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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

08
Nov21

Quarta onda? Entenda por que Europa volta a ser ameaçada pela Covid

Talis Andrade
 

 

Variante Delta e falta de cobertura vacinal em níveis ideais são as principais causas para o novo avanço da Covid-19 no continente

 
Nas últimas semanas, a Europa voltou a enfrentar um recrudescimento da pandemia de Covid-19. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ritmo atual de transmissão é motivo de grande preocupação, pois os casos da doença voltam a se aproximar de níveis recordes. A variante Delta e a falta de uma boa cobertura vacinal em alguns países são as principais causas para o novo avanço da Covid no continente.
 

De acordo com o informe da OMS, a Europa observou aumento de 55% em relação a novos casos de Covid-19 em quatro semanas. Além disso, o continente e a Ásia Central foram responsáveis ​​por 59% das novas ocorrências e 48% das mortes relatadas em todo o planeta no período.

10
Out21

600 mil mortes no Brasil: "liberou geral" pode fazer curva da Covid-19 voltar a subir

Talis Andrade

 

Estádios de futebol com mais público, cidades cogitando o fim do uso obrigatório de máscaras, espaços de lazer liberados em condomínios. O Brasil, que chega aos 600 mil mortos por Covid 19 nesta sexta-feira (8), já pode mesmo se dar ao luxo de afrouxar as medidas sanitárias contra o coronavírus?

Com cerca de 450 óbitos diários pela doença, o país de fato tem o que comemorar porque já teve índices bem piores, chegando a 4 mil mortes por dia no auge da pandemia este ano e ao dramático platô de mil vidas perdidas diariamente durante vários meses.

Hoje, mais da metade dos municípios brasileiros celebra o fato de não ter registro de óbitos, graças ao avanço da vacinação. Mas especialistas dizem que o ‘liberou geral’ que muitos querem para ontem pode colocar a perder esse quadro que, finalmente, parece caminhar para a redenção pandêmica coletiva.

A especialista em saúde pública e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ligia Bahia disse à RFI que o foco deve ser o retorno consistente das atividades essenciais como as aulas nas escolas e universidades, com as medidas sanitárias respeitadas. “A gente nunca teve um quadro tão favorável na pandemia. Entretanto, ainda não dá para dizer que acabou. Nós demoramos muito tempo para chegar a esse patamar de vacinação e, mais de oito meses depois, a gente ainda não tem 70% da população com duas doses”, explica. "Além disso, o número de novos casos e de mortos ainda é relativamente alto. Então não podemos bobear agora. Não estamos num patamar seguro ainda e a variante delta circula por aqui.”

O epidemiologista Julival Ribeiro, da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirmou à RFI que a falta de cuidado nesse momento pode trazer consequências imprevisíveis. “Essa falsa impressão de que a pandemia acabou é muito preocupante. A pandemia está aí presente e temos que observar o que pode acontecer nos meses vindouros, não só aqui no Brasil, mas também no mundo inteiro. Lembrar que Israel, mesmo com a vacinação da população adiantadíssima, está sugerindo a terceira dose para toda população por causa da variante delta”, ressalta o especialista.

 

CPI na reta final

No Congresso, a CPI da Covid deve finalizar os trabalhos, com a votação do relatório final até o dia 20. Nessa fase derradeira, parlamentares se concentram no tenebroso caso da operadora de saúde Prevent Senior, que virou símbolo do descaso com a vida e da insistência fatal em remédios sem eficácia contra a doença. O paciente Tadeu Andrade, de 65 anos, contou no Senado que quase morreu porque a empresa convencia parentes a aceitar tratamento paliativo, encerrando a internação na UTI, mesmo quando ainda havia chance de sobrevivência.

Minha família não concordou, nessa reunião, com o início dos cuidados paliativos, se insurgiu, ameaçou ir à justiça para buscar uma liminar e impedir que eu saísse da UTI, ameaçou procurar a mídia. Nesse momento, a Prevent recuou e cancelou o início do tratamento paliativo, ou seja, eu, em poucos dias, estaria vindo a óbito e hoje eu estou aqui”, disse, emocionado, à CPI.

O último a ser ouvido deve ser o ministro da saúde Marcelo Queiroga, que já está de volta ao Brasil depois da quarentena que fez nos Estados Unidos por contrair Covid 19. Ele foi convocado pela terceira vez após um órgão técnico subordinado à sua pasta ter adiado a análise de um parecer que contraindica o uso da cloroquina e outras drogas no tratamento da Covid. O adiamento se deu por pressão do Planalto.

 

25
Ago21

Bolsonaro e a grave denúncia de ensaio clandestino da droga proxalutamida no Rio Grande do Sul

Talis Andrade

“ESTUDO” SEM ÉTICA E SEM CIÊNCIA

 

por Leila Salim e Raquel Torres /Outra Saúde

- - -

A denúncia é grave. No Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre, pacientes internados com covid teriam sido usados como cobaias para a realização de testes com proxalutamida – a “nova cloroquina” de Bolsonaro – feitos sem autorização da Anvisa e marcados por irregularidades e violações de todo tipo. Os problemas vão desde fragilidades na obtenção do consentimento dos pacientes para participação na “pesquisa” até a ausência de vínculo com a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), passando pela infração das normas sanitárias para uso de medicamentos no Brasil. 

O furo é do Matinaljornal digital de Porto Alegre surgido em 2019. Se confirmadas, as informações darão forma a um novo capítulo dos horrores praticados durante a pandemia no Brasil. 

A extensa reportagem ouviu médicos e pacientes do hospital, fontes próximas aos responsáveis pela condução dos testes e os órgãos públicos que deveriam estar envolvidos em pesquisas desse tipo. As fontes confirmam que os testes irregulares foram conduzidos em março, antes mesmo que a proxalutamida tivesse autorização da Anvisa para ser importada ao Brasil e testada em seres humanos. 

Uma policial militar, cujo nome foi protegido, contou que deu entrada na instituição em estado grave e foi imediatamente abordada por dois capitães-médicos, que lhe propuseram a participação no “estudo”. Zonza e sem tempo hábil para estudar as condições e implicações da proposta, aceitou. E assinou um suposto termo de consentimento, ao qual nunca mais teve acesso. Ela só foi saber o que era e como funcionava o medicamento quando teve alta, voltou para casa, de alta do hospital, e pesquisou por conta própria. E não teve qualquer tipo de acompanhamento pós-internação.

A explicação aos pacientes teria sido que a “pesquisa” buscava um uso off-label (diferente do previsto em bula), para o medicamento. O detalhe é que a proxalutamida nunca foi registrada para uso comercial pela Anvisa e, por isso, sequer tem bula. Ela é considerada um fármaco experimental, já que não teve seu uso comercial aprovado em nenhum país. 

Criada inicialmente para tratar câncer de próstata e de mama em estágios avançados, a proxalutamida atua inibindo os efeitos de hormônios masculinos no corpo. Alguns pesquisadores sustentam a ideia de que a droga poderia frear o avanço do coronavírus no organismo humano, já que ele infecta as células usando moléculas que podem ser estimuladas por esses hormônios. A hipótese, no entanto, é bastante questionada entre a comunidade científica e o medicamento não teve eficácia comprovada

A estimativa é que cerca de 50 pacientes tenham sido submetidos aos testes irregulares. Christiano Perin, major-médico que foi chefe da UTI da instituição até 2016, foi apontado por fontes do Matinal como um dos líderes do experimento. Ouvido pela reportagem, negou. E citou outros dois médicos como responsáveis pela empreitada: o endocrinologista Flávio Cadegiani e o infectologista Ricardo Zimerman, influenciadores conhecidos nas redes sociais por defenderem o “tratamento precoce” e questionarem a eficácia das vacinas. 

Os currículos dos dois têm outra passagem honrosa: a participação na pesquisa que sustentou a criação do famigerado TrateCov, aplicativo do Ministério da Saúde que receitava cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina a esmo e que durou apenas dez dias no ar. 

Cadegiani foi também diretor clínico da Applied Biology – a empresa que registrou a patente do tratamento experimental com a proxalutamida contra a covid-19, e que, portanto, lucraria com a aprovação. No ano passado, segundo a reportagem, foi ele quem representou a empresa, junto a seu presidente, em reunião com o ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes,  para tentar emplacar o uso do medicamento no combate à covid-19 no Brasil. Para terminar de ligar os pontos: a mesma Applied Biology detém patentes de tratamentos contra a calvície no Brasil. E o TrateCov, curiosamente, incluiu na anamnese dos pacientes com covid perguntas sobre… calvície. Pois é. 

Em tempo: após a publicação da reportagem, o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul abriu inquérito civil público para apurar a existência do ensaio clínico supostamente clandestino, diz a jornalista Malu Gaspar, n’O Globo. A ver.

PARA A LISTA DAS INCERTEZAS

Estudos sobre o desempenho de vacinas contra a Delta têm se multiplicado nas últimas semanas, e ontem o CDC (Centro de Controle e Doenças dos Estados Unidos) divulgou mais um. Os pesquisadores acompanharam cerca de quatro mil profissionais de saúde, socorristas e outros trabalhadores essenciais em seis estados, testando-os semanalmente de dezembro de 2020 a agosto de 2021. E viram sinais de declínio na proteção: ela era de 91% até abril, antes da emergência da Delta, e foi para 66% depois que a variante apareceu no país. Os resultados foram ajustados para fatores como circulação do vírus, frequência de contato social e uso de máscaras, que impactam a efetividade das vacinas.

Quando olhamos para essas novas pesquisas, é preciso atentar para o que exatamente elas estão considerando como uma infecção, como observa Müge Çevik, virologista da Universidade de St Andrews. Os ensaios clínicos usados para testar as vacinas em uso hoje foram desenhados para medir a eficácia contra doença sintomática, e é a isso que se referem aqueles valores de eficácia que tínhamos no começo das campanhas vacinais. Já os estudos de vida real, com milhões de pessoas vacinadas, permitem avaliar como os imunizantes estão se saindo em determinadas populações, em determinados lugares, e também trazem informações valiosas sobre a proteção contra hospitalizações e mortes.

No trabalho divulgado pelo CDC, os números encontrados se referem tanto a infecções sintomáticas como assintomáticas. Claro, isso também era verdade no começo do estudo, quando se observou que os vacinados tinham 91% menos chance de ter um teste positivo. No entanto, após a emergência da Delta (quando a queda foi observada), 95% das infecções detectadas nos não-vacinados foram sintomáticas, enquanto, no grupo vacinado, foram 75%. Para o período anterior à Delta, essas proporções não são informadas. Além disso, os autores afirmam que os resultados devem ser interpretados com cautela, porque o período do estudo que envolveu o predomínio da Delta foi curto e porque o número geral de infecções foi pequeno. Essas observações não significam que a pesquisa não seja importante, mas que seus resultados não são definitivos.

Os autores também ressaltam que os dados não deixam claro se a possível queda na proteção foi causada pela Delta ou pelo tempo decorrido desde o início da vacinação. E, também em relação a isso, faz diferença levar em conta se estão sendo avaliadas infecções com e sem sintomas, aponta Cevik: “A proteção contra doenças sintomáticas é mais fácil de se obter do que contra infecções, porque, enquanto os anticorpos neutralizantes diminuem ao longo do tempo, a imunidade protetora fornecida pelas células T e B de memória é preservada e deve ser de longa duração”.

De acordo com ela, as evidências até agora mostram que o desempenho das vacinas da Pfizer/BioNTech, Moderna e AstraZeneca continua alto contra hospitalizações e infecções sintomáticas causadas pela Delta, ainda que, para doença sintomática, haja de fato um declínio em comparação com a variante Alfa.

UMA AJUDINHA DE RICARDO BARROS

Emanuel Catori, sócio da Belcher Farmacêutica, reconheceu ontem que foi Ricardo Barros quem o ajudou a ter aceso ao Ministério da Saúde. A Belcher tentou vender à pasta 60 milhões de doses da vacina Convidecia, do laboratório chinês CanSino – e no dia 4 de junho uma intenção de compra foi assinada pelo secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros.

À CPI, o empresário disse que o líder do governo Bolsonaro na Câmara convidou a Belcher para participar de uma reunião na sede do Ministério, com Marcelo Queiroga. Mas ele negou ter sido beneficiado por Barros, afirmando que, naquele encontro, havia também outros empresários. Além disso, repetiu a versão de Barros de que a reunião não foi sobre vacinas. Segundo Catori, na época ele ainda não representava a CanSino e tratou apenas da venda de medicamento antiviral. Bom…  Quatro dias depois da reunião, a Belcher assinou o contrato para representar o laboratório no Brasil.

Tem mais. Catori afirmou aos senadores que as tratativas com o laboratório não chegaram a envolver os termos da remuneração – e o contrato foi rompido antes que o assunto viesse à baila. Mas não é o que diz o fabricante: “Eu posso confirmar que a Belcher vinha negociando uma comissão com base em número de doses, que nós estávamos tentando trazer para proporções aceitáveis e realistas”,  garante Pierre Morgon, vice-presidente de Negócios Internacionais da farmacêutica chinesa CanSino, ao Valor

ACABAR COM ISSO DAÍ

Jair Bolsonaro entrou com uma ação no STF contra a lei que determina a indenização de profissionais de saúde que tenham ficado  incapacitados permanentemente pela covid-19. Hoje, a regra é que sejam pagos R$ 50 mil a esses trabalhadores; no caso de óbito, o valor é direcionado aos dependentes. 

O projeto foi aprovado pelo Congresso no ano passado, mas já na época Bolsonaro o vetou integralmente, como comentamos aqui. Em março deste ano, os parlamentares conseguiram derrubar o veto e a lei foi promulgada, passando a valer imediatamente. A ação, apresentada ontem pela Advocacia-Geral da União, alega que a lei trouxe insegurança jurídica e criou despesas sem estimativa de custos.

Cerca de 50 pessoas internadas no hospital público em março deste ano teriam recebido a droga. Foto: Osmar Nólibus / BM. Transcrito do Combate

 

18
Ago21

Queiroga: sem máscara, sem vergonha na cara

Talis Andrade

 

por Fernando Brito

- - -

Foi-se o último traço de pudor do Sr. Marcelo Queiroga.

Exibindo-se no programa do notório Allan Terça Livre, disse que é contra a obrigatoriedade do uso de máscaras em espaços públicos (leia-se lojas, mercados, repartições publicas, farmácias, mercados etc…).

Máscara, diz ele, só por “conscientização”.

Ou seja: se você quiser comprar um remédio,, comida, uma roupa, um calçado ou ir a um banco, dependerá de que os demais clientes sejam “conscientes” e estejam usando a proteção.

Não sendo consciente – ou sendo bolsonegacionistas, você, segundo o ministro, ou corre o risco sério de contaminar-se ou não faz sua compra ou não usa o serviço.

Lindo, não é: o cidadão que for “consciente” está submetido à ditadura dos bárbaros.

O pior é que isso é dito no momento em que a ameaça da “variante Delta” assume graves proporções e nós, aqui, seguimos “comendo mosca”, enquanto somos avisados, pelos países onde ela já se disseminou, que os casos disparam e as mortes sobem com força.

São 130 mil infecções por dia e as mortes voltaram ontem, depois de vários meses, ao patamar das mil por dia.

Marcelo Queiroga, esqueci-me de dizer, é ministro da Saúde e médico.

Ou deveria dizer que ele seria melhor descrito como cúmplice de um genocídio?

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18
Ago21

O contorcionismo da PGR para defender Bolsonaro

Talis Andrade

 

“Não há provas conclusivas a favor das máscaras”, diz a Procuradoria, em último recurso para evitar pedir processo contra presidente. E mais: a Jansen desvia vacinas da África para o Reino Unido; como evitar a eclosão de novas pandemias

 

por Leila Salim e Raquel Torres /OUTRASAÚDE

- - -

TUDO NORMAL

Não há problemas em a autoridade máxima do país promover aglomerações, ignorar o uso de máscaras e mesmo desestimular a proteção de crianças durante a pandemia que já matou mais de 570 mil brasileiros. A conclusão não é de um blog bolsonarista ou de algum movimento negacionista, mas da Procuradoria Geral da República (PGR). 

Ontem, o órgão enviou parecer ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os pedidos de investigação movidos pelo PT e PSOL contra Bolsonaro por ter promovido eventos com aglomeração e ter aparecido sem máscara. E a conclusão da subprocuradora-geral da República Lindôra Maria Araújo, nome de confiança do procurador-geral Augusto Aras, é que as ações do presidente não configuram crime. 

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E mais: para defender Bolsonaro, a subprocuradora questionou a eficácia do uso de máscaras, contrariando evidências cientificas e as orientações das autoridades de saúde. Segundo ela, não é “possível realizar testes rigorosos, que comprovem a medida exata da eficácia da máscara de proteção como meio de prevenir a propagação do novo coronavírus”. Nessa hora, querem ensaios clínicos no padrão-ouro…

A notícia-crime apresentada pelo PT teve como objeto a famigerada “motociata” promovida por Bolsonaro no Rio de Janeiro, marcada por muita aglomeração e nenhuma máscara. A outra, de autoria do PSOL, tratou do episódio em que Bolsonaro abaixou a máscara de uma criança de colo ao confraternizar com apoiadores no Rio Grande do Norte. O pedido imputou ao presidente crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Código Penal.

Mas, de acordo com a PGR, o desrespeito a leis e decretos que obriguem o uso de máscaras não tem gravidade para justificar uma punição penal, sendo, no máximo, passível de sanção administrativa. Segundo o parecer, o crime de infração sanitária só é configurado quando se cria uma situação de perigo para a saúde pública. “É preciso que a conduta possa realmente ensejar a introdução ou propagação de doença contagiosa”, afirmou o texto.

Pois é: parece que, na conta da PGR, aglomerações e não-uso de máscaras são seguros. Tudo normal.Charge: A máscara que mais combina com Bolsonaro. Por Aroeira

DELTA E CORONAVAC

A entrada recente da Delta na China tornou possível ter as primeiras indicações sobre o desempenho das vacinas utilizadas no país, incluindo a CoronaVac, contra essa variante. E, segundo um estudo (ainda sem revisão de pares) divulgado no The Lancet, ela so fereceram proteção de 69,5% a 77,7% contra pneumonia causada pela covid-19 – mas apenas após as duas doses.

Em um surto com 167 casos da Delta identificados na província de Guangdong, foram rastreados 10.813 contatos próximos dos infectados; é a esses contatos que os resultados da análise se referem. Pouco mais da metade (54,4%) eram não vacinados, 3.130 (28,95%) haviam recebido pelo menos uma dose de vacina e 1.795 (14,6%) receberam as duas doses. Foram basicamente duas as vacinas usadas: a CoronaVac e a HB02, da Sinopharm. Um pequeno número de pessoas (7) havia recebido outros imunizantes. 

Uma limitação do estudo é que os resultados são gerais, não divididos de acordo com o imunizante utilizado. Outra é decorrente da ótima vigilância da China, que não deixa o vírus se espalhar tanto. Apesar de 10 mil pessoas não ser uma quantidade desprezível, é de se imaginar que boa parte dos infectados fossem assintomáticos, já que todos os contatos são testados; o artigo não menciona quantos tiveram sintomas em cada grupo (vacinados e não vacinados), então não dá para saber a proteção contra doença sintomática. Não houve nenhum caso grave entre os vacinados, o que sugere para uma boa proteção – porém, entre quem não tomou a vacina esse número foi muito pequeno (19 casos) para que se pudesse determinar a efetividade. Ninguém morreu, em nenhum dos grupos.

A boa notícia, relevante estatisticamente, se refere aos casos de pneumonia: foram identificados 102, sendo 85 em pessoas não vacinadas, 12 em indivíduos com pelo menos uma dose das vacinas e apenas 5 casos em pessoas com esquema vacinal completo. Com apenas a primeira dose, não foi observada proteção. 

FALTAS EM CUBA

Cuba é o país que tem hoje a maior média de casos e mortes diárias por covid-19 nas Américas, considerando o tamanho da população. Os números absolutos são baixos (81 óbitos e 8,7 mil novos casos por dia), mas a ilha tem pouco mais de 10 milhões de habitantes. Quase não houve problemas com o coronavírus por lá no ano passado; só no início deste ano é que uma pequena onda começou a se pronunciar. Desde julho, porém, a subida foi galopante. 

Segundo as autoridades, “esta situação se deve ao não cumprimento das medidas sanitárias, à mobilidade da população e à presença da variante Delta”, que já se tornou predominante. Uma diferença brutal entre 2020 e 2021 foi a reabertura das fronteiras em novembro, aponta o Deutsche Welle. A vacinação no país demorou a começar, mas depois se desenrolou bem – o uso de imunizantes totalmente nacionais é uma baita vantagem. Ainda assim, o percentual da população atingido não é suficiente para garantir allívio: cerca de 42% da população tomou uma dose e 26% o regime completo. Considerando que pouca gente havia se infectado até agora, há muitos suscetíveis ao vírus. 

Como se sabe, tem havido falta de medicamentos na ilha. E, para completar, nos últimos dias passou a haver um problema gravíssimo de escassez de oxigênio medicinal. É que a principal usina produtora ficou inoperante após a quebra de uma peça, o que fez com que a produção ficasse extremamente limitada. Segundo o Granma, foi criado um Centro de Gestão para tentar solucionar o problema. 

FLUXO BIZARRO

Ativistas sul-africanos estão pedindo a divulgação completa dos contratos do governo com a Janssen, ameaçando entrar com uma ação legal para obter as informações. Sua preocupação está fundada num escândalo: o New York Times revelou que a farmacêutica tem exportado milhões de doses envasadas no país para a Europa

Essa vacina é muito adequada para países de baixa renda e/ou com dificuldade de distribuição, porque é barata, de dose única e não necessita ser mantida em temperaturas muito baixas. A empresa concordou em vender doses para imunizar um terço do continente africano, e parte delas passou a ser produzida por um fabricante na África do Sul, a Aspen Pharmacare. Não se trata da produção do IFA (o ingrediente farmacêutico ativo), mas do preparo e envase a partir de matéria-prima importada. Ao todo, a África do Sul encomendou 31 milhões de doses, mas só dois milhões chegaram à população. Enquanto isso, “os registros de exportação revisados ​​pelo NYT mostram que a Johnson & Johnson despachou 32 milhões de doses nos últimos meses, embora isso não capture o número total que deixou a África do Sul”. 

O problema parece estar no contrato, obtido pelo jornal. Muitos países conseguiram estabelecer que doses produzidas no próprio território deveriam ficar para si próprios, mas o contrato da Johnson & Johnson com a África do Sul exigia que o país renunciasse ao direito de impor restrições. “O governo não teve escolha: assine contrato ou fique sem vacina”, justificou Popo Maja, porta-voz do Ministério da Saúde. Mesmo que os ativistas consigam a publicização dos termos, haverá o que fazer – além da denúncia?

DISSOLUÇÃO

O governo de São Paulo decidiu dissolver o Centro de Contingência do Coronavírus, formado por cientistas e médicos que ajudavam na formulação de decisões. A informação tinha sido adiantada na sexta-feira e ganhou mais detalhes ontem: dos 21 antigos membros, sobrarão apenas sete, entre eles João Gabbardo e David Uip. “Doria não vai mais poder dizer que está seguindo a ciência. Vai continuar criticando o Bolsonaro, mas eles estão muito próximos”, diz ao Globo o infectologista Marcos Boulos, que foi dispensado do Centro – numa comparação que consideramos… exagerada.

Não que Doria seguisse sempre as recomendações dos especialistas – ainda segundo Boulos, a dissolução do grupo já era esperada há algum tempo, justo por conta disso. A flexibilização geral iniciada esta semana, por exemplo, não teria passado pelo Centro. Segundo outro ex-membro, Doria afirmou aos participantes que era preciso “um maior alinhamento com as demandas e necessidades do governo”. Já o governo refuta essa acusação, indicando que a mudança reflete um novo momento da pandemia no estado, com queda de casos, internações e mortes, e que “não se pode esperar que um grupo tão grande continue atuando pro bono por mais tempo”. 

CONFIRMOU

Os senadores integrantes da CPI da Covid pretendem denunciar Jair Bolsonaro por falsificação de documento público e crime de responsabilidade no caso do falso documento do TCU com informações infundadas sobre a notificação de mortes por covid-19. Isso depois do depoimento de Alexandre Marques auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), ontem. Ele não trouxe muitas surpresas, mas confirmou que Bolsonaro alterou seu documento com informações falsas sobre a suposta supernotificação de mortes na pandemia, para dar a ele ares de estudo oficial do TCU. 

 

 

A novidade é que Bolsonaro, aparentemente, confirmou o feito. O senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP), vice-presidente da CPI, exibiu vídeo de uma das lives do presidente em que ele insiste na tese da supernotificação e na existência de “dados que irão aparecer”, afirmando textualmente que a tabela que comprovaria a suposta fraude nos números foi feita por ele, e não pelo TCU. “Errei quando falei do TCU. A tabela não é do TCU, foi feita por mim. Me desculpa aí o TCU”, disse o presidente.  

O crime de falsificação de documento público tem pena de dois a seis anos mais multa, podendo ser aumentada em um sexto quanto o autor, o que é o caso de Bolsonaro, é funcionário público. 

Em tempo: na programação de hoje na CPI, está o depoimento de Tulio Silveira, advogado da Precisa, a empresa intermediária acusada de irregularidades no caso Covaxin. Reportagem da Folha revelou que a Precisa e a Envixia Pharmaceuticals, intermediária dos Emirados Árabes Unidos, esperavam receber comissões de até US$ 23 milhões com a venda da vacina ao governo Bolsonaro.

PARA NÃO REMEDIAR

Um grupo de pesquisadores liderado pelo Instituto de Saúde Global da Universidade Harvard, de Cambridge (EUA) lança hoje um relatório avaliando o risco de enfrentarmos novas pandemias e apontando as principais recomendações para evitá-las. Segundo o estudo, o principal problema a ser enfrentado é o chamado spillover (transbordamento), que é como os biólogos chamam o processo de transmissão de vírus ou outros agentes infecciosos de um animal para um humano.

A principal conclusão é que são necessárias medidas para restringir o contato de pessoas com animais hospedeiros de vírus. Como conta a reportagem  d’O Globo, em termos gerais, o custo seria pequeno: US$ 22 bilhões por ano, apenas 2% das perdas econômicas globais causadas pela pandemia da covid-19. 

Segundo os pesquisadores, em média dois casos de spillover são registrados por ano, mas é muito difícil antecipar quais eventos serão localizados e quais se tornarão epidemias ou pandemias. De todo modo, ressaltam que hospedeiros como morcegos, macacos, roedores e aves aquáticas merecem atenção especial. Junto a isso, há que se olhar para os animais domesticados: é que só metade dos vírus que transitam de animais para humanos saem da natureza. Os rebanhos da pecuária em larga escala teriam, assim, que entrar no radar. 

Para o professor de Harvard que coordenou a força-tarefa, Aaron Bernstein, atualmente os esforços se concentram principalmente em tentar frear as epidemias depois que o vírus salta para um humano. Mas, segundo ele, preservar biomas, parar o desmatamento e manter animais em seus habitats seria muito mais econômico e eficiente para enfrentar o problema. 

DIA DE MOBILIZAÇÕES

O dia de hoje foi escolhido pelas centrais sindicais e os servidores públicos federais como uma data unificada de greves e paralisações contra a PEC da Reforma Administrativa. A expectativa é que servidores de todo o país e das esferas municipal, estadual e federal se somem ao 18A, que pretende parar a tramitação da Proposta de Emenda Constitucional 32/2020. 

A pauta, carro-chefe de Paulo Guedes, ministro da Economia, está atualmente na na Câmara e pode ser votada até o final deste mês em comissão especial. Entre as medidas previstas pela reforma, estão a precarização do trabalho dos servidores, com congelamento de salários e corte de licenças historicamente adquiridas; a criação dos chamados “instrumentos de cooperação”, que prevêem o compartilhamento de serviços entre entidades públicas e privadas e são vistos pelas centrais como formas de privatização do serviço público; e o fim da estabilidade dos servidores. 

O diretor-executivo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Pedro Armengol, declarou ao Brasil de Fato que é importante entender a estabilidade não como proteção individual ao servidor, e sim ao cidadão. Segundo Armengol, é ela que garante a autonomia e isenção ao agente público para prestar serviços à sociedade sem sofrer coações de governos e “sem atender interesses fisiológicos e eleitoreiros”.  o tema vem ganhando destaque durante a CPI da Covid, quando denúncias feitas por servidores públicos que gozam de estabilidade revelaram temas centrais para as investigações. 

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