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O CORRESPONDENTE

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O CORRESPONDENTE

23
Set22

Como o bolsonarismo desune a sociedade e enfraquece a sensação de pertencimento

Talis Andrade

Os grupos bolsonaristas se apropriaram de símbolos da Pátria e querem ser donos da nacionalidade 

 

Governo Bolsonaro promove um nacionalismo vazio e desagregador, estimula a exclusão de quem pensa diferente e enfraquece a sensação de unidade e de pertencimento dos brasileiros a um mesmo País

 

por Vicente Vilardaga /Istoé 

- - -

Há neste momento no Brasil um governo que promove a antipatia pelo próximo, pelo compatriota, que divide a sociedade e prega que pessoas comuns sejam truculentas e andem armadas. Junto com isso, acontece uma tentativa de esfacelamento de valores pré-políticos, como cordialidade, solidariedade, respeito à natureza, tolerância religiosa e caridade, que, em menor ou maior grau, fazem parte da cultura nacional e orientam nossa convivência democrática. O nacionalismo bolsonarista está causando uma rachadura civilizacional, quebrando laços afetivos e dissolvendo o sentimento de unidade da Pátria, que deveria estar fortalecido no Bicentenário. Apropriando-se de símbolos coletivos, como as cores da bandeira, a camisa da seleção de futebol e a efeméride de Sete de Setembro, o presidente e seus seguidores declaram que querem ser os “donos da nacionalidade” e não estão dispostos a uma convivência pacífica com qualquer um que pense diferente, além de trabalhar explicitamente a favor da desagregação social.

Num esforço manipulador, apresentam-se como patriotas e colocam os inimigos da pátria de outro. É uma divisão doentia. Para os patriotas, seus oponentes não merecem nem comer, como demonstrou o empresário do agronegócio Cássio Joel Cenalli, que recusou um prato de alimento para a diarista Ilza Ramos Rodrigues porque ela declarou que votaria em Lula. O caso aconteceu em Itapeva, no interior de São Paulo, e expôs de maneira crua uma vontade de eliminação, que exclui a parte da população que discorda das idéias do líder autoritário. Em larga escala, essa perversidade bolsonarista tem uma função excludente que está levando muitos brasileiros a perderem a sensação de pertencimento a uma Nação e abandonando a crença no futuro próspero, um dos pilares da cultura nacional ­— não por acaso, cada vez mais gente está emigrando para Portugal e outros países. Ilza faz parte de um imenso grupo formado por contingentes da classe média, pobres e minorias em geral, que não têm essa possibilidade e são ofendidos e humilhados por não compartilharem do pensamento bolsonarista, o que não significa ser socialista, comunista ou radical.

 

A diarista Ilza Rodrigues deixou de receber um prato de comida porque não vota em Bolsonaro (Crédito Rivaldo Gomes)

 

Durante a pandemia, momento em que seria importante a união da sociedade, em que o governo poderia trabalhar numa sintonia positiva, a estratégia foi estimular o negacionismo e a discórdia. Bolsonaro disse não era coveiro e trabalhou duro para fomentar dúvidas e favorecer a dispersão de interesses, mostrando a canalhice de sua política sanitária. Disse absurdos como “Tem que deixar de ser um país de maricas” ou “Chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”. Para uma sociedade que costuma chorar seus mortos, essa foi mais uma forma de separar os brasileiros entre os frouxos, que não seguem conselhos fora de órbita como usar cloroquina, e os fortes, alinhados com um projeto de dominação prestes a naufragar. Em nenhum momento o governo trabalhou para estimular o sentimento de solidariedade. Ao contrário, fez o que pode para afrouxar os laços de colaboração e dividir o povo.

 

“Hoje em dia, o pessoal leva muito (a camisa amarela) para o lado político. Isso faz a gente perder a identidade”. Richarlison, atacante da seleção brasileira

 

País imaginário

 

“O que há no Brasil hoje é um nacionalismo ancorado no ressentimento e na exclusão”, afirma o historiador Daniel Gomes de Carvalho, professor de História Contemporânea da Universidade Nacional de Brasília (UNB). Para Carvalho, Bolsonaro mobiliza uma classe média empobrecida e mais envelhecida, principalmente branca, que promove a ideia de que os esquerdistas estão à espreita para tomar o poder e acabar com as liberdades individuais. Tenta também criar um país imaginário onde se esquece do racismo estrutural, da crueldade da ditadura militar e inventa uma ameaça comunista quando se sabe que isso está fora de cogitação. “Bolsonaro passa a mensagem de que o mundo conspira contra você e cria uma atmosfera falsa de pânico e de medo”, diz. Um dos símbolos de união aniquilado na atual disputa ideológica foi a camisa canarinho, que virou ícone bolsonarista. O atacante Richarlison, do Tottenham e da seleção, inclusive, criticou terça-feira, 13, em Portugal, o uso político da camisa. “Hoje em dia, o pessoal leva muito para o lado político. Isso faz a gente perder a identidade da camisa e da bandeira amarela”, disse Richarlison. “Acho importante que eu, como jogador, torcedor e brasileiro, tente levar essa identificação para todo o mundo. É importante reconhecer que a gente é brasileiro, tem sangue brasileiro e levar isso para o mundo.”

Nacionalismo e patriotismo foram instrumentalizados de maneira deturpada na criação da identidade política do presidente. Enquanto o patriotismo envolve apenas a devoção do indivíduo à sua Pátria, o nacionalismo é um movimento ideológico e político de exaltação dos valores nacionais. Bolsonaro faz com que muitos brasileiros se sintam, cada vez mais, fora do lugar e com a sensação de que estão em outro país, na medida em que o governo promove valores e comportamento desalinhados de uma tradição cultural orientada para a boa convivência. “Na construção nacionalista normalmente se busca um passado glorioso e no bolsonarismo esse passado é a ditadura militar”, afirma o historiador Jonathan Portela, doutorando na Unicamp. “Ao mesmo tempo há uma rejeição da modernidade e do chamado globalismo, que para os ideólogos do governo fere os interesses nacionais”. De alguma forma, Bolsonaro desenvolve sua propaganda patriótica seguindo os mesmos princípios que orientaram o governo militar, que também se baseou num discurso excludente onde o principal inimigo era a esquerda. “Há um resgate da ditadura militar e dos seus valores e, portanto, os inimigos são os mesmos”, afirma Portela. “Quem não é leal ao líder e ao sistema é porque é esquerdista ou comunista”.

 

 

Durante a pandemia, Bolsonaro imitou uma pessoa morrendo por falta de ar: estímulo à discórdia

 

Baixa coesão

 

Bolsonaro também favorece a dispersão e o distanciamento da sociedade das instâncias decisórias. Em seu livro Comunidades Imaginadas, o antropólogo Benedict Anderson mostra que quanto mais atomizadas são os grupos sociais, como eram, por exemplo, os camponeses da França do século 19, que viviam isolados e contavam com poucos organismos de ação coletiva, como associações e sindicatos, maior é a tendência das pessoas de se apoiarem em líderes salvadores. Nessas sociedades, segundo Carvalho, com poucos elementos de coesão, a representação se mobiliza com elementos autoritários e religiosos. “São sintomas de uma sociedade estilhaçada”, diz. No Brasil, é evidente o esforço de Bolsonaro para acabar com instâncias de participação social nas decisões de governo, como conselhos e comitês, o que também favorece a atomização e a falta de pertencimento. A população não se sente mais acolhida e representada pela instituições e perde a sensação de que são cidadãos de um País.

O escritor George Orwell, no artigo Notas sobre o Nacionalismo, diz que o patriotismo estaria ligado a uma postura defensiva em relação aos valores e à cultura de um povo, enquanto o nacionalismo diz respeito à vontade de dominação de um povo sobre outro. De todo modo, segundo ele, “o propósito permanente de qualquer nacionalista é garantir mais poder e prestígio para a Nação”. Isso, porém, vai contra os planos destrutivos de Bolsonaro. Seu projeto nacionalista diminui e transforma o País em um lugar menos humano, solidário e feliz, e se afirma simplesmente na negação de comunistas, esquerdistas e globalistas. O bolsonarismo propõe a separação dos brasileiros de maneira sumária e preconceituosa e torna o País pior e menos prestigiado. E da mesma forma que faz isso internamente, aumentando a distância entre o Estado e o cidadão, entre o brasileiro e sua Pátria, também busca um afastamento dos organismos internacionais e das grandes discussões globais, associadas ao meio ambiente e aos direitos humanos. A perspectiva do bolsonarismo é a do isolamento e silenciamento dos diferentes, que não compactuam com seu pensamento.

A ideologia que se tenta impor hoje no Brasil afrouxa os laços de colaboração, aumenta a desigualdade social e acaba com a sensação de pertencimento.

 

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) pediram homenagens a pelo menos 16 policiais denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como integrantes de organizações criminosas. É o que aponta um cruzamento de dados entre os nomes dos policiais homenageados pelos dois filhos do presidente e as informações dos bancos de dados dos Tribunais de Justiça do país. Os resultados do levantamento estão no podcast "UOL Investiga: Polícia Bandida e o Clã Bolsonaro", que estreou nesta sexta-feira (23). Josias de Souza, colunista do UOL, comenta a apuração

29
Mai20

Bolsonaro fala em “desaparecimento” de ministros do STF. Seria Teori Zavascki um desaparecido político?

Talis Andrade

Teori Zavascki

Por Denise Assis

Jornalistas pela Democracia

 

Quinhentos dias de governo e estamos roçando no número de 500 mil infectados pelo coronavírus. É isto mesmo. São mil infectados para cada dia que o senhor Bolsonaro está sentado na cadeira da presidência. Sem avançar em um projeto em favor da sociedade, sem promover o prometido crescimento da economia, disseminando o ódio, a discórdia e governando com ameaças quase infantis, com o fito de nos paralisar.

São mais de 26 mil mortos e ele sentado sobre a tampa dos seus ataúdes, “negocia” com desembaraço e tranquilidade o seu destino em 2022.  “Nós trocamos algum cargo neste sentido, atendemos, sim, alguns partidos neste sentido, conversamos sobre eleições de 2022. Se eu estiver bem em 2022, há interesse de alguns parlamentares desses estados em ter o seu respectivo candidato a governo, se eu poderia (sic) entrar neste acordo em alguns estados do Brasil”, antevê, num português mastigado e maltratado.

Nem uma palavra sobre a pandemia, a não ser os seus “esperneios” por armar a população para abrir o comércio à bala, e fazer girar a economia “na porrada”, como é de seu feitio, para vergonha geral da Nação. Como sabemos, suas preocupações pessoais e familiares se sobrepõem às suas obrigações de governante. Na sua pauta, agora, o mais urgente é salvar a própria pele e a dos integrantes da “famiglia” e, para isto, não corou nem piscou, ao jogar no ar a seguinte fala, durante live feita ontem, ao lado de um “eufórico” presidente da Caixa Econômica federal, Pedro Guimarães – por que sorri tanto, esse economista?

“Se aparecer uma terceira vaga —espero que ninguém desapareça—, mas o Augusto Aras entra fortemente na terceira vaga”. A vaga em questão, é para o Supremo Tribunal Federal (STF), onde se sabe, elas não existem. Estão todas preenchidas. Tivesse ele o mínimo de educação, e saberia que não se deve tratar do tema até que elas estejam disponíveis. E isto só será possível em novembro, com a aposentadoria do ministro Celso de Mello, ou em julho do ano que vem, quando pelo mesmo motivo, deixa o cargo o ministro Marco Aurélio Mello.

Mas não se deve esperar tanto de alguém que troca o bom dia por um “porra”. O que se pode esperar dele, isto sim, é um profundo conhecimento sobre desaparecidos. Temos 434 mortos e desaparecidos políticos, que a turma do general Augusto Heleno – com quem ele muito se identifica -, saberia nos informar o paradeiro. Porém, não dizem, porque, neste caso eles deixariam de ser “desaparecidos”, e os seus amigos passariam a ser “criminosos”.

 

E quando Bolsonaro fala que espera, “ninguém desapareça”, difícil não lembrar de outra modalidade de expediente para abrir vagas no Supremo: a dos “acidentados”. Poderíamos recordar das indagações sobre o acidente do ex-ministro Teori Zavascki, que continuam sem resposta, desde que sofreu um “acidente”, em 19 de janeiro de 2017. Na ocasião, publiquei artigo no site “O Cafezinho”, onde fazia perguntas sobre a “queda” do seu avião, que até hoje são pertinentes, pois ficaram sem resposta:

– Por que será que ninguém estranhou o fato de a Marinha do Brasil, que em 1992, tinha condições de rastrear com sonares toda a costa fluminense, em busca do corpo do Dr. Ulysses, e enviou ao local aparelhagem sofisticadíssima, desta vez vem a público dizer que não é capaz de erguer do mar, a uma profundidade de quatro metros, uma aeronave de pequeno porte, em frangalhos, coisa que os próprios pescadores fizeram, antes de chegar socorro, conforme detalha André Barcinsky na Folha de São Paulo? Quais os impedimentos técnicos?

– Ninguém considera esquisito transferir para a empresa dona do avião, a responsabilidade de retirar da água uma aeronave que transportava uma alta personalidade pública, responsável por conclusões em torno de delações que implicariam a cúpula do governo?

– A Marinha do Brasil não conseguiria, ou estaria economizando recursos, conforme disse um constrangido oficial na TV, ou dentro do avião estariam aparelhos (lap top) e documentos que deveriam ser entregues apenas a quem de “direito”? Ou seja, à família do empresário, ou ao filho de Teori e a quem mais tivesse interesse naquela viagem.

– Por que os bombeiros não abriram a aeronave para resgatar a moça que apelava pela vida (todos vimos)? Era mais importante retirá-la viva ou preservar seco o ambiente interno do avião, para resguardar o que lá estivesse (um lap top) e pudesse ser retirado? (Até que um pescador solidário furou a fuselagem, alagando tudo, na sanha de passar oxigênio para a moça que apelava por socorro).

– Por que o senador José Medeiros (PSD) de Mato Grosso – a mesma cidade das mulheres que estavam no avião, e cujas identidades levaram uma eternidade para serem reveladas -, disse, às 10h58, em seu Face, que à noite, no JN, a população seria assombrada com uma “bomba” sobre o Supremo?

– Qual seria a agenda do senador José Medeiros no gabinete presidencial do Michel, por volta das 17h, justamente quando a notícia chegou ao gabinete do presidente, e que o fez clamar por Deus! Como reproduziram os jornais?

– Por que o hangar de onde partiu a aeronave tinha tão poucas informações a dar a respeito dos passageiros?

E, por fim, por que não estamos tratando disto como o fizemos com o caso do Riocentro, que pôs fim à ditadura de 21 anos que se abateu sobre o Brasil?

Depois da fala de Bolsonaro, de ontem, talvez fosse útil acrescentar aí mais uma pergunta: Seria Teori Zavascki mais um desaparecido político?

 

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