Mulher que morreu em fila da assistência social no DF estava doente e não podia trabalhar
Janaína Araújo morreu em fila do Cras, no DF — Foto: Arquivo pessoal
Janaína Araújo tentava atendimento há oito dias, para ter direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). Vítima chegou a ser levada ao hospital por populares, mas não resistiu
Por Laura Tizzo, TV Globo
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A mulher de 44 anos que morreu enquanto aguardava atendimento na fila do Centro de Referência em Assistência Social (Cras) do Paranoá, no Distrito Federal, estava doente e não podia trabalhar. Por isso, Janaína Araújo tentava conseguir o Benefício de Prestação Continuada (BPC), um auxílio de um salário mínimo pago a idosos e pessoas de baixa renda que têm algum tipo de deficiência.
A companheira de Janaína, que preferiu não se identificar, contou à da TV Globo que a mulher era hipertensa, obesa, sofria de síndrome do pânico, depressão e ansiedade. As duas viveram juntas por 10 anos.
De acordo com a companheira, Janaína estava com a saúde debilitada e sem poder trabalhar, e queria o benefício para ajudar nas contas de casa. Janaína tentava há oito dias atendimento no Cras.
Nesta quarta, ela decidiu passar a madrugada na fila para conseguir uma senha. No entanto, começou a se sentir mal.
Testemunhas contaram que Janaína dormia no carro, quando uma amiga pediu ajuda e disse que ela estava passando mal. "Quando a gente chegou lá, ela estava com sintomas de que estava enfartando", contou uma mulher que preferiu não se identificar.
Socorro
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Pessoas dormem em frente à unidades do Cras para conseguir senhas de atendimento no dia seguinte — Foto: TV Globo/Reprodução
Outras pessoas que também estavam na fila contaram que Janaína começou a passar mal por volta das 4h. As testemunhas disseram que tentaram chamar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não receberam socorro. Janaína foi levada ao hospital por populares.
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que a vítima se sentiu mal por volta das 20h de terça-feira (16), mas não procurou atendimento médico. De acordo com a pasta, "às 4h18, houve um registro de chamado realizado ao Samu, no entanto, aos 41 segundos, a ligação foi interrompida pelo solicitante".
Registra-se que o médico regulador sequer teve oportunidade de ser informado do quadro da paciente", diz a secretaria.
A pasta disse ainda que, às 4h26, Janaína deu entrada no Hospital Regional do Paranoá com "rosto roxo, corpo rígido e pupilas médio fixas". A vítima passou por ressuscitação cardiopulmonar, mas não resistiu e teve óbito declarado às 5h.
Foi solicitada necropsia do corpo para identificar a causa da morte", informou a secretaria de Saúde do DF (que ressurte diante da morte)
Atendimento
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População sofredora tenta atendimento no Cras do Itapoã, no DF — Foto: TV Globo/Reprodução
O Cras é responsável por serviços como cadastramento ou atualização dos dados no CadÚnico, para que pessoas de baixa renda possam ser incluídas em programas como Tarifa Social de Energia Elétrica e BPC, além de dar direito ao Auxílio Emergencial e ao Auxílio Brasil, entre outros benefícios.
O benefício que Janaína buscava, o BPC, paga um salário mínimo a idosos com mais de 65 anos e a pessoas com deficiência que não conseguem garantir o próprio sustento. No entanto, na capital, desde junho, dezenas de pessoas têm passado madrugadas nas filas dos Cras, em várias regiões de Brasília, para conseguir acesso a benefícios sociais (veja detalhes abaixo).
No Cras, número de senhas disponibilizado diariamente pela Sedes não é suficiente para atender a todas as solicitações. Por isso, os usuários muitas vezes precisam dormir na fila, para garantir o atendimento.
A situação tem levado a reclamações, além de conflitos entre as pessoas que aguardam atendimento. Na semana passada, a Polícia Civil do DF também abriu uma investigação para apurar uma denúncia de venda de vagas na fila dos centros.
A suspeita é que criminosos tenham se aproveitado da dificuldade no atendimento (de falta de governo federal e falta de governo estudadual) para cobrar até R$ 100 e garantir um lugar na fila. (Nem em tempo de eleições os governantes aparecem. Transcrevi trechos)