais, como esta, ou com a nossa própria morte – como ocorreu com Marielle Franco.

Deve ser muito desconfortável ouvir todos os dias que seus ideais são racistas, não? Ver que o espaço de poder não é mais hegemonicamente branco e masculino. Quando Renato abre sua boca para dar voz aos movimentos sociais de Curitiba, ele enfia uma faca no âmago das estruturas racistas, machistas e lgbtfóbicas que sustentam os “homens de bem”. E é por isso que qualquer motivação será o suficiente para arrancar o mandato de uma liderança popular eleita pelo povo e para o povo.

Por fim, a pergunta que fica é: o que pensa a população negra sobre essa cassação absurda? Dos 38 vereadores da casa, apenas 3 são negros. A cidade mais negra do sul, tem 24% de pessoas negras na sua população, mas não tem 24% de vereadores negros na câmara. Será que essa população aprova o movimento negro pedindo misericórdia na Igreja Nossa Senhora do Rosário para as vidas negras perdidas para a violência racista em nossas cidades? Eu acredito que sim. Esse comitê de ética composto por pessoas brancas que não têm qualquer empatia com a causa negra, não está apta para julgar a dor e a denúncia das pessoas negras, que têm seus corpos e direitos vilipendiados todos os dias.

Para os cidadãos de bem cristãos, eu digo, é tempo de arrependimento do pecado do racismo. Pecado esse que garantiu a construção de um país por meio da justificação religiosa do trabalho escravo. É tempo de assumir o lado certo da história e repensar como nossas igrejas dia a dia têm contribuído para o racismo brasileiro. Tenho certeza que neste caso, Jesus estaria não só com os manifestantes, como diria: a casa de Deus é a casa do povo, venham e tomem assento. Racistas, não passarão!

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