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Reportagem do UOL traça o perfil do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado de ser o chefe do "Escritório do Crime", a milícia que comanda a zona oeste do Rio de Janeiro.
Foi na PM que Nóbrega fez amizade com Fabrício de Queiroz, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), apontado como o operador do clã Bolsonaro.
Em 2005, Adriano chegou a ser homenageado por Flávio Bolsonaro com a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembléia Legislativa. Na época, ele estava preso sob acusação de quatro homicídios.
O Escritório do Crime é suspeito de participar das mortes da vereadora Mariele Franco e do motorista Anderson Gomes.
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247 - Homenageado pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), o ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega é acusado pelo Ministério Público de ser o chefe do "Escritório do Crime", grupo de matadores de aluguel que tem como clientes preferenciais chefes do jogo do bicho carioca, e que comanda a zona oeste do Rio de Janeiro.
Membros do Escritório do Crime são suspeitos de envolvimento no atentado que resultou nas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018.
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Os jornalistas Flávio Costa e Sérgio Ramalho, do UOL, escreveram o perfil de Adriano e lembram que foi na Polícia Militar que Adriano da Nóbrega fez amizade com Fabrício de Queiroz, que trabalhou como ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), suspeito de arrecadar salários dos funcionários do clã Bolsonaro. Por indicação de Queiroz, a mãe e a mulher de Capitão Adriano foram trabalhar no gabinete do filho mais velho do presidente da República, Jair Bolsonaro.
Os relatos ouvidos pela reportagem e documentos de seu processo de expulsão da PM classificam Capitão Adriano como "caçador de gente". Ele pode passar dias isolado em meio à Floresta da Tijuca ou, em busca de aprimoramento, horas em chats na chamada "deep web" (sites que não estejam indexado em mecanismos de buscas). É descrito como um aficionado por armas, equipamentos tecnológicos, treinamentos militares e jogos com simulações de combates.
Adriano chegou a ser homenageado por Flávio Bolsonaro com a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa. Era o ano de 2005, e ele estava preso sob acusação de cometer homicídio. A ficha de serviços mostra que Capitão Adriano recebeu treinamento de elite durante sua trajetória como PM. Entre os cursos em que se formou, estão os de sniper (atirador de elite), operações táticas especiais e segurança especial para autoridades.
Na denúncia, os promotores mostram como a milícia domina os bairros de Rio das Pedras, Muzema e seus arredores na zona oeste do Rio. Capitão Adriano é chamado de "patrãozão" pelos milicianos. "Adriano prestava serviços também para empresários, políticos e até integrantes do Judiciário. Chega uma hora em que esses matadores querem rivalizar com os patrões. É aí que são mortos e substituídos por outros", diz o delegado de polícia ouvido pelo UOL. Capitão Adriano está foragido desde o dia 22 de janeiro.
Prisão de major da PM no Rio emociona mães que exigiam justiça por chacina desde 2003
Adital - A notícia da prisão do major Ronald Paulo Alves Pereira na operação "Os Intocáveis", buscando desbaratar uma das maiores milícias na zona oeste do Rio, reverberou na casa de três famílias em outra parte da cidade com forte emoção e alívio.
A reportagem é de Julia Dias Carneiro, publicada por BBC Brasil, 24-01-2019.
"Tudo que eu pude fazer para colocar esse homem no banco dos réus, eu fiz, mas nunca consegui. Esse é um grande passo", diz Elizabeth Medina Paulino, de 55 anos. "Até porque, como diz o nome da operação, ele era intocável."
O PM foi preso por sua atuação na milícia de Rio das Pedras e região, na zona oeste do Rio. Mas para Elizabeth e outras duas famílias do bairro de Guadalupe, na zona norte do Rio, ele é um dos atores do crime bárbaro que matou seus filhos há mais de 15 anos: os rapazes Geraldo, Bruno, Rafael e Renan, com idades entre 13 a 21 anos. Os três últimos eram primos.
Em dezembro de 2003, os quatro jovens foram sequestrados, torturados e executados por um grupo de PMs na saída de uma casa noturna na Rodovia Presidente Dutra, em São João de Meriti, região metropolitana do Rio.
O caso ficou conhecido como a Chacina da Via Show. Nove policiais foram acusados de homicídio doloso. Mas Ronald, único oficial entre os réus, foi o único que conseguiu escapar do julgamento. À época capitão, Ronald seguiu com sua carreira na PM e conseguiu ser promovido a major.
Apenas três meses depois da chacina, recebeu uma moção de louvor do deputado Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) por serviços prestados ao Estado. Ronald era lotado no 22º Batalhão da Polícia Militar, no Complexo da Maré, e foi homenageado pelo parlamentar após uma operação que matou três bandidos na comunidade.
Elizabeth perdeu seus dois filhos na chacina, Rafael, 18, e Renan, 13. "Acabou-se a nossa vida, querida", ela resume na entrevista com a BBC News Brasil.
Antes de receber a notícia da prisão, a semana começara marcada pela saudade. Na última segunda-feira, seu filho mais velho, Rafael, teria feito aniversário. Completaria 34 anos. No dia seguinte, soube que Ronald havia sido preso. "Fiquei estarrecida", diz Elizabeth. "Justo no dia do aniversário do meu filho, estava se preparando essa operação. Agora pelo menos eu tenho certeza de que ele vai enfrentar a justiça", diz.
'Os Intocáveis'
Na terça-feira desta semana, o Ministério Público e a Polícia Civil do Riodeflagraram a operação "Os Intocáveis" para prender 13 lideranças de uma milícia que atuava nas comunidades de Rio das Pedras, Muzema e adjacências, na zona oeste do Rio, principal área de atuação dos grupos paramilitares na cidade. Cinco pessoas foram presas, Ronald entre eles. Oito outras estão foragidas.
Ronald é apontado como o número dois na hierarquia da quadrilha, atrás de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), que está foragido.
O major também é investigado como um dos chefes do chamado Escritório do Crime, suposto grupo de extermínio formado por policiais reformados ou na ativa - que pode ter envolvimento com a execução da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, há 10 meses. Tanto Ronald quanto Adriano já haviam sido ouvidos como testemunhas nas investigações da morte de Marielle.
De acordo com o MPRJ, entre as infrações rotineiras cometidas pelo grupo na região estão a agiotagem, a receptação de carga roubada, a extorsão de moradores, a cobrança de taxas em para prover serviços ilegais e a intimidação com uso da força.
Segundo a promotora Simone Sibilio, Coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), o major Ronaldexercia liderança na organização criminosa, valendo-se de sua condição privilegiada de policial da ativa.
"Ele tinha forte influência e total envolvimento no ramo imobiliário ilegal praticado", frisa a promotora, acrescentando haver "farta documentação" provando sua atividade na milícia.
Como é de praxe, Ronald entrou na Polícia Militar via concurso público nos anos 1990, mas foi barrado no exame psicológico. Segundo o laudo, demonstrou "irritabilidade e onipotência" que seriam incompatíveis com a atividade de policial. Em 1995, entretanto, conseguiu obter uma liminar para ingressar na PM. Ainda enfrentou um recurso da Procuradoria-Geral do Estado, mas a 16ª Câmara Cível manteve a decisão anterior, assegurando sua permanência na corporação.
"Ele já tem costas quentes desde lá atrás", considera Elizabeth Medina.
Em nota enviada à BBC News Brasil, a Corregedoria da Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio afirma que o major Ronald "não descumpria" os quesitos para ingresso no Curso Superior de Polícia via concurso, tais como não haver sido condenado sentença em trânsito em julgado por crime comum.
Entretanto, afirma considerar "extremamente grave o envolvimento de um oficial da corporação em organização criminosa investigada pelo Gaeco/MPRJ", e afirma ter se colocado à disposição para colaborar com a investigação, bem como ter solicitado cópia do mandado de prisão e dos detalhes dos autos para instaurar processo administrativo contra o policial.
'Chacina da Via Show'
No dia 6 de dezembro de 2003, os quatro jovens moradores de Guadalupe foram juntos para um baile na Via Show, uma casa noturna no município de São João de Meriti. "Era o point na época", lembra Siley Muniz Paulino, mãe de Bruno, que tinha 20 anos, e concunhada de Elizabeth.
"A gente achava que a casa era segura porque era cheia de policiais fazendo bico de segurança no estabelecimento. A gente só não sabia que esses policiais matavam", diz Siley.
Ao saírem da festa, os rapazes foram agredidos por PMs que atuavam na segurança do local enquanto ainda estavam no estacionamento do local. Depois, foram levados para uma fazenda abandonada conhecida como Morambi, no município de Duque de Caxias, onde foram executados com tiros de fuzil. Ficaram desaparecidos por três dias, despertando forte comoção na cidade, e um protesto que fechou as quatro pistas da Avenida Brasil exigindo providências.
"Se não fosse por isso acho que até hoje a gente não teria um corpo para enterrar. Mas a pressão fez com que a verdade viesse à tona, e os corpos apareceram. Estavam em um poço de desova, que tinha mais ossos além dos corpos deles", conta Siley. "O laudo mostrou que eles apanharam tanto que estavam com ossos quebrados. Que já não tinham mais um dente inteiro na boca."
Para Siley, a morte do filho causou também a morte do seu marido, Newton Paulino. Depois do crime, ele caiu na depressão e nunca mais se recuperou. Morreu sete anos depois, após uma sucessão de infartos. "Ele chorava todos os dias, ficava enfurnado dentro do quarto. Imagina ver um filho tão abençoado, tão querido, tão desejado, morrer assim."
Impunidade
Quatro policiais foram condenados pela chacina. Ronald havia sido denunciado pelos homicídios, mas o processo contra ele foi suspenso pelo Tribunal de Justiça do Rio. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou a reabertura do processo no ano passado