Mãe morre à espera de filha desaparecida após ação de PM apoiado por Bolsonaro

Para a PF e o MP-GO, não há dúvidas de que Carlos Eduardo Belelli liderou um grupo de extermínio e comandou a prisão clandestina dos dois jovens
247 - Nos primeiros meses de 2018, o tenente-coronel da PM de Goiás Carlos Eduardo Belelli tinha uma meta: ser eleito deputado estadual na disputa em outubro daquele ano. Nas redes sociais, Belelli divulgou um vídeo de um apoiador: o deputado federal Jair Bolsonaro, então pré-candidato à Presidência da República. A reportagem é da jornalista Mônica Bergamo, em sua coluna no jornal Folha de S.Paulo.
"Olá, prezado coronel Belelli, comandante do batalhão de Caldas Novas [GO]. Parabéns pelo trabalho, dando segurança à população. O senhor está indo para a reserva agora, mas sei que não ficará em casa, vai continuar lutando pelo seu estado. Boa sorte nessa nova atividade. Tamo junto, meu coronel", afirma o hoje presidente no vídeo.
Naquele mesmo momento, Carminha procurava a filha, Dallyla Fernanda Martins da Silva, 22. Ela e o namorado, Darley Carvalho, foram retirados de casa à força, em Santo Antônio do Descoberto (GO), uma cidade a 50 quilômetros de Brasília.
"Cadê minha filha?", perguntava Carminha nas ruas a quem conhecia a jovem de perto. "Não sei", era o que sempre ouvia. "Uma hora ela vai bater na porta de casa."
Dallyla e Darley foram arrancados de casa por Belelli e outros PMs suspeitos de integrar um grupo de extermínio, segundo uma investigação da Polícia Federal e do Ministério Público de Goiás. Os dois sumiram por volta na noite de 15 de março de 2017.
O corpo de Darley apareceu jogado à margem de uma rodovia, a 170 quilômetros de distância, no dia seguinte. Ele vestia apenas uma cueca, e tinha uma perfuração no crânio, sem que a perícia tenha localizado um projétil de arma de fogo. Dallyla nunca apareceu. Carminha morreu há oito meses, esperando a filha bater à porta.
Para a PF e o MP-GO, não há dúvidas de que Belelli liderou um grupo de extermínio e comandou a prisão clandestina dos dois jovens em Santo Antônio do Descoberto.
Belele também foi denunciado por corrupção passiva. O crime teria acontecido na época em que era major e comandante da 14ª Companhia Independente da PM (CIPM), na região de Alto Paraíso, Norte do Estado.
Entre 2015 e 2016, Belelli, como é conhecido, receberia valores em dinheiro de fazendeiros da região para articular e realizar patrulhamentos e segurança especial a estes, segundo as investigações do Grupo Especial de Controle Externo da Atividade Policial (GCEAP), do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). Ele contaria com o auxílio do comandante do batalhão de São João d’Aliança, Elias Alves de Souza.