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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

28
Abr23

O tamanho da China

Talis Andrade
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Afirmar que os EUA são a maior economia do mundo é bom para o ego de quem o faz, mas isso não é mais verdade

 

por Dean Baker /A Terra É Redonda

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É normal que políticos, repórteres e colunistas se refiram aos Estados Unidos como a maior economia do mundo e à China como a segunda maior. Suponho que essa afirmação seja boa para o ego dessas pessoas, mas isso não é mais verdade. Medindo pela paridade do poder de compra, a economia da China superou a dos EUA em 2014 e agora é cerca de 25% maior do que ela.[1] O FMI projeta que a economia da China será quase 40% maior até 2028, o último ano em suas projeções.

 

A mensuração que os apologetas dos Estados Unidos da América do Norte usam comumente é baseada na taxa de câmbio. É assim que se mede o PIB de cada país em sua própria moeda para depois converter essa moeda em dólares na taxa de câmbio atual. Por essa medida, a economia dos EUA ainda é mais de um terço maior do que a economia da China. Ora, essa medida reflete não apenas a produção, mas a força do dólar como dinheiro mundial.

Os economistas geralmente preferem a medida de paridade do poder de compra para a maioria dos propósitos. A medida da taxa de câmbio flutua enormemente, pois as taxas de câmbio podem facilmente mudar 10 ou 15 por cento em um ano. As taxas de câmbio também podem ser um tanto arbitrárias, pois são afetadas pelas decisões dos países de tentar controlar o valor de sua moeda nos mercados monetários internacionais.

Por outro lado, a medida de paridade do poder de compra aplica um conjunto comum de preços a todos os itens que um país produz em um ano. Com efeito, isso significa assumir que um carro, um aparelho de televisão, uma educação universitária etc. custam o mesmo em todos os países. A aplicação de preços comuns é uma tarefa difícil, os bens e serviços variam substancialmente entre os países, o que dificulta a aplicação de um preço único. Como resultado, as medidas de paridade de poder de compra têm claramente muita imprecisão.

No entanto, é claro que esta é a medida que mais interessa para a maioria dos propósitos. Se quisermos saber a quantidade de bens e serviços que um país produz em um ano, precisamos usar o mesmo conjunto de preços. Por essa medida, não há dúvida de que a economia da China é consideravelmente maior do que a economia dos Estados Unidos e, ademais, tem crescido muito mais rapidamente.

Só para esclarecer, isso não significa que os chineses são, em média, mais ricos do que os americanos. A China tem quase quatro vezes a população dos EUA. Portanto, por pessoa, os EUA ainda são mais de três vezes mais ricos que a China. Mas não deve ser um choque saber que um país com mais de 1,4 bilhão de pessoas tenha uma economia maior do que um país com 330 milhões.

Para as pessoas que precisam de mais dados para melhor se convencerem, podemos fazer comparações de vários itens específicos. Podemos começar com a produção de automóveis, uma medida padrão da produção industrial.

No ano passado, a China produziu mais de 27,0 milhões de carros, mas os Estados Unidos produziram um pouco menos de 10,1 milhões. (A China também lidera o mundo de longe na produção e uso de carros elétricos.) Os carros fabricados nos Estados Unidos, sem dúvida, são maiores e talvez melhores em média, mas teriam que ser muito melhores para compensar a diferença apontada.

Para tomar uma medida mais antiquada, a China produziu mais de 1.030 milhões de toneladas métricas de aço em 2021. Os Estados Unidos produziram menos de 90 milhões de toneladas métricas.

A China gerou 8.540.000 gigawatts-hora de eletricidade em 2021, quase o dobro dos 4.380.000 gigawatts-hora gerados nos Estados Unidos. A diferença é ainda maior se olharmos para a produção de energia solar e eólica. A China tem 307.000 megawatts-hora de capacidade solar instalada, em comparação com 97.000 nos Estados Unidos. A China tem 366.000 megawatts-hora de capacidade eólica instalada contra 141.000 nos Estados Unidos.

Podemos olhar para algumas medidas mais modernas. A China tem 1 bilhão de usuários de Internet. Os Estados Unidos têm 311 milhões. A China tem 975 milhões de usuários de smartphones, os Estados Unidos têm 276 milhões. Em 2016, a China formou 4,7 milhões de alunos com diplomas STEM (Science, Tecnology, engineering e mathematics). Nos EUA, o número foi de 330.000 no mesmo ano. As definições para graus STEM não são as mesmas, então os números não são estritamente comparáveis, mas seria difícil argumentar que o número dos EUA é de alguma forma maior. E o número quase certamente mudou mais a favor da China nos últimos sete anos.

Em termos de impacto na economia mundial, a China representou 14,7 por cento das exportações de bens em 2020. Os Estados Unidos representaram 8,1 por cento. Nos primeiros nove meses do ano passado, a China foi responsável por US$ 90 bilhões em investimentos estrangeiros diretos. Isso se compara a US$ 66 bilhões para os Estados Unidos.

Podemos acumular mais estatísticas, mas categoria após categoria, a China supera os Estados Unidos – e, muitas vezes, por uma margem muito grande. Se as pessoas quiserem colocar seus chapéus de magos e insistir que os EUA ainda são a maior economia do mundo, elas podem fazê-lo, mas o fato comprovável e iniludível é que Donald Trump perdeu a eleição de 2020 e que a economia da China é maior do que a dos Estados Unidos.

E tamanho importa. Não se trata apenas da questão de contar vantagem. A China é claramente um concorrente internacional nos planos econômico, militar e diplomático. Muitas pessoas querem adotar uma abordagem de confronto com a China, com a ideia de que podemos isolar o país e gastá-lo militarmente, como provavelmente fizemos com a União Soviética.

Em seu auge, a economia soviética tinha aproximadamente 60% do tamanho da economia dos Estados Unidos; ora, a economia da China já é 25% maior. E essa diferença está se expandindo rapidamente. A China também está muito mais integrada à economia mundial do que a União Soviética jamais esteve. Isso torna a perspectiva de isolar a China muito mais difícil.

Na prática, não importa se gostamos ou não da China. Ela está aí diante de nossos olhos estupefatos e não está prestes a desaparecer. Precisamos, nós americanos, encontrar maneiras de lidar com a China que não levem a um conflito militar.

Idealmente, encontraríamos áreas onde poderíamos cooperar, por exemplo, compartilhando tecnologia para enfrentar as mudanças climáticas e lidar com pandemias e outras ameaças à saúde. Mas, se alguém quiser seguir a rota da Nova Guerra Fria, deve pelo menos estar ciente dos números. Esta, caras e caros, não será a Guerra Fria de seu avô.

- - -

Tradução: Eleutério F. S. Prado.

Publicado originalmente no portal Counterpunch.

Notas


[1] Incluí Hong Kong e Macau neste cálculo, uma vez que agora ambos fazem efetivamente parte da China.

Craque do jogo

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28
Abr23

Adhemar Bahadian: Diplomacia civilizada

Talis Andrade

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por Cristina Serra

Com poucas exceções, analistas brasileiros escreveram sobre a viagem de Lula à China contaminados por visões rasteiras e pré-concebidas e pelo complexo de vira-latas que viceja na mídia brasileira. É, portanto, um grande alento quando se encontra alguém que tem conhecimento de causa e aguda capacidade analítica. É o que você lerá no texto a seguir, do diplomata Adhemar Bahadian, que escreve semanalmente no Jornal do Brasil e me autorizou a reproduzir sua coluna no blog. Faço-o com imenso prazer porque Bahadian, por ofício, conhece os meandros do assunto, o histórico das relações do Brasil com outros países e blocos e sabe analisar o que está em jogo. Segue o texto de Adhemar Bahadian, na íntegra, tal como publicado no JB.

“A visita de Lula à China retoma o diálogo bilateral entre dois gigantes do mundo contemporâneo. Hoje é mais do que sabido o dano trazido pelo governo brasileiro, encerrado em 31 de dezembro de 2022, às relações de nosso país com seu principal parceiro comercial. Sobre o assunto não me estenderei porque o considero felizmente superado.

Surpreende, porém, que alguns observadores da cena internacional procurem ainda contaminar a Diplomacia sino-brasileira com os ventos da intolerância autoritária ou com os fantasmas de uma guerra fria terminada.

Basta lembrar que estamos a comemorar 30 anos de uma parceria estratégica com a China e que no ano próximo festejaremos 50 anos de relações amistosas com ela. Não se trata, portanto, de uma novidade, nem sequer de um eventual desvio de nossas relações estratégicas com países do bloco ocidental, em especial com os Estados Unidos da América.

Diplomacia profissional não é Fla-Flu nem clube do Bolinha. A simples leitura do Comunicado Conjunto Brasil- China, já disponível nas plataformas, mostra à saciedade o elenco de providências e ações articuladas entre os dois países para os próximos anos, com repercussões mais do que necessárias para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. Seria bom registrar o caráter pragmático do Comunicado e em especial a inexistência de menções a ideologias desta ou daquela natureza que talvez fossem até cabíveis diante do óbvio momento que estamos a viver, após a pandemia e os exageros da globalização desequilibrada, responsável por gravíssimas disparidades sociais .

Ao contrário, o Comunicado ressalta a importância do Direito Internacional, da solução pacífica das controvérsias, das Nações Unidas e de sua reforma, em especial do Conselho de Segurança.

Uma leitura ainda que superficial do Comunicado revela a aderência das propostas nele inscritas à Constituição brasileira de 1988 e nossos objetivos de construção de um Estado de Bem Estar Social.

Nada nele também nos obriga a aderir a objetivos políticos da China e nossa parceria estratégica como os Estados Unidos permanece sólida como sempre e, em especial, inabalável na defesa da democracia, temática de primeiro plano nas conversações entre Biden e Lula. O que colocou em risco a democracia tanto aqui quanto lá foram os ataques sistemáticos à lisura eleitoral nos dois países no conluio, este sim malévolo, entre Trump e Bolsonaro. Sobre este tema debruçam-se os sistemas jurídicos dos dois países e seria saudável que fossem vistos como efetivamente são e que não se os utilizem para minar as boas relações diplomáticas entre o Brasil e seus parceiros.

Até porque temos enormes problemas a reequacionar e alguns deles decorrem de uma globalização econômica associada a uma ideologia neoliberal danosa a nossos interesses mais palpáveis.

Os leitores que me honram ao acompanhar esses artigos dominicais no JB sabem como tenho insistido sobre a importância de se reexaminarem certos postulados econômico-comerciais, principalmente os surgidos a partir da década de 80 do século passado. Ainda esta semana voltou ao proscênio a questão do Acordo Mercosul-União Européia como se fosse picuinha brasileira nossa cautela em radiografar as metástases neoliberais nele implantadas tanto na questão ambiental quanto em outros temas.

Ora, sabe-se que a assinatura do acordo Mercosul-União Européia embasbacou inclusive os negociadores europeus pela facilidade com que aderimos a propostas e emendas que repelimos durante 20 anos. A todos deve lembrar a empáfia do então Ministro da economia brasileiro, Paulo Guedes, ao sarcasticamente repreender os negociadores brasileiros, em especial os do Itamaraty, por não terem aceito em 20 anos um acordo que ele, Paulo Guedes, aceitou em dois. Tão inesperada foi a mudança de postura brasileira que na época o próprio Secretário do Comércio dos Estados Unidos da América queixou-se e solicitou a imediata transposição para os Estados Unidos das mesmas vantagens concedidas aos Europeus. Recorde-se, ainda, que diante disto, Paulo Guedes informou que não havia problemas e que o mesmo se faria com os Estados Unidos. Enfim, uma página triste da Diplomacia brasileira.

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Página triste, porém, que não ficou sem consequências porque os europeus, ao virem que o governo brasileiro continuava com o desmatamento e com a perseguição a índios e a quilombolas se apressaram a apresentar um Protocolo adicional ao Acordo Mercosul-União Européia, que o torna uma peça comparável aos acordos comerciais do início de nossa Independência política, quando formos obrigados a engolir cobras e lagartos. Não creio que agora se poderá esperar do Brasil a mesma docilidade.

Em outro diapasão, a Organização Mundial do Comércio (OMC), como também já escrevi, produziu o Acordo Trips, responsável pelo monopólio legalizado das patentes farmacêuticas com graves danos para a vacinação universal. Esses dois momentos da diplomacia comercial neoliberal estão a exigir do Brasil uma análise criteriosa das regras de comércio, tais como compras governamentais, a fim de que se possa retomar qualquer negociação multilateral rigorosamente benéfica para todos.

Termino, como não poderia ser de outra forma, com os meus mais entusiasmados parabéns aos primeiros cem dias de um governo que não só renova nossas esperanças num Brasil mais justo, mas também numa Diplomacia civilizada e respeitada internacionalmente.”

21
Abr23

Parlamento Europeu aprova regulação inédita das criptomoedas, com alcance global

Talis Andrade
 
 
ARIONAURO CARTUNS - Blog do Cartunista Arionauro: Charge Criptomoedas
 
Moedas de souvenir representam o Bitcoin, a mais conhecida criptomoeda do mundo.
Moedas de souvenir representam o Bitcoin, a mais conhecida criptomoeda do mundo. REUTERS - DADO RUVIC

O Parlamento Europeu aprovou nesta quinta-feira (20) o primeiro conjunto de regras abrangentes em nível global para regular o mercado de criptomoedas. O objetivo é proteger os usuários contra abusos e manipulações neste universo financeiro digital.

A nova regulamentação, denominada MiCA (Mercados em Criptoativos, em inglês), também visa a garantir a rastreabilidade das transferências para melhor detectar atividades suspeitas, incluindo lavagem de dinheiro. Até o momento, as transferências virtuais de ativos estão fora do escopo da lei europeia de serviços financeiros.

As novas regras entrarão em vigor progressivamente a partir de julho de 2024, e os textos devem ser formalmente aprovados pelo Conselho Europeu antes de entrarem em vigor.

O eurodeputado relator da proposta, o conservador alemão Stefan Berger, destacou que, com esta regulamentação, "a indústria europeia de criptoativos tem a clareza regulatória que falta a países como os Estados Unidos”. O eurodeputado ambientalista espanhol Ernest Urtasun, um dos principais promotores da iniciativa no plenário legislativo, destacou que o regulamento "marcará o fim da era do 'faroeste' no mundo não regulamentado dos criptoativos".

"Por mais de uma década, a falta de regulamentação resultou em prejuízos em massa para muitos investidores e forneceu um porto seguro para fraudes e redes criminosas internacionais", acrescentou Urtasun.

A comissária europeia para Serviços Financeiros, a irlandesa Mairead McGuinness, expressou sua convicção sobre a importância da regulamentação no desenvolvimento de um ambiente "seguro" para a indústria. "Acreditamos que um marco regulatório permite que a indústria evolua em um ambiente mais seguro", afirmou. Ela manifestou também a esperança de que este regulamento se torne um modelo para outros países.

Transferência de Fundos

Concretamente, de acordo com a nova legislação europeia, os provedores de serviços de criptoativos (CASP) terão que se registrar e fornecer dados precisos sobre sua identidade se desejarem operar na UE.

A “Regra de Viagem”, já existente nas finanças tradicionais, será aplicada futuramente às transferências de criptoativos. Isso exigirá que os provedores de serviços de criptoativos transmitam certas informações sobre clientes e transações para a instituição financeira que recebe essas operações.

Pela regulamentação, os provedores de serviços de criptoativos (chamados CASP) deverão proteger as carteiras eletrônicas dos clientes e serão responsáveis se esses ativos forem perdidos. Além disso, terão de divulgar as informações sobre seu consumo de energia, como parte dos esforços da União Europeia para reduzir a alta pegada de carbono da mineração das criptomoedas.

Um segundo regulamento, conhecido como Transferência de Fundos, deve permitir uma maior fiscalização das movimentações de criptoativos, incluindo criptomoedas, como é o caso das finanças tradicionais. A UE argumenta que isso tornará mais difícil para indivíduos ou grupos usarem criptomoedas para atividades ilegais, como lavagem de dinheiro.

Este novo regulamento determina que os provedores de serviços criptoativos devem se registrar e fornecer dados precisos sobre sua identidade, caso desejem operar na UE.

Caso da FTX

Uma das mais recentes falhas no negócio de criptomoedas ocorreu em novembro, quando a plataforma FTX e sua casa comercial, Alameda Research, entraram com pedido de falência, dissolvendo um negócio online que chegou a ter um valor de mercado de US$ 32 bilhões (cerca de R$ 161,4 bilhões, na cotação atual).

McGuinness disse, durante o debate parlamentar, que os regulamentos europeus teriam regido as atividades da FTX. "Acreditamos que, se a FTX, por exemplo, estivesse sob a jurisdição da UE, muitas de suas práticas não seriam permitidas pela MiCA", disse ela.

No entanto, alguns criticaram o projeto de lei por não ir longe o suficiente, como Elizabeth McCaul, membro do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu. "De acordo com o princípio da proporcionalidade, os CASP significativos devem estar sujeitos a requisitos mais rigorosos, como uma supervisão aprimorada: o MiCA não cobre nenhum dos dois", disse McCaul em seu site.

“Os criptojogadores poderão começar a aplicar as regras básicas das finanças tradicionais”, disse a eurodeputada Aurore Lalucq (grupo dos socialistas e democratas, à esquerda) durante os debates na quarta-feira. "É bom, é melhor que nada, basta? Não!", disse ela.

Com informações da AFP

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15
Abr23

Banco dos Brics “liberta os países emergentes da submissão às instituições financeiras tradicionais”, diz Lula

Talis Andrade

Lula e Xi

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Na posse de Dilma à frente do NBD, Lula criticou o sufocamento econômico e social de países emergentes por nações desenvolvidas

 

Ana Gabriela Sales /GGN

O presidente Lula (PT) participou, nesta quinta-feira (13), em Xangai, da posse de Dilma Rousseff no Novo Banco de Desenvolvimento (NBD, na sigla em inglês), mais conhecido como Banco dos Brics. Na ocasião, o petista não poupou críticas ao modelo tradicional financeiro espalhado por todo globo e destacou o papel social do bloco econômico composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. 

Segundo Lula, “o Novo Banco de Desenvolvimento tem um grande potencial transformador, na medida em que liberta os países emergentes da submissão às instituições financeiras tradicionais, que pretendem nos governar, sem que tenham mandato para isso”. 

Neste contexto, Lula insistiu contra o sufocamento econômico e social de países emergentes por nações desenvolvidas e citou a possibilidade dos financiamentos dos bancos acontecerem “sem as amarras” do dólar. 

“Pela primeira vez, um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação de países desenvolvidos em sua fase inicial. Livre, portanto, das amarras e condicionalidades impostas pelas instituições tradicionais às economias emergentes. E mais, com a possibilidade de financiamento de projetos em moeda local”, destacou o presidente brasileiro. 

“Por que não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? Quem é que decidiu que era o dólar? Nós precisamos ter uma moeda que transforme os países numa situação um pouco mais tranquila, porque hoje um país precisa correr atrás de dólar para exportar”, afirmou. 

Lula ainda ressaltou que os bancos devem ser tolerantes com os países emergentes e criticou diretamente o Fundo Monetário Internacional (FMI). “Nenhum governante pode trabalhar com uma faca na garganta porque está devendo”, disse. “Não cabe a um banco ficar asfixiando as economias dos países como está fazendo com a Argentina o Fundo Monetário Internacional”, completou.

Papel social dos Brics

Ao longo de seu discurso, Lula também exaltou o papel do banco dos Brics no combate às desigualdades e na recuperação de nações. 

“A mudança do clima, a pandemia e os conflitos armados impactam negativamente as populações mais vulneráveis. Muitos países em desenvolvimento acumulam dívidas impagáveis. É nesse contexto que a criação do NDB se impõe”, disse. 

Lula, por fim, fez um apelo internacional por mais solidariedade. “Não podemos ter uma sociedade sem solidariedade, sem sentimento. Temos que voltar a ser generosos. Vamos ter que aprender a estender a mão outra vez. Nós precisamos derrotar o individualismo que está tomando conta da humanidade”.

Fato extraordinário

Ao parabenizar Dilma pelo cargo máximo na instituição, o presidente brasileiro relembrou a trajetória de luta e resistência da petista, que sofreu um impeachment no Brasil. 

Vale destacar, que o NBD foi estabelecido em conferência no Brasil durante o mandato de Dilma como presidente da República. 

 

A posse de uma mulher à frente de um banco global de tamanha envergadura seria por si só um fato extraordinário, num mundo ainda dominado pelos homens. Mas a importância histórica deste momento vai mais além. Dilma Rousseff pertence a uma geração de jovens que nos anos 70 lutaram para colocar em prática o sonho de um mundo melhor – e pagaram caro, muitos deles com a própria vida”, destacou Lula. 

 

 

O discurso de Lula

“É com grande alegria que retorno a Xangai após quase 20 anos, e por um motivo muito especial. Tenho a satisfação de reencontrar a presidenta Dilma Rousseff e o prazer de comemorar sua escolha para comandar esta importante instituição.

A posse de uma mulher à frente de um banco global de tamanha envergadura seria por si só um fato extraordinário, num mundo ainda dominado pelos homens. Mas a importância histórica deste momento vai mais além.

Dilma Rousseff pertence a uma geração de jovens que nos anos 70 lutaram para colocar em prática o sonho de um mundo melhor – e pagaram caro, muitos deles com a própria vida.

Meio século depois, o Novo Banco de Desenvolvimento surge como ferramenta de redução das desigualdades entre países ricos e países emergentes, que se traduzem em forma de exclusão social, fome, extrema pobreza e migrações forçadas.

Senhoras e senhores.

A mudança do clima, a pandemia de COVID-19 e os conflitos armados impactam negativamente as populações mais vulneráveis. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável passam por graves retrocessos, e muitos países em desenvolvimento acumulam dívidas impagáveis.

É neste contexto adverso que o Novo Banco de Desenvolvimento se impõe.

A decisão de criar este banco foi um marco na atuação conjunta dos países emergentes. Por suas dimensões, tamanho de suas populações, peso de suas economias e a influência que exercem em suas regiões e no mundo, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul não poderiam ficar alheios às grandes questões internacionais.

As necessidades de financiamento não atendidas dos países em desenvolvimento eram e continuam enormes.

A falta de reformas efetivas das instituições financeiras tradicionais limita o volume e as modalidades de crédito dos bancos já existentes.

Pela primeira vez, um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação de países desenvolvidos em sua fase inicial. Livre, portanto, das amarras das condicionalidades impostas pelas instituições tradicionais às economias emergentes. E mais: com a possibilidade de financiamento de projetos em moeda local.

A criação deste Banco mostra que a união de países emergentes é capaz de gerar mudanças sociais e econômicas relevantes para o mundo. Não queremos ser melhores do que ninguém. Queremos as oportunidades para expandirmos nossas potencialidades, e garantir aos nossos povos dignidade, cidadania e qualidade de vida.

Por isso, além de continuar trabalhando pela reforma efetiva da ONU, do FMI e do Banco Mundial, e pela mudança das regras comerciais, precisamos utilizar de maneira criativa o G-20 (que o Brasil presidirá em 2024) e o BRICS (que conduziremos em 2025) com o objetivo de reforçar os temas prioritários para o mundo em desenvolvimento na agenda internacional.

Senhores e senhoras.

O Novo Banco de Desenvolvimento tem um grande potencial transformador, na medida em que liberta os países emergentes da submissão às instituições financeiras tradicionais, que pretendem nos governar, sem que tenham mandato para isso.

O banco dos Brics já atraiu quatro novos membros: Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai. Vários outros estão em vias de adesão, e estou certo de que a chegada da presidenta Dilma contribuirá para esse processo.

No Brasil, os recursos do Novo Banco financiam projetos de infraestrutura, programas de apoio à renda, mobilidade sustentável, adaptação à mudança climática, saneamento básico e energias renováveis.

Em conjunto, os membros do BRICS ampliam sua capacidade de atuar positivamente no cenário internacional, contribuindo para evitar ou mitigar crises e beneficiando as perspectivas de crescimento e desenvolvimento de nossas economias.

Por tudo isso, o Novo Banco de Desenvolvimento reúne todas as condições para se tornar o grande banco do Sul Global.

Senhoras e senhores.

O tempo em que o Brasil esteve ausente das grandes decisões mundiais ficou no passado. Estamos de volta ao cenário internacional, após uma inexplicável ausência. Temos muito a contribuir em questões centrais do nosso tempo, a exemplo da mitigação da crise climática e do combate à fome e às desigualdades.

É intolerável que, num planeta que produz alimentos suficientes para suprir as necessidades de toda a humanidade, centenas de milhões de homens, mulheres e crianças não tenham o que comer.

É inadmissível que a irresponsabilidade e a ganância de uma pequena minoria coloquem em risco a sobrevivência do planeta e de toda a humanidade.

O Brasil está de volta. Com a disposição de contribuir novamente para a construção de um mundo mais desenvolvido, mais justo e ambientalmente sustentável.

Queremos compartilhar com todos os países interessados a experiência de crescimento econômico com inclusão social que o Brasil viveu durante meu governo e o governo da presidenta Dilma Rousseff.

As políticas públicas de nossos governos foram capazes de resgatar 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza, e retirar o Brasil do Mapa da Fome da ONU pela primeira vez em nossa história. Ao mesmo tempo, o Brasil se tornou a 6ª maior economia do planeta.

Estou certo de que a experiência da presidenta Dilma ao governar o Brasil se renovará à frente deste importante instrumento para o desenvolvimento de nossos países.

Sua presidência representa o compromisso renovado do Brasil com os BRICS. E é também mais uma demonstração da disposição brasileira de consolidar o fortalecimento deste Novo Banco de Desenvolvimento diante dos desafios e da necessidade de contínuo aprimoramento institucional e operacional.

Fico feliz por termos uma mulher forte e experiente à frente dessa instituição.

Muito boa sorte, felicidades e sucesso nas suas novas funções, Presidenta Dilma.

Muito obrigado”.

 

14
Abr23

Em Pequim, Lula se encontra com Xi Jinping e defende maior 'equilíbrio da geopolítica mundial'

Talis Andrade
 
 
Movimento de aperto de mãos com bandeiras da China e do Brasil
O presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente brasileiro, Lula, em Pequim. 14/04/2023
O presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente brasileiro, Lula, em Pequim. 14/04/2023 © Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido na tarde desta sexta-feira (14) pelo líder chinês, Xi Jinping. O encontro entre os dois líderes é o ponto alto da visita do chefe de Estado brasileiro a Pequim. Antes da reunião com Jinping, Lula esteve com o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji, no Grande Palácio do Povo, sede do governo chinês.

No encontro com Leji, Lula ressaltou o interesse do Brasil em estreitar os laços com Pequim: "Queremos elevar o patamar da parceria estratégica entre os dois países, ampliar fluxos de comércio e, junto com a China, equilibrar a geopolítica mundial". 

O presidente brasileiro lembrou que o país asiático foi um parceiro essencial para a fundação do grupo Brics, que reúne as potências emergentes Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul. Os esforços para intensificar as relações bilaterais para estabelecer uma nova dinâmica do eixo sul-sul foram destacadas por Lula.

"É importante dizer que a China tem sido uma parceria preferencial do Brasil nas suas relações comerciais. É com a China que a gente mantém o mais importante fluxo de comércio exterior", afirmou, acrescentando que, com o país asiático, o Brasil tem sua maior balança comercial.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. Em 2022, a China importou mais de US$ 89,7 bilhões em produtos brasileiros e exportou quase US$ 60,7 bilhões para o mercado nacional. O volume total comercializado aumentou 21 vezes desde a primeira visita de Lula ao país, em 2004, informou o governo federal.

De acordo com dados oficiais, entre 2007 e 2021, o país foi o quarto principal destino internacional de investimentos chineses. Brasília ainda informa que os setores com maiores aportes chineses foram eletricidade (45,5%), extração de petróleo e gás (30,9%).

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Assembleia Popular nacional da China, Zhao Leji. 14/04/2023
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Assembleia Popular nacional da China, Zhao Leji. 14/04/2023© Ricardo Stuckert

 

Equilibrar a geopolítica mundial

Além de reforçar a parceria econômica, Lula pretende também atuar com os chineses em questões internacionais. "Junto com a China estamos tentando equilibrar a geopolítica mundial, discutindo os temas mais importantes", declarou Lula nesta sexta-feira.

Na visita à Assembleia Nacional Popular, o chefe de Estado esteve acompanhado de parlamentares que, com o líder chinês, destacaram a importância de ampliar investimentos e a parceria para o desenvolvimento de projetos em setores como educação e espacial.

Na sequência do encontro com Zhao Leji, Lula e a comitiva participaram de uma cerimônia na Praça da Paz Celestial, depositando flores no monumento Heróis do Povo.

Publica BBC News

Como deve mudar relação do Brasil com a China no novo governo Lula

13
Abr23

Lula na China: Nova Rota da Seda e semicondutores são ponto alto da negociação comercial

Talis Andrade

Lula 100 dias

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RFI - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca nesta quarta-feira (12) na China para uma viagem com importante peso diplomático para o Brasil, mas também para os negócios. Pequim é o maior parceiro comercial de Brasília há 14 anos e a comitiva brasileira, formada por 40 autoridades, entre elas oito ministros e cinco governadores, espera fechar cerca de 20 acordos bilaterais em áreas como agricultura, investimentos, ciência, tecnologia e meio ambiente, entre outras.

A viagem deveria ter ocorrido em meados de março, mas foi cancelada para Lula tratar uma pneumonia. Nas áreas comerciais mais sensíveis, a presença pessoalmente do chefe de Estado e seu gabinete se mostra determinante. É por isso que, na visão do pesquisador associado do FGV-Ibre Livio Ribeiro, especializado em economias emergentes e em particular a chinesa, a volta do Brasil às negociações multilaterais, após quatro anos de afastamento durante o governo de Jair Bolsonaro, é o aspecto mais relevante desta visita a Pequim.

"Por uma escolha de Estado, nós saímos da mesa. Essa escolha teve custos, e agora estamos voltando à mesa e isso é extremamente importante, na minha opinião. Segundo ponto é que eles tenham uma discussão de vários acordos e medidas nas áreas de economia e finanças”, ressalta.

"Quando a gente olha a pluralidade da comitiva, com vários temas ao mesmo tempo, faz sentido na medida em que passamos tanto tempo sem jogar esse jogo. Tudo está sendo colocado na mesa ao mesmo tempo. E tradicionalmente na China, os ritos importam muito – até mais para os chineses do que para a gente. Assim sendo, a presença do presidente muda o nível da discussão e faz toda a diferença”, salienta Ribeiro, que também é sócio da consultoria BRCG.

Entrada do Brasil na Cinturão e Rota

Antes de viajar, Lula declarou a jornalistas que vai convidar o líder chinês Xi Jinping para visitar o Brasil, acrescentando que deseja “fazer investimentos que signifiquem algo novo, como rodovias, hidrelétricas". Para a China, um aspecto crucial da pauta bilateral é a negociação sobre a inclusão do Brasil no megaprojeto chinês Cinturão e Rota, conhecido como Nova Rota da Seda, mas o tema é alvo de divergências dentro do próprio governo.

Quase todos os países da América Latina, incluindo Argentina e Chile, já fazem parte do plano de investimentos em infraestruturas para facilitar o escoamento da produção e a conexão entre os continentes.

“Tem muito preconceito e desconhecimento sobre o que significa de fato a iniciativa. Ela deve ser entendida como um mecanismo de promoção do poder econômico chinês. Vários países tiraram benefícios dela”, afirma. “Eu vejo com bons olhos que se possa cogitar a possibilidade de entrarmos na Cinturão e Rota e que se possa receber dinheiro dos bancos de fomento chineses. Isso é se subjugar ao imperialismo chinês? Não. Isso é reconhecer a importância desse ator no mundo e para a gente”, avalia.

Planta de produção de semicondutores: um tema sensível

Outro tema delicado na agenda é a possível instalação, no Brasil, de uma planta de produção de semicondutores chineses – uma pauta urgente para Pequim desde que os Estados Unidos decidiram restringir as exportações desse componente, indispensável para a produção de chips eletrônicos, para a China. O tema está no foco das divergências entre Washington e Pequim no governo de Joe Biden.

"O objetivo da China é ser autônoma em relação aos semicondutores americanos, portanto ela quer produzi-los no território chinês, mas também se espalhar pelo mundo. As negociações com o Brasil estão ocorrendo para Pequim poder produzi-los em solo brasileiro”, nota a economista Mylène Gaulard, professora associada da Universidade de Grenoble e especialista nas economias brasileira e chinesa, em entrevista à RFI.

O Brasil desempenha um papel importante para a industrialização da China – na pauta de importações, Pequim compra principalmente minério de ferro e petróleo do Brasil, mas também soja e outras matérias-primas para alimentar a população urbana, que disparou desde os anos 2000. Na mão inversa, o Brasil importa principais bens industrializados.

A balança comercial é favorável ao Brasil: em 2022, a China importou mais de US$ 89,7 bilhões em produtos brasileiros e exportou quase US$ 60,7 bilhões para o mercado nacional. O volume total comercializado aumentou 21 vezes desde a primeira visita de Lula ao país, em 2004, informou o governo federal.

Na área de tecnologia, é esperada a conclusão de um acordo para a construção do sexto satélite CBERS, em parceria entre os dois países e que, desta vez, permitirá o aperfeiçoamento do monitoramento dos biomas brasileiros, como a Amazônia.

 

A agenda oficial de Lula começa na quinta, em Xangai, onde vai participar da cerimônia de posse de Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), popularizado como Banco dos Brics. A petista já assumiu o cargo em março, mas o evento foi adiado para poder contar com a presença de Lula.

O ponto alto da viagem é na sexta, quando Lula vai se reunir com o presidente chinês, Xi Jinping.

09
Jan23

Brasil fecha cerco aos ‘atos terroristas’ em Brasília

Talis Andrade

Os titulares dos Três Poderes, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à frente, fecharam o cerco, nesta segunda-feira (9), aos “atos terroristas” ocorridos em Brasília no domingo, quando milhares de bolsonaristas invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Em uma incomum declaração conjunta publicada no Twitter de Lula, os presidentes do Senado, da Câmara dos Deputados e do STF repudiaram os “atos terroristas, de vandalismo, criminosos e golpistas que aconteceram na tarde de ontem em Brasília”.

“Conclamamos a sociedade a manter a serenidade na defesa da paz e da democracia em nossa pátria”, afirmaram no texto.

Os representantes dos poderes públicos se reuniram na manhã desta segunda-feira no Palácio do Planalto, onde Lula despacha durante o dia, apesar de a sede do Executivo ter sido um dos prédios vandalizados, com vidraças quebradas e alguns gabinetes destruídos.

No domingo, milhares de bolsonaristas ocuparam os edifícios por quase quatro horas, exigindo uma intervenção militar para afastar Lula do cargo ao qual foi empossado em 1º de janeiro.

Os atos lembraram os ataques ao Capitólio, em Washington, executados há dois anos por apoiadores do então presidente americano Donald Trump, de quem Bolsonaro é admirador.

Acampamentos desmontados

Os ataques de domingo foram condenados em uníssono pela comunidade internacional, dos governos dos Estados Unidos e da França aos de Rússia e China.

“Estou impactado com o que vejo e com o que vi. Mas devo dizer que confio no Brasil. Confio em instituições resilientes. E estou absolutamente convencido de que o Brasil enfrentará esta situação com a responsabilidade adequada”, reagiu o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Já na noite de domingo, as autoridades brasileiras abriram inquéritos e tomaram medidas judiciais para encontrar os responsáveis pelos distúrbios e seus financiadores. 

Até o momento, 1.500 pessoas foram detidas, informou Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública, destacando que a maioria foi interpelada em um acampamento em Brasília de onde saiu boa parte dos invasores.

Centenas de policiais e militares foram mobilizados nesta segunda-feira em diferentes cidades do país, como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, para desmontar essas estruturas, de onde manifestantes exigiam, há dois meses, uma intervenção militar para evitar que Lula voltasse ao poder.

A liberação atendeu à ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes para desocupar completamente “em 24 horas” essas estruturas, montadas em frente a quartéis militares por apoiadores de Bolsonaro, insatisfeitos com sua derrota no segundo turno das eleições, em 30 de outubro.

“Não concordo com o que foi feito ontem. É vandalismo, é destruição do nosso patrimônio. Se eles querem se manifestar, devem fazer de outra forma”, disse à AFP Ionar Bispo, de 43 anos, morador da capital federal.

Uma multidão invadiu os prédios e muitos manifestantes agitavam a bandeira do Brasil e vestiam a camisa da seleção brasileira, símbolos nacionais dos quais o bolsonarismo se apropriou.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) repudiou com veemência o uso da camisa “em atos antidemocráticos e de vandalismo”.

13
Nov22

"O presidente Lula tem de fazer tudo para não perder o povo que o elegeu"

Talis Andrade

Dora Longo Bahia, Revoluções (projeto para calendário), 2016 Acrílica, caneta à base de água e aquarela sobre papel (12 peças), 23 x 30.5 cm cada
 
 

Escreve Boaventura de Sousa Santos, sociólogo português

 

Prezado amigo Presidente Lula da Silva,

Quando o visitei na prisão em 30 de agosto de 2018, vivi no pouco tempo que durou a visita um turbilhão de ideias e emoções que continuam hoje tão vivas quanto nesse dia. Pouco tempo antes tínhamos estado juntos no Fórum Social Mundial de Salvador da Bahia, conversando, na companhia de Jacques Wagner, na cobertura do hotel onde Lula estava hospedado. Falávamos então da sua possível prisão. Lula ainda tinha alguma esperança de que o sistema judicial suspendesse aquela vertigem persecutória que desabara sobre si.

Eu, talvez por ser sociólogo do direito, estava convencido de que tal não aconteceria, mas não insisti. A certa altura, tive a sensação de que estávamos a pensar e a temer o mesmo. Pouco tempo depois, prendiam-no com a mesma indiferença arrogante e compulsiva com que o tinham tratado até então. Sérgio Moro, o lacaio dos EUA (é tarde demais para sermos ingênuos), tinha cumprido a primeira parte da missão. A segunda parte seria a de o manter preso e isolado até que fosse eleito o candidato que lhe daria a tribuna a ser utilizada por ele, Sérgio Moro, para um dia chegar à presidência da República.

Quando entrei nas instalações da Polícia Federal senti um arrepio ao ler a placa onde se assinalava que o presidente Lula da Silva tinha inaugurado aquelas instalações onze anos antes como parte do seu vasto programa de valorização da Polícia Federal e da investigação criminal. Um primeiro turbilhão de interrogações me assaltou. A placa permanecia ali por esquecimento? Por crueldade? Para mostrar que o feitiço se virara contra o feiticeiro? Que um presidente de boa-fé entregara o ouro ao bandido?

Fui acompanhado por um jovem polícia federal bem parecido que no caminho se vira para mim e diz: lemos muito os seus livros. Fico frio por dentro. Estarrecido. Se os meus livros fossem lidos e a mensagem entendida, nem Lula nem eu estaríamos ali. Balbuciei algo neste sentido e a resposta não se fez esperar: “cumprimos ordens”. De repente, o teórico nazi do direito Carl Schmitt irrompeu dentro de mim. Ser soberano é ter a prerrogativa de declarar que é legal o que não é, e de impor a sua vontade burocraticamente com a normalidade da obediência funcional e a consequente trivialização do terror do Estado.

Prezado Presidente Lula, foi assim que cheguei à sua cela e certamente nem suspeitou do turbilhão que ia dentro de mim. Ao vê-lo, acalmei-me. Estava finalmente na frente da dignidade em pessoa, e senti que a humanidade ainda não tinha desistido de ser aquilo a que o comum dos mortais aspira. Era tudo totalmente normal dentro da anormalidade totalitária que o encerrara ali. As janelas, os aparelhos de ginástica, os livros, a televisão. A nossa conversa foi tão normal quanto tudo o que nos rodeava, incluindo os seus advogados e a Gleisi Hoffmann, presidenta do Partido dos Trabalhadores.

Falámos da situação da América Latina, da nova (velha) agressividade do império, do sistema judicial convertido em ersatz de golpes militares, das sondagens que o continuavam a destacar, do meu receio que a transferência de votos não fosse tão massiva quanto esperava. Era como se o imenso elefante branco naquela sala – a repugnante ilegalidade da sua prisão por motivos políticos nem sequer disfarçados – se transformasse em inefável leveza do ar para não perturbar a nossa conversa como se, em vez de estarmos ali, estivéssemos em qualquer lugar de sua escolha.

Quando a porta se fechou atrás de mim, o peso da vontade ilegal de um Estado refém de criminosos armados de manipulações jurídicas caiu de novo sobre mim. Amparei-me na revolta e na raiva e no desempenho bem-comportado que se espera de um intelectual público que à saída tem de fazer declarações à imprensa. Tudo fiz, mas o que verdadeiramente senti é que tinha deixado atrás de mim a liberdade e a dignidade do Brasil, aprisionadas para que o império e as elites ao seu serviço cumprissem os seus objetivos de garantir o acesso aos imensos recursos naturais do Brasil, a privatização da previdência e o alinhamento incondicional com a geopolítica da rivalidade com a China.

A serenidade e a dignidade com que o Lula enfrentou 582 dias de reclusão é a prova provada de que os impérios, sobretudo os decadentes, erram muitas vezes os cálculos, precisamente por só pensarem no curto prazo. A imensa solidariedade nacional e internacional, que fez de si o mais famoso preso político do mundo, mostraram que o povo brasileiro começava a acreditar que pelo menos parte do que fora destruído a curto prazo poderia ser reconstruído a médio e longo prazo. A sua prisão passou a ser o preço da credibilidade dessa convicção.

 

Prezado amigo Presidente Lula da Silva,

Escrevo-lhe hoje antes de tudo para o felicitar pela vitória nas eleições de 30 de outubro. É um feito extraordinário sem precedente na história da democracia. Costumo dizer que os sociólogos são bons a prever o passado, não o futuro, mas desta vez não me enganei. Nem por isso tenho maior certeza no que sinto necessidade de lhe dizer hoje. Como sei que não tem tempo para ler grandes elaborações analíticas, serei telegráfico. Tome estas considerações como expressão do que de melhor desejo para si pessoalmente e para o exercício do cargo que vai assumir.

(1) Seria um erro grave pensar-se que com a sua eleição tudo voltou ao normal no Brasil. Primeiro, o normal anterior a Jair Bolsonaro era para as populações mais vulneráveis algo muito precário ainda que o fosse menos do que é agora. Segundo, Jair Bolsonaro infligiu um dano na sociedade brasileira difícil de reparar. Produziu um retrocesso civilizatório ao ter reacendido as brasas da violência típica de uma sociedade que foi sujeita ao colonialismo europeu: a idolatria da propriedade individual e a consequente exclusão social, o racismo, o sexismo, a privatização do Estado para que o primado do direito conviva com o primado da ilegalidade, e uma religião excludente desta vez sob a forma de evangelismo neopentecostal.

A fratura colonial é reativada sob a forma da polarização amigo/inimigo, nós/eles, própria da extrema-direita. Com isto, Bolsonaro criou uma ruptura radical que torna muito difícil a mediação educativa e democrática. A recuperação levará anos.

(2) Se a nota anterior aponta para o médio prazo, a verdade é que a sua presidência vai ser por agora dominada pelo curto prazo. Jair Bolsonaro fez regressar a fome, quebrou financeiramente o Estado, desindustrializou o país, deixou morrer desnecessariamente centenas de milhares de vítimas da covid, propôs-se acabar com a Amazônia. O campo emergencial é aquele em que o Presidente se move melhor e em que estou certo mais êxito terá. Apenas duas cautelas. Vai certamente voltar às políticas que protagonizou com êxito, mas, atenção, as condições são agora muito diferentes e mais adversas.

Por outro lado, tudo tem de ser feito sem esperar a gratidão política das classes sociais beneficiadas pelas medidas emergenciais. O modo impessoal de beneficiar, que é próprio do Estado, faz com que as pessoas vejam nos benefícios o seu mérito pessoal ou o seu direito e não o mérito ou a benevolência de quem os torna possível. Para mostrar que tais medidas não resultam nem de mérito pessoal nem da benevolência de doadores, mas são antes produto de alternativas políticas só há um caminho: a educação para a cidadania.

(3) Um dos aspectos mais nefastos do retrocesso provocado por Bolsonaro é a ideologia anti-direitos capilarizada no tecido social, tendo como alvo os grupos sociais anteriormente marginalizados (pobres, negros, indígenas, Roma, LGBTQI+). Manter firme uma política de direitos sociais, económicos e culturais como garantia de dignidade ampliada numa sociedade muito desigual deve ser hoje o princípio básico dos governos democráticos.

(4) O contexto internacional é dominado por três mega-ameaças: pandemias recorrentes, colapso ecológico, possível terceira guerra mundial. Qualquer destas ameaças é global, mas as soluções políticas continuam dominantemente limitadas à escala nacional. A diplomacia brasileira foi tradicionalmente exemplar na busca de articulações, quer de âmbito regional (cooperação latino-americana), quer de âmbito mundial (BRICS). Vivemos um tempo de interregno entre um mundo unipolar dominado pelos EUA que ainda não desapareceu totalmente e um mundo multipolar que ainda não nasceu plenamente. O interregno manifesta-se, por exemplo, na desaceleração da globalização e no regresso do protecionismo, na substituição parcial do livre comércio pelo comércio com parceiros amigos.

Os Estados continuam todos formalmente independentes, mas só alguns são soberanos. E entre os últimos não se contam sequer os países da União Europeia. O Presidente Lula saiu do governo quando a China era o grande parceiro dos EUA e regressa quando a China é o grande rival dos EUA. O presidente Lula foi sempre adepto do mundo multipolar e a China é hoje um parceiro incontornável do Brasil. Dada a crescente guerra fria entre os EUA e a China, prevejo que a lua de mel entre Biden e Lula não dure muito tempo.

(5) O presidente Lula tem hoje uma credibilidade mundial que o habilita a ser um mediador eficaz num mundo minado por conflitos cada vez mais tensos. Pode ser um mediador no conflito Rússia/Ucrânia, dois países cujos povos necessitam urgentemente de paz, num momento em que os países da União Europeia abraçaram sem Plano B a versão norte-americana do conflito e condenaram-se ao mesmo destino a que está destinado o mundo unipolar dominado pelos EUA. E será também um mediador credível no caso do isolamento da Venezuela e no fim do vergonhoso embargo contra Cuba. Para isso, o Presidente Lula tem de ter a frente interna pacificada e aqui reside a maior dificuldade.

(6) Vai ter de conviver com a permanente ameaça de desestabilização. É a marca da extrema direita. É um movimento global que corresponde à incapacidade de o capitalismo neoliberal poder conviver no próximo período com mínimos de convivência democrática. Apesar de global, assume características específicas em cada país. O objetivo geral é converter diversidade cultural ou étnica em polarização política ou religiosa.

No Brasil, tal como na Índia, há o risco de atribuir a tal polarização um carácter de guerra religiosa, seja ela entre católicos e evangélicos ou entre cristãos fundamentalistas e religiões de matriz africana (Brasil) ou entre hindus e muçulmanos (Índia). Nas guerras religiosas a conciliação é quase impossível. A extrema-direita cria uma realidade paralela imune a qualquer confrontação com a realidade real. Nessa base, pode justificar a mais cruel violência. O seu objetivo principal é impedir que o Presidente Lula termine pacificamente o seu mandato.

(7) O presidente Lula tem neste momento a seu favor o apoio dos EUA. É sabido que toda a política externa dos EUA é determinada por razões de política interna. O presidente Joe Biden sabe que, ao defender o presidente Lula, está a defender-se de Donald Trump, seu rival em 2024. Acontece que os EUA são hoje a sociedade talvez mais fraturada do mundo, onde o jogo democrático convive com uma extrema direita plutocrata suficientemente forte para fazer com que cerca de 25% da população norte-americana continue hoje convencida que a vitória de Joe Biden em 2020 foi o resultado de uma fraude eleitoral. Esta extrema direita está disposta a tudo. A sua agressividade fica demonstrada pela tentativa recente de raptar e torturar Nancy Pelosi, líder dos democratas na Câmara dos Representantes.

Pensemos nisto: o país que quer produzir regime change na Rússia e travar a China não consegue proteger um dos seus mais importantes líderes políticos. E, tal como se irá observar no Brasil, logo após o atentado, uma bateria de notícias falsas foi posta a circular para justificar o ato. Portanto, hoje, os EUA são um país duplo: o país oficial que promete defender a democracia brasileira e o país não oficial que a promete subverter para ensaiar o que pretende conseguir nos EUA. Recordemos que a extrema direita começou por ser a política do país oficial. O evangelismo hiper conservador começou por ser um projeto norte-americano (vide o relatório Rockfeller de 1969) para combater “o potencial insurrecional” da teologia da libertação. E diga-se, em abono da verdade, que durante muito tempo o seu principal aliado foi o Papa João Paulo II.

(8) Desde 2014, o Brasil vive um processo de golpe de Estado continuado, a resposta das elites aos progressos que as classes populares obtiveram com os governos do Presidente Lula. Esse processo não terminou com a sua vitória. Apenas mudou de ritmo e de táctica. Ao longo destes anos e sobretudo no último período eleitoral assistimos a múltiplas ilegalidades e até crimes políticos cometidos com uma impunidade quase naturalizada. Para além dos muitos que foram cometidos pelo chefe do governo, vimos, por exemplo, quadros superiores das Forças Armadas e das forças de segurança apelarem a golpes de Estado e a tomarem publicamente partido por um candidato presidencial durante o exercício das suas funções.

Estes comportamentos golpistas devem ser punidos exemplarmente quer por iniciativa do sistema judiciário quer por meio de passagens compulsórias à reserva. Qualquer ideia de amnistia, por mais nobres que sejam os seus motivos, será uma armadilha no caminho da sua presidência. As consequências podem ser fatais.

(9) É sabido que o presidente Lula não põe grande prioridade em caracterizar a sua política como sendo de esquerda ou de direita. Curiosamente, pouco antes de ser eleito Presidente da Colômbia, Gustavo Petro afirmava que a distinção para ele importante não era entre esquerda e direita, mas antes entre política de vida e política de morte. Política de vida é hoje no Brasil a política ecológica sincera, a continuidade e aprofundamento das políticas de justiça racial e sexual, dos direitos trabalhistas, do investimento na saúde e na educação públicas, do respeito pelas terras demarcadas dos povos indígenas e da promulgação das demarcações pendentes.

Acima de tudo, é necessária uma transição gradual, mas firme da monocultura agrária e do extrativismo de recursos naturais para uma economia diversificada que permita o respeito por diferentes lógicas socioeconômicas e articulações virtuosas entre a economia capitalista e as economias camponesa, familiar, cooperativa, social-solidária, indígena, ribeirinha, quilombola que tanta vitalidade têm no Brasil.

(10) O estado de graça é curto. Não dura sequer cem dias (vide Gabriel Boric no Chile). O presidente Lula tem de fazer tudo para não perder o povo que o elegeu. A política simbólica é fundamental nos primeiros tempos. Uma sugestão: reponha de imediato as Conferências Nacionais para dar um sinal inequívoco de que há outra maneira mais democrática e mais participativa de fazer política.

23
Abr22

"Estamos assistindo ao fim da globalização"

Talis Andrade

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247 - O sociólogo português Boaventura Sousa Santos, em entrevista à TV 247, afirmou que o mundo assiste ao fim da globalização e que o Brasil “está no olho do furacão”.

“O Brasil, como é realmente um grande país, olha muitas vezes para dentro e não para fora. É muito importante olhar para fora nesse momento”, advertiu.

Ele salientou que o mundo caminha para ter dois grandes sistemas financeiros, sendo um lastreado pelos Estados Unidos e outro pela China. Apesar de ter uma proximidade com os estadunidenses, até mesmo geográfica, o Brasil, como integrantes dos Brics, têm relação forte com a China.

Desta forma, analisou o sociólogo, o Brasil é um país em disputa. “Nesse momento o Brasil está no olho do furacão. Fundamentalmente estamos assistindo ao fim da globalização como a gente a conhecia. Nitidamente caminhamos para dois sistemas financeiros paralelos, um elaborado pela China e outro pelos Estados Unidos. Acontece que o Brasil pertence aos Brics e, portanto, será um dos países que estará do outro lado do sistema financeiro. Ao mesmo tempo, está na América Latina, e agora já não é o pátio traseiro, mas é o jardim da frente dos Estados Unidos, como diz o Biden”.

 

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27
Fev22

China divulga lista de países bombardeados pelos EUA, que qualifica de 'a verdadeira ameaça ao mundo'

Talis Andrade

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"Entre os 248 conflitos armados ocorridos entre 1945 a 2001, 201 foram iniciados pelos EUA, representando 81% do número total", destacam os chineses

 

Sputnik - A embaixada da China na Rússia qualificou os Estados Unidos de "ameaça real ao mundo".

Neste sábado (26), os diplomatas chineses retuitaram uma imagem compartilhada anteriormente por Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, que enumera os países que foram bombardeados por Washington desde a Segunda Guerra Mundial.

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"Nunca se esqueçam quem é a verdadeira ameaça ao mundo", lê-se na imagem

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