Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

28
Abr23

O tamanho da China

Talis Andrade
www.brasil247.com - { imgCaption }}

Afirmar que os EUA são a maior economia do mundo é bom para o ego de quem o faz, mas isso não é mais verdade

 

por Dean Baker /A Terra É Redonda

- - -

É normal que políticos, repórteres e colunistas se refiram aos Estados Unidos como a maior economia do mundo e à China como a segunda maior. Suponho que essa afirmação seja boa para o ego dessas pessoas, mas isso não é mais verdade. Medindo pela paridade do poder de compra, a economia da China superou a dos EUA em 2014 e agora é cerca de 25% maior do que ela.[1] O FMI projeta que a economia da China será quase 40% maior até 2028, o último ano em suas projeções.

 

A mensuração que os apologetas dos Estados Unidos da América do Norte usam comumente é baseada na taxa de câmbio. É assim que se mede o PIB de cada país em sua própria moeda para depois converter essa moeda em dólares na taxa de câmbio atual. Por essa medida, a economia dos EUA ainda é mais de um terço maior do que a economia da China. Ora, essa medida reflete não apenas a produção, mas a força do dólar como dinheiro mundial.

Os economistas geralmente preferem a medida de paridade do poder de compra para a maioria dos propósitos. A medida da taxa de câmbio flutua enormemente, pois as taxas de câmbio podem facilmente mudar 10 ou 15 por cento em um ano. As taxas de câmbio também podem ser um tanto arbitrárias, pois são afetadas pelas decisões dos países de tentar controlar o valor de sua moeda nos mercados monetários internacionais.

Por outro lado, a medida de paridade do poder de compra aplica um conjunto comum de preços a todos os itens que um país produz em um ano. Com efeito, isso significa assumir que um carro, um aparelho de televisão, uma educação universitária etc. custam o mesmo em todos os países. A aplicação de preços comuns é uma tarefa difícil, os bens e serviços variam substancialmente entre os países, o que dificulta a aplicação de um preço único. Como resultado, as medidas de paridade de poder de compra têm claramente muita imprecisão.

No entanto, é claro que esta é a medida que mais interessa para a maioria dos propósitos. Se quisermos saber a quantidade de bens e serviços que um país produz em um ano, precisamos usar o mesmo conjunto de preços. Por essa medida, não há dúvida de que a economia da China é consideravelmente maior do que a economia dos Estados Unidos e, ademais, tem crescido muito mais rapidamente.

Só para esclarecer, isso não significa que os chineses são, em média, mais ricos do que os americanos. A China tem quase quatro vezes a população dos EUA. Portanto, por pessoa, os EUA ainda são mais de três vezes mais ricos que a China. Mas não deve ser um choque saber que um país com mais de 1,4 bilhão de pessoas tenha uma economia maior do que um país com 330 milhões.

Para as pessoas que precisam de mais dados para melhor se convencerem, podemos fazer comparações de vários itens específicos. Podemos começar com a produção de automóveis, uma medida padrão da produção industrial.

No ano passado, a China produziu mais de 27,0 milhões de carros, mas os Estados Unidos produziram um pouco menos de 10,1 milhões. (A China também lidera o mundo de longe na produção e uso de carros elétricos.) Os carros fabricados nos Estados Unidos, sem dúvida, são maiores e talvez melhores em média, mas teriam que ser muito melhores para compensar a diferença apontada.

Para tomar uma medida mais antiquada, a China produziu mais de 1.030 milhões de toneladas métricas de aço em 2021. Os Estados Unidos produziram menos de 90 milhões de toneladas métricas.

A China gerou 8.540.000 gigawatts-hora de eletricidade em 2021, quase o dobro dos 4.380.000 gigawatts-hora gerados nos Estados Unidos. A diferença é ainda maior se olharmos para a produção de energia solar e eólica. A China tem 307.000 megawatts-hora de capacidade solar instalada, em comparação com 97.000 nos Estados Unidos. A China tem 366.000 megawatts-hora de capacidade eólica instalada contra 141.000 nos Estados Unidos.

Podemos olhar para algumas medidas mais modernas. A China tem 1 bilhão de usuários de Internet. Os Estados Unidos têm 311 milhões. A China tem 975 milhões de usuários de smartphones, os Estados Unidos têm 276 milhões. Em 2016, a China formou 4,7 milhões de alunos com diplomas STEM (Science, Tecnology, engineering e mathematics). Nos EUA, o número foi de 330.000 no mesmo ano. As definições para graus STEM não são as mesmas, então os números não são estritamente comparáveis, mas seria difícil argumentar que o número dos EUA é de alguma forma maior. E o número quase certamente mudou mais a favor da China nos últimos sete anos.

Em termos de impacto na economia mundial, a China representou 14,7 por cento das exportações de bens em 2020. Os Estados Unidos representaram 8,1 por cento. Nos primeiros nove meses do ano passado, a China foi responsável por US$ 90 bilhões em investimentos estrangeiros diretos. Isso se compara a US$ 66 bilhões para os Estados Unidos.

Podemos acumular mais estatísticas, mas categoria após categoria, a China supera os Estados Unidos – e, muitas vezes, por uma margem muito grande. Se as pessoas quiserem colocar seus chapéus de magos e insistir que os EUA ainda são a maior economia do mundo, elas podem fazê-lo, mas o fato comprovável e iniludível é que Donald Trump perdeu a eleição de 2020 e que a economia da China é maior do que a dos Estados Unidos.

E tamanho importa. Não se trata apenas da questão de contar vantagem. A China é claramente um concorrente internacional nos planos econômico, militar e diplomático. Muitas pessoas querem adotar uma abordagem de confronto com a China, com a ideia de que podemos isolar o país e gastá-lo militarmente, como provavelmente fizemos com a União Soviética.

Em seu auge, a economia soviética tinha aproximadamente 60% do tamanho da economia dos Estados Unidos; ora, a economia da China já é 25% maior. E essa diferença está se expandindo rapidamente. A China também está muito mais integrada à economia mundial do que a União Soviética jamais esteve. Isso torna a perspectiva de isolar a China muito mais difícil.

Na prática, não importa se gostamos ou não da China. Ela está aí diante de nossos olhos estupefatos e não está prestes a desaparecer. Precisamos, nós americanos, encontrar maneiras de lidar com a China que não levem a um conflito militar.

Idealmente, encontraríamos áreas onde poderíamos cooperar, por exemplo, compartilhando tecnologia para enfrentar as mudanças climáticas e lidar com pandemias e outras ameaças à saúde. Mas, se alguém quiser seguir a rota da Nova Guerra Fria, deve pelo menos estar ciente dos números. Esta, caras e caros, não será a Guerra Fria de seu avô.

- - -

Tradução: Eleutério F. S. Prado.

Publicado originalmente no portal Counterpunch.

Notas


[1] Incluí Hong Kong e Macau neste cálculo, uma vez que agora ambos fazem efetivamente parte da China.

Craque do jogo

www.brasil247.com - { imgCaption }}
24
Mar23

Pandora Papers: como alta do dólar elevou fortuna de Guedes em paraíso fiscal no exterior

Talis Andrade
(J.Bosco)

Com alta do dólar, investimentos de Guedes no exterior valem R$ 51 milhões

 

Também cresceu a fortuna de Roberto Campos Neto que eleva os juros nas alturas para rechear botijas de dólares que enterrou em paraísos fiscais 
 

 

  • por Camilla Veras Mota e Mariana Schreiber /BBC

 

Em quase três anos à frente do Ministério da Economia, Paulo Guedes deu uma coleção de declarações polêmicas — muitas delas envolvendo o dólar, que ficou quase 40% mais caro desde o início do governo de Jair Bolsonaro.

Algumas dessas frases foram relembradas nas redes sociais pelos brasileiros neste domingo (3/10), quando veículos de imprensa mostraram que Guedes mantém US$ 9,55 milhões nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe.

Os documentos que revelam que o ministro da Economia é dono de uma offshore milionária são parte de um megavazamento de informações que expôs figuras públicas de diversos países, batizado de Pandora Papers.

As reportagens foram feitas no âmbito do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), do qual fazem parte, no Brasil, a revista Piauí, os portais Metrópoles e Poder 360 e a Agência Pública.

Entre as manchetes compartilhadas nas redes sociais, os brasileiros relembraram um episódio de fevereiro de 2020, quando o ministro afirmou que o dólar alto seria positivo porque "empregada doméstica estava indo para a Disney, uma festa danada".

Antes disso, em novembro de 2019, Guedes afirmou, em visita a Washington, que os brasileiros deveriam "se acostumar" com o câmbio mais alto, que seria um reflexo da nova política econômica, com juro de equilíbrio mais baixo. "O dólar está alto? Problema nenhum, zero", disse, na ocasião.

Mais recentemente, em junho, já com o dólar consistentemente acima de R$ 5, o ministro repetiu, em fala na Fiesp, que ele e sua equipe queriam o "juros mais baixos e câmbio de equilíbrio um pouco mais alto".

O dólar hoje representa, indiretamente, uma das principais pressões sobre a inflação, com impacto que vai dos preços de combustíveis aos dos alimentos, passando inclusive pelos produtos fabricados pela indústria nacional, já que muitos usam componentes importados.

 

A valorização da Dreadnoughts International

Para quem tem investimentos no exterior, contudo, o dólar mais caro tem um efeito positivo, já que faz crescer o equivalente em reais das aplicações.

Foi isso o que aconteceu com os recursos mantidos na Dreadnoughts International, a empresa offshore fundada por Guedes em setembro de 2014 nas Ilhas Virgens Britânicas.

A alta do dólar desde 2019 fez com que o patrimônio valorizasse pelo menos R$ 14 milhões. Hoje, o equivalente em reais dos US$ 9,55 milhões aportados na empresa é de R$ 51 milhões.

Como as decisões e declarações do ministro têm impacto direto sobre o mercado de câmbio, muitos especialistas enxergam um conflito de interesses direto entre o cargo público exercido por Paulo Guedes e seu papel como investidor.

As offshores não são ilegais no Brasil, desde que os recursos sejam declarados à Receita. A diferença, neste caso, é o fato de que Guedes é servidor público. O Código de Conduta da Alta Administração Federal proíbe, em seu Artigo 5º, que funcionários do alto escalão mantenham aplicações financeiras passíveis de serem afetadas por políticas governamentais, no Brasil e lá fora.

Em suas manifestações à imprensa, o ministro tem reiterado que cumpriu o que ordena o código de conduta e que, como manda a norma, informou à Comissão de Ética Pública sobre seus negócios no prazo estipulado, até dez dias após assumir o cargo.

 
 
Cambio | BLOG DO AMARILDO . CHARGE CARICATURA

Em 2019, Guedes afirmou que os brasileiros deveriam "se acostumar" com o câmbio mais alto

 

Nesse aspecto, uma outra questão emergiu por meio do Pandora Papers: o caso só foi julgado no último mês de julho, mais de dois anos e meio depois. A Comissão (???) decidiu arquivar sem divulgar suas razões, sob a justificativa de que o caso seria sigiloso por envolver dados sensíveis.

O advogado Wilton Gomes, mestre e doutor pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), considera "absurdo" o período de dois anos que a comissão levou para avaliar o caso do ministro. Para ele, ainda que exista a questão de sigilo, os motivos que embasaram a decisão são uma questão de interesse público e, por isso, deveriam ser discutidos de forma mais transparente. (Quando Fernando Haddad vai deixar a moleza e quebrar de verdade o sigilo de cem anos na sua pasta, imposto por Paulo Guedes. Idem no Banco Central inimigo do povo e do Brasil). 

Sobre o parecer, ele afirma que a redação do Artigo 5º do Código de Conduta é clara para o caso de Guedes.

"O conflito de interesse está instaurado, por mais que não tenha havido ação deliberada para aquela finalidade. Não é preciso comprovar que ele teve alguma atitude que o favorecesse, mas evitar o conflito de interesse."

Assim, para ele, a conduta correta seria que ou o ministro repatriasse os recursos ou, caso decidisse mantê-los no exterior, que se afastasse do cargo.

Depois da repercussão do caso, por meio de nota, a Comissão de Ética Pública da Presidência afirmou que, diferentemente do que dizem as reportagens, a declaração de Guedes foi analisada em maio de 2019 — essas informações, contudo, não constam nas atas e notas disponíveis no site da comissão e às quais a própria nota faz referência.

 

Além da questão do câmbio

O potencial conflito de interesses entre o "Paulo Guedes ministro" e o "Paulo Guedes investidor" vai além do câmbio. Uma questão que pode afetar diretamente seus recursos no exterior é a tributação desses valores. Hoje, os rendimentos que pessoas físicas têm com empresas offshore só são taxados quando há saques desses investimentos.

Em uma proposta enviada pelo Ministério da Economia ao Congresso para alterar a tabela do Imposto de Renda e outros tributos estava previsto que essa cobrança sobre ganhos em offshore fosse feita anualmente, em caso de empresas estabelecidas em paraísos fiscais. Depois, porém, isso foi retirado, em comum acordo entre Guedes e o relator da matéria na Câmara, o deputado Celso Sabino (PSDB-PA).

O parlamentar disse no final de julho que pretendia reincluir a mudança, mas projeto de lei foi aprovado no início de setembro na Câmara sem esse ponto e agora está em análise no Senado. A BBC News Brasil tentou ouvir o deputado por telefone em seu gabinete e no celular, mas ninguém atendeu às ligações.

A proposta de taxar anualmente os ganhos em offshore gerou resistência de setores econômicos que mantêm recursos no exterior. Em evento organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Guedes disse em julho que a ideia foi retirada no Congresso para não complicar a tramitação do projeto de lei.

"O que estiver certo, acertamos aqui com a indústria… 'Ah, não, tem que pegar as offshores e não sei quê'. Começou a complicar? Ou tira ou simplifica. Tira. Estamos seguindo essa regra", afirmou.

"Não vamos botar em risco a retomada do crescimento econômico sustentável, que é o que está acontecendo. Então, quero deixar essa mensagem tranquilizadora. Quero agradecer o apoio de todo mundo que está nos ajudando, levando sugestões, dizendo 'ó, cuidado que isso aqui está errado'", continuou o ministro na ocasião.

A advogada Bianca Xavier, professora de direito tributário da Fundação Getúlio Vargas (FGV), reforça que não há ilegalidade em possuir recursos em uma offshore, desde que os valores sejam declarados à Receita Federal e ao Banco Central (no caso de superarem US$ 1 milhão) e que os tributos sejam pagos corretamente em caso de saques.

 
Pandora Papers: o que megavazamento revela sobre riqueza e negócios  secretos de líderes mundiais - Época Negócios | MundoPandora Papers: o que megavazamento revela sobre riqueza e negócios  secretos de líderes mundiais - Época Negócios | Mundo
 
Pandora Papers: o que megavazamento revela sobre riqueza e negócios secretos de líderes mundiais - Época Negócios | Mundo

Segundo a professora, gerir recursos a partir de uma offshore no exterior, em geral, permite ao investidor pagar menos impostos quando se trata das cobranças sobre a empresa.

Já quando a pessoa saca esses recursos, explica Xavier, ela terá que necessariamente pagar imposto sobre todos os ganhos de rendimento do período.

A vantagem da offshore, ressalta, é que o investidor não precisa pagar esse tributo regularmente, como ocorre no Brasil, mas apenas ao final da aplicação, quando saca. É o chamado diferimento de impostos.

Na sua visão, o ministro não parece estar agindo de modo antiético com relação a seus investimentos em offshore, já que partiu do próprio governo a proposta original de incluir na reforma tributária a taxação anual desses rendimentos. Para ela, é inevitável que o ministro lide com políticas que o afetem diretamente.

"Se for considerar um conflito ético, nenhum ministro da Fazenda poderia falar de Imposto de Renda. Todos nós somos contribuintes. Teria, então, que ser um ministro muito pobre para não ter nenhum tipo de renda. Acho que ele tem que seguir pela impossibilidade", afirma a professora.

No entanto, o ministro pode ser beneficiado por outro ponto desse projeto de lei aprovado na Câmara e que ainda está em análise no Senado. O texto que recebeu o aval dos deputados prevê alíquota reduzida de 6% para quem decidir pagar antecipadamente o imposto sobre bens no exterior incluídos na declaração de Imposto de Renda deste ano (ano base 2020).

A alíquota normal no caso de investimentos em offshore varia de 15% a 27,5%. Ou seja, se isso for aprovado também no Senado e Guedes aderir ao pagamento antecipado, poderia economizar parte do tributo devido.

A justificativa apresentada para essa medida é a necessidade do governo aumentar a arrecadação com a antecipação desse e de outros tributos — o projeto de lei também dá desconto para pagamento antecipado sobre ganho de capital com valorização de imóveis.

Bianca Xavier lembra que a gestão Bolsonaro prometeu atualizar a tabela do Imposto de Renda, o que significa aumentar o número de brasileiros isentos da cobrança e reduzir um pouco os impostos pagos pelos demais.

A antecipação de tributos ajudaria a compensar num primeiro momento essa perda de arrecadação — solução considerada controversa por especialistas, já que a receita menor com a atualização da tabela do Imposto de Renda será permanente.

Presidente do BC também enfrenta questionamentos

À questão tributária, Pedro Rossi, professor do Instituto de Economia da Unicamp, acrescenta o âmbito regulatório. Paulo Guedes é, junto do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, membro do Conselho Monetário Nacional (CMN), que tem autonomia para aprovar uma série de medidas infralegais que também têm impacto sobre investimentos no exterior.

Campos Neto também foi citado no Pandora Papers. Sua offshore, a Cor Assets S.A, ficava situada no Panamá. Diferentemente de Guedes, contudo, ele encerrou as operações da empresa em julho do ano passado — mais de um ano depois de assumir a liderança do BC, contudo.

"São dois personagens da alta elite financeira, pessoas com milhões de dólares lá fora, beneficiados pela liberalização que eles mesmo promovem dentro dessa institucionalidade frouxa que alimenta conflito de interesses", diz o economista.

"Ambos têm influência sobre instrumentos de política cambial, fiscal e monetária, e estão conduzindo hoje o maior processo de liberalização financeira desde 1990", completa Rossi, referindo-se à iniciativa de mercados de capitais, conhecida pela sigla IMK, força-tarefa que visa desenvolver o mercado de capitais no Brasil.

Entre as medidas aprovadas pelo CMN no âmbito do IMK ele destaca a ampliação das operações com derivativos no exterior, algo que, na sua avaliação, vai na contramão das discussões sobre redefinição do papel do Estado e estabelecimento de controles sobre o mercado financeiro após a grande crise de 2008.

"A política fiscal, por exemplo, é mais democrática, passa pelo processo orçamentário, pelo legislativo. Já a política monetária e cambial depende de um conselho [CMN] que lhe dá diretrizes e que não tem representatividade, que toma decisões pouco democráticas e que é pouco transparente."

 
A Gazeta | Por quê?

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, diz que não fez nenhuma remessa de recursos ao exterior depois de assumir o cargo atual e que, desde então, não faz parte da gestão das suas empresas. (Dando uma de comunista, entregou as empresas aos empregados...)

 

Guedes e Campos Neto negam irregularidades

Em nota enviada à BBC News Brasil, a assessoria de Paulo Guedes afirma que as atividades privadas dele anteriores à sua posse como ministro foram informadas aos órgãos competentes.

"Toda a atuação privada do ministro Paulo Guedes, anterior à investidura no cargo de ministro, foi devidamente declarada à Receita Federal, Comissão de Ética Pública e aos demais órgãos competentes, o que inclui a sua participação societária na empresa mencionada", diz trecho da nota enviada. [Quem acredita na Comissão de Ética Pública do governo Bolsonaro? Idem no chefe da Receita Federal que pressionou comandados para liberar contrabando de joias para a primeira-dama Michelle Bolsonaro, hoje no PL Mulher, ao lado de Valdemar da Costa neto?]

A nota disse ainda que a atuação de Guedes "sempre respeitou a legislação aplicável e se pautou pela ética e pela responsabilidade".

Já assessoria de imprensa de Campos Neto enviou nota à BBC News Brasil afirmando que todo o seu patrimônio, no país e no exterior, foi declarado à Comissão de Ética Pública da Presidência da República, Receita Federal e ao Banco Central.[Campos Neto foi indicado presidente do Banco Central por Paulo Guedes, que não tem nada de todo]

A nota diz ainda que Campos Neto não fez nenhuma remessa de recursos ao exterior depois de assumir o Banco Central e que, desde então, não faz parte da gestão das suas empresas. [Publicado in 4 outubro 202. 

 
 
Últimas notícias sobre Roberto Campos Neto | A Gazeta
 
 
Roberto Campos Neto uma pedra no meio do caminho do Brasil tinha uma pedra
 
23
Nov21

O touro dourado e a economia do boi

Talis Andrade

fome zé dassilva bezerro de ouro.jpeg

 

 

A história do capitalismo mostra que moeda nacional forte é desdobramento de economia doméstica forte, não o contrário

 

por Leda Paulani /A Terra É Redonda

No início dos anos 1990, com os ventos neoliberais soprando fortemente por aqui e a alta inflação brasileira quase virando hiperinflação, o governo Fernando Collor/Itamar Franco, sob o comando econômico de Fernando Henrique Cardoso (FHC), resolveu que, junto com a transformação do Estado em Judas a ser malhado não só no sábado de aleluia, seria bom pegar carona na estabilização monetária que o Plano Real prometia e transformar o Brasil em “potência financeira emergente”. FHC, tornado presidente, foi o padroeiro da proposta.

Três décadas depois, o touro de isopor (mau gosto estético à parte) postado à frente da B3, no desolador centro de São Paulo, em meio à economia catatônica, à desvalorização descontrolada da moeda nacional, ao ressurgimento do fantasma inflacionário e a mais de 100 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar, coloca-se como o símbolo irretocável do fracasso daquele projeto. O artista que assina a obra atirou no que viu e acertou no que não viu.

São camadas de contradições que se escoram no corpo do animal, que buscou reproduzir o ícone plantado em Wall Street, a Meca do capital financeiro. O ouro que o faz brilhar, fulgindo poder e vigor, é só o véu que encobre o frágil interior de isopor. Os bilhões negociados dia-a-dia nas bolsas do velho prédio da rua 15 de Novembro contrastam com o cenário urbano degradado e com as intervenções que rapidamente apareceram, estampando no objeto: “Fome”, “taxar os ricos”… e não devem parar por aí.

A história do desenvolvimento capitalista mostra que uma moeda nacional forte é o desdobramento necessário de uma economia doméstica forte. No século XIX, a Inglaterra impôs a libra (e o padrão-ouro) a todo o mundo capitalista pela fo               rça e dinamismo tecnológico de sua economia. Ao final da Segunda Guerra, na conferência de Bretton Woods, os Estados Unidos impuseram o dólar como padrão monetário internacional graças à pujança de sua gigante economia, beneficiada pela própria guerra.

Os planejadores brasileiros dos anos 1990 resolveram inverter a equação e parir uma economia forte de uma moeda “forte”. Para o regozijo de seus patrocinadores, o Real nasceu valendo mais que o dólar, mais exatamente US$ 1,149. Hoje vale US$ 0,178 e a economia forte ficou na promessa. A “potência financeira emergente” e o protagonismo do capital financeiro produziram uma moeda forte de fancaria, que arruinou a economia brasileira e botou o país nas piores posições na divisão internacional do trabalho.

Hoje somos pagadores de renda de todos os tipos e produtores de bens da indústria extrativa, que detonam nossas riquezas naturais, e de bens do agronegócio, de baixo valor agregado e alto valor de destruição ambiental. O boi é um dos protagonistas dessa decadência sem apogeu e pode se associar à moeda forte como símbolo do que nos tornamos. Quase um século depois, voltamos à situação completamente subalterna pré-1930, e isto em plena era da evolução irrefreável da indústria 4.0, que se desenvolve a uma velocidade estonteante.

Os governos democráticos e populares que passaram por aqui neste meio tempo não foram determinados o suficiente para quebrar o círculo absolutamente vicioso da poupança externa no qual nos meteu a economia da moeda forte. Tentaram e conseguiram, numa velocidade surpreendente, melhorar a distribuição da renda. Não mexeram, porém, nos mecanismos mais profundos que reproduzem uma distribuição ainda mais desigual de riqueza e continuaram a desenvolver socialmente o país sob os mesmos marcos institucionais do poder, do benefício e do protagonismo do capital financeiro.

Nos primeiros anos da década de 2010, apesar do relativo sucesso inicial em enfrentar a crise financeira internacional de 2008, suas consequências começaram a deitar por terra as conquistas sociais obtidas. Em plena ascensão da extrema-direita no mundo, ao bulício econômico seguiu-se a inquietação política e acabou no golpe de 2016, numa dose ainda mais envenenada da política da moeda forte e do boi e, finalmente, no bolsonarismo que nos assola.

Por razões até agora um tanto obscuras, mas que fortunas em paraísos fiscais talvez ajudem a explicar, o Banco Central, numa reviravolta espetacular, executou, a partir de maio de 2020, uma manobra estranha à cartilha que até então pautava a condução da política monetária e derrubou as taxas de juros a níveis incompatíveis com a inflação esperada e o risco-país. Mais que isso, manteve tal postura, mesmo com os arranques de preços de alimentos, energia e combustíveis, que foram ficando cada vez mais evidentes. A desvalorização superlativa do câmbio foi o resultado inexorável. O prolongado soluço terminou em maio deste ano e a política monetária vai voltando a passos rápidos ao seu curso de sempre.

No contexto ora vivenciado, com a economia prostrada pela crise – que já dura sete anos –, agravada pela pandemia, os eventuais benefícios dessa “correção” inusitada da taxa de câmbio foram completamente superados por seus desdobramentos no plano da inflação, que é maior, lembre-se, no grupo dos alimentos, atingindo com força total as famílias que têm aí o gasto maior de sua parca renda. A situação vem gerando miséria e desespero num país com mais de 30 milhões de desocupados (desempregados, desalentados e subutilizados, numa população economicamente ativa de cerca de 100 milhões).

As famílias mais pobres (sustentadas em 2020 pelo auxílio emergencial) vão perdendo a condição mínima de vida, deixando de ter um teto, pois não conseguem mais pagar o aluguel e saem povoando as grandes cidades brasileiras com suas barracas, convertendo muitas das vias públicas em espaços que não ficam nada a dever a campos de refugiados… refugiados que são da guerra que lhes move o Estado teocrático, dirigido por fundamentalistas de mercado.

Enquanto isso, a economia do boi se beneficia agora não só da alta mundial dos preços das commodities, mas também do preço inflacionado da verdadeira moeda forte, e sem pagar um centavo a mais de imposto por isso. A economia do boi alimenta parte expressiva do mundo enquanto produz internamente desesperança, penúria e fome.

A simples volta da política monetária ao seu curso usual desmanchará os malfeitos? Difícil dizer que sim. Combinada com a manutenção do teto de gastos, a elevação abrupta da taxa de juros (tudo indica que vai aumentar muito de velocidade até medos do próximo ano) desestimulará ainda mais o investimento privado e, com os investimentos públicos inviabilizados, afundará de vez a economia em seu estado de letargia e junto com ela o número de empregos.

Ao mesmo tempo a manutenção da instabilidade política recorrentemente produzida pelo próprio governo, sobretudo em ano eleitoral, tornará ínfimos os ganhos em termos de redução da taxa de câmbio e, portanto, do comportamento da inflação – que evidentemente não é inflação de demanda, mas inflação derivada de choques de preços, com destaque para o preço da divisa, resultante da genocida política econômica de Guedes-Bolsonaro.

Tudo isso indica que a política da moeda forte, que resultou na política do boi, erigiu o touro dourado da rua 15 de Novembro: reluzente por fora e oco por dentro. Reluzente porque o ouro dos bilhões negociados dia-a-dia no mercado financeiro continua a dar as cartas e a produzir bilionários rentistas (vide as descaradas conversas de nossas autoridades monetárias, em tempos de BC “independente”, com banqueiros e outros personagens macabros do mundo financeiro).

Oco por dentro, porque, graças à moeda “forte”, que se manteve indevidamente apreciada por longuíssimos períodos, essa política atuou como praga a devastar o tecido produtivo do país. Agora, que nem sequer na aparência reluz mais, ficamos mesmo só com a economia do boi, e, mesmo assim, até que chineses e europeus percam de vez a paciência com a ruína ambiental que produz.

Quem paga o preço do contínuo desacerto nacional – preço, diga-se, cada vez mais elevado – é o povo brasileiro… mas quem se importa? Constituído em sua maioria por pobres e negros, sempre foi visto como fator de produção descartável, com cuja reprodução os mandatários do poder e da acumulação capitalista nunca tiveram que se preocupar. Sem elogio aqui àquele ritual bárbaro, trata-se de uma espécie de farra do boi às avessas, em que a população é perseguida e massacrada pelas consequências de uma política que, pretendendo produzir economia forte por meio de moeda forte, produziu mesmo foi um boi cada vez mais feroz.

Image

19
Nov21

Guedes: dólar nas alturas ‘é bom para o Brasil’

Talis Andrade

dorinho dolar paulo guedes.jpg

 

 

Dólar sobe e Guedes fica mais rico

 

por Fernando Brito

O dólar fechou ontem na sua quarta alta seguida e chegou, de novo, a quase R$ 5,57.

E, se depender de Paulo Guedes vai ficar assim porque, diz ele, “dólar alto estimula investimentos no país“.

Quer tradução? É que os estrangeiros podem comprar tudo baratinho aqui.

A contrapartida, claro, é o aumento enlouquecido de tudo o que o preço, aqui, depende do dólar, seja porque é importado, seja porque o preço interno sobe puxado pelo ganho com a exportação. Da gasolina ao óleo de soja, passando por quase tudo, está aí a realidade que qualquer um percebe quando vai comprar, se ainda pode, o que precisa.

O dólar está escancaradamente sobre valorizado – quem lembra do “se fizermos muita besteira, o dólar vai a R$ 5? – e, ao que parece, a depender de Guedes, continuará assim.

No seu estranho raciocínio, “o dólar está lá em cima ainda por causa da barulheira [política] infernal”. Mas, para ele, isso seria bom para atrair investidores.

Não tem problema, quem entrar agora [investir no país agora] tem uma margem adicional de ganho. Além do que vai ganhar no projeto em si, [a empresa] está entrando com um dólar favorável, que está acima da taxa de equilíbrio”.

Nenhuma empresa funciona assim, ministro, a não ser para investimentos especulativos ou para comprar ativos a preço de banana.

Mas a carestia que apavora e faz sofrer o povo brasileiro vai muito bem neste ambiente de dólar nas alturas.

Aliás, as offshores no Caribe, também, estão fazendo aumentar o valor em reais de quem mandou dinheiro para fora…

PAULO GUEDES -BALOES- DOLAR-PGN-PUBLICAR.png

 

24
Out21

Os miseráveis

Talis Andrade

 

fome jornalismo_khalid_albaih.jpg

 

por Gustavo Krause

O furto famélico cometido por Rosângela – macarrão, suco e leite – revela que a fome dos milhões de miseráveis é uma afronta à dignidade humana e uma ameaça à estabilidade social.

Enquanto isso, 400 reais de esmola populista “implode” o orçamento bilionário, a bolsa cai, o dólar sobe, mercado dá chiliques e, no mundo real, a fome aumenta.

Devo aos meus pais o saudável hábito da leitura. Minha mãe, exímia contadora de histórias infantis, adorava literatura o que nos proporcionou certa intimidade com Jules Verne, o Tesouro da Juventude, Alexandre Dumas, Monteiro Lobato, o inesquecível Tico-Tico, a paixão por Castro Alves, e se divertia com a crítica social de Machado, até porque fortalecia suas inclinações rebeldes e libertárias.

Aos treze anos, um presente – Os Miseráveis – de Victor-Marie Hugo (1802-1885) com a recomendação: – leia, releia, além dos dotes literários, o autor foi um ativista dos direitos humanos na França. Nele, você encontrará os mais belos gestos de grandeza e vileza humanas.

De fato, o personagem central, Jean Valjean, furtou um pão para alimentar a irmã e sete sobrinhos. Preso, cumpriu pena de 19 anos de trabalhos forçados. Livre, ninguém deu emprego e abrigo ao ex-condenado, à exceção do benevolente Bispo Bienvenu.

Ao amanhecer, o Bispo deu por falta da prataria e do acolhido; a polícia prendeu e o levou à presença do Prelado para comprovar a alegação do refugiado: recebera a prataria como presente. O Bispo disse: “Meu filho, você esqueceu estes dois castiçais”. Ganhou a liberdade banhada de generosidade e compaixão, revestidas da grande virtude da misericórdia: não apaga a ofensa, mas perdoa e regenera. “Use a prata para fazer o Bem”, aconselhou o sacerdote.

O personagem enriqueceu, tornou-se poderoso e misericordioso a vida inteira. Mas era um refugiado e, apesar de assumir nova identidade, não se livrou do implacável Javert, inspetor de polícia, que, ao final, entre prender a grandeza do homem que lhe salvara a vida, preferiu sacrificar-se no Sena.

No Brasil, os miseráveis (pessoas abaixo da linha de pobreza) variam de acordo com o critério de medição: 27, 14, 10 milhões, 12% da população, qualquer escala é uma tragédia humana.

Para enfrentar, não bastam políticas públicas. Trata-se de um pecado social que todos, separados por uma desigualdade brutal, carregam nas costas. A responsabilidade é imperativo ético de todos. A indiferença aos “invisíveis”, um colapso dos sentimentos humanos

Sem julgamento de mérito, o episódio em que a famélica Rosângela Melo furtou macarrão, suco e leite para os filhos, revela que estômago vazio ultrapassa o mínimo da dignidade humana e põe em risco a estabilidade social.

Uma sociedade em que laços de solidariedade estão esgarçados; afeto e compaixão cedem lugar ao ódio; desfalece a força redentora da fraternidade.

Manchetes: a bolsa cai, o dólar sobe. Faltou: a fome aumenta.

fome quem inventou a fome .jpeg

 

08
Out21

Escala “F” verde e amarela? Bolsonaro e a propaganda fascista

Talis Andrade

fascismo .jpg

 

 

Ouvimos constantemente por aí: “Bolsonaro é doente”, “Bolsonaro é louco”, mas na verdade ele nada mais faz do que estabelecer um acordo com seus seguidores a partir do exagero e da explicitação daquilo que estava presente de forma subterrânea no corpo social.

 
 

por Bruna Della Torre /Boitempo

“Pensando bem, eu poderia derivar o fascismo das recordações da minha infância. Como um conquistador nas províncias mais afastadas, ele enviara para lá os seus mensageiros muito antes de ocupar o território: meus colegas de escola. […] eu reconheci cada um deles nos traços da ditadura de Hitler.”
Theodor W. Adorno, Minima Moralia

Neste 7 de setembro, Bolsonaro conseguiu colocar centenas de milhares de pessoas nas ruas. Sua base mostrou sede de destruição e deixou evidente o caráter golpista de suas reivindicações. Quem estava na rua de verde e amarelo no dia 7 clamava por um regime militar, pelo fechamento do STF, do Congresso e da imprensa. Quanto mais as pesquisas de intenção de voto indicam um esgarçamento da popularidade de Bolsonaro, mais se radicalizam seus apoiadores. Mas Bolsonaro recuou. Não sabemos ainda ao certo por que e, seja a razão qual for, esse movimento quase lhe custou a adesão de um componente de sua própria base. Há aqui um fato inusitado, presente ao longo de seu mandato, e incrementado pelos acontecimentos recentes: há uma parcela da população para a qual nem mesmo Bolsonaro é autoritário o suficiente. Apesar das 600 mil mortes causadas pela política negacionista do governo em relação à pandemia da covid-19, de mais de 14 milhões de desempregados no Brasil, da crise econômica e da inflação, as manifestações bolsonaristas do dia 7 foram as maiores desde aquelas que defenderam o golpe que derrubou a presidente Dilma Rousseff em 2016.

Muita gente viu no dia 7 mais fumaça do que fogo, defendeu que a onda bolsonarista de 2018 chegou ao fim e retomou a certeza de que Bolsonaro não dará um golpe e que podemos seguir confiantes para derrotar eleitoralmente a extrema-direita em 2022. Suponhamos que essa análise seja correta. Ainda assim, resta um problema que não podemos ignorar: como Bolsonaro foi parar no Palácio do Planalto e como ele sustenta uma base, não tão pequena assim, com disposição violenta para segui-lo numa aventura golpista? Essa não é uma questão menor para um plano de longo prazo à esquerda. Bolsonaro ainda é presidente e, mesmo que ele não consiga dar um golpe no próximo ano, descobrimos desde 2016 que a democracia brasileira é mais frágil do que gostaríamos de acreditar. O que acontecerá se um candidato de extrema-direita mais hábil que Bolsonaro surgir nos próximos meses ou anos?

Em sua palestra sobre os “Aspectos do novo radicalismo de direita”, ministrada em 1967 na Áustria, Adorno discutia como “o fascismo é uma ferida da democracia”, uma ferida que pode estar mais ou menos aberta dependendo do contexto social e político em que nos encontramos, dependendo, por exemplo, do estado da luta de classes e da força política da esquerda num determinado momento. Por um lado, é certo que o que se convencionou chamar “bolsonarismo” não surgiu do nada. O machismo, o racismo, a LGBTQIA+fobia, o caráter antipopular, o reacionarismo, o fanatismo religioso e o anticomunismo já eram elementos presentes em nossa sociedade antes de Bolsonaro. Ou seja, esses elementos, que poderiam estar presentes numa “escala F verde e amarela”, são objetivos e socialmente produzidos. Por outro lado, Bolsonaro funcionou como uma espécie de “catalisador” dessas tendências subterrâneas (ou nem tanto) no corpo social. E esse efeito de ebulição social não ocorreu “naturalmente”, mas foi encomendado pela extrema-direita a um setor do mercado que se especializou em manipular eleições e destruir democracias. A seguir, proponho algumas reflexões, que não se pretendem de forma alguma definitivas, a respeito desses dois elementos acima descritos.

 

Bolsonarismo sem Bolsonaro

O fascismo só se realiza enquanto movimento organizado. Mas essa organização só é possível a partir de elementos presentes no próprio corpo social. Seria de um economicismo míope ou de idealismo ingênuo acreditar que a ascensão do fascismo pode ser compreendida apenas a partir de fatores econômicos, no sentido imediato do termo, ou pela pura e simples manipulação midiática. Uma das lições da Escola de Frankfurt é a de que para alcançar uma explicação sociológica e crítica do fascismo é preciso ir além de análises conjunturais centradas apenas na relação entre as classes sociais e nos agentes políticos partidários. Isso não significa abandonar esse tipo de análise ou dar uma explicação psicológica para o fascismo. Ao contrário, trata-se de incluir a própria subjetividade na análise das formas sociais capitalistas.

Algumas questões que podemos levantar, nesse sentido, são: como explicar que o ressentimento econômico se apresenta sob a forma do antissemitismo, da xenofobia, do racismo? Se as pessoas são manipuladas pela grande mídia, por que e como isso ocorre? O que o fascismo é capaz de oferecer às pessoas para que elas se engajem e encontrem um gozo enorme em sua própria destruição? O que Bolsonaro oferece às classes médias que estavam na Paulista e em Brasília no dia 7 de setembro que compensa as perdas que sem dúvida estas tiveram com o aumento da gasolina, do dólar, de itens alimentícios, entre outros? O que fomenta essa pulsão autodestrutiva que fez com que uma parcela do país estivesse disposta, por negacionismo e não por necessidade, a sacrificar a sua vida expondo-se ao vírus, a tomar remédios não indicados, a injetar ozônio em orifícios inusitados?

Em seus cursos na Alemanha do pós-guerra, Adorno pedia aos seus alunos e alunas que fizessem o exercício de construir uma “escala F”, a escala que, nos estudos sobre o preconceito realizados nos Estados Unidos na década de 1940, servia como referência para a investigação do fascismo. A ideia era que essa escala fosse pensada a partir do contexto social, político e cultural alemão daquele período. Uma maneira de se fazer isso poderia ser investigar a propaganda da extrema-direita, pois a agitação fascista pressiona pontos específicos da chamada “personalidade autoritária”. Isso ocorre porque haveria uma homologia entre emissor e receptor comprovada pelo sucesso dessa propaganda.

Observando os discursos de Bolsonaro e a agitação promovida pelas redes sociais que o apoiam, é possível notar uma série de questões recorrentes que estruturam sua propaganda. Não vale a pena repetir as frases criminosas de Bolsonaro e de seus youtubers incels, mas vale levantar alguns pontos. Ganham destaque: a defesa da “família tradicional” acompanhada de misoginia e da exaltação de uma masculinidade de churrascaria; a difamação de qualquer ideia de direito reprodutivo; o ódio contra a esquerda, na qual estão inclusos os comportamentos de gênero e sexuais “desviantes”; o elogio à tortura; o ressentimento enorme em relação à universidade e às pessoas instruídas; a transformação da doutrina cristã em slogans de violência; um nacionalismo preenchido com amor aos Estados Unidos.

Mas, conforme ressaltado anteriormente, Bolsonaro não inventou nada disso.

Seria possível, por exemplo, investigar as tendências fascistas no Brasil apenas a partir do repertório de piadas de classe média nas décadas de 1980 e 1990 e já se teria um prato cheio. O ódio aos pobres, às mulheres, negros e à população LGBTQIA+ ocupava uma grande parte da programação de humor da TV aberta nesse período. Se fizéssemos como Adorno em Minima Moralia e rastreássemos o fascismo nas nossas experiências mais longínquas e mais pessoais, certamente encontraríamos essa “disposição para o medo” que o fascismo impõe nos espaços e situações mais surpreendentes e reconheceríamos que aquilo que Bolsonaro representa já estava presente em incontáveis momentos da vida.

As condições objetivas para Bolsonaro certamente estavam dadas, pois a violência é parte da vivência do capitalismo e o fascismo não é o “totalmente outro” do capitalismo, ao contrário, ele nasce das entranhas de suas contradições. Para além da brutal divisão das classes, o Brasil é um dos países mais machistas do mundo, com índices de violência contra a mulher e à população trans que lhe garante as primeiras posições nos rankings internacionais. Enquanto alguns países da América Latina e central descriminalizam o aborto, muitas mulheres por aqui têm que pedir autorização do marido para implantar um DIU. O encarceramento em massa e a desigualdade econômica de base racial, isso para ressaltar apenas dois elementos, fazem do país o que os cientistas sociais gostam de chamar de case mundial. A bandeira monarquista do império presente nos protestos, aliás, pode indicar a reivindicação de uma herança supremacista branca e colonialista na base desses movimentos. Seriam essas questões menores? Identitárias, como alguns ainda insistem em dizer? Seria a luta contra o antissemitismo na Alemanha da década de 1930 uma luta particularista?

Além disso, o Brasil não acertou as contas com o fascismo de Estado do passado, este não foi vencido no imaginário político da sociedade brasileira. Uma parte da população não sabe o que foi a ditadura militar. Outra romantiza aqueles anos como um tempo de ordem, progresso e segurança – elementos extremamente apelativos numa realidade neoliberal e de precarização profunda do trabalho e da vida. Não é fortuito que o discurso punitivista atravesse as classes no Brasil. Não são só as classes médias e altas que se regozijam assistindo vídeos de uma pessoa sendo eletrocutada nos fundos de um supermercado por ter roubado um chocolate. Bolsonaro sabe mobilizar muito bem o ressentimento daqueles que trabalham, passam necessidade, mas não roubam e permanecem sujeitos à violência de seus vizinhos. Um ressentimento que é objetivamente produzido. O discurso do armamento e da punição dos “bandidos” é uma das maiores forças da propaganda bolsonarista.

Por isso, Adorno dizia que “o agitador fascista é usualmente um exímio vendedor de seus próprios defeitos psicológicos” (ADORNO, 2015, p. 144) e que “o líder pode adivinhar as demandas e necessidades psicológicas daqueles suscetíveis à sua propaganda, porque os reflete psicologicamente e deles se distingue por uma capacidade de exprimir, sem inibições, o que neles é latente” (ADORNO, 2015, p. 181). Ouvimos constantemente por aí: “Bolsonaro é doente”, “Bolsonaro é louco”, mas na verdade ele nada mais faz do que estabelecer um acordo com seus seguidores a partir do exagero e da explicitação daquilo que estava presente de forma subterrânea no corpo social. Ele é visto como corajoso pois diz aquilo que todo mundo pensa, mas não pode ou não consegue confessar.

O governo de Bolsonaro sem dúvida é baseado numa grande aliança de uma parte do capital financeiro com milícias, agronegócio, igrejas evangélicas, entre outros. Não há dúvida de que há interesses materiais em jogo. Mas o fascismo se implanta organizando ressentimentos difusos no corpo social, direcionando insatisfações, explorando o desejo de mudança, prometendo vingança contra quem se recusa a aceitar toda a renúncia exigida para sobreviver nesse mundo fechado da família, do trabalho, da religião – como disse Adorno (2015, p. 202) “numa sociedade não livre, a liberdade sexual é tão pouco concebível quanto qualquer outra”. Por isso, é imanente à dinâmica do fascismo a criação de “bodes expiatórios”. Trata-se do elemento ritual que faz parte da defesa do sacrifício de indivíduos ou grupos em nome da salvação do todo. A sua propaganda aponta para quem são os escolhidos.

Por outro lado…

fascismo .jpg

 

A internacional fascista e a máquina de propaganda

Todos esses elementos latentes no corpo social não teriam se transformado nessa onda de irracionalidade, violência e destrutividade que invadiu o país sem um líder, um forte aparato de propaganda e, claro, uma ou várias burguesias dispostas a financiar o colapso. Por isso, alerta Adorno, o fascismo precisa ser compreendido como “irracionalidade racionalmente aplicada” (2015, p. 143).

É sabido que um dos organizadores das manifestações de extrema-direita de 2015, o Movimento Brasil Livre (MBL) foi financiado pelos irmãos Koch, entusiastas da indústria armamentista e de institutos conservadores que combatam os direitos trabalhistas e a espoliação total do meio ambiente. E esse foi apenas o começo. Em diversos círculos, discute-se hoje uma “internacional conservadora”. O escândalo da empresa Cambridge Analytica, que mineirou dados do Facebook para manipular dezenas de eleições no mundo inteiro, os vazamentos mais recentes do site Wikileaks (“The intolerance network”) que revelou o financiamento de organizações de extrema-direita como o CitizenGo por grandes corporações, as visitas de deputados do partido neonazista AfD como Waldemar Herdt e Beatrix von Storch ao Brasil, a relação dos Bolsonaro com Jason Miller e Steve Bannon, estrategistas da campanha de Donald Trump, entre diversos outros elementos, mostram como essa onda fascista que busca tomar conta do mundo criou um forte aparato de propaganda, ligado às redes sociais, internacionalizado e financiado pelo grande capital. Há aí um fato curioso: uma rede internacional que fomenta o nacionalismo – o que só revela o caráter de engodo do último.

A função desse aparato de propaganda consiste justamente em produzir um efeito catalisador de tendências difusas no corpo social e, com isso, desestabilizar a política no mundo inteiro. Por isso, o que se chama de fake news é muito mais do que um fenômeno de espraiamento de notícias falsas que busca “desorientar” as pessoas. Trata-se também de insuflar aqueles pontos da “personalidade autoritária” comentados acima. Essa máquina de propaganda é a substância do bolsonarismo. Não é fortuito que seus conflitos com o STF atualmente, que atraíram todas aquelas pessoas no dia 7 de setembro, estejam diretamente ligados a essas questões: prisões de bolsonaristas com discursos antidemocráticos nas redes, inquérito das fake news, proibição do financiamento de youtubers etc.

Chamo a atenção para esses elementos para mostrar como aquilo que se convencionou chamar de bolsonarismo e que se revela pela sua propaganda – elementos que certamente deveriam ser levados em conta na composição de uma “escala F” brasileira – já estava anunciados antes de Bolsonaro. Isso não significa afirmar, como querem alguns críticos desse tipo de debate, que “tudo é fascismo”, mas ressaltar que derrotar o fascismo no Brasil não se resume à tarefa urgente de tirar Bolsonaro da presidência. É para ontem o debate a respeito das redes sociais, que são a infraestrutura do movimento fascista no mundo inteiro. Combater as fissuras sociais e subjetivas a partir das quais o fascismo se implanta não é uma tarefa fácil, mas também precisa estar na ordem do dia de qualquer programa de esquerda que se disponha a cumprir a vocação civilizatória que lhe cabe.

Por fim, vale ressaltar que muitos analistas ainda se recusam a reconhecer abertamente o que estamos vivenciando hoje no Brasil é um movimento fascista e que Bolsonaro é um representante desse tipo de política. O fascismo não deve vencer para que só então seja digno de ser nomeado. Precisamos diferenciar o fascismo enquanto um evento histórico temporal e geograficamente localizado e enquanto um fenômeno social mais amplo, teorizado por diversas correntes marxistas. Isso significa pensá-lo para além de sua configuração empírica passada. A questão da nomenclatura não é um problema menor. Como dizia Freud, ceder nas palavras é ceder também nas coisas – e nós já cedemos demais.

Referências bibliográficas
ADORNO, T. W. Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015.
ADORNO, T. W.; FRENKEL-BRUNSWIK, E.; LEVINSON, D. J.; SANFORD, R. N. The Authoritarian Personality. New York: Harper and Brothers, 1950.

terror fascismo .jpg

 

17
Set20

Educação para a obediência

Talis Andrade

 

Na fala sofista de Bolsonaro em Sete de Setembro comprova-se toda propaganda ideológica com a qual ele está comprometido desde o primeiro dia do seu mandato

 

Por ALEXANDRE ARAGÃO DE ALBUQUERQUE

Tudo ainda é tal e qual ao passado não remoto dos tempos ditatoriais vividos nos 20 anos a partir de 1964. Temos uma elite que se arvora sobre o povo brasileiro, sugando-lhe sangue e suor, para obter lucros infinitamente, como apregoa o neoliberalismo. O dólar custa hoje R$5,40 no Brasil (cinco reais e quarenta centavos), fazendo a festa de exportadores e especuladores financeiros que têm posições em moeda estadunidense, forçando a alta dos preços da produção interna, dilacerando o bolso das famílias de trabalhadores e trabalhadoras brasileiras que veem o custo de vida disparar, principalmente os gêneros de primeira necessidade.

Nos dois últimos anos do primeiro governo Dilma Rousseff (2011-2014), período no qual ela teve condições efetivas de realizar seu plano administrativo federal, uma vez que em 2015 foi dada a largada do golpe híbrido pelas mãos de Eduardo Cunha, que a retirou do poder, a posição do dólar era a seguinte: em 31/12/2013 um dólar estadunidense custava R$2,34 (dois reais e trinta e quatro centavos); em 31/12/2014 o valor correspondia a R$2,65 (dois reais de sessenta e cinco centavos), uma variação anual da ordem de 13,24%. Essa variação foi suficiente o bastante para os articulares do Golpe deflagrarem uma orquestrada sequência de agitações sociais (também chamadas “primaveras” na literatura política especializada em golpes híbridos) de diversos protestos de rua reclamando da alta da cotação da moeda americana que estava impedindo a classe média de viajar a Miami (EUA). O salário mínimo em 2014 valia R$724,00 (setecentos e vinte e quatro reais), ou seja, algo em torno de $275 dólares.

Hoje, na pátria bolsonarista, o valor do salário mínimo é de R$1.045,00 (um mil e quarenta e cinco reais) e a moeda americana está cotada a R$5,40 (cinco reais e quarenta centavos). Consequentemente, um salário mínimo equivale a $193,00 (cento e noventa e três) dólares, mas, inexplicavelmente, não se vê ninguém na rua pedido a queda deste governo. Ou seja, seis anos depois, o trabalhador e a trabalhadora brasileira em vez de auferir um ganho no seu poder de compra, sofre uma enorme perda mensal da ordem $82 (oitenta e dois dólares) dólares representando $984 (novecentos e oitenta e quatro) dólares – a menos – em um ano, ou seja, R$5.313.60 (cinco mil, trezentos e treze reais e sessenta centavos) retirados dos bolsos de cada trabalhador para ir para os bolsos dos patrões. Por isso Guedes sorri tanto, o plano neoliberal dele de “ganhar dinheiro com os grandes”, como afirmou na reunião ministerial dos palavrões em 22 de abril, está dando certo.

Uma das centralidades do Estado hobbesiano, como vimos em nosso artigo passado, é conceber o Poder como a Força capaz de estabelecer o controle sobre os Preços de modo que sejam vantajosos para os detentores do Poder. Para manter essa condição (status quo), o Poder precisa constantemente adquirir mais Poder, ampliando constantemente sua autoridade sobre os governados. Dessa forma, o projeto de Estado hobbesiano desenvolve um estratagema para a contenção das liberdades humanas buscando limitar sua capacidade de pensamento crítico, político, filosófico, imaginativo e criativo por meio do desenvolvimento de um amplo mecanismo desenvolvedor de pedagogias para obediência. Ou seja, as ações dos súditos devem ser todas reguladas pelo Estado de modo que a conduta dos humanos sejam todas limitadas e previsíveis, a partir da concepção de uma liberdade considerada sempre em termos restritivos. Portanto, uma espécie de domesticação que desenvolva personalidades obedientes ao Estado e a Deus. O Estado hobbesiano é concebido pelo filósofo como uma grande reunião de poucas famílias patriarcais cujo pai tem o poder de vida e de morte sobre todos os familiares e servos. Sendo assim, Religião e Meios de Comunicação configuram-se como grandes armas de controle das paixões humanas para a implantação e manutenção deste tipo de Estado autoritário.

Na fala sofista de Bolsonaro em Sete de Setembro comprova-se toda propaganda ideológica com a qual ele está comprometido desde o primeiro dia do seu mandato, apresentando um quadro não-histórico e não conceitual, voltado apenas para provocar o equívoco, como bem lembra Platão em sua obra Fedro. Bolsonaro afirmou que com a Independência o Brasil passou a ser um país de iguais. Esqueceu de dizer, entre tantos fatos, que era no mundo a pátria que mais realizava o comércio de homens e mulheres pretas no sistema escravista ocidental.

Entre outras imagens sua fala conteve categorias da ideologia do verde amarelismo a qual não admite a existência do conflito na sociedade brasileira. Um país ideal e ruralista. Uma nação, segundo ele, “temente a Deus (temor, portanto), que respeita a família (patriarcal) e ama a Pátria (como nos tempos de Médici: Brasil ame-o ou deixe-o)”. Como se sabe, Pátria tem origem no vocábulo Pater. É um termo que evoca fidelidade, uma forte e afetiva carga sacro-familiar bem ao modo de Hobbes, para quem a obrigação de mulher, filhos e filhas para com o Pater (pai) deriva do direito deste não tê-los matado no nascimento. Ou seja, o Pater tem o Poder de vida e de morte sobre sua família. Esse discurso de Bolsonaro fez lembrar também “a vara” o vídeo do ministro-pastor da educação ensinando seus fiéis – pais e mães – a usarem a vara na educação de seus filhos e filhas. Tudo ainda é tal e qual.

 

 

 

12
Mar20

Dólar ultrapassa R$ 5 e petistas cobram medidas do governo

Talis Andrade

dorinho dolar paulo guedes.jpg

 

 

Dólar bate novo recorde e ultrapassa a barreira dos R$ 5. Na manhã desta quinta-feira (12), o dólar comercial chegou a R$ 5,027 com desvalorização recorde do real. A disparada aconteceu apesar do anúncio do Banco Central de leilão de venda à vista de até US$ 2,5 bilhões para esta manhã, cancelando o anúncio de venda de até US$ 1,5 bilhão feito no dia anterior.

Os deputados da Bancada do PT na Câmara usaram suas redes sociais para cobrar medidas do governo de Jair Bolsonaro. “Dólar chegou a 5 reais pela primeira vez na nossa história. Ao invés de pensar ‘quanto pior melhor’, prefiro cobrar os responsáveis por nossa política econômica. E agora, Guedes?”, questionou a deputada Professora Rosa Neide (PT-MT).

A deputada Luizianne Lins (PT-CE) destacou o impacto que a alta do dólar causa na vida do consumidor brasileiro. “Recorde histórico no caos econômico, social e político protagonizado por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Dólar atinge 5 reais e acumula alta de 22% só em 2019. Para nós, consumidores, produtos com insumos importados estão cada vez mais caros”.

Indo na mesma linha, o deputado Airton Faleiro (PT-PA) relaciona outros impactos. “Dólar alto é problema só de rico? De quem viaja para o exterior? Você que pensa assim está sendo enganado. Até o seu pãozinho do dia a dia é afetado pela alta da moeda. O medicamento que você usa é afetado pela alta. Dólar alto só é bom para especulador. Para você, nós, é péssimo”.

“Dólar ultrapassa R$ 5, e Bolsonaro e Guedes parecem não saber o que fazer para enfrentar a crise. Só conseguem pensar em torrar as reservas para tentar conter a alta da moeda norte-americana, o que não tem se mostrado muito eficiente”, escreveu o deputado Henrique Fontana (PT-RS) em seu Twitter.

É só tirar o “Petê”

PTCOSE bolsonaro x lula.jpg

 

Parlamentares recuperaram tuites antigos da direita. O deputado Joseildo Ramos (PT- BA) perguntou para Eduardo Bolsonaro se já poderia comprar dólar. E ironizou: “Diziam que era só tirar a Dilma… Depois disseram que isso só aconteceria se o Haddad fosse eleito. Ora, ora”.

“Dólar bate R$ 5 pela primeira vez na história! Mas eles disseram que seria Haddad que faria um estrago. Enquanto isso, nada de coreografias e panelas batendo. Vão continuar fazendo arminha com a mão?”, indagou o deputado José Guimarães (PT-CE), líder da Minoria na Câmara.

O deputado Nilto Tatto (PT-SP) escreveu para a ex-presidenta Dilma Rousseff. “Ah, Dilma, querida, às vezes eu tenho uma vontade danada de dar uma boa resposta a esses golpistas, mas você tinha razão: o Golpe não era contra você, mas contra o Brasil! ”

Se eu fizer muita besteira…

PAULO GUEDES -BALOES- DOLAR-PGN-PUBLICAR.png

 

Outra frase resgatada foi a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Se fizer muita besteira, dólar pode chegar a R$ 5″. “Paulo Guedes fez confissão antecipada de incompetência. Ele disse que o dólar só chegaria a R$ 5,00 se o governo fizesse ‘muita merda’. Bem, o dólar chegou a R$ 5,00”, relembrou o deputado Bohn Gass (PT-RS).

A deputada Erika Kokay (PT-DF) questiona Bolsonaro se a alta do dólar é fantasia. “E aí, Bolsonaro. Dólar passa de R$ 5,00 pela primeira vez na história. É fantasia ou realidade?”.

_beto paulo guedes.jpg

 

26
Fev20

Bolsonaro convoca manifestação golpista por se sentir em processo de isolamento acelerado

Talis Andrade

 

calvin-e-haroldo foda-se.jpg

 

COLOQUEMOS OS PROBLEMAS EM FILA PARA QUE MARCHEM DE FORMA ORGANIZADA:

Por Gilberto Maringoni 

1. OS BOLSONARIERS (corruptela de farialimers) não estão convocando sua Marcha sobre Roma dia 15 de março por causa do orçamento impositivo do Congresso, que trava o livre manejo de parte das verbas públicas pelo Executivo. 

Os bolsonariers – a começar pelo presidente da República - convocam a manifestação golpista por se sentirem em processo de isolamento acelerado.

2. A SEMANA ANTERIOR AO CARNAVAL foi muito ruim para a pátria bolsonárica. 

Ela começou com a repulsa geral – de lideranças congressuais aos partidos de extrema esquerda, passando pela mídia, setores empresariais, ministros do STF e ativistas sociais – às agressões grotescas do miliciano-em-chefe à jornalista Patrícia Campos Mello.

3. QUASE CONCOMITANTEMENTE, os petroleiros obtiveram duas vitórias fundamentais: a suspensão das quase mil demissões na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR) e a reabertura de negociações com a Petrobrás, no TST. É algo muito significativo em tempos de destruição do movimento sindical.

4. NOS MESMOS DIAS, O BC divulgou os resultados da balança de transações correntes de janeiro. 

Segundo O Globo, “As contas externas do Brasil registraram déficit de US$ 11,879 bilhões em janeiro deste ano, com aumento de 31,3% na comparação com o mesmo mês de 2019”. 

Foi o pior resultado desde 2015, puxado pelo déficit na balança comercial. 

A balança de transações correntes contabiliza a balança comercial, a balança de serviços e as transferências unilaterais. Ou seja, o que entra e sai do país em termos monetários.

5. APESAR DO QUADRO de quase estagnação interna – com possibilidades de voo de galinha ao longo do ano -, as importações cresceram. Isso se dá pelo fato de a indústria brasileira – ou o que resta dela – trabalhar cada vez mais com componentes e insumos importados. 

É uma piora estrutural da economia. Caso retomemos o crescimento, tais importações tenderão a aumentar, agravando o déficit. 

Isso com uma taxa de câmbio que abriu nesta quarta (26) a R$ 4,42, o que torna as importações mais caras.

6. OBSERVE-SE AQUI A CONSTATAÇÃO de que a saída de dólares do Brasil alcançou US$ 44,7 bilhões em 2019, como divulgado no início de janeiro. Trata-se do maior volume de recursos retirados do país em 38 anos.

7. VAMOS ADIANTE. O megamutirão bolsonarier pela legalização da versão nacional das SA (Sturmabteilung), as tropas de assalto nazistas, deu com os burros n’água. O Aliança pelo Brasil, agremiação da pátria bolsonarier conseguiu validar apenas 0,6% das assinaturas coletadas, após dois meses de frenética agitação em cartórios amigos. 

O Tribunal Superior Eleitoral validou 2,9 mil assinaturas de 492 mil necessárias para legalizar o partido.

8. O ROL DE FRACASSOS OFICIAIS não parou por aí. Foram desmascarados, pela ação corajosa do senador Cid Gomes (PDT-CE), os incentivos a motins das forças de segurança patrocinados pelo círculo próximo de aliados do miliciano-em-chefe.

9. NESSA CONTA ENTRA o affair Adriano Nóbrega, arquivo valiosíssimo, flambado em obscura ação da PM baiana em associação à Polícia Civil do Rio de Janeiro. Suspeito pelos laços com a família real, o assassinato do matador profissional seria objeto de interesse do clã ora no poder.

10. COMO COROAMENTO MAGISTRAL da perda de credibilidade governamental, tivemos o Carnaval, repleto de alusões nada edificantes aos meliantes espalhados por palácios e pela Esplanada dos Ministérios, com direito a transmissão quase em rede nacional.

11. DIANTE DESSA COLETÂNEA de más notícias, Bolsonaro e os seus agem de forma absolutamente destrambelhada. 

É incrível perceber que nem ele e nem o general Heleno, o monstro de Porto Príncipe, conseguem fazer o que qualquer comandante responsável de tropa faria: avaliar as forças disponíveis, o efetivo inimigo, o terreno e as condições de batalha e traçar uma ação racional, na tentativa de chegar à vitória. Mais fácil rosnar “foda-se”.

12. AGEM COMO GAROTOS que jogam pedra na vidraça e saem correndo. Diante de um problema, aparentam tomar a ofensiva – xingando, gritando ou fazendo bananas -, mas fogem para a frente. Arreganham os dentes e latem, sem saber como darão o passo seguinte. Devem ser militares de araque.

13. A REDE BOLSONARIER está convocando o 15 de março como o dia do golpe. Suas hordas marcharão – possivelmente com um cabo e um soldado – para fechar o Congresso e o STF. Há, contudo, cheiro de válvula queimada no ar.

14. OS GENERAIS Santos Cruz e Roberto Peternelli desautorizaram o uso de suas imagens em memes convocando a balbúrdia. O mundo político institucional em peso – Celso Mello, Lula, FHC, João Dória, as presidências da Câmara e do senado, os partidos de oposição, os movimentos sociais, o mundo da cultura etc. – abriu em peso suas baterias contra a loucura extremista. Na prática, forma-se uma frente democrática ampla e poderosa, como há tempos não se via.

15. DIANTE DE PESADAS CRÍTICAS que começou a receber na noite de terça (26), o miliciano-mor tuitou enigmaticamente: “Tenho 35Mi de seguidores em minhas mídias sociais, c/ notícias não divulgadas por parte da imprensa tradicional. No Whatsapp, algumas dezenas de amigos onde trocamos mensagens de cunho pessoal. Qualquer ilação fora desse contexto são tentativas rasteiras de tumultuar a República”. 

Releve-se a tortura cometida contra o idioma, mas Bolsonaro tenta desmentir os relatos de que estaria distribuindo convocatórias para o 15M. Ele ainda orientou seus ministros a não engrossarem a convocação do ato.

16. HÁ ENSAIOS TÍMIDOS de recuo por parte do bando palaciano. É muito difícil que um líder em processo de isolamento – apesar de seus razoáveis índices de aprovação – consiga ir muito além dos fracassos recentes. No início de novembro, a convocação de protestos contra a saída da prisão do ex-presidente Lula reuniu poucos gatos pingados em algumas capitais.

17. NÃO SE DEVE SUBESTIMAR O FASCISMO. Ao mesmo tempo, é necessário tentar analisar com um pouco mais de objetividade a realidade para que não entremos em pânico diante de latidos que indicam perda de musculatura por parte da extrema-direita. Disseminar alarmismos ou convocar ações extremadas e irresponsáveis devem ser colocadas para fora do radar dos democratas que buscam desmontar a patranha fascista.

18. ELES PODEM MUITO. Mas não podem tudo.

24
Fev20

O desfile do crescimento medíocre de Bolsonaro

Talis Andrade

bolsonaro carnaval.jpg

 

Vermelho 

Editorial 

Jair Bolsonaro entra no segundo ano de governo na condição de estelionatário eleitoral. Já que o carnaval começou, nada mais apropriado do que demonstrar essa verdade no ritmo da passarela. Ele representa ideias econômicas que vieram ao mundo nas décadas de hegemonia do neoliberalismo, e pareciam mortas, que ressurgiram com nova roupagem, agora com outros estribilhos e outras cantilenas.

Ainda candidato, Bolsonaro entrou na marcha de Paulo Guedes prometendo fazer o país voltar a crescer, mas, a julgar pelo zunzunzum da mídia, a evolução tende a chegar à fase da dispersão sem ter passado direito pela fase da concentração.

Com o samba de uma nota só de Guedes — o script de que as “reformas” neoliberais são a salvação da lavoura —, tido por Bolsonaro como o famoso posto de combustível que daria resposta a tudo — o Posto Ipiranga —, a economia do país segue encruada. De acordo com o Banco Central, o crescimento de 0,89 de 2019 segue se repetindo nesse início do ano, com o agravante de que não há nenhum sinal de melhora. Para 2020, o próprio “mercado” já reduziu os prognósticos para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), inferior a 2%.

O puxador do samba não consegue dar ritmo ao que prometeu e o presidente, sua segunda voz, já aparece na passarela como o estelionatário que prometeu o que não está entregando. Bolsonaro, ao repetir muitas vezes que não entende de economia e que confia cem por cento em Guedes, deu uma espécie de cheque em branco para o ministro aplicar o seu programa econômico.

Já circulam informações de que se avoluma o contencioso entre Bolsonaro e seu “mago” da economia. É lógico há ainda muita evolução pela frente, mas os sinais de descontentamento transcendem o Palácio do Planalto. Os apupos começam a aparecer em setores empresariais da plateia que apoiou essa aventura, manifestações traduzidas em editoriais dos jornalões e em rodas de entrevistas com especialistas no assunto em veículos de mídia.

As consequências dessa desarmonia entre promessa e realidade são trágicas para o povo. O desemprego em massa se mantém praticamente imóvel, a desindustrialização não dá sinais de reversão, o dólar não para de galopar e o comércio exterior perde fôlego. A alta da moeda norte-americana encarece as importações, o que eleva muitos preços internos (um exemplo são alguns itens de alimentação).

Em nome do sacrossanto “ajuste fiscal”, o patrimônio público vai para a bacia das almas, com as privatizações criminosas, e o orçamento sofre cortes que arrocham investimentos essenciais — como em infraestrutura e em políticas sociais —, inclusive nos estados e municípios. Tudo o que o governo pode lançar mão para a meta de Paulo Guedes de “economizar” R$ 1 trilhão ele não titubeia.

O exemplo mais recente é o confisco do dinheiro do trabalhador com o congelamento da tabela do Imposto de Renda (IR). Esse é outro caso de estelionato eleitoral. Para cumprir a promessa de campanha de não aumentar a carga tributária dos brasileiros, o governo teria de corrigir a tabela em 7,39% — um valor de R$ 13,5 bilhões, de acordo com estudo da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco).

Além das performances de baixo calão de Bolosonaro, dando espetáculos grotescos de discriminações sociais, ele se revelou um demagogo na encenação de que devolveria a alegria aos brasileiros com o espetáculo da retomada da economia. O cheiro de queimado no “Posto Ipiranga”, tido pelo presidente como infalível, sinaliza a ineficácia do programa ultraliberal e neocolonial. É com esse programa desastroso que Bolsonaro está na passarela.

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub