Emoção pura
Em lugar de privilegiar o berço histórico do grito do Ipiranga Bolsonaro convoca seus apoiadores e tenta enrolar as Forças Armadas em um destrambelhado comício em Copacabana
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Em lugar de privilegiar o berço histórico do grito do Ipiranga Bolsonaro convoca seus apoiadores e tenta enrolar as Forças Armadas em um destrambelhado comício em Copacabana
por Fernando Brito /Tijolaço
Em novembro de 2018, o então presidente eleito Jair Bolsonaro recebeu para um café o àquela altura Conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, John Boltonpara uma conversa que ficou mais conhecida pelo pão com leite condensado que foi servido do que pelo gesto com que o ex-capitão saudou a chegada do norte-americano: uma continência militar.
Ou também pelo tête-à-tête que os dois mantiveram por longo tempo, sem testemunhas que não um tradutor indispensável.
Semana passada, num ato falho sincericida, em entrevista dada à CNN, Bolton admitiu ter sido “alguém que já ajudou a planejar golpes de Estado, não aqui, mas, você sabe, em outros lugares”, como forma de aliviar uma suposta presença nos eventos do Capitólio, mesmo já fora do governo Trump.
Janio, na lucidez dos seus 90 anos de olhar histórico, faz a associação deste a outros sinais dos cordéis norte-americanos sobre nossa política, como a posterior ‘excursão’ de Sérgio Moro, um ignorante em leis e jurisprudências estadunidenses, a receber milhões por serviços incertos e não sabidos.
Coisa que o cinismo nacional trata como “teoria da conspiração”, embora ainda sejam apavorantes os resultados que o experimento nos trouxe.
por Janio de Freitas /Folha
O apoio majoritário do eleitorado é pouco para garantir a vitória. A Constituição o dá como a condição decisiva, mas sua força moral e jurídica é muito inferior à de seus inimigos, baseada nos fatores opostos.
Artifícios e artimanhas ilegítimas no processo eleitoral, quando não criminais, têm sido a sina latino-americana. Exceto quanto a 64, no Brasil há pouco interesse pelo conhecimento desse submundo, com revelações apenas esparsas e quase todas casuais. Em maior número, talvez, vindas do exterior.
A eleição lavajatista de 2018, cujos fatores decisivos são conhecidos só na superfície mais grosseira, recebeu agora uma inconfidência sugestiva.
Ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump, John Bolton fortaleceu sua crítica ao golpe trumpista com este argumento: fala “como alguém que já ajudou a planejar golpes de estado, não aqui, mas, você sabe, em outros lugares”.
Nos 17 meses que antecederam a demissão de Bolton por Trump, em 10 de setembro de 2019, houve duas articulações golpistas contra processos eleitorais para presidências latino-americanas.
A partir da conclusão de observadores da OEA, a reeleição do índio Evo Morales na Bolívia foi dada como fraudulenta, e ele decidiu renunciar em 10 de novembro de 2019. Aguentara três meses de fortes manifestações, que vinham de antes da eleição (13 de outubro de 2019) já com a acusação de fraude —como no Brasil de 2018, como nos EUA de 2020. Não por táticas isoladas, claro.
Houve inúmeras denúncias de interferência americana na conturbação do país, ainda com Bolton como operador da “segurança externa” dos EUA. Os indícios incitaram a ONU e duas universidades americanas (uma delas, Harvard) a investigações próprias sobre a fraude acusada.
Resultado unânime: eleição sem fraude, vitória limpa de Evo no primeiro turno. Fraudulenta foi a OEA, tão integrante dos domínios americanos quanto o Havaí ou o Alasca. Secretário-geral da entidade, Luis Almagro articulou a alegada observação e as conclusões golpistas da OEA.
(Aqui, o TSE tem sido infeliz em convites recentes. Além da gentileza ao Exército, que virou oportunidade de golpismo, convidou a OEA para observadora. E quem observará os observadores da OEA de Luis Almagro, ainda em ação?)
John Bolton foi o primeiro emissário mandado a Bolsonaro. Caso de urgência: veio ainda antes da posse. Em 29 de novembro de 2018, os dois se trancaram a chave em um quarto da casa de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barras. Presença a mais, só o tradutor. Segredo absoluto, nenhuma informação dos interlocutores nem sobre algum tema, até hoje nenhum vazamento.
Na contramão de Bolton foram as repentinas viagens de Sergio Moro aos EUA, em plena atividade da Lava Jato e sem mais do que pretextos ralos, nem estes ligados ao passos mais ou menos públicos da operação.
Bolton esteve na ativa externa da “segurança” por todo o ápice da Lava Jato, a atividade em 2018 para deixar o caminho livre a Bolsonaro.
Ano, também, em que funcionários americanos se instalaram aqui a título de colaborar com a Lava Jato. Descobertos, foram dados como procuradores e promotores. Ao menos 16. Nenhum se confessou do FBI ou da CIA. Nos inquéritos da Lava Jato não havia negócios com o governo americano.
A ida de Sergio Moro para os EUA, sob pretensa ligação societária a um escritório que lida com intimidades sigilosas de grandes empresas, não é fato isolado. No mínimo, decorreu da Lava Jato.
E tem particularidades. Entre ida e volta, Moro não teve tempo sequer de se adaptar: precisaria conhecer, entre outros fundamentos, o Direito Comercial americano, a jurisprudência específica e mais as técnicas correlatas. Apesar disso, em meia dúzia de meses voltou com milhões para uma pretendida candidatura à Presidência, já declarada contrária a políticas progressistas.
Achar que John Bolton, alegados procuradores e promotores americanos, Trump, Bolsonaro, Lava Jato e trapaças judiciais, juiz declarado “sem imparcialidade e suspeito”, Sergio Moro e Deltan Dallagnol, se vistos como partes de um conjunto, formam mera teoria da conspiração, é coisa de impostor ou merece perdão.
Se for professor ou jornalista a invocá-la, é impostor porque não conhece nem o seu tempo, nem a história que trouxe a ele. Os outros, como se deve conceder à ignorância involuntária, levam o perdão por pena.
Ao fascismo interessa naturalizar a violência e, se der jeito, fabricar mártires. Esse é o palco por excelência para os medíocres espetáculos de autoritarismo e desprezo pelo Estado de Direito
por Luiz Marques
O historiador italiano Renzo de Felice, em Entrevista sobre o Fascismo (Civilização Brasileira), discorre sobre o fascismo histórico (1919-1945) que teve de protagonista “uma classe média emergente, que tende a realizar uma política na própria primeira pessoa”. Operação que partiu da “desclassificação das classes médias que se proletarizaram e que, para fugir deste destino, se rebelam em busca de participação e poder político”. Seu alvo não é o establishment, mas os partidos progressistas (socialistas, em especial) que lutam contra as estruturas de exclusão do sistema. Sistema que aquelas querem reestabelecer para recuperar a posição e os privilégios de que desfrutavam outrora: “ainda que não reconheçam mais na classe dirigente tradicional nem capacidade, nem legitimidade para governar”.
Se o fascismo se abriu a todas as classes sociais, “quanto aos quadros e aos elementos ativos política e militarmente, se caracterizou em sentido pequeno-burguês, dando ao movimento um caráter de classe”. As classes médias não são página virada na história. Não devem ser subestimadas, tampouco entendidas no singular. Ao invés de perder relevância, tornaram-se uma das forças sociais mais salientes da sociedade contemporânea, pluralista e (pós-) industrial. “De certo modo, nos demos conta de que a batalha contra o fascismo se vence ou se perde no terreno das classes médias, não no das outras classes”. Eleitoralmente, é plausível vencer um pleito sem as camadas intermediárias, mas não derrotar o fascismo.
O bolsonarismo mescla o fascismo italiano, donde provém o termo fascio (feixe), e o alemão. Nenhum visava a criação ex nihilo de valores inexistentes. A Itália de Mussolini ecoava o longínquo Império Romano. A Alemanha de Hitler, valores das guerras napoleônicas em diante para reencontrar a pureza ariana. Não para voltar atrás, como os regimes conservadores, mas para prospectar a “nova sociedade” e a “nova política”. O Brasil de Bolsonaro reporta-se às figuras simbólicas da tortura e da ditadura militar: o cel. Brilhante Ustra e o gal. Newton Cruz. As satânicas referências funcionam como modelos a imitar, “tipos ideais” no linguajar da Sociologia. Ignorar as Constituições e a Declaração Universal dos Direitos Humanos serve de predicados à tribo ideológica de ressentidos.
Em comum, além de alinhavarem uma nova concepção política de direita e o apoio de setores agrários, as experiências acima arroladas tiveram a ascensão pavimentada pela conivência das forças convencionais do liberalismo, as quais acreditaram ser possível constitucionalizar e domesticar les bêtes humaines com as lides burocrático-palacianas. Tal ficou patente, entre nós, no alinhamento de tucanos à via fascista na campanha eleitoral de 2018: Doria em São Paulo, Aécio em Minas Gerais e Leite no Rio Grande do Sul; bem como dos meios de comunicação. Um endosso à tese de que o fascismo nasce da crise existencial da sociedade liberal em face do roto espantalho do comunismo. O que explica:
(a) a retórica bolsonariana que, com frequência, acena com o surrado espectro comunista para arregimentar as elites proprietárias e seduzir segmentos temerosos do descenso e;
(b) a demagogia do apelo ao nacionalismo de fachada, enquanto entrega empresas públicas ao capital globalizado, permite a espoliação do país e se rende a interesses imperialistas.
A foto em que o presidente “messiânico” – sem nenhum decoro – bate continência à bandeira dos Estados Unidos e o comentário subserviente (I love you) à passagem do presidente Trump, no corredor de uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU), falam por si. Apesar das evidências políticas e econômicas de uma governança lesa-pátria, o discurso nacionalista embala o arranjo neofascista fardado com a camiseta amarela da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Trata-se de um nacionalismo cheesy, pura breguice, que se junta a um cristianismo vazio de conteúdo, ausente do pulsar real nas ruas; embora presente nas articulações pelo alto com a antirrepublicana bancada evangélica, na Câmara Federal. Tudo é falso na ritualística do bolsonarismo – a defesa da nação e, igualmente, a de Deus.
Cada um dos projetos (Itália e Alemanha ontem, Brasil hoje) tinha e tem preocupação em se prolongar no poder, através da educação (uma ideia iluminista), investindo na juventude. A destruição do Ensino Superior tem contrapartida na aplicação do Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares, pelo governo. Foram mais de cinquenta unidades fundadas, com o único objetivo pedagógico de formar jovens ideólogos para “crer, obedecer, combater”. Governos fascistas investem, antes, em sentimentos e comportamentos do que em esferas públicas de sociabilidade. Apostam na comunidade de fanáticos, não na entidade do povo.
Sobre classificar ou não o fascismo de “revolucionário”, depende. Na acepção leninista de revolução, que moralmente possui conotação positiva, não. Na acepção de um movimento que tende à mobilização, em lugar da desmobilização das massas, sim. A participação de rebanho combina-se com a escolha de “judeus” em que atirar, como o Supremo Tribunal Federal (STF), para desconversar sobre o entreguismo, o negacionismo, o genocídio, a dolarização dos combustíveis, a inflação, a precarização do labor, a retirada de direitos trabalhistas, a corrupção e as milícias. Fake news são estratégicas para manter a adrenalina.
Psicologicamente, cidadãos fascistas devem ser diferentes dos cidadãos desenvolvidos com base em valores da modernidade. Metrópoles urbanas são encaradas como uma ameaça à espiritualidade, de raiz, da população. As cidades levam ao convívio com a diversidade étnico-racial e a uma maior tolerância e aceitação da igualdade de gênero e do respeito às diferenças. Não à toa, Olavo de Carvalho considerava os habitantes rurais uma reserva moral. Sobre o tema, vale a pena ler a excelente obra Guerra da Eternidade: o Retorno do Tradicionalismo e a Ascensão da Direita Populista (Unicamp), de Benjamin Teitelbaum.
Mussolini se ufanava da truculência do movimento e incentivava os ímpetos violentos: “a violência é imoral quando é fria e calculada, mas não quando é instintiva e impulsiva”, dizia. À medida que a movimentação fascista crescia e tomava grandes proporções, não hesitou em canalizar a brutalidade para atingir determinadas metas. Então mudou: “a violência fascista deve ser pensante, racional, cirúrgica”. A violência cirúrgica permitiria manobras mais precisas que as instintivas. “Criamos o nosso mito. O mito é uma fé, uma paixão. Não é preciso que seja uma realidade. O nosso mito é a nação, é a grandeza da nação”, revelou o Duce com a franqueza habitual. O fascismo rima com a prestigitação.
Aqui, é importante listar um ingrediente para a reflexão ético-política, que não costuma despertar a atenção. “O fascismo causou infinitos danos. Um dos maiores foi o de deixar como herança uma mentalidade fascista aos não-fascistas, inclusive aos antifascistas por convicção. Uma mentalidade de intolerância, de prepotência ideológica, de desqualificação do adversário para destruí-lo”, conforme Felice (idem). A anotação se aplica à prática dos “escrachos” (torta no rosto, tinta na roupa, bloqueios, etc), utilizados pelos adeptos da “ação direta”, na Europa. Exagerar nos meios compromete os fins. Na dúvida, não ultrapasse.
O pré-candidato do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) ao governo de São Paulo declarou, recentemente, ser favorável ao armamento da classe trabalhadora paulista e nacional. “A população tem que ter o direito de se armar para se contrapor às milícias e ao crime organizado”. Paulo Altino Jr. não se apercebeu que, num grau de tamanha degeneração institucional, o fascismo teria penetrado os poros do aparelho estatal e, as esquerdas, derrotadas e perseguidas, já teriam sido empurradas para uma espessa clandestinidade. Só o fortalecimento das instituições democráticas pode conter a barbárie.
É possível interpretar o desabafo do expoente esquerdista na condição de um alerta posto pela amplificação totalitária do fascismo no tecido social e, em consequência, pela gravidade dos obstáculos a serem superados pelo conjunto dos progressistas, em outubro. Contudo, não dá para subscrever a transposição de uma proposta da lavra da extrema-direita ao mundo do trabalho, tout court. Há que interpor filtros para delimitar as fronteiras.
Compreender o fascismo não significa imitar os métodos espúrios dos fascistas. Como alerta a máxima do filósofo norte-americano George Santayana: “Quem não conhece a sua história, está condenado a revivê-la”. Traduzindo, o conhecimento ajuda a construir o arcabouço teórico de uma cosmovisão alternativa, para interpelar a cidadania na direção de uma democratização radical da democracia. Ao contrário de obliterar corações e mentes, caindo na tentação dos atalhos panfletários. Melhor não se afastar da estrada – o programa.
As pesquisas de intenção de voto, favoráveis à troca de inquilino no Palácio do Planalto, acirram o ânimo belicoso das hordas do bolsonarismo. Convidado a almoçar na casa do anfitrião, que organizara uma aula magna para alunos da Universidade de Campinas a cargo do ex-presidente Lula da Silva – o mesmo sofreu hostilidades de moradores em condomínio de luxo (rendimentos ao reverso da civilidade). Na saída, teve o carro cercado por broncos manifestantes, abestalhados pelo ódio. A conduta provocativa e agressiva teve a intenção de sucitar imagens de constrangimento, em resposta ao destaque dado ao petista na capa da prestigiosa Time. A revista deixou em polvorosa os bolsominions e a mídia lavajatista que, por covardia, não declara o voto abjeto que a parcialidade à la Sérgio Moro escancara.
Os novos fasci di combattimento não dispõem de plataforma política (il nostro programa è semplice: vogliamo governare / o nosso programa é simples: queremos governar). Seu imaginário é vulnerável frente a vida como ela é. Pelo absoluto desgoverno, não têm realizações mínimas para apresentar, na saúde, educação, infrestrutura, emprego, renda, ciência / tecnologia e meio ambiente. Resta-lhes “vomitar impropérios pretensamente patrióticos contra os inimigos e, passando à ação, expor a dialética dos punhos e dos revólveres”, salienta Leandro Konder em um clássico, Introdução ao Fascismo (Graal).
O desafio perante as táticas que começam a ser empunhadas, para provar que “Lula não pode andar nas ruas; Bolsonaro desfila ovacionado onde vai”, está em mecanismos que impeçam as aproximações perigosas. A prevenção não é mera obrigação da segurança privada dos candidatos e dos partidos, senão que dever do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da Polícia Federal, que necessitam ser acionados sem demora. A questão implica a lisura do processo em curso, a integridade física e a liberdade de ir e vir dos competidores atuais.
Ao fascismo interessa naturalizar a violência e, se der jeito, fabricar mártires. Esse é o palco por excelência para os medíocres espetáculos de autoritarismo e desprezo pelo Estado de Direito. Fugirá do debate político, como o diabo da cruz, para focar no ressentimento da malta de seguidores desinformados. No caos alcança o gozo. Puxar a disputa para a arena civilizacional vai atrair setores das classes médias, e grupos sob sua influência, ao campo democrático-popular. É a lição aprendida em Campinas. Não atravessamos tempos normais.
"O Brasil é uma terra de exploração" para "operadores e organizadores do grande capital que estão nos Estados Unidos"
247 - O jornalista Joaquim de Carvalho disse, durante participação no programa Bom Dia 247 desta segunda-feira (13), que os militares se associaram à oligarquia brasileira e atuam como uma “milícia” na defesa de interesses do grande capital. A afirmação faz eco à declaração do ex-governador e pré-candidato ao governo do Paraná Roberto Requião, que disse que os ”militares não defendem o Brasil, mas o entreguismo de [Jair] Bolsonaro”.
“A posição do Requião é correta. Este é o papel dos militares há muito tempo. Já houve divisão, já houve militar comprometido com a luta do povo brasileiro. Apoiaram em alguns momentos, mas se você retroceder, retroagir, vai ver que em alguns momentos da história do Brasil os militares, na verdade, defendem a oligarquia no Brasil", disse Joaquim.
"Esta oligarquia existe desde a época da colônia. Machado de Assis, na véspera da abolição da escravidão, dizia que a escravidão iria acabar, que a monarquia ia acabar e que a República viria. Aí ele diz, de maneira irônica: mas quem disse que no Brasil houve monarquia constitucional? No Brasil, o que sempre houve foi oligarquia absoluta”, destacou.
"Na hora do vamos ver, eles [militares] funcionam como uma milícia do grande capital. Esse é o problema e sempre foi assim, com alguns setores, em alguns momentos, defendendo um interesse nacional, mas ligado aos interesses da oligarquia”, afirmou o jornalista.
“Esta oligarquia, e a Globo é a face mais visível disso, se tornou muito entreguista. Ela se associou aos operadores e organizadores do grande capital que estão nos Estados Unidos e defendem um interesse que não é nosso, mas muito mais dos organizadores deste grande capital de que o Brasil é uma terra de exploração. O Bolsonaro é mais um dos que fizeram este jogo. Foi assim e é preciso enfrentá-los. É sempre a luta desta elite pequenininha contra o país, contra a nação, tendo como maior vítima os pobres”, completou.
Reportagem da Bloomberg informa que Jair Bolsonaro pediu ajuda ao presidente Joe Biden e disse que Lula, ao contrário dele, defende os interesses do Brasil. Bolsonaro sonha com os soldados de Biden. A transformação do Brasil numa Ucrânia, as cidades destruídas pela guerra civil
247 – Uma reportagem da agência Bloomberg confirma o que muitos brasileiros já sabem: Jair Bolsonaro trabalha contra os interesses nacionais e, portanto, comete o crime de lesa-pátria. "O presidente brasileiro Jair Bolsonaro pediu ajuda ao presidente dos EUA, Joe Biden, em sua candidatura à reeleição durante uma reunião privada à margem de uma cúpula regional nesta semana, retratando seu oponente de esquerda como um perigo para os interesses dos EUA, segundo pessoas familiarizadas com o assunto", informa o jornalista Eric Martin, da Bloomberg.
"Durante a reunião desta quinta-feira, Biden destacou a importância de preservar a integridade do processo eleitoral democrático no Brasil e, quando Bolsonaro pediu ajuda, Biden mudou de assunto, disse uma das pessoas. Os comentários de Bolsonaro a Biden sobre seu rival, Luiz Inácio Lula da Silva, ecoaram suas advertências públicas sobre o ex-presidente de dois mandatos, segundo as pessoas, que pediram anonimato para discutir uma conversa privada. A assessoria de imprensa da presidência do Brasil não respondeu imediatamente a um pedido de comentário, enquanto a assessoria de imprensa da Casa Branca se recusou a comentar imediatamente", acrescentou o jornalista.
Ao contrário de Bolsonaro, que entrega todas as riquezas nacionais, como fez com a Eletrobrás e pretende fazer com o pré-sal, Lula defende boas relações com os Estados Unidos, mas sem abrir mão da soberania nacional.
[Bolsonaro, em 2018, lançou sua campanha eleitoral a presidente nos Estados Unidos, e repete o feito de lesa-pátria ao dizer, ao se proclamar candidato a reeleição fora do Brasil.
Em 2018, bateu continência para a bandeira dos Estados Unidos e para Trump, transformando o filho 03 Eduardo Bolsonaro, deputado federal, uma espécie de embaixador in pectore para a trama de golpes inclusive a invasão do Capitólio.
Agora diz que Lula eleito não é bom para os Estados Unidos. Uma deduragem que só um traidor da pátria é capaz. Ele, Bolsonaro, da extrema direita de Trump, fica de quatro para Biden, ele e todos os seus marechais, para receber pomposas aposentadorias, e generais vassalos e golpistas que não pretendem perder as mamatas. Quando democracia é um governo que o povo exerce a soberania. Os militares não representam o povo. Os militares não foram eleitos pelo povo. Como castas pretendem ser fiscais de urnas. Quando Bolsonaro passou quatro anos malandrando, ele e sua corja. Que o povo julgue se devem permanecer mamando nas alturas, e os civis passando fome. 33 milhões de brasileiros civis passam fome, e 116 milhões de civis sofrem de insuficiência alimentar, isto é, não atingem o consumo básico de 2.100 calorias por dia, ou não tem garantida a alimentação]
O fujão quer evitar debates que mostrem como ele é repelente, para focar no ressentimento da malta de seguidores desinformados
por Luiz Marques /A Terra É Redonda
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O historiador italiano Renzo de Felice, no livro Entrevista sobre o fascismo (Civilização Brasileira), discorre sobre o fascismo histórico (1919-1945) que teve de protagonista “uma classe média emergente, que tende a realizar uma política na própria primeira pessoa”. Operação que partiu da “desclassificação das classes médias que se proletarizaram e que, para fugir deste destino, se rebelam em busca de participação e poder político”. O alvo em vista não é o establishment, mas os partidos progressistas (socialistas, em especial) que lutam contra as férreas estruturas de exclusão do sistema. Sistema que aquelas têm urgência em reestabelecer para recuperar a posição e os privilégios de que desfrutavam outrora: “ainda que não reconheçam mais na classe dirigente tradicional nem capacidade, nem legitimidade para governar”.
Se o fascismo abriu-se a todas as classes sociais, “quanto aos quadros e aos elementos ativos política e militarmente, se caracterizou em sentido pequeno-burguês, dando ao movimento um caráter de classe”. As classes médias não são uma página virada na história. Não devem ser subestimadas, tampouco entendidas no singular. Ao invés de perder relevância, tornaram-se uma das forças sociais mais salientes da sociedade contemporânea, pluralista e (pós-) industrial. “De certo modo, nos demos conta de que a batalha contra o fascismo se vence ou se perde no terreno das classes médias, não no das outras classes” (idem). Eleitoralmente, é plausível vencer um pleito nas urnas sem as camadas intermediárias, mas não derrotar o fascismo.
O bolsonarismo mescla o fascismo italiano, donde provém o termo fascio (feixe), e o alemão. Nenhum visava a criação ex nihilo de valores inexistentes. A Itália, de Mussolini, ecoava o longínquo Império Romano. A Alemanha, de Hitler, valores das guerras napoleônicas em diante para reencontrar a pureza ariana. O Brasil, de Bolsonaro, reporta-se às figuras simbólicas da tortura e da ditadura militar: o coronel Brilhante Ustra e o general Newton Cruz. Referências que funcionam qual modelos a imitar, “tipos ideais” no linguajar da sociologia. Ignorar as Constituições e a Declaração Universal dos Direitos Humanos serve de predicados às tribos ideológicas de ressentidos. Não para voltar atrás, como pretendem os regimes conservadores / tradicionalistas. Mas para prospectar o futuro, com uma “nova sociedade” e uma “nova política”.
Em comum, além de alinhavarem uma nova concepção política de direita e o apoio de setores agrários, as experiências acima arroladas tiveram sempre a ascensão pavimentada pela vergonhosa conivência das forças convencionais do liberalismo, as quais acreditaram ser possível domesticar e constitucionalizar les bêtes humaines com as lides burocrático-palacianas. Isso ficou patente, entre nós, no alinhamento de tucanos à via fascista na campanha eleitoral de 2018: João Doria em São Paulo, Aécio Neves em Minas Gerais e Eduardo Leite no Rio Grande do Sul; bem como dos meios de comunicação.
Um endosso à tese de que o fascismo nasce de uma crise existencial da sociedade liberal em face do roto espantalho do comunismo “que come crianças”. O que explica: (a) a retórica bolsonariana que, com frequência, acena com o surrado espectro comunista para arregimentar as elites proprietárias e seduzir segmentos temerosos do descenso e; (b) a demagogia do apelo ao nacionalismo de fachada, enquanto entrega empresas públicas ao capital globalizado, permite a espoliação do país e se rende aos interesses imperialistas.
A foto em que o presidente “messiânico” – sem decoro – bate continência à bandeira dos Estados Unidos e o comentário subserviente (I love you) à passagem de Donald Trump, no corredor de uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU), falam por si. Apesar das evidências políticas e econômicas de uma governança lesa-pátria, o discurso nacionalista embala o arranjo neofascista fardado com a camiseta amarela da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Trata-se de um nacionalismo cheesy, pura breguice, que se junta a um cristianismo vazio de conteúdo, ausente do pulsar real nas ruas; embora presente nas articulações pelo alto com a antirrepublicana bancada evangélica, na Câmara Federal. Tudo é falso na ritualística do bolsonarismo – a defesa da nação e, igualmente, a profissão de fé em Deus. A esperteza engana bobo.
Cada um dos projetos (Itália e Alemanha ontem, Brasil hoje) tinham e tem preocupação em se prolongar no poder através da educação (uma ideia iluminista), investindo na juventude. A destruição do Ensino Superior teve contrapartida na aplicação do Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares, pelo governo. Foram mais de cinquenta unidades fundadas, com o único objetivo pedagógico de formar jovens ideólogos para “crer, obedecer, combater”. Governos fascistas investem, antes, em sentimentos e comportamentos do que em esferas públicas de sociabilidade. Apostam na comunidade de fanáticos, não na entidade-povo.
Sobre classificar ou não o fascismo de “revolucionário”, isso depende do sentido que se dá ao termo. Na acepção leninista de revolução, que moralmente possui conotação positiva, não. Na acepção de um movimento que tende à mobilização, em lugar da desmobilização das massas, sim. A participação de rebanho combina-se com a escolha criteriosa de “judeus” em que atirar, como o Supremo Tribunal Federal (STF), para desconversar sobre o entreguismo, o negacionismo, o genocídio, a dolarização dos combustíveis, a inflação, a precarização do labor, a retirada de direitos trabalhistas, a corrupção e as milícias. Fake news são estratégicas para manter a adrenalina nos corpos.
Psicologicamente, cidadãos fascistas devem ser diferentes dos cidadãos desenvolvidos com base em valores da modernidade. Metrópoles urbanas são encaradas como uma ameaça à espiritualidade, de raiz, da população. As cidades levam ao convívio estreito com uma diversidade étnico-racial e a uma maior tolerância e aceitação da igualdade de gênero e do respeito às múltiplas diferenças. Não à toa, o guru Olavo de Carvalho considerava os habitantes rurais uma reserva moral. Sobre o tema, vale a pena ler a excelente obra Guerra da eternidade: o retorno do tradicionalismo e a ascensão da direita populista (Unicamp), de Benjamin Teitelbaum.
Mussolini se ufanava da truculência de seu movimento e incentivava os ímpetos violentos: “a violência é imoral quando é fria e calculada, mas não quando é instintiva e impulsiva”, dizia. À medida que a movimentação fascista crescia e tomava grandes proporções, não hesitou em canalizar a brutalidade para atingir determinadas metas. Então, rápido, mudou o lado do velho disco de vinil: “a violência fascista deve ser pensante, racional, cirúrgica”. A violência cirúrgica permitiria manobras mais precisas do que as instintivas. “Criamos o nosso mito. O mito é uma fé, uma paixão. Não é preciso que seja uma realidade. O nosso mito é a nação, é a grandeza da nação”, revelou o Duce com a franqueza habitual. Fascismo rima com manipulação.
Aqui, é importante listar um ingrediente para a reflexão ético-política, que não costuma despertar a atenção. “O fascismo causou infinitos danos. Um dos maiores foi o de deixar como herança uma mentalidade fascista aos não-fascistas, inclusive aos antifascistas por convicção. Uma mentalidade de intolerância, de prepotência ideológica, de desqualificação do adversário para destruí-lo”, conforme Felice. A anotação se aplica à prática dos “escrachos” (torta no rosto, tinta na roupa, bloqueios, etc), utilizados pelos adeptos da “ação direta”, na Europa. O exagero nos meios compromete os fins. Na dúvida, please, não ultrapasse o sinal.
O pré-candidato do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) ao governo de São Paulo declarou, recentemente, ser favorável ao armamento da classe trabalhadora paulista e nacional. “A população tem que ter o direito de se armar para se contrapor às milícias e ao crime organizado”. Paulo Altino Jr. não se apercebeu que, num grau tamanho de erosão institucional, o fascismo teria penetrado os poros do aparelho estatal e, as esquerdas, derrotadas e perseguidas, já teriam sido empurradas para uma espessa clandestinidade. Só o fortalecimento das instituições democráticas pode conter a barbárie. Bravatas não são a solução.
O desabafo do esquerdista contém um alerta sobre a amplificação totalitária do fascismo no tecido social e, em consequência, sobre a gravidade dos obstáculos a serem superados pelo conjunto dos progressistas, em outubro. Contudo, não dá para subscrever a transposição de uma proposta da lavra da extrema-direita ao mundo do trabalho, tout court. Há que interpor filtros para delimitar as fronteiras. Refletir é dispor a realidade em categorias distintas.
Compreender o fascismo não significa imitar os métodos espúrios dos fascistas. Como alerta o filósofo hispano-americano George Santayana: “Quem não conhece a sua história, está condenado a revivê-la”. Traduzindo: o conhecimento ajuda a construir o arcabouço teórico de uma cosmovisão que interpele a cidadania, na direção de uma democratização radical da democracia. Ao contrário de obliterar corações e mentes, caindo na tentação dos atalhos panfletários. Melhor não se afastar da estrada e manter-se fiel ao programa ideopolítico antifascista.
As pesquisas de intenção de voto, favoráveis à troca de inquilino no Palácio do Planalto, acirram o ânimo belicoso das hordas do bolsonarismo. Convidado a almoçar na casa do anfitrião, que organizara uma aula magna para alunos da Universidade de Campinas a cargo do ex-presidente Lula da Silva – o mesmo sofreu hostilidades de moradores em condomínio de luxo (rendimentos ao reverso da civilidade). Na saída, teve o carro cercado por broncos manifestantes, abestalhados pelo ódio. A conduta provocativa e agressiva teve a intenção de suscitar imagens de constrangimento, em resposta ao destaque dado ao petista na capa da prestigiosa Time. A revista alvoroçou bolsominions e a mídia lavajatista que escancara a parcialidade, com desfaçatez. A declaração de voto pró-Lula da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) serve de contrapeso.
Os novos fasci di combattimento não dispõem de plataforma política (il nostro programa è semplice: vogliamo governare / o nosso programa é simples: queremos governar). Seu imaginário é vulnerável frente a vida como ela é nas periferias e nas favelas. Pelo absoluto desgoverno, não têm realizações mínimas para apresentar na saúde, educação, infrestrutura, emprego, renda, ciência / tecnologia e meio ambiente. Resta-lhes “vomitar impropérios pretensamente patrióticos contra os inimigos e, passando à ação, expor a dialética dos punhos e dos revólveres”, salienta o saudoso Leandro Konder no clássico Introdução ao fascismo (Graal).
O desafio perante as táticas empunhadas pelo “cão dos infernos”, na expressão do diretor da telenovela Pantanal, Walter Carvalho, para provar que “Lula não pode andar nas ruas” (sic), está em logísticas que impeçam contingências fora de controle. A prevenção não é só obrigação da segurança privada dos candidatos e dos partidos, senão que dever do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da Polícia Federal. A questão implica a lisura do processo em curso, a integridade física e a liberdade de ir e vir dos competidores atuais. Acuado está o Ustrinha.
Ao fascismo interessa naturalizar a violência e, se possível, fabricar mártires. Esse é o palco por excelência para os medíocres espetáculos de autoritarismo e desprezo pelo Estado de Direito. O fujão quer evitar debates que mostrem como ele é repelente, para focar no ressentimento da malta de seguidores desinformados. No caos, goza. Puxar para a arena civilizacional a disputa vai atrair setores das classes médias e grupos sob sua influência, ao campo democrático-popular. É a lição de Campinas. Não atravessamos tempos normais. Mas atravessamos.
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