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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

24
Jul23

Carol Cospe Fogo (1983-2023): veja 50 charges deste talento de BH

Talis Andrade

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BLOG DA KIKACASTRO

Para leitores pensantes.

Primeira mulher a receber o Troféu Angelo Agostini como melhor cartunista do Brasil, em 2019, Carol Andrade também era designer, e trabalhou em agências de publicidade como diretora de arte e ilustradora.

Apesar de também ser de BH e de trabalhar com muitos designers na minha vida de jornalista, eu não conhecia Carol Cospe Fogo pessoalmente. Era apenas mais uma dentre os milhares de fãs do trabalho dela, que eu acompanhava pelo Instagram (onde ela tinha mais de 15 mil seguidores) e Twitter.

Deixo, a seguir, algumas charges da Carol Cospe Fogo, que encontrei eu seu Instagram e Twitter, para que possam ser sempre reencontradas e espalhadas por aí. Vocês vão ver que a maioria é bastante politizada e crítica às atrocidades do (des)governo Bolsonaro. Ou seja, artes NECESSÁRIAS.

Fica sendo minha pequena homenagem à minha conterrânea, tão fera nas charges capazes de “cuspir fogo” em quem merece.

Clique sobre qualquer imagem para ver todas em tamanho maior

23
Dez21

Véio da Havan censura chargista Nando Motta

Talis Andrade

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Dono da Havan quer calar o chargista Nando Motta

 

De autoria do Grupo de Chargistas

 

Mais uma vez a imprensa e, destacadamente, os cartunistas brasileiros, são vítimas de um ataque antidemocrático e contrário à liberdade de expressão. Desta vez o autor da violência é o empresário Luciano Hang, proprietário da rede de lojas Havan, que abriu junto à Justiça de Santa Catarina processo contra o ilustrador Nando Motta por conta de uma charge publicada pelo artista no site Brasil 247. A ação cobra indenização de R$ 50 mil por danos morais e a retirada do desenho do ar. A charge criticava a postura pública de Luciano Hang mostrado como um personagem do cinema de terror.

Em 2020 o cartunista Renato Aroeira foi vítima de igual tentativa de intimidação por parte do Ministério da Justiça que pediu a abertura de inquérito para investigar uma de suas charges onde associava a atitude do presidente Jair Bolsonaro ao nazismo. Na ocasião o cartunista recebeu a solidariedade de centenas de desenhistas que, incentivado pelo grupo da Revista Pirralha organizou o movimento Charge Continuada que foi, inclusive, agraciado com o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos com uma categoria criada exclusivamente, o “Prêmio Destaque Vladimir Herzog Continuado”, que homenageou Aroeira e o movimento “Charge Continuada” com 109 chargistas que também inscreveram trabalhos relacionados ao movimento. (veja mais informações AQUI).

Ao tomar conhecimento da atitude de Luciano Hang o cartunista Aroeira se manifestou junto à revista PIRRALHA e propôs uma ação semelhante a da Charge Continuada para defender Nando Reis. A seguir seu depoimento:

Eles não aprendem. Não entendem.www.brasil247.com - { imgCaption }}

O Véio da Havan (aliás, mais novo que eu), o Luciano Hang, está processando o chargista Nando Motta. Por causa de uma piada… O que passa na cabeça de alguém que quer processar uma piada? Que quer proibir uma charge? Sim, passa exatamente isso que todo mundo pensou. O Nando não cometeu nenhum crime: apenas desenhou  – de maneira brilhante, como sempre –   o que ele viu. E o que ele viu foi o óbvio: Luciano Hang é um monstro. Um monstro terrível, um dos vários que estão aí à solta… Mas é ridículo. Um monstro muito ridículo. Tão ridículo que processa chargistas. Bem, Lulu… A má notícia é que somos muuuuuuitos. E a charge continuada… Continua. Agora pra assombrar você, Véi…

Renato Aroeira

Portanto, prestamos nossa solidariedade a Nando Motta, protestando contra a atitude arbitrária e intimidatória do empresário Luciano Hang e apoiando a proposta apresentada por Aroeira, Desta forma, conclamamos desenhistas a participarem de mais uma Charge Continuada.

A ideia por trás da chargeImage

A inspiração para a charge de Nando Motta veio de informações amplamente divulgadas pela imprensa e redes sociais onde ficava claro a postura negacionista de Luciano Hang diante da gravidade da pandemia da Covid-19. Além disso, Hang foi convocado a depor na CPI do Senado sobre a pandemia onde fez afirmações que deram margem a colocar em dúvida a seriedade do tratamento à que foi submetida sua própria mãe – vítima da Covid que veio a falecer (veja um resumo das declarações AQUI).

Luciano Hang é um dos maiores e prósperos empresários brasileiros. Frequentador assíduo do noticiário, sabidamente defende ideias conservadoras e é um dos maiores aliados e propagandistas do atual governo Bolsonaro. Como figura pública personalidade de destaque, suas ações estão sujeitas a questionamentos e críticas por parte de diversos agentes sociais – sejam jornalistas, políticos ou… cartunistas. Tal é a natureza de uma sociedade organizada democraticamente.

 

Ataques a liberdade de imprensa

 

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A Federação Nacional dos Jornalistas em seu Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2020 (último publicado) demonstra que em plena pandemia provocada pelo novo coronavírus foi registrada uma explosão de casos de violência que atingem a imprensa e os jornalistas. Foram 428 casos de ataques – incluindo dois assassinatos – o que representa um aumento de 105,77% em relação a 2019. (Veja o relatório AQUI).

 
 
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05
Dez21

Latuff: ‘existe um esforço para calar vozes que discutem a violência policial’

Talis Andrade
ImagemDeputado federal Heitor Freire (PSL-CE) acusou escola de apologia ao nazismo por causa de charge de Latuff

 

Trabalhos do chargista usados em escolas e em exposição no Congresso foram alvo de tentativas de censura, a mais recente ocorreu na semana da Consciência Negra. Artista afirma que violência do Estado não pode ser tratada como caso isolado

 

por Jeniffer Mendonça

O chargista e o ativista político Carlos Latuff coleciona situações em que seus trabalhos foram alvos de críticas e tentativas de censura ao serem aplicados em escolas. A mais recente ocorreu na semana da Consciência Negra, quando estudantes do Colégio Cívico-Militar Ced 1 da Estrutural do Distrito Federal produziram uma exposição sobre a data. Nos murais estavam charges de diversos artistas com críticas à violência policial.

A vice-diretora da escola disse ao site Metrópoles que o diretor de disciplina, um tenente da PM, pediu a retirada das obras, o que foi negado. Dias depois, o deputado federal Heitor Freire (PSL-CE) entrou na escola acusando os profissionais de corrupção de menores e apologia ao nazismo, já que uma das charges, de autoria de Latuff, mostra um policial com uma braçadeira com a suástica nazista assoprando uma vela com o número 20 num bolo escrito “novembro” e com um corpo de um jovem negro em cima.

Alunos do colégio cívico militar fizeram murais com obras de artistas como Carlos Latuff e Antonio Junião, diretor de arte da Ponte, para o Dia da Consciência Negra; deputado do PSL acusou professores de corrupção de menores e apologia ao nazismo.

08
Out21

Nani fez charges com a Velha Senhora

Talis Andrade

Chargista Nani critica a virtude de ser politicamente correto | Arte do  Artista | TV Brasil | Cultura

Nani Humor: PENA DE MORTE NO BRASIL

Charge – Angelo Rigon

AINDA ESPANTADO: A Charge do Dias - Solidariedade à morte

Nani Humor: Dr. Alzheimer

Nani Humor - Página inicial | Facebook

 

Nani é um dos maiores nomes do humor brasileiroNani é um dos maiores nomes do humor brasileiro

 

por Lê

Ei, você conhece essa pessoa aí da foto? O nome dele é Ernani Diniz Lucas, mais conhecido como Nani. Ele é um dos maiores cartunistas da história do país, com trabalhos publicados em jornais, revistas e na TV.

Os cartuns de Nani marcaram presença em diversos locais. Só para citar alguns: Última HoraJornal da GloboO DiaO PasquimEstado de MinasO PingenteDiário de Notícias,Tribuna da ImprensaO Cartoon e revista MAD.

Ao longo da carreira, foi reconhecido por autoridades do humor, no Brasil e no exterior. Entre seus prêmios, estão os dos salões do humor de Niterói, Piracicaba e Montreal.

Sabe de onde ele é? Esmeraldas, uma cidade que fica pertinho de Belo Horizonte. Sabe qual é sua idade? Bem, ele nasceu em 1951. Então, ele tem… ah, você faz as contas por aí.

Como Nani se tornou um dos maiores do cartum?

Nani é um defensor da independência do artista. Para ele, o humor não pode ser partidário. “Quando você faz humor dirigido, vira cartilha”, disse, em entrevista.

Pelo mesmo motivo, reconhece a irreverência no trabalho do chargista: “A gente vota um dia num candidato… Ele tomou posse, a gente tá fazendo charge contra no outro dia”, brinca.

Ele começou a carreira em 1971, fazendo charges para o jornal O Diário, de Belo Horizonte. A sua forma de humor ácido chamou a atenção de vários editores, inclusive de outros estados.

Com isso, se mudou para o Rio de Janeiro, cidade pela qual já era apaixonado. No Rio, fez parte de uma turma que só tinha “gente pequena”. Olha só: Henfil, Jaguar, Adail, Tarso de Castro, entre outros.

Desde que começou a desenhar, Nani sonhava em trabalhar nO Pasquim, que publicava as charges de seus ídolos. O que conseguiu, fazendo mais de 30 cartuns por dia no jornal (claro que a maior parte não era publicada).

É dele a tirinha Vereda Tropical, publicada em diversos jornais pelo Brasil. Criada na década de 1980, a tira satirizava a situação política e social brasileira da época e (infelizmente) permanece atual.

Livros de Nani para crianças e jovens

 

Além das charges, cartuns e tirinhas, Nani é roteirista de TV. Ele já escreveu para os programas Escolinha do Professor Raimundo,Casseta & PlanetaZorra Total e Sai de Baixo.

Aliás, seus desenhos já apareceram em forma animada nos plim plins dos filmes e séries da TV Globo. Entre seus livros, há títulos para o público adulto e infantil. Confira algumas obras infantojuvenis de Nani.

Abecedário hilário

Antologia de poemas leves e bem-humorados, seguindo a ordem alfabética. Cada trecho contém versos que começam com a mesma letra: “Yara, a sereia, dança no / YouTube o / Yê, yê, yê.” Já imaginou uma cena dessas?

A bruxinha do bem

Como seria o cotidiano de uma pequena bruxa que ainda está aprendendo a fazer feitiços? A bruxinha desse livro se empenha em desenvolver sua arte e, enquanto isso, sempre ajuda alguém e faz magia de mentirinha.

Feliz e orgulhoso, envaidecido mesmo

Coletânea com 32 contos curtos sobre vários assuntos. Claro, todos eles têm boas doses de humor, sagacidade e nonsense. Os desenhos dão sacadas interessantíssimas para os textos.

Gabriel da Conceição Bicicleta

Titã é um cachorro que não gosta da forma que se chama. Para seu novo nome, junta as palavras que mais ouve, o que explica o título esquisito do livro. Depois de tanto andar, ele se torna prefeito da Cidade dos Cachorros.

O espírito de porco

O espírito de porco adora atazanar o dia a dia das crianças e dos adultos. O texto é uma forma de incentivo ao leitor. Dessa forma, ele fica atento e não se deixar levar pelos conselhos absurdos do espírito de porco.

O que dizem as palavras

O livro apresenta a escrita como uma espécie de jogo, que estimula a imaginação e a criatividade do leitor. As palavras se transformam em cartuns, propondo uma brincadeira inteligente e carregada de sentidos.

Tem outra palavra na palavra

Esse é o livro mais recente de Nani, que sempre brinca com as palavras e convida o leitor a fazer o mesmo. Aqui, no entanto, a brincadeira vai além e mexe com as letras que compõem cada palavra.

Como você viu, Nani é um ícone do humor nacional, em suas diversas formas, produzindo conteúdo para todas as idades. Em seus livros infantojuvenis, traduz temas importantes com uma leveza que atrai jovens e crianças.

 
08
Out21

Cartunista Nani morre aos 70 anos vítima da Covid-19 em Belo Horizonte

Talis Andrade

Cartunista Nani morre em Belo Horizonte — Foto: Reprodução/TV Globo

 

 

por Carine Tavares, TV Globo — Belo Horizonte

O cartunista Nani, criador da tira Vereda Tropical, morreu nesta sexta-feira (8), em Belo Horizonte. Aos 70 anos, ele foi vítima da Covid-19, segundo informações da família.

Nani deixa dois filhos, Juliano e Danilo, uma neta, a Manuela, e a mulher, Inez.

Ainda não há informações sobre enterro e velório.

Mineiro de Esmeraldas, na Região Metropolitana, ele estava fazendo isolamento em sua cidade natal desde o início deste ano, quando se mudou do Rio, mas foi infectado pelo coronavírus.

De acordo com a família, Nani estava internado havia uma semana na capital mineira.

Nani fazia parte do grupo de risco para a Covid-19. Ele ficou conhecido na medicina brasileira por ter passado por três transplantes de fígado em apenas um mês.

A carreira

 

Nani ao lado de Chico Anysio, com quem trabalhou por 20 anos. — Foto: Arquivo pessoal

Nani ao lado de Chico Anysio, com quem trabalhou por 20 anos. — Foto: Arquivo pessoal

 

Conhecido em todo o país pelo apelido, Ernani Diniz Lucas nasceu em 27 de fevereiro de 1951. Aos 20 anos, começou a carreira em Belo Horizonte, publicando charges. Pouco depois, em 1973, mudou-se para o Rio de Janeiro.

Ao longo da trajetória profissional, colaborou com O Pasquim e foi chargista de O Globo. Também publicou em veículos como Jornal dos Sports, Última Hora e O Dia.

O cartunista de humor ficou conhecido por ser o criador da tirinha Vereda Tropical, publicada em diversos jornais pelo brasil na década de 1980. A tira satirizava a situação política e social brasileira da época.

O crachá de Nani na TV Globo. Ao relembrá-lo em um post recente no Instagram, ele escreveu: "Aqui meu crachá de Bozó", referindo-se ao personagem de Chico Anysio, com quem trabalhou por 20 anos. — Foto: Reprodução

O crachá de Nani na TV Globo. Ao relembrá-lo em um post recente no Instagram, ele escreveu: "Aqui meu crachá de Bozó", referindo-se ao personagem de Chico Anysio, com quem trabalhou por 20 anos. — Foto: Reprodução

 

Na TV Globo, Nani trabalhou ao lado de Chico Anysio como roteirista em Chico Total e Escolinha do Professor Raimundo (relembre os programas nos vídeos abaixo).

Ele também escreveu textos para os programas Casseta & Planeta, Sai de Baixo e no Zorra.

Ao longo da carreira, Nani foi reconhecido por autoridades do humor e reconhecido por premiações internacionais.

É ainda autor de diversos livros. Entre eles, estão “Batom na cueca”, “É grave, doutor?” e “Humor politicamente incorreto”.

Seu mais recente livro, "Tem outra palavra na palavra", foi lançado em 31 de agosto deste ano.O cartunista Nani — Foto: Arquivo pessoal

Segundo os amigos, era nos bares de Esmeraldas que ele se inspirava para os roteiros que escrevia para a Globo. Ao ouvir os amigos nos barzinhos, ele criava bordões que seriam usados, por exemplo, nos episódios com o Chico Anysio.

20
Ago21

As charges libertárias de Jota Camelo

Talis Andrade

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Victor Barone entrevista Jota Camelo

 

Um breve perfil profissional. Como você começou, por onde passou e onde está agora?

Comecei a fazer charges políticas no final de 2015, um ano antes do golpe de 2016. Nessa época, já percebia que a direita se organizava para derrubar o governo eleito democraticamente. Já percebia que um golpe de Estado seria o único recurso que a direita tinha para impor à população o projeto neoliberal derrotado nas urnas.

Com a forte polarização política que surgiu nessa época, decidi fazer charges diárias e permitir que qualquer veículo de comunicação as publicasse de graça. Por isso, criei uma conta no apoia.se para que eu pudesse me dedicar ao ativismo político, produzir charges diariamente e disponibilizá-las a todos que se interessassem em publicá-las.

 

Se inspirou em algum chargista?

Como comecei a estudar Artes Plásticas muito cedo, sempre tive um enorme interesse por qualquer tipo de arte visual, e a arte da charge sempre me interessou pela sua capacidade de síntese e de impacto. Admiro muitos chargistas, mas quando conheci o trabalho do Angeli, fiquei fortemente impressionado com a beleza do traço, com os personagens, com os temas escolhidos, com a composição do desenho, e principalmente com sua ousadia e sua maneira de ver a realidade. Considero o Angeli o maior cartunista ou chargista que o Brasil já teve. Ele é o Pelé da charge. E como todo jogador de futebol tem os mil gols como meta em sua carreira, eu tenho o Angeli como inspiração.

 

Qual o papel da charge em um jornalismo preocupado com a construção de uma sociedade mais plural?

Que me desculpem os/as grandes jornalistas, mas a charge tem um impacto muito mais forte do que mil discursos e análises. Isso porque o impacto visual de uma boa charge, ou uma boa fotografia, ou um bom quadro, atinge diretamente o sentimento humano. A arte em geral, seja a música, as artes visuais, o teatro, o cinema, o humor, tem uma força que convencimento e elucidação muito maior do que mil análises.

Talvez seja por isso que a imprensa em geral tem muito cuidado em publicar charges políticas. Muitos jornais as evitam completamente, pois sabem do impacto que elas têm. E quando publicam, são coisas muito amenas e bem comportadas.

Mas, toda vez que a imprensa decide apontar seus canhões contra um certo político ou um certo governo, contratam um bom chargista. E esse foi o caso do então presidente americano Richard Nixon e o chargista do The Post, Herblock. Dizem que Nixon tinha mais medo das charges de Herblock do que dos editoriais do The Post.

Ainda acho a imprensa brasileira muito tímida e até medrosa nesse aspecto. Enquanto a revista conservadora The New Yorker publica mais de 16 chargistas por edição, grandes jornais brasileiros publicam uma charge escondidinha lá no meio do jornal.

Ainda acho que a relutância da imprensa brasileira em dar ênfase aos chargistas tem dois motivos: falta de pessoal especializado que saiba escolher o que publicar, e receio do caráter explosivo e ácido que uma boa charge pode ter.

 

A charge é uma ferramenta carregada de “posicionamentos” que levam o leitor a refletir sobre determinado tema. Concorda com esta afirmação?

Sim, concordo, e vou além: todas as pessoas têm um posicionamento. Não existe neutralidade, ou imparcialidade, principalmente no jornalismo, pois ideologia é como sotaque: todos acham que não têm, mas têm. Por isso, não consigo imaginar um chargista sem posicionamento.

Todo tipo de arte leva as pessoas à reflexão, principalmente pelo seu caracter simbólico. No caso da charge, idéias às vezes muito complexas têm que ser apresentadas em apenas um quadro, ou em poucos quadros, o que faz da charge uma arte que exige muito poder de síntese. E essa síntese é conseguida pelo uso de símbolos, ou se quiser, metáforas visuais: um labirinto representa um problema difícil; uma ilha representa isolamento; um jogo de xadrez representa luta, e por aí vai.

A charge também usa recursos situacionais: qual seria a conversa entre dois bolsonaristas gays? O que Bolsonaro diz ao Moro quando ninguém está escutando? O que um pastor diria ao outro quando descobrem que morreram e foram parar no inferno? E por aí vai.

 

Como o “mito” da imparcialidade se coloca para a charge? É possível ser “imparcial” diante do fascismo, do totalitarismo, do preconceito por exemplo?

Como expliquei na pergunta anterior, não existe imparcialidade. Nem no jornalismo, nem na charge. Dizer-se imparcial diante do fascismo é o mesmo que validá-lo. Como diz um ditado alemão: se há dez pessoas numa mesa, e um nazista chega e toma assento, e ninguém se levanta em protesto, então há onze nazistas numa mesa.

No Brasil, criou-se o mito de que a notícia é imparcial, de que existem analistas imparciais. No entanto, o que temos visto na mídia burguesa (que jura ser imparcial) é um festival de ataques diários à esquerda, e uma predisposição para ocultar fatos indesejáveis, manipular e até mesmo mentir descaradamente. Isso acontece porque a grande imprensa não é nada mais do que a porta-voz da burguesia, e existe apenas para defender os interesses dessa classe. Nada mais que isso.

Acho uma bizarrice sem tamanho dizer-se chargista político imparcial. Política é luta de classes, e a luta de classes é como um jogo de futebol: seria surreal imaginar um jogador imparcial, que numa partida não se preocupa em saber de que lado deve marcar o gol. Por isso, me intitulo como "chargista de esquerda" para que todos saibam de que lado estou jogando.

 

Qual o papel das redes sociais na disseminação da charge?

As redes sociais, e a Internet em geral, mesmo sendo monitoradas e controladas pelo imperialismo americano, são importantíssimas para a democracia popular. Não só os chargistas podem mostrar seus trabalhos que jamais seriam aceitos pela mídia tradicional, mas também jornalistas independentes podem publicar suas reportagens e análises sem o controle ideológico que teriam caso trabalhassem para a mídia tradicional.

Hoje, as redes sociais se tornaram a grande arena onde realmente se discute os problemas políticos e econômicos do Brasil. E a mídia tradicional se tornou apenas uma voz apagada e maçante que reproduz a doutrina das elites financeiras. A mídia tradicional é hoje apenas um quadro monocromático, repetitivo e venal que pouco a pouco vai perdendo a credibilidade diante da população.

Muitos reclamam da explosão de fake news nas redes sociais, e estão certos de reclamarem disso. Mas, se esquecem que a mídia tradicional, antes do advento da Internet, sempre possuiu o monopólio das fake news, sempre manipulou, e até mesmo mentiu descaradamente em momentos cruciais da política brasileira.

Logo após o golpe de 2016, também houve uma explosão de charges nas redes sociais. Charges que tentavam esclarecer o momento político pelo qual o Brasil passava. Charges que jamais seriam publicadas pela mídia tradicional, mídia essa que estava intimamente ligada aos interesses golpistas. E como a charge tem um apelo popular muito forte, muitas delas ajudaram a quebrar o discurso hegemônico da mídia golpista.

 

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19
Ago21

Charges críticas de Gilmar despertam a esperança em um futuro melhor

Talis Andrade

Gilmar Machado no Twitter
 
Quase 85 milhões de pessoas no Brasil convivem, no mínimo, com a incerteza sobre o acesso a comida.Image
Carne, gasolina, luz... Tem muita gente assustada com os preços de itens básicos, que seguem crescendo. Enquanto isso, o presidente genocida segue em campanha eleitoral achando que vai se reeleger.
 
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Alexandre Garcia e Augusto Nunes. Não é burrice ou transtorno mental, é preço e cumplicidade.
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Val Gomes entrevista Gilmar Machado

O cartunista/chargista Gilmar Machado Barbosa acredita na força da arte, aliada à comunicação social, para fazer com que os leitores reflitam mais sobre a realidade e exerçam sua cidadania em busca dos direitos e da liberdade. Nesta entrevista à Rádio Peão Brasil, Gilmar fala também da necessidade de organização da categoria e da valorização dos cartuns e charges. “Não é hobby, é um trabalho que precisa ser respeitado e bem remunerado”.

 

Val Gomes Rádio Peão Brasil – O cenário atual para a classe trabalhadora e o movimento sindical é difícil e desafiador. Você busca em teus trabalhos refletir sobre este momento de que forma: com mais humor ou mais crítica?

Gilmar Machado – Certamente com menos humor. Se alguém rir com minhas charges recentes ficarei com um grande ponto de exclamação na cabeça. A situação é crítica, vivemos momentos de retrocesso e incertezas. Já fiz humor pelo humor. Hoje, diante da situação em que o País vive, faço charges críticas e reflexivas, retratando não só a dureza dos fatos, mas também um respiro de esperança. É o que estamos precisando no momento.

 

RPB – As entidades sindicais representativas e atuantes investem em departamentos de imprensa sindical, na produção de jornais, boletins, páginas na Internet e redes sociais. Nestes materiais, as charges, as ilustrações e os cartuns costumam tornar a leitura mais agradável. Por que este fenômeno ocorre? O que torna um desenho forte, expressivo e chamativo?

Gilmar – A charge, ilustração e a tirinha são muito objetivas e diretas pela forma gráfica. Faz uma ponte até o texto. Muitas vezes a charge por si só já passa a informação e, além disto, provoca o leitor a refletir e se indignar. É uma poderosa ferramenta de comunicação entre o Sindicato e trabalhador. O dirigente que tem esta visão e usa este trabalho certamente tem uma melhor comunicação com a sua base.

 

RPB – Além dos ataques aos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários da classe trabalhadora, há no País uma “onda” conservadora contrária aos avanços da democracia e à liberdade, inclusive artística. São realmente preocupantes estes sinais de autoritarismo e intolerância? O que devemos fazer para impedir os retrocessos?

Gilmar – Há uma artilharia pesada contra todos os avanços sociais e culturais. E as armas são estas mesmo: lutar, mobilizar e ir pra rua. Os movimentos sociais e culturais têm um papel fundamental nisto. Apesar de toda esta situação crítica, já não somos tão passivos, estamos aprendendo a ir pra rua e exigir o que nos é de direito.

 

RPB – Os chargistas e cartunistas são uma categoria unida e atuante ou precisam estar mais bem organizados?

Gilmar – É uma categoria que tem muita dificuldade de organização por conta da sua característica de trabalho muito isolada. Nosso trabalho é muito individual e solitário. Existem tentativas de organização como entidade, mas é muito frágil, sem sustentabilidade.

 

RPB – Quais as principais reivindicações de um chargista/cartunista no Brasil e em quais países a categoria está mais consolidada em direitos autorais e economicamente?

Gilmar – Eu vi muitos jornais e revistas morrerem, nossas principais fontes de trabalho. O mercado editorial impresso vive esta crise também por conta da metamorfose dos meios de comunicação. Estamos lutando para nos adequar e sobreviver às novas mídias virtuais e as reivindicações são as mesmas de sempre: reconhecimento profissional e remuneração decente. Muitos acham ainda que é um trabalho de hobby, que as imagens não têm direitos autorais, que aperta um botão e tá pronto, que porque está na Internet pode usar e alterar livremente, que apenas o crédito já é pagamento. Obviamente que na Europa, onde se tem uma valorização cultural muito maior, o trato com este tipo de profissional/artista é bem diferente.

 

RPB – Que trabalho atual teu você gostaria que os leitores vissem e por que ele é significativo?

Gilmar – Tenho explorado atualmente a figura da criança nas charges como forma de despertar a esperança e acreditarmos que um futuro melhor é possível.

Sobre Gilmar Machado

Gilmar Machado começou na imprensa sindical nos anos 1990 no Grande ABC, trabalhando nesta época para a maioria dos sindicatos. Depois migrou para a chamada “grande imprensa”, fazendo tiras diárias para o então Diário Popular. Faz charges e tiras para a Força Sindical e para o site Rádio Peão Brasil. Tem trabalhos publicados na Folha de S.Paulo, Diário de S.Paulo, Diário do Grande ABC, Jornal do Brasil, A Cidade, Tribuna de Vitória, Diário da Região, O Pasquim21, Jornal Vida Econômica de Portugal e Humor UOL e para as editoras FTD, Paulinas, Senac, Moderna, Abril e Globo.

É autor de livros de tiras/quadrinhos, entre eles: “Mistifório”, pela Editora Boitatá, com apoio cultural da Força Sindical e do Centro de Memória Sindical. Recebeu o prêmio HQ MIX de melhor cartunista brasileiro, e em 2006, conquistou o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

Acompanhe o trabalho do cartunista: Blog do Gilmar  Instagram Cartunista das Cavernas

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