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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

29
Jan21

Os negócios obscuros de Brasília sustentam Bolsonaro

Talis Andrade

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Para Nassif, o inquérito sobre o general Eduardo Pazuello traz um componente novo para o governo Bolsonaro: “esse pessoal que gosta de brincar de governar (…) percebem que tem na frente a Justiça para pegá-los. Com todas as ressalvas.

Na opinião de Nassif, “hoje, o que segura Bolsonaro são os negócios da privatização”.

“Vocês percebam que, antes do impeachment, era uma denúncia, um inquérito por dia. Essa era uma das coisas estrambólicas. Daí parou, parou tudo. Você não tem mais inquérito, não tem mais nada”

E nesse cenário, estourou o caso do leite condensado. “Esse caso do leite condensado é interessante. Em uma primeira olhada que nós demos, cá entre nós, manipulação de mídia”

“É evidente que o leite condensado não ia todo para o Jair Bolsonaro (…) Mas é aquele negócio: a imprensa atirou no que viu e acertou no que não viu”

“Hoje, no decorrer do dia, todo mundo começou a ir no Portal da Transparência – criação da dona Dilma Rousseff – (…) o pessoal saiu atrás da compra de leite condensado.

“E daí, foi um dado interessante, porque deu para perceber que você tinha uma baita de uma armação, mas nas compras do Ministério da Defesa”

“E daí, você chega em um ponto em que, para se ter uma ideia, a dona da empresa que vende leite condensado se chama Azenate Barreto Abreu. Ela é mãe de Élvio Rosemberg da Silva Abreu, que é dono da DFX Comércio e Importação Eireli”

“Se é Eireli é uma pequena empresa, que tem como atividade desde comércio varejista especializado em eletrodomésticos e equipamentos e mais 20 atividades secundárias”

“No boletim do Exército de 2009, o Élvio aparece como segundo-tenente da 11ª Região Militar. A esposa do Élvio é a Cynthia Nascente Schuab Abreu, que também contrata em duas empresas com o governo e uma empresa com as Forças Armadas”

“Uma dessas empresas é a JSA Soluções e Comércios de Equipamentos Eireli – se é Eireli é uma empresa pequena. Outra é a Schuab Abreu Engenharia e Soluções Eireli”

“Aí que entra o ponto: no pregão eletrônico de fevereiro (02/2019), para aquisição de material de manutenção de bens imóveis para o Batalhão da Guarda Presidencial. A JSA conseguiu um contrato de R$ 3,374 milhões”

“Consultei especialistas nessa área e o que eles dizem: se você pega as vendas dessas empresas para o governo, para o Ministério da Defesa ou para essa Guarda Presidencial, são pequenos valores e, de repente, explode um baita contrato de R$ 3 milhões”

“Daí, um sujeito dentro do Twitter pesquisou tudo e conseguiu o telefone do dono da empresa. Ele conversou com o dono da empresa. E ele estava surpreso, ele disse “olha, eu vendi leite condensado mas foram quatro caixas. Esse tanto eu não vendi e nem recebi

“Então, diz que um golpe comum com a administração pública consiste em você pegar uma empresa que tem pequenos negócios, você joga um baita de um grande negócio usando o CNPJ da empresa e desvia. Então, provavelmente, foi isso o que aconteceu

“O que chama a atenção é o seguinte: cadê a Controladoria Geral da União, aquela que perseguia e persegue reitores de universidades federais por pequenos desvios administrativos, sem dolo, sem desvio de recursos, sem nada. Cadê?”

“A Receita Federal tem sistemas de cruzamentos de dados que, lá trás, seria fácil pegar (…) Nada disso aconteceu, o que prova que todo esse sistema de controle montado esses anos serviu para propósitos políticos”

“E a imprensa atirou no que não viu e, na hora de fazer a grande investigação, são outros veículos que estão fazendo. O primeiro escândalo é uma besteira”

“E daí o presidente, mostrando que ele está à altura do Brasil de hoje, ou o Brasil de hoje está à altura do presidente, vai para uma churrascaria para confirmar que a gente vai ter, mais cedo ou mais tarde, vamos ter as milícias do Bolsonaro”

Após mostrar o vídeo em que Bolsonaro xinga a imprensa, Nassif afirma: “Esse é o Brasil do iluminismo, segundo o Luis Roberto Barroso. Vocês são responsáveis por isso. A mídia é diretamente responsável por isso”

“E agora, o discurso não tem mais a eficácia que tinha, pois ficou 10 anos investindo em um anticomunismo o mais baixo, o mais anacrônico possível”

“Você pega o Ernesto (Araújo) (…) Daí o Ernesto entra em contato com o Mike Pompeo, que era o homem forte da gestão Trump. Pra que? Pra conseguir oxigênio, para conseguir avião. Não conseguiu nada, nada. De uma incompetência monumental

“Daí, quem que vem em ajuda ao país? A China do lado de cá, e a Venezuela por solidariedade ao Amazonas. Não é questão de que eles são melhores ou piores, a questão é que a diplomacia tem que estar aberta para identificar – não é pra criar conflito, é para criar formas de apoio mútuo”

“A diplomacia não existe efetivamente, (o Brasil) virou um pária. E daí obriga o Brasil, o Bolsonaro a se humilhar perante o presidente americano, em um discurso falso como aquelas leituras tatibitate dele”

“Você tem todo esse quadro, e nós estamos entrando em uma segunda onda vigorosíssima, que vai superar a primeira onda (…) Você tem o agravamento da crise econômica em cima de empresas já combalidas e tem o negócio da privatização circundando tudo isso”

“Esse caso do leite condensado – não o leite em si, mas essas vendas de produtos para o governo. Cadê os filtros? Todo esse aparato que foi levantado em torno da anticorrupção está desmoronando. O objetivo foi unicamente político, que assim que atingiu o objetivo se desmanchou no ar”.

“O Augusto Aras fez um trabalho razoável de desmontar essa maluquice das Forças-Tarefas, mas cadê a iniciativa individual, especialmente do Ministério Público do Distrito Federal, aquele cujos procuradores saíam em passeata pelo impeachment?”

“Você teve o Paulo Guedes, com nenhuma capacidade operacional – o Paulo era conhecido no mercado lá trás como um sujeito que errava todas as apostas. Tinha uma capacidade de convencimento, era um vendedor de Bíblia”

“Então, esgotou a capacidade de fazer a privatização. E você pega os papagaios da mídia ‘não, que não fizer a reforma o país não se salva’. Pelo amor de Deus!”

“Você tem um país que está totalmente desarmado para as jogadas, para as análises. Você está redesenhando o país, desmontando tudo quanto é política. Hoje, mais uma da Damares de dar dinheiro para as igrejas ajudarem Bolsonaro”

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“Você pega o Paraná, um Estado quebrado, dando R$ 100 milhões para as APAEs. É um assalto que olha… eu nunca vi um assalto dessa amplitude com relação ao país, e à falta de defesa total do país”

“A mídia consegue se defender em relação a Bolsonaro, mas em relação aos negócios – que é o que sustenta o governo Bolsonaro hoje – , silêncio absoluto”

“O que o mercado fez? Você tem todos esses fundos de investimento (…) e eles montam as estratégias para avançar sobre cada setor – você pega o que aconteceu no Amapá, todo aquele problema que deu, devido a uma privatização malfeita”

“O (ministro) Lewandowski, sem aparecer, sem ficar sassaricando que nem o Luis Roberto Barroso, sem falar nada, ele está tentando conduzir a política de saúde pelo caminho certo através da sua função de ministro do Supremo. Mas até onde vai isso aí?”

“Isso é pior do que aqueles países do Caribe mais corruptos. Você não tem defesa nenhuma, toda qualquer negociata vem e ‘não, isso é modernização’ (…) Você não tem uma discussão aprofundada em nenhum lado”

“Quando cair a ficha da importância desses setores que estão sendo desmontados, vai ser um atraso de décadas para o país”.

“Um país que já tem uma concentração de renda brutal, que voltou para o Mapa da Fome. E você é incapaz de fazer uma discussão minimamente racional de interesse nacional”

“O conceito de interesse nacional foi para o vinagre. A mídia é capaz de fazer um baita carnaval em cima do leite condensado, antes de saber que tinha outras coisas no meio”

“Mas antes do leite condensado, mas em cima de uma queima de ativos que vai desestruturar todo um setor elétrico que nem a Eletrobrás, nada.”

Vinícius Amaral comenta que o retorno do auxílio emergencial se tornou imperativo, já que dezenas de milhões de brasileiros ficarão sem nenhuma renda sem ele. “A ideia já ganha apoio no Congresso, onde todos os candidatos à Presidência da Câmara e do Senado sinalizaram a favor. O governo, que sempre foi contra a ideia, começa a ceder mas impõe condições para a volta do auxílio”.

“Uma delas é a aprovação da chamada PEC Emergencial, que impõe diversas medidas de ajuste fiscal. A aprovação dessa PEC, no entanto, parece ser um péssimo caminho”

“A PEC é tão restritiva que ela impediria que o governo usasse diversos instrumentos fundamentais para o combate à pandemia, como por exemplo a própria contratação de profissionais de saúde”.

“Com a PEC aprovada, inclusive, poderia se criar um cenário em que o governo teria a desculpa perfeita para não agir: ele poderia dizer, e com uma certa razão, que o Congresso lhe atou as mãos e que quase nada pode fazer para enfrentar a pandemia”.

“Fica claro que querer que o auxílio seja renovado, mediante cortes prévios de despesa, é querer ser contra a renovação do auxílio”, diz Vinícius. “No curto prazo, ele terá que ser financiado da mesma maneira que em 2020, com emissão de títulos de dívida, e o cenário é muito menos problemático do que uma histeria do governo e do mercado fazem crer”.

 

21
Jan21

A vacinação e o tênue limite entre proteção e desrespeito aos direitos dos idosos

Talis Andrade

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Por Patricia Novais Calmon /ConJur

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Se o ano de 2020 será lembrado pela pandemia, provavelmente o ano de 2021 será recordado como o ano da vacinação. E, inclusive, uma vacina produzida em tempo recorde [1] e que, para além de visar a salvar muitas vidas ao redor do mundo, outros fatores também entram nessa equação, como, por exemplo, questões políticas relativas à recuperação econômica e, ainda, ao retorno ao trânsito entre pessoas, bens e serviços entre países.

E, nesse cenário pandêmico, não é novidade alguma que os idosos representam um grupo vulnerável que demanda uma atenção especial por parte dos Estados-nações, já que, ao serem diagnosticados com a Covid-19, o nível de letalidade é superior se comparados ao dos mais jovens. Aliás, tal lógica tem se aplicado ainda na denominada "segunda onda" do vírus [2].

Justamente por isso e, ainda, diante da escassez das empresas farmacêuticas em distribuir vacinas para cobrir toda a população mundial de uma só vez (e, obviamente, em razão das dificuldades logísticas em tal proceder), os Estados tomaram a decisão de vacinar, inicialmente e com exclusividade, as pessoas idosas e aquelas que trabalham em serviços essenciais [3]. Tal medida está sendo adotada nos mais diversos Estados que já iniciaram o seu plano de vacinação, incluindo países da Europa e também nos Estados Unidos.

No entanto, na segunda-feira (18/1), o governo da Noruega reportou que aproximadamente 30 idosos vieram a óbito depois da vacinação, pela marca Pfizer BioNTec, contra a Covid-19 [4], oportunidade em que especialistas chineses também pediram a suspensão de uso de vacinas com a tecnologia de RNA mensageiro [5].

Após a divulgação de tais graves informações, o governo da Noruega revisou o seu pronunciamento, alegando que as mortes não tiveram nenhuma ligação com a vacina.

Entretanto, isso não foi o bastante para abafar uma série de questionamentos a respeito do cronograma de vacinação realizado por uma série de países, inclusive o Brasil. Afinal, na própria divulgação realizada em grandes mídias houve o noticiamento de que a referida vacina não tinha se submetido a estudos aprofundados com idosos com comorbidades e idade superior a 85 anos [6].

E mais, o presidente do Comitê de vigilância da vacinação da Agência Italiana de Medicamentos (Aifa), Vittorio Demicheli, afirmou que não existem razões de alarde nas alegadas mortes, mencionando ainda que a vacinação na Itália estava acontecendo com aqueles que tinham riscos mais altos de morrer [7].

Embora tal afirmação possa ter um caráter protetivo, ela traz consigo um perigoso viés. É que, se a vacina foi desenvolvida e, inclusive, aprovada pelos Estados-nações às pressas (no Brasil, em caráter emergencial) [8], qual a efetiva segurança que ela pode acarretar àqueles que a recebem? Assim, não se sabe se a afirmação de Demicheli ressaltou a possível morte pelo diagnóstico da Covid-19 ou, por outro lado, a suposta alegação de que a pessoa idosa, simplesmente por ter idade mais avançada, teria a probabilidade de morrer antes das demais e, por isso, sua vida e saúde teriam valor inferior às do restante da população.

Nessa última perspectiva, ocupariam os idosos o mesmo papel daqueles combatentes de guerra que permanecem nas linhas de frente? Estariam eles fadados a sofrer com efeitos e sequelas de uma vacina que sequer pode ter sido objeto de amplo estudo no momento da elaboração e aprovação? Não se engane, esse é um duro, e muito triste, questionamento.

Isso significa que a informação de mortes de idosos na Noruega, por mais que tenham constatado posteriormente que em nada se conectam com a vacina, nos evidenciou a existência de um limite tênue entre a proteção e o desrespeito dos direitos da pessoa idosa.

Não se tem dúvidas de que as pessoas idosas devem receber a vacinação de modo prioritário, já que, de acordo com o Estatuto do Idoso (artigo 3º), o direito à vida e à saúde deve ser assegurado a elas, com absoluta prioridade (princípio da prioridade absoluta e proteção integral). Como elas efetivamente são mais vulneráveis quando diagnosticadas pela Covid-19, a vacinação de pessoas com idade mais avançada é essencial.

No entanto, questiona-se o caráter da exclusividade na vacinação desse grupo social neste momento inicial de vacinação em massa. Será que não seria mais adequado o estabelecimento de um cronograma com sequenciamento de grupos de pessoas das mais variadas faixas etárias para que os efeitos pudessem ser evidenciados de maneira mais prudente? Adicionalmente, tal proceder poderia colaborar com o próprio desenvolvimento das vacinas e do tratamento da doença.

Desse modo, a prioridade da vacinação em idosos é essencial, mas isso não quer dizer que se imponha, concomitantemente, a operacionalização de tal vacinação com caráter de exclusividade (isto é, restrito aos idosos e aos grupos específicos), principalmente em um cenário de tantas incertezas, em que todos — inclusive, e prioritariamente, aqueles que possuem a idade mais avançada — devem ter a sua vida e sua saúde respeitadas.

Sem dúvidas, esse é um ponto que deve entrar na pauta política, principalmente diante de um cenário de tantas incertezas. Impõe-se, portanto, ao governo uma análise estratégica e, como não poderia deixar de ser, com atenção aos direitos fundamentais mais básicos de todos, inclusive dos idosos.

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[1] Informação disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2020/12/11/coronavirus-grafico-mostra-tempo-recorde-para-criar-vacina-para-a-covid-19.htm. Acesso em 19 jan. 2020.

[2] Informação disponível em: https://www.poder360.com.br/coronavirus/pandemia-volta-a-ter-mais-mortes-mas-faixa-etaria-da-letalidade-se-mantem/. Acesso em 19 jan. 2020.

[3] Aliás, nesta última categoria, para além de enquadrar os profissionais de saúde, se encontram também aqueles do ramo de transportes. Informação disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/profissionais-de-transporte-entram-em-grupo-prioritario-em-campanha-de-vacinacao-contra-a-covid-19. Acesso em 19 jan. 2020.

[4] Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/mundo/noruega-alerta-para-efeitos-colaterais-de-vacinas-de-mrna,292e926cfc1523fce43147a30c8325e2689rjnb3.html. Acesso em 19 jan. 2020.

[5] Disponível em: https://www.globaltimes.cn/page/202101/1212915.shtml e https://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/2021/01/1027690-especialistas-chineses-pedem-suspensao-de-uso-de-vacinas-com-tecnologia-de-rna-mensageiro.html. Acesso em 19 jan. 2020.

[6] Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/mundo/noruega-alerta-para-efeitos-colaterais-de-vacinas-de-mrna,292e926cfc1523fce43147a30c8325e2689rjnb3.html. Acesso em 19 jan. 2020.

[7] Disponível em: https://www.italy24news.com/a/2021/01/covid-in-norway-23-deaths-associated-with-vaccination-among-elderly-and-frail-people-aifa-no-alarm-maximum-attention.html. Acesso em 19 jan. 2020.

[8] Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-01/por-unanimidade-anvisa-aprova-uso-emergencial-de-vacinas-contra-covid. Acesso em 19 jan. 2020.

17
Jan21

"Pai da cloroquina", médico francês volta atrás e reconhece que medicamento não tem eficácia contra Covid

Talis Andrade

 

247 - O médico francês Didier Raoult, responsável pelo estudo sobre a utilização da cloroquina no tratamento à Covid-19, voltou atrás de sua conclusão, em artigo publicado no International Journal of Antimicrobial Agents.

Didier informou que reavaliou os dados, diante de seis pacientes que haviam “sumido” dos estudos, e ressaltou que a hidroxicloroquina não funcionou. 

“A necessidade de oxigenoterapia, transferência para UTI e óbito não diferiu significativamente entre os pacientes que receberam hidroxicloroquina (HCQ) com ou sem azitromicina (AZ) e nos controles com tratamento padrão apenas”, afirmou.

A substância ainda é defendida pelo governo brasileiros, de Jair Bolsonaro, que estocou uma quantidade absurda do remédio e está buscando empurrá-lo para a população - mesmo que o usuário possa ter problemas cardíacos.
 

 

 
16
Jan21

"As pessoas morreram por hipoxemia, por falta de oxigênio. Na verdade, não morreram por causa da Covid"

Talis Andrade

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Enquanto o povo da capital amazonense vive uma inédita tragédia sanitária, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, monta e financia uma força-tarefa de médicos defensores do que chamam de “tratamento precoce” da Covid-19, denuncia o portal 247.

O chamado tratamento precoce apregoado pelo governo de Jair Bolsonaro consiste no uso de remédios que segundo estudos científicos não têm eficácia no combate ao coronavírus, como a cloroquina para malária e ivermectina e azitromcina, para vermes.

Painel da Folha de S.Paulo revela que a força-tarefa agiu na segunda-feira (11), um dia após o governador Wilson Lima (PSC) pedir socorro ao governo federal e a outros estados devido à falta de oxigênio no estado.

Esta força-tarefa deveria ser investigada. O médico intensivista e coordenador da UTI do Hospital Getúlio Vargas, em Manaus, Anfremon Monteiro Neto, diz que visita cerca de 50 pacientes com coronavírus por dia e que "todos" eles dizem ter usado os medicamentos prescritos pelo tal "tratamento precoce", como azitromicina, hidroxicloroquina e ivermectina.

Segundo ele, nenhum desses remédios ajudam na situação do paciente. O médico afirmou também que é preciso preparar o Brasil para a segunda onda da doença. “Não é falta de tratamento precoce. É sacanagem com a gente que trabalha aqui, que trabalha sério e está tentando fazer alguma coisa. Em vez de ficar fazendo manobras evasivas, o governo tem que preparar o país para a segunda onda. Se preparem, porque ela é devastadora, ela é cruel e vai levar muita gente". Veja o vídeo aqui

Mario Vianna, presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, denuncia:

A capacidade de oxigênio não aguentou e zerou a central de tanques. As pessoas morreram por hipoxemia, por falta de oxigênio. Na verdade, não morreram por causa da Covid. Morreram porque o suprimento, o medicamento que os mantinham vivos, por algum motivo faltou. Portanto, o diagnóstico correto para a causa da morte, já que eu sou legista também, é hipoxemia por falta de oxigênio. Isso é uma condição que, a meu ver, precisa ser apurada, porque tem aspecto até do ponto de vista criminal.

Escreveu Reginaldo Azevedo: A Associação Médica Brasileira não tem cura. Padece de uma doença sem cura chamada subserviência. Tornou-se um aparelho do governo Bolsonaro. 

Reinaldo também reclama do silêncio cúmplice da Sociedade Brasileira de Infectologia, do Conselho Federal de Medicina. Reinaldo condena o charlatanismo do me engano que eu gosto da força tarefa do Ministério da Saúde: "Hoje, Amazonas não consegue nem cuidar dos prematuros. É o custo da irresponsabilidade oficial e coletiva". 

O jornalista Ricardo Kotscho escreve que é preciso salvar o país de Jair Bolsonaro, que comete genocídio como evidencia a crise sanitária em Manaus.

"Panelaços e notas de repúdio, como sabemos, não são capazes de nos livrar do mal maior na pandemia que é esse desgoverno do capitão Bolsonaro e do seu cúmplice Pazuello, que a cada dia aumentam o desespero do povo brasileiro".

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"Com o atraso proposital para o início da vacinação e o aumento nos casos de mortes e contaminações, batendo recordes diários, brasileiros continuam impedidos de ir às ruas para defender os seus direitos, única forma de obrigar a Câmara a iniciar um processo de impeachment".Image

Capa do jornal Folha de S.Paulo 16/01/2021

Capa do jornal Super Notícia 16/01/2021

Capa do jornal Estado de Minas 16/01/2021

Capa do jornal O Tempo 16/01/2021

15
Jan21

Índia diz que Brasil se precipitou ao enviar avião por vacina

Talis Andrade

 

 

Governo indiano diz que ainda é "cedo demais" para confirmar data do envio dos imunizantes contra covid-19 e que país ainda avalia prazos de produção e entrega

 

Índia diz que envio de vacina Oxford-AstraZeneca para o Brasil não está definido

Índia diz que envio de vacina Oxford-AstraZeneca para o Brasil não está definido

 

DW - Autoridades da Índia disseram nesta quinta-feira (14/01) que o Brasil se precipitou ao enviar um avião para recolher 2 milhões de doses da vacina contra a covid-19 produzida no país.

O governo brasileiro enviou um Airbus A330 que decolou do aeroporto de Viracopos em Campinas rumo a Mumbai. Até a noite desta quinta-feira, a aeronave ainda estava no Recife, após fazer uma escala, e deveria partir para o país asiático nesta sexta-feira.

Um porta-voz do Ministério do Exterior indiano afirmou ao jornal Hindustan Times que ainda é "cedo demais" para o envio dos lotes do imunizante, produzido pelo Instituto Serum em parceria com a Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca.Capa do jornal Zero Hora 15/01/2021

Propaganda enganosa

 

Ao ser indagado se o Brasil teria prioridade no envio das vacinas, o porta-voz disse que essa decisão ainda não havia sido tomada pelas autoridades.

"O processo de vacinação está apenas no começo na Índia. É muito cedo para dar uma resposta específica sobre o fornecimento a outros países, porque ainda avaliamos os prazos de produção e de entrega. Isso pode levar tempo", disse Anurag Srivastava.

Brasil "queimou a largada”, diz jornal indiano

Segundo relatos na imprensa indiana, os cronograma para o envio das vacinas para países estrangeiros, incluindo o Brasil, ainda não está concluído. "Parece que o Brasil queimou a largada ao anunciar oficialmente o envio de uma aeronave para transportar dois milhões de doses de vacina”, afirma uma reportagem do jornal indiano Hindustan Times.

Após a fala do porta-voz, o Ministério da Saúde brasileiro afirmou que o governo indiano pediu "um dia a mais” para a entrega das vacinas. O motivo, segundo o órgão brasileiro, seria o início da campanha de vacinação na Índia neste sábado. A Índia tem uma população de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes. 

No dia 5 de janeiro, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil confirmou a aquisição das doses da vacina de Oxford produzidas na Índia, apesar de o governo indiano ter informado que a exportação do imunizante estava proibida.

O presidente Jair Bolsonaro enviou no dia 8 de janeiro uma carta ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, pedindo urgência no envio ao Brasil das doses da vacina. "O imunizante [...] deverá integrar de forma imediata a implementação do nosso Programa Nacional de Imunização", informaram, em nota conjunta, a Secretaria de Comunicação da Presidência e o Ministério da Saúde.Capa do jornal Jornal do Commercio 15/01/2021

Pouco depois, o ministério brasileiro afirmou em nota que o Brasil adquiriu as doses do Instituto Serum e que a embaixada brasileira teria feito os preparativos junto às autoridades indianas após a carta enviada por Bolsonaro a Modi.

A declaração mencionava também os planos para distribuir as vacinas aos estados brasileiros dentro de poucos dias após a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e destacava o êxito na aquisição das doses com exemplo das "excelentes relações” entre os dois países.

Anvisa decidirá sobre vacinas no domingo

O governo indiano dará inicio neste sábado à sua campanha de vacinação contra o coronavírus. No caso brasileiro, a chegada das duas milhões de doses produzidas na Índia seria fundamental para possibilitar o início da a imunização.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse nesta quinta-feira que a vacinação contra a covid-19 teria início na próxima quarta-feira, 20 de janeiro. O plano ainda depende da aprovação do uso emergencial das vacinas pela Anvisa, que tomará uma decisão no próximo domingo.

Em reunião com prefeitos, Pazuello previu que 8 milhões de doses de vacinas estariam disponíveis para a população ainda neste mês. Essas doses se referem às importadas pelo Instituto Butantan, que desenvolve a vacina Coronavac em parceria com a empresa chinesa Sinovac, e pela Fiocruz, que tem acordo com a farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford.

Números conflitantes

Entretanto, as 8 milhões de doses que o governo garantiu para este mês ficam bem abaixo dos números prometidos por Pazuello em dezembro, quando o ministro afirmou que o governo deveria receber 24,7 milhões de doses de vacinas ainda em janeiro.

Desse montante, 15 milhões de doses seriam da vacina da AstraZeneca-Oxford, que será fabricada no Brasil pela Fiocruz, outros 9 milhões seriam do imunizante Coronavac, do Butantan, e 500 mil da vacina da Pfizer-Biontech.

No entanto, apesar do ministro falar em 15 milhões de doses da AstraZeneca-Oxford, a Fiocruz informou que só deve entregar o primeiro lote de 1 milhão a partir da segunda semana de fevereiro. Até o momento, o ministério só contava efetivamente com as 2 milhões de doses prontas que deveriam chegar da Índia nesta sexta-feira.

Sem base científica, governo amplia uso da cloroquina

Cartelas de remédio

O Ministério da Saúde divulga um novo protocolo sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento de pacientes com covid-19, permitindo que os medicamentos sejam administrados também em casos leves da doença. A mudança do protocolo foi feita a pedido de Bolsonaro, apesar de não haver comprovação científica da eficácia do medicamento em pacientes com covid-19. (20/05)

Cloroquina

Brasil amplia orientações de uso da cloroquina contra a covid-19

O Ministério da Saúde informa que vai ampliar as recomendações de uso da cloroquina e de sua derivada hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, passando a orientar a aplicação precoce das drogas em crianças e grávidas diagnosticadas com a doença. O anúncio ocorre no mesmo dia em que os EUA revogam seu uso emergencial no tratamento da covid-19. (15/06)O presidente Jair Bolsonaro de máscara

AUTOANISTIA. Bolsonaro livra agentes públicos de responsabilidade por erros durante epidemia

De acordo com medida provisória (MP) editada por Bolsonaro, agentes públicos apenas poderão ser responsabilizados nos âmbitos civil e administrativo se houver "dolo ou erro grosseiro", "manifesto, evidente e inescusável, praticado com culpa grave" e "com elevado grau de negligência, imprudência ou imperícia". Dias depois, o STF limitou o alcance da MP. (14/05)Jair Bolsonaro

Juiz manda Bolsonaro usar máscara em público

O juiz Renato Coelho Borelli, da 9ª Vara Federal Cível de Brasília, impõe ao presidente Jair Bolsonaro o uso obrigatório de máscara em espaços públicos e estabelecimentos comerciais, como medida de proteção contra o novo coronavírus. Em caso de descumprimento, o magistrado fixou um multa diária de R$ 2 mil. (22/06)

Jair Bolsonaro

Bolsonaro diz estar com covid-19

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que teve resultado positivo em um exame para detectar a covid-19. Ao anunciar o resultado, em entrevista em frente ao Palácio da Alvorada, ele aproveitou a ocasião para mais uma vez reclamar das medidas de isolamento impostas por prefeitos e governadores. Bolsonaro também disse estar se tratando com hidroxicloroquina. (07/07)Funcionária de laboratório com roupa de proteção

Testes no Brasil mostram segurança de vacina chinesa, diz Butantan

Segundo instituto, resultados preliminares em estudo de fase 3 feitos no país são semelhantes aos de ensaios clínicos feitos na China. São Paulo quer começar vacinação no início do próximo ano. (19/10)

Homem de máscara passando sacola a outro homem na rua

"Pandemia deve elevar tanto a fome quanto a obesidade entre brasileiros"

Ex-chefe da FAO, José Graziano se diz preocupado com queda na qualidade da alimentação de crianças fora da escola, bem como com fim do auxílio emergencial, que pode levar milhões a passarem fome e dependerem de caridade. (20/10)

 

15
Jan21

“É um cenário de guerra”, diz presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas sobre pandemia em Manaus

Talis Andrade

Mário Vianna - Pres. Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam)

 

Elcio Ramalho (RFI) entrevista Mário Viana 

O Estado do Amazonas anunciou um toque de recolher de 10 dias devido ao colapso do seu sistema de saúde causado pela pandemia de Covid-19, que deixou os hospitais sem oxigênio para os pacientes. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram pessoas levando cilindros de oxigênio para os hospitais e pacientes reclamando da falta de atendimento médico. Mario Vianna, presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, falou com a RFI nesta sexta-feira (15).

 

RFI: Como está o sistema de saúde de Manaus, com a falta de oxigênio?

Mário Vianna: A situação é crítica, é um cenário de guerra. Em julho de 2019, o sistema público de saúde de Manaus já vivia um colapso, a situação estava caótica, e isso fez com que eu, junto com algumas lideranças médicas e de enfermagem, conseguisse uma audiência com o então ministro Nelson Mandetta. Audiência essa que o governador Wilson Lima, segundo o próprio ministro, tentou fazer com que não acontecesse, para não deixar que fôssemos ouvidos pelo então ministro, que inclusive é médico. Fizemos uma apresentação audiovisual de dez minutos e o ministro ficou simplesmente horrorizado. A gente terminava a apresentação pedindo naquela ocasião uma intervenção federal, já que havia falta de tudo, e além disso alguns profissionais tinham até oito meses de atraso salarial. Com a pandemia, no início de 2020, todo esse caos que já existia só poderia se agravar. Então, o cenário de guerra é resultado de uma saúde pública totalmente desorganizada, caótica, subdimensionada para as necessidades e mal gerenciada.

 

RFI: E qual seria a maior responsabilidade para ter se chegado a essa situação?

Mario Vianna: Eu acho que é falta de responsabilidade da gestão pública dos governos municipal e estadual, falta de competência e, principalmente, de transparência. Onde lê-se “transparência”, entenda-se “corrupção”. Houve desvios comprovados pela CPI da Saúde feita pelos deputados da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas.  

 

 

RFI: O que é possível fazer, o que deve ser feito neste momento para se preservar o maior número de vidas?

Mário Vianna: União de todos, um comando central que não se está tendo, unificado, por pessoas que tratam de guerras, no caso, os militares. O meu pedido de intervenção é que as Forças Armadas assumam a coordenação de saúde do Estado. Pelo que estou vendo das notícias do resto do Brasil, como no Rio de Janeiro, que já tem taxa de ocupação de 100% das UTIs, o problema poderá infelizmente se tornar nacional. Então acredito que as autoridades devam correr, juntar pessoas com capacidade de decisão e conhecimento de situações de guerra, de catástrofe, pois eu considero que é uma catástrofe o que está acontecendo. Faltar oxigênio em uma situação normal de atendimento já é uma catástrofe; faltar oxigênio em uma situação de pandemia, onde o oxigênio é um dos principais elementos de terapêutica, é uma catástrofe ao cubo.Capa da revista ISTOÉ 15/01/2021

 

RFI: Está sendo pedido oxigênio para Estados vizinhos? Há inclusive outros países que já se dispuseram a ajudar...

Mário Vianna: O Ministério da Saúde, juntamente com o Exército e a Aeronáutica estão já trazendo alguns suprimentos de oxigênio, mas as três remessas que chegaram já foram rapidamente consumidas.

 

RFI: Não há mais oxigênio na rede hospitalar?

Mário Vianna: Alguns hospitais chegaram ontem pela manhã (14) ao quantitativo zero, como foi o caso do hospital Getúlio Vargas, que é um hospital federal e que por uma ação do governo estadual houve um acordo de transferência de 60 pacientes para esse hospital universitário, e o hospital entrou em colapso. A capacidade de oxigênio não aguentou e zerou a central de tanques, e então faleceram sabidamente pelo menos quatro pessoas. Essas pessoas morreram por hipoxemia, por falta de oxigênio. Na verdade, não morreram por causa da Covid. Morreram porque o suprimento, o medicamento que os mantinham vivos, por algum motivo faltou. Portanto, o diagnóstico correto para a causa da morte, já que eu sou legista também, é hipoxemia por falta de oxigênio. Isso é uma condição que, a meu ver, precisa ser apurada, porque tem aspecto até do ponto de vista criminal.

 

RFI: A questão da variante da Covid-19 veio piorar a situação de saúde pública no Estado; apareceram novos casos?

Mário Vianna: Parece que sim, quero dizer que eu não sou infectologista nem epidemiologista. Mas tenho acompanhado, por força do cargo que eu exerço, todas as informações e entendo que essa nova cepa seria mais virulenta, isso já foi comprovado no Japão, e aqui também pelo Instituto de Medicina Tropical, que é um instituto científico que também faz um bom trabalho. Há algumas controvérsias, mas o que parece é que as pessoas estão realmente adoecendo de uma maneira mais rápida e com uma virulência maior. As complicações pulmonares estão vindo de formas mais aceleradas. Deus queira que isso não seja totalmente verdade porque a coisa aqui está realmente muito feia e não tenho outro termo para lhe falar.

15
Jan21

Imprensa internacional repercute caos nos hospitais de Manaus

Talis Andrade

Image

Por G1

A imprensa internacional repercute a notícia sobre o caos no sistema de saúde de Manaus, capital do Amazonas. Com falta de oxigênio nos hospitais, pacientes agonizam e médicos e familiares buscam cilindros por conta própria.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reconheceu o colapso na saúde de Manaus e afirmou que a fila por um leito é de quase 500 pacientes. O Ministério Público e a Defensoria dizem que a responsabilidade pela crise no Amazonas é do governo federal.ImageImage

Veja a repercussão em jornais, sites e televisões do exterior:

 

The Guardian

O jornal britânico "The Guardian" estampa em sua página principal na internet que "profissionais de saúde no maior estado do Brasil estão implorando por ajuda e suprimentos de oxigênio após uma explosão de mortes e infecções em Covid".

The Guardian: imprensa internacional repercute caos nos hospitais de Manaus — Foto: Reprodução/theguardian.com

 

BBC

A rede britânica de televisão destaca que hospitais de Manaus "atingiram o ponto crítico ao tratar pacientes da Covid-19 em meio a relatos de grave falta de oxigênio e equipe desesperada".

BBC: imprensa internacional repercute caos nos hospitais de Manaus — Foto: Reprodução/bbc.com

BBC: imprensa internacional repercute caos nos hospitais de Manaus — Foto: Reprodução/bbc.com

 

Clarín

O site do jornal argentino "Clarín" diz que a situação da epidemia de coronavírus na capital do Amazonas é "desesperadora". A reportagem destaca que profissionais da saúde têm que escolher quem vai ou não receber o pouco oxigênio disponível.

Clarín: imprensa internacional repercute caos nos hospitais de Manaus — Foto: Reprodução/clarin.com

Clarín: imprensa internacional repercute caos nos hospitais de Manaus — Foto: Reprodução/clarin.com

 

Público

O jornal português relembra a primeira onda de casos na capital manaura para destacar que, "oito meses depois das valas comuns, Manaus volta a viver momentos dramáticos".

15
Jan21

'Dizer que o acontece aqui é por falta de tratamento precoce é muita sacanagem', diz coordenador de UTI em Manaus (vídeo)

Talis Andrade

Anfremon Monteiro Neto

247 - O médico intensivista e coordenador da UTI do Hospital Getúlio Vargas, em Manaus, Anfremon Monteiro Neto, publicou um vídeo em rede social relatando a situação do sistema de saúde da capital amazonense e condenando o discurso de Jair Bolsonaro e do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, acerca do suposto "tratamento precoce" contra Covid-19.

Monteiro Neto diz que visita cerca de 50 pacientes com coronavírus por dia e que "todos" eles dizem ter usado os medicamentos prescritos pelo tal "tratamento precoce", como azitromicina, hidroxicloroquina e ivermectina.

Segundo ele, nenhum desses remédios ajudam na situação do paciente. O médico afirmou também que é preciso preparar o Brasil para a segunda onda da doença. “Não é falta de tratamento precoce. É sacanagem com a gente que trabalha aqui, que trabalha sério e está tentando fazer alguma coisa. Em vez de ficar fazendo manobras evasivas, o governo tem que preparar o país para a segunda onda. Se preparem, porque ela é devastadora, ela é cruel e vai levar muita gente". Veja o vídeo aqui

06
Dez20

Vacunación para usted, general Pazuello

Talis Andrade

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por José Ribamar Bessa Freira /Taqui Pra Ti

- - -

O ministro da Saúde do Brasil, general Eduardo Pazuello, na quinta-feira (3) participou da reunião dos titulares da Saúde do Mercosul, todos falantes de espanhol. Apesar de não entender chongas de medicina, prestava muita atenção e exibia expressão sagaz de quem estava sacando tudo o que os seus colegas hablaban sobre el combate al coronavirus. Ele tem uma cara inteligente, não tem não? Logo a seguir, falou tanto quiquiriqui sobre a vacina, que trouxe à tona a história vivida por Stanislaw Ponte Preta, humorista responsável por nos alegrar nos anos 1960 com sua coluna no jornal Última Hora

Aconteceu dentro de um avião da Varig lotado com jornalistas brasileiros que iam cobrir a Copa do Mundo de 1962 em Santiago do Chile. O cronista Paulo Mendes Campos, sentado a seu lado, conta que na escala em Buenos Aires, um argentino careca, de barba ruiva, vestido de branco com estetoscópio no pescoço que não deixava dúvidas sobre sua condição de médico da saúde pública, entrou na aeronave pedindo a cada passageiro o atestado de vacina. Quando chegou a vez de Stanislaw, o médico estendeu a mão cobrando:

–  Vacunación, señor!

Como se estivesse recebendo um cumprimento de boas-vindas, Stanislaw apertou a mão do médico, balançou-a várias vezes e respondeu efusivamente:

– Vacunación para usted también.

Era brincadeira inocente. Mas Stanislaw, pseudônimo de Sérgio Porto, tinha um humor considerado “corrosivo”, apimentado. “Fazia graça descobrindo verdades e tinha a coragem de ser odiado por dizê-las”. Como todo homem de sensibilidade, “desprezava os mesquinhos, os medíocres, os debilóides, os cretinos” – escreve Paulo Mendes Campos. Numa crônica em que desenha seu autorretrato, Stanislaw se define como “humorista a sério” e revela de quem não gostava: “puxa-saco, militar metido a machão, burro metido a sabido e, principalmente, racista”. 

Vossas xexelências

Foi para combater as vossas excelências e as vossas xexelências, que Stanislaw criou o FEBEAPÁ – Festival da Besteira que Assola o País. Lá registrava diariamente as asneiras dos “cocorocas”: ministros, deputados, senadores, bispos, juízes, generais, delegados, externando tudo aquilo que estava engasgado na garganta de cada um de nós, nos vingando da babaquice oficial, com um estilo inconfundível.

Pretapress – sua “agência de notícias – não daria conta de tanta bobagem proferida pelas “novas otoridades”, pelos negacionistas e terraplanistas. O general Pazuello, o ex-capitão Jair e quase todo o atual ministério seriam pratos feitos para o Febeapá, que hoje é representado pelos memes irônicos nas redes sociais.

O nosso general, para tranquilizar o país, sustentou que a pior fase da pandemia havia passado, porque as regiões do Norte e do Nordeste do Brasil estão situadas no Hemisfério Norte e sofreram mais com o inverno. Alguém comentou nas redes que o ministro deu “uma aula de geografia da terra plana”.

– “Rezamos para o impacto [do coronavirus] ser menor, mas terá algum grau do impacto” – disse ele sobre a expansão da epidemia para o interior do país.

Quando o seu Ministério tentou escamotear os dados de mortos e infectados, os deputados o pressionaram durante sessão da Comissão Externa de Ações contra o coronavirus e ele, então, admitiu que “os dados são inescondíveis”.

Ele fala besteira, mas pelo menos foi sincero quando disse:

– “Eu nem sabia o que era o SUS, porque passei a minha vida sendo tratado, também em instituição pública, mas do Exército. Vim conhecer o SUS, a partir de agora desse momento da vida”.

– “Ele continua sem saber” – comentou o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), ex-ministro da Saúde.

Com “zero” experiência em saúde pública, o ministro foi convidado por deputados e senadores, nesta quarta (2), para explicar a denúncia de que o Brasil corre o risco de perder, por data de validade, 6,86 milhões de testes para diagnóstico do coronavirus, segundo reportagem do Estadão. E no dia seguinte, participou da reunião com ministros do Mercosul. Em ambas, fez uma ginástica intelectual, com declarações que levariam Stanislaw Ponte Preta ao delírio, se vivo fosse.  

O Febeapá

O ministro Pauzello anunciou aos parlamentares que o Ministério busca uma vacina eficiente, mas que se depender do governo, a população não será obrigada a se imunizar. Disse ainda que até o momento – e essa é a posição do ministério – “a nossa estratégia será a de não obrigatoriedade da vacina” e que falava como ministro, mas em total consonância com o presidente da República. “Obedece quem tem juízo”, havia dito o general de divisão quando levou um chega-prá-lá do capitão Jair, que o desautorizou a comprar “a vacina chinesa do Dória”. O general na ativa só faz o que manda o capitão excluído do Exército.  Uma humilhação pública.

Nos próximos dias, o plenário virtual do STF deve julgar ação do PDT que quer garantir a competência de estados e municípios para decidir sobre a obrigatoriedade da vacina, quando o que se deve discutir é o acesso da população à imunização e a informação sobre esse processo. Enquanto a Inglaterra já começa a imunizar seus cidadãos na próxima semana e outros países europeus ainda este ano ou em janeiro, o ministro prevê para o Brasil iniciar só no mês de março. Ele não mencionou nem a Pfizer, nem a CoronaVac produzida pela China com o Instituto Butantan de São Paulo. 

– Ignorar a possibilidade de comprar vacina da Pfizer é um crime – afirmou o fundador e ex-presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina Neto em entrevista à CNN Brasil. O governo está contando só com uma, a AstraZeneca, que será insuficiente para cobrir a demanda do país. Além disso – pergunta Vecina – por que começar só em março, quando podemos iniciar em janeiro? Isso num momento em que o país se aproxima dos 180.000 mortos, com mais de 6.5 milhões de pessoas infectadas e, segundo especialistas, à beira de uma 2ª ou 3ª onda.

Enquanto isso, Pazuello horroriza seus colegas do Mercosul ao preconizar “o tratamento precoce que fez e faz a diferença para Covid” e ao defender, nas entrelinhas, a cloroquina, mesmo com pesquisas indicando que seu uso pode causar sequelas graves. Os especialistas assinalam que a mensagem faz as pessoas acreditarem na fantasia de que existem remédios contra o coronavirus, criada pelo capitão curandeiro da cloroquina e chancelada por uma compra de mais de R$1,5 milhão para a fabricação do medicamento pelo Laboratório do Exército, decisão de Bolsonaro que não passou pela análise técnica da Anvisa, segundo o ex-ministro Luiz Mandetta.

O Ministério da Saúde já gastou R$ 162, 4 milhões em publicidade, dos quais R$ 88 milhões em propaganda, sendo um terço (R$ 30 milhões) em campanha sobre o agronegócio, a reabertura do comércio e os “feitos” do governo, em vez de informações sobre o distanciamento social e o combate à pandemia, segundo apuração do Repórter Brasil em matéria assinada por Diego Junqueira, que informa estar o Tribunal de Contas da União de olho nesses gastos que fogem da pauta do Ministério. 

O general Pazuello merece mesmo o diploma de sócio honorário do FEBEAPÁ conferido por Stanislaw Ponte Preta, na falta de um FECRUAPÁ – Festival das Crueldades que Assolam o País. Suspeito que a história vai fazê-los pagar caro por isso.  

Os ministros da Saúde do Mercosul só faltaram dizer ao seu colega do Brasil:  Vacunación para usted también.  Quanto a Stanislaw, morto em 1968 aos 45 anos, só resta pedir emprestado a Paulo Mendes Campos o final de sua crônica que homenageava o humorista:

– “Não sei por que essa lembrança me comove e serve para fechar esta página que eu não queria triste. Que a tristeza fique conosco, os amigos que o amavam”.

P.S.1 – Ainda estudante, entrevistei Stanislaw Ponte Preta para um trabalho na disciplina ministrada por Zuenir Ventura, em 1966, no Curso de Comunicação da UFRJ. Sai daquela conversa com vontade de ser jornalista. Leitor fiel de Stanislaw, meu grande sonho, não realizado, era construir uma ponte sobre o igarapé de Manaus batizada de Ponte Preta. (Ver http://taquiprati.com.br/cronica/336-iii–lalau-as-certinhas-e-os-cocorocas)

P.S. 2 – Três dias de homenagem a Bartomé Meliá com mesas e cinedebates entre conferencistas e o público.

03
Dez20

Gonzalo Vecina: vamos capitular à morte?

Talis Andrade

 

por Fernando Brito

- - -

Por vezes preocupo-me, pela minha insistência em apontar, de maneira quase panfletária, a gravidade da pandemia da Covid-19, desde quando era, ainda, uma longínqua ameaça, à qual olhavam com desdém e diziam que “a dengue mata mais”.

Infelizmente, desde janeiro, isso tem se mostrado não apenas correto mas, ainda assim, pouco diante das ameaças que vivemos.

Hoje, nos jornais, há dois alertas da maior seriedade sobre o que está acontecendo e sobre a criminosa insuficiência que se tem não só nas restrições de circulação de pessoas como na atitude estúpida de restringir as fontes de fornecimento de vacinas para o Brasil a um ou dois fornecedores.

Um, é a entrevista do cirurgião Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein, em O Globo, alertando para a necessidade de endurecer as medidas de controle sanitário porque, se tudo correr como nos planos do Governo, ainda há quatro meses antes do início de uma vacinação em escala considerável.

Outro, mais grave, é o do sanitarista Gonzalo Vecina, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância, publicado no Estadão, um vigoroso libelo contra a omissão das autoridades públicas em dar ao combate à pandemia a importância que ele exige, em nome de vidas humanas.

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Propor vacinação só em março e alcançar
no máximo 1/3 da população em 2021 é um crime

Gonzalo Vecina Neto, no Estadão

Nessas idas e vindas da pandemia, às vezes parece que se está em Macondo. Onde estão as ondas? Onde estão os governantes? Onde está a população? E as vacinas? E os mortos? Sim, infelizmente os mortos estão mortos e enterrados. E nem foram adequadamente chorados. É proibido chorá-los. Pode haver disseminação da doença. Do vírus. Desses seres invisíveis que vieram para aumentar o número de mortos. Que ninguém sabe explicar como surgiram e quando vão embora. Mas sabemos que estamos cansados deles e parece que depois da terceira onda eles irão embora e, por isso, queremos sair logo da primeira e viver a segunda, para que chegue a terceira e tudo acabe e Macondo possa voltar à sua…normalidade?

Tempos de realismo fantástico. Estamos vivendo uma pandemia provocada por um vírus letal que veio da destruição ambiental provocada pelo homem na Ásia. Uma parte das pessoas que se infectam morre. Não há remédios para tratar a doença. Apesar de o Secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde ter declarado que deve ser iniciado o tratamento o mais precocemente possível. Com os medicamentos que todos sabemos quais são. E que está “CIENTIFICAMENTE” comprovado que o isolamento social não funciona. Faltou declarar que, de acordo com seu chefe, as máscaras devem ser evitadas, pois os vírus gostam de pessoas mascaradas.

Não interessa se é uma nova onda ou não, estamos vivendo um recrudescimento da epidemia. O número de casos está aumentando no País. Hospitais estão ficando cheios e, em algumas cidades, é preciso escolher quem vai viver, quem não será atendido…E por quê? Porque estamos na rua e nos encontramos com o vírus. Porque nossos governantes não querem assumir o papel para o qual foram escolhidos: governar, liderar, propor alternativas. Porque não queriam ter prejuízos eleitorais e não quiseram voltar atrás em flexibilizações irresponsáveis. E um dia após as eleições propuseram o que já deveriam ter feito há quinze dias!

O que está ocorrendo não é surpresa. Não é fruto dos cientistas mal intencionados. A epidemia se alimenta de encontros e enquanto o vírus circular e existir pessoas que não tiveram a doença ou não foram vacinadas, teremos casos e mortes. Os casos e as mortes poderiam ser evitados pela ação dos governantes que estão falhando e, em uma democracia, quando governos falham, devem ser chamados à responsabilidade e cobrados. Isso ainda não ocorreu. A justiça não seguiu seu curso na identificação dos responsáveis pelas mortes e pelo sofrimento.

O plano proposto de vacinação que parte da existência de uma única vacina e da ficção do CovaxFacility [o acordo da OMS que nos daria 40 milhões de doses de vacina] é de um cartorialismo criminoso. Ignorar que somente no País tivemos quatro vacinas em testes e provavelmente exitosas e que deveriam ter merecido um esforço de negociação do governo é inaceitável. Propor que iniciemos a vacinação em março e que no máximo alcancemos um terço da população em 2021 significa não realizar nenhum mínimo esforço de tentar oferecer alternativas à população. É uma pública capitulação. É um crime. Mesmo em Macondo. Cadê as luzes?

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