Manifestante segura placa com dizeres “cadeia para Bolsonaro e seus generais” durante protesto pela democracia na Avenida Paulista, em 9 de janeiro | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo
Human Rights Watch aponta em relatório que Bolsonaro, entusiasta de torturadores, promoveu ataques às instituições e incitou apoiadores a pedir golpe militar; pesquisadores recomendam revisão da Lei da Anistia
Os ataques às instituições e à imprensa e o descrédito do processo eleitoral promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) são a ponta do iceberg que ensejou atos golpistas com pedidos de intervenção militar, acampamentos em frente a quartéis e a violência perpetrada às sedes dos Três Poderes em Brasília, no domingo (8/1). Mas há também um capítulo da história do Brasil que não foi resolvido e que se reflete nesse cenário: a ditadura civil-militar de 1964, de acordo com a organização Human Rights Watch (HRW), que elencou uma série de retrocessos em políticas do governo brasileiro emrelatóriopublicado nesta quinta-feira (12/1), englobando uma análise da situação de direitos humanos em 100 países em 2022.
“A impunidade para crimes gravíssimos gera enormes problemas para a sociedade, é um fardo enorme para a população”, declara o diretor da entidade, César Muñoz. “No Brasil, não teve justiça pelos abusos que teve na ditadura, não teve julgamentos, não teve um ato público sobre o que aconteceu na ditadura e isso é muito grave porque agora você tem pessoas criando narrativas alternativas do que aconteceu e isso alimenta as pessoas a dizerem que não teve ditadura.”
“A dificuldade hoje de a gente responsabilizar policiais por excessos cometidos tem tudo a ver com a nossa herança de impunidade relativa ao período da ditadura militar”, complementou.
A organização aponta que a Lei de Anistia protege abusadores e que deveria ser revista. “O Supremo Tribunal Federal, em contradição à decisão internacional, manteve essa lei válida”, declarou a diretora Maria Laura Canineu em referênciauma decisão do STF, de 2010, que sacramentou a lei de 1979que impede a punição de militares por crimes cometidos no período, embora a Corte Interamericana de Direitos Humanos decidiu que ela viola as obrigações legais internacionais do Brasil.
“A dificuldade hoje de a gente responsabilizar policiais por excessos cometidos tem tudo a ver com a nossa herança de impunidade relativa ao período da ditadura militar”, complementou.
Entre os efeitos no campo da segurança pública, por exemplo, está o fato de que o Brasil tem um dos maiores índices de letalidade policial no mundo, com 6.145 mortes em 2021, das 84% das vítimas eram negras, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
“Para se ter uma comparação, são 1.000 pessoas mortas pela polícia nos Estados Unidos por anom um país que tem maior população que o Brasil”, declarou Muñoz. “Existe uma vinculação clara da impunidade em casos de violência e a corrupção na polícia porque a possibilidade de matar com a impunidade faz com que a polícia tenha um enorme poder.”
Por isso, os pesquisadores indicaram, dentre diversas recomendações para a gestão do presidente Lula (PT), para que seja elaborado um plano nacional de redução de letalidade policial,indicador que foi excluído por Bolsonaro em 2021, e também a garantia de independência e fortalecimento de instituições, como o Ministério Público que tem previsão de constitucional de controle externo das polícias.
“A gente tem certeza que as instituições devem funcionar em conjunto, mas existe uma responsabilidade fundamental de um ente, que é muitas vezes deixado de lado da conversa, que é o Ministério Público para o controle da atividade, seja na ação, quando mata não em legítima defesa e comete excessos, seja na omissão, como no caso dos atos antidemocráticos no Brasil no domingo”, afirma Maria Laura Canineu.
"SEM ANISTA"
Ela faz alusão ao papel das forças de segurança pública que realizaram a proteção dos edifícios, sendo que algunspoliciais militares do Distrito Federal foram flagrados abandonando barreira e comprando água de coco enquanto bolsonaristas invadiam o prédio do STF. Outra figura que ela destaca é a da procurador-geral da República, Augusto Aras, que foi escolhido por Bolsonaro fora da lista tríplice fornecida pelo Ministério Público Federal e que se comportou de maneira omissa às condutas do ex-presidente, que envolvem desde a condução da pandemia de Covid-19 à investigação dos protestos golpistas e o enfraquecimento ao combate à corrupção. Não à toa, durante a posse de Lula, o público fez um coro das palavras de ordem “sem anistia” durante o discurso.
Entre as recomendações da HRW, Canineu destacou que o novo governo terá de reforçar os pilares da democracia “para recuperar a credibilidade das pessoas e a realização dos direitos fundamentais”, que envolvem o respeito à liberdade de expressão e de imprensa, tendo em vista os ataques a jornalistas feitos por Bolsonaro; a promoção da transparência e fortalecimento dos poderes, como “eleger um procurador-geral da República que seja independente”; “fazer uma política externa que não seja carregada de vieses ideológicos”, já que Bolsonaro criticou governos da Venezuela e Cuba, mas apoiou líderes autoritários como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban; e promover os direitos humanos para todos, tendo em vista o recrudescimento de políticas voltadas ao meio ambiente, aos povos indígenas, às mulheres, às pessoas com deficiência, privadas de liberdade e comunidade LGBT+.
Carlos Latuff ilustra a vantagem de ser militar golpista no Brasil
Segundo a Procuradoria, grupo pretendia sequestrar o ministro da Saúde, matar seus seguranças, se necessário, e desencadear "condições de guerra civil por meio da violência" para derrubar governo e o sistema democrático. No Brasil os safados seriam beneficiados com uma anistia ampla, geral e irrestrita
A Procuradoria federal da Alemanha apresentou nesta segunda-feira (23/01) acusações de alta traição contra cinco pessoas suspeitas de planejar o sequestro do ministro da Saúde, Karl Lauterbach, e a derrubada do governo alemão.
Segundo os promotores, o grupo formado há cerca de um ano pretendia desencadear "condições de guerra civil na Alemanha por meio da violência" a fim de derrubar o governo e a democracia parlamentar.
Todos os cinco indiciados estão presos desde o ano passado, quando as autoridades revelaram pela primeira vez os detalhes da suposta conspiração.
Em nota, a Procuradoria federal, com sede na cidade de Karlsruhe, informou que o grupo estava disposto a usar violência e até cometer assassinatos para alcançar seus objetivos.
Nesta segunda-feira, o ministro da Saúde agradeceu aos investigadores e ao Departamento Federal de Investigações (BKA, na sigla em alemão) por sustar a trama. "Os oficiais do BKA arriscam suas vidas por nós. Isso é uma grande conquista", escreveu Lauterbach no Twitter.
O que eles planejavam?
Em um plano de três etapas, os conspiradores pretendiam atacar as fontes de energia a fim de causar um blecaute nacional, sequestrar o ministro da Saúde e matar seus seguranças, se necessário, e depois convocar uma assembleia para depor o governo e nomear um novo líder.
A Procuradoria concluiu que o grupo tinha o objetivo de substituir o sistema democrático por um "sistema autoritário de governo baseado no modelo do Império Alemão".
Segundo os promotores, os suspeitos fizeram preparativos cada vez mais concretos e formaram dois ramos separados de seu grupo, um militar e outro administrativo.
O que mais se sabe sobre os indiciamentos?
Segundo a Procuradoria federal, os cinco indiciados – quatro homens e uma mulher – responderão ao tribunal regional superior em Koblenz, no estado da Renânia-Palatinado.
Eles foram acusados formalmente de "fundar ou ser membro de uma organização terrorista doméstica" e "preparar um ato de alta traição" contra o governo federal.
Alguns dos indiciados também enfrentam outras acusações, como preparar um ato grave de violência que constitua uma ameaça ao Estado ou financiar o terrorismo.
No ar, o”Hino” ao Inominável. Com letra de Carlos Rennó e música de Chico Brown e Pedro Luís.
Autoironicamente intitulada “hino”, é uma canção-manifesto contra a contra a candidatura de Jair Bolsonaro (PL) à presidência da República.
Num vídeo criado pelo Coletivo Bijari (versão integral, acima, tem 13min40), 30 artistas interpretam-na.
Entre eles, Wagner Moura, Bruno Gagliasso, Lenine, Zélia Duncan, Chico César, Paulinho Moska, Leci Brandão, Marina Lima, Mônica Salmaso e Zélia Duncan.
Os versos falam de temas recorrentes no discurso do ex-capitão, como a ditadura militar, racismo, machismo, destruição ambiental.
Citam literalmente ou se baseiam em declarações dadas pelo ‘inominável’ e encontradas na internet e em jornais.
“Feito pra lembrar, pra sempre, esses anos sob a gestão do mais tosco dos toscos, o mais perverso dos perversos, o mais baixo dos baixos, o pior dos piores mandatários da nossa história. E pra contribuir, no presente, pra não reeleição do inominável”, frisa o texto que acompanha o vídeo lançado nesse em 17-09-2022.
“Na íntegra, são 202 versos, mais o refrão, contra o ódio e a ignorância no poder no Brasil”, prossegue o texto.
Que arremata: “Porém, apesar dele – e do que, e de quem e quantos ele representa – a mensagem final é de luz, a luz que resiste, pois, como canta o refrão ‘Mas quem dirá que não é mais imaginável / Erguer de novo das ruínas o país?’”.
“Sou a favor da ditadura”, disse ele, “Do pau de arara e da tortura”, concluiu. “Mas o regime, mais do que ter torturado, Tinha que ter matado trinta mil”. E em contradita ao que afirmou, na caradura Disse: “Não houve ditadura no país”.
E no real o incrível, o inacreditável Entrou que nem um pesadelo, infeliz, Ao som raivoso de uma voz inconfiável Que diz e mente e se desmente e se desdiz.
Disse que num quilombo “os afrodescendentes Pesavam sete arrobas” – e daí pra mais: Que “não serviam nem pra procriar”, Como se fôssemos, nós negros, animais. E ainda insiste que não é racista E que racismo não existe no país.
Como é possível, como é aceitável Que tal se diga e fique impune quem o diz? Tamanha injúria não inocentável, Quem a julgou, que júri, que juiz?
Disse que agora “o índio está evoluindo, Cada vez mais é um ser humano igual a nós. Mas isolado é como um bicho no zoológico”, E decretou e declarou de viva voz: “Nem um centímetro a mais de terra indígena!, Que nela jaz muita riqueza pro país”.
Se pronuncia assim o impronunciável Tal qual o nome que tal “hino” nunca diz, Do inumano ser, o ser inominável, Do qual emanam mil pronunciamentos vis.
Disse que se tivesse um filho homossexual, Preferiria que o progênito “morresse”. Pruma mulher disse que não a estupraria, Porque “você é feia, não merece”. E ainda disse que a mulher, “porque engravida”, “Deve ganhar menos que o homem” no país.
Por tal conduta e atitude deplorável, Sempre o comparam com alguns quadrúpedes. Uma maldade, uma injustiça inaceitável! Tais animais são mais afáveis e gentis.
Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?
Chamou o tema ambiental de “importante Só pra vegano que só come vegetal”; Chamou de “mentirosos” dados científicos Do aumento do desmatamento florestal. Disse que “a Amazônia segue intocada, Praticamente preservada no país”.
E assim negou e renegou o inegável, As evidências que a Ciência vê e diz, Da derrubada e da queimada comprovável Pelas imagens de satélites.
E proclamou : “Policial tem que matar, Tem que matar, senão não é policial. Matar com dez ou trinta tiros o bandido, Pois criminoso é um ser humano anormal. Matar uns quinze ou vinte e ser condecorado, Não processado” e condenado no país.
Por essa fala inflexível, inflamável, Que só a morte, a violência e o mal bendiz, Por tal discurso de ódio, odiável, O que resolve são canhões, revólveres.
“A minha especialidade é matar, Sou capitão do exército”, assim grunhiu. E induziu o brasileiro a se armar, Que “todo mundo, pô, tem que comprar fuzil”, Pois “povo armado não será escravizado”, Numa cruzada pela morte no país
E num desprezo pela vida inolvidável, Que nem quando lotavam UTIs E o número de mortos era inumerável, Disse “E daí? Não sou coveiro”. “E daí?”
“Os livros são hoje ‘um montão de amontoado’ De muita coisa escrita”, veio a declarar. Tentou dizer “conclamo” e disse “eu canclomo”; Não sabe conjugar o verbo “concl…amar”. Clamou que “no Brasil tem professor demais”, Tal qual um imbecil pra imbecis.
Vigora agora o que não é ignorável: Os ignorantes ora imperam no país (O que era antes, ó pensantes, impensável)… Quem é essa gente que não sabe o que diz?
Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?
Chamou de “herói” um coronel torturador E um capitão miliciano e assassino. Chamou de “escória” bolivianos, haitianos… De “paraíba” e “pau de arara” o nordestino. E diz que “ser patrão aqui é uma desgraça”, E diz que “fome ninguém passa no país”.
Tal qual num filme de terror, inenarrável, Em que a verdade não importa nem se diz, Desenrolou-se, incontível, incontável, Um rol idiota de chacotas e pitis.
Disse que mera “fantasia” era o vírus E “histeria” a reação à pandemia; Que brasileiro “pula e nada no esgoto, Não pega nada”, então também não pegaria O que chamou de “gripezinha” e receitou (sim!), Sim, cloroquina, e não vacina, pro país.
E assim sem ter que pôr à prova o improvável, Um ditador tampouco põe pingo nos is, E nem responde, falador irresponsável, Por todo ato ou toda fala pros Brasis.
E repetiu o mote “Deus, pátria e família” Do integralismo e da Itália do fascismo, Colando ao lema uma suspeita “liberdade”… Tal qual tinha parodiado do nazismo O slogan “Alemanha acima de tudo”, Pondo ao invés “Brasil” no nome do país.
E qual num sonho horroroso, detestável, A gente viu sem crer o que não quer nem quis: Comemorarem o que não é memorável, Como sinistras, tristes efemérides…
Já declarou: “Quem queira vir para o Brasil Pra fazer sexo com mulher, fique à vontade. Nós não podemos promover turismo gay, Temos famílias”, disse com moralidade. E já gritou um dia: “Toda minoria Tem de curvar-se à maioria!” no país.
E assim o incrível, o inacreditável, Se torna natural, quanto mais se rediz, E a intolerância, essa sim intolerável, Nessa figura dá chiliques mis.
Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?
Por vezes saem, caem, soam como fezes Da sua boca cada som, cada sentença… É um nonsense, é um caô, umas fake-news, É um libelo leviano ou uma ofensa. Porque mal pensa no que diz, porque mal pensa, “Não falo mais com a imprensa”, um dia diz.
Mas de fanáticos a horda lamentável, Que louva a volta à ditadura no país, A turba cega-surda surta, insuportável, E grita “mito!”, “eu autorizo!”, e pede “bis!”
E disse “merda, bosta, porra, putaria, Filho da puta, puta que pariu, caguei!” E a cada internação tratando do intestino E a cada termo grosso e um “Talquei?”, O cheiro podre da sua retórica Escatológica se espalha no país.
“Sou imorrível, incomível e imbrochável”, Já se gabou em sua tão caracterís- Tica linguagem baixo nível, reprovável, Esse boçal ignaro, rei de mimimis.
Mas nada disse de Moise Kabagambe, O jovem congolês que foi aqui linchado. Do caso Evaldo Rosa, preto, musicista, Com a família no automóvel baleado, Disse que a tropa “não matou ninguém”, somente “Foi um incidente” oitenta tiros de fuzis…
“O exército é do povo e não foi responsável”, Falou o homem da gravata de fuzis, Que é bem provável ser-lhe a vida descartável, Sendo de negro ou de imigrante no país.
Bradou que “o presidente já não cumprirá Mais decisão” do magistrado do Supremo, Ao qual se dirigiu xingando: “Seu canalha!” Mas acuado recuou do tom extremo, E em nota disse: “Nunca tive intenção (Não!) De agredir quaisquer Poderes” do país.
Falhou o golpe mas safou-se o impeachável, Machão cagão de atos pusilânimes, O que talvez se ache algum herói da Marvel Mas que tá mais pra algum bandido de gibis.
Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?
E sugeriu pra poluição ambiental: “É só fazer cocô, dia sim, dia não”. E pra quem sugeriu feijão e não fuzil: “Querem comida? Então, dá tiro de feijão”. É sem preparo, sem noção, sem compostura. Sua postura com o posto não condiz.
No entanto “chega! […] vai agora [inominável]”, Cravou o maior poeta vivo, no país, E ecoou o coro “fora, [inominável]!” E o panelaço das janelas nas metrópoles!
E numa live de golpista prometeu: “Sem voto impresso não haverá eleição!” E praguejou pra jornalistas: “Cala a boca! Vocês são uma raça em extinção!” E no seu tosco português ele não pára: Dispara sempre um disparate o que maldiz.
Hoje um mal-dito dito dele é deletável Pelo Insta, Face, YouTube e Twitter no país. Mas para nós, mais do que um post, é enquadrável O impostor que com o posto não condiz.
Disse que não aceitará o resultado Se derrotado na eleição da nossa história, E: “Eu tenho três alternativas pro futuro: Ou estar preso, ou ser morto ou a vitória”, Porque “somente Deus me tira da cadeira De presidente” (Oh Deus proteja esse país!”).
Tivéssemos um parlamento confiável, Sem x comparsas seus cupinchas, cúmplices, E seu impeachment seria inescapável, Comninquéritos, pedidos, CPIs.
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Não há cortina de fumaça indevassÁvel Que encubra o crime desses tempos inci-vis E tampe o sol que vem com o dia inadiÁvel E brilha agora qual farol na noite gris. É a esperança que renasce onde HÁ véu, De um horizonte menos cinza e mais feliz. É a passagem muito além do instagramÁvel Do pesadelo à utopia por um triz, No instante crucial de liberdade instÁvel Pros democráticos de fato, equânimes, Com a missão difícil mas realizável De erguer das cinzas como fênix o país.
E quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?
Mas quem dirá que não é mais imaginável Erguer de novo das ruínas o país?
“Hino” ao Inominável
Produção e direção musical:Xuxa Levy
Produção e direção artística:Carlos Rennó
Colaboração musical e artística:Pedro Luís e Chico Brown
Intérpretes
André Abujamra
Arrigo Barnabé
Bruno Gagliasso
Caio Prado
Cida Moreira
Chico Brown
Chico César
Chico Chico
Dexter
Dora Morelenbaum
Héloa
Hodari
Jorge Du Peixe
José Miguel Wisnik
Leci Brandão
Lenine
Luana Carvalho
Marina Íris
Marina Lima
Monica Salmaso
Paulinho Moska
Pedro Luís
Péricles Cavalcanti
Preta Ferreira
Professor Pasquale
Ricardo Aleixo
Thaline Karajá
Vitor da Trindade
Wagner Moura
Zélia Duncan
Músicos:
Ana Karina Sebastião: baixo Cauê Silva : percussão Fábio Pinczowski: teclados Juba Carvalho: percussão Léo Mendes: guitarra Thiago Silva: bateria Webster Santos: violões Xuxa Levy: máquina de escrever e programações
Participação especial:violoncelista Jacques Morelenbaum
Vídeo:
Coletivo Bijari Edição: Guilherme Peres Direção de fotografia: Toni Nogueira
Ainda que as vestes, os cabelos, os bigodes, o porte, a maquiagem e caracterização em resumo, ocupem um lugar importante, indispensável para a composição e segurança do tipo, do personagem a que somos levados a chamar de Daniel, as palavras que o agente da peça nos diz é que detêm o maior fascínio. É como se, se nos perdoam a heresia e o insulto, é como se um ator recitasse João Cabral. Como se recitasse um poema de João Cabral apenas falando, conversando, anunciando. Bem sei a distorção e o tamanho da ofensa estética, ética, ao enunciar tal comparação. Mas serei compreendido se souberem que para os nossos ouvidos e ânimo de 1972, a revolução era pura música, as bandeiras e consignas da revolução eram realizada poesia. Como diríamos, se voltássemos a falar como à época, as nossas condições subjetivas não atingiam a feliz objetividade. O ser que nos fala agora as frases: “A situação no mundo todo é revolucionária. É um paiol, companheiros. Basta uma faísca. Um grupo de guerrilheiros decididos, com fogo, pode levar a explodir a casa de pólvora. Em Cuba foi assim. Fidel e Che mostraram que o pequeno-burguês é revolucionário”. Ora. A situação no mundo todo, para nosso próprio peito era uma montagem dos momentos de que precisávamos. Cuba, a pequena ilha de exemplo para a humanidade, o Vietnã, de guerrilheiros que derrotavam a maior força militar do planeta, as ações relâmpago de assalto e fuga com sucesso. Como bom vendedor, como bom vigarista, ele nos oferecia o que desejávamos. Bastava querer, abraçar as armas e o sonho. Com o fuzil cometeríamos nossos poemas, se não com o belo pensamento de “a cidade é passada pelo rio / como uma rua / é passada por um cachorro”, mas com o vigor imediato de “o terreiro lá de casa / não se varre com vassoura / varre com ponta de sabre / bala de metralhadora”. Ou mais precisamente com os versos “Um / dois / três vietnãs”, e mais “pão, guerra e liberdade”, onde a palavra guerra, ardilosa, substituía a palavra-mãe, terra. Esse demiurgo, vale dizer, esse poeta que nos fala na sala em 1972, longe está do Anselmo que afirma 36 anos depois: “Acho um suicídio aquelas pessoas terem lutado no Brasil, sabendo que os grupos armados estavam caindo e morrendo. E ainda querendo dar uma de galo”. E a distância entre o poético e o tétrico, entre o verso e o inverso, não se dá pela mudança e transformação do personagem no tempo. O mesmo que nos dizia em 1972, “somente a devoção a uma causa e a firmeza de luta, a coragem, o arriscar tudo pelo socialismo é que podem fazer uma revolução vitoriosa”, era o mesmo que fazia contatos com militantes, que eram seguidos até os outros contatos da rede clandestina, para que a repressão fizesse um mapeamento de pessoas, nomes, fotos, perfis, intimidades. Já então o poético e apoético, o verso e o reverso, a prosa e o prosaísmo, a palavra e o palavrão estavam na mesma pessoa.
Não sabíamos, é claro. Aquele saber de experiência feito ainda não tínhamos. Faltava-nos o conhecimento de que entre o sublime e o terreno, entre alma e porco, se houver um embate, triunfará o mais terreno porco. Na hipótese de haver embate. Em Daniel, antes do conflito entre figuração e fato, tomávamos só a figuração, aquela aparência devotada como a própria realidade. Um poeta moribundo que recebe a visita de uma bela mulher, nela verá motivos nada Rilke, porque a carnalidade triunfa, até mesmo no espírito. Disso não sabíamos, ninguém jamais nos havia dito, ou mesmo se alguém nos dissesse, seria inútil, não assimilaríamos, em razão de tais palavras não terem passado pelo filtro da experiência. O corpo do poeta procura o corpo da piedosa dama e não vemos, porque até então acreditávamos que tudo era espírito. A revolução, o socialismo, as mil e uma flores desabrochariam. Um caminho reto e retilíneo para as alturas. Como ver o agente no belo homem a declamar Neruda? Como identificar a traição de quem se acompanhava por Soledad e a experiência de haver sido treinado em Cuba? Era um personagem caracterizado com todas as condições de sucesso. Passado de luta, presença de pessoas do mais alto crédito revolucionário, futuro por conclusão óbvia e certeira. É um dos nossos, e dos melhores. O jogador, desonesto por método e sistema, no entanto meio esconde, meio mostra essas cartas, por “questões de segurança”. E se estabelece então o vínculo, a fraternidade entre enganador e enganado. Víamos tais cartas, a beleza suave e valorosa de Soledad, o seu total despojamento, a importância de ser conhecido de Fidel, e fingíamos que nada disso era visto. O enganador sorria e se dava todo em uma aposta vantajosa para o enganado, com o acréscimo de nada pedir em troca.
– Tenho armas, muitas armas, e tenho que passá-las adiante.
Não ousávamos perguntar a que preço, a que preços, porque os desonestos mais desonestos são muito sensíveis à mais leve desconfiança. Ficam indignados. Poderíamos, como resposta, até receber um cuspe na cara, enquanto o ferido nos brios nos respondesse:
– Eu não sou um traficante!
A isso não poderíamos consertar com a ressalva de que o preço não era, não seria em moedas, mas em que termos políticos vinha o oferecimento. Mas tal conserto não caberia, porque já havia se estabelecido uma fraternidade entre enganador e enganado. Como em todo golpe de sucesso de um vigarista. Aceitar as armas sem questionamento era melhor. E se ele – o dono das armas – impusesse condições inaceitáveis aos princípios e programa da Organização? Então não cabiam reparos, ressalvas ou minudências. Ali estava um combatente, um aliado, com uma oferta irrecusável. Adiante. Eu, Júlio e Ivan olhávamos o jogador a sorrir diante de nós. Não, não era o jogador. Era Daniel. Era e é, nessa mistura onde procuro um elemento puro e homogêneo. Alcanço-lhe a máscara. Como se faz máscara, mestre Julião das máscaras de Olinda? Os desenhistas que não fazem máscaras buscam a pessoa pelos olhos. É uma busca estranha ao método, que recomenda começar a cabeça pelo formato do crânio, por um desenho que começa por círculos, vizinhos à semelhança geral dos crânios. Os desenhistas que retratam pessoas, na sua ânsia de atingir o específico nos traços comuns dos homens, buscam os olhos do modelo como uma identidade, ou como um calcanhar de Aquiles dentro da couraça dos retratados. “Se alcanço esse ponto, venço a batalha”, eles se dizem. Do outro lado do enfrentamento, a posar para uma foto ou uma tela, o natural das gentes quer se mostrar com o seu melhor e mais belo rosto, dentro das linhas das quais não pode fugir. Com Daniel, que também foi Jônatas, Jonas, Anselmo, e voltou na velhice a ser Anselmo, não. A evolução de suas raras fotografias mostra um jovem a fumar – pose do seu melhor e mais famoso, sem dúvida -, um jovem no alto em um discurso, cercado de marinheiros, a mais usada foto do seu currículo apresentável. Depois há uma lacuna de imagens por oito anos, até aparecer como Daniel, em uma foto de aniversário de Soledad. É um instante, um flagrante que ele não queria, em que tentara se furtar à câmera, desculpar-se, mas um padre insistira a tal ponto, que Daniel, o revolucionário, achou mais razoável e menos suspeito deixar-se fotografar.
Eu sou o Zé Keti da Portela Vim trazer o meu samba Da forma mais autêntica Para o nosso querido e amigo Povo Brasileiro
Acender as velas Já é profissão Quando não tem samba Tem desilusão
Acender as velas Já é profissão Quando não tem samba Tem desilusão
Desilusão Desilusão
É mais um coração Que deixa de bater Um anjo vai pro céu
Deus me perdoe Mas vou dizer Deus me perdoe Mas vou dizer
O doutor chegou tarde demais Porque no morro Não tem automóvel pra subir Não tem telefone pra chamar E não tem beleza pra se ver E a gente morre sem querer morrer E a gente morre sem querer morrer
Acender as velas Já é profissão Quando não tem samba Tem desilusão
Acender as velas Já é profissão Quando não tem samba Tem desilusão
Desilusão Desilusão
É mais um coração Que deixa de bater Um anjo vai pro céu
Deus me perdoe Mas vou dizer Deus me perdoe Mas vou dizer
O doutor chegou tarde demais Porque no morro Não tem automóvel pra subir Não tem telefone pra chamar E não tem beleza pra se ver E a gente morre sem querer morrer E a gente morre sem querer morrer
Os militares concebem e patrocinam golpes, implantam ditaduras, contingenciam governos. Cabe aos democratas se posicionarem contra
por Hildegard Angel
Os militares, ao longo de todo o período republicano, julgam-se os condutores dos destinos do país, e para isso não medem esforços. Concebem e patrocinam golpes, implantam ditaduras, contingenciam governos eleitos democraticamente, controlando sua economia.
Ao longo de toda a República, eles conspiram, dão golpes, implantam ditaduras, controlam governos democraticamente eleitos, e prevalecem. Ocupam espaços que não lhes pertencem. Atraiçoam os próprios juramentos.
Em vez de defender a Pátria, usam os arsenais, que lhes são providos para isso, com a finalidade oposta: oprimir o povo, em nome de seus privilégios, suas prioridades, suas percepções limitadas sobre a sociedade brasileira, sobre a História do Brasil e sobre sua própria atuação no poder, empenhados sempre em negar a liberdade de pensar, falar, criar, em sacrificar a produção cultural com censuras, na tentativa de aquartelar toda a nossa múltipla, diversa, encantadora, espontânea Nação dentro de quatro muros, ou socada num calabouço, uma masmorra, um porão decorado com objetos para torturar gente.
Relíquias da maldade, que deveriam estar em museus para nos lembrar do que são capazes. Contudo, os governos da Nova República foram conciliadores, preferiram deixar pra lá, não contaram essa história nas escolas, não fizeram sua obrigação, foram lenientes, acobertaram, se intimidaram.
Um novo golpe está fumegando no forno. Cabe aos democratas se posicionarem contra esse prato amargo, que alguns militares querem nos enfiar garganta abaixo, a pretexto de que seria o desejo de uma suposta 'maioria', parcela do povo intoxicada por falsas verdades, que não sabe discernir entre Democracia e Autoritarismo.
Estou mal... Mas havemos de sair dessa, e já com uma prioridade emergencial: a imensa tarefa de recomeçar pelo básico. Definir o que é Democracia, o que é Autoritarismo. Quem viu primeiro já saiu do Brasil. Quem é verdadeiramente comprometido com nosso país e nosso povo ficou por aqui, resistindo, acreditando que as instituições e o bom senso irão prevalecer. Que a Democracia vencerá.
Já ouço ao fundo o som de coturnos.Confundir as duas formas de governo, invertendo seus significados e princípios, tornando o ilegítimo legítimo, e vice-versa, tem sido a tática de uma guerra em várias frentes, sendo a mais visível a da comunicação, através das redes sociais, empreendida, estima-se que a partir de 2014, por uma facção miliciana-militar-fascista, num projeto iniciado, silenciosamente, com o objetivo de as FA sentarem praça no Poder do Brasil pela eternidade, sem limites, prazos e data pra terminar, sob a liderança do Exército, implícita e aceita pelas duas outras armas.
Deus já deu prova este ano de que é brasileiro. Precisamos da confirmação dessa prova.
Em 8 de junho de 2022, participei de uma conversa em vídeo com Osvaldo Bertolino, Luiz Manfredini e Jorge Gregory. Copio a seguir os principais trechos da nossa fala:
A primeira coisa que a gente, todos nós que passamos pela ditadura, que tivemos a sorte de sobreviver, é a seguinte: nós não pensávamos jamais, Bertolino, Manfredini e Gregory, naquela época, nós não nos víamos jamais com os cabelos brancos. Porque os companheiros, os camaradas, estavam caindo. Estavam sendo presos, executados. O círculo estava se fechando. “Vão chegar, vão chegar em nós”, era o que pensávamos. Então não podíamos esperar viver estes nossos cabelos brancos.
Aquele clima de terror que havia na ditadura, onde companheiros e pessoas amigas e conhecidas eram assassinadas sob tortura, e depois líamos nos jornais aquela ”gracinha” de que morreram trocando tiros com a polícia… mudou. Hoje, nós vemos o quê? Nós vemos assassinatos de militantes por milícias bolsonaristas. Anda ontem vi aquela nota do Comando Militar da Amazônia dizendo que tinha plenas condições de procurar os indianistas Dom e Bruno, depois mortos, mas não foram busca-los porque não recebeu uma solicitação acima do Comando. O Comando estava se desculpando pelo fato de ter todos os recursos para a busca, e não o fez porque não havia interesse, porque os bravos eram pessoas que denunciavam o avanço do garimpo na floresta e invasão de terras indígenas, e o Comando fez de conta que não via os crimes. É a mesma coisa de um policial estar passando na rua, ver um crime e não agir porque estava esperando a ordem do delegado lá de cima. Essa afirmação é criminosa e ao mesmo tempo criiminaliza o presidente que está lá em cima, que depois declarou: “Os indianistas estavam indo pra onde não deviam ir”. O que significa: “Eles mereceram”. Isso foi ontem. Antes disso, tivemos o assassinato de Marielle por milícia bolsonarista. Quando houver liberdade de investigação no Brasil, vão chegar a Bolsonaro nesse assassinato.
No tempo da ditadura, nós não podíamos ter as conquistas democráticas. Mas sob a democracia de farsa, nós estamos tendo a destruição das conquistas humanistas e trabalhistas. Aquilo que não se falava antes nas escolas nem nas universidades, porque estávamos policiados, hoje continua a não se falar nas escolas públicas porque existem bolsonaristas filmando e vão dizer que o professor de história está doutrinando. Essa é uma continuidade clara da ditadura que assume uma outra forma, mas o conteúdo é o mesmo: é de caça aos comunistas, é de caça aos socialistas, é de caça à democracia. Continua em nova roupagem.
Quando reflito, me parece que na fase democrática nós não radicalizamos a democracia. Primeiro, porque passou uma anistia que anistiou também os torturadores. Não aconteceu em outros lugares. Na Argentina, muito menos. Segundo, porque continua até hoje, nas Escolas Militares, o mesmo currículo da época da guerra fria. É o mesmíssimo currículo. Eles pregam contra sindicalistas, que seriam vagabundos, pregam contra comunistas, contra socialistas, essa é a formação dos oficiais que saem das Escolas Militares, de Agulhas Negras e semelhantes, e depois vão comandar batalhões, quartéis. Há uma continuidade clara nas forças militares desse clima perverso da ditadura.
Nas escolas públicas, hoje não existe uma educação que ilumine a história da ditadura para os jovens. Eles ficam espantados quando a gente fala sobre o que houve de terror de Estado e repressão, e que continua. Os jovens nas escolas não têm ideia do que houve antes. E existem tantos caminhos para o conhecimento. Bastavam umas aulas sobre a Música Popular Brasileira na ditadura, discussões sobre a morte de Vladimir Herzog. Nas conversas que tenho sobre o romance “A mais longa duração da juventude”, os jovens não sabemsobre torturas e assassinatos , ficam assim abismados, “o que é isso? Como é que foi isso?”. Para eles, era como se eu estivesse vindo das sombras do passado, do século dezenove.
Michelle e a senadora Dona Bela que só pensa naquiiiiiiiiilo foram pressionar as meninas venezuelanas, não adiantou. O fato é que as meninas que não estavam no trottoir como pensava o bozo, eram bonitinhas e pintou o clima.
A primeira-dama Michelle Bolsonaro e a senadora eleita Damares Alves se encontraram nesta segunda-feira (17) com duas venezuelanas ligadas à família citada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em vídeo que circulou nas redes sociais no fim de semana.
O encontro ocorreu no Lago Sul, área nobre de Brasília, e foi viabilizado por integrantes da Presidência da República e da Embaixada da Venezuela no Brasil.
A equipe da primeira-dama foi quem ofereceu o encontro, segundo relatos de pessoas envolvidas. O plano inicial era que a conversa tivesse ocorrido na noite de domingo (16), em São Sebastião (DF).
Num primeiro momento, houve resistência da família venezuelana, que estava assustada com a repercussão do caso.
O encontro, no entanto, aconteceu nesta segunda após a família decidir que gostaria de ser ouvida pela Michelle e dar a oportunidade da primeira-dama pedir desculpas pela exposição indevida das menores de idade.
O principal problema, segundo os relatos, foi com a insinuação que o presidente fez de que as meninas fossem prostitutas —o que é negado pelos venezuelanos e pela Cáritas Arquidiocesana de Brasília, que acompanha os refugiados em São Sebastião.
Com a exposição da família, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e a Defensoria Pública da União passaram a acompanhar as venezuelanas.
Michelle Bolsonaro e a ex-ministra Damares Alves foram convocadas no domingo pela campanha de Bolsonaro para conversar com a família venezuelana e arrefecer a crise causada pela fala do presidente.
Em entrevista ao podcast Paparazzo Rubro-Negro na sexta (14), Bolsonaro disse, enquanto dirigia por São Sebastião, a cerca de 30 km do centro de Brasília, ele encontrou adolescentes venezuelanas quando "pintou um clima".
"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade", disse o presidente durante a entrevista.
"Pintou um clima, voltei, 'posso entrar na tua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, [num] sábado de manhã, se arrumando —todas venezuelanas. Meninas bonitinhas, 14, 15 anos, se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Quer isso para a tua filha? E como chegou a este ponto? Escolhas erradas."
No domingo, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) enviou equipes à comunidade Morro da Cruz, em São Sebastião, para encontrar os venezuelanos e propor um encontro com Michelle e Damares.
O objetivo inicial era gravar um vídeo com a família e contar, em detalhes, o que ocorreu no dia em que o presidente a visitou.
A família venezuelana não quis gravar o vídeo, para evitar a exposição do caso.
Em 10 de abril de 2021, um sábado, Bolsonaro fez um passeio por São Sebastião e entrou numa casa em que viviam mulheres venezuelanas que fugiram da crise político-econômica no país vizinho. Na ocasião, ele fez uma live na qual criticou as medidas sanitárias então adotadas por governadores contra a Covid.
As garotas venezuelanas recebiam, naquele dia, uma ação social com foco em questões estéticas e de bem-estar, como maquiagem e massagem.
Durante a entrevista ao podcast, Bolsonaro insinuou que as adolescentes estavam bem vestidas e "arrumadas" na tarde de sábado para "ganhar a vida", em referência a exploração sexual.
Na entrevista que originou as críticas a Bolsonaro, o objetivo do presidente era reforçar o mote de um suposto risco de o Brasil "virar uma Venezuela" caso Lula vença o segundo turno do pleito presidencial.
A fala do mandatário também foi criticada por sugerir que ele não tomou providências diante de uma situação de exploração sexual de menores. Ainda que a campanha admita a repercussão negativa do caso, o episódio não é visto como definidor na disputa pelo Planalto, segundo o entorno do mandatário.
Folha de S.Paulo
@folha
As meninas venezuelanas associadas por Bolsonaro à prostituição passaram a última semana sem sair de casa, evitando até ir à escola, para serem preservadas do assédio ao qual foram submetidas após as declarações dadas pelo presidente a um podcast. Leia: https://bit.ly/3siR2kS
Os projetos golpistas não precisam mais de tanques nas ruas. Foi assim quando o general Villas-Bôas precisou apenas de dois tuítes para encurralar o STF. É assim quando Villas-Bôas fala pelo tuíte de um general da reserva.
É perda de tempo discussões conceituais sobre se o bolsonarismo é um movimento fascista ou não
por Luis Nassif
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Peça 1 – o Estado e os grupos políticos
Pode-se dividir os eleitores em grupos regionais, de renda, de faixa etária. Mas, para cálculos eleitorais, as divisões principais são em relação a seu relacionamento com o Estado. E, em parte, com a pauta moral.
Grosso modo, há 5 grupos:
Grupo 1 – os donos da política monetária e fiscal.
Entram aí o mercado e os grandes grupos econômicos.
Grupo 2 – os sócios do Estado.
Corporações públicas que conseguiram se apropriar do Estado, na forma de privilégios salariais e de Previdência, como o Judiciário e as Forças Armadas.
Grupo 3 – os dependentes do Estado.
Usuários do Sistema Único de Saúde, estudantes da rede pública, beneficiários de programas sociais. São essencialmente eleitores de Lula.
Grupo 4 – os sem-Estado.
Entram aí especialmente pequenos e médios empresários, classe média urbana ou de pequenas cidades, e que acabaram se tornando base do eleitorado bolsonarista. Na outra ponta, entram movimentos sociais. A sorte da democracia foi o aparecimento de uma liderança popular como Lula, que colocou a maioria dos movimentos sociais debaixo da asa do PT. Caso contrário, haveria a reedição da selvageria descontrolada dos bolsonaristas.
Grupo 5 – as organizações criminosas, infiltradas no Estado.
Os principais representantes são o PCC (Primeiro Comando da Capital) atuando em São Paulo e as milícias atuando no Rio de Janeiro, ambas se expandindo para outros pontos do país.
Peça 2 – as formas de atuação do Estado
O Estado interfere na vida dos cidadãos através de três formas específicas. E nas três recorre a políticas regressivas e concentradoras de renda.
1. Atuação direta.
São os serviços públicos oferecidos diretamente pelo Estado. Há uma redução gradativa nos gastos com saúde, educação, segurança, financiamento da tecnologia e redução dos direitos da Previdência.
2. Políticas monetária e fiscal.
Dois instrumentos centrais para concentração de riqueza no país. Historicamente, a política fiscal é regressiva, taxando mais pesadamente os pobres do que os ricos. E a política monetária, com o modelo de metas inflacionárias, se transformou em um sorvedouro de recursos para o mercado financeiro.
3. Formas de regulação
Ponto pouco analisado são os modelos de regulação no país. Com algumas poucas exceções – como o MEI (Microempreendedor Individual) -, pequenas e médias empresas são submetidas ao mesmo aparato burocrático das grandes corporações. Tem pouco acesso a crédito barato, foram completamente esquecidas pelas políticas públicas.
Mais, os órgãos de controle da competição, como o CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico) permitiram a cartelização de setores tradicionalmente ocupadas por pequenas e médias empresas, grandes empregadoras, como o setor farmacêutico e as padarias.
Peça 3 – as políticas públicas
A partir daí entenda os impactos das políticas públicas sobre os cinco grupos:
Grupo 1 – os donos das políticas monetária e fiscal
Ganham com a política monetária e cambial do Banco Central, com a atuação suspeita do CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico), permitindo a concentração de setores. São beneficiados também pelo modelo tributário, compassivo com ganhos de capital, e pela ampla liberdade de entrar e sair com capitais do país. Apropriaram-se dos principais órgãos regulatórios do país e das maiores estatais.
Os ganhos de acionistas da Petrobras – com a mudança administrativa do modelo de fixação de preços – e da Eletrobras – com o corte de investimentos para engordar dividendos e com a possibilidade de colocar a energia contratada no mercado livre – terão impacto direto sobre consumidores de todo o país, especialmente os de baixa renda e pequenas e micro empresas.
Grupo 2 – os sócios do Estado
Ganham com salários, aposentadorias, portas giratórias, além das alianças individuais com partidos políticos. São, especialmente, as corporações jurídicas, militares e, de algum tempo para cá, órgãos de controle, como a AGU (Advocacia Geral da União) e CGU (Controladoria Geral da União). O governo Bolsonaro abriu uma avenida para o lobby militar.
Grupo 3 – os dependentes do Estado
É o público do SUS, da escola pública, os desassistidos de periferia, os órfãos da Previdência Social, os beneficiários dos programas assistenciais, os sem teto, sem comida. São asfixiados pela redução de recursos dos programas públicos e pela tributação de bens de consumo essenciais.
Experimentaram avanços nos últimos anos, com as cotas sociais e raciais, o acesso às universidades e a alguns setores públicos. E um enorme retrocesso no período Temer-Bolsonaro.
Grupo 4 – os sem-Estado
Entram aí não apenas os miseráveis, mas parte expressiva da baixa classe média urbana, pequenos e médios empresários, funcionários de grandes corporações. No plano tributário, são pressionados pelos impostos sobre consumo e por uma regulação que não diferencia pequenas e grandes empresas. Têm dificuldade de acesso ao crédito, enfrentam a concorrência das grandes redes, temem a perda de status social e econômico e qualquer mudança nas rotinas diárias. Esse medo de mudanças foi se acentuando com as grandes transformações econômicas e tecnológicas, tornando-os mais conservadores e com uma dose enorme de preconceito social – como forma de esconder o medo pânico de perda do status social e econômico.
Grupo 5 – as organizações criminosas
No Congresso, estão escondidas atrás das verbas do orçamento secreto. Há ligações óbvias de organizações internacionais – como a máfia dos cassinos, das armas – com o bolsonarismo. E, internamente, a atuação de duas organizações, o PCC, atuando em São Paulo, e as milícias, no Rio e umbilicalmente ligadas aos Bolsonaro. Sem contar parte de templos ligados à lavagem de dinheiro, valendo-se dos sistemas de isenção de que gozam.
Peça 4 – o caminho para o fascismo
É perda de tempo discussões conceituais sobre se o bolsonarismo é um movimento fascista ou não. Na fase pré-tomada de poder, Mussolini, Hitler e outros déspotas seguiram o mesmo caminho, de destruir a democracia por dentro, através do processo eleitoral, do discurso moral alicerçado em pactos com igrejas de várias religiões e grande empresariado. Ou seja, o bolsonarismo está no mesmo estágio do nazismo e do fascismo italiano antes do golpe final contra as instituições.
É evidente que, na eventualidade de vitória de Bolsonaro, com a base parlamentar formada, com a adesão das Forças Armadas, não haverá mais nenhuma instituição operando como freio e contrapeso. Será a pior ditadura da história, porque sem projeto de país e nas mãos de parceiros das milícias e do crime organizado.
A grande batalha pela redemocratização ocorrerá não apenas nas eleições, mas – em caso de vitória de Lula – por um amplo trabalho não apenas de reconstrução do país, mas de mudança radical nos sistemas de decisão.
O grande pacto nacional será em torno de alguns pontos de consenso: combate à fome e à miséria, reforma tributária progressiva, geração de emprego e crescimento. Mais que isso, terá que haver um exercício nacional de colaboração e participação nos três níveis de interferência estatal: a atuação direta, as políticas monetária e fiscal e as formas de regulação.
O instrumento principal é o modelo das conferências nacionais, que começam nos municípios, se adensam nos encontros estaduais e se fecham na grande conferência nacional. O grande desafio será ampliar seu escopo, dos temas federativos e sociais, para questões ligadas ao pequeno empreendedorismo, ao papel dos municípios e estados.
E, principalmente, articular as grandes redes públicas e privadas de organizações com abrangência nacional, como associações comerciais, estruturas das federações empresariais, centrais sindicais, redes de bancos públicos, estrutura dos Correios, estrutura das Fundações de Amparo à Pesquisa, cooperativas agrícolas, Movimento dos Sem Terra.
O grande pacto nacional poderá criar constrangimento em relação a temas sem consenso. Mas o aprofundamento da democracia será peça essencial para o aprendizado democrático brasileiro.