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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

11
Abr23

‘Cena de terror’: ação da PM deixa moradores negros baleados e crianças atropeladas em Paraisópolis

Talis Andrade

justiça morte polícia juiz indignados.jpg

 

Uma mulher e um idoso foram baleados dentro de casa e duas crianças foram atingidas por moto de policial em perseguição a dois homens em comunidade da zona sul de São Paulo na segunda-feira (3)

 

por Jeniffer Mendonça, da Ponte, e Gisele Alexandre, do Espaço do Povo

“As crianças estão traumatizadas”, lamenta a mãe de um garoto de cinco anos que foi atropelado, junto com a outra criança da mesma idade e a prima dele, pela motocicleta de um policial militar quando estava a caminho da escola, na comunidade de Paraisópolis, na zona sul da cidade de São Paulo, na tarde desta segunda-feira (3/4). A ação da PM, que teria perseguido dois suspeitos de roubar celulares montados em uma motocicleta, deixou, além das crianças, outros cinco feridos a tiros.

Inicialmente, a assessoria da Polícia Militar não havia contabilizado o atropelamento entre as vítimas e apontou que havia se deparado com dois suspeitos roubando pessoas e se iniciou uma perseguição policial que deixou cinco feridos após uma troca de tiros.

Apenas na tarde desta terça-feira (4/4), a assessoria da PM emitiu uma nova nota dizendo que, após ser alertada pela imprensa, identificou, pela análise da câmera na farda, que “houve o contato não intencional” de um soldado com um garoto que passava próximo e que não havia se dado conta da situação. “A Polícia Militar oferece apoio à família da criança que teve escoriações”, disse.

A mãe da criança, porém, desmente que lhe foi prestado auxílio pela corporação. “Não foi dada nenhuma assistência”, criticou à reportagem quando o menino foi levado à Assistência Médica Ambulatorial (AMA) de Paraisópolis pela família e que pegou atestado de três dias de repouso por causa das dores no corpo. Um vídeo mostra o garoto com mochila nas costas saindo debaixo da motocicleta do soldado Victor Corradini, do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M). A criança ficou com ferimentos no braço, cotovelo e queixo.

“O policial se desequilibrou e bateu nas duas crianças e na mulher. Não teve troca de tiro”, relatou uma testemunha. “O policial não chamou ambulância para socorrer as crianças, chamou só mais viatura.”

Em sequência: portão de moradora baleada, criança de cinco anos que teve ferimentos leves após ser atropelada por moto de PM e bala que a moradora encontrou na sua casa após disparo na comunidade de Paraisópolis 

Outra vítima que teve que contar com a ajuda de moradores para ser socorrida foi Monica (nome fictício), 20 anos, ao ter sido baleada na coxa dentro da própria residência. “Eu estava limpando a minha casa quando ouvi uns estrondos muito fortes. Eu me desesperei e fui tentar fechar o meu portão”, contou. “Meu cachorro se assustou e se aproximou do portão. No momento em que eu empurrei ele com a perna para proteger dos disparos, porque eu consegui ver um vindo na minha direção, [o tiro] pegou na minha coxa direita. Foi muito rápido.”

Assim como a mãe da criança, ela afirma que os policiais não deram nenhuma assistência e que, inclusive, se recusaram a tirar a moto da rua para permitir a passagem, já que foi levada de carro à AMA pelo namorado e depois transferida ao Hospital do Campo Limpo. “Uma cena de terror! O PM atirou sem parar!”, denunciou à reportagem. “A bala passou por mim e depois atingiu a porta da minha casa”, lembra. “Deus foi maravilhoso na minha vida. Por pouco eu não estava aqui para contar a história porque faltou poucos milímetros para atingir a artéria femoral, que faz ligação com o coração”, desabafou.

O sogro dela, de 62 anos, também foi alvejado de raspão. “Na hora que ele começou a ouvir os disparos, ele se abaixou no carro de uma garagem vizinha, e ainda assim pegou no pé”, relatou Monica. O idoso contou no 89º DP (Jardim Taboão) que estava em cima de uma escada, arrumando a janela de casa, e que ouviu tiros quando desceu dos degraus. Ele afirmou que “sentiu um negócio em sua perna esquerda” ao se esconder atrás de um carro e depois percebeu que era um tiro, mas não soube de onde partiu.

Outros moradores ouvidos pelo site Espaço do Povo também disseram que não houve troca de tiros. “Um mano saiu correndo e entrou pra casa do meu irmão. Os caras já começaram a destratar a gente. Começou a tratar na ignorância, meu irmão trabalhador com criança dentro de casa. Chegou oprimindo todo mundo”, contou um morador.

Alguns vídeos mostram um homem baleado em frente a um comércio e sendo carregado por moradores até um carro para ser socorrido. A reportagem não conseguiu identificá-lo.

Algumas pessoas próximas ao local dos disparos contam que, poucos minutos após o início da perseguição, cerca de 12 viaturas da Polícia Militar chegaram na Rua Itamotinga, que dá acesso à comunidade. Por conta das vielas serem estreitas, apenas os policiais de motocicletas subiram a favela, enquanto as viaturas bloqueavam toda a rua.

Durante toda a tarde e início da noite, um helicóptero da PM sobrevoou a comunidade e, após a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que levou os feridos mais graves para o hospital, as ruas que dão acesso à favela ficaram fechadas. Além de assustada, a comunidade se revoltou com a ação que deixou crianças e moradores feridos.

Outras imagens de moradores de Paraisópolis chamando policiais militares de “lixo” e apontando o dedo do meio também foram compartilhados de forma isolada, sem referência à ação, em perfis de nomes como o deputado federal Coronel Telhada (PP-SP) e outros parlamentares da Bancada da Bala, formada deputados provenientes de carreiras das forças da segurança pública, apontando que a polícia estava sendo hostilizada pela população.

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09
Abr23

Desta vez não era uma arminha de dedo

Talis Andrade
www.brasil247.com -
(Foto: Reprodução/Instagram | REUTERS/Andressa Anholete | Carolina Antunes/PR)

 

por Fernando Castilho /Brasil 247

Era uma tarde ensolarada de domingo em Santos, onde vivo. Perto do segundo turno das eleições de 2018.

Caminhando pela avenida da orla, de repente ouvimos, minha esposa e eu, um buzinaço que se tornou ensurdecedor à medida em que uma grande fila de carros e caminhões com faixas Bolsonaro 17 e Bolsodória 45, começou a avançar ostensivamente.

Tudo normal, pensei eu, afinal, faz parte da democracia.

Porém, o inédito nessa carreata eram as crianças nos bancos de trás, numa espécie de frenesi, fazendo arminha com os dedos para os transeuntes, enquanto seus pais buzinavam meio que enlouquecidos. Horripilante!

Para nós, que já participamos de inúmeras campanhas eleitorais, o normal seria o gesto de fazer um coração com as mãos para conquistar mais eleitores, mas os tempos mudaram.

Lembro que comentei com minha esposa: “isso não vai dar boa coisa”. Não deu.

Tecnicamente não é possível atribuir aos 4 anos de governo bolsonarista a tragédia ocorrida na Escola Estadual Thomázia Montoro, afinal, violência contra professores por parte de alunos é um fenômeno que já existia antes de Bolsonaro, mas, cá entre nós, vem aumentando muito nos últimos tempos.

É praticamente inédito que um menino de apenas 13 anos, da 8ª série do fundamental II, que a imprensa insiste em chamar de adolescente, tenha planejado e anunciado em rede social um assassinato com faca e tentado matar outros professores e alunos, além da professora Elisabete Tenreiro de 71 anos, que teve parada cardíaca e faleceu.

O menino participava de conversas com outros de sua idade através de um grupo no twitter, em que exaltavam as façanhas de outros que lograram matar e até se suicidaram logo após. Ele havia anunciado que iria no dia seguinte à escola para matar e se lamentava por não ter conseguido uma arma de fogo para a “missão”.

Não vejo como o twitter, com seus poderosos algoritmos, não consiga detectar conversas como essas e eliminá-las da rede. Consegue, mas não quer.

Esta semana mais uma tragédia numa creche em Blumenau, Santa Catarina. Um homem pulou o muro e matou a facadas 4 crianças e feriu outras tantas.

Diante desses acontecimentos, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo pediu aos professores para preencherem um questionário pelo sobre saúde mental e segurança nas escolas. Uma das questões era sobre a necessidade ou não de um policial armado dentro da escola. 

Na sala de professores da escola onde leciono, uma professora com sangue nos olhos disse que não só deveria ter um policial armado como também ele, ao constatar que um aluno estaria tentando entrar armado, deveria atirar para matar. Vivemos num país extremamente armado no sentido psicológico do termo. É preciso substituir o ódio cultivado por 4 anos, por amor.

O professor da rede pública estadual e editor do canal Tiago na Área, Tiago Luz, lembrou muito bem em vídeo que soluções rápidas e fáceis não funcionam para assuntos complexos como este. Além do mais, logo se esquece o fato, até que nova tragédia aconteça e reapareçam as mesmas soluções fáceis. Ele propõe um amplo debate com a sociedade e especialistas, tanto em educação, quanto em segurança e até com psicólogos.

Na escola onde eu lecionava até o fim do ano passado, havia inúmeros casos de depressão, de alunos que tentaram suicídio e de automutilação. Parece que não só os 4 anos de incentivo ao armamento e ao uso de armas são os responsáveis, mas também 2 anos de reclusão domiciliar devido à Covid-19. Houve uma espécie de dessocialização em que as crianças passaram a adquirir uma forma de vida mais individualizada do que em grupo.

Havia uma psicóloga que uma vez por semana dava atendimento online a grupos de alunos. Numa das vezes, num auditório com grande número de adolescentes do ensino médio, ela tentava falar sobre ansiedade, mas absolutamente ninguém a ouvia, preferindo assistir vídeos “engraçados” no Tik Tok.

Penso que atendimentos assim não devem ser generalizados e em grandes grupos, pois é justamente em grupos que os alunos se sentem à vontade para se recusar a participar.

O atendimento psicológico deve ser presencial e para grupos de até 3 crianças, sob pena de fracassar.

O governo Bolsonaro, que muitos chamam de “governo da morte”, em que até havia um gabinete paralelo intitulado “gabinete do ódio”, responsável por disseminar o ódio e a violência na sociedade, atingiu os jovens em cheio, mas, felizmente, apesar da sobrevivência do bolsonarismo ou extrema-direita, acabou.

Agora o pesado nevoeiro cinza escuro está se dissipando e uma nova aurora nasce com o governo Lula.

Além da árdua missão de consertar tudo aquilo que foi destruído em termos de economia, saúde (700 mil mortos pela Covid-19), educação, direitos humanos, meio-ambiente e corrupção, Lula tem ainda por cima que dissolver a atmosfera de ódio que contaminou grande parte dos brasileiros e criar ares claros e límpidos para a sociedade.

Para isso terá também que compartilhar com estados e municípios políticas públicas que propiciem emprego e renda para a população mais pobre, sem o que esta não verá futuro para seus filhos, sob risco de, por falta de perspectivas, a violência aumente.

Antes de encerrar, sinto ser necessário lembrar que já há algumas gerações estamos naturalizando morte violentas influenciados que somos, principalmente por produções do cinema americano que nos bombardearam e ainda bombardeiam com filmes de ação em que, invariavelmente se mata muito. Ao vermos tantos tiros, sangue e morte, ficamos anestesiados a ponto de não mais nos chocarmos com assassinatos violentos.

Felizmente, com o streaming, Hollywood deixou de ser a principal fonte de entretenimento. Hoje há produções de outros países que abordam temas mais cotidianos como dramas familiares ou amorosos. E é disso que precisamos muito.

Por fim, fica a sugestão do professor Tiago Luz de se promover um amplo debate sobre a violência infantil com a sociedade.

Será um longo processo, mas que, ao seu fim, talvez nunca mais vejamos crianças fazendo arminha com os dedos nem utilizando armas reais.

08
Abr23

Uma epidemia de ódio no Brasil

Talis Andrade

Ataques violentos em escolas não são casos isolados: vivemos num Brasil que destila ódio – e ele tem um longo lastro, não começou em 2018. Precisamos de múltiplas ações para desmontar esse sentimento identitário.

 

por Ynaê Lopes dos Santos/ DW

O Brasil ficou chocado com o assassinato da professora Elisabete Tenreiro, de 71 anos, por um de seus alunos na cidade de São Paulo, e com o atentado contra a creche Cantinho do Bom Pastor, que deixou quatro crianças mortas e outras feridas em Blumenau.

E não era para menos: devemos ficar absolutamente consternados e arrasados, pois estamos diante de uma epidemia de ódio.

O desespero aumenta quando vemos que tais violências tiveram como palco um dos lugares de maior importância na construção de sociedades democráticas: a escola. O espaço que, em tese, deveria ser de segurança para professores, estudantes e funcionários, virou alvo preferido de ações extremistas que se alimentam de ódio, desenvolvendo uma competição doentia e criminosa que vem arregimentando muitos jovens brasileiros a serem mártires de uma seita difícil de ser adjetivada.

As autoridades já estão agindo, e desde o dia 3 de abril vimos uma mudança salutar na postura do jornalismo brasileiro em como tratar esse fenômeno de escalada do ódio, a partir da escuta atenta de especialistas. No mundo que celebra os "15 minutos de fama" – ou os atuais 20 segundos do TikTok –, a epidemia do ódio se constrói em rede, por meio do reconhecimento desses doentes-criminosos, que passam a ser tratados como mártires nessas seitas abjetas. Por isso é fundamental não alimentar essa perspectiva pérfida de sucesso.

Ódio não é novidade no Brasil

Mas, como sabemos, esses casos não são isolados. Nos últimos anos, a escalada do ódio ganhou proporções assustadoras, pautando inúmeras políticas públicas brasileiras, como a tragédia yanomami, ou o desdém de muitas autoridades políticas em relação aos 700 mil mortos na pandemia de coronavírus. Não nos esqueçamos das chacinas que continuam a ditar a vida de muitas pessoas (sobretudo pretas) que vivem nas periferias Brasil afora, no crescimento do feminicídio, nos assassinatos promovidos por brigas banais ou discordância política – como a morte recente do cinegrafista Thiago Leonel Fernandes da Motta, no Rio de Janeiro.

No entanto, é importante dizer isso – sobretudo em plena Sexta-feira da Paixão: o ódio como forma de fazer política e de atuar socialmente não é uma novidade no Brasil. Ainda que tenhamos vivido recentemente a era do "gabinete do ódio", é preciso reconhecer que tal gabinete encontrou ressonância em parcela da sociedade brasileira, alimentando e sendo alimentado pela besta-fera. Isso parece muito estranho em um país que foi forjado na ideia de ser uma nação pacífica, harmoniosa e multirracial – uma espécie de cadinho do mundo. E talvez parte do problema esteja exatamente nisso: a maneira como entendemos o Brasil e nos reconhecemos como brasileiros, nos impede (propositadamente) de uma percepção mais acurada do que também é o Brasil.

Vivemos num Brasil que destila ódio. E esse ódio tem um longo lastro.

Pode parecer um tanto apocalíptico dizer isso, mas a produção histórica está aí, para não nos deixar mentir.

Crise de identidade

Se recuperamos em parte os antecedentes dos dois últimos casos de ódio, veremos que o pressuposto da supremacia branca está presente em ambos. Há quem possa me chamar de identitarista. Embora ache que esse termo reduz o debate, não fugirei dessa alcunha, porque acredito que o que vivemos é também (ou acima de tudo) uma crise de identidade. Há uma espécie de silêncio tácito nessa cultura de ódio, que defende que todos os não brancos sejam entendidos como seres inferiores, e que justamente por isso são receptáculos do ódio e, portanto, passíveis de serem eliminados, independentemente da idade que tenham.

Digo e repito: nossa cultura do ódio não começou em 2018. Ali ela só passou a mostrar sua cara mais feia. Precisamos de múltiplas e combinadas ações para desmontar essa rede e esse sentimento identitário. Porque o ódio cria laços, constrói relações. Infelizmente as pessoas se reconhecem no ódio, e chegam a defender pertenças pátrias a partir desse sentimento. E esse reconhecimento que acompanha nossa história, agora é alimentada por redes que escapam aos órgãos de controle, aos olhares dos pais, e à própria ideia de civilidade.

Já sabemos que as democracias morrem... de morte morrida e de morte matada. Já estivemos por um fio em muitos momentos. E o que sempre nos salvou foi o exercício amplo e crítico da cidadania.

É profundamente sintomático que os últimos dois episódios de violência e ódio tenham ocorrido em escolas. Esse sintoma também é um sinal, um indicativo de que, mais do que nunca, precisamos olhar com mais cuidado e atenção para esses espaços. E aqui, o sujeito da frase é a primeira pessoa do plural: nós, sociedade, precisamos cuidar e ressignificar nossas escolas. Que possamos construir espaços escolares que sejam, efetivamente, lugares de celebração da diversidade, do respeito, do debate, da busca de conhecimento, da alegria, da saúde e da vida.

21
Abr21

Bolsonaro e a imunidade do rebanho

Talis Andrade

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por Lygia Jobim /Carta Maior:

Ao querer provocar a imunidade de rebanho, admitindo que fosse essa apenas a sua intenção e não a de fazer uma limpeza darwiniana no país, Bolsonaro aumenta a desumanidade do seu rebanho, tornando-o cada vez mais imune a qualquer sentimento que se possa chamar de humano.

A morte sob tortura, pois foi isso o que ocorreu, do menino Henri, de apenas quatro anos, comoveu o país por sua brutalidade, mas mais que tudo por se tratar de uma criança branca, ao que tudo indica morta por seu padrasto e torturador bolsonarista branco, casado com uma mulher narcisista branca, barbie da Barra da Tijuca onde todos moravam. Eles não faziam parte dos excluídos e por isso essa violência chama a atenção.

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Não podemos deixar de ver que estamos diante de um crime sem atenuante – ao qual não pode sequer ser aplicada a abjeta excludente de ilicitude. A barbárie, consentida pela mãe, não aconteceu porque a criança estava armada ou portava objeto que pudesse ser confundido com uma arma. Não aconteceu porque tinha furtado um chocolate no supermercado. Estas hipóteses justificariam, para os integrantes do rebanho peçonhento presidencial, sua morte. Mas a de Henri aconteceu apenas porque ele se encontrava ali, pronto e à disposição para ser objeto do ódio de um desequilibrado do qual sua mãe não podia, ou não queria, se desvencilhar. O episódio reflete a estarrecedora desumanidade que toma conta do país.

As muitas vítimas de balas perdidas, crianças ou adultos, já comovem apenas a alguns poucos. Os noticiários não dedicam às suas histórias dias seguidos nos horários nobres. Afinal, são apenas pessoas que engordam nosso contingente de escravos. São pessoas cujo habitat natural é a violência, violência que pode se manifestar pela falta de comida, de saneamento básico, pela falta de instrução que lhes priva da palavra futuro ou pelo convívio forçado com traficantes e milicianos.

Afinal, são apenas aqueles brasileiros que, como diz Bolsonaro: “Você vê o cara pulando em esgoto ali, sai, mergulha, tá certo? E não acontece nada com ele.”.

A violência assim praticada é banalizada por grande parte de nossa sociedade. Ela a introjetou de tal forma que não a vê como violência. É natural, faz parte do país no qual crescemos, assim é a vida por aqui. É, porém, aplaudida por nossos homens e mulheres de bem, integrantes do rebanho que se tornou imune à empatia e solidariedade. Para eles não é apenas natural. É necessário que assim seja para que possam manter seus privilégios e ter alguém que lhes lave os vasos sanitários.

Termos alcançado o número de quatro mil mortes diárias choca a muitos, mas homens e mulheres de bem nos mandam parar com o mimimi. Saber que muitos morrem asfixiados, por falta de oxigênio ou UTIs, choca a muitos, mas homens e mulheres de bem nos dizem que essas coisas acontecem. A intubação a frio choca a todos, exceto aos homens e mulheres de bem que, como Bolsonaro, admiram Ustra, nosso único torturador condenado.

Não alcançaremos a imunidade de rebanho, mas caminhamos a passos largos, conforme as barbáries se sucedem, para uma desumanização que aumentará cada vez mais o rebanho peçonhento que segue um mito inexistente.

Enquanto tudo isso acontecia Henri perguntava à mãe se ele atrapalhava. Não, meu amor. Você não atrapalhava. Quem atrapalha são os vermes que infestam o país.

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Onde estão as crianças de Belford Roxo ?
 
18
Abr21

Dr. Jairinho é investigado por agressões a três crianças; entenda

Talis Andrade

Dr. Jairinho no sistema penitenciário do Rio — Foto: Reprodução

 

Por Henrique Coelho, G1

08
Abr21

Vereador Dr. Jairinho sádico assassino do menino Henry quatro anos

Talis Andrade

Jairinho 15126 PMDB (Vereador) Rio de Janeiro - Guia Eleições 2016

O delegado Henrique Damasceno, responsável pela investigação da morte do menino Henry, disse nesta quinta-feira (8) ter certeza que o vereador Dr. Jairinho foi o autor das agressões que mataram o menino e de que a mãe dele, Monique, foi conivente. O casal foi indiciado por homicídio duplamente qualificado.

Não resta a menor dúvida, em relação aos elementos que nós temos, sobre a autoria do crime, dos dois', disse o delegado

Caso Henry: pai de Dr. Jairinho não entrega celular porque aparelho foi  apreendido pela PF - Jornal O GloboAs declarações foram em entrevista coletiva, com membros da Polícia Civil e do Ministério Público concedem, no fim da manhã desta quinta-feira (8), sobre as investigações que resultaram na prisão de Monique Medeiros e o vereador Dr. Jairinho.

A mãe e o padrasto do menino Henry Borel, morto com sinais de violência, foram presos por tentar atrapalhar as investigações do caso e por ameaçar testemunhas para combinar versões.

Dr. Jairinho e mãe de menino Henry prestam depoimento no Rio - Folha PE

Mãe não afastou o filho e protegeu o agressor

 

Ainda de acordo com o delegado, a mãe não só se omitiu, como também protegeu o amante. “Ela esteve em sede policial, em depoimento, por mais de 4 horas, apresentando uma declaração mentirosa, protegendo o assassino do próprio filho. Não há a menor dúvida, que ela não só se omitiu, quando a lei exigia que ela deveria fazer (relatar o crime), como também concordou com esse resultado”, afirmou Damasceno.

Marcos Kac, promotor do MPRJ, afirmou que a hipótese de acidente, dita pela mãe de Henry, para a morte do menino foi descartada rapidamente na investigação.

Arte mostra a cronologia do dia da morte de Henry Borel e o que o laudo da necropsia aponta — Foto: Infografia: Amanda Paes e Elcio Horiuchi/G1Caso Henry: os relatos de agressões do Dr. Jairinho contra outras crianças  | VEJA

Dr. Jairinho é um serial killer. A polícia e a imprensa já relataram casos do relacionamento criminoso do vereador com outras criança com a mesma idade de Henry. Um preferência por meninos e meninas, inclusive a própria filha, com quatro e cinco anos.

Dr. Jairinho, acompanhando o pai deputado estadual, coronel Jairo, é acusado de participar das guerrilhas milicianas.

Em 2008, uma equipe de reportagem do jornal O Dia foi torturada por milicianos na Favela do Batan, na Zona Oeste carioca. Naquela época, o pai de Jairinho e deputado estadual Coronel Jairo, ex-policial militar e ex-preso pela Lava Jato, foi acusado de ser um dos políticos envolvido com os criminosos.

No texto “Minha Dor Não Sai no Jornal”, escrito para a revista piauí em 2011, o fotógrafo Nilton Claudino — um dos dois jornalistas agredidos por sete horas — relata a presença de Jairinho na sessão de tortura.

Capa do jornal O Globo 09/04/2021
Capa do jornal O Dia 09/04/2021
07
Abr21

“Vida que segue. Faz outro filho”, disse vereador Dr. Jairinho ao pai de Henry criança assassinada

Talis Andrade
Dr. Jairinho, padrasto do menino Henry Borel Medeiros

Henry morreu em 8 de março no Rio de Janeiro e as circunstâncias da morte ainda são investigadas

 
- - -
Suspeito de envolvimento na morte de Henry Borel Medeiros, o vereador e médico Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, teria dito ao pai do garoto, Leniel Borel, que “fizesse outro filho”. A informação consta em entrevista do pai do menino à revista Veja. Henry morreu em 8 de março no Rio de Janeiro e as circunstâncias da morte ainda são investigadas.
 

Segundo Leniel, Dr. Jairinho é uma pessoa fria e não aparenta remorso. “Ele é muito frio. Assim que foi decretado o óbito do meu filho, Dr. Jairinho chegou perto de mim e, na frente de uma pessoa da igreja que frequento e de uma amiga minha, disse: ‘Vamos virar essa página, vida que segue. Faz outro filho”.

O engenheiro disse “não ter dúvidas” de que o vereador é o culpado pela morte do filho. “Não tenho dúvidas de que Dr. Jairinho é culpado. Naquela noite no hospital, ele ficava junto aos médicos que tentaram salvar o Henry o tempo todo. A princípio, eu achava que era porque também era médico, mas agora percebo que era para acobertar o que realmente aconteceu”, disse.

Força-tarefa para desvendar morte do meninoHenry Borel Medeiros

Polícia Civil do Rio de Janeiro criou uma força-tarefa, com diferentes áreas e especialidades de investigadores, para tentar esclarecer a misteriosa morte de Henry Borel Medeiros, de 4 anos. O menino chegou morto em um hospital da Barra da Tijuca, zona oeste da cidade, no dia 8 de março.

O delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), já ouviu 17 testemunhas no inquérito e aposta nas provas periciais para a conclusão da investigação. Além dos laudos de exames de necropsia no corpo da criança, o material recolhido no apartamento onde Henry dormia, em 8 de março, passa por análises minuciosas. As coletas foram realizadas em duas ocasiões – uma no dia 29 de março e outra no dia 1º de abril.

A polícia aguarda também a análise das mensagens que foram deletadas, na madrugada do último dia 8, dos telefones celulares de Monique Medeiros da Costa e Silva de Almeida, mãe da criança, e do vereador e médico Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (Solidariedade), padrasto.Coronel Jairo – Wikipédia, a enciclopédia livre

Dr. Jairinho é acusado de ser um sujeito sádico e com estreitas ligações com as milícias do Rio de Janeiro, por ser filho do célebre coronel miliciano Jairo de Souza Santos, investigado pela Operação Furna da Onça.

Caso Henry: Dr. Jairinho é suspeito de maltratar outros filhos de ex

O programa Fantástico, da Tv Globo, neste domingo (4/4), exibiu uma reportagem com relatos de uma amiga da família de um menino de oito anos. A mulher, que preferiu não se identificar, conta que a criança teve uma brusca mudança de comportamento quando a mãe começou a se relacionar com Jairinho. 

"Eu conheci a criança desde a barriga da mãe. Eu convivia com a criança. Eu sabia da alegria da criança e depois da tristeza que a criança ficou. A mudança de comportamento da criança foi muito brusca. Ele passou a ter muito medo. Dormia e do nada acordava gritando", relata a amiga da família.

A reação negativa perante a presença do vereador é uma ação em comum entre as crianças ouvidas. No domingo, 7 de março, Henry chegou a vomitar e chorar enquanto voltava para o apartamento onde morava com a mãe, Monique Medeiros, e com o padrasto. Em uma conversa entre a mãe e o pai da criança, o engenheiro Leniel Borel, Monique chegou a desabafar sobre a resistência do filho em voltar para a casa em que vivia com o padrasto. 

"Só não aguento o choro para não vir. Me desestabiliza totalmente. Fico muito, muito triste. Quando puder trazer me avisa. Vai ser uma choradeira sem fim mesmo", lamentou Monique em mensagem enviada ao ex-marido.

A mãe doutra criança, hoje adolescente de 13 anos, e ex-namorada do médico diz que a filha apresentava a mesma repulsa por Jairinho. Em entrevista à Rede Globo, a mulher, que não foi identificava, contou: "Eu falava que ele tava vindo, 'o tio tá vindo pra gente sair', aí ela passava mal, ela vomitava. Me agarrava. Ou então pedia à minha mãe: 'posso ficar com você, vó? Eu não quero ir, quero ficar aqui'. Na época, a mãe diz que não percebia o que estava acontecendo. A criança tinha apenas quatro anos. 

A ex-namorada justifica que não havia denunciado os maus-tratos anteriormente por medo da influência do vereador

Ex-vizinhos relatam brigas e agressões entre Dr. Jairinho e sua ex-mulher: ‘Era semanal’

Brigas, gritos, pedidos de socorro e muito barulho. Esses são os relatos de antigos vizinhos de Dr. Jairinho e de sua ex-esposa, Ana Carolina Ferreira Netto, em um condomínio da Barra da Tijuca.

Os episódios foram revelados depois que o vereador começou a ser investigado no inquérito que trata da morte do menino Henry Borel, de 4 anos, enteado do político.

Amigos e vizinhos do casal revelaram brigas frequentes no apartamento onde Jairinho morava com a mãe de seus dois filhos.

Todo mundo sabia que ele batia nela”, diz um vizinho.

Outro vizinho confirma os episódios de violência.

Era agressão semanal. Espancamento, inclusive, com pedido de socorro dela”, diz a testemunha.

Uma terceira testemunha, próxima do casal, diz que Jairinho agrediu Ana Carolina também numa viagem a Portugal.

Filha fugiu de casa

Quatro vizinhos relatam ainda que depois de uma briga no apartamento de Jairinho e Ana Carolina, a filha do casal, que na época tinha 11 anos, chegou a fugir de casa. A menina, que levou uma mochila, só foi encontrada horas depois.

“Acho que tinham tido uma briga no dia anterior. Aí ela pegou a mochila e saiu pela porta do condomínio pela manhã. A partir daí colocaram a menina numa terapia porque ela não tem uma boa relação com o pai. Acharam ela meia-noite, perto da madrugada, próximo ao Barra Shopping”, diz uma testemunha.

Quem conviveu com a ex-mulher afirma que Ana Carolina está com medo, e diz que, para proteger os filhos, não vai falar o que sabe à polícia, e que ainda hoje recebe uma mesada de Jairinho.

Dr. Jairinho e a atual mulher, Monique Medeiros, a mãe de Henry Borel, são investigados pela morte do menino no dia 8 de março.

A polícia investiga o histórico de violência do vereador. Na segunda-feira (5), uma ex-namorada do vereador voltou à Delegacia da Criança e do Adolescente para falar sobre as agressões que a filha dela sofreu, quando os dois namoravam, oito anos atrás.

Defesa de Jairinho e mãe de Henry cria perfis e redes sociais sobre o casoMonique Medeiros e Dr. Jairinho, mãe e padrasto de Henry, publicaram fotos do menino no site que criaram para divulgar a versão deles sobre a morte da criança - Reprodução

A defesa da professora Monique Medeiros e do médico e vereador Dr. Jairinho (Solidariedade) criou perfis no Instagram e YouTube e um site com o objetivo de "externalizar a verdade" e divulgar as versões do casal a respeito da morte do menino Henry Borel ocorrida no dia 8 de março. A página do Instagram, que tem o nome da criança, começou a receber as primeiras publicações na semana passada com fotos de Monique e o filho em momentos particulares, como idas à praia ou até mesmo em casa. Em uma das postagens, creditada à mãe da criança se lê: "Você é o melhor filho que uma mãe poderia ter. Teve a melhor família que poderia ter. Você só conheceu o amor".

Por covardia (medo das milícias) ou corporativismo, vereadores do Rio de Janeiro estão calados. É a mesma Câmara que esqueceu a morte de Marielle Franco. Que nunca pergunta: Quem mandou matar Marielle? Com a palavra o partido Solidariedade

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