Em textos poéticos, a angústia frente ao eterno retorno da tragédia dos povos da Amazônia. O Criador vislumbra o impasse da destinação de suas criaturas. Tudo em nome da “poeira brilhante na lama”, como definiu Davi Kopenawa
Num sonho tormentoso, Deus se vê falando a Motociata e Motosserra, ilustres ninfocidas e guardiãs do recém-criado décimo círculo infernal.
1. Há muito contemplo o caminho que percorreis. Conheço as vossas tramas e os vossos ardis. Bem sei do que sois capazes.
2. Agora, pois, atentai à minha palavra: Eis que ponho inimizade eterna entre vós e os ribeirinhos, e selo convosco uma firme aliança, simbolizada por este anel, feito do mais fino ouro que se pôde extrair da Terra Yanomami.
3. Sem o vosso auxílio e unidade de espírito não se cumpriria tão cedo o plano que ora cogito.
4. Arrependi-me novamente da criação e decidi, de uma vez por todas, extirpar os seres viventes da face da terra.
5. Não posso, porém, renunciarasí no másà minha obra, pois, feito o belo Narciso, também ele um ser criado à minha imagem e semelhança, apego-me a tudo aquilo em que me vejo, ainda que mal, espelhado.
6. Por isso, lembrei-me de vós, que formais uma só carne e um só pensamento.
7. Recordai o mandamento que ditei a vossos pais: crescei e multiplicai-vos!
8. Tomai em vossas mãos aquilo que escapou das minhas. Expandi a vossa atuação até os confins da terra e até o fundo dos mares. E não poupeis o luzeiro menor, dominai-o! E, se puderdes, tratai de ocultar o maior, toldando o firmamento com o vosso admirável arsenal de pestilências.
9. Acreditei uma vez nas virtudes dos filhos de Noé e dos filhos de seus filhos. De todo o coração, apostei na redenção da criatura. Debalde!
10. Fazei, pois, cumprir o meu intento e sereis recompensadas com a incomparável paz do inexistente.
Esse título me foi sugerido pelo próprio título do filme “Aftersun” mas também pelo próprio filme, a primeira obra longa-metragem da cineasta escocesa Charlotte Wells, que foi lançado no ano passado em Cannes e no Brasil, em dezembro de 2022, e agora na Mubi. Assim, é um filme novo e que me parece interessante para podermos fazer algumas comparações entre os filmes dos anos 1950 e esses que estão sendo realizados agora em qualquer parte do mundo.
A causa principal de como são os filmes de hoje é que os de antes eram feitos por pessoas chamadas práticas. Cinema não era trabalho para intelectuais, mas simplesmente para pessoas inteligentes, embora não ‘ilustradas’. Essas pessoas faziam literatura ou no máximo teatro ou então música erudita.
Hoje, uma moça como essa escocesa Charlotte Wells deve ser uma verdadeira intelectual, e cria uma obra em que a linguagem busca fugir da ligação direta com o cotidiano. As sequências vão acontecendo, se ligando mais ao jogo da imagem do que ao realismo, como era comum. Por exemplo, temos uma sequência em que as pessoas jogam bilhar, mas o que o espectador vê são as bolas do bilhar e não os jogadores. Quase nunca há o realismo de se ver as coisas ou mesmo as pessoas completas. Nunca que um filme de uma jovem cineasta deixou o objetivo se apresentar, mas utiliza a montagem para deixar que o jogo da imagem seja a força principal da própria linguagem.
Isso é um dos motivos inclusive dos intérpretes praticamente não serem mais grandes forças na divulgação de um filme. O importante cada vez mais vai sendo a montagem, e antes a fotografia, e claro a própria direção. Embora me pareça que a maioria dos espectadores, principalmente dos filmes de Hollywood, estejam preocupadas em buscar diversão nos filmes e continuem assim a ver grandes espetáculos e séries. Pelos enredos. A Mubi informa os nomes dos atores, inclusive os dois principais Paul Mescal e Frankie Corio que fazem o pai e a filha. Penso, porém, que os detalhes aparecem muito mais que eles. É um filme com boa, bela estrutura estética, mas curto. Dura só 1h36m.
Que independência é essa?
Vi ontem no canal TVT uma quase palestra do economista Ladislau Dowbor sobre o porquê do Presidente Lula estar contra a ‘independência’ do Banco Central, e por que todos os comentaristas da imprensa e os deputados apoiarem o presidente do Banco Central; eu já achava que a coisa era assim. Mas achei ótimas as explicações do economista, pois fiquei sabendo por que a grande mídia defende essa ‘liberdade’. Isto é, foi o Governo Federal deixando que os próprios bancos nacionais e internacionais se assenhoreassem do Governo a quem devem sem dúvida obediência. Foi Bolsonaro que conseguiu isso para eles. Claro que não podem ser os ratos a mandarem no gato. Não pode o Presidente da República aceitar o que os financistas querem. E o economista Ladislau Dowbor explica muito bem. E tem total documentação. São bilhões roubados do povo brasileiro através do jogo financeiro e nada mais.
O pior é que esse roubo de Bolsonaro, revelado nestes dias pela imprensa, certamente não será o maior, pois se pensarmos em locais como as minas das terras dos Yanomamis, o que os Bolsonaros devem ter conseguido açambarcar deve ser muito mais do que 16 milhões de reais. E o que me entristece é o fato de existirem milhões de brasileiros que votaram e são ainda capazes de votar nesse chefe da quadrilha.
Acho que é importante lembrar que muitos desses milhões de eleitores pensam dessa forma pela consequência da ditadura militar de 64. Foram os ditadores que impuseram esse pensamento no país a partir do mando sem limites. Uma assessora de Lula, que trabalha com ele há 40 anos,Clara Ant, deu entrevista ontem para Mário Sérgio Conti. Ela agora é assessora especial, e disse muito claramente como o Brasil foi dilapidado por esse grupo que ficou no governo nesses últimos quatro anos.
Uma monarquia árabe mandou de presente para a primeira-dama de Bolsonaro um conjunto de joias no valor de 16 milhões de reais e essas joias foram colocadas por um militar numa sacola para escapar da Alfândega. E um funcionário interceptou. Esse funcionário deveria ser premiado. Isso aconteceu em outubro do ano passado e Bolsonaro tentou de tudo para retirar as joias da Alfândega. E não conseguiu. A coisa foi descoberta, claro, no Governo atual.
É claro que isso não deve ser presente coisa nenhuma. Senão alguma cochambrança dos governos árabe e Bolsonaro, que segue certamente as mesmas normas de qualquer quadrilha.
O longa “O Estranho”, de Flora Dias e Juruna Mallon, estreia nesta segunda-feira (20) na mostra Forum do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Através de personagens retratados de forma documental, o filme propõe uma reflexão sobre a apropriação de espaços indígenas e mostra a busca das origens como um ato de resistência.
Alê é funcionária do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e marcada por perdas ao longo da vida (da mãe, da irmã, da casa de sua família), busca incansavelmente “tesouros” em malas alheias. Nas horas vagas, se aventura pela natureza, onde o contato com a terra e a água parece aliviar o vazio das ausências e injustiças do passado.
O trabalho de Flora Dias e Juruna Mallon é resultado de uma longa pesquisa que teve início em 2014. O filme – extremamente reflexivo e sensorial – vai sendo desenhado através da conexão das experiências de Alê (vivida pela atriz Larissa Siqueira) com as camadas desenterradas da história do território de Guarulhos.
Larissa Siqueira
Não por acaso o título do filme em inglês éThe Intrusion(a intrusão) – fenômeno geológico em que camadas rochosas se rompem, expandindo-se à superfície. “Sinto que é um pouco o que a Alê faz: ela vive essas camadas e esses diferentes tempos. Ela tem essa sensibilidade, essa abertura com a natureza e outros seres, evocando essa intrusão, essa erupção da memória do próprio território”, aponta Flora.
“A memória emerge de várias formas: nem sempre lembrar é um exercício mental”, indica Juruna. “A memória está no corpo, no toque, no sentir. E o filme trabalha bastante essa dimensão do gestual, do caminhar, do olhar”, diz, em referência às vivências da personagem principal.
Estranho ou intruso, o aeroporto abre um canal para a denúncia da invasão do território indígena local, interrompendo o percurso natural de gerações. No roubo desse espaço, personagens apresentados ao longo do filme – fictícios ou não – expressam o desamparo gerado pelos laços cortados à força com a terra e os ancestrais.
Embora essas dores e vitórias de indígenas e afrodescendentes sejam conhecidas e inerentes à história do povo brasileiro, o convite à reflexão feito em “O Estranho” é um reforço necessário, em uma época em quetragédias como a recente crise humanitária dos Yanomamiscontinuam ocorrendo.
O poético desfecho do longa, no entanto, é uma aliviante reviravolta. “Os povos indígenas sofreram tanto apagamento, tanto silenciamento, mas renascem todos os dias. O filme é sobre isso, sobre essa persistência”, ressalta a cineasta.
Para os dois diretores, o longa evoca sofrimento e injustiça históricos, mas também enfatiza a ascensão dos povos autóctones brasileiros a espaços de poder e arte. “Isso está no filme porque está nas nossas vidas”, diz Flora, antes de concluir citando uma frase da ministra brasileira dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara: “Nada sobre nós sem nós”.
Racismo, desigualdade social, luta de classes: o longa dirigido e escrito por Daniel Bandeira leva problemas-chave da sociedade brasileira à 73ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Por meio de uma trama angustiante, grande concorrente da mostra Panorama, o cineasta pernambucano aborda as consequências dos séculos de opressão no país.
“Existem camadas de escravidão que vão se acumulando e que chegam ao presente por meio de uma relação de trabalho muito desigual e que já pressupõe uma hierarquia social muito dura”, afirmou o diretor após a projeção do filme neste sábado (18), em Berlim. “Esse thriller diário, a gente já vive, de uma certa maneira, e a gente só transpôs ele para o cinema”, reiterou.
O longa-metragem narra a revolta de trabalhadores rurais de uma fazenda no interior do Estado de Pernambuco, após décadas de exploração. A tensão gradual,impulsionada pela performance impecável do elenco, evolui de forma surpreendente, tirando o fôlego do público.
O lado do opressor é representado por um casal da elite recifense: Roberto, interpretado por Tavinho Teixeira, e Teresa, vivida por Malu Galli. Ele, pai amoroso e marido dedicado, mas implacável com os funcionários que serviram sucessivas gerações de sua família. Ela, uma estilista traumatizada que não consegue superar a experiência de ter vivido um violento e trágico assalto.
A insurreição dos trabalhadores não apenas é compreensível, como necessária: eles são repentinamente demitidos da fazenda onde, junto às suas famílias, foram injustiçados durante décadas. Não há dificuldade para o espectador se render à causa do coletivo: os funcionários exigem uma simples indenização ou o direito de continuar trabalhando no local que será vendido e transformado em um hotel. Mas nenhuma chance de negociação lhes é oferecida.
O proprietário é inflexível e impiedoso, não cede nem no momento em que começa a ser submetido a violências. Mas Bandeira é habilidoso ao fazer o público oscilar entre os dois campos e se dobrar ao universo do opressor com o drama da frágil Teresa. Trancada na bolha de seu trauma, ela se mostra catatônica diante do cenário de exploração e se torna uma presa fácil dos oprimidos.
Quando a radicalização dos insurgentes não parece jamais chegar ao ápice, uma questão vem à tona: a violência do lado do afligido é sempre justificada? O diretor esconde a última peça deste quebra-cabeças.
“Quem determina esses códigos morais?”, devolve. “O quanto eu preciso apanhar para poder revidar? E de que maneira eu posso revidar para que a minha revolta seja considerada digna?”, questiona Bandeira sem elucidar a questão.
No entanto, para o diretor, neste thriller que é claramente uma alegoria da sociedade brasileira atual, não há dúvidas: sem negociação, não restam chances a nenhum dos lados. “A gente precisa entender o que é necessário para que essa possibilidade aconteça”, diz.
Baseada no desfecho de “Propriedade”, fortemente aplaudido em Berlim, a complexidade do processo é evidente. “Para começar, eu acho que a gente precisa de tempo, a gente precisa de gerações para poder reverter conceitos que vão resultar em uma reconciliação. Eu só espero que a semente que estão plantando hoje sirva para refundar a sociedade, mas nunca esquecendo a história que nos trouxe até aqui”, conclui Bandeira.
Cartaz do longa-metragem "Propriedade", de Daniel Bandeira
Lula foi descansar na Bahia, terra de Glauber Rocha e onde começou o Cinema Novo, o maior movimento cinematográfico já acontecido em nosso país. Certamente, alguém ligado a cinema pode tê-lo encontrado e alguma conversa pode ter começado para o que deve acontecer agora com a nova administração, em torno do movimento cinematográfico. Tudo poderá acontecer nesses próximos quatro anos, a partir, pode ser da terra do novo Presidente, pois aqui temos hoje o mais famoso dos últimos anos, o cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho.
No Brasil, tudo recomeça de tempo em tempo. Assim, depois da devastação bolsonarista, terá que haver um recomeço. E claro que um recomeço sempre trará coisas novas. Alguma repetição, mas o pessoal de cinema terá que encontrar novos caminhos e o cinema financiado pelo Governo terá que ser uma fórmula reestudada. E será claro.
Tragédias como o desprezo terrível a que foi jogada a Cinemateca Brasileira, certamente, serão reencontradas maneiras de desfazê-las. O fato de Lula gostar de cinema será fundamental, inclusive para que os cineastas brasileiros possam abrir caminhos para as coproduções. Algo que hoje é fundamental no desenvolvimento do cinema não industrial, mas ao mesmo tempo industrial.
E também o fato de termos um governo central que cuida da produção cinematográfica, cria condições para que os governos estaduais também cuidem melhor do cinema. Nesses próximos quatro anos, a produção cinematográfica deverá se desenvolver muito no país todo, e claro que Kleber terá ou poderá ter muita influência nisso. Ele criou essas condições certamente.
Aqui da minha toca em Olinda, espero continuar a acompanhar o desenvolvimento do nosso cinema, inclusive não só em relação à produção de filmes, mas por exemplo de um núcleo que consiga colocar o cinema brasileiro dentro da internet. Uma Netflix especial própria do cinema brasileiro. Seria especial.
Olinda, 02. 11. 22
Master class de Abdellatif Kechiche
Cineasta Abdellatif Kechiche | Foto: Divulgação
Uma boa matéria que li no Le Monde foi sobre o cineasta franco-tunisiano Abdellatif Kechiche. Esse cineasta tem um nome árabe bastante estranho para nós, mas não é tão estranho, pois inclusive em 2013 ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes com o filme “La vie d’Adele”. E seu filme mais reconhecido parece ser “Mektoub, My love”.
A matéria começa sobre a Master Class no Festival Cinemed que aconteceu em Montpellier na França, e não é um resumo da aula, mas comentários em torno da vida de Abdellatif Kechiche, lembrando que fazia dois anos de silêncio do cineasta, e lembrando também episódios havidos em torno de uma acusação de assédio sexual do cineasta. Inclusive, durante a Master Class, um grupo de feministas fez provocações entrando e saindo na sala.
Embora a França não tenha uma grande indústria de cinema, lá pousam muitos bons cineastas, e moram e fazem grandes filmes em estilo ‘independente’. Inclusive brasileiros.
O filme “Regra 34”, terceira longa-metragem da cineasta brasileira Julia Murat, foi o grande campeão do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, um dos mais importantes da Europa, conquistando o Leopardo de Ouro. Outro brasileiro, Carlos Segundo, ficou com o prêmio de melhor curta-metragem autoral por "Big Bang". O anúncio foi feito neste sábado (13) durante a cerimônia de encerramento do evento.
Acineasta conversou com a RFI sobre a participação do longa na competição. Na ocasião, Murat falou sobre as grandes expectativas para o festival. "Eu estou nervosa. Apesar de ser o meu terceiro filme, o nervosismo não passa. E é um filme bastante arriscado no que ele se propõe, não tanto do ponto de vista de linguagem, porque eu optei por fazer uma linguagem muito simples, mas do ponto de vista temático. Eu estou apreensiva, digamos ", afirmou.
Em depoimento logo após a vitória, ela destacou que não acreditou quando foi informada sobre a conquista do prêmio. "Acho que a razão (de não ter acreditado) foi que o filme é bastante duro. É um filme que trata de temas difíceis, então eu nunca pensei que seria possível que mais de uma pessoa do júri o defenderia", contou.
Ao agradecer a conquista, Murat lembrou que o último e único longa-metragem brasileiro a ganhar o Leopardo de Ouro foi “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, em 1967, época em que o país vivia sob o regime da ditadura militar. A diretora também fez um apelo, comentando que espera "que este prêmio ajude a nossa sociedade a compreender que precisamos de defender a democracia, mas também a diferença e que temos de apoiar o diálogo", em uma referência ao cenário turbulento no Brasil com a proximidade das eleições presidenciais.
"Regra 34" trata do desejo feminino
O filme conta a história da estudante Simone, que ganha dinheiro fazendo performances online de sexo para pagar a faculdade de direito. O título remete à chamada regra 34 da Internet, que afirma que tudo na web tem seu equivalente pornográfico, e questiona como manter o equilíbrio entre desejo, liberdade e proteção, tanto para os indivíduos quanto para a sociedade.
"O tesão, o desejo feminino é um tema pouco abordado em geral, mas a construção de personagem feminina a partir de sua subjetividade, tentando não responder a um registro clichê do que seria este corpo da mulher, está em voga no cinema brasileiro atual", comentou Julia Murat.
"'Regra 34' traz o cinema brasileiro de volta ao esplendor anárquico do 'cinema marginal'. Um trabalho ousado e político que pretende deixar uma marca. O corpo torna-se objeto político", comentou a diretora artística do festival, Giona Nazzaro.
Além do Leopardo de Ouro, Murat, de 42 anos, foi premiada no Festival de Berlim, em 2017, por seu segundo filme, "Pendular".
por Hildegard Angel, jornalista, filha da estilista Zuzu Angel e irmã do ex-militante político Stuart Angel Jones
- - -
Com o título "Crime e Castigo”, a coluna de Ancelmo Góes, de O Globo, publicou hoje, 15/06/2020, que o Judiciário reconheceu o assassinato de Zuzu Angel, e caberá à União pagar uma indenização às suas filhas - eu e minha irmã, Ana Cristina - não cabendo mais recurso.
Sabemos que indenização alguma paga uma vida, compensa a ausência do afeto, da compreensão e dos cuidados que só podem ser proporcionados por uma mãe. E uma grande, imensa mãe, como foi Zuzu. No entanto, cansadas de ler, nas referências à morte de mamãe, quase sempre a mesma frase "acidente por causas desconhecidas", cansamos, minha irmã e eu, de tanta desinformação.
A grande imprensa sabia, os jornalistas sabiam, os formadores de opinião sabiam, os artistas, os políticos, os empresários, os juristas, todos sabiam. Teses foram escritas a respeito, livro foi publicado, canção de Chico e Miltinho composta, filme, dramatizações na TV, balé, exposições várias, encenações, ruas com seu nome inauguradas, escolas, Túnel, monumentos, prêmios... Homenagens que, enternecida e para sempre agradeço.
Até mesmo no atestado de óbito de Zuleika Angel Jones já consta, como causa mortis, o assassinato pelo Estado brasileiro. Todavia, basta ligeira pesquisa no Google, e lá está, na Wikipedia e em inúmeras outras referências à morte de Zuzu Angel, a frase: "acidente por causas desconhecidas".
Sempre fiz por agradecer aos muitos que repercutiram os fatos com fidelidade. Bem como agradeci aos que reconheceram os méritos e a coragem de Zuzu, porém omitiram no texto a verdade histórica de seu assassinato.
A fim de tornar indelével na memória brasileira essa realidade trágica indiscutível, ainda tratada de forma ambígua por alguns, nós, filhas de Zuzu Angel, após muitos anos de sua morte, resolvemos recorrer ao reconhecimento da Justiça, através do competente advogado dr. Ivan Nunes Ferreira.
Aproveito aqui para informar aos que inadvertidamente negarem o assassinato de Zuzu Angel, acontecido numa emboscada covarde pelos agentes da ditadura, que não se trata mais de simples omissão ou negligência, mas de um crime contra a memória de nosso país.
O Tribunal de Justiça/SP decidiu que não é aceitável o presidente da República ofender, usando insinuação sexual, uma jornalista. Parece óbvio, mas nos tempos em que
vivemos se faz cada vez mais necessário reafirmarmos o justo. Parabéns à Patrícia
GOVERNO INIMIGO DAS MULHERES! Agora é o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, que responde por assédio sexual. Funcionárias denunciam os abusos sofridos durante o trabalho. Os relatos são enojantes!
Que orgulho! Sideral é o "Melhor Curta Internacional" do Festival Internacional de Curtas de Palm Springs!
Somos o "Melhor Curta Internacional" do Palm Springs — Festival Internacional de Curtas! O Palm Spring é o mais importante festival de curtas dos Estados Unidos e é um forte indicador de filmes que podem chegar à reta final do Oscar! Por aqui estamos vibrando de felicidade!
Mais de 33 milhões de brasileiros passam fome e quase 60% população do país está com alguma dificuldade para se alimentar. Não é hora de jogar pessoas na rua!
O legado do governo Bolsonaro para a população é a volta da fome, mais pobreza e a maior queda de renda desde 2012.
Enquanto o presidente é investigado pelos gastos milionários no cartão corporativo, vive de motociatas e passeios de jet ski, mais de 200 mil pessoas não tem um teto para morar. São 33 milhões de pessoas passando fome!
Fernando Haddad
Bolsonaro é sinônimo de destruição e morte.
Rayane Andrade
Até quando povos originários e indigenistas serão vitimas de garimpeiros e latifundiários? Toda solidariedade às famílias de Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips. Queremos justiça! Precisamos saber quem são os mandantes! Esse crime é fruto do golpe de 16 e do bolsonarismo!
JUSTIÇA POR GENIVALDO Não podemos deixar que esse crime bárbaro caia no esquecimento e que seus assassinos não respondam devidamente.
Encontrados os corpos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. Causa muita indignação saber que o governo brasileiro nada fez para proteger as vidas, pedir agilidade nas buscas e apoiar a família. Mais um duro crime que recai sobre o governo da morte
Uma CRIANÇA de 11 anos, grávida após ser vítima de estupro, está sendo induzida criminosamente pela justiça de Santa Catarina a evitar que interrompa a gestação. Querem submetê-la à segunda violência de ter um filho de um estuprador. Que a menina tenha seus direitos respeitados!
A gente sabe o motivo do desespero! Toda solidariedade à companheira
Na Comissão de Direitos Humanos da Camara, há pouco o deputado José Medereiros partiu pra cima do @pauloteixeira13. Medeiros quis censurar pergunta da @taliriapetrone ao ministro da Justiça, Anderson Torres, sobre o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips. Veja vídeo
15 JUNHO é o aniversário daquela que orgulha o RN, dessa companheira aguerrida que defende o povo com coragem e ternura. Feliz aniversário, deps! Estamos com você na defesa das coisas mais belas #EquipeNatáliaBonavides
O filme “Já que Ninguém Me Tira para Dançar”, da cineastaAna Maria Magalhães, apresenta às gerações mais jovens aatriz Leila Diniz, personagem quase legendária que escancarou as portas para a revolução sexual em um Brasil falsamente moralista, nos anos 1960. Por isso mesmo, Leila incomodou a ditadura e foi perseguida pelos militares.
A chegada do filme para o público em janeiro, com acesso gratuito por meio do streaming do Itaú Cultural Play, coincide com os 50 anos da morte da atriz, em um desastre de avião, em junho de 1972, quando ela voltava de um festival de cinema na Austrália. Leila tinha 27 anos.
A proximidade das datas não foi intencional, já que o documentário começou a ser gravado em 1982, com pouco dinheiro e uma câmera emprestada. Uma primeira versão foi editada, mas nunca chegou aos cinemas e o material original quase se perdeu.
Em 2015, a diretora começou a restaurar as gravações, acrescentou depoimentos inéditos e, já em meio à pandemia, conseguiu concluir o trabalho. “É o mesmo filme, mas é um filme diferente”, reflete Ana Maria Magalhães, muito amiga de Leila. O longa foi exibido recentemente em sessões especiais dos festivais de cinema de Brasília e do Rio de Janeiro.
A passagem do tempo deu à cineasta o distanciamento para abordar a trajetória de Leila Diniz sob uma acentuada perspectiva política. “Eu percebi que o que aconteceu com a Leila não foi aleatório. Em 1969, ela já estava com dificuldade de conseguir emprego na TV, apesar de ser uma atriz muito popular. Nessa época, ela deu aentrevista para O Pasquime a ditadura entrou pesado mesmo. No meu entendimento, houve uma trama contra a Leila, para quebrar a base econômica dela”, avalia a diretora.
A entrevista ao jornal alternativo enfureceu os militares. Nela, a atriz falou sobre amor, sexo, desejo, prazer e infidelidade, com muitos palavrões, todos substituídos por asteriscos na edição.
Leila chegou a ficar algum tempo escondida porque havia uma ordem de prisão contra ela. Esse período é reconstituído a partir do valioso depoimento do cunhado da atriz, Marcelo Cerqueira, ex-advogado de presos políticos. Ele considera que Leila foi vítima de “macarthismo” na televisão e fala em perseguição à carreira da atriz.
O advogado conseguiu que o então ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, revogasse a ordem de prisão, mas Leila teve que assinar um termo de responsabilidade comprometendo-se a não falar palavrões em público. “Ela chegou em casa arrasada naquele dia porque assinar o termo foi uma autonegação dos valores dela, e a Leila era uma pessoa muito honesta”, conta a diretora.
Dois meses depois da entrevista, em janeiro de 1970, o ditadorEmílio Médicipublicou o Decreto-lei 1.077, que instituiu a censura prévia à imprensa e às editoras, sob a alegação de proteger a moral, os bons costumes e a família.
A norma ficou conhecida como“decreto Leila Diniz”. “Muita gente não tem ideia do que é viver sob uma ditadura, um Estado policial. Diante do que nós estamos vivendo no Brasil, é o momento de contar a história da Leila, de entender tudo o que aconteceu com ela, o que está acontecendo agora e que pode ser ainda pior se o atual presidente se reeleger e esse grupo político continuar no poder”, avalia Ana Maria Magalhães.
Leila, contudo, não era de levantar bandeiras, nem políticas nem comportamentais. “Ela era muito espontânea, independente, sempre trabalhou muito, tinha um compromisso com a verdade e a igualdade. Isso era muito forte na relação dela com as pessoas. Nas nossas conversas, ela sempre pregou a igualdade na relação entre homens e mulheres. Não tinha essa coisa ‘ele pode, eu não posso’. Isso não existia para a Leila”, observa Ana Maria Magalhães.
A imagem de Leila como mulher liberada e dona de si ficou cristalizada na fotografia em que ela aparece de biquíni, na ilha de Paquetá, grávida de seis meses de sua única filha, Janaína, com o cineasta Ruy Guerra. A foto também provocou críticas a Leila, mas com o tempo, inspirou outras mulheres, e as brasileiras passaram a exibir as barrigas de gravidez com total naturalidade nas praias.
Por meio de muitos depoimentos de amigos, amores, atores e diretores, e trechos de filmes em que Leila atuou, o longa realça a estatura e consistência de sua carreira. Traz ainda fatos desconhecidos, como uma situação de violência sexual da qual Leila conseguiu se livrar de forma inusitada.
Um dos momentos mais arrebatadores do documentário é a sequência em que Leila e Ana, muito jovens, dançam para a gravação de um filme, “As Bandidas”, que não chegou a ser concluído. A alegria transborda da tela.
A caminho da Austrália, de onde nunca voltou, Leila mandou um cartão postal para Ana, ao fazer uma escala no Taiti. Como endereço do remetente, escreveu a expressão em francês “un peu partout” —um pouco por toda parte.
Ao mostrar a coragem com que Leila enfrentou a vida, quebrou tabus e influenciou tantas mulheres, o filme transmite exatamente essa sensação: Leia Diniz continua aí, “um pouco por toda parte” e um pouco em todas nós.
Isso tem nome. Nome feio, cabeludo. Publica Extra. Texto de Patrik Camporez: O secretário especial da Cultura, Mario Frias (das negociatas especiais), contratou sem licitação, por R$ 3,6 milhões, uma empresa sem funcionários e sediada em uma caixa postal dentro de um escritório virtual. Aberta em maio de 2019, a Construtora Imperial Eireli, da Paraíba, deverá prestar serviços de conservação e manutenção do Centro Técnico Audiovisual (CTAv), um edifício da União que reúne relíquias do cinema nacional em Benfica, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. A empreiteira virtual pertence a Danielle Nunes de Araújo — que, no início do ano passado, se inscreveu no programa de auxílio emergencial do governo e recebeu o benefício por oito meses seguidos.
Em agosto, um estudo técnico encomendado pelo próprio CTAv apontou risco de incêndio e desabamento de parte da estrutura. Num dos trechos, o documento ressalta que há “desaprumo de telhas na fachada frontal”, que pode cair a qualquer momento. Funcionários chegaram a contar que tinha até rato caindo do teto.Centro Técnico Audiovisual (CTAv)
Em novembro, Mario Frias assinou a contratação da Construtora Imperial, por meio de uma portaria de dispensa de licitação, para resolver o problema. A empresa está localizada a 2.400 km do Rio de Janeiro e tem como endereço um escritório virtual especializado em fazer “gestão de correspondências” para dezenas de firmas. Por telefone, Danielle Nunes de Araújo confirmou que costuma realizar reuniões no local para tratar de contratos. No entanto, o dono do local, Alcir Lima, diz que não se lembra de ter recebido presencialmente a dona ou qualquer funcionário da Imperial.
De acordo com a base de dados do Ministério da Economia, a Construtora Imperial não registrou funcionário algum em sua última declaração da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), entregue em 2019, ano em que foi fundada. Segundo a pasta, as informações devem ser atualizadas anualmente.
A Construtora Imperial nunca prestou serviços para o governo federal. Além disso, a empresa não tem um site ou qualquer meio eletrônico que detalhe os serviços que ela presta.
Entre parentes e pessoas próximas, Danielle não é conhecida como empresária do ramo da construção, mas sim como dona de casa de perfil discreto e que recentemente estava passando por dificuldades financeiras. No início do ano passado, ela se inscreveu no programa de auxílio emergencial do governo Federal e recebeu o benefício por oito meses seguidos — R$ 3,9 mil no total.
Ao ser questionada pelo EXTRA, Danielle não soube dar detalhes dos serviços para o qual foi contratada. Disse apenas que era para "demolir e reconstruir um prédio lá no Rio". O edital de contratação da Secretaria Especial de Cultura, no entanto, não trata de qualquer "demolição" do prédio. O documento destaca que os recursos empenhados na obra servirão para a realização de “serviços técnicos especializados na área de engenharia para manutenção preventiva, corretiva, conservação predial e arquitetônica”.
O contrato de R$ 3,6 milhões com o governo Federal foi o maior negócio já fechado pela Construtora Imperial. Antes, havia prestado apenas pequenos serviços para prefeituras da Paraíba. Com Sertãozinho, por exemplo, fechou um contrato de R$154 mil. Com Guarapari da Paraíba, outro negócio foi firmado, por R$ 190 mil. Ambos na área de obras esportivas.
Procurada, Cultura não respondeu
Procurada por e-mail e por telefone ao longo dos últimos dias, a secretaria de Cultura não respondeu aos questionamentos da reportagem nem disse por que uma empresa que não tem sede nem funcionários foi contratada sem licitação. O órgão também não respondeu quais os critérios foram adotados para a escolha da construtora e não esclareceu se fez vistoria prévia na empresa.
Especialistas em direito administrativo ouvidos pelo EXTRA destacam que, antes de formalizar uma contratação, é obrigação da União checar se a empresa tem capacidade técnica reconhecida. E isso inclui, segundo a legislação federal, checar se a empresa tem funcionários especializados, além de capacidade técnica e máquinas, por exemplo. Quando se trata de dispensa de licitação, essa comprovação se torna ainda mais importante, explica Cecilia Mello, advogada, membro efetivo da Comissão de Direito Penal da OAB-SP e desembargadora aposentada do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3).
— Em qualquer contratação com dispensa de licitação em razão de emergência ou calamidade pública, há uma circunstância emergencial e que demanda pronto e adequado atendimento. Há uma situação de risco. Disso decorre, por raciocínio lógico, que somente uma empresa que tenha expertise para enfrentar aquela situação pode ser contratada. Afora os demais pressupostos legais, relacionados a preço, prazo, etc., a especialidade da empresa e a sua estrutura para o atendimento da urgência devem ser comprovados — completa Cecilia.
Valdir Simão, ex-ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Controladoria Geral da União, também pontua que a verificação da capacidade técnica e financeira da empresa é uma etapa "essencial", antes da contratação.
— Tem que ver se ela tem capacidade de executar aquela obra. Tem que ser verificado, feita a habilitação jurídica, a habilitação técnica, a habilitação econômica e financeira e outros requisitos. Há uma fase importante que é a de atestar capacidade da empresa — destaca.
O CTAv
Criado em 1985 a partir de uma parceria entre a antiga Embrafilme e o National Film Board, do Canadá, o CTAv é responsável por um acervo com mais de seis mil títulos. O órgão também fornece apoio à produção cinematográfica nacional por meio de empréstimos de equipamentos e estúdios, a custo zero. Nomes como os cineastas Sérgio Sanz (1941-2019) e Gustavo Dahl (1938 - 2011) já passaram pela direção da instituição.
Os bens históricos incluem 15 mil latas de filme, 20 mil negativos fotográficos e cerca de 1,5 mil cartazes. Entre as relíquias, há parte da coleção do diretor pioneiro Humberto Mauro (1897-1993) e películas originais de “Limite” (1931), obra-prima de Mário Peixoto, e “O que foi o carnaval de 1920” (1920), de Alberto Botelho.