Em vídeo postado no Youtube, o jornalista Alexandre Garcia, ex-TV Globo, ex-CNN, diz que “é preciso investigar que não foi só a chuva” que causou enchentes no Rio Grande do Sul e a morte de mais de 45 pessoas, fora as que estão desaparecidas.
Segundo Garcia, “no governo petista foram construídas, ao contrário do que recomendavam as medições ambientais, três represas pequenas que aparentemente abriram as comportas ao mesmo tempo. Isso causou uma enxurrada”.
“Aparentemente abriram as comportas ao mesmo tempo”? Afinal, abriram ou não abriram?
O jornal O Estado de S. Paulo checou a informação: é falsa. As três represas não possuem comportas que armazenam ou retêm água para geração de energia. Nos períodos de chuva ou de aumento na vazão do rio, a água excedente passa por cima das barragens.
Esse tipo de estrutura, chamado de vertedouro de soleira livre, afirma o jornal, não controla o fluxo dos rios e apenas escoa o excedente de água. É o que diz a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do Rio Grande do Sul após ser consultada.
É o que repetem a Companhia Energética Rio das Antas e a Agência Nacional de Energia Elétrica, responsável pela fiscalização da geração de energia. É o que diz a Agência Nacional de Águas. A produção de energia é feita apenas com a força da correnteza.
A tragédia que atingiu a região serrana e do Vale do Rio Taquari foi desencadeada por um ciclone extratropical que causou ventania intensa e muita chuva. As represas tiveram seus projetos iniciados em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Elas entraram em operação, por etapas, entre 2004 e 2009, nos dois primeiros governos de Lula. O Ministério Público Federal abriu inquérito para apurar as providências adotadas pelo governo do Rio Grande do Sul em relação às enchentes.
No domingo (10/9), o advogado-geral da União, Jorge Messias, usou as redes sociais para comunicar que acionou a Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia contra o jornalista que teria disseminado informações falsas.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, observou ontem:
“As pessoas acham que as redes são o universo da impunidade. Estão disseminando mentiras em meio a uma tragédia, o que potencializa a dor das famílias. Devemos agir com rigor e buscar a responsabilização de quem promove e propaga fake news”.
A liberdade de expressão nada tem a ver com o caso de Garcia. É obrigação do jornalista verificar se a notícia é verdadeira antes de divulgá-la. Se é falsa, lixo com ela. Se errou passando-a adiante, peça desculpas e tenha mais cuidado.
Credibilidade é um atributo difícil de construir e fácil de perder.
Menos de uma semana após o ciclone, jornais nacionais não dão destaque ao assunto e matérias de portais são inacessíveis para não-assinantes. Foto: Marinha do Brasil/RS
Por Natália Huf
objETHOS
Neste domingo, 10 de setembro, buscando matérias sobre a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul nos principais jornais do país, duas coisas me chamaram a atenção: a ausência do tema nas páginas iniciais dos portais que se pretendem nacionais e a barreira do paywall em grande parte dos textos, até mesmo no maior portal digital gaúcho. Por diversos motivos, não sou assinante destes veículos, o que me deixa “do lado de fora” de muitas matérias no dia a dia; mas, em uma situação como a do ciclone que matou cerca de 40 pessoas até o momento e deixou inúmeros desabrigados, seria de se esperar que os jornais mantivessem o acesso aberto às informações.
Esta não é apenas a reclamação de uma pessoa que mora na região Sul e tem familiares que habitam próximo a cidades atingidas. Para além destes vieses, o questionamento sobre o paywall que impede a leitura das notícias sobre o ciclone perpassa o olhar sobre acesso à informação de interesse público, critérios de noticiabilidade e modelo de negócio adotado pelos veículos. Vamos por partes.
Repercussão
Em capítulo no livro Critérios de noticiabilidade – Problemas conceituais e aplicações (Insular, 2014), a pesquisadora Gislene Silva elenca 13 autores e as categorias de valor-notícia que cada um deles apresenta em sua obra (p. 62). Destes, absolutamente todos possuem ao menos uma categoria que justifica a repercussão do ciclone enquanto fato jornalístico: para Stieler, o fator proeminência; Lippman, impacto; Bond, catástrofe, drama e número de pessoas afetadas; Galtung e Ruge, amplitude e negativismo; Golding-Elliot, drama, importância e atualidade; Gans, importância; Warren, atualidade e conflito; Hetherington, importância, drama, número de pessoas envolvidas; Shoemaker e colegas, impacto; Wolf, número de pessoas envolvidas; Erbolato, impacto e interesse humano; Chaparro, atualidade e dramaticidade; e Lage, intensidade. Com uma análise mais detalhada de cada um dos conceitos apresentados por cada autor, talvez seja possível encaixar esse fato em ainda mais categorias. Portanto, o que justifica a ausência de matérias sobre o ciclone nas capas (virtuais e impressas) dos quality papers brasileiros no fim de semana após a tragédia?
O ciclo das notícias é cada vez mais rápido, especialmente considerando a circulação nas redes sociais. Embora tenha sido destaque nos dias imediatamente seguintes ao ciclone, causa espanto que um evento de tamanha proporção não tenha sido sequer mencionado na capa da Folha de S. Paulo deste domingo, nem d’O Estado de S. Paulo ou d’O Globo, enquanto todos os três dão destaque à tragédia no Marrocos, que é manchete da Folha e a foto de capa dos outros dois. A intenção aqui não é, de forma alguma, “comparar” eventos catastróficos e tentar determinar qual deles é mais ou menos importante. Mas é curioso que, quando situações de impacto ocorrem fora do eixo Rio-São Paulo, elas ganhem destaque por pouco tempo nos veículos de maior abrangência do país. Não foi diferente com o apagão que atingiu 13 das 16 cidades do Amapá em 2020, por exemplo, que gerou discussão em torno do porquê o caos no estado nortista teve menos espaço no noticiário nacional do que as eleições americanas, que ocorreram na mesma época.
Modelo de negócio
Em relação ao paywall, cito a pesquisadora e colega do objETHOS Lívia Vieira, que escreveu em comentário publicado em março deste ano sobre como essa ferramenta vem sendo bem-sucedida desde sua implementação pelos pioneiros The New York Times e Financial Times, no início da década passada. O modelo foi adotado por grande parte dos veículos, mas segue com questões éticas que precisam ser observadas pelas empresas, como destaca Lívia: a impossibilidade dos leitores de assinar todos os veículos, as dificuldades impostas ao jornalismo local, a desinformação que circula livremente (e sem paywall) e, em especial, a restrição a informações de interesse público.
O pesquisador Alexandro Mota, em capítulo do livro Covid-19 e a comunicação (Cegraf UFG, 2021), destaca o momento da pandemia em que 15 veículos brasileiros suspenderam o paywall das notícias sobre Covid-19: “Os valores sociais acima dos de mercado no contexto de uma pandemia nos ajudam a pensar como, em algumas situações, o espírito jornalístico ‘clássico’, aquele mais amplamente propagandeado pelo campo como legítimo, tem oportunidade de se alinhar à prática, encontra terreno propício para o jornalismo ser o que ele costuma prometer – sem aqui anular ou hierarquizar outras formas de ser e de poder ser do jornalismo” (p. 425).
Até mesmo o portal Gaúcha ZH, da RBS, limita o acesso às matérias sobre as enchentes no estado. Imagem: GaúchaZH/Reprodução
É certo que a pandemia teve uma proporção muito maior, afetando todos os países do mundo. No entanto, aquele foi um momento em que diversos veículos deixaram de diferenciar a categoria leitor assinante da “subcategoria” de não-assinante e permitiu acesso livre a uma maior parcela de conteúdo, que foi consumida e disseminada pelas pessoas: em 2020, primeiro ano da pandemia, em meio ao que muitos afirmam ser uma grande crise de credibilidade das instituições, TVs e jornais lideravam o índice de confiança em relação a informações sobre o vírus.
Situações de interesse público, catástrofes e com um grande número de pessoas afetadas, para retomar os critérios de noticiabilidade, demonstram que o jornalismo continua ocupando uma posição de referência para grande parte do público. Além de investir em jornalismo de qualidade, é importante também que as empresas jornalísticas revisitem suas estratégias de modelo de negócio e identifiquem momentos em que o interesse humano deve estar à frente da lógica de mercado.
SILVA, G. Para pensar critérios de noticiabilidade. In: SILVA, G.; SILVA, M. P.; FERNANDES, M. L. (Orgs.). Critérios de noticiabilidade: Problemas conceituais e aplicações. Florianópolis: Insular, 2014. p. 51-70.
O mentiroso deputado goiano só perde para o jornalista Alexandre Garcia denunciado por Fernanda Meelchiona. O ex-global comentarista da CNN encabeça a relação com 126 postagens fora do ar, retiradas por ele próprio ou pela plataforma. Esse total lhe havia rendido quase R$ 70 mil em remuneração por audiência e publicidade em 2021. Os dois criadores de informações falsas voltam a atuar juntos na tragédia do Rio Grande do Sul no espalha fatos maldosos
Uma reportagem do jornalO Globorevelou que a empresa Google entregou à CPI da Covid uma lista com canais no YouTube – a maioria de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) – que ganharam milhares de dólares disseminando notícias falsas sobre a pandemia antes que seus vídeos fossem apagados.
Lista de canais do YouTube com vídeos removidos | Foto: Reprodução O Globo
Por solicitação dos senadores da comissão, o site forneceu à CPI uma relação contendo 385 vídeos removidos pelo Youtube ou deletados pelos próprios usuários depois de serem “carimbados” como disseminadores de fake news sobre temas relacionados ao novo coronavírus, como formas de tratamento para a doença, vacina ou restrições impostas pela pandemia.
A listagem foi acompanhada de quanto cada publicação rendeu aos donos dos canais até saírem do ar. Nela, consta o político e youtuber goiano Gustavo Gayer, que, segundo o Google – que é dono do YouTube – recebeu quase US$ 8 mil (mais precisamente US$ 7.951,07), ou R$ 40,7 mil em valores atuais, com os vídeos removidos por espalhar desinformação.
Nas últimas eleições, Gustavo Gayer foi candidato a prefeito de Goiânia pelo DC e obteve 45,928 votos, 8% do total dos votos válidos, se tornando a surpresa do pleito – ficou em 4º lugar, à frente do deputado Major Araújo (PSL), que foi oficialmente apoiado por Bolsonaro. Gayer é conhecido por grande engajamento nas redes sociais de extrema-direita.
Gustavo Gayer em vídeo no qual atacou enfermeiras que faziam protesto na Praça dos Três Poderes, em 1º de maio de 2020
Na relação do Google, o goiano sóperde para o jornalista Alexandre Garcia. O ex-global e hoje comentarista da CNN encabeça a relação com 126 postagens fora do ar, retiradas por ele próprio ou pela plataforma. Esse total lhe havia rendido quase R$ 70 mil em remuneração por audiência e publicidade.
Os canais Notícias Política BR (R$ 20,7 mil), Brasil Notícias (R$ 17,7 mil), completam as primeiras colocações. Ao todo, os 22 canais da relação entregue à CPI receberam US$ 45 mil, o equivalente a R$ 230 mil, com os vídeos de notícias falsas. (Por Elder Dias no Jornal Opção, com informações de O Globo, in 12 de junho de 2021)
Poço de mentiras de Alexandre Garcia, porta-voz da ditadura militar de 1964
Mentiroso contumaz jornalista bolsonarista divulgou uma grotesca fake news de que barragens de represas construídas pelo PT no Rio Grande do Sul foram abertas de propósito para inundar o estado
247 -O jornalista Joaquim de Carvalho criticou nesta segunda-feira (11) o jornalista bolsonarista Alexandre Garcia por espalhar uma grotesca fake news em que afirma que barragens de represas construídas por governo petista no Rio Grande do Sul foram abertas de propósito para inundar o estado. Em meio aos efeitos do ciclone da última semana que matou 46 pessoas e deixou ao menos 924 pessoas feridas, Joaquim comparou o comportamento de Alexandre Garcia a um ato de terrorismo. "Alexandre Garcia é outro mentiroso. Espalhar mentira em momento de tragédia equivale a ato terrorista", afirmou o jornalista pelas redes sociais.
O Advogado Geral da União Jorge Messias determinou que a Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia instaure investigação sobre a fake news difundida pelo jornalista bolsonarista Alexandre Garcia. "É inaceitável que, nesse momento de profunda dor, tenhamos que lidar com informações falsas", afirma Jorge Messias.
O presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin,anunciou no início da tarde deste domingo (10) que o governo federal irá disponibilizar R$ 741 milhões em ajuda ao estado do Rio Grande do Sul, atingido por fortes chuvas e enchentes desde a última segunda-feira (4) após a passagem de um ciclone extratropical. Alckmin fez o anúncio em Lajeado (RS), na Universidade do Vale do Taquari (Univates), onde se reuniu com prefeitos locais, ministros e o governador Eduardo Leite.
Após a notícia de que será investigada pela Polícia Federal em razão da propagação de fake news sobre a tragédia no Rio Grande do Sul, a médica Samara Baum gravou novo vídeo se desculpando. No vídeo inicial, divulgado pelo deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO), ela afirmou que pessoas estavam “passando fome” esperando o presidente Lula voltar do G20. “Chegamos agora em um centro de distribuição de Lajeado e recebemos a informação de que não vão ser liberados alimentos para que sejam feitas as doações, para aguardar o presidente Lula chegar a Lajeado para fazer fotos, vídeos e publicações em cima das doações”, disparou.
Propagador contumaz de mentiras, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) disseminou uma fake news criada pela médica veterinária gaúcha Samara L. Baum, presidenta da ONG Unidos Pelos Animais (UPA) de Sarandi (RS), que havia dito que os donativos para a população atingida pelas enchentes no Rio Grande do Sul só seriam entregues na presença de Lula (PT).
"Recebemos a informação de que não vai ser liberado alimentos (SIC) para serem feitos a doação porque eles têm que aguardar o presidente Lula chegar aqui em Lajeado para fazer foto e vídeo e publicação em cima das doações", disse a veterinária, que gravou vídeo desmentindo a própria declaração após a propagação nas redes sociais.
"Lula proíbe que doações para as famílias atingidas no RS sejam entregues até que ele possa chegar para 'tirar fotos'. Isso é um absurdo", escreveu o deputado bolsonarista em publicação juntamente com o vídeo, que foi apagado depois.
A Fake news foi desmentida pelo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta.
"De forma criminosa foi produzido um vídeo fake em que uma pessoa supostamente teria tentado entregar donativos no suposto centro de distribuição de Lajeado, teria sido impedida sob alegação de que estariam esperando a chegada do presidente Lula para que fossem feitas fotos e só depois esses donativos pudessem ser distribuídos. Isso é crime! Isso é uma conduta de pessoas sem escrúpulos que se aproveitam de uma tragédia para tentar construir uma narrativa criminosa, falta, típica dessa conduta que o Brasil não suporta mais", disse Pimenta, que ressaltou já ter "acionado a Polícia Federal e a AGU", em relação à Advocacia-Geral da União.
Após a divulgação do vídeo do ministro, Gayer apagou a publicação com a fake news e a bolsonarista mudou a versão, desmentindo o que havia dito e dizendo que o vídeo "vazou" de um grupo pessoal.
"Me expressei errado pela raiva", disse a veterinária, emendando que "eu falei, sim, do presidente Lula. Me expressei pela raiva", justificou a bolsonarista, mentindo novamente dizendo que "não tem predileção política. Nas redes sociais, ela destila ódio e propaga fake news contra Lula.
Pedro Rousseff
AMANHÃ É DIA DE TOC TOC PF ACABA de acionar o deputado Bolsonarista Gustavo Gayer por conta do vídeo FAKE dizendo que o governo Lula não está dando assistência às vítimas das chuvas no RS. PF também está na CAPTURA da mulher que participou do vídeo falacioso!
SEM ANISTIA!! Advocacia Geral da União ACABA de abrir um processo contra Alexandre Garcia por mentir que o PT abriu as comportas pra inundar cidades no Rio Grande do Sul. Chegou o momento de punir esses mentirosos e negacionistas com o rigor da lei!
Marina Mamede
Senta que lá vem história Vocês estão acompanhando a Samara, anti querida, que soltou vídeo falando que o Lula mandou segurar alimento em Lajeado pra tirar foto, aí foi descoberto que era mentira e ela já soltou vídeo falando que tava com a cabeça quente? Pois é… no último video ela diz que não se manifesta politicamente. Bora pegar na mentira MAIS UMA VEZ? Samara é beneficiária de um programa da prefeitura de Sarandi, com a ONG que é presidente. Recebe R$6.500 por mês, ganhou uma ambulancia veterinaria da prefeitura pra operar. Eis que a prefeitura mandou contratar EM EMERGÊNCIA (sabe o que significa isso né?) 3 pessoas pra trabalhar nesse projeto…adivinha de que ONG sao essas pessoas? POIS É! e aí tem uma coletânea de postagens dela que não deu tempo de apagar - OOOPS!!! - e deixarei aqui pra que vocês tirem as próprias conclusões sobre a anti querida… imagina se ela se manifestasse politicamente, heim? tem de tudo: tem a linda xingando lula no dia da prisão, mandando o choque invadir o sindicato dos metalúrgicos, discurso contra o STF, postagem contra medida sanitária na pandemia e ainda faz parte de 2 grupos pela liberação de armas. UM SHOW DE HORRORES!
São Paulo – A Advocia-Geral da União (AGU) e a Polícia Federal vão investigar e responsabilizar o jornalista Alexandre Garcia, que disseminou fake news nesta sexta-feira (8), insinuando que o “governo petista” foi responsável pela tragédia provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul. O advogado-geral da União, Jorge Messias, informou em suas redes sociais que sua pasta vai “buscar a responsabilização” do jornalista.
“Determinei à Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia a imediata instauração de procedimento contra a campanha de desinformação promovida pelo jornalista. É inaceitável que, nesse momento de profunda dor, tenhamos que lidar com informações falsas”, postou o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU).
Também em suas redes, o ministro da Justiça, Flávio Dino, escreveu que a Polícia Federal vai adotar “as providências previstas em lei” contra o bolsonarista, que difundiu a informação em um canal de YouTube. Dino também reforçou que fake news não são “piada”.
“Reitero que fake news é crime, não é ‘piada’ ou instrumento legítimo de luta política. Esse crime é ainda mais grave quando se refere a uma crise humanitária, pois pode gerar pânico e aumentar o sofrimento das famílias. A Polícia Federal já tem conhecimento dos fatos e adotará as providências previstas em lei”, escreveu Dino.
Há dois anos, Garcia foi demitido da CNN Brasil após afirmar que os remédios defendidos por Jair Bolsonaro, comprovadamente sem eficácia contra a covid-19, “salvaram milhares de vidas”. Na ocasião, antes da demissão, ele foi desmentido ao vivo pela jornalista Elisa Veeck.
Alexandre Garcia disse que é “preciso investigar, porque não foi só a chuva” que causou as enchentes no estado gaúcho, matando pelo menos 46 pessoas. As afirmações mentirosas provocaram revolta nas redes.
“Enquanto gente como o psicopata irresponsável do Alexandre Garcia não estiver NA CADEIA por espalhar desinformação que se transforma em discurso e ação de ódio, essa gente não vai parar. É preciso traçar uma risca no chão, não dá mais”, protesta o jornalista William De Lucca no Twitter.
“Dopado de cloroquina”
“Alexandre Garcia, o jornalismo terra plana dopado de cloroquina informa que as inundações no Sul são culpa de uma sabotagem do PT. Não é lelé da cuca, é um mau caráter mesmo, inconsequente, irresponsável e sensacionalista, um jornalismo Olavista”, escreveu no Twitter o também jornalista Guga Noblat.
Brian Mier, correspondente da Rede Tel SUR em inglês, lembrou o passado comprometedor do bolsonarista, cujas alianças espúrias vêm de muito antes de Bolsonaro. “Alexandre Garcia, ex-assessor do presidente da ditadura militar Figueiredo, analista de notícias da Globo e CNN está sob investigação hoje por mentir no YouTube que as enchentes no Rio Grande do Sul que mataram 43 pessoas após o ciclone da semana passada foram causadas pela sabotagem de barragens do governo Lula”, postou Mier em inglês.
O deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) classifica Garcia como “notório bolsonarista” e também lembra que ele “foi porta voz da ditadura militar”, para depois acrescentar que o ex-CNN “fez acusações mentirosas ao governo federal em relação às enchentes no Rio Grande do Sul”.
Para Valente, ele “se aproveita da tragédia para espalhar mentiras, a cara do bolsonarismo”, e conclui que o jornalista decadente “precisa responder por isso”.
Outra mentirosa do gabinete do ódio
Uma bolsonarista identificada como médica, Samara L. Baum espalhou um vídeo do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) dizendo que as doações para as vítimas das enchentes haviam sido paralisadas à espera da volta do presidente Lula de viagem. Após a repercussão e saber que a Polícia Federal vai investigar as informações falsas, a mentirosa pediu desculpas em um vídeo.
A surpresa do governador Eduardo Leite só pode se explicar pela desimportância que a pauta ambiental tem em sua gestão
A tragédia que assola o Rio Grande do Sul nos últimos dias já é uma das maiores de nossa história. Dezenas de mortos, milhares de desabrigados e desalojados. “De tão irreconhecíveis, parece que soltaram uma bomba”, descreveu um morador de Lajeado sobre as cidades da região do Vale do Taquari, as mais atingidas pelas enchentes.
Diante do caos, o governador Eduardo Leite tem insistido no discurso de que as autoridades foram surpreendidas pela magnitude da tragédia. Primeiro, Leite jogou a responsabilidade para os modelos matemáticos de previsão dos institutos meteorológicos, que não teriam indicado o volume de chuva que atingiu o Estado. A Metsul Meteorologia não deixou por menos, divulgou uma nota dura, com links para notícias anteriores às chuvas, advertindo para a possibilidade de volumes acima de 300 mm na metade norte gaúcha.
Não foi suficiente. Em entrevista à GloboNews, Leite voltou a dizer que a chuva intensa não havia sido prevista. Foi então a vez do jornalista André Trigueiro, que acompanha a pauta ambiental há décadas, rebater o governador, lembrando que o discurso é o mesmo repetido por outros políticos, sempre que ocorre uma tragédia como essa. Leite não gostou, acusou o repórter de falta de empatia, e o clima esquentou ao vivo.
A surpresa do governador, entretanto, só pode se explicar pela desimportância que a pauta ambiental tem em sua gestão, e que não é surpresa nenhuma para quem a acompanha de perto. Vejamos:
Muito antes desse episódio, entre junho e julho de 2020, o RS e SC foram atingidos por dois ciclones-bomba, que causaram perdas de vidas humanas e grandes prejuízos materiais. Na ocasião, Francisco Eliseu Aquino, professor do Departamento de Geografia da UFRGS e coordenador do Laboratório de Climatologia, do Centro Polar e Climático da Divisão de Climatologia Polar e Subtropical da UFRGS, alertou que aquele era um cenário que vinha para ficar e até se intensificar nos próximos anos. Cabe perguntar, o que fez o governo do Estado a respeito?
Se você acompanha o Sul21 com regularidade, provavelmente sabe que a pauta ambiental não é exatamente um tema do qual o governo Leite possa se orgulhar. Em uma retrospectiva do ano de 2021, por exemplo, expomos as controvérsias do governo envolvendo o assunto. Da falta de ação para preservar o pampa, bioma que tem sofrido a maior remoção da vegetação nativa dentre todos os biomas do Brasil, à aprovação do autolicenciamento ambiental, são inúmeros os movimentos do governo Leite, desde o primeiro mandato, que provocam críticas fervorosas de ambientalistas. Ainda em 2021, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) alertava que o “discurso verde” do governador, levado à COP26, na Escócia, priorizava o mercado e não a proteção ambiental.
Da chuva à seca, outro fenômeno climático que tem castigado os moradores do Estado nos últimos anos, sem que o poder público aja em tempo e à altura do que necessita a população, a natureza vem mostrando há anos e com cada vez mais intensidade que os governantes não têm a opção de relegar a pauta ambiental a segundo plano. Em Porto Alegre, não é diferente. Árvores ao chão, prédios ao céu poderia ser o slogan do prefeito Sebastião Melo.
Exercendo nosso papel no jornalismo local, cobramos recentemente da Prefeitura da Capital qual o plano para enfrentar a crise climática. A resposta que obtivemos é que ele está sendo preparado e será apresentado em julho de 2024. Infelizmente, nem precisamos esperar o plano oficial do Município para saber qual o caminho trilhado por Porto Alegre. Em uma das reportagens da série especial Que Porto É Esse?, publicada em 2021, mostramos os rumos do “extrativismo sem limites” na cidade. O geólogo e professor da UFRGS Rualdo Menegat alertava na ocasião que a preocupação com a “carga” que o ecossistema da cidade pode suportar, em especial o Guaíba, deveria balizar o planejamento urbano. Contudo, avaliava que as transformações em andamento na cidade vão no sentido oposto. Em 2022, ele mantinha análise semelhante: ‘Porto Alegre é uma cidade ambientalmente abandonada’
Diante de tais escolhas, podem ainda nossos governantes alegar surpresa?