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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

25
Jul22

Jornalista Miriam Leitão revela perdão a companheiro que a entregou à ditadura militar no Espírito Santo

Talis Andrade

 

Quase 45 anos depois de sofrer, grávida, as barbáries da ditadura militar no 38º Batalhão de Infantaria, em Vila Velha - como ficar trancada nua num pequeno cômodo com uma cobra, ser agredida com socos e tapas, ameaçada psicologicamente e ter chegado a pesar 39 quilos - a jornalista Miriam Leitão revelou ao filho Matheus Leitão, autor do livro "Em nome dos Pais", que perdoou o homem que a entregou de bandeja aos militares.

Foi Foedes dos Santos, dirigente mais importante do PCdoB no Espírito Santo, que num depoimento devastador no dia 7 de dezembro de 1972, confirmou informações dadas dias antes de sua prisão, quando entregou ao regime militar colegas como Miriam Leitão, Marcelo Netto (então namorado de Miriam) e outros companheiros capixabas.

Miriam Leitão, jornalista  — Foto: Jéssica Balbino/ Arquivo G1

Miriam Leitão, jornalista — Foto: Jéssica Balbino/ Arquivo G1

 
 

"Meu pai ainda está elaborando o pedido de perdão de Foedes. Minha mãe me disse que o perdoou, depois de muito pensar e refletir", relatou Matheus Leitão, em seu livro. A obra demorou 10 anos para ficar pronta e reconstrói a história de seus pais.

Matheus encontrou Foedes num sítio na região serrana do Espírito Santo, após uma busca incansável e emocionante que ele conta em detalhes na primeira parte do livro. Num trecho da conversa Matheus pergunta se haveria um pedido de desculpas caso Foedes encontrasse Miriam, Marcelo e outros colegas delatados por ele.

"Pedido de desculpas é pouco, eu pediria perdão mesmo. Eu tenho realmente muita tristeza de ter entregado esses companheiros. É aquilo que eu te disse: eu me afastei da organização porque, mesmo que eu conseguisse ficar de pé no [PCdoB] e fosse perdoado, eu tenho certeza de que não aguentaria passar pelo que passei sem ter feito o que fiz. Não nasci pra isso. Se soubesse antes que isso poderia acontecer exatamente desse jeito, não teria nem militado. A gente pensava que ia aguentar, mas na hora do pau lá, meu filho, não depende só de você querer aguentar, não, depende de você ter estrutura", disse Foedes, num trecho do livro, ao explicar que entregou os colegas após sofrer tortura.

Miriam Leitão, que sabia da vontade do filho em estar frente a frente com o delator de seus pais, foi a primeira pessoa com quem Matheus falou ao final da conversa com Foedes. Matheus e a mãe se falaram rapidamente, via celular, já tarde da noite.

 

 

  • Mãe, tá acordada?
  • Você está bem? - devolveu ela.
  • Estou.
  • Deu certo?
  • Deu.
  • Você conseguiu encontrar ele?
  • Encontrei.
  • Mas ele falou?
  • Falou. Admitiu tudo.
  • Ah, é?
  • Pediu perdão.
  • Meu Deus. Que isso?!
  • Muito forte, mãe. Só tive sinal de celular agora. Eu te amo.
  • Também te amo, filho. Você vê com quem eu tive que lidar aos dezoito, dezenove anos.
  • É. A conversa ficou difícil em alguns momentos. Mas ele se arrependeu.

 

A delação de Foedes desmantelou o partido comunista no Espírito Santo e forneceu pistas para o Serviço de Informação militar sobre o Comitê Central do partido no Rio de Janeiro. O livro "Em nome dos pais" traz uma série de depoimentos de militantes que foram presos, torturados e até mortos após a delação de Foedes. E a reação deles ao pedido de perdão feito por Foedes.

Foedes dos Santos — Foto: Amanda Monteiro/TV Gazeta

Foedes dos Santos — Foto: Amanda Monteiro/TV Gazeta

 

Miriam Leitão revelou que foi torturada pela ditadura numa entrevista exclusiva que deu ao portal 'Observatório da Imprensa', em agosto de 2014. Na entrevista, ele afirma que ainda aguarda um pedido de desculpas das Forças Armadas Brasileiras.

"Tenho 61 anos, 4 netos, estou ativa e saudável, mas sei que estou na parte final da vida, e quero que o Brasil nunca mais cometa isso. A democracia não está ameaçada, mas as instituições têm que fazer seu papel. As Forças Armadas têm que reconhecer o erro", ressaltou, em agosto de 2014.

 

Matheus Leitão entre o pai e a mãe  — Foto: Reprodução / Facebook

Matheus Leitão entre o pai e a mãe — Foto: Reprodução / Facebook

17
Jul22

Os animais de estimação dos torturadores da ditadura militar (vídeos e nomes torturadores)

Talis Andrade

Charge do Zé Dassilva: o Evangelho segundo o WhatsApp | NSC Total

 

O Estado de São Paulo publicou reportagem comprovando que os militares usavam jacarés e cobras em sessões de tortura com presos políticos. O tarado sexual coronel Brilhante Ustra tinha o sádico prazer sexual de colocar ratinhos nas vaginas de jovens estudantes universitárias. Era um doente psicopata. Um serial killer parceiro do homicida coronel Paulo Manhães, chefe da Casa da Morte no Rio de Janeiro. Manhães teve o trabalho de levar, do Rio de Janeiro para Vitória, uma jiboia para torturar a jovem repórter Miriam Leitão, grávida do primeiro filho. 

 

Cobra e jacarés eram usados por torturadores da ditadura militar

 

Jornal O Globo

Cinco filhotes de jacaré e uma jiboia foram usados, na primeira metade dos anos 1970, para torturar os presos políticos levados para a carceragem do Pelotão de Investigações Criminais (PIC) do I Exército, na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, onde também funcionava o Destacamento de Operações de Informações (DOI). O tenente-coronel reformado Paulo Malhães, de 74 anos, na época lotado no DOI, disse que os animais eram dele e foram capturados no Rio Araguaia, na Região Amazônica, durante a campanha militar contra a guerrilha do PCdoB.
 
Malhães, que usava o codinome "doutor Pablo" na repressão, contou ao jornal O Globo como funcionava um aparelho clandestino, montado pelo Centro de Informações do Exército (CIE) em Petrópolis. Na literatura dos anos de chumbo, o lugar ficou conhecido como "Casa da Morte", de onde só teria saído com vida um dos mais de 20 presos políticos que passaram por lá, a ex-militante da VAR-Palmares e VPR Inês Etienne Romeu.
 
 
Pata, Peta, Pita, Pota, Joãozinho e Míriam
 
 
A trajetória de Malhães no Exército está relacionada com as principais operações deflagradas entre 1969 e 1974 contra a luta armada, incluindo o DOI do Rio e, posteriormente, a Casa da Morte de Petrópolis, já no CIE. Em entrevista de cinco horas ao jornal O Globo, ele disse que estava à beira de um rio, na região do Araguaia, quando sentiu a terra mexer e descobriu que era o movimento de filhotes de jacarés. Conseguiu capturar cinco, que batizou de Pata, Peta, Pita, Pota e Joãozinho, além de uma jiboia de seis metros, chamada Míriam. Todos foram levados para a sede do DOI no Rio.
 
"Os filhotes não mordiam. Só faziam um tec-tec com a boca", disse, reproduzindo com a mão o abrir e fechar da boca dos jacarés.
 
Pelo menos três ex-presos políticos confirmaram ter sido vítimas de tortura com o uso dos animais. O jornalista mineiro Danton Godinho Pires, que ficou preso de 1969 a 1973, passando 90 dias no PIC, recorda-se da jiboia Míriam:
 
"Eles chegaram com um isopor enorme, apagaram a luz e ligaram um som altíssimo. Percebi na hora que era uma cobra imensa, que eles chamavam de Míriam. Felizmente, ela não quis nada comigo. Mas, irritada com a música, a cobra não parava de se mexer. O corpo dela, ao se deslocar, arranhou o meu; chegou a sangrar. Mas o maior trauma foi o cheiro que ela exalava, um fedor que custei a esquecer".
 
Já a cientista social Dulce Pandolfi, que ficou presa no PIC de agosto a novembro de 1970, conta que foi aterrorizada por um jacaré. Mas não sabe se foi o mesmo trazido por Malhães, uma vez que a campanha militar no Araguaia teria começado depois: "Eles trouxeram um jacaré amarrado e colocaram sobre o meu corpo".
 
É um relato parecido com o da psicóloga Cecília Coimbra, do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio. Ela conta que estava nua e amarrada à cadeira, na cela, quando um filhote de jacaré passou pelo seu corpo.
 
Malhães, que hoje mora num sítio isolado na Baixada Fluminense e diz que o Exército brasileiro da atualidade não é mais o dele, contou que esteve no Araguaia no começo e na parte final da operação, "quando o CIE assumiu". Na época, ele pertencia às equipes de busca e apreensão, as EBAs, espécie de embrião dos DOIs. O oficial não se recorda das datas, mas garante que defendeu na ocasião a ideia de que guerrilheiros do PCdoB não poderiam ser enfrentados com forças regulares e uniformizadas: "Guerrilha se enfrenta com guerrilha. Quando fui, no começo no Araguaia, com o pessoal fardado, era muito fácil identificar o Exército".
 
Malhães revelou que cada equipe levava o seu preso para a casa de Petrópolis. Ele disse que esteve no aparelho com seis presos, mas não os identificou. Mencionou apenas os nomes de três oficiais do CIE que também teriam atuado no aparelho clandestino, os então capitães e majores Freddie Perdigão Pereira, Rubens Paim Sampaio e José Brant Teixeira.
 
"Tem uns caras formadores: eu, Perdigão, Sampaio. O Branzinho (José Brant Teixeira) era dos meus. Cada um tinha sua equipe, e a levava quando subia", contou Malhães, que também admitiu a existência de um outro major e de um "Dr. Guilherme". Ele, no entanto, se recusou a relevar os nomes dos dois.
 
Rubens Paim Sampaio também foi localizado pelo jornal O Globo. Ele vive num bairro de classe média alta em Resende, interior do Rio de Janeiro. Procurado, recusou-se a atender a reportagem.
 
"Ele fez o trabalho que tinha que fazer naquela época. É passado e ficou no passado. Ele não tem nada a declarar", afirmou a mulher do oficial, Jeane Sampaio.
 
Malhães também confirmou o envolvimento do cabo Félix Freire Dias e do sargento Ubirajara Ribeiro de Souza. Em entrevista à revista IstoÉ, em 2004, o sargento Marival Chaves (CIE-DF) disse que Félix era o responsável por esquartejar os corpos dos guerrilheiros assassinados. Entre eles estaria o do deputado federal, Rubens Paiva.
 
"Félix era um cara engraçado de se conviver", comentou o coronel, ao dizer que o sargento Ubirajara pode ter feito parte de sua equipe, mas negando que Félix pertencesse ao grupo também, embora talvez atuasse com o então major Perdigão.
 
Ubirajara também se recusou a falar sobre o assunto: "Só com autorização do Exército".
 
Nos arquivos da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, constam os nomes de 26 militares que teriam atuado na casa, dos quais oito ainda não identificados. Também são conhecidos os nomes do coronel Éber Teixeira Pinto, do tenente-coronel Riscala Corbage, do major-médico Ricardo Agnese Fayad, do capitão Aílton Guimarães Jorge (conhecido como capitão Guimarães), tenente-médico Amílcar Lobo, do tenente-sargento Jurandyr Ochsendorf e Souza, do cabo Severo Ciríaco, do delegado da Polícia Federal Orlando de Souza Rangel, do comissário da Polícia Federal Luís Cláudio Azeredo Viana, do agente da Polícia Federal Luís Timóteo de Lima, do soldado da PM/RJ Jarbas Fontes e, de patente não identificada, Antônio Freitas da Silva.
 

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