CPI do MST esqueceu as chacinas dos povos indígenas e das ligas camponesas
Movimento indígena está muito mais organizado e representa uma ameaça ao avanço da direita, dizem especialistas; jurista Carlos Marés afirma que matança entre etnias durante a ditadura soma bem mais do que 8 mil, número que consta de relatório da Comissão Nacional da Verdade.
A reportagem é de Julia Dolce, publicada por De Olho nos Ruralistas, 01-04-2019.
Professor de Direito da Universidade Federal do Paraná, especialista em Direito Agrário, o jurista Carlos Frederico Marés considera que o golpe de 1964 foi dado “contra as organizações do campo: indígenas e camponesas”. Ele diz que é impossível calcular quantas pessoas foram assassinadas. Segundo ele, foram bem mais do que 8 mil, faixa que consta do relatório final da Comissão Nacional da Verdade.
– A direita militarizada tem horror a muitas coisas, mas, principalmente, à organização social, e mais ainda, à organização social no campo. A visibilidade dos camponeses incomodava demais. Então é visível que, apesar de termos a visão que a repressão da ditadura aconteceu mais fortemente nas cidades, em qualquer conta que se faça a repressão no campo foi exponencialmente maior. O campo foi dizimado.
Marés falou durante a mesa “Indigenismo: da Ditadura ao Cenário Atual, Perspectivas de Futuro”, encerrando o evento de comemoração dos 40 anos do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), na Universidade de São Paulo (USP). O órgão atua em terras indígenas elaborando projetos que buscam contribuir para a autonomia dos povos, orientando sobre seus direitos constitucionais, entre outras ações. A mesa foi aberta pela indígena Ângela Kaxuyana e contou com a presença de pesquisadores indigenistas de diferentes órgãos.