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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

23
Mar23

Roberto Campos Neto, o vassalo do mercado

Talis Andrade
 
 
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Inimigo do povo, presidente do Banco Central não tem compromisso com o desenvolvimento econômico e social, com o combate da desigualdade, nem com o Brasil

Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar” - Nelson Rodrigues

Taxa de juros no Brasil distorce situação fiscal e espanta investimentos” - Jeffrey Sachs

 

por Pedro Maciel

Introdução – A unanimidade e a certeza são vizinhas da estupidez, por isso, tentando oferecer uma outra perspectiva aos temas: (a) desenvolvimento econômico e social e (b) coordenação de políticas fiscal e monetária, o BNDES, a FIESP e o CEBRI (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) realizaram um seminário; o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, dentre outras autoridades dos setores público, privado e da academia, estavam lá.  

Mediados pelo ex-presidente do BNDES, André Lara Resende, o ganhador do prêmio Nobel, Joseph Stiglitz e o prof. James Gailbraith - da Lyndon B Johnson School of Public Affairs -, expuseram sua visão sobre a coordenação de políticas fiscal e monetária como estratégias para o desenvolvimento sustentável e falaram sobre a experiência internacional e sobre os efeitos causados por diferentes formas de enfrentamento da inflação e do crescimento econômico. 

 Joseph Stiglitz lembrou que hoje há consenso nos EUA entre os partidos Democrata e Republicano, sobre a necessidade de uma política industrial capaz de fazer frente à necessidade de (a) se estabelecer o desenvolvimento da indústria e (b) promover a transição para uma economia verde; lembrou que durante a pandemia do coronavírus, os EUA lançaram mão do War Act, para induzir a fabricação de produtos impactados pela escassez ocorrida no período de lockdowns no mundo.

 Segundo Stiglitz, “As ideias econômicas centrais nos últimos 40 anos [neoliberalismo] estão sendo revistas e desacreditadas. A razão é que o crescimento esteve lento na era neoliberal e todos os benefícios gerados foram para as elites econômicas. Há 40 anos de evidências de que o neoliberalismo é segregador de riqueza. O crescimento da desigualdade torna óbvio que é necessário alternativas às políticas monetárias”, ou seja, Lula não está errado quando diz, metaforicamente, que livros de economia não servem mais, ele se refere àqueles de defendem, com perigosa certeza, o neoliberalismo.

 O ganhador do Nobel, numa educada crítica ao nosso BC, disse que se o Brasil tivesse uma política de juros racional estaria em melhor estado macroeconômico, pois, segundo ele “... juros altos afastam investimento e reduzem produtividade. O país é muito dependente de commodities e precisa de transição para uma economia (industrial) verde. (...) Juros altos são contraproducentes pois podem levar a mais inflação, aumentam o custo da dívida pública e reduzem os recursos do governo para investimentos necessários ao crescimento econômico” e concluiu dizendo que “Juros altos e austeridade aumentam o problema fiscal enquanto taxas mais baixas podem aumentar a resiliência”.  

 James Gailbraith, afirmou que uma política de juros excessivos tende a represar investimentos privados e aumentar o desemprego, o que acaba por desestimular o consumo; disse que o desenvolvimento socioeconômico deve ser promovido no médio prazo com juros mais baixos; que o Brasil poderia ter avançado mais com juros baixos, investimento alto e tributação mais justa, pois, o Brasil é um dos lugares mais seguros do mundo para o investimento estar; que nosso país está melhor que muitos países da Europa, pois tem uma estrutura financeira sólida e que protegeu bem o país na crise de 2008; que a política atual de juros altos precisa ser abandonada pois é insustentável.

 

 Sobre Bancos Centrais - Stiglitz afirmou que bancos centrais independentes não podem operar afastados de seus compromissos democráticos com a sociedade, nem vinculados apenas aos interesses do mercado financeiro; bancos centrais independentes precisam representar a sociedade, não o mercado financeiro apenas (na Suécia, por exemplo, o BC tem um membro representante dos trabalhadores).

 E isso não é conversa da “petralhada”, nem da “esquerdalha, trata-se de reflexão de gente séria e comprometida com o desenvolvimento social e econômico.

 

 

 Até o FMI – O ano era 2020, quando a presidenta do FMI defendeu o aumento do gasto social para aumentar a inclusão e a coesão social e, nas palavras da economista-chefe do organismo, Gita Gopinath: “É importante reconhecer que o gasto social está bem orientado, que os mais vulneráveis devem estar protegidos, e que os Governos devem assegurar que o crescimento e a recuperação sejam compartilhados por todos”, ou seja, está cada vez mais longe os tempos em que o FMI aviava apenas receitas de austeridade, pois sabem que a consequência é uma forte deterioração de todos os indicadores sociais, mas Campos Neto parece viver num mundo paralelo.  

 

 A vassalagem de Roberto Campos Neto – Enquanto economistas do quilate de Joseph Stiglitz, James Gailbraith e André Lara Resende são tratados como alucinados por parte dos “especialistas da mídia”, Roberto Campos Neto e sua diretoria, são tratados como garantidores da estabilidade monetária, mas são apenas vassalos do mercado financeiro.  

 

 

 Conclusão (minha) – Presidente do Banco Central, menino rico, que não conhece a realidade, bolsonarista e ultraliberal, não é um imbecil, mas vassalo e vil; trabalha para o mercado financeiro, não tem compromisso com o desenvolvimento econômico e social, com o combate da desigualdade, nem com o Brasil.

 O Brasil, tem a maior taxa de juros do mundo, por isso não vai crescer sem reduzi-la; a taxa é alta não porque a inflação esteja alta - já que a inflação no país está em índices comparáveis aos dos Estados Unidos e Europa, nada explica a taxa Selic em 13,75% - cerca de 140% a.a. acima de inflação -, mas porque o BC trabalha para o mercado.  

 Essas são as reflexões.  

 e.t. Esse artigo ofereço aos meus amigos liberais convictos, especialmente ao Daniel Medeiros e ao Carlinhos Barreto

 
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02
Jul22

Como nascem os monstros

Talis Andrade

 

 

 

 

 

Para nos protegermos, deixamos de pensar criticamente contra os poderosos. Mas abdicar de pensar também é crime

O homem tenta roubar a bicicleta do outro em pleno centro da cidade e as pessoas que passavam pelo local o derrubam. Um dos passantes dá uma chave de braço e o ladrão perde a consciência. As pessoas aplaudem. Quando a polícia chega, o corpo está estendido no chão, sem vida. Ninguém sabe o que aconteceu, exceto que se tratava de um ladrão de bicicletas.
 

O segurança desconfia da moça negra dentro da loja de perfumes. Aproxima-se dela e pede que ela lhe entregue a bolsa. A mulher reage e começa a xingá-lo. Outros dois seguranças aparecem e a arrastam para um área reservada, onde começam a agredi-la com chutes e socos. A moça bate com a cabeça em uma quina da parede e começa a sangrar muito. O serviço médico é acionado e ela é levada, inconsciente, para o hospital, onde chega sem vida. Ninguém repara na bolsa que fica largada no chão da loja. Dentro, havia documentos e pertences pessoais. Nenhum perfume.

O soldado da nação agressora é preso e admite que atirou na costas de um cidadão comum da cidade invadida, em plena luz do dia. O soldado é muito jovem e tem olhos assustados. Afirma que “eram as ordens”. Ouve a sentença de morte dos juízes por meio da tradutora que repete, próxima ao seu ouvido, as palavras ditas em uma língua que não entende. Apenas balança a cabeça, como quem avalia o preço de sua obediência.

A juíza diz “você pode aguentar mais um pouquinho?”, para a menina de onze anos, vítima de estupro dentro de sua própria casa e grávida de quase sete meses. Uma criança com uma criança, não compreende o que aquela mulher lhe propõe, não compreende o que está acontecendo desde o momento em que aqueles nos quais ela mais confiava submeteram seu corpo àquele tormento. E, ainda sem compreender, torna-se o centro de um debate do qual os que falam não protagonizam nada. Só há essa criança, o agressor adolescente, uma casa que deveria ser guarida, um bebê fruto-vítima e uma decisão inadiável.

O cidadão não admite ter de se dirigir àquela mulher como “chefe” e, principalmente, ter a sua atenção chamada por ela. “Quem ela pensa que é?”, pergunta-se, enquanto o sangue ferve de indignação. Toda a sua formação está de cabeça para baixo. Ele é quem deveria estar no comando, determinando, organizando e sendo magnânimo quando achasse que isso fosse conveniente. Mas uma mulher é quem manda e não gosta do que ele faz. “Quem é ela para gostar de alguma coisa?” Não se contém e quebra-lhe a cara. “Recado dado”, pensa, enquanto é detido pelos seguranças do prédio.

As duas moças, no bar, beijam-se, até que são surpreendidas por um homem furioso. Ele xinga, diz que vai puxar a cinta para dar uma lição nelas, que elas eram duas crianças e não deveriam estar fazendo aquela sem vergonhice, mas que era isso, aquela geração não prestava mesmo, por isso que não deveria haver livre arbítrio. Uma das moças retruca e ele joga um banco de madeira nela. Ninguém intervém. Uma mulher pediu para chamarem a polícia. Fizeram um boletim de ocorrência.

O indigenista e o jornalista morreram em uma das áreas mais violentas do país, sem presença do Estado e entregue aos madeireiros e garimpeiros ilegais. A morte violenta dos dois chocou a opinião pública mundial. As principais agências de Direitos Humanos exigem uma explicação das autoridades brasileiras, principalmente em face das reiteradas declarações oficiais criticando as ONGs ambientalistas e os movimentos de defesa dos direitos dos indígenas. Nas redes sociais, muitos comentários afirmam, categoricamente, que “os dois sabiam no que estavam se metendo” e que “aquela região é área do tráfico de drogas” e que agora “só falta querer responsabilizar o presidente por estarem no lugar errado, na hora errada”.

Como disse Hannah Arendt: Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime.

Assim nascem os monstros.

22
Jun22

Jesus a(r)mado

Talis Andrade

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O recado de Jesus aos seus amigos para que se protegessem é muito diferente de “bandido bom é bandido morto”

- - -

É sabido para todos os que estudam História que os evangelhos foram escritos muitos anos após a morte de Jesus e que seus autores não foram os apóstolos (no caso, Mateus e João), mas compiladores das narrativas que se espalharam pela região sobre aquela pessoa extraordinária.

Jesus era um homem que desafiava os valores da época, principalmente a tradição conservadora. Seus supostos milagres eram recados em favor da festa, da alegria e da compaixão. Sua defesa da mulher adúltera (em João, 8, 1-11) era um grito claro em favor do perdão e contra fazer justiça com as próprias mãos. Seus amigos era pessoas simples e trabalhadoras. Seu apreço pelos comerciantes sem escrúpulos era conhecido: nunca se viu Jesus brabo como naquele dia diante do Templo. ( Marcos 11: 15 e 16).

Imaginar que Jesus compraria uma pistola se existissem pistolas em seu tempo é tão insidioso que precisamos aguardar um pouco para absorver o impacto dessa declaração. Não importa que, em Lucas, ele supostamente alerte seus discípulos a se cuidarem com roupas, mantimentos e com sua defesa. Isso porque eles partiriam para terras estranhas e haveria perigos, pois Ele, Jesus, não estaria mais presente. E quem está com Jesus não precisa de armas. Só em um mundo sem religião (aquilo que nos liga e que nos une) que armas podem se tornar necessárias.

Ou seja: o recado de Jesus aos seus amigos para que se protegessem é muito diferente da ideia de que “bandido bom é bandido morto” ou que “todos têm direito de defender suas propriedades à qualquer custo”. A comparação é acintosa de tal forma – logo ele, Jesus, que foi crucificado entre dois ladrões e disse a um deles : hoje mesmo estará comigo junto ao meu Pai – que penso que ninguém deveria dar qualquer valor a ela, se não fosse dita pelo presidente da República.

Ora, o Estado é laico e a opinião do presidente sobre um assunto desses não deveria ser relevante. De fato, mas o incômodo é insistente. Jesus demonstra, desde o início de sua trajetória, atenção e cuidado, cura e promessa de salvação. Não teme as autoridades, não hesita diante dos que querem iludir o povo, não titubeia ao afirmar que os pobres, os simples, os que sofrem, são os seus preferidos.

Em uma passagem do livro “O nome da Rosa”, do pensador e romancista italiano Umberto Eco, padres discutiam uma passagem bíblica que fazia referência a Jesus portar ou não uma bolsa. Seria Dele a bolsa? Se sim, teria Jesus bens? E se tivesse, consideraria usar da violência para protege-los? É possível Jesus gritando “pega o ladrão!” e catando uma pedra e jogando para ver se o acertava pelas costas? Ou exigindo uma punição exemplar contra o malfeitor? Ele? Logo Ele?

O presidente da República defende as armas. Associa armas com Liberdade. E usa o nome de Jesus para enfatizar suas ideias. Como se a sociedade de fato ficasse mais segura com todo mundo com armas nas cartucheiras ou espingardas no vestíbulo das casas. Esquecem o que diz o ditado: em uma sociedade cheia de vigias, quem vigiará os vigias?

Jesus pode não ter sido filho de D’us. Pode não ter origem divina. Isso não diminui em nada a força de suas palavras e exemplos. A sua grande mensagem não era de proteção, muito pelo contrário. Na versão religiosa, Jesus ofereceu-se em nosso nome, como um cordeiro é oferecido em sacrifício para acalmar a ira de um D’us decepcionado com Sua criação. Jesus ofereceu-se para expiar os pecados e dar uma nova chance para a humanidade evitar que esse D’us irritado e vingativo usasse seu poder sobre nós. Essa é a mensagem. Como isso pode se coadunar com a ideia de um Jesus armado, como o presidente disse, citando os evangelhos como quem lê a propaganda de uma fábrica de revólveres?

Há versões para tudo. Tudo pode ser defendido no campo das opiniões. Não se pode punir alguém por fazer referência a um personagem que, de resto, pode ser apenas uma ficção histórica. Lógico que quando é uma professora usando uma charge na qual a figura de Jesus aparece, para denunciar a violência atual, um deputado diz em alto e bom som que ela “merecia ser fuzilada”. Mas no caso do presidente, acalmemo-nos todos. É apenas uma interpretação livre dos versículos bíblicos. Um versão particular na qual podemos imaginar um Jesus irado dizendo: “D’us acima de todos, mas, por via das dúvidas, nem vem que eu estou armado!”

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17
Abr22

A Paixão

Talis Andrade

 

Gosto de perguntar a meus alunos por que a sexta feira santa é chamada de a Paixão de Cristo

 

18
Jan22

Reforma no Ensino Médio: itinerários para um lugar nenhum

Talis Andrade

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Os adolescentes precisam de uma educação que faça conviver a tradição com a mudança

28
Nov21

Sou cúmplice da pobreza indecente que existe em meu país

Talis Andrade

 

Desse fracasso escandaloso todos somos parte, como autores ou como cúmplices

23
Nov21

O país de negros em que os negros não têm vez

Talis Andrade

 

Quantos professores negros você teve? Quantos médicos negros atenderam você?

20
Set21

Ameaça a aluno em colégio militarizado mostra confusão entre disciplina e submissão

Talis Andrade

 

Vida Loca

 

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