Dados mostram aumento de 30% nos casos nas últimas duas semanas. Especialistas ouvidos pela RFI afirmam que são esperadas novas mutações do coronavírus diante da baixa vacinação em muitos países e orientam que cuidados como uso de máscara sejam mantidos. Eles destacam também que situação brasileira hoje, com cobertura vacinal de quase 80% da população, reduz muito o risco de novo pico de mortes.
Nas ruas do Brasil, a maioria da população já circula sem máscara e mesmo em locais fechados o acessório já cai em desuso. Nos últimos dias, entretanto, o setor farmacêutico alertou para o aumento da procura por exames e autotestes com resultados positivos.
ARFIouviu três especialistas na área para entender os riscos de uma nova onda de coronavírus no país. A avaliação deles é de que a pandemia não acabou: muitos países têm uma taxa baixa de vacinação, criando um terreno propício para o aparecimento de uma nova variante global, como aconteceu com a ômicron.
A situação atual, dizem, ainda exige um esquema vacinal com doses de reforço e cuidados, como o uso da máscara em locais fechados. Nenhum deles, porém, acredita que haverá ondas graves de casos no país a curto prazo.
“Eu não acredito em uma nova onda importante de óbitos num espaço breve, embora possa haver aumento de casos.O Brasil tem uma cobertura vacinal satisfatória, apesar de deixar um pouco a desejar na aplicação da dose de reforço. Além disso, como grande parte da população foi exposta ao vírus durante a onda da ômicron, a gente ainda passa por um momento onde o grau de imunidade na população permite que os indicadores continuem num patamar confortável”, disse àRFIMauro Sanchez, epidemiologista do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília.
“Essa flexibilização das regras que a gente tem visto é compreensível, mas é preciso ter consciência de que a situação pode mudar no curto ou médio prazo porque já há consenso na literatura científica de que novas variantes vão parecer. O que a gente não sabe é quão transmissíveis e virulentas elas serão”, alerta Sanchez. A média móvel de novos casos subiu 29% em duas semanas. Já a variação média de mortes por Covid é estável: foram registrados cem óbitos diários nos últimos sete dias.
Remédio contra Covid
Para o médico André Bon, infectologista do Hospital Universitário de Brasília, o mundo ainda terá de conviver com a realidade do coronavírus por um bom tempo, diante da possibilidade de novas mutações do vírus, mas ele lembra que o Brasil hoje pode encarar o problema de forma muito mais favorável do que em ondas anteriores.
“Nesse momento, além da vacina, a gente tem cada vez mais medicamentos disponíveis para o tratamento da Covid, algumas inclusive com previsão de uso no SUS. O cenário epidemiológico é bem diferente do que o que a gente tinha no começo da pandemia”.
Segundo o infectologista, é preciso trabalhar no sequenciamento genético dos casos e monitorar o aumento do contágio e as ocupações de leito. O objetivo é poder reagir rapidamente no caso de uma nova onda.
“As pessoas estão deixando de fazer os testes, como o PCR, como acontecia antes e têm procurado o autoteste ou exames de farmácia. Isso pode dificultar um pouco o monitoramento e a notificação. A gente precisa manter os registros porque ainda terá de lidar com essa situação por um tempo, já que vivemos num mundo globalizado e pode haver novas versões do vírus”.
Manifestante exibe cartaz durante protesto contra a gestão da crise sanitária pelo governo de Jair Bolsonaro. Brasília, 18 de outubro de 2021.AP - Eraldo Peres
Mãos limpas e uso de máscaras
No Brasil, 77% da população tem um esquema de vacinação completo, com a segunda dose, e 41% receberam uma dose extra de reforço. Estados e municípios retiraram exigências sanitárias como uso obrigatório de máscaras diante da redução de casos e mortes este ano.
“Não dá para falar nada ainda sobre fim da pandemia. Todos que fizeram previsões muito assertivas sobre a situação envolvendo o coronavírus erraram. Uma das características dessas doenças emergentes é a imprevisibilidade e a capacidade de evolução desses organismos, com surgimento de variantes”, explicou Eliseu Waldman, do departamento de epidemiologia da USP. “ É possível que ocorram novos surtos, novos picos. Porém o mais provável é que esses eventos passem a ser menos frequentes e menos intensos.”
Waldman, no entanto, ressalta que apesar da situação mais controlada no Brasil por conta da vacinação, continua havendo mortes diárias em número considerável e por isso é preciso manter os cuidados pessoais e coletivos.
“É bom lembrar que os óbitos continuam porque a doença atinge de forma mais grave aqueles com maior vulnerabilidade. Então o recado é que as pessoas tomem a vacina, não fiquem apenas no esquema básico de imunização, tomem também as doses de reforço. Devemos continuar com o uso de máscara, evitar aglomeração, especialmente em locais fechados, e manter a higienização das mãos.”
Com cara enfezada e fala dirigida unicamente aos seus devotos fiéis, o presidente Jair Bolsonaro apresentou-se aos brasileiros no último dia de 2021 para desejar-lhes um feliz ano novo.
A ocasião pedia que ele manifestasse compaixão pelas vítimas da pandemia da Covid-19 e despertasse em seus familiares a esperança em dias melhores, mas não foi o que aconteceu.
Bolsonaro estava tenso e irritado. Deu por esgotada sua recente versão de Jairzinho paz e amor e reconciliou-se com a outra que sempre lhe caiu muito bem – a do presidente criador de casos.
Não de bons casos, mas de maus. O presidente é um fabricante de crises que não sabe viver em relativa paz. Se o modelo de fato servisse aos seus propósitos, poderia dar-se bem ao fim e ao cabo.
Mas não é o que parece, segundo indicam todas as pesquisas de opinião. O exercício do poder exige a delicada e penosa construção de maiorias sem as quais nada é possível.
Se não for capaz de ampliar o contingente dos que ainda o apoiam, onde Bolsonaro pensa que chegará? Parte dos seus seguidores, convencida de que ele não se reelegerá, o largará de mão.
Cresce entre seus aliados dentro e fora do governo a impressão de que ele começa a examinar a hipótese de abdicar da reeleição, disputando uma vaga ao Senado ou recolhendo-se à sua casa.
Para uma derrota certa e humilhante, ele não irá. Tem mais três ou quatros meses pela frente para decidir o seu destino.
Segundo os jornais internacionais, o colapso de saúde no Brasil representa uma ameaça a todo o mundo
Mig - Nas últimas semanas, jornais de todo o mundo têm dado destaque, de forma negativa, à atuação do presidente Jair Bolsonarona condução da pandemia, já que o país caminha no sentido oposto do resto do mundo, que dá sinais de melhora e controle da doença.
Segundo a mídia internacional, o colapso de saúde no Brasil representa uma ameaça a todo o mundo. As reportagens destacam, por exemplo, o perigo da variante brasileira do coronavírus, também chamada de P1, se espalhar pelo globo, colocando todos os países em risco.
O The Guardian, jornal inglês, em artigo intitulado "A visão do Guardian sobre Jair Bolsonaro: um perigo para o Brasil e para o mundo", diz que "a perspectiva de o extremista de direita Jair Bolsonaro se tornar presidente do Brasil sempre foi assustadora. Era um homem com histórico de denegrir mulheres, gays e minorias, que elogiava o autoritarismo e a tortura. O pesadelo se revelou ainda pior na realidade".
De acordo com o folhetim, Bolsonaro permitiu que o coronavírus aumentasse sem controle, atacando as restrições de movimento, máscaras e vacinas. "Mais de 60.000 brasileiros morreram apenas em março", lamenta o texto.
O Washington Post, por sua vez, afirmou que o Brasil "se tornou o maior evento da América do Sul".
"Há uma ansiedade crescente em partes da América do Sul de que P1 possa rapidamente se tornar a variante dominante, transportando o desastre humanitário do Brasil - pacientes adoecendo sem cuidados, um número de mortos disparado - para seus países."
Já para o Financial Times, Bolsonaro minimizou consistentemente a pandemia e está mais "isolado do que nunca".
"A saída repentina dos generais ocorre em meio a um desastre de saúde pública, com um número recorde de mortes por coronavírus, tornando o Brasil o epicentro global da pandemia. A mudança aprofundou a crise política sobre a oposição teimosa de Bolsonaro aos bloqueios e as ameaças do ex-capitão do exército de usar o exército contra as autoridades locais que tentaram impô-lo."
Autoridades também se manifestaram
Chefes do Executivo de outros países também fizeram duras críticas ao presidente brasileiro. Nicolás Maduro, da Venezuela, em pronunciamento, disse que a variante brasileira do coronavírus deveria se chamar "Bolsonaro".
"Ele é o culpado por abandonar o seu povo e por ser louco, insensível, um psicopata. Um psicopata! Insensível! Não lhe dói o povo do Brasil. Não lhe dói nada. A ele só interessa sua loucura. Vejam a situação que ele meteu o Brasil e a humanidade. O Brasil é o epicentro mundial das variantes mais perigosas e da expansão do coronavírus. Essa é a verdade."
Denise Garrett trabalhou mais de 20 anos no Centro de Controle de Doenças (CDC) do Departamento de Saúde dos EUA
"O Brasil é o exemplo de tudo que podia dar errado numa pandemia. Temos um país com uma liderança que, além de não implementar medidas de controle, minou as medidas que tínhamos, como distanciamento social, uso de máscaras e, por um bom tempo, também as vacinas. Viramos uma ameaça global."
Essa é a opinião de Denise Garrett, infectologista, ex-integrante do Centro de Controle de Doenças (CDC) do Departamento de Saúde dos EUA e atual vice-presidente do Sabin Vaccine Institute (Washington).
Com a experiência de quem trabalhou no CDC por mais de 20 anos, Garrett não poupa críticas ao governo federal em relação ao combate à pandemia de covid-19.
No órgão, ligado ao Departamento de Saúde dos EUA (equivalente ao Ministério da Saúde no Brasil), ela atuou como conselheira-residente do Programa de Treinamento em Epidemiologia de Campo (FETP) no Brasil, como líder da equipe no Consórcio de Estudos Epidemiológicos da Tuberculose (TBESC) e como conselheira-residente da Iniciativa Presidencial contra a Malária em Angola.
"Um ano depois, estamos no pior lugar em que poderíamos estar, com uma transmissão altíssima, com uma variante extremamente alarmante e com sistema de saúde à beira de colapsar".
"O Brasil parece viver em um universo paralelo. Enquanto todos os países estão indo numa direção, seguimos na contramão".
Especialistas consideram que o Brasil vive o pior momento da pandemia - o país vem registrando nos últimos dias seguidos recordes de mortes diárias.
O Brasil é o segundo país do mundo em número de óbitos (294 mil), atrás apenas dos EUA (542 mil), de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins (EUA).
Garrett falou por telefone à BBC News Brasil. Confira os principais trechos.
Luis Barrucho entrevista Denise Garrett
BBC News Brasil - Faz um ano que a OMS decretou a pandemia de covid-19 no mundo. Qual é a sua análise a respeito da situação do Brasil?
Denise Garrett - O Brasil é o exemplo de tudo o que podia dar errado numa pandemia. Temos um país com uma liderança que, além de não implementar medidas de controle, minou as medidas que tínhamos, como distanciamento social, uso de máscaras e, por um bom tempo, também as vacinas.
A situação hoje é extremamente preocupante. Temos uma população que está exausta. E fizemos um lockdown 'meia boca'.
Um ano depois, estamos no pior lugar em que poderíamos estar, com uma transmissão altíssima, com uma variante extremamente alarmante e com sistema de saúde à beira de colapsar.
O Brasil parece viver em um universo paralelo. Enquanto todos os países estão indo numa direção, seguimos na contramão.
Um fator decisivo para isso, além daqueles sobre os que eu já falei, foi o incentivo do uso de medicações sem nenhuma comprovação cientifica com a população acreditando nelas como uma medida de proteção.
Ou seja, em vez de praticar o distanciamento social e usar máscara, muita gente acreditou no presidente da República e achou que se protegeria com ivermectina e hidroxicloroquina. Não vi nenhum outro país do mundo fazendo isso.
De fato, aqui nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump também chegou, em determinado momento, a recomendar esse medicamento. Mas, no Brasil, houve um protocolo recomendado pelo Ministério da Saúde.
O impacto dessa fake news é imenso - e faz com que até colegas médicos sofram pressão do próprio paciente.
Além de tudo isso, não temos vacina. O governo não fez acordos quando deveria fazer. O presidente disse que não se vacinaria. O estoque que o Brasil tem agora não é proveniente do governo federal.
BBC News Brasil - Muitos especialistas, tanto do Brasil quanto de fora, vêm dizendo que o país se tornou uma ameaça global. A sra. concorda?
Garrett -Claro. O Brasil virou uma grande ameaça global. O país se tornou um caldeirão para novas variantes.
Vírus estão sempre mutando. As mutações que forem favoráveis a ele, quando não há restrição à transmissão, serão selecionadas e vão predominar.
Eventualmente, e isso ainda não aconteceu, uma vez que as novas cepas estão respondendo às vacinas, que protegem contra a forma mais grave da doença, podemos ter variantes que comprometam a eficácia das vacinas.
Claro que num ambiente onde a taxa de vacinação é baixa e a taxa de transmissão alta, como no Brasil, esse risco é muito mais elevado.
Ninguém está seguro até que todos estejam seguros. Nenhum país vai se sentir seguro enquanto houver um país como o Brasil, onde não há nenhum tipo de controle.
Todos os esforços louváveis de outros países que estão funcionando podem simplesmente ser perdidos por causa de um país que não se importa com a pandemia. E onde não existe uma sensibilização pela vida por parte da liderança do país.
Garrett diz que falta liderança ao Brasil em combate à pandemia de covid-19
BBC News Brasil - Neste sentido, a sra. acredita que os brasileiros possam ser mal vistos e até mesmo impedidos de entrar em outros países?
Garrett -Isso é algo que já ocorrendo. E eu vejo isso se intensificando ainda mais. Há restrições contra a entrada de cidadãos brasileiros pelo mundo. Qualquer país de bom senso faria isso. Qualquer país que se preocupa com a saúde de sua população.
É óbvio que os países vão se proteger. As medidas que o Brasil não tomou o restante do mundo tomou. Quando se fala que vai ao Brasil agora é um risco. Antes era o risco de violência, demoramos para mudar essa imagem, agora é a covid-19.
BBC News Brasil - O que a sra. acha que o Brasil deveria fazer neste momento?
Garret -Duas coisas. O Brasil precisa de um lockdown estrito a nível nacional. Passou da hora de um lockdown a nível municipal ou estadual. E quando eu falo em lockdown, eu me refiro a não sair de casa, só em caso de urgência. De esvaziar as ruas, mesmo. Só funcionar serviços essenciais.
Existiu uma época em que poderíamos até fazer confinamentos a nível municipal ou estadual, quando a pandemia no Brasil ainda era "muitas pandemias".
Explico: somos um país enorme e houve um momento em que tínhamos diferentes estágios da pandemia em diferentes localidades. Ou seja, medidas localizadas poderiam ser tomadas.
No estágio atual, essa possibilidade não existe mais. O país inteiro está à beira do colapso. Não adianta fechar um Estado e os outros continuarem abertos. E as pessoas transitando de um para outro.
O Brasil precisa retomar o controle sobre o vírus. O vírus está solto - e isso é urgente. Só assim vamos reduzir os casos e, por consequência, as mortes.
Outra coisa é vacinar a população.
Precisamos de planejamento e estratégia. Mas, infelizmente, não tenho esperança quanto ao governo federal sobre isso.
por Nathalia Passarinho /BBC News Brasil em Londres
REUTERS/AMANDA PEROBELLI. Médicos de centros de referência como hospital das Clínicas, Albert Einstein e Emilio Ribas explicam que efeitos colaterais de medicamentos sem eficácia estão prejudicando o tratamento de doentes graves
Defendido pelo presidente Jair Bolsonaro como estratégia de combate ao coronavírus, o chamado "kit covid" ou "tratamento precoce", na verdade, contribui para aumentar o número de mortes de pacientes graves, disseram à BBC News Brasil diretores de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais de referência.
Mais de um ano depois de a pandemia chegar ao Brasil, Bolsonaro continua defendendo a prescrição de medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina, embora diversas pesquisas científicas apontem que esses remédios não têm eficácia no tratamento de covid-19.
"Muitos têm sido salvos no Brasil com esse atendimento imediato. Neste prédio mesmo (Palácio do Planalto), mais de 200 pessoas contraíram a Covid e quase todas, pelo que eu tenha conhecimento, inclusive eu, buscaram esse tratamento imediato com uma cesta de produtos como a ivermectina, a hidroxicloroquina, a Azitromicina", disse o presidente no início do mês.
Mas evidências científicas apontam que esses remédios não têm efeito de prevenção ou tratamento precoce de covid. E médicos de hospitais de referência ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que a defesa e o uso do "kit covid" contribuem de diferentes maneiras para aumentar as mortes no país.
O médico intensivista Ederlon Rezende, coordenador da UTI do Hospital do Servidor Público do Estado, em São Paulo, destaca que entre 80% e 85% das pessoas não vão desenvolver forma grave de covid-19. Para esses pacientes, usar o "kit covid" não vai ajudar em nada. Também pode não prejudicar, se a pessoa não tomar doses excessivas, não desenvolver efeitos colaterais, nem tiver doenças que possam se agravar com esses medicamentos.
Mas, para 15% ou 20% que precisam de internação, essas drogas, segundo ele, podem prejudicar o tratamento no hospital e contribuir para a morte de pacientes.
Governo bolsonaro investiu R$ 90 milhões em remédios sem eficácia comprovada contra covid-19
"A preocupação maior é com os 15% que desenvolvem forma grave da doença e acabam vindo para a UTI. É nesses pacientes que os efeitos adversos dessas drogas ocorrem com mais frequência e esses efeitos podem, sim, ter impacto na sobrevida", diz Rezende, que é ex-presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira.
E o "Kit covid" também mata de maneira indireta, ao retardar a procura de atendimento pela população, absorver dinheiro público que poderia ir para a compra de medicamentos para intubação, e ao dominar a mensagem de combate à pandemia, enquanto protocolos nacionais de atendimento sequer foram adotados, disseram médicos intensivistas do Hospital das Clínicas, Albert Einstein e Emilio Ribas.
"Alguns prefeitos distribuíram saquinho com o 'kit covid'. As pessoas mais crédulas achavam que tomando aquilo não iam pegar covid nunca e demoravam para procurar assistência quando ficavam doentes", diz Carlos Carvalho, diretor da Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Entre os efeitos da procura tardia por atendimento está a intubação, quando o pulmão já está muito lesionado pelo esforço para respirar. Pacientes que recebem máscara de oxigênio ou ventilação mecânica invasiva antes de chegar à insuficiência respiratória aguda têm mais chances de sobreviver, explicam os médicos intensivistas.
"A falta de organização central e as informações desconexas sobre medicação sem eficácia contribuíram para a letalidade maior na nossa população. Não vou dizer que representa 1% ou 99% (das mortes), mas contribuiu", completa Carlos Carvalho, que também é professor da Faculdade de Medicina da USP.
Efeitos colaterais em pacientes graves
A pneumologista Carmen Valente Barbas, que atua no Hospital das Clínicas e no Albert Einstein, em São Paulo, diz que a maioria das pessoas que ela atende atualmente dizem, na consulta, que tomaram medicamentos do chamado kit covid.
"A maior parte está tomando essas medicações. Em toda videoconsulta que eu faço, as pessoas dizem que estão tomando e tomando em doses cavalares", disse à BBC News Brasil.
A maior preocupação dos médicos intensivistas é o efeito colateral desses medicamentos em pacientes que evoluem para a forma grave da covid e que já estão com o funcionamento de órgãos vitais comprometidos.
"Esses remédios não ajudam, não impedem o quadro de intubação, e trazem efeitos colaterais, como hepatite, problema renal, mais infecções bacterianas, diarreia, gastrite. E a interação entre esses medicamentos pode ser perigosa", completa Barbas, que é professora de medicina da USP e referência internacional em ventilação mecânica.
Entre os medicamentos mais defendidos por Bolsonaro para uso por pacientes com covid estão a hidroxicloroquina, a azitromicina e a ivermectina.
A hidroxicloroquina é um medicamento normalmente usado em pacientes com lúpus, artrite reumatoide, doenças fotossensíveis e malária. A ivermectina é um vermífugo usado para combater vermes, piolhos e carrapatos.
Já azitromicina é um antibiótico que, segundo os médicos, só deveria ser usado em caso de infecção bacteriana, não para previnir um vírus.
Arritmia, delírios e problema renal
O médico intensivista Ederlon Rezende chama a atenção para o risco da hidroxicloroquina causar arritmia cardíaca, um dos efeitos colaterais possíveis do remédio.
Num paciente que evolui para quadro grave de covid, esse pode ser uma efeito adverso crítico, porque a doença causada pelo coronavírus também afeta o coração, ao promover inflamações do músculo cardíaco e trombose nos vasos e tecidos.
Rezende diz ainda que tem tido problemas com pacientes que precisam ser sedados para intubação e que acordam da sedação com confusão mental mais acentuada por causa do uso abusivo de ivermectina antes de chegar ao hospital.
"O paciente, ao acordar da intubação, pode apresentar delírio. Com pacientes com covid isso é muito frequente, porque o vírus atravessa a barreira hematocefálica e afeta o cérebro, principalmente a região frontal, causando inflamação", diz.
"A invermectina é uma droga que também penetra no cérebro quando ele está inflamado, e ela deprime mais ainda o cérebro e piora a qualidade do despertar de um paciente intubado. Essa tem sido uma intercorrência frequente nos pacientes que usaram esse remédio antes chegar à UTI".
A ivermectina, diz ele, também pode provocar lesão renal, outro componente que dificulta a cura de um paciente grave de covid, já que a doença tem potencial para provocar complicações nos rins e demandar hemodiálise.
Brasil vive pico de infecções e tem mais mortes diárias que toda a União Europeia e também América do Norte, segundo dados do Our World in Data
"Em termos de risco de morte, eu daria destaque para a cloroquina e hidroxocloroquina, com potencial para provocar arritmias fatais. E invermectina, como já comentei, com potencial de depressão do sistema nervoso central, lesão hepática, lesão renal, entre outros."
Mais recentemente, Bolsonaro passou a citar a Nitazoxanide, conhecida como Annita, como candidata a integrar o kit covid. O problema, além de não haver qualquer evidência científica de eficácia, é que as pessoas passaram a tomar esse vermífugo junto com outro, a ivermectina, intoxicando o organismo, diz médica do Albert Einstein Cármen Valente Barbas.
"A interação desses medicamentos, tomados juntos, é perigosa. As pessoas estão tomando Annita junto com ivermectina e isso é um absurdo."
Infecções mais resistentes,
aumentando risco de morte
Outro problema foi a inclusão recente, no "kit covid", de corticoides. De fato, pesquisas mostram que corticoides ajudam a reduzir a mortalidade entre pacientes graves, que precisam de ventilação mecânica por máscaras ou intubação.
Mas, no restante da população, o uso pode provocar problemas sérios.
"Para o paciente pouco sintomático ou assintomático, o corticoide pode até baixar a imunidade e propiciar outras doenças. E, muitas vezes, eles (autoridades locais) davam esse corticoide junto com antibiótico", diz Carlos Carvalho, diretor da Divisão de Pneumologia Hospital das Clínicas.
"Se, por azar, o doente piorar e tiver uma infecção, ele vai ter uma infecção mais grave por estar tomando remédio imunossupressor (coirticoide), e vai ter uma bactéria resistente ao antibiótico que ele queimou, usando inadequadamente."
O supervisor da UTI do Hospital Emilio Ribas, Jaques Sztajnbok, também diz que o uso "preventivo" de azitromicina e corticoide, como defendido pelos que advogam pelo "kit covid", causa mais mortalidade do que protege.
"Se você dá corticoide a paciente de covid sem necessidade, ele vai ter um desempenho pior. Ele morrerá mais do que se tivesse sido adequadamente tratado", disse à BBC News Brasil.
"Falsa segurança" leva à demora na busca por atendimento
Entre as contribuições "indiretas" do kit covid para as mortes no Brasil está, segundo os médicos intensivistas, a "falsa segurança" que esses medicamentos produzem, retardando a procura por atendimento médico.
Um problema recorrente nas UTIs brasileiras, dizem eles, é a chegada de pacientes em estado grave que, por se sentirem protegidos por hidroxicloroquina e afins, procuraram ajuda médica quando era tarde demais.
"Esse autotratamento dá uma falsa segurança e as pessoas tendem a retardar mais a procura de cuidados quando evolui para uma forma grave", diz Ederlon Rezende, que é ex-presidente da Associação Brasileira de Medicina Intensiva.
Médicos alertam que muitos pacientes sente uma procuram atendimento tarde demais, quando pulmão já está danificado
Entre os riscos de se procurar ajuda muito tarde está lesionar o pulmão a ponto de o problema não poder ser revertido com ventilação mecânica e intubação.
"Quanto maior o tempo decorrido entre a necessidade de terapia intensiva e a efetiva admissão ao leito de hospital, maior a mortalidade", destaca Jaques Sztajnbok, que chefia a UTI do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo.
A pneumologista Carmen Valente Barbas, que coordena equipes no Albert Einstein e Hospital das Clínicas, diz que a insuficiência respiratória aguda pode evoluir rapidamente para a morte.
"As pessoas estão ficando com falta de ar em casa ou alugando oxigênio em casa. O quadro pode se agravar muito rapidamente e ela pode morrer em casa, sem ter tempo de chegar ao hospital".
Foco em cloroquina tira recursos de tratamentos comprovados
Talvez a maior causa de morte causada pelo enfoque do governo federal em defender remédios não eficazes seja o gasto de dinheiro e tempo que poderiam ser usados na compra de equipamentos, vacinas e na produção de um protocolo nacional com orientações para o atendimento de pacientes graves com covid.
Diferentemente do que ocorreu em países europeus e nos Estados Unidos, passado um ano da pandemia, o Ministério da Saúde não produziu um documento com informações para os profissionais de saúde seguirem.
"Perdeu-se tempo discutindo tratamento precoce sem qualquer evidência científica e não se investiu em disseminar informação sobre tratamentos eficazes para pacientes graves, técnicas de identificação de insuficiência respiratória, uso da posição prona e outros", avalia o pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza, autor de uma pesquisa que revelou que 80% dos pacientes intubados no Brasil em 2020 morreram.
Além disso, recursos que poderia ter sido usados para medicamentos necessários para intubação ou para criar leitos de UTIs foram gastos na compra de cloroquina e outros itens do chamado "tratamento precoce", sem comprovação científica .
Levantamento da BBC News Brasil mostrou que os gastos do governo Bolsonaro com cloroquina, hidroxicloroquina, Tamiflu, ivermectina, azitromicina e nitazoxanida somaram quase R$ 90 milhões até janeiro deste ano. Enquanto isso, médicos e associações farmacêuticas alertam que o estoque de medicamentos necessários para intubação está perto de acabar.
A pneumologista Carmen Valente Barbas avalia que vidas poderiam ter sido salvas se os recursos fossem aplicados em soluções cientificamente comprovadas.
"É gasto que podia estar sendo usado, também, para comprar vacina", lamenta.
"As fake news e toda a disseminação de desinformação sobre tratamentos sem eficácia têm esse duplo caráter: leva informações falsas para a população e tira a oportunidade de as melhores práticas serem difundidas. Perdemos a oportunidade de investir e implementar políticas baseadas em evidências científicas que poderiam salvar vidas", completa o médico infectologista Fernando Bozza, pesquisador da Fiocruz.
A situação sanitária do Brasil é muito preocupante
Professora distribui álcool em escola de São Paulo
DW - O Brasil registrou oficialmente 54.742 casos confirmados de covid-19 e 1.351 mortes ligadas à doença nesta quinta-feira (11/02), segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).
Com isso, o total de infecções identificadas no país subiu para 9.713.909, enquanto os óbitos chegam a 236.201.
Diversas autoridades e instituições de saúde alertam, contudo, que os números reais devem ser ainda maiores, em razão da falta de testagem em larga escala e da subnotificação.
Em números absolutos, o Brasil é o terceiro país do mundo com mais infecções, atrás apenas dos Estados Unidos, que somam mais de 27,3 milhões de casos, e da Índia, com 10,8 milhões. Mas é o segundo em número absoluto de mortos, já que mais de 474 mil pessoas morreram nos EUA.
Brasil pode ficar isolado mundialmente por causa de possíveis variantes do coronavírus
Por Raquel Miura
Especialista ouvido pela RFI diz que país só não errou mais na pandemia por falta de tempo e afirma que demora na vacinação e comportamento da população e de autoridades podem levar o Brasil a ser celeiro de mutações do vírus.
A situação sanitária do Brasil é muito preocupante, mas a população e os governos agem como se os números de casos de coronavírus estivessem em queda vertical. A avaliação é do infectologista Dalcy Albuquerque, membro da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. A consequência disso já se vê no número de mortes e internações, disse o especialista, e pode também levar ao aparecimento de novas mutações do vírus, devido à alta taxa de transmissão.
“Aqui o controle da pandemia é muito fraco, muito falho. O vírus está se reproduzindo livremente, especialmente quando as pessoas estão nas ruas, sem cuidado. E nessa ampla replicação viral, pode haver ‘erros’ no processo, daí as chances de se ter variantes. O Brasil tem fronteira com outros países, temos voos indo e vindo de quase todo o mundo, o nosso país é grande e a situação sanitária é grave. Com tudo isso, o país pode vir a ser um celeiro de novas variantes do coronavírus”.
O médico explicou que a maioria dessas alterações em partes do vírus que surgem da replicação não se desenvolve. Mas alguns desses ‘erros’ podem se tornar predominantes, uma nova cepa, ou conviver com o original, como acontece com as variantes originárias do Reino Unido, África do Sul e da região Norte do Brasil. Em princípio são mudanças que até agora tornaram o vírus mais transmissível, mas não mais letal. “Nós fazemos muito pouco da vigilância virológica, testamos pouco as pessoas e fazemos pouca pesquisa sobre a genotipagem do vírus, ao contrário da Europa, por exemplo. Na Inglaterra, a partir de certa quantidade de exames, se faz uma análise mais detalhada. E nós não fazemos. Pode então haver novas variantes já circulando e nós não sabemos. E por não sabermos, não levamos adiante políticas públicas para combater isso, com isolamento de certas áreas, controle sanitário mais assertivo para barrar a propagação”.
Dalcy Albuquerque diz que o país faz feio no combate à pandemia. “Sob o ponto de vista médico, epidemiológico, o Brasil só não errou mais por falta de tempo, não teria como errar mais do que já errou. Inclusive pela ausência do governo federal na condução de uma política nacional, de uma coordenação. Não houve apoio a hospitais de campanha, negociação antecipada e ágil de vacinas, ao contrário, houve descrédito com medidas sérias contra o vírus. O país voltou a ter aumento nos casos e nada foi feito, continuou-se tudo como se o número tivesse em ritmo de queda”.
A mutação do vírus, a falta de cuidado da população, a inércia do governo federal e a demora na vacinação em massa podem levar a perda inclusive dos efeitos da campanha de imunização já em andamento. “Se houver nova variante importante, pode-se perder o que foi vacinado. Muitas prefeituras estão suspendendo a vacinação por falta de doses. É preciso acelerar a produção pelos institutos brasileiros. E aqui nova falha do governo federal que, diferentemente de outros países, negociou com apenas um fornecedor, Oxford/AstraZeneca. Temos o imunizante da Sinovac devido a uma negociação direta do governo paulista. Outros países negociaram antecipadamente com vários fabricantes.”
Volta ao normal
O infectologista diz que o comércio, os serviços, a indústria só voltarão mesmo ao normal se a população for vacinada. Ainda assim, considera que as aulas, especialmente na rede pública, deveriam ser retomadas para não agravar ainda mais o fosso social do país e porque, na escola, muitas vezes as crianças estão mais protegidas, sob vários aspectos, do que na rua. “O tema é polêmico, mas acho que com um rigoroso protocolo, com participação de professores, funcionários e sobretudo dos pais, que devem orientar os filhos a seguir as regras de higiene da escola, como usar máscara, não comer do lanche do colega, a escola, especialmente a pública, deve reabrir e receber os estudantes”.
Albuquerque diz que não vê com olhos muito otimistas a guerra contra o coronavírus no Brasil, mas isso pode mudar se a produção das vacinas aumentar. “Considerando o ritmo da vacinação, a gente hoje não vê uma boa perspectiva. A Fiocruz e o Butantan estão prometendo entregar um volume bem maior e crescente de doses, o que, se confirmado, mudaria o cenário, mas sem isso a gente perde a corrida. E pode colocar a perder a vacinação feita até aqui se houver uma mutação importante do vírus. E aí corre o risco de ficar isolado no mundo, com brasileiros barrados ou tendo de ficar de quarentena para entrar em qualquer país. Nossos vizinhos na América Latina já estão em ritmo mais acelerado de vacinação”.
França reforça medidas nas escolas contra cepas brasileira e sul-africana
Texto por RFI
As novas cepas do coronavírus, mais resistentes e contagiosas, podem gerar uma nova onda epidêmica na França e representam uma ameaça às campanhas de vacinação. Na tentativa de controlar o avanço das variantes da Covid-19, que os epidemiologistas acreditam que serão majoritárias em março ou abril, o país anunciou um novo reforço no protocolo sanitário nas escolas.
O Ministério da Educação anunciou que as classes serão automaticamente fechadas se um aluno for contaminado pela variante sul-africana ou brasileira. Atualmente, na região parisiense, mais de 250 classes estão fechadas por conta de casos da Covid-19: pelo menos 50 em Paris, 77 em Versalhes e 119 em Créteil.
Todos os alunos e professores serão testados e deverão ficar dez dias de quarentena, contra sete no caso das outras cepas. A medida também vale para uma criança que tenha estado em contato com essas variantes, seja através de amigos ou familiares.
As máscaras caseiras de tecido também foram proibidas nas escolas francesas. Os estudantes do ensino fundamental e médio agora terão de usar máscaras cirúrgicas descartáveis, consideradas mais eficientes para barrar a transmissão do coronavírus.
Para evitar um novo lockdown, o governo francês aposta no recesso escolar de fevereiro, que começou nesta segunda-feira (8) em várias regiões e deve durar duas semanas. Na região parisiense, as férias começam neste sábado (13).
"As próximas semanas serão decisivas", disse o epidemiologista Arnaud Fontanet, membro do comitê cientifíco criado pelo governo para ajudar na gestão da epidemia, ao canal de TV BFMTV, nesta segunda-feira (8). "A cepa britânica vai determinar quais serão as próximas medidas", reitera.
Casos de novas cepas disparam em três semanas
Em 27 de janeiro, o número de casos detectados das novas cepas, principalmente a britânica, chegava a 14%, contra 3,3% de casos positivos em 7 e 8 de janeiro. Para acompanhar sua evolução no território, todos os testes PCR positivos deverão ser analisados com uma técnica que permite detectar a presença possível das três variantes, segundo a Direção Geral da Saúde.
Fora de controle, a cepa britânica poderia levar a um aumento descontrolado do número de casos e a uma retomada da epidemia da Covid-19, de acordo com o virologista francês Bruno Lina, que coordena a vigilância epidemiológica em torno das cepas. "Por enquanto, o cenário não é excessivamente sombrio, ainda temos a possibilidade de controlar esse vírus", afirma.
A situação preocupa os profissionais da saúde, principalmente porque o governo fez uma aposta arriscada ao decidir não decretar, por hora, um novo lockdown. "O governo preferiu preservar a economia, a educação e o social, porque todos estão exaustos com essa repetição de lockdowns", afirma Fontanet. "Se funcionar, tudo bem, mas se a partir de um momento constatarmos que a epidemia continua progredindo, uma hora ou outra precisaremos adotar medidas mais rígidas", salienta
"A epidemia estacionou em um nível elevado", argumenta o epidemiologista Antoine Flahault ao canal BFMTV. Para ele, a estratégia adotada pelo governo francês é "extremamente perigosa." Ele defende a adoção de um lockdown imediato, com o fechamento das escolas, por um período limitado.
(Com informações da AFP
"Mutações podem destruir nossas conquistas", diz Merkel
A chanceler federal Angela Merkel defendeu nesta quinta-feira (11/02), perante os parlamentares no Bundestag (Parlamento alemão), a decisão tomada pelos governos federal e estaduais de prolongar até 7 de março o lockdown por causa da pandemia de covid-19.
Ela disse concordar com o argumento de que há uma clara tendência de declínio nos números de novas infecções, mas alertou para o perigo representado pelas mutações do novo coronavírus, "que podem destruir todas as conquistas" das últimas semanas.
Merkel lembrou que as variantes do coronavírus são bem mais perigosas e transmissíveis e estão se impondo perante a variante inicial, o que já pode ser confirmado em outros países.
Na Alemanha, já foram registrados casos das variantes identificadas pela primeira vez na Reino Unido, na África do Sul e no Brasil, disse.
"Eu não acredito que esse vai e vem, abre e depois fecha de novo, realmente traga mais previsibilidade para as pessoas do que esperar mais alguns dias", comentou.
Ao mesmo tempo, a chanceler federal reconheceu erros na condução da pandemia. No verão europeu de 2020, uma vida mais ou menos normal voltara a ser normal, lembrou. "Mas não fomos precavidos o suficiente nem rápidos o suficiente", observou.
Segundo ela, o governo deveria ter reagido de forma mais rápida quando as infecções voltaram a subir, impondo logo um lockdown. A explosão no número de infecções que se viu a seguir foi consequência de uma "atitude hesitante" por parte do governo, disse.
Oposição critica
A oposição criticou a gestão da pandemia pelo governo. A líder da bancada do partido populista de direita AfD, Alice Weidel, acusou o governo de agir de forma inconstitucional, de impor amplas restrições às vidas dos cidadãos e criar efeitos colaterais imensuráveis
O partido A Esquerda e o liberal FDP voltaram a pedir maior participação do Parlamento na tomada de decisões. O presidente do FPD, Christian Lindner, disse que a população aguardava uma abertura maior diante do "imenso desgaste" que o lockdown provoca na sociedade.
Até 7 de março
A decisão de prolongar o lockdown em vigor desde meados de dezembro foi tomada em Berlim, nesta quarta-feira, durante um reunião entre Merkel e os governadores estaduais. O lockdown estava previsto para acabar no próximo domingo.
O principal critério para uma abertura é a incidência semanal de novas infecções. Os governos querem que ela fique pelo menos abaixo de 50 por 100 mil habitantes, de preferência abaixo de 35. O número está em queda na Alemanha já há vários dias, e nesta quinta-feira caiu de novo, para 64 novas infecções por cem mil habitantes.