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No início de junho de 2020, o Procurador Geral da República Augusto Aras, desengavetou a delação do advogado Rodrigo Tacla Durán,7 em que ele acusa o amigo pessoal e padrinho de casamento do ex-juiz Sérgio Moro, Carlos Zucolotto, de participar de um esquema de propina junto a procuradores no âmbito da Lava-Jato,8 lembrando que a delação tinha sido rejeitada em 2018 pela própria Procuradoria Geral.
O caso Tacla Durán ganhou força com seu depoimento em dezembro de 2017, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigava a JBS, quando trouxe à luz fatos graves dos bastidores da Operação Lava-Jato. Durán, que já tinha representado a Odebrecht, foi denunciado por dois diretores da UTC Engenharia de gerar caixa dois para a empresa e acabou virando alvo da Lava-Jato, sendo então aconselhado a procurar um advogado de Curitiba, cujo trânsito com as autoridades locais poderia resultar em melhores resultados. Durán contatou o advogado Carlos Zucolotto, 9 sócio da advogada Rosângela Moro, esposa do então juiz Sérgio Moro e padrinho de casamento do casal.
Tacla Durán afirmou em seu depoimento que após contato com Zucolotto, o advogado teria conversado com os procuradores da força-tarefa da Lava Jato e conseguido encaminhar um acordo de delação premiada para ele, Durán, reduzindo a multa de US$ 15 milhões 10 (estipulada pelo procurador Roberson Pozzobon) para US$ 5 milhões, com a condição de Durán pagar US$ 5 milhões “por fora” a título de honorários, porque “havia o pessoal que ajudaria nessa tarefa”. Neste pacote constaria ainda a prisão domiciliar em lugar do regime fechado. Depois dessa troca de mensagens, segundo Durán, os procuradores Júlio Noronha e Roberson Pozzobon, lhe enviaram um e-mail com a minuta do acordo de delação, em conformidade com os termos propostos por Carlos Zucolotto.11 Como a delação lhe imputava crimes que não cometeu e as tratativas cheiravam extorsão, decidiu então, por ter dupla cidadania, não aceitar os termos e mudar-se para a Espanha com toda a família, uma maneira segundo ele, de se defender das prisões “abusivas e ilegais” que estavam ocorrendo nos porões da Operação Lava-Jato.12
Meses antes da denúncia à CPMI da JBS, a Folha de São Paulo já havia publicado matéria com as denúncias de Tacla Durán, fazendo com que o então juiz Sérgio Moro divulgasse nota contestando as acusações, “o relato de que o advogado em questão teria tratado com o acusado foragido Rodrigo Tacla Durán sobre acordo de colaboração premiada, é absolutamente falso”, disse. Moro argumentou na época, que Durán mentia ao jornal, por não apresentar provas do que dizia e por não haver outras fontes de confirmação, “Rodrigo Tacla Durán não apresentou à qualquer prova de suas inverídicas afirmações e o seu relato não encontra apoio em nenhuma outra fonte”. 13
Mas no depoimento que deu à CPMI da JBS, Tacla Durán apresentou as provas do diálogo com o advogado Zucolotto,14 que foram periciadas e comprovadas como verdadeira pelo Dr. Cástor Iglesias Sanzo,15 presidente da Associação Espanhola de Peritos Judiciais. Segundo Durán, o diálogo aconteceu através de um aplicativo chamado Wickr, que deleta as mensagens de acordo com o tempo programado, não sendo possível fazer um “print screen” porque ele avisa o interlocutor do outro lado, assim, ele fotografou os diálogos com um aparelho celular. 16
A denúncia de Tacla Duran vai ao encontro da ascensão meteórica de advogados que antes do advento da Lava-Jato restringiam-se a atuação regional no Paraná. Com o instrumento da delação esses advogados se tornaram a ponte mais segura entre investigados pela Operação e membros da Força Tarefa, seja por serem conhecedores dos métodos e preferências do então juiz Sérgio Moro e procuradores, mas também por suas relações de amizade e parentesco, como o advogado Zucolotto, alvo das denúncias de Duran, amigo pessoal e padrinho de casamento de Moro e o advogado Rodrigo Castor de Mattos, que atuou em várias causas e é irmão do procurador da Lava Jato, Diogo Castor de Mattos.17
Ao tomar ciência da atitude do Procurador Geral Augusto Aras, de desengavetar a denúncia de Tacla Duran, exatamente depois que deixou o governo acusando o presidente Bolsonaro no caso Polícia Federal, Moro disse: “Causa-me perplexidade e indignação que tal investigação, baseada em relato inverídico de suposto lavador profissional de dinheiro e que já havia sido arquivada em 2018, tenha sido retomada e a ela dado seguimento pela atual gestão da Procuradoria-Geral da República, logo após a minha saída do governo”. 18 Fato é que ex-juiz sempre evitou o confronto com o advogado Tacla Duran. Todos os pedidos da defesa do ex-presidente Lula para que o advogado fosse ouvido como testemunha teve o mesmo fim, a recusa de Moro,19 mesmo estando ciente que Durán poderia provar que os documentos apresentados pelo empreiteiro Marcelo Odebrecht e pelo Ministério Público Federal eram falsos.20Depois de deixar a magistratura e assumir o ministério da Justiça do governo Bolsonaro, ainda assim Moro continuou se esquivando de Tacla Duran. Em janeiro de 2020, o advogado acusou o então ministro da Justiça de se articular o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para impedir que ele, Tacla Durán, fosse ouvido pela Comissão de Segurança da Câmara.21 “Por que você não explica que negociou com Onyx Lorenzoni para retirar o requerimento que ele havia feito para eu ser ouvido na comissão de segurança publica da Câmara?”, escreveu em uma rede social.22 (Transcrevi trechos)