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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

15
Dez23

Lugares de memória da escravidão

Talis Andrade
 
Alexandre Calder
 

 

Comentário sobre o livro organizado por Isabel Cristina Martins Guillen

 

por Urariano Mota

Lugares de memória da escravidão e da cultura negra em Pernambuco é um livro que devia ser lido em todas as cidades do Brasil e do exterior. Foi organizado pela historiadora Isabel Cristina Martins Guillen, que reuniu pesquisadores e professores sob o tema da história da escravidão em Pernambuco e seu esquecimento. Nesse “esquecer”, ocultar, o leitor já vê semelhança com os crimes contra a humanidade de outros países.

No livro, são evocados, repostos alguns lugares da resistência negra no Recife: Monumento a Zumbi dos Palmares na Praça do Carmo, Estátua de Naná Vasconcelos no Marco Zero da cidade, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Recife, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Muribeca, Monumento aos maracatus-nação, estátua do poeta negro Solano Trindade e o Pátio de São Pedro do Recife.

Mas o mais importante vem dos textos que contextualizam tais lugares, a partir da discussão e referências aos documentos até hoje não postos em livre conhecimento. Nas palavras de Isabel Cristina Martins Guillen, organizadora do livro: “No caso específico do Recife e sua região metropolitana, há um sensível apagamento dessa memória da escravidão no espaço público. Há pouquíssimas referências explícitas ao passado escravista”.

Nesta altura, compreendemos que é sintomático ter a Rua do Bom Jesus reconhecida internacionalmente como uma das mais lindas do mundo, mas com o cenário esquecido do horror do mercado de homens escravizados. Como se encontra no texto de Ezequiel David do Amaral: “Vendidos na principal rua da cidade, a Rua da Cruz (conhecida atualmente como Rua do Bom Jesus). François de Tollenare, em 1816, viu uma cena cotidiana da escravidão no Recife: exposição de escravos à venda. Em suas Notas dominicais, sobre o Recife assim descreve a cena o viajante…”.

E aqui, mais uma vez, notamos que a indignidade da escravidão, em sua feroz inumanidade, é invisível para a elite local. A brutalidade só é percebida pelo olhar estrangeiros: “Grupos de negros de todas as idades e de todos os sexos, vestidos de uma simples tanga, acham-se expostos à venda diante dos armazéns. Estes desgraçados estão acocorados no chão e mastigam com indiferença pedaços de cana que lhes dão os compatriotas cativos que encontram aqui. Grande número dentre eles padece der moléstias da pele e está coberto de pústulas repugnantes” (Tollenare, citado por Ezequiel David do Amaral).

Mas aprendemos mais. Olhem só a impressionante descoberta. Na pesquisa que mostra o tráfico de escravos em Pernambuco, no texto revelador de Marcus Joaquim Maciel, passamos a conhecer: “O esquecimento da memória do tráfico também surpreende, porque, desde que se começou a estudar este assunto nas Américas, Pernambuco aparece nas fontes e na literatura, pois a capitania começou a receber gente escravizada da África muito cedo. Pode-se dizer que Pernambuco foi o primeiro lugar da América portuguesa onde esse processo se tornou rotineiro. Pelos dados do Trans-Atlantic Slave Trade Database, pode-se ver que, entre o século XVI e a invasão holandesa, em 1630, Pernambuco recebeu praticamente metade de todos os africanos levados para a América portuguesa”.

No texto de Marcus Joaquim: “Foi na década de 1820-1830, que Francisco de Oliveira realmente se destacou nesse importante negócio de tráfico. O fato de ser um traficante não o fazia diferente de outras tantas pessoas ditas de bem, porém imersas na sordidez de um cotidiano inescrupuloso. Ele tinha seus sentimentos, tanto que, em 1839, anunciou no Diario de Pernambuco o desaparecimento de Petit, seu cachorrinho branco, ‘muito magrinho, de olhos lânguidos, com as orelhas cor de café com leite, barriga fina, pernas muitos finas e compridas’”.

Mas, ao mesmo tempo (ou por isso mesmo), ele era capaz de inimaginável crueldade com os escravos: “Em 1845, Mr. Cowper, o cônsul inglês no Recife, disse que Francisco de Oliveira era provavelmente o homem mais rico da cidade. Francisco era muito temido por seus cativos. Quando uma joia foi roubada da sua casa, ele desconfiou de uma cativa doméstica que, desesperada, preferiu jogar-se janela abaixo a ser castigada. A pobre mulher morreu na hora. Francisco não se fez de rogado e mandou abrir a barriga da mulher em busca da joia. Ficou desapontado ao não encontrar o que procurava, para espanto do cônsul inglês”.

Observem esta denúncia anônima, nas páginas do Diário de Pernambuco em 29 de agosto de 1856 na seção Página Avulsa: “É lastimável ver um escravo de tal senhor! Arranhados, esfolados e esgalgados parecem fúrias; seus corpos macerados e chagados servem de pastos a vermes e mal cobertos jazem à mostra ao público, quando saem a mando de tal harpia. Ainda há três dias surrou ele por tal forma uma escrava de mais de 50 anos, que lhe furou o olho”. (Citado no texto de Ezequiel David do Amaral)

É curioso, para não dizer sintomático, que tamanha violência não passe pela obra de Gilberto Freyre. E olhem que ele pesquisou, e muito, em jornais. Sobre a miopia amenizadora da violência contra escravos na obra do escritor já publiquei uma vez.

Maria Graham, a digna escritora que visitou Pernambuco em 1821, viu. Cito as palavras da inglesa: “Os cães já haviam começado uma tarefa abominável. Eu vi um que arrastava o braço de um negro de sob algumas polegadas de areia, que o senhor havia feito atirar sobre os seus restos. É nesta praia que a medida dos insultos dispensados aos pobres negros atinge o máximo. Quando um negro morre, seus companheiros colocam-no numa tábua, carregam-no para a praia onde, abaixo do nível da maré-cheia, espalham um pouco de areia sobre ele”.

Mas na perigosa escrita de Gilberto Freyre o mesmíssimo quadro se conta assim: “Foi numa praia perto de Olinda que Maria Graham, voltando a cavalo da velha cidade para o Recife, viu um cachorro profanando o corpo de um negro mal enterrado pelo dono. Isto, em 1821. Olinda pareceu à inglesa extremamente bela vista do istmo e da praia pela qual, indo do Recife, chegou até ao pé dos montes da primeira capital pernambucana”.

Vocês leram: o horror ocupa uma só linha em Gilberto Freyre, perdida na bela vista de Olinda. Quem quiser, confira, essa ocultação do real está em sua Olinda, guia prático, histórico e sentimental de uma cidade.

Voltemos então ao livro Lugares de memória da escravidão e da cultura negra em Pernambuco. A professora Rosely Tavares de Souza faz impressionante crítica à falta de cumprimento, na prática, da Lei n.º10.639/2003 na Educação Básica: “Ao discutir as questões étnico-raciais, tomando como referência a memória da escravidão no Recife e sua região metropolitana, observamos um abismo entre o que conhecemos até o momento e sobre as devidas atualizações do tema no ensino. Durante minha experiência como professora de História do ensino básico, analisei a finco as coleções de livros didáticos da disciplina. Observei que a temática do período escravocrata no Brasil é tratada a partir de repetidas e antigas abordagens de lugares-comuns ao tratarem as práticas de negros e negras escravizadas no país. Pior ainda: os lugares e imagens que ilustram o período histórico, que aqui referenciamos, são circunscritos apenas a algumas regiões, como o Rio de Janeiro e Salvador, enquanto o Recife é negligenciado nos capítulos que tratam desse conteúdo”.

E mais: “Ao ministrar um curso de curta duração e oficinas sobre ‘análise de livros didáticos de História’ para professores de História, solicitamos como atividade que os docentes observassem se os referidos subsídios didáticos em análise contemplavam a Lei n.º10.639/2003. Quando questionados sobre o conhecimento da referida lei, para minha surpresa, grande parte dos docentes desconhecia não só o documento, mas também uma atualizada historiografia sobre a temática da escravidão”.

Isso acontece depois de mais de 20 anos da Lei em vigor: ‘Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

“Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.”

 Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

 Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.

Luiz Inácio Lula da Silva”

Isso mostra, infelizmente de novo, que o processo histórico da sociedade brasileira ultrapassa o legal. É como se a lei em relação aos negros “não pegasse”. Como se a civilização posta em lei pelo Presidente Lula não estivesse valendo. É revoltante isso. Aliás, é como se o tráfico de escravos ainda não estivesse acabado. Tanto pelos documentos ainda a serem revelados, pelo apagamento da história de pessoas negras nas cidades, quanto pelas torturas e mortes contra os dignos cidadãos, é como se o tráfico de pessoas continuasse.

Lugares de memória da escravidão e da cultura negra em Pernambuco é um livro para ser discutido em todos os lugares, escolas, universidades, congresso e partidos. Para assim incendiar a ignorância e o bárbaro preconceito contra os negros do Brasil. [https://amzn.to/4791Lkl]

05
Dez21

Latuff: ‘existe um esforço para calar vozes que discutem a violência policial’

Talis Andrade
ImagemDeputado federal Heitor Freire (PSL-CE) acusou escola de apologia ao nazismo por causa de charge de Latuff

 

Trabalhos do chargista usados em escolas e em exposição no Congresso foram alvo de tentativas de censura, a mais recente ocorreu na semana da Consciência Negra. Artista afirma que violência do Estado não pode ser tratada como caso isolado

 

por Jeniffer Mendonça

O chargista e o ativista político Carlos Latuff coleciona situações em que seus trabalhos foram alvos de críticas e tentativas de censura ao serem aplicados em escolas. A mais recente ocorreu na semana da Consciência Negra, quando estudantes do Colégio Cívico-Militar Ced 1 da Estrutural do Distrito Federal produziram uma exposição sobre a data. Nos murais estavam charges de diversos artistas com críticas à violência policial.

A vice-diretora da escola disse ao site Metrópoles que o diretor de disciplina, um tenente da PM, pediu a retirada das obras, o que foi negado. Dias depois, o deputado federal Heitor Freire (PSL-CE) entrou na escola acusando os profissionais de corrupção de menores e apologia ao nazismo, já que uma das charges, de autoria de Latuff, mostra um policial com uma braçadeira com a suástica nazista assoprando uma vela com o número 20 num bolo escrito “novembro” e com um corpo de um jovem negro em cima.

Alunos do colégio cívico militar fizeram murais com obras de artistas como Carlos Latuff e Antonio Junião, diretor de arte da Ponte, para o Dia da Consciência Negra; deputado do PSL acusou professores de corrupção de menores e apologia ao nazismo.

04
Dez21

Para encontrar Oliveira Silveira : O Poeta da Consciência Negra

Talis Andrade

Para-encontrar-Oliveira-Silveira-O-Poeta-da-Consci

 

 

ImagemTania Meinerz

 

 

Por Karen Luise Souza e Naiara Rodrigues da Silveira Lacerda /Justificando

 

“encontrei minhas origens
no leste
no mar em imundos tumbeiros
encontrei
em doces palavras
……..cantos
em furiosos tambores
………ritos
encontrei minhas origens
na cor da minha pele
nos lanhos de minha alma
em mim
em minha gente escura
em meus heróis altivos
encontrei
encontrei-as enfim
me encontrei”

 

Esta escrita surge a partir das nossas vidas e se constrói com o objetivo de realizar um registro histórico que ao mesmo tempo em que é singular expressa uma vivência coletiva. Por isto, ela também é o encontro de nós mesmas, por um ideal comum – a luta pela consciência negra e a preservação das memórias de todos aqueles que vieram antes de nós e que brigaram muito para que chegássemos até aqui.

Nossa infância deu-se na década de 70. Foi naquele tempo que pela primeira vez pessoas negras reuniram-se em uma casa no bairro Bonfim, Porto Alegre, pretendendo dar início a estudos com o objetivo de encontrar uma data mais significativa ao povo negro, fugindo da narrativa de que sua liberdade teve por protagonistas pessoas brancas que defenderam o fim da escravização no Brasil. 

O anfitrião era o Professor José Maria, sobre quem todos falavam como um amante do magistério, que cultivava a negritude. Ele abriu as portas de sua casa para que o genro, Oliveira Silveira, reunisse o Grupo Palmares, que fazia uma oposição ao dia 13 de maio, com o olhar crítico para a abolição da escravidão no Brasil.

Dali surgiu o primeiro ato evocativo do Grupo Palmares, no Clube Marcílio Dias, o qual apenas se realizou após obterem a licença da Censura (Afinal: o que um grupo de negros pretendia em reunião?).

 Firmou-se ali, em 1971, o primeiro 20 de novembro!

A data da morte de Zumbi dos Palmares emerge como referência de luta e o quilombo é reverenciado como espaço coletivo de fortalecimento e resistência em oposição a um sistema que não reconhecia identidade e subjetividade a negras e negros em nosso país.

Assim era Oliveira Silveira, também professor, poeta gaúcho, natural de Rosário do Sul, que sempre viu nosespaços coletivos uma possibilidade de fortalecimento:

— Ele sempre trabalhou com grupos! Terminava um grupo ele já formava outro e formava outro, mais outro!

Nossa ancestralidade e nosso presente são produtos de muitos grupos, pois somados talentos, experiências, habilidades, diferentes modos de pensar e agir, potencializam-se forças e a história é preservada!

Oliveira percebeu nas diversas tribos em África: grupos; nas pessoas em sofrimento nos navios negreiros: grupos; nos privados de liberdade das senzalas: grupos; nos quilombos: nossos mais valiosos grupos!

Depois da lei de Isabel, nas reuniões de família e amigos: grupos!  Nos clubes sociais Marcilio Dias, Associação Satélite Prontidão, Floresta Aurora, formados apenas por pessoas negras: grupos! 

Nas escolas de samba, Bambas da Orgia, Imperadores do Samba, União da Vila do IAPI: grupos. Sempre estivemos reunidos em grupos!

E foram esses grupos – lugares existenciais de sociabilidade, refúgio e luta contra o racismo - que não permitiram e não permitem que sejamos eliminados, pois é no coletivo que encontramos sentido para nossas existências. Pela oralidade transmitimos, de uma geração para outra nossos conhecimentos, nossa sabedoria, hábitos alimentares, as curas, a fé. Pensamos em coletivo, pensamos em grupo, para resistirmos ao dia a dia, para fortalecermos nossas subjetividades, para construirmos identidades próprias.

Na verdade, Oliveira Silveira vivia de construir quilombos: espaços em que negras e negros pretendiam fugir da nova escravidão e viver em liberdade.

 Surgiram Palmares, Semba, Associação Negra de Cultura, dentre tantos outros, todos viabilizando encontros com nós mesmos. Como diz a poesia, pessoas de pele escura, buscando umas pelas outras para enfim poderem encontrar a si próprias. 

Encontre negros e negras unidos e resistindo e estará diante de um grupo, lugar onde Oliveira Silveira se encontrou! Lugar onde sua memória permanece viva!

Por isto, para encontrar Oliveira Silveira, o poeta da Consciência Negra, procure um grupo de pessoas negras que buscam por identidade e compreendem a liberdade como um processo de luta, e não como algo que foi entregue pelo opressor.

 

23
Nov21

Jovem negra encontra suástica desenhada ao lado de sua porta, em Bauru

Talis Andrade
 


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  • Caso aconteceu no mês da Consciência Negra

  • Prédio pintou por cima do desenho e mulher denunciou por obstrução de provas

  • Mulher aponta falta de ação do condomínio

 

Uma jovem negra teve uma suástica nazista desenhada na parede ao lado da porta do apartamento onde mora, em Bauru, no interior de São Paulo. Ela registrou boletim de ocorrência.

Raquel Euzébio Oliveira, de 22 anos, relatou que no dia 8 de novembro estava indo à feira com uma amiga quando notou o desenho, o qual parecia ter sido feito com uma chave.

“Quando eu olhei de perto, vi que não era riscado com caneta mas, sim, com uma chave. Fiquei incrédula quando percebi”, afirmou ao portal G1.

Segundo ela, o porteiro foi informado do caso. Ele pediu que ela mandasse fotos para que fossem encaminhadas ao zelador e à síndica do condomínio. Raquel, preocupada, contatou a síndica diretamente no dia seguinte.

“Quando levei a síndica para ver a suástica, aleguei o quão perigoso e alarmante é, primeiro porque não quero pagar um condomínio com pessoas que compactuam com esse tipo de ideia”, contou.

À administradora do prédio, a jovem argumentou que apologia ao nazismo é crime e disse que se sentiu ofendida por ser uma pessoa negra, já que o nazismo é uma ideologia que também prega a perseguição e a discriminação dessa população.

Raquel diz que não sabe quando a suástica foi desenhada, já que o risco era mais discreto do que se tivesse sido feito à tinta, com uma caneta, por exemplo. No entanto, por conta da altura do desenho, ela pensa que não pode ter sido feito por uma criança.

“Por conta da altura em que o risco estava, é provável que tenha sido feito por um adolescente ou uma pessoa adulta”, pontua.

Dois dias após descobrir o desenho, em 10 de novembro, Raquel registrou um boletim de ocorrência online em que se queixa da suástica desenhada. Ela informou a síndica e a administradora do condomínio.

“Eu solicitei à síndica que abrisse um B.O pelo WhatsApp, assim como eu já havia feito. Mas, ela aparentemente não iria fazer isso pelas respostas que recebi. Também enviei o B.O para a administradora do condomínio mas não me responderam”, revelou.

No dia seguinte, a jovem encontrou a parede pintada. Dessa forma, abriu um adendo ao B.O. “Fui ao 4º Departamento de Polícia de Bauru e abri um adendo ao B.O, ou seja, adicionei uma segunda causa ao ocorrido, alegando obstrução de prova que também é contra à lei”, disse.

Na sexta-feira (12), o condomínio soltou uma “nota de repúdio” e colocou no elevador do prédio na qual constata e confirma o caso, dizendo ser um símbolo ofensivo e um ato de desrespeito com os demais moradores.

Raquel disse que entrou com uma ação judicial contra a síndica e contra a administradora do condomínio na sexta-feira (19). "É obrigação do condomínio ter responsabilidade sobre o que acontece no local, mas negligenciaram os emails enviados”.

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23
Nov21

O país de negros em que os negros não têm vez

Talis Andrade

 

Quantos professores negros você teve? Quantos médicos negros atenderam você?

21
Nov21

Multa aos brancos; chibatadas aos escravos negros: as leis racistas de Curitiba

Talis Andrade

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Leis municipais distinguiam punições a brancos e negros e só liberavam festas com músicas europeias

20
Nov21

Supremacia branca tentou reduzir espaços de mobilidade social de negros, aponta historiadora

Talis Andrade

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A escravidão não foi o único mecanismo de subordinação de negros e seus descendentes na sociedade colonial e imperial brasileira. Mesmo aqueles que conquistaram sua liberdade ou os filhos de pais brancos e mão negras estavam submetidos a uma série de formas de discriminação que limitavam seus direitos e sua possibilidade de mobilidade social. É isso que conta a historiadora Mariana Dantas, professora da Universidade de Ohio nesta entrevista à RFI.

A pesquisadora tem se dedicado recentemente a estudar a possibilidade de mobilidade social no Brasil colonial para as mulheres negras livres e seus filhos. A partir de inventários e registros cartoriais, Dantas encontrou na Minas Gerais setecentista diversos casos de escravas africanas que conseguiram comprar sua alforria através do comércio de rua e mesmo acumular posses. No entanto, essas mulheres, ainda que poucas, tinham outras barreiras em sua trajetória para garantir uma vida fora da miséria para seus filhos.

"O que eu mostro na minha pesquisa é que na medida que essas gerações encontravam espaços para negociar uma ascensão social, o estado e a sociedade colonial e imperial usavam instrumentos de supremacia branca para tentar reduzir a possibilidade de mobilidade social", explica. 

Um dos exemplos que Mariana Dantas traz em seus trabalhos é a criação de milícias (forças policiais) divididas pela cor de seus oficiais. “As milícias foram diferenciadas entre milícia branca, parda e preta. Então um filho de uma africana, que fosse pardo, se ele ia servir na milícia, o que era obrigatório, ele vai ser colocado na milícia parda. Então existe um jeito dessa sociedade continuar a manifestar diferença racial que cria limitações a uma verdadeira mobilidade social e política onde raça não seja mais um fator”, diz a professora.

A historiadora cita ainda outro caso que mostra barreiras impostas nos estudos que vão além das limitações econômicas. Um filho de português com uma ex-escravizada que tem acesso ao ensino superior no início do século 18 e vai para Coimbra estudar na conhecida universidade portuguesa. No entanto, ao final do curso ele não tem direito ao diploma por não poder apresentar um documento que prove sua “pureza de sangue”.

“A gente vê os diferentes mecanismos usados pela sociedade branca para manter seus privilégios. São realmente mecanismos de supremacia branca”, analisa.

A historiadora Mariana Dantas, professora da Universidade de Ohio
A historiadora Mariana Dantas, professora da Universidade de Ohio © Acervo pessoal

Direitos como privilégios

Ao se debruçar sobre a trajetória de negras que deixaram a escravidão, a pesquisadora destaca que essas mulheres estavam sob dupla submissão, por sua cor de pele e por seu gênero. Assim, a elas eram rejeitados direitos que para mulheres brancas eram concedidos como privilégios. Por exemplo, no momento da morte dos maridos, as mulheres brancas podiam recorrer à Justiça para terem o direito à tutoria dos filhos de até 25 anos e, assim, o controle de sua herança. Às negras libertas, o pedido não era concedido.

“A gente começa assim a entender como que o jeito que essa sociedade funciona ajuda a reproduzir a desigualdade social mesmo quando estamos falando de pessoas que saíram da escravidão para a liberdade”, sublinha.

Para a pesquisadora, esses são dados que colocam por terra a ideia de democracia racial, já descartada pela historiografia mas que teima a reaparecer em discursos políticos atuais. 

"Muita gente tende a pensar indivíduos bem-sucedidos como evidência de que talvez o Brasil não tenha tanto um problema racial como tem os Estados Unidos. A minha perspectiva é de olhar a formação de famílias. E a análise de gerações mostra os mecanismos que fazem com que o sucesso de um indivíduo não se traduza em uma verdadeira mobilidade e na aquisição de direitos sociais e políticos."

No seu trabalho mais recente, Mariana Dantas mostra como o comércio de rua foi usado em Minas Gerais durante o século 18 para que escravizadas pudessem comprar sua liberdade e garantir propriedades para seus descendentes. Apesar de conseguirem acumular recursos com esse trabalho, vital para as vilas mineiras da época, a atividade não lhes garantia poder diante da sociedade.

“Principalmente as africanas livres estavam em uma economia informal, elas não estavam participando das atividades econômicas consideradas pela Coroa [portuguesa] como do interesse imperial, mas elas participavam de atividades econômicas que eram essenciais, traziam comida para as vilas, teciam. Eram atividades essenciais à vida diária mas que, por não serem consideradas de interesse imperial, mesmo quando elas puderem adquirir poder econômico, ele não se traduz em poder político", explica.

Dantas faz uma ponta entre essa dinâmica colonial e o lugar da economia informal no Brasil de hoje.

"A gente sabe que grande percentagem da população brasileira depende da economia informal, mas se ela não é vista como essencial, necessária para o bem-estar do país, essas atividades não se traduzem em direitos sociais e em direitos políticos. Foi algo que vimos com ainda mais saliência no período da pandemia. Eles não tinham o direito de ficar em casa. A gente vê muito explicitamente como para certa população direitos são apenas para quem tem privilégios", reflete.

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Os dados revelam que 1% da população recebe, em média, 34,9 vezes mais do que a metade mais pobre.
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MST Oficial
Sobre os rendimentos dos trabalhadores, levantamento do Pnad/IBGE sobre o 1º semestre de 2020, mostra que a média salarial das mulheres negras era de R$ 1.573 enquanto das não negras era de R$ 2.660. #20NForaBolsonaroRacista
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19
Nov21

Sete em cada dez brasileiros que perderam emprego ao início da pandemia eram negros

Talis Andrade
 
Negros e negras "enfrentam mais obstáculos para conseguir uma colocação, ganham menos e têm frequentemente inserção vulnerável e frágil", ressalta o boletim - Leo Malafaia / AFP
 

Estudo do Dieese divulgado na véspera do Dia da Consciência Negra ressalta desigualdade nos impactos da crise sanitária

 
por Daniel Giovanaz /Brasil de Fato
 

Dos 8,9 milhões de brasileiros que perderam ou deixaram de procurar emprego entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, 6,3 milhões eram negros, o equivalente a 71,4%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e foram compilados em um boletim especial do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgado nesta sexta-feira (19).

As pessoas negras são 56% da população brasileira, e foram atingidos com maior intensidade pelos efeitos da pandemia

"Quando se compara 2021 com o 1º trimestre de 2020, antes da pandemia, nota-se que parcela expressiva de negros não voltou para a força de trabalho: 1,1 milhão de negras e 1,5 milhão de negros", ressalta o estudo.

"Para os negros, a taxa de desemprego é sempre maior do que a dos não negros. Enquanto para os homens negros, ficou em 13,2%, no 2º trimestre de 2021, para os não negros, foi de 9,8%. Entre as mulheres, a cada 100 negras na força de trabalho, 20 procuravam trabalho, proporção maior do que a de não negras, 13 a cada 100."Image

Abandono

O governo federal demorou a garantir auxílio emergencial aos trabalhadores na pandemia, e só liberou os R$ 600 por pressão do Congresso Nacional. Contrário às medidas de isolamento, Jair Bolsonaro (sem partido) deixou os pobres sem saída: trabalhar e se expor ao vírus, ou ficar em casa sem renda e passar fome.

Lançado na véspera do Dia da Consciência Negra, o boletim do Dieese se concentra em dados econômicos, que refletem desigualdade no acesso à saúde.

Dados do início de julho da plataforma LocalizaSUS mostravam que as mortes por doença respiratória durante a pandemia cresceram 71% entre os negros e 24,5% entre os brancos. Maioria da população, os negros receberam apenas 23% das vacinas contra a covid-19 no Brasil, o que pode ter atrasado o retorno ao mercado de trabalho.

Conforme informações do próprio Ministério da Saúde, os negros têm 40% mais chances de morrer de covid-19, pois estão mais expostos. Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que eles representam 57% dos mortos pela doença, enquanto os brancos são 41%.

O estudo do Dieese termina ressaltando que pessoas negras "enfrentam mais obstáculos para conseguir uma colocação, ganham menos e têm frequentemente inserção vulnerável e frágil."

Enquanto homens e mulheres não negros receberam em média R$ 3.471 e R$ 2.674 por mês no 2º trimestre de 2021, trabalhadores negros ganharam R$ 1.968 e trabalhadoras negras, R$ 1.617.

 

#ConscienciaNegra As mobilizações pelo #ForaBolsonaro que ocorrerão em todo o país em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, serão contra o racismo estrutural no Brasil e também pelas pautas urgentes da classe trabalhadora, como geração de emprego decente, pelo fim da miséria

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13
Mai21

Se liguem na catastrófica situação da UFRJ

Talis Andrade

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Marcia Tiburi no Twitter
 
Marcia Tiburi
Mobilização contra o racismo
@coalizaonegra
É hoje!
Se não nos deixam viver em casa, vamos protestar nas ruas!
#13DeMaioNasRuas contra as chacinas e o genocídio!
O povo negro quer viver!

Use máscara, álcool-gel e mantenha-se em distanciamento.

distanciamento.jpgConsulte a agenda nacional de atos: bit.ly/33Elk5m

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Já pensou se fosse um filho seu? O que aconteceu com Fernando, Alexandre e Lucas?
Quote Tweet
Rubens R R Casara
@RCasara
O que fizeram com essas crianças? Os familiares têm o direito de saber.
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@marciatiburi
Toda a solidariedade a deputada atacada mais uma vez pelos covardes e canalhas que não suportam a sua coragem na defesa dos direitos fundamentais, a sua elegância e o seu senso de humanidade.
A deputada Zambeli aplicando táticas de guerrilha indireta, tentando atrapalhar a CPI do genocídio. Que seja feita a investigação e a justiça de que nosso Brasil precisa e que todos os criminosos sejam responsabilizados!
“Era um dia frio e luminoso de abril e os relógios davam 13 horas”.
ATELIÊ ABERTO - Lendo Marcia Tiburi
Ao me formar, em 1984, jamais imaginaria que, em 2021, abriria um texto com a célebre frase de George Orwell: “Era um dia frio e luminoso de abril e os relógios davam 13 horas”.
tendenciasmag.com.br
Marcia Tiburi
Se liguem na catastrófica situação da UFRJ, mais uma do governo corrupto que governa o Brasil
youtu.be/4gmgrmgtyZE via
Professores brasileiros, uni-vos. O que lhes parece uma greve geral em nome da #Ufrj e de todas as universidades atacadas pelo governo neoliberal/fascista no Brasil?
30
Mar21

Vivemos em castas. E os negros são os intocáveis

Talis Andrade

 

Martin Luther King Jr. sempre quis conhecer a Índia. Um dia, foi para lá e quis conhecer especialmente os dalits – os intocáveis, que foram…

Martin Luther King Jr. sempre quis conhecer a Índia. Um dia, foi para lá e quis conhecer especialmente os dalits – os intocáveis, que foram a mais baixa casta na Índia. Gente que é alvo dos mais terríveis preconceitos, que vive condenada a empregos vis e não pode sequer encostar em pessoas de outras castas. O encontro foi marcado. Quando o reverendo negro entrou na sala, o seu anfitrião foi apresentá-lo e disse que aquele era um dalit americano…

Não estamos acostumados a pensar em negros como dalits, nem imaginamos que sociedades ocidentais possam ter castas. Mas o livro de Isabel Wilkerson que acaba de sair no Brasil faz o leitor pensar duas vezes sobre o assunto. Casta – As Origens do Nosso Mal-Estar é um livro obrigatório para quem se importa com relações raciais e sociais.

Jornalista com passagens por veículos como o New York Times e vencedora de um Pulitzer, Wilkerson faz uma pesquisa impressionante para mostrar as semelhanças (maiores do que estamos acostumados a pensar) entre três classes de pessoas vítimas de preconceito ao longo da História: os negros americanos; os dalits da Índia; e os judeus na Alemanha nazista.

A tese central é de que quando uma relação de opressão não tem como ser transformada, quando a pessoa nasce com determinada característica que permanecerá com ela a vida toda, independente do que ela faça, não se trata meramente de divisão de classes. Estamos em uma sociedade de castas. Uma sociedade que determina previamente o lugar de certos cidadãos, não lhes dando mobilidade, está transformando as classes excluídas em intocáveis.

No livro, os capítulos mostram situações dessas três sociedades para apontar semelhanças entre as situações de negros, dalits e judeus. Há uma série de pilares que diferenciam a estratificação em uma sociedade de castas, segundo ela. A divisão entre as diferentes casas é uma vontade divina; há grupos vistos como puros e outros como impuros; a miscigenação é tabu; há uma hierarquia ocupacional; e assim por diante.

Em todos os casos, Wilkerson mostra como a situação dos negros americanos está mais próxima do conceito de casta do que muita gente no país gostaria de admitir (lembremos que até recentemente os EUA tinham um presidente que era apoiado por supremacistas brancos e que negava a existência do racismo no país).

Isabel Wilkerson: pesquisa sobre raça e castas

 

Depois da parte mais teórica, Wilkerson ainda elabora sobre a situação dos negros com base nas experiências cotidianas, inclusive dela mesma. Uma das histórias mais reveladoras vem dos tempo dela no New York Times. Na época, ela era correspondente em Chicago e estava fazendo uma matéria sobre uma rua que estava se transformando na Quinta Avenida local – cheia de lojas e butiques elegantes.

Para uma das entrevistas, ela foi a uma loja chique, depois de marcar entrevista com o proprietário. O compromisso era às 16h, mas ela chegou um pouco antes e foi informada de que o entrevistado estava um pouco atrasado. Wilkerson, negra, esperou na loja tranquilamente, até ver um sujeito, branco, esbaforido, entrar correndo pela porta. Imaginando ser o seu entrevistado foi se apresentar.

O grotesco da situação que se seguiu é impressionante. O sujeito, ao ouvir que a mulher ali na sua frente queria falar com ele, disse que não podia. Ele tinha horário marcado com o Times. Wilkerson disse que sim, que ela sabia. Era ela a repórter do Times. O entrevistado simplesmente não acreditou e achou que era um trote. Pediu licença, pois estava falando sério e ia perder a entrevista. Ela insistiu, explicou que sabia do horário, disse qual era a pauta. Era ela. Mas o entrevistado simplesmente não conseguia acreditar. Disse para ela ir embora porque a qualquer momento a repórter importante que ele esperava ia chegar.

No dia seguinte, ela enviou o jornal para ele, sem a entrevista que ele poderia ter dado. E um bilhete. Dá para imaginar a cara do sujeito.

Para o leitor brasileiro, fica faltando apenas um comentário sobre até onde essa situação se aplica ou não a outros países. Autores americanos em geral costumam ver a experiência americana como única – mas esse é um dos casos em que a pesquisa só teria a ganhar se ao invés de falar dos negros dos EUA, falasse da situação nas Américas como um todo.

Em todo caso, o livro é uma pedra rara, bem pesquisado, bem escrito e cheio de reflexões interessantes, inclusive para pensar nossa situação particularCASTA: AS ORIGENS DE NOSSO MAL-ESTAR - 1ªED.(2021) - Isabel Wilkerson -  Livro

Serviço

Casta – As Origens do Nosso Mal-Estar, de Isabel Wilkerson. Zahar, Tradução de Denise Bottmann e Carlos Alberto Medeiros, 464 páginas, R$ 59,90 (papel) ou R$ 29,90 (e-book).

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