Aproveito aqui a posse do Presidente Lula, dos ministros e governadores para tomar posse também de coisas que havia perdido ou estavam proibidas e esquecidas.
Tomo posso do ar mais tranquilo, da democracia, do clima mais feliz e ameno, da alegria e da risada. Tomo posse do meu direito de ser como eu quiser, de amar quem eu quiser e me vestir como eu quiser. Tomo posse do direito de acreditar no deus que eu escolhi, na religião que eu sigo ou mesmo de não acreditar em nada ou ninguém.
Tomo posse do direito de ser gordo, magro, negro, branco, amarelo indígena ou europeu. É meu direito também pensar como eu quero, ajudar o próximo, fazer da educação meu objetivo maior, ler o que eu quiser, ouvir a música que mais eu curto naquele momento. No momento seguinte posso mudar. Tomo posse também de todas as comidas e bebidas que existem nesse país e que estejam ao meu alcance. Tomo posse do direito de matar a fome de todos, de restabelecer o amor entre as pessoas, de conviver com as diferenças, de ouvir as conversas, dar risadas, respeitar o entendimento e o trabalho coletivo.
Tomo posse da terra, da casa, do meu lugar preferido. A posse das ruas, das praças, das praias, das planícies e das montanhas, dos rios, mares, lagos e praias. Posse das riquezas que temos, do petróleo, da pecuária, das florestas, das plantas medicinais, do conhecimento dos povos originários, da tradição passada de boca em boca, dos ensinamentos, dos truques e da sabedoria. Falando em sabedoria temos que tomar posse novamente da ciência, das vacinas, da medicina, do SUS, dos médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, de todos aqueles que nos ajudaram a combater a Covid.
Tomamos também posse da nossa relação de gratidão com os professores, alunos, funcionários, escritores, artistas, atores, músicos, comediantes, cartunistas, jornalistas, pesquisadores e doutores que nos ajudaram a manter de pé não só o país mas todos aqueles que resistiram ao fascismo que ameaçou a nossa identidade e a nossa cultura estes anos todos.
Tomamos posse também do país, do Brasil, dos seus símbolos, das suas características da sua bandeira, suas cores e sua paisagem. Tomamos posse da Amazônia para que não seja mais desmatada nem queimada. Tomamos posse das riquezas deste solo- mãe gentil que nos fornece o suficiente para sermos felizes. Vamos tomar posse novamente do orgulho de ser brasileiro, da alegria de dividir o pão, de compartilhar o trabalho e olhar no rosto do outro o sorriso que gostamos de dar e ver.
Este é o Brasil que eu quero novamente e se faltou alguma coisa para tomar posse é só juntar nessa lista. Temos o direito e o dever de tomar não só posse como tomar conta deste país para que não aconteça novamente de o perdermos de vista. Viva a democracia, as eleições e o presidente Lula. E possuído deste sentimento de Brasil termino por aqui para que todos nós possamos tomar posse da cidadania que tanto nos faltou.
Não bastasse este desmonte, o governo patrocinou verdadeiras campanhas contra a ciência ao não reconhecer sua importância e seu valor
por Roberto Muniz
Em outubro, brasileiros e brasileiras irão às urnas definir os rumos que pretendem para o país. Não será simplesmente a escolha de um dirigente para a nação. Será a escolha entre projetos e caminhos futuros para nossas vidas. Os eleitores estão colocados frente a frente com diversas alternativas, mas a que vem se mostrando como principal, como a primeira escolha a ser feira, é a que vai definir se queremos continuar com o atual estado de coisas ou se vamos optar por outros projetos que tragam para a população uma nova forma do Estado agir e buscar o desenvolvimento socioeconômico, o bem-estar social.
Entendemos que este é um momento muito rico para pensar e repensar, todas as ações governamentais em todos os seus setores de atuação (saúde, educação, ciência e tecnologia, transporte, fiscalização, desenvolvimento econômico, entre outros). É o momento de pôr na balança o que deu certo e o que deu errado e, para além disso, o que fazer no futuro próximo.
Neste momento de profundo debate, de avaliação, de tomada de decisão, que culminará no resultado das urnas em outubro, nos parece fora de momento, fora de hora, que o atual governo – que tem seus últimos meses de existência e vem apresentando índices de rejeição elevados, que apresenta resultados desastrosos, que está no “apagar das luzes” – venha propor projetos, legislações, normativas e planejamentos para um futuro próximo.
Este é o caso do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI ao apresentar uma nova proposta de Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e uma minuta de lei para criar um Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Ou ainda, a proposta de um planejamento estratégico de longo prazo, de uma nova estrutura organizacional e regimento interno para o CNPq propostos pelo presidente do Conselho.
Nos mais de três anos e meio de mandado do governo Bolsonaro a ciência e tecnologia esteve sob constantes ataques. O orçamento para a área de C&T teve reduções drásticas. O orçamento do CNPq é o menor das duas últimas duas décadas. As verbas destinadas a sua principal função – o fomento à pesquisa, teve redução da ordem de 80%, . O governo Bolsonaro, com seu Ministro Marcos Pontes, sucateou a área. Setores, laboratórios e linhas de pesquisas dos Institutos de Pesquisa estão ameaçados por falta de pessoal, de material, de apoio. O CNPq, por exemplo, conta hoje com apenas 300 servidores para atender toda a demanda por bolsas, auxílios e fomento para pesquisa, no país e exterior, quando em 2010 eram cerca de 800.
Não bastasse este desmonte, o governo patrocinou verdadeiras campanhas contra a ciência ao não reconhecer sua importância e seu valor. Exemplo claro disso foi o que vimos em relação as vacinas e contra as universidades públicas. A postura negacionista do governo esteve sempre presente ao longo destes anos e, as vésperas das eleições, resolve definir políticas de longo prazo e mudanças estruturais que vão se impor ao novo governo a ser eleito em outubro, que podem comprometer o futuro.
A proposta de uma nova Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e uma legislação para um Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, tiveram origem no MCTI que depois encaminhou minutas ao Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia – CCT para que suas comissões trabalhassem sobre elas. O que resultou destas contribuições, organizadas pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – CGEE e pelo MCTI, vem agora a luz para uma consulta pública (ver no link: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2022/08/mcti-abre-consulta-publica-sobre-as-propostas-da-politica-e-sistema-nacional-de-ciencia-tecnologia-e-inovacao) para colher contribuições dos cidadãos…”a fim de permitir a participação da sociedade na gestão pública”.
Apesar de parecer ser uma boa intenção, a “consulta pública” proposta, na verdade visa utilizar de um artifício jurídico legal, para não realizar um amplo debate com todos os interessados e envolvidos na questão. Este debate já vinha sendo solicitado por diversas entidades e por nosso Sindicato. O único debate público sobre o tema foi o realizado através de uma audiência ocorrida no Senado, onde puderam ser ouvidos e debatidos os pontos de vistas e contribuições de diversos atores do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, tais como a Academia Brasileira de Ciências – ABC, a Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência – SBPC, a Confederação Nacional da Indústria – CNI, o Conselho Nacional da Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa – CONFAP, o SindGCT, e a ICTP.Br (veja a matéria: https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2022/07/14/debatedores-reivindicam-participacao-da-sociedade-civil-na-nova-politica-nacional-de-ciencia) Nesta audiência, as instituições presentes convergiram que se fazia necessário maior participação de todos os envolvidos na construção das propostas e que este não era o momento mais adequado para se pretender aprová-las. (Veja o vídeo da audiência pública no Senado: https://www12.senado.leg.br/tv/plenario-e-comissoes/comissao-de-ciencia-tecnologia-inovacao-comunicacao-e-informatica/2022/07/cctdebate-proposta-de-nova-politica-nacional-de-ciencia-e-tecnologia) Apesar da audiência no Senado e dos reiterados pedidos de aprofundamento de debates ou diamento da questão, o MCTI resolveu ignorar todos e pôs sua proposta a “consulta pública“. Ou seja, resolveu desconsiderar as sugestões dos principais atores do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia e suas entidades representativas. O que podemos esperar do MCTI agora com esta proposta de “consulta pública“?
Os que participam do Sistema, os que fazem a gestão, a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico, o desenvolvimento de inovações e os usuários do sistema estão solicitando maior participação na elaboração destas normativas porque reconhecem sua importância e ao tomar conhecimento do que se propõe verificam divergências, assimetrias, entraves, entre outros, que não serão sanados colhendo proposições ou opiniões isoladas de cidadãos através de um formulário eletrônico denominado “consulta pública“!
As propostas emanadas do MCTI/CGEE carecem de um diagnóstico bem elaborado sobre a situação da ciência e tecnologia no Brasil e as tendências mundiais. O MCTI sequer utilizou sua área de indicadores e estatísticas para verificar o que se avançou ou quais foram/são os “gargalos” do desenvolvimento, científico e tecnológico. Não há um balanço atualizado sobre o que se avançou e foi realizado com a atual “Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia – ENCTI” aprovada em 2016 e em vigência até o final deste ano. Não há como fazer um bom planejamento, construir políticas públicas sem que se tenha amplos, democráticos e embasados debates com todos os atores envolvidos e com base em estudos sérios e bem fundamentados.
Também se pode fazer considerações similares para os processos que vem ocorrendo no CNPq. No último semestre de um mandato iniciado em abril de 2020, o presidente do CNPq resolve iniciar um planejamento estratégico para o CNPq, que já possui um planejamento com vigência até o ano de 2023. E, como o MCTI com a elaboração da Política Nacional de CT&I, não apresenta estudos e diagnósticos do que foi obtido no planejamento vigente, e quais as dificuldades e gargalos que se vem enfrentando. Ao mesmo tempo que dá início ao planejamento estratégico que pretende traçar a missão, os objetivos e projetos para o órgão para os próximos 10 anos, tem início a elaboração de uma proposta de reformulação da estrutura e do regimento interno do CNPq. A lógica e as boas práticas em planejamento indicariam que seria correto e prudente primeiro fazer o planejamento estratégico e, a luz deste, pensar qual a melhor estrutura pra que o órgão possa cumprir sua missão e atingir os objetivos e metas previstos no planejamento. Além deste aspecto, cabe salientar que as representações dos servidores da casa, por diversas vezes, se manifestaram sobre os processos contarem com reduzida participação dos servidores e por estarem sendo feitos “a toque de caixa“, sem estudos e reflexões necessárias a tão importantes mudanças.
Não bastasse tudo isto, o CNPq, com a liberação (ainda que parcial) dos recursos do FNDCT, terá que executar cerca de 70 novos editais até o final do ano, o que demandará um grande esforço da direção e de seu já reduzido corpo de servidores, impedindo efetivamente sua participação nos processos que podem mudar substancialmente o CNPq a partir do próximo ano.
O SindGCT, como representante da carreira de gestão em ciência e tecnologia, representante de agentes de estado, defende a necessidade de uma Política de Estado para a ciência e tecnologia, defende o fortalecimento e aperfeiçoamento constantes do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e de suas instituições. O SindGCT defende que a Política de Estado para a CT&I deva ser construída através de amplos debates, de conferências estaduais, regionais e nacional, que envolvam todos os atores e usuários do sistema e não nos parece adequados os processos que vem sendo realizados no âmbito do MCTI e do CNPq.
Mais uma vez, reiteramos nosso posicionamento expresso na audiência pública do Senado: não é hora nem momento para isto!
Cesar Cientista#FreeAssange
@CesarDomity
Recursos com pesquisa foram a quase 14 bilhões com a Dilma do PT. Sua retirada de forma ilegítima iniciou uma onda de destruição no investimento público. Em 3 anos o recurso foi reduzido à metade e com Marcos Pontes a situação se agravou ainda mais.
Tá legal, Eu aceito o argumento, Mas não me altere o samba tanto assim, Olha que a rapaziada está sentindo a falta De um cavaco, de um pandeiro Ou de um tamborim.
Sem preconceito Ou mania de passado Sem querer ficar do lado De quem não quer navegar Faça como um velho marinheiro Que durante o nevoeiro Leva o barco devagar.
Eis a música que explica o que vou dizer. Chama-se Argumento, de Paulinho da Viola.
O assunto é pop. Jornalistas e jornaleiros amam pessoas da área jurídica que "explicam! o Direito em forma de platitudes.
Um retranca necessária: admito que coisas como TikTok podem ser úteis e podem até ser engraçadas. Afinal, facilita a comunicação. Porém, a pergunta — irônica e sarcástica — é: a ciência (ou uma área do conhecimento como o Direito) é “coisa” engraçada para ser "mostrada" em 30 segundos (ou algo assim)? Bom, não vou me meter com as demais áreas. Mas do modo como é ensinado e aplicado em um país desigual como o nosso, não creio que o Direito tenha algo de engraçado. Alguém admitiria (a pergunta é retórica!) pandeguices e galhofas sobre temas como: "Ah, aí o sujeito ficou preso 11 anos preventivamente..." Outra: o cara foi condenado por reconhecimento fotográfico e depois absolvido...; desembargador critica Rede Globo por enaltecer homossexuais e absolve juiz; ou: daí os embargos foram rejeitadas em cinco palavras; e que tal fazer um TikTok "engraçadíssimo" sobre a diferença entre roubo e latrocínio... E tem uma melhor: aí a promotora disse "esses advogados são bosta"... Convenhamos, não acho engraçado. Você acha?
Dito, sigo.
A Folha de S.Paulopublicou reportagem com o título "Advogados ganham projeção nas redes com anti-juridiquês”. Virou clichê falar em "anti-juridiquês". Cool. Minha pergunta: seriam advogados ou coaches (seja lá o que for isso)? O que é "projeção nas redes"? Bom, considerando o grau de "inteligência" das e nas redes, já é fácil de entender o grau de simplificação do "anti-juridiquês". Viva a pós-modernidade (atenção Migalhas — aqui tem uma dica para um título de matéria).
Um professor explicou-justificou o fenômeno: "os advogados viemos de uma cultura muito rígida". Minha pergunta: cultura rígida? De onde ele tirou isso? Para mim, isso que está aí já é o próprio anti-juridiquês. Quando alguém fala em "verdade real" é o anti-juridiquês na veia, se me permitem o sarcasmo. Cursos de "lei seca" seriam o quê? E ensinar Kelsen (ou nem saber quem foi) no modo como ensinam é "algo rígido"?
Vejamos. Uma advogada que tem canal tipo TikTok diz que com "termos rebuscados" (sic) ninguém entende o Direito. O que seriam esses "termos rebuscados"?
Vejamos. Uma coisa é o Direito em sua complexidade, que não deve ser confundido com a forma de comunicar para quem não é da área. Isso ocorre em todos os ramos da ciência/conhecimento.
Aqui está o busílis. O problema dos tiktokers é quererem simplificar o Direito para os próprios lidadores jurídicos. Aí não dá. Tiktokear para a população é uma coisa. Mas ter como clientela gente formada em Direito? Youston, Youston...
Ademais, não se deve confundir o Direito com a linguagem empolada de alguns datas vênias, javanezices e verborragias. Alguém reclama da complexidade da obra de Hegel? Da filosofia em geral? E a física? A química? Isso "justifica" ensinar as fórmulas da química por TikTok? Uma coisa é a química. Outra é alguém querer vender esse peixe pela mídia.
Lendo a reportagem da Folha, tem-se a impressão de que o Direito é um conhecimento sem importância. Sim. Direito? "Ora, qualquer um pode ensinar e aprender"... "Faça você mesmo." Algo como "monte um programa de culinária na sua cozinha". "Produza conteúdo." Daí exsurge uma pergunta muito séria: os justiktokers não se dão conta que estão diminuindo a importância do objeto? Dando um tiro no pé?
Tudo isso tem a mesma holding. Começou com livros "tipo manualzinho". De há muito chove na serra. Denuncio esse fenômeno há décadas. Produzem simplificações, resumos, resuminhos e quejandices para tornar mais acessível o conhecimento técnico...
Afinal, por qual razão existem tantos livros e lives do tipo "direito sem as partes complicadas"?
Ora, parece que há uma trucagem nisso tudo. O não dito. Simplificar o quê? Eis a pergunta de um milhão de laiques: " - As pessoas que querem simplificar o Direito saberiam o que é a complexidade do Direito?" Ora, olhando o currículo dos tiktokers (aqui entendidos como os adeptos desse "novo" modo de simplificar), nada encontramos, nem técnica, nem teoreticamente sofisticado. Logo, se não conhecem o complicado, como querem ensinar o descomplicado?
Mais. Com esse nível de ensino jurídico e literatura usados em sala de aula, por qual razão os simplificadores querem facilitar o que já é simples ou simplório? São eles mesmos reféns.
Esquecem que o ensino estandartizado (que se reflete nos concursos e nas práticas cotidianas do sistema de justiça) produz "isso que está aí". Gente formada em Direito tem dificuldade até em dizer palavras mais sofisticadas. Que dirá entender seu significado...
Em vez de encarar de frente essa crise, os próprios meios de comunicação (como a Folha de S.Paulo) noticiam o fenômeno sem qualquer juízo crítico. Noticiam como se fossem empiristas descrevendo fenômenos da natureza...
Não contentes com isso, agora inventaram a pólvora: reciclar esse lixo todo e vender em boutique.
Reconheço que isso tudo deve ser um bom negócio. Não lhes retiro a legitimidade. Mas daí a pretenderem dizer que há um avanço "tecnológico" (ou ganho técnico ou "eis a inovação"!) na área jurídica vai uma distância enorme. Botar "a culpa" no juridiquês (qual?) para o substituir por simplificações rasteiras?
Se há um imenso público ávido por platitudes, sensaborias e lugares comuns que imitam almanaques de farmácia, isso não quer dizer que essa prática não deva — e não possa — ser criticada. E não se diga que isso é "popular e democrático".
E isso não quer dizer também que qualquer crítica ao fenômeno da simplificação seja uma forma de elitismo ou reserva de mercado jurídico.
Ao contrário. "Plantas que curam" (há muitos livros assim — pretendem salvar o mundo da medicina) não tem qualquer critério de comprovação cientifica. E quando têm, as propriedades curativas não são "explicadinhas" em livros para qualquer um sair fazendo chás e morrer de intoxicação, se entendem a alegoria.
Pergunto: em nome da venda de facilitações, quantos direitos são vitimados diariamente por advogados malformados e que acham que dá para aprender Direito com pílulas de sabedoria? Ou de juízes que dizem que jamais citam doutrina?
Parece que estamos na fase da automedicação jurídica. Não seria melhor ler a bula? Isto é, estamos falando de coisa séria aqui. Dos direitos das pessoas. Da própria democracia (sim, existe gente formada em direito que odeia a Constituição — leva só dois minutos para constatar).
Não é brincadeira. Exigir estudo de quem vai "operar" com isso — ah, os operadores — não é elitismo.
Levemos o Direito a sério. Há um ônus para quem acha que tudo pode ser comunicado de forma simplória, conspurcando até mesmo o trabalho de professores — sim, essa classe ainda existe — que se dedicam às pesquisas desse complexo fenômeno que é o Direito.
Portanto, não se venha dizer que dá para explicar um fenômeno complexo com emojis, musiquinhas, paródias e sinal de polegar para cima. Sobretudo quando o ensino, sem emojis e TikTok, já é capenga de há muito.
Direito é mais complexo que os adeptos dessas "novas tecnologias" pensam. Os tiktokers querem tirar a intermediação. Querem fazer isomorfia, imitando o repórter da Globo quem, para falar da enchente, fica com água na cintura. Simplificações como "no furto, coisa alheia móvel é aquilo que não pertence a alguém"; "escalada é subir em alguma coisa"; "agressão atual é aquela que está acontecendo; iminente é a que está por acontecer", "reclamação é reclamar", etc.
Há coisas intrigantes na matéria da Folha, como a dita por uma jus-youtuber: "um advogado em inicio de carreira, que não tem clientes e nem escritório, mas tem celular, pode produzir conteúdo". Pergunto: qual conteúdo? Se não tem clientes, nem escritório, vai ensinar algo?
Moral da história: querem descomplicar o que já não era complicado porque há anos as faculdades de direito se esforçam para simplificar. É disso que temos de falar. Precisamos falar sobre o ensino jurídico. Ali está o paciente zero da pandemia jurídica. Não dá para usar cloroquina jurídica. Na pandemia do Covid, a cloroquina foi o TikTok da medicina.
Direito é a instituição que devia ser? A dogmática jurídica explica conceitos ou cria próteses para fantasmas para depois, e essa é a novidade, vender a descomplicação dessas próteses "nas redes" para ganhar "projeção"? Explicando o que foi criado justamente do nada. "Princípio Navah" — dar existência a coisas que não existem.
Será mesmo que não podemos mais do que isso? Antes de "descomplicar", antes de fazer vídeo engraçado e visual law e quejandos, não seria mais interessante tentar melhorar o ensino jurídico nesse país?
Formemos advogados e defensores e procuradores e juízes que saibam levar o Direito a sério. Não precisaria de TikTok.
Mas aí é que está o ponto: é bom que se precise de TikTok. Porque aí há sempre um coach esperto para ensinar a ficar rico. Produzir "conteúdo"... sem conteúdo.
Vejam, eu até acho que haveria espaço para a urbanização do Direito, para a tradução do complexo em termos mais acessíveis. É possível. O ponto é que o ensino, na base, já é frágil. Contentamo-nos com reciclagem? Somos catadores?
Para o TikTok-descomplicado-simplificado-desenhado ser útil de verdade, seria preciso que houvesse de fato uma substância complexa e sofisticada a ser explicada para o público. Mas as faculdades (já) não se preocupam (mais) em transmitir essa substância. Entre informação e conhecimento, optaram por um simulacro de informação de terceiro nível.
Como diz Hugo Mercier, Not born yesterday, título que dá a dimensão do cerne do livro. Acreditar nisso tudo é reflexivo ou intuitivo? Alguém vai testar o "conhecimento TikTok"? Perguntemos a quem acredita que Newton era um farsante se ele vai testar a sua crença, pulando de um prédio...
Quando vejo reportagens acríticas sobre esse tipo de matéria, lembro de Machado de Assis e seu conto Teoria do Medalhão. O filho completa 21 anos e seu pai lhe dá um conjunto de conselhos. Um pai tiktoker. Machado era visionário.
Se Janjão (esse o nome do filho) seguir as dicas, poderá ser um "medalhão", diz o pai. Poderá ser o chutador de ideias, o palpiteiro jurídico, o adepto do direito facilitado, o néscio, o reacionário, o analfabeto funcional e o cara que pede intervenção militar (o que dá tudo no mesmo).
Pensem no Janjão como o estudante de direito alienado, que não lê nada; no internauta que faz raciocínios mais rasos do que os calcanhares de uma formiga anã; no sujeito que não entende o que é uma ironia; no "jurista" médio do Brasil; no sujeito que não consegue ler este texto até o final, porque não tem capacidade de concentração. E pensem no pai de Janjão como o jus coach. Vejam o fecho de ouro:
- Tu, meu filho, se me não engano, pareces dotado da perfeita inópia mental, conveniente ao uso deste nobre ofício. Você pode ser um medalhão completo, Janjão! Você vencerá!
- Meia-noite, papai.
- Meia-noite? Entras nos teus vinte e um anos, meu peralta; estás definitivamente maior. Vamos dormir, que é tarde. Rumina bem o que te disse, meu filho. Guardadas as proporções, a conversa desta noite vale o príncipe de Machiavelli.
O texto foi longo. Deliberadamente. Para ver quem lê textos acima de 20 linhas.
Bom dia aos meus leitores.
Reitero Paulinho da Viola: eu aceito o argumento...desde que não alterem....!
Nunca na história desse país houve tantos brasileiros morando no exterior. Segundo dados do Itamaraty divulgados em setembro do ano passado, o número de expatriados cresceu 35% entre 2010 e 2020, passando de 3,1 milhões para 4,2 milhões. A Sputnik explica por que isso preocupa tanto as principais associações científicas do país.
Embora seja uma população variada em busca de condições de vida melhores, o que mais preocupa os especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil é a fuga de cérebros.
Estimativas do professor Eduardo Picanço Cruz, da Universidade Federal Fluminense, apontam que51% dos brasileirosque moram na Alemanha, por exemplo,têm ao menos uma graduação; na França,o percentual de residentes brasileiros graduados chega a 76%.
Bolsas congeladas
A perda de um contingente extremamente qualificado de pessoas está relacionada também aobaixo investimento em educação. O cenário se agravou com a economia em dificuldades, o que levou muitos estudantes e especialistas a trabalhar e pesquisar em outros países.
Um dos reflexos mais nítidos dessa situação diz respeitoàs bolsas de mestrado e doutorado que estão congeladas há quase dez anos. Para recuperarem o poder aquisitivo de 2013,seria necessário um reajustede 66% nos valores — algo que, ante as políticas educacionais do governo de Jair Bolsonaro (PL),não está previsto para ocorrer a curto ou médio prazo.
A vontade de trabalhar no exteriorcresceu nas classes mais abastadas. Um levantamento da consultoria Hayman-Woodward, especializada em mobilidade global, aponta que, de março a agosto de 2021,houve um aumento de 62% de brasileiros de classe AB com nível superiorindo para os Estados Unidos. Umaevasão de mão de obra ultraespecializada de brasileiros, segundodisseLeonardo Freitas, CEO da consultoria, ao jornal Valor Econômico.
Impacto da fuga de cérebros
Mas qual é a dimensão dessadiáspora de brasileiros altamente qualificados mundo afora?
Em conversa com a Sputnik Brasil,Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educaçãoe atual presidente daSociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), aponta umacomplexa cadeia de desdobramentosquando profissionais altamente qualificados deixam o país em busca decondições melhores de trabalho e de vida.
O impacto é significativo. Porque junto com a fuga de cérebros vem a perda de muitos equipamentos que a gente tem. Por exemplo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que fica no Vale do Paraíba. O INPE tem 70% dos seus pesquisadores com direito à aposentadoria. Não se aposentam porque querem continuar a trabalhar, mas se o fizerem, praticamente fecha o INPE. Lá há um setor de lançamento de foguetes, que está praticamente parado. Está praticamente sem gente, então você passa a uma série de problemas que não são só o da fuga de cérebros", avaliou ele.
Ao mesmo tempo, Ribeiro acrescenta que asuniversidades acabam ficando ociosas, com muitas vagas.
"Os professores que se aposentam não estão sendo substituídos, ou a pessoa não se aposenta para não deixar a área dela descoberta. Então você tem a formação de gente muito nova, qualificada, mas essas pessoas formadasnão estão tendo espaço para render tudo o que elas aprenderam, o que elas estudaram, o que elas pesquisaram.Esse é o grande problema", aponta o ex-ministro.
E, na hora em que o estudioso deve retribuir todo esse conhecimento adquirido para a sociedade,o governo impõe um corte de verbas.
Em seguida, você tem a falta de recursos para contratar pessoas, falta de recursos para equipamentos, falta de recursos para ampliar o sistema universitário brasileiro, e isso fica muito claro quando o ministro Paulo Guedes reclama que estão se formando engenheiros demais no Brasil. E diz: 'engenheiro andando no Uber é sinal que tem engenheiro demais'. Ele está totalmente errado, porque não é que tem engenheiro demais. É que a economia está fraca. Se a economia estivesse boa, a economia estaria colocando todo esse pessoal que se forma no mercado de trabalho. Porque cada vez que você tem um avanço econômico no Brasil, você sente falta de mão de obra qualificada. Aconteceu várias vezes e vai voltar a acontecer se continuarem as coisas assim", criticou o presidente da SBPC.
Mas a fuga de cérebros tem um aspecto particularmente negativo, de acordo com ele, porquefoi o Brasil que formou essas pessoas.
O Brasil financiou muito da formação — mesmo quando eles fizeram faculdades particulares porque a Capes financia alunos até mesmo em faculdades privadas. O Brasil colocou dinheiro na formação dessas pessoas, que são dadas de presente para estrangeiros. A gente passa pessoas que vieram daqui, que têm todo um conhecimento, uma formação aqui e que nós estamos cedendo essas pessoas", lamentou.
"Estamos perdendo jovens extremamente talentosos que foram formados aqui no Brasil e, portanto, com recursos do país que estão saindo. E rumando para os Estados Unidos, para o Canadá, países da Europa, Austrália e até os Emirados Árabes. Há cérebros brasileiros em vários países do mundo. Esse pessoal era o pessoal que poderia contribuir. Por exemplo, para a inovação disruptiva no Brasil, que é uma necessidade urgente que nós temos. Temos uma inovação incipiente", analisou.
Investimento em ciência influencia na economia
Para ilustrar a questão que une a ciência à economia, Ribeiro citaas principais fabricantes de produtos de beleza nacionais.
O Brasil tem uma biodiversidade absurda, e nós precisamos de cientistas para verem as nossas plantas, a nossa biologia, e ver quantas riquezas podem ser dadas a partir disso. As mais charmosas fábricas de cosméticos do Brasil, que são o Boticário e a Natura e a L’Occitane, as três fazem muito produto com plantas da nossa flora. Então a possibilidade de expansão nisso é muito grande. Uma parte disso, inclusive, é exportada. É preciso investir nisso tudo. Não apenas ter dinheiro, mas saber como aplicar esse dinheiro", avaliou.
Davidovich, presidente da ABC, diz que háeventos que foram muito importantes, realizados graças a pessoas formadas no Brasil.
O petróleo do Pré-Sal, que até pouco tempo atrás era considerado inviável e muito caro, hoje representa mais que 50% do petróleo extraído no Brasil. Empresas com protagonismo internacional, por exemplo, na área de compressores, na área de equipamentos elétricos, na área de cosméticos se desenvolveram muito graças à interação com laboratórios de universidades — especialmente, de universidades públicas do Brasil. E esses laboratórios precisam de estudantes. Os estudantes de pós-graduação e também os pós-doutores e os jovens pesquisadores são elementos fundamentais para o funcionamento desses laboratórios. Quando um jovem pesquisador sai do país, é um laboratório que perde uma pessoa preciosa. Mais ainda: está havendo um desestímulo a estudantes para seguirem a carreira de pesquisa. Por exemplo, vários programas de doutorado, inclusive, estão com dificuldade de atrair estudantes", exemplificou.
O presidente da ABC reivindica umameta de 2% do PIB brasileiro, de R$ 8,7 tri em 2021, voltada para pesquisa e desenvolvimento.
E 2% ainda é menos do que é dedicado aos EUA, à Coreia do Sul, à Europa, em Israel. A China está querendo chegar a 2,5% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, e o Brasil está em torno de 1%. Certamente, é preciso um entendimento na agenda econômica de que ciência e tecnologia são prioritárias. A fuga de cérebros é composta de jovens que poderiam fazer a diferença nas universidades, nas empresas, ajudando a sociedade brasileira e ajudando, também, a balança comercial do Brasil, agregando valor a essa balança comercial", finalizou.
Ao entrar no último ano de seu mandato rodeado por generais e após ter indicado militares de várias armas e patentes para exercer seis mil cargos de servidores civis na administração pública, inclusive permitindo-lhes acumular salários e ganhar acima do teto constitucional, o governo Bolsonaro suscita análises e principalmente, indagações. Uma das perguntas obrigatórias que será levantada na campanha eleitoral envolve justamente as Forças Armadas.
Diante da mediocridade desse governo, que desprezou a Constituição, afrontou o Judiciário, destroçou o ensino público, negou o conhecimento científico, comprou o apoio de fardados concedendo-lhes vantagens previdenciárias e sobrepôs o grupo familiar ao sistema partidário, as corporações militares terão hoje uma imagem melhor do que a que tinham antes de 2019, quando se limitavam a exercer suas atribuições funcionais específicas nas áreas de defesa e segurança nacional? Dois fatos históricos fundamentam essa indagação.
O primeiro foi a gestão da ditadura militar, não só no campo econômico, mas, também, no plano institucional. A economia foi marcada pelo delírio da transformação do Brasil numa grande potência e pelo fracasso do 2º Plano Nacional de Desenvolvimento. Formulado na gestão do general Geisel (1974-1979), esse plano enfatizava a substituição do setor automotivo pelo setor petroquímico como base do desenvolvimento, mantendo o petróleo como matriz energética e subestimando a escalada de preços então promovida pela Opep. Em termos institucionais, proliferaram denúncias de assassinatos e desaparecimentos, casos comprovados de prisões e torturas, cassações de mandatos e o desprezo pelas garantias públicas. Por isso, ao término dos vinte anos de ditadura, a imagem das Forças Armadas estava no chão – maculada e desacreditada.
O segundo fato está relacionado ao período que se seguiu com a redemocratização. Ele foi marcado pela promulgação de uma nova Constituição, pelo equilíbrio institucional e pela estabilidade política, o que levou governos democráticos a apresentarem bons resultados em matéria de estabilização monetária, reformas estruturais e crescimento, especialmente após a segunda metade da década de 1990. Do ponto de vista externo, isso fez com que o Brasil passasse a gozar de prestígio e influência nos organismos internacionais – uma conquista exponenciada pela capacidade de formulação diplomática do Itamaraty a partir da ênfase ao desenvolvimento como fonte de poder na ordem mundial, da estreita vinculação da política externa às aspirações nacionais e da adequada projeção dos interesses brasileiros no plano externo.
Desse modo, se a imagem das Forças Armadas esteve no chão nos tempos da ditadura, a partir do retorno à democracia ela melhorou graças ao seu retorno aos quartéis. Essa melhoria também foi favorecida pelo fato de que, como o país está fora de áreas de tensão e ameaça de conflitos no mundo, ele não apenas não dispõe de armas nucleares como, igualmente, deixou até mesmo de ser uma potência militar convencional, tornando-se incapaz de projetar poder para além de suas fronteiras.
Sem ohard powerda força bélica, para participar das grandes decisões internacionais o Brasil teve, independentemente das diferenças de orientação dos governos do PSDB e do PT no campo da política externa, de recorrer aosoft power. Ou seja, a um poder de negociação e persuasão capaz de influenciar o comportamento e os interesses de outros corpos políticos por meio de fatores que vão do tamanho do seu território e sua população à extensão de seu mercado interno, passando pela sua força industrial, pela competência de seu sistema de desenvolvimento científico-tecnológico e por atributos intangíveis, como o prestígio de sua intelectualidade e o grau de respeito a determinados valores culturais.
A ascensão de Bolsonaro em 2018 trouxe novamente as Forças Armadas para o centro do poder – e, com tal intensidade, que levou a uma situação paradoxal, pois a expansão dos militares na burocracia do Executivo transbordou para outros Poderes. Eles passaram a contratar generais reformados para manter a autoridade institucional frente às ameaças presidenciais. O primeiro general que chefiou o Ministério da Defesa neste governo, por exemplo, foi contratado como diretor-geral do TSE, após Bolsonaro – que é candidato à reeleição – ter tentado desqualificar a corte e afrontado seu presidente.
Além disso, se entre 1964 e 1985 as Forças Armadas é que efetivamente mandaram, agora têm de se submeter a um tenente reformado como capitão que foi afastado do Exército por ser irresponsável e disfuncional. Em seus delírios de onipotência, o presidente converteu as Forças Armadas, ou parte delas, em braço auxiliar de um processo corrosão da ordem constitucional e da democracia. Basta ver as críticas que os generais do Planalto aos ministros do STF, acusando-os de “esticar a corda” só por declarar a inconstitucionalidade de atos do governo. Basta ver os discursos desses generais ao invocarem um hipotético “poder moderador” das Forças Armadas, esquecendo-se de que, quando elas ingressam na arena política com a pretensão de arbitrá-la, as lutas ideológicas se transpõem para os quartéis, rompendo os princípios da hierarquia e da obediência de uma instituição verticalizada. Basta ver, também, a atuação desses generais nas tentativas de neutralização dos órgãos de controle institucional, o desfile de blindados sucateados da Marinha em frente ao Palácio, em agosto de 2021 e as bobagens ditas em matéria de questões ambientais e proteção da Amazônia.
Esse tipo de atuação corrói a respeitabilidade das Forças Armadas. A maior mácula é a contradição entre os valores das corporações militares, que sempre enfatizaram a importância da ciência como instrumento de desenvolvimento, com o atual desprezo do governo pelo ensino público, com a asfixia financeira das agências de fomento à pesquisa e com o desmanche de institutos científicos. Os militares a serviço desse governo se esquecem de que, na economia, a negação de recursos à ciência acarreta perda de competitividade do país em um momento em que as disputas em um comércio globalizado se acirram. No campo político, o menosprezo pela produção do conhecimento dificulta a formação de uma política científica capaz de subsidiar um projeto de futuro para o país. No plano internacional, decisões como essas corroem o soft power do Brasil, tornando-o figurante na geopolítica mundial.
Se, entre 1945 e 1960 o desenvolvimento científico foi associado ao apoio das corporações militares à pesquisa em áreas estratégicas, como energia e informática, hoje o país paga o preço por ter um presidente incapaz de compreender que ciência é desenvolvimento e progresso. Ésoft powere, também,smart power. Por isso, como 40% de seu ministério é integrado por militares, dos quais um quase destruiu a saúde pública em meio a uma pandemia que já resultou em 620 mil mortos, a questão sobre a atuação recente das Forças Armadas não pode ser deixada de lado na campanha eleitoral. O que os candidatos de oposição têm a dizer sobre a reversão da militarização da máquina governamental no âmbito de um regime democrático cuja Constituição prevê o controle civil das Forças Armadas? Como pretendem proceder caso, no ambiente iliberal que será herdado de Bolsonaro, os militares não aceitem perder o sobrepeso político que obtiveram?
Tomar a vacina foi o momento coletivo mais esperado de 2021! Por conta dele, a vacina não chegou no braço da maioria dos brasileiros e brasileiras.
Natália Bonavides no Twitter
Natália Bonavides
A gente tb, Henfil! Hoje, são 34 anos de saudades! #HenfilPresente
Hj perdemos a advogada Eny Moreira, militante dos direitos humanos que defendeu presos políticos do regime militar. Entre eles, a jovem Aurora do Nascimento, torturada e morta aos 26 anos. No vídeo, Eny relata emocionada como encontrou o corpo de Aurora.
Nosso mandato trabalha pra garantir direitos à classe trabalhadora. Queremos assegurar condições dignas de trabalho, moradia, educação e qualidade de vida. Em tempos tão difíceis, não podíamos deixar de apresentar a maior quantidade possível de propostas p/ proteger a população.
Os principais exemplos são a prorrogação da Lei Aldir Blanc, de incentivo a cultura, aprovação do Vale Gás, c/ desconto de 50% no preço do gás de cozinha p/ famílias de baixa renda e o Despejo Zero, q impede despejos em plena pandemia. Em 2022, nosso trabalho continua! Tamo junto!
Obrigada a todo mundo que chegou junto nas lutas deste ano. Em 2022 seguiremos lado a lado, defendendo as coisas mais belas, a ciência e a saúde, a classe trabalhadora, os sonhos, a comida no prato do povo e a democracia! Simbora fazer o Brasil Feliz de Novo!
Bia Kicis e Beatrix von Storch líder nazista alemã
Não se admite que ocupe a presidência da CCJ uma figura tão minúscula, alguém que comete tantas infrações no exercício do cargo
por Gilvandro Filho
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Que o governo de Jair Bolsonaro é um ajuntamento de tudo o que não vingaria em um governo minimamente decente e operoso, isto não é novidade para ninguém. Surpresa mesmo seria – vivêssemos em um país sério - ele ainda se manter de pé, armando falcatruas, destruindo a Natureza, com o desemprego e a inflação nas nuvens, enxovalhando o nome do Brasil lá fora, perpetrando as situações mais esdrúxulas em nome de uma ideologia banal e criminosa.
O nível da equipe é constrangedor, para dizer o mínimo. O que justificaria, na cabeça de qualquer observador intelectualmente honesto, a presença de um Marcelo Queiroga no Ministério da Saúde, ou de um Milton Ribeiro na pasta da Educação? Isto, para ficar apenas nessas duas áreas, hoje a cara do presidente da República e da sua ruinosa política de negacionismo da ciência e do conhecimento, celeiros da ignorância e do preconceito deslavados.
Nos cargos que representam o governo no Legislativo, a coisa degringola de vez. As lideranças no Senado e na Câmara dos Deputados são deprimentes. Agora, como explicar, sem apelar para a galhofa, a presença de um figura como Bia Kicis na presidência de uma comissão crucial para os rumos do país como é a Comissão de Constituição e Justiça? Nessa comissão, não precisa repetir, filtram-se as matérias a serem apreciadas no Plenário e se define suas validações aos olhos da Lei Maior. Não tem como.
Não se admite que ocupe a presidência da CCJ uma figura tão minúscula, alguém que comete tantas infrações no exercício do cargo. A última é inaceitável. Vazar dados pessoais de médicos pró-vacina em plena audiência pública, por si só, já seria motivo suficiente para que ela fosse expelida do cargo e passasse a responder processo por falta de decoro parlamentar. Por causa de ação tão insana e irresponsável, três profissionais de referência da área médica tiveram suas cabeças entregues às quadrilhas terroristas que auxiliam o governo federal na disseminação de fake news e ameaças.
A presença de Bia Kicis na CCJ é a mais perfeita tradução do que é o governo Bolsonaro no campo da civilidade e do decoro. Ambos se valem, se velam e se merecem.
O Horto Florestal, na zona norte da metrópole, criado em 1896, por decreto, no governo de Bernardino de Campos, por iniciativa do botânico sueco da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, Albert Löfgren, me revelou que a política e a ciência, encontro de gente com clareza no pensamento, produz suas pérolas, um legado para gente futura.
Mais de um século após, num parque estadual deserto, livre, fiz meu ritual para o ano que se inicia, escrevi nas águas da lagoa e da chuva, um FORA BOLSONARO, às aves e peixes entreguei o desejo de um mundo pleno para aqueles que virão.
O que há de novo nas árvores, seres tão velhos que encontro por aí? Ou numa lagoa, em um rio, o que nos faz pensar as águas?
Como um rio ou árvore aprendi a entender o tempo, alegorias boas para essas dimensões em que vivemos mergulhado.2@22anuncia-se assim, espaço e tempo, um período determinado onde as águas se juntam, dividem margens, leito comum num tempo que escorre, percorre, avoluma-se num leito entre floresta. Selvagens, vivas, arcaicas, as imagens dos anos recentes denunciam delírios na barbárie, mais que o moderno, moderna guerra de redes.
Tudo tão rápido, mas nessa passagem me deparo com um ciclo que se conclui, tanta chuva assim após as queimadas imensas.
De 2015, recordo, entre artistas amordaçados, acordamos todos em 2022. Despertos estamos, mais espertos, incrédulos habitantes, após Mariana, Brumadinho, as cinzas e a pandemia .
Parece ontem, mas 7 anos decorridos, tão emocionante, ricas, anunciam-se as nuvens, céus e seus turbilhões.
Segundo relatos na internet, a placa do único servidor que abriga a Plataforma Lattes queimou no sábado 24 de julho. MCTI não informa quando e se voltará ao ar e ninguém sabe se e quanta informação de todos os pesquisadores em atividade no País foi perdida
Quantos pesquisadores estão em atividade hoje no Brasil? Como as pesquisas se dividem por estados e regiões? Quantos são homens? Quantas mulheres? Quantos negros? Quantos pesquisam em nível de graduação? Quantos são doutores e doutoras? Quais são os Grupos de Pesquisa? Que tipos de projetos estão sendo realizados? Há convênios internacionais? Pesquisadores e pesquisadoras do país estão atuando em quais universidades? Todas essas questões e muitas outras estão, ou melhor ESTAVAM, disponíveis nos sistemas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, subordinado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI.
Desde sábado 24 de julho, devido a um problema ainda não oficialmente esclarecido pelo MCTI, todos os sistemas de informática do CNPq estão indisponíveis, incluindo a Plataforma Carlos Chagas (que controla as bolsas de pesquisa da instituição) e a Plataforma Lattes (de registro das atividades de pesquisa superior no Brasil como o Currículo Lattes, o Diretório de Grupos de Pesquisa, o Diretório de Instituições e Extrator Lattes). Com mais de 70 anos de atividade, o CNPq lançou em 1999 um dos principais sistemas públicos e gratuitos de registro de atividades de pesquisa do planeta, a Plataforma Lattes, exportado para vários países como Chile, Argentina e Portugal. Mas os investimentos em Ciência e Tecnologia, que já estavam caindo no começo do segundo mandato de Dilma Roussef, despencaram desde o Golpe de 2016 e estão sofrendo cortes históricos no governo negacionista e anticiência de Bolsonaro.
Em áudio amplamente difundido pelas redes sociais e grupos acadêmicos, uma servidora não identificada do CNPq explica que houve a queima da placa do único servidor do CNPq e não há como prever a quantidade de informações perdidas. Podem ser de alguns minutos, dias… Ao que parece, o último backup completo dos sistemas do CNPq foi realizado em 2018, antes portanto do astronautavendedor de travesseiros falsificados da NASAassumir o MCTI. Muitos pesquisadores na pós-graduação lembram, ainda, que este ano a Coleta Capes, que afere a produtividade acadêmica e dá nota aos programas de mestrado e doutorado, incluiu pela primeira vez a exigência de preenchimento do Google Acadêmico, transferindo aos professores a tarefa de alimentar gratuitamente com suas informações pessoais e profissionais um sistema privado transnacional sem qualquer controle da comunidade acadêmica.
O fato é que o apagão do CNPq reflete exemplarmente o desmonte de todas as instituições públicas do Brasil feito por um governo de destruição nacional e entrega do patrimônio brasileiro (sejam terras, empresas ou mentes) a qualquer preço. É a política de terra arrasada. Salve-se quem puder! Se isso está sendo feito no melhor programa de imunização do mundo bem no meio da maior pandemia em um século, ao custo de mais de 550 mil vidas e milhões de órfãos e sequelados, imagine então com algo tão vilipendiado por bolsonaristas como a pesquisa e as universidades? [Transcrevi trechos]
Donald Trump, o brasileiro Jair Bolsonaro e outros com jeitinho de ditador perderem em 2021
por Guadêncio Torquato
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Um desafio e tanto analisar o Brasil sob a égide do ano que chega ao fim. Mas ao analista político sobram hipóteses: um ano de muito sofrimento; um ano de perdas; um ano que ainda vai continuar; um ano de mentiras mirabolantes; um ano de governo enviesado, para alguns; um ano de desgoverno, para outros; um ano de governo sem rumo; um ano de retrocesso; um ano de reversão de expectativas; um ano de mortes e luta pela sobrevivência.
Seja qual for o resumo, certamente ele conterá sua dose de verdade. Para não cairmos na onda de opção política, vamos escolher esta visão: um ano de aflições. Todos, de qualquer banda da sociedade, haverão de concordar que 2021 mexeu com um dos quatro instintos que explicam as ações do ser humano, segundo Pavlov: o impulso combativo, ligado à sobrevivência do indivíduo (o outro é o instinto nutritivo) e mais dois ligados à preservação da espécie (sexual e paternal). Contam-se nos dedos os números de pessoas que passaram ao largo da crise sanitária que padecemos.
Usarei os eixos que se apresentam no meu entendimento, na esteira do ensinamento de Hannah Arendt: “Pensar sem corrimão”, sem injunções de natureza ideológica. Dessa forma, começo pelo usual: o ano foi ruim para milhões de pessoas, inclusive este que aqui está, e também valeu para outros milhões (em menor número), o que significa, foi positivo para muitos, inclusive para este escriba.
No nosso interior, espraia-se um sentimento de perda. Algo foi embora. Fugiu. Escorregou de nossas vidas. Pequenas tochas de depressão, ondas de tristeza, um recolhimento forçado pelas circunstâncias. Um coração que deixou de bater no ritmo. Saiu de sua órbita. Uma perda civilizatória. Uma defasagem sem possibilidade de resgatar a parte da vida que se foi.
Milhões estagnaram, perderam empregos e negócios, ou até deram passos para trás, nas ondas da pandemia, do fechar de portas, da limitação de atividades profissionais, exigência que se fez como estratégia para conter o novo vírus. Vidas em atraso. Vidas saindo de um território de certo equilíbrio – até porque sabíamos jogar o jogo do mercado – para adentrar em um espaço nebuloso ou em um terreno pantanoso. Sob essa ótica, houve uma parada na roda civilizatória. Uma sensação de patinação no gelo, porém sem sair do mesmo lugar.
Temos de considerar, porém, o resultado da luta travada contra o coronavírus 19 e seus efeitos na rotina de nossas vidas. Como ensina Lavoisier, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. O fato é que aprendemos, e muito, com a pandemia. A ver a vida com outros olhos. A ter mais cuidados em nossas rotinas. A evitar certas posturas. A prestigiar a ciência. A dar valor aos profissionais da saúde. A trabalhar em condições que não sugiram o afastamento dos nossos postos de trabalho. A usar a criatividade para mostrar resultados e atenuar os danos ocasionados por nossas ausências nos espaços tradicionais do trabalho.
A vida ganhou um largo espaço para repensar posturas e atitudes. Os minutos da vida ganharam mais importância, até parecendo que o sábio Sêneca ganhou o status de nosso conselheiro-mor: “A vida é breve e a arte é longa. Não dispomos de pouco tempo, mas desperdiçamos muito. A vida é longa o bastante e nos foi generosamente concedida para a execução de ações importantes, caso toda ela seja bem aplicada. Porém, quando se dilui no luxo e na preguiça… aquela que não havíamos percebido passar, sentimos que já passou”.
Pensemos nos efeitos destruidores para alguns segmentos. Para as crianças e os jovens, um refluxo grave em suas vidas, eis que o vácuo educacional ultrapassou o tamanho da idade, lançando-os no fim da fila civilizatória. Será complicado retomar o tempo perdido, mesmo para aqueles que contam com ferramentas tecnológicas. Para os servidores da saúde, uma intensa mobilização tomou conta de suas tarefas. Cumpriram sua missão e são vistos por nós como “anjos da guarda”. Portanto, o ano não foi totalmente de perdas. Nossas vidas mudaram. E agora, com a iminência de uma nova onda (quarta, quinta?) da pandemia, com a variante ômicron, a ideia de que o planeta está tumultuando os passos rotineiros de seus habitantes emerge com força.
Alguns atores na passarela mundial perderam: aqueles que vaticinaram (isso mesmo, não confundir com vacinaram) contra as vacinas, incluindo o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, o brasileiro Jair Bolsonaro e outros com jeitinho de ditador. Perderam os grupos fanáticos, os torcedores da pandemia, aqueles que desacreditam nos postulados da ciência, os incréus, os que usam o sabão dos sistemas autoritários para limpar sua pele e sujar a dos outros.
Ganharam com a pandemia as farmacêuticas, que enchem seus cofres, os cientistas – infectologistas, epidemiologistas, estudiosos do fenômeno – os profissionais da saúde, principalmente os grupos de vanguarda e da retaguarda que enfrentam o coronavírus 19, as autoridades governamentais que autorizam(ram) medidas de combate à pandemia, organizações planetárias de enfrentamento à doença.