Durante pregação na filial da Igreja Batista da Lagoinha nos EUA, pastor ainda associou casamento homoafetivo à sexualização de crianças. Em publicação nas redes sociais, Valadão disse que apenas citou um trecho bíblico de Gênesis
Por Rodrigo Salgado, g1
Durante pregação em um culto nos EUA, o pastor belo-horizontino André Valadão disse que, se pudesse, "Deus mataria" e "começava tudo de novo" em relação à comunidade LGBTQIA+. Em seguida, afirmou aos fiéis que "agora estava com eles" e que deveriam "ir para cima"
A fala aconteceu na filial da Igreja Batista da Lagoinha em Orlando, nos Estados Unidos, neste domingo (2). O trecho foi transmitido ao vivo pelas redes sociais.
"Aí Deus fala: 'não posso mais, já meti esse arco-íris aí, se eu pudesse eu matava tudo e começava tudo de novo. Mas já prometi pra mim mesmo que não posso, então agora tá com vocês'", disse André Valadão.
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou uma representação junto ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), estado onde a igreja de Valadão tem sede, após o mesmo pastor realizar um culto com o tema "Deus Odeia O Orgulho", realizado no início de junho.
A denúncia teve como base na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que equipara a homotransfobia ao racismo. O caso está sendo investigado pelo MPMG, que, depois disso, decidirá se vai denunciar ou não o pastor à Justiça.
Pelas redes sociais, a parlamentar informou que vai representar sobre o novo episódio envolvendo o pastor.
O senador Fabiano Contarato (PT-ES) afirmou que pretende "representar criminalmente para que ele responda por manipular a fé e incitar a violência".
O que repete André Valadão
No mesmo culto, o pastor também fala sobre casamento homoafetivo e chega a associá-lo à sexualização de crianças e ainda cita factóides, como que drag queens estariam em salas de aula ensinando sexualidade.
Procurados pelo g1, o pastor André Valadão e a Igreja Batista da Lagoinha não se manifestaram até a última atualização da reportagem.
Em publicação nas redes sociais no início da tarde desta segunda-feira (3), Valadão disse que citou um trecho bíblico de Gênesis, no Antigo Testamento, "quando Deus a partir do dilúvio destrói toda a humanidade pela promiscuidade sexual e libertinagem".
Completa, dizendo, que não diz sobre matar ou aniquilar pessoas, mas "levar o homem ao princípio da vontade de Deus".
Aumenta a pressão da classe política e do mercado sobre Roberto Campos Neto
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) criticou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta sexta-feira (23) após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), ligado ao BC, decidir na última quarta-feira (21) manter a Selic, taxa básica de juros,em 13,75%. "A autonomia do BC surgiu para que a independência fosse ampla, geral e irrestrita: da política, da mídia e do mercado. Obviamente a direção atual, ao manter os juros com inflação em queda, sabota o País. Tá na hora de mudar", disse o parlamentar.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viu a decisão do Banco Central como umaguerra declarada. A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann (PR),cobrou de senadoresa análise de uma proposta com o objetivo de dar a parlamentares a autonomia para tirar executivos da autoridade monetária.
Xico Sá, Roberta Garcia e Cesar Calejon conduzem o programa ao lado dos comentaristas Guga Noblat, Heloísa Villela e André Roncaglia. Reinaldo Azevedo denuncia golpistas “fofos”, militares e juros criminosos
Entre os destaques do dia e entrevistas, Luis Nassif recebeu o também jornalista Ricardo Antunes para falar sobre o Caso Serrambi, que completa 20 anos sem solução.
Em 2003, duas adolescentes de 16 anos, Maria Eduarda Dourado e Tarsila Gusmão, foram assassinadas depois de participarem de uma festa em uma casa na Praia de Serrambi, em Ipojuca, no litoral sul de Pernambuco.
O empresário Thiago Vieira Brennand, preso por denúncias de agressão, assédio sexual, estupros, lesão corporal, cárcere privado, ameaça a crianças e violência contra o próprio filho, é suspeito de, no mínimo, participar da festa e saber detalhes sobre o crime.
“Se a gente for parar para refazer os crimes e as confusões que Thiago Brennand se meteu aqui no Recife, você diz que é impossível que ele não esteja, pelo menos, sabendo de alguma coisa dessa história”, cravou Antunes.
Assista a entrevista com Ricardo Antunes na íntegra:
O jornalista Luis Nassif comenta com exclusividade o Caso Serrambi e os 20 anos de impunidade ao lado de Ricardo Antunes, jornalista e autor do blog responsável por uma investigação minuciosa sobre os fatos chocantes. Ricardo trará algumas novidades sobre o tema e falará da possibilidade de reabertura do caso, após a prisão de Thiago Brennand. Teria Brennand ligações com o crime esquecido pela grande mídia? Também no programa de hoje, o jornalista e escritor Cesar Calejon fala sobre o seu novo livro “Esfarrapados”, uma análise das desigualdades sociais no Brasil sob o conceito do “elitismo histórico-cultural”.
Quem é Thiago Brennand?
Filho do cofundador de uma rede médica no Recife, Thiago tem 42 anos e recebeu uma fortuna de R$ 300 milhões de herança antecipada do pai, que chegou até a registrar em cartório que “se algo acontecesse com ele, a culpa seria do Thiago”.
O herdeiro ganhou notoriedade depois de agredir uma modelo em uma academia em São Paulo, onde vive há anos. Após a repercussão do caso, outras vítimas tomaram coragem para denunciar Brennand, que soma pelo menos oito processos criminais, cinco deles com pedido de prisão preventiva.
Para evitar a prisão, o agressor fugiu para os Emirados Árabes, de onde foi extraditado na última semana. A notoriedade do caso reacendeu a suspeita de participação de Brennand no assassinato das adolescentes.
Misoginia
Agressões, chantagens, ameaças públicas, violência física e outra série de crimes cometidos por Thiago Brennand deixam claro o desprezo que sente pelas mulheres.
Antunes conta que as vítimas de Serrambi apresentavam marcas de tiros no hímen, além de uma delas ter sido efetivamente estuprada, característica e agressividade que não batem como perfil dos kombeiros Marcelo José de Lira e Valfrido Lira da Silva, que responderam pelo crime, mas foram inocentados pelo júri popular.
Já o álibi criado por Brennand é dizer que estava em um intercâmbio na época do crime. “Mas não há nenhuma prova, foto, documento de que ele estava fora, ainda que a família tivesse uma casa em Londres”, continua o jornalista.
Antunes afirma ainda que 90% de Pernambuco acredita no envolvimento de Brennand no Caso Serrambi e 80% creem que os kombeiros foram vítimas de uma armação.
Caso que envolve o nome do empresário Thiago Antonio Brennand Fernandes Vieira, de 42 anos, que agrediu uma mulher dentro de uma academia, em São Paulo (SP), ganha novos capítulos. As denúncias contra ele continuam. Jornalista especialista do caso, Ricardo Antunes desnuda o lado obscuro de Brennand, com áudios e revelações bombásticas.
O atual mandatário sequer perdeu intenções de voto junto à população nacional, segundo o Ipec. Esse é o fato mais estarrecedor
por Cesar Calejon
- - -
O mais recente resultado da pesquisa Ipec, que apontou uma estabilidade nas intenções de voto entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva por uma diferença de 8% a favor do petista (54% x 46%), demonstra o atual estágio da degradação sociopolítica que acomete o Brasil desde as Jornadas de Junho de 2013, mas, sobretudo, a partir do golpe jurídico, midiático e parlamentar que foi orquestrado contra Dilma Rousseff, em 2016.
Na última semana, Bolsonaro afirmou, textualmente, que “pintou um clima” entre ele e meninas, “(...) três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade”, o que caracteriza uma fala pedófila e preconceituosa por parte do presidente da República da segunda maior democracia das Américas e de uma das maiores nações do planeta.
Além do repulsivo aspecto de cunho sexual, a fala de Bolsonaro salienta outro caráter que basicamente não foi explorado pela imprensa nos últimos dias: meninas pobres não podem ser bonitas e arrumadas em suas comunidades sem que pese contra elas a suspeita iminente de que estão se prostituindo. Imagine se Bolsonaro faria essa mesma colocação ao ver crianças com a mesma idade em bairros nobres das principais capitais brasileiras, por exemplo.
Sob outras circunstâncias, quando a vida social do país não se encontrava em franco processo de ascensão de uma espécie de modelo teocrático miliciano nazifascista, tal declaração bastaria para encerrar não somente o mandato do presidente, mas toda a sua carreira parlamentar e vida pública, de forma mais ampla.
“Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, se eu não me engano, em um sábado de moto [...] parei a moto em uma esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas(...). Três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na sua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida”, disse Bolsonaro.
Contudo, no Brasil, em 2022, o atual mandatário sequer perdeu intenções de voto junto à população nacional, segundo o Ipec. Esse é o fato mais estarrecedor, porque, em boa medida, o mau-caratismo e a falta de limites de Jair Bolsonaro já são bem conhecidos, mas, o que passa a ser amplamente compreendido nesse momento é o alinhamento irrestrito que dezenas de milhões de pessoas, em sua maioria pais e mães de crianças que têm as mesmas idades das meninas às quais Bolsonaro se referiu dizendo que “pintou um clima”, com uma proposta sociopolítica degradante e abjeta, que seria inconcebível há apenas alguns anos.
Infelizmente, consumidos pela propaganda midiática que caracterizou o Partido dos Trabalhadores como uma “quadrilha” e Lula como o seu “chefe”, parte dos brasileiros mergulharam em uma espécie de transe que os faz relevar todo e qualquer desvio de conduta moral, ética, política e social, ainda que as vítimas sejam crianças e que o ataque tenha o repugnante aspecto sexual avançado por Bolsonaro.
Fundamentalmente, a votação do próximo dia 30, para muito além de decidir o futuro presidente da República, determinará se esse projeto de país será ainda mais aprofundado ou se seremos capazes de reiniciar um processo de reconstrução nacional com vistas à superação do bolsonarismo.
Amor é uma palavra onipresente em nossa sociedade. É um dos instrumentos mais poderosos do marketing atual. Amor vende quase qualquer produto. Mas por isso mesmo é importante saber o que ele quer dizer. Os estudiosos se dividem entre os que sustentam a existência de um “verdadeiro amor” e os que aceitam que haja vários tipos dele. A primeira distinção talvez seja entre um amor erótico, predatório no limite, e um amor dedicado, que no seu limite é doação, é o amor materno pelo filho. Não por acaso, nesta bela troca de cartas, tanto Juliana Monteiro quanto Jamil Chade falam da experiência que tiveram ao nascerem seus filhos.
Juliana tece uma oposição entre maternidade e guerra. Vingar, diz ela, para uma mãe, é ver seu rebento vingar, como dizemos de uma planta: é consolidar-se como ser vivo. (É muito diferente, praticamente o oposto, de vingar-se). Mães temem, por dias ou meses, talvez anos, que algo de ruim suceda a seu filho. Felizmente, acrescento eu, a mortalidade infantil despencou no último século, mercê especialmente da saúde pública, da água potável e do tratamento dos esgotos. A morte de crianças caiu, por milhar de nascimentos, de três dígitos para apenas um.
Pais não precisam mais ter inúmeros filhos para que sobrevivam um ou dois que, por sua vez, os amparem na velhice. Jamil fala do receio que teve, ao nascer seu filho Pol, de perdê-lo. Lembrei-me de Montaigne contando que teve “dois ou três” filhos que morreram em tenra infância. Comentando essa passagem, o historiador Philippe Ariès observa: qual pai, hoje em dia, não saberia se foram duas ou três as crianças que morreram na idade de 1 ou 2 anos? Haveria uma frieza maior naquela época ou simplesmente era tão comum a mortalidade infantil que já era aguardada a perda, e a memória se adaptava a ela?
Usualmente, quando falamos em amor, a tendência é distingui-lo da paixão. As definições clássicas de amor o identificam a querer o bem da pessoa amada – o que tem tudo a ver com o amor aos filhos, que antes mencionei. Mas o sentido usual de amor, na cultura atual, como a telenovela e a canção popular, está mais próximo do desejo sexual. Ora, este almeja o bem do amante mais que o da pessoa amada (ou desejada). Crimes passionais são justamente isso: se ela não vai ser minha, que morra.
Minha primeira orientadora, dona Gilda de Mello e Souza, se indignou quando Doca Street assassinou Ângela Diniz no final de 1976. E me disse algo assim: crime passional é uma farsa; para acreditar que um homem não possa viver sem a pessoa que ele diz amar, a lógica seria que ele se matasse. Matá-la e sobreviver mostra muito bem que esse suposto amor era mentira. Não era o querer bem ao outro, mas o desejo de dominá-lo.
Ora, somos inundados por uma mídia que apresenta o amor como sendo desejo, como sendo sexo. (Por isso mesmo tenho insistido em que, se é preciso termos educação sexual nas famílias e nas escolas – até para evitar a gravidez indesejada, o abuso sexual e a transmissão de doenças, inclusive fatais –, faz tanta ou mais falta educar para o amor).
Falar de amor num tempo de ódio é prioritário, como dizem de vários modos nossos dois autores. Vivemos, entre 1980 e 2010, trinta anos gloriosos – não como os após a Segunda Guerra Mundial, cuja glória esteve no desenvolvimento econômico dos países mais ricos e na formatação de um Estado do bem-estar social, mas como os do combate à fome e do avanço da democracia nos países mais pobres, entre eles o Brasil. Saímos, em 2013, do Mapa da Fome, ao qual lamentavelmente voltamos nos governos seguintes. Parecia vitoriosa a luta pela democracia. Poderíamos imaginar a grande regressão que depois veio? Poderíamos acreditar que pessoas queridas, até parentes nossos, viriam a apoiar governos que querem a morte de tantas pessoas, inclusive de seus consanguíneos ou amigos de infância?
Não por acaso, Juliana e Jamil insistem no papel democrático do amor e das paixões a ele correlatas, como a amizade. Lembro uma passagem de Jorge Luis Borges, quando evoca a homenagem de um guerreiro medieval ao inimigo morto. Lembro também uma observação atribuída a Margaret Mead, que data a humanidade (no sentido figurado e não como espécie, como qualidade ética) do osso humano que se recompôs de uma fratura: foi preciso haver quem cuidasse do ferido, quem o amparasse, até ele cicatrizar-se do machucado.
Noto que, nos últimos meses, me deparei várias vezes com essa referência ao comentário, genuíno ou não, da grande antropóloga. Quer dizer que cresce a esperança na ideia de que a humanidade, enquanto espécie humana, tenha a possibilidade de recuperar a humanidade enquanto sentimento de compaixão e prática de cooperação.
Ou lembremos a questão da ética do cuidado, levantada umas décadas atrás por Carol Gilligan. Ela parte de uma experiência proposta por seu mestre Kohlberg sobre o desenvolvimento moral da criança. Kohlberg colocava cada criança diante de um problema: a mãe dela estava à beira da morte, dependia de um remédio caríssimo para se curar, e o farmacêutico se recusava a dá-lo a ela. O que fazer então? Assim posta a questão, ela praticamente determina uma resposta ao modo de Antígona: a ética exige quebrar a lei. Dessa maneira respondiam os meninos, mas não as meninas, que insistiam em tentar persuadir o farmacêutico. Kohlberg disso inferiu uma deficiência das meninas na compreensão do problema – e do que ele chamou de ética da justiça –, mas Gilligan o contestou. O que elas expressariam seria uma ética do cuidado, um conjunto de valores em torno da convicção de que seria possível uma solução pelo acordo, não pelo confronto, não pelo corte (lembrando que decisão contém cisão, corte, no seu âmago). O modo masculino de ver as coisas seria incisivo, cortante; o feminino seria englobante, includente.
Ora, o avanço do papel das mulheres na sociedade atual não será sinal do que podemos chamar uma feminização crescente de nossa cultura? Notem que, ao contrário do que algumas autoras criticaram em Gilligan, nada disso supõe predicar uma essência masculina ou feminina, uma natureza belicosa do homem ou compassiva da mulher. Podemos seguir sua intuição entendendo-a como uma simples referência a papéis construídos ao longo dos milênios e que foram identificados a dois suportes diferentes, um o dos cromossomos XX e outro dos XY, mas podem estar presentes em homens e mulheres.
Se recuarmos no tempo, veremos que na sociedade medieval as mulheres, ou o feminino, desempenharam papel importante na adoção de costumes mais cuidadosos e respeitosos, processo que Norbert Elias chamou de “civilizar os costumes”. Foi a presença delas que levou, por exemplo, às maneiras modernas, como não cuspir na mesa (ou à mesa), não tomar a sopa diretamente da sopeira, não assoar o nariz sobre os pratos em que se servia o alimento. Esses cuidados, que hoje às vezes são associados, retroativamente, a intuitos higiênicos, na verdade se originaram de formas de respeito. Era respeitoso em relação ao outro, e em especial à mulher, abster-se de práticas que suscitassem o incômodo ou, mesmo, o asco.
A mulher era o outro por excelência. Pretendia-se agradá-la, conquistá-la: por isso, aqueles machões medievais, comparáveis a fazendeiros grosseiros de um Brasil que felizmente foi desaparecendo, a um Paulo Honório como o que Graciliano Ramos coloca em cena no seu São Bernardo, adotam modos que eles imaginam causar prazer às mulheres, e que seriam os delas. Por isso, faz sentido pensar aqui no amor materno: o amor que Juliana e Jamil dedicam ao Brasil é um amor de mãe.
É nosso país um filho? Todo país o é. Nenhum país é uma essência prévia a seus cidadãos. Toda pátria, ou mátria se assim preferirmos, é uma criação constante do afeto. Em português, chamamos de criança a pessoinha que estamos criando. Criar, em nossa língua, não é um ato fulgurante, instantâneo, como a criação divina do mundo a partir do nada, na versão judaico-cristã. É um trabalho longo, com muito afeto investido, que dura dez anos ou mais. Até pouco tempo atrás, por sinal, era uma tarefa da mãe, mais que do pai. E não é fortuito que o ódio que nestes últimos anos tomou conta de nosso país, e de tantos outros, nas mãos da extrema direita tenha tanto a ver com um retorno furioso do machismo.
Há homens que se sentem estranhos, perdidos num mundo em que perderam os privilégios que tinham por tão só haverem nascido num determinado sexo, classe, orientação sexual: e com o declínio da democracia desde a crise econômica iniciada em 2008, eles se consideraram autorizados a vingarem-se daqueles que se atreveram a se colocarem como seus iguais, pior que isso, a pensarem que podiam lhes ensinar algo novo e diferente.
Mas é esse o caminho do futuro, o dos diferentes, do “outro por excelência”, como foi a mulher por milhares de anos: e por isso Juliana e Jamil, querendo ambos devolver amor a um país que foi pilhado pelo ódio, escrevem ao Brasil (e sobre o Brasil) a partir da alteridade europeia, mas com um coração de quem se dirige a uma criança amada.
Referência
Jamil Chade & Juliana Monteiro.Ao Brasil, com amor. Belo Horizonte, Autêntica, 2022, 136 págs.
A polícia cercou a casa do arruaceiro, que se negou a descer do primeiro andar, e do alto de alguma patente militar desacatou a soldadesca paralisada
Nesta sexta-feira (23), um homem ameaçou pessoas que estavam fazendo campanha para o Partido dos Trabalhadores (PT) nas ruas de Montes Claros, em Minas Gerais.
Segundo relatos, ele apontou uma arma para cima enquanto mostrava o pênis para mulheres que trabalhavam na panfletagem no Bairro São Geraldo, Minas Gerais, quando os militantes passaram por sua rua em frente à sua casa.
A Polícia Militar (PM) foi acionada e afirma que a ocorrência ainda está acontecendo e, por enquanto, não divulgará mais informações.
A esposa do homem saiu para conversar com os policiais, enquanto ele ficou em casa, e vestia uma camisa do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL).
O morador disse que “não aceita a campanha do PT” em sua rua. Segundo outros moradores, ele tem costume de ameaçar os vizinhos.
Passou o dia 23, 24, 25, 26, 27, e hoje 28, a polícia de Romeu Zema continua muda. Um disciplinado e recatado silêncio, depois que o arruaceiro afirmou que era imbrochável.
Mulheres que promoviam panfletagem, e passantes, não conseguiram ver a bananinha do pm.
Em participação ao programa TVGGN 20 Horas na noite de quarta (3), o jornalista, escritor e pesquisador da extrema-direita Cesar Calejon disse que ainda não vê crescimento de Jair Bolsonaro nas pesquisas com a distribuição turbinada do Auxílio Brasil, a ser paga a partir de agosto para 20,2 milhões de brasileiros.
Segundo a nova pesquisa Genial/Quaest, o anúncio do benefício majorado reduziu a intenção de voto em Lula em 10 pontos percentuais entre os que recebem o Auxílio Brasil.
No placar geral, Lula segue liderando com 44% contra 32% de Bolsonaro e tem chances de vencer no primeiro turno. Ambos oscilaram dentro da margem de erro, mas a distância de 12 pontos percentuais é a menor da série histórica. Além disso, a rejeição ao governo Bolsonaro está caindo lentamente.
Na análise de Calejon, o aumento do Auxílio Brasil e a PEC Kamizake podem não ser suficientes para Bolsonaro conseguir virar o jogo sobre Lula. Desesperado, o bolsonarismo pode recorrer a estratégias desonestas e perigosas para tentar reverter a derrota iminente.
Novo Riocentro
Com eventual derrota nas urnas em outubro, Calejon acredita não ser provável que “o bolsonarismo passe a faixa presidencial”. Ainda, ele vê a possibilidade de um autogolpe nos próximos dois meses, à medida que a campanha de Bolsonaro “desaba”.
Envolve em algum nível as Forças Armadas brasileiras. Existe materialidade histórica. Desde Plano Cohen, tanto por 1964, passando pela própria Lava Jato (golpe eleitoral de 2018), Riocentro, o caso do Abílio Diniz, que foi usado para minar a candidatura do Lula (em 1989).
Riocentro foi um atentado praticado pela Ditadura Militar em 1981, com objetivo de incriminar grupos de esquerda. Já o Plano Cohen foi um documento forjado por Getúlio Vargas para instaurar a Ditadura do Estado Novo, em 1937.