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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

23
Ago20

Advogados criminalistas aponta Operação Lava Jato como embrião dos atropelos democráticos

Talis Andrade

Enquanto o Brasil se deslumbrava em 2014 com uma investigação policial na Petrobras que alimentava o noticiário diariamente, um grupo de advogados criminalista assistia estarrecido a cada lance dessa operação. Começava a Lava Jato, e com ela, o Brasil hipnotizado pelas ações de policiais federais batendo na porta de poderosos para que prestassem contas à Justiça. A Lava Jato caía na boca do povo. A ideia de colocar na cadeia toda classe de corrupto de colarinho branco era um deleite para um país carente de ética com os bens públicos desde a sua fundação.

Nessa luta do bem contra o mal, coube a esses advogados defender os vilões da história. Executivos e políticos que delatavam e eram delatados por supostamente movimentar milhões por baixo do pano. A Lava Jato era personificada por uma força tarefa de procuradores jovens e destemidos, e um juiz pronto a atender ao anseio popular. Sergio Moro, um paranaense nascido em Maringá, despertava a fúria por justiça no país. O então juiz virou livro antes mesmo de mostrar a que veio. Depois foi tema de série da Netflix, ganhou prêmios, outdoor, boneco gigantes no Carnaval de Olinda e infláveis na avenida Paulista.

O grupo de advogados estava acuado no Brasil de 2014. A operação trazia elementos inacreditáveis para a mídia. Escutas, áudios vazados, histórias de amantes, traições entre antigos aliados. Um dos pontos altos foi o vazamento de uma gravação de Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, uma subsidiária da Petrobras, numa conversa com o ex-ministro de Dilma Rousseff, Romero Jucá, divulgada em maio de 2016. Ali se tramou um impeachment do Governo Dilma e a costura de “um grande acordo nacional”, nas palavras de Machado, “com o Supremo, com tudo”, como afirmou Jucá, com o intuito de frear a Lava Jato que até então batia em cheio no PT, e ainda não chegava com força aos demais partidos. O Brasil conheceu os detalhes dessa conversa por força das escutas coladas ao corpo de Machado. Ele queria se livrar da prisão, e o plano era conseguir informações comprometedoras de seus antigos convivas para os procuradores com quem negociava a redução da pena.

Esse era apenas mais um episódio contido numa das mais de 70 operações da Lava Jato nestes seis anos de existência. Nesse êxtase, a defesa de executivos e políticos tidos como corruptos tinham pouco espaço. Certamente queriam impedir a revolução em curso trazida pela Lava Jato. A operação era unanimidade e não havia quem pudesse ir contra ela. (Continua)

31
Dez18

Psicopatas de colarinho branco

Talis Andrade

1% da população é classificada como psicopata: não sente empatia nem culpa. Esse percentual sobe para 4% entre executivos, políticos e pessoas que ocupam cargos de alta responsabilidade

 

por Lola Morón

mikel jaso psicopata.jpg

Ilustração  Mikel  Jaso

Se pensarmos em um psicopata, a imagem de um assassino em série nos vem à cabeça. No entanto, há muito mais psicopatas do que assassinos em série. Sujeitos maquiavélicos no sentido estrito. A frase “Os fins justificam os meios” é atribuída a Maquiavel. Além de escritor, o autor de O Príncipe foi filósofo e diplomata. Estava situado na primeira linha das altas esferas, onde se travavam batalhas políticas sem quartel, nas quais se decidia quem ocuparia o trono ou quem usaria o Anel do Pescador. Maquiavel foi um grande observador daqueles que moviam as cordas do mundo, mas que raramente manchavam as mãos de sangue.

 

É fácil falar de maldade e psicopatia quando nos referimos a personagens situados no limite da sociedade: o assassino de crianças indefesas, o alto executivo que enche os bolsos à custa de pessoas que trabalham em condições subumanas em fábricas a 10.000 quilômetros de distância ou o político que encontra armas de destruição em massa onde basicamente há petróleo. Esses psicopatas são muito evidentes, embora apenas o primeiro suje as mãos. Os outros dois são frequentemente admirados, pertencem a esferas socioeconômicas de difícil acesso e só ocasionalmente o opróbrio os persegue.

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Fora desse limite social, ninguém é mau em termos absolutos. 1% da população é classificada como psicopata. São sujeitos insensíveis, egoístas, despreocupados com o bem-estar dos outros, que não sentem empatia nem culpa. Essa porcentagem parece subir a 4% em executivos, políticos ou pessoas que ocupam cargos de alta responsabilidade.

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Se todas as coisas ruins que acontecem no mundo todos os dias se devessem a esses poucos psicopatas que são capazes de cometer as piores tropelias, a vida seria mais fácil. O problema é que a grande maioria de nós é capaz de mostrar essa falta de empatia e essa maldade, talvez em menor grau ou com menos frequência do que eles. A realidade é que nem todas as coisas ruins são feitas por psicopatas e nem tudo que os psicopatas fazem é ruim.

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Quando se fala de maldade não se fala de pessoas nem de grupos de indivíduos, de profissões, de posições sociais, de doentes mentais; assim como não se fala de raça, sexo ou orientação sexual. A maldade é a consequência de um ato. É derivada de um comportamento ou um pensamento compartilhado – e, portanto, um comportamento. Um pensamento íntimo não se torna malvado se não for executado. A maldade é uma decisão tomada em um momento e em uma circunstância. Não podemos saber o que cada um de nós faria em uma situação teórica. Podemos suspeitar do que faríamos com base na situação em que estamos no momento em que nos fazem a pergunta, mas será apenas uma aproximação. Somente a pessoa que fez o que fez sabe por que o fez e sob quais circunstâncias. Não há determinismo. Custa menos ao psicopata do que ao resto das pessoas fazer o mal, mas a personalidade é apenas mais um fator no contexto.

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