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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

03
Jun23

Só existe jornalismo porque existem jornalistas

Talis Andrade

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Cada redação tem suas particularidades, mas há sempre um ponto em comum: todas precisam de força de trabalho humana. Foto: Jürg Vollmer / maiak.info

 

Criticar o jornalismo é fácil, difícil mesmo é repensar as estruturas e rotinas que o fazem ser o que é

 

por Natália Huf

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Dia desses, me deparei com um texto que começa muito divertido, mas logo descamba para a tristeza inevitável que vem quando penso sobre o mercado de trabalho atual do jornalismo — tema que me pareceu de bom tom aproveitar hoje, no Dia do Trabalhador. Intitulado So you wanna be a journalist? (Então você quer ser jornalista?), o ensaio foi publicado, em 2018, na Columbia Journalism Review pelo editor-chefe da publicação, Kyle Pope. Assim como Pope em seu texto, também fiquei lembrando as razões pelas quais decidi, com dez anos de idade, que ia ser jornalista. Gostava muito da ideia de viajar pelo mundo, como fez Glória Maria, conhecer outras culturas, experimentar comidas diferentes. Tudo parecia muito glamoroso e divertido.

Talvez, hoje, o cenário não seja mais o mesmo, com toda a fragmentação da mídia; mas, quando eu era criança — e muitos dos meus colegas da época de graduação também —, a imagem que tínhamos do que significava ser um jornalista era o que nós víamos na televisão, especialmente em programas semanais como o Fantástico ou o Globo Repórter. Não que os jornalistas não façam coisas incríveis de vez em quando, mas, aos poucos, nós descobrimos que a prática é muito diferente.

Os anos de faculdade e o primeiro emprego em uma redação de um jornal diário que estava migrando para uma política “digital first” mostraram que a rotina não é bem o que se imagina quando não se trabalha com jornalismo. Os filmes e séries também enfeitam muito a profissão: os de teor mais investigativo transformam o jornalista quase em super-herói, e as comédias românticas, muito povoadas por jovens repórteres de revistas de moda, fazem parecer que o dia a dia é apenas ver desfiles em passarelas e entrevistar grandes estilistas. Claro, acreditar que isso é a realidade é muito ingênuo — mas diga isso para uma adolescente que botou na cabeça que iria ser jornalista?!

Brincadeiras à parte, chego ao primeiro ponto deste texto: a rotina de trabalho. No último 7 de abril, comemoramos (comemoramos?) o Dia do Jornalista e uma amiga minha, também jornalista, pontuou em seu Twitter um detalhe que achei bastante curioso: enquanto colegas que atuam em redações impressas e/ou online compartilhavam postagens de perfis como o da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), exigindo direitos e condições de trabalho, muitos dos que atuam em televisão traziam imagens de si mesmos com atores de Hollywood, globais, cantores e personalidades que entrevistaram. De forma alguma isso é um ataque aos colegas do audiovisual; é apenas algo que me chamou a atenção para o quanto a profissão, mesmo que precarizada, ainda carrega, em certos aspectos, um ar de glamour que não condiz com a rotina da maioria dos profissionais.

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Publicação no Instagram da FENAJ no Dia do Jornalista. Foto: FENAJ / Instagram.

 

Segundo dados da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), os ataques contra jornalistas cresceram 23% em 2022: foram 557 episódios, dos quais 145 apresentaram traços explícitos de violência de gênero e/ou vitimaram mulheres jornalistas. Casos em que houve agressão física, intimidação, ameaças e/ou destruição de equipamentos somam 31,2% do total, o que representa um crescimento de 102,3% em relação ao ano anterior. Esse outro lado da profissão está muito bem registrado no dossiê Ataques ao Jornalismo e ao seu Direito à Informação, publicado em 2022 por nós, do objETHOS, em parceria com a FENAJ: uma profissão que, em muitos casos, é vista com “lentes cor de rosa”, vem se tornando cada vez mais uma atividade de risco, com crescente sensação de insegurança e casos de violência verbal, física, de gênero, entre outras.

Além disso, como mostra a pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro, é uma profissão que paga pouco: mesmo com formação elevada — muitos profissionais possuem graduação (42,3%), que não é exigida no Brasil para atuar na área, e também especialização (28,6%) ou  mestrado (14,7%) —, a renda mensal de 60% dos entrevistados para a edição de 2021 da pesquisa é inferior a R$ 5,5 mil por mês, e apenas 12% recebem acima de R$ 11 mil. O levantamento mostra também que a precarização é uma crescente: em comparação com a edição anterior, de 2012, o volume de vínculos CLT caiu de 60% para 45,8%, e vínculos trabalhistas do tipo freelancer, MEI, PJ e prestação se serviços sem contrato chegam a 24%.

Outro aspecto abordado pela pesquisa é a saúde mental dos profissionais: 66,2% se sentem estressados no trabalho, 34,1% já foram diagnosticados com estresse, 31,4% receberam a indicação para tomar medicamentos antidepressivos e 20,1% já receberam o diagnóstico de algum transtorno mental relacionado ao trabalho. Não por coincidência, 71,5% trabalham mais horas do que o definido por contrato e 55,8% não sentem que seus esforços são reconhecidos.

Todos esses dados sobre o cenário brasileiro não mostram nada muito diferente do que Pope escreveu em 2018 sobre o mercado de trabalho do jornalismo nos Estados Unidos: “Salários terríveis para repórteres, escassez de empregos e até mesmo um estigma social em alguns círculos que filtraram o negócio a tal ponto que a maioria dos jornalistas que conheço – e especialmente os jovens que tentam entrar no campo – estão aqui porque querem desesperadamente estar aqui e não conseguem se imaginar em outro lugar. Eles estão exatamente onde eu estava, quatro décadas atrás” (tradução minha).

Esse é um tema que o pesquisador Dairan Paul abordou muito bem em seu texto “O custo emocional de ser jornalista”, publicado neste site no ano passado: “É como uma compensação moral – o trabalho, mesmo que realizado em meio ao caos, ainda seria nobre por excelência, remetendo ao velho romantismo da profissão. O problema é que o amor pelo jornalismo tem prazo de validade: quando as contas não fecham, não há paixão que resista”.

Salários baixos, longas horas, ausência de um Conselho Federal que cobre a responsabilidade dos profissionais quando não cumprirem com a ética – tema tratado pela pesquisadora Raphaelle Batista, também neste site e também em 2022 –, redução nas equipes, jornalistas multifunção, mas nunca “multi salários”, como diz o professor Samuel Lima, coordenador do objETHOS, nas nossas aulas de Teoria do Jornalismo… tudo isso impacta no trabalho dos jornalistas e, consequentemente, na qualidade do produto final. Digo “produto” pois, no sistema capitalista, as notícias são um produto que as organizações jornalísticas querem vender. Em um mundo cada vez mais orientado ao digital first, a obrigação do furo, muitas vezes, faz com que se publiquem informações incompletas, mal apuradas, reproduções de falas de fontes oficiais. Um jornalismo declaratório, sem construção crítica, é fruto também da precarização da profissão, da correria das redações, da falta de tempo para que se trabalhe com qualidade.

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Jornalistas foram confinados ao “cercadinho” no Palácio da Alvorada, e condições insustentáveis levaram organizações a suspender a cobertura por falta de segurança. Foto: Abraji

 

Como escreve o pesquisador Dennis Ruellan no artigo “Um ser profissional ou como percebê-lo”, publicado em 2017 no periódico Brazilian Journalism Review, um jornalista não existe sozinho: “Ele existe por meio de suas relações, com seus colegas e patrões, com suas fontes, com os receptores de seu veículo. Ele existe também pela cultura (os valores, as normas, as rotinas) que lhe foi prescrita durante sua formação e ao longo de sua vida como trabalhador (DUBAR, 1991). Essa cultura é também adquirida, pois o jornalista trabalha em sua fabricação, ele a constrói junto com os demais”. O cotidiano de trabalho atravessa o profissional assim como suas próprias subjetividades e bagagens pessoais. O mimetismo, já diziam Charron e de Bonville, no livro Natureza e Transformação do Jornalismo (2016), é uma das principais formas pelas quais um “foca” aprende a se portar como jornalista. E com quem os novatos e recém-formados vão aprender se as empresas mandam embora profissionais com anos de casa, como fez a Globo no mês passado?

Em condições precárias de trabalho, não são só a saúde física e mental dos profissionais que estão em jogo. A credibilidade dos veículos, bem como a confiança que o público deposita neles, também acabam sendo diretamente impactadas. Este primeiro de maio, Dia do Trabalhador, é um momento oportuno para pensar sobre o custo emocional que a profissão nos cobra, mas também o que ele causa. Existe algum glamour em ser maltratado por um chefe de Estado, em ganhar pouco, em trabalhar muito além do contratado? Por acaso é bonito precisar publicar notícia pela metade, pois não há tempo para verificar a informação com o cuidado necessário? E transformar um título em um mero clickbait para tentar “domar” o algoritmo e angariar algumas migalhas de visualização nas redes sociais, será que algum profissional sério acha isso uma boa ideia? Quando jornalistas são alocados em cercadinhos, quando recebem ataques de todos os lados por simplesmente estarem tentando fazer seu trabalho, fica muito, muito difícil fazer jornalismo de qualidade.

Dizer que é preciso repensar estruturas, redefinir procedimentos padrão e modificar rotinas de trabalho pode ser chover no molhado. Claro, é difícil encontrar respostas para questões tão profundas, mas é urgente que as organizações jornalísticas compreendam que, sem seus profissionais, elas não são capazes de fazer jornalismo. Podem colocar no ar ou nas ruas algo que se parece com jornalismo, tem cara de notícia, mas, em essência, não o é. E, quando algo que parece notícia, mas não é, começa a circular… os últimos anos já mostraram o tamanho do problema que se apresenta às sociedades que se pretendem democráticas.

 

26
Mar23

Moro faz politicagem da pior espécie com caso do PCC

Talis Andrade
Posts de Bolsonaro com pornografia e 'golden shower' repercutem na imprensa  internacional | Mundo | G1
 
 
 

Finada Lava Jato esquece a pornofia diária de Bolsonaro e faz zoada para abafar o testemunho de Tacla Duran amanhã

 

Todo profano dia de fala de Bolsonaro no cercadinho do Palácio do Planalto, quando reunia o rebanho, o presidente capitão contava mentiras e baixarias, e a grande imprensa dava uma de surda. Veja seletas (vídeos abaixo) de frases de corar frades de pedra e virgens de hímen rompido. Com os pornôs de Bolsonaro, bentos nas igrejas evangélicas, pela irmã Michelle Bolsonaro despida de joias, jornais e tvs criavam alardes e manchetes. Os discursos e sermões louvando o golpe, e esmagando imaginários comunistas mais perigosos que a corte - disse o papa Francisco = do "diabo que se finge 'educado' e até toca a campainha apresentando-se como amigo, a ponto que o tens em casa sem te aperceberes do mal".

 
 
Posts de Bolsonaro com pornografia e 'golden shower' repercutem na imprensa  internacional | Mundo | G1

 

O juiz Eduardo Appio, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, intimou o advogado Rodrigo Tacla Duran para prestar depoimento nesta segunda-feira (27), por meio de videoconferência.

Nos últimos anos, o advogado espanhol denunciou os pedidos de cerca de cinco milhões de dólares em propina do advogado Carlos Zucolotto Junior, amigo íntimo do casal Moro, para ajudá-lo em processos da Lava Jato. 

Além disso, Duran admitiu, às autoridades da Suíça, que fez pagamento ao advogado Marlus Arns, que já foi “sócio” de Rosângela Moro e Zucolotto para “não ser preso”. 

A intimação ocorreu após o juiz Appio revogar a ordem de prisão preventiva de Duran, em que derrubou uma ordem judicial de prisão expedida contra o advogado por Moro. 

O Jornalista Chico Alves, colunista do UOL, escreve:

O presidente Lula deu nos últimos dias ao senador Sergio Moro (União-PR) todas as condições de terminar a semana como vencedor da disputa pessoal que os dois travam na política. Primeiro, pelo desabafo feito durante entrevista admitindo que, quando estava preso, tinha vontade de "foder" o então magistrado. Mas principalmente por chamar de "armação" o plano do PCC para matar ou sequestrar Moro, descoberto pela Polícia Federal, subordinada ao seu ministro da Justiça e Segurança Pública.

Como a coluna registrou, ao fazer acusação sem provas contra o senador — duvidando indiretamente da PF —, Lula marcou um dos maiores gols contra de toda sua trajetória política. Deu a deixa para Moro atacá-lo e fez dele vítima em dose dupla, tanto da ameaça do crime organizado quanto da leviandade de sua suspeita desprovida de base.

Desde a fala sobre "armação", Lula vem recebendo todo tipo de críticas, que vão das justificadas até aquelas exageradas, que comparam sua declaração com os piores momentos do bolsonarismo — como se as baixarias de Jair Bolsonaro e seus asseclas não fossem resultado de uma gigantesca e permanente estratégia de destruir reputações, algo muito diferente de uma rara fala condenável em que Lula usou o fígado para tratar de seu desafeto.

Nos últimos dias, por causa da incontinência verbal do petista, o lavajatismo saiu do túmulo e se juntou ao bolsonarismo para desancar o presidente.

O jogo estava bastante desfavorável para Lula. Até que ontem Sergio Moro jogou contra o patrimônio: também marcou um gol contra memorável.

Por conta da divulgação de que uma das contas de email investigadas entre as várias que serviram de ponto de partida para desbaratar o plano do PCC tinha o endereço lulalivre1063@icould.com, o senador jogou nas suas redes sociais uma suspeição irresponsável.

"Gostaria de entender por que um dos criminosos do PCC, investigado no plano de sequestro e assassinato, utilizava como endereço de email lulalivre1063?", questionou.

A acusação indireta de parceria entre PT e tráfico foi endossada por Deltan Dallagnol, fiel escudeiro de Moro — que, de quebra, requentou a lorota bolsonarista sobre a ida de Flávio Dino à favela da Maré:

"Finja surpresa: membro do PCC usava email 'lulalivre'. Em áudio que divulguei dia 22, PCC reclamou de Moro porque com ele não tinha conversa, enquanto com o PT tinha. Não surpreende também que o Ministro da Justiça de Lula entre livremente em área dominada pelo crime organizado", acusou Deltan.

A própria polícia explica que os integrantes do PCC usavam emails de terceiros para despistar. Assim como o fato de a juíza Gabriela Hardt tratar do caso das ameaças ao ex-juiz não dá a Lula o direito de dizer o que disse, o aparecimento de endereço eletrônico com o nome do presidente no meio da investigação é obviamente insuficiente para justificar qualquer suspeita infundada de Moro e Dallagnol. Mas nenhum dos dois levou isso em consideração antes de atacar o PT.

Com essa desprezível intriga, Moro marca a semana não apenas por ser vítima de um plano do PCC e passa também à lamentável categoria dos parlamentares que fazem politicagem com qualquer coisa — inclusive com eventuais desventuras.

Tanto a acusação leviana de Lula quanto a ilação inconsequente de Moro, rebaixam a já desvalorizada política nacional. Mas não é um empate.

 
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O petista sempre poderá argumentar que tem motivos de sobra para ressentimento contra o ex-juiz que, em processo sem provas e recheado de ilegalidades, o obrigou a ficar 580 dias na prisão e entregou o país de bandeja para Bolsonaro.

Já Moro não explicou ainda a fixação que tem por Lula desde 2014 e que agora o faz perder o controle da situação.

Cientistas políticos parecem não dar conta. Talvez seja o caso de recorrer a Freud.

21
Out22

Jornalistas fazem ato em defesa da democracia e debate sobre voto evangélico (charges curralzinho)

Talis Andrade

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A relevância nestas eleições do voto evangélico e a defesa do jornalismo e da democracia são temas de dois eventos, organizados por entidades de jornalistas relacionados às eleições. O primeiro deles, pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, avaliará em que proporção a população evangélica está no centro do debate eleitoral deste ano. Isso em razão da sua relevância numérica e, principalmente, por ser por ela que a extrema direita se aproveita da chamada pauta de costumes para implementar sua agenda ultraconservadora.

A organização do debate avalia que as eleições deste ano podem ser definidas como “um plebiscito entre a civilização e a barbárie”. “(A população evangélica foi) decisiva em 2018, na eleição que alçou o fascista Jair Bolsonaro ao poder impulsionada por uma impiedosa máquina de mentiras e desinformação fortemente calcada em temas como costumes e religião, a escolha eleitoral de milhões de brasileiros pode não estar selada como antes”, afirma o Barão, em nota.

Três especialistas participaram do debate sobre o voto evangélico: A pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), Romi Bencke; o sociólogo e líder ecumênico metodista Anivaldo Padilha; e o repórter autor do livro O Reino – A história de Edir Macedo e uma biografia da Igreja Universal, vencedor de 10 prêmios de jornalismo pelo conjunto de sua obra, Gilberto Nascimento

 

O reino: A história de Edir Macedo e uma radiografia da Igreja Universal  (Portuguese Edition) eBook : Nascimento, Gilberto: Amazon.de: Kindle-Shop

 

Jornalismo e democracia

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Entidades jornalísticas e organizações que defendem a liberdade de imprensa e os direitos humanos, entre elas a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), realizaram, na noite desta terça-feira (27/09), um ato em defesa das e dos profissionais de imprensa e da Democracia, na Pontifícia Universidade Católica (PUC), na zona oeste de São Paulo.

“Estamos reunidos aqui hoje porque o jornalismo e a própria democracia estão sob forte ataque nos últimos anos. E essa gravíssima situação chegou agora ao ápice. Estamos aqui juntos para dizer que basta!”, afirmou Paulo Zocchi, vice-presidente da FENAJ, que discursou em nome das 16 entidades organizadores do evento.

“Em situações normais, o jornalismo não é, nem poderia ser, uma profissão de risco. Mas no Brasil, nos últimos anos, a violência contra profissionais é preocupação constante e crescente de nossa categoria”, disse Zocchi.

Segundo Zocchi, os profissionais são agredidos pelo poder de Estado, notadamente pela Polícia Militar; são perseguidos judicialmente, e aí se inclui infelizmente até mesmo o Supremo Tribunal Federal; e também são agredidos, em grande medida, por Bolsonaro e por apoiadores incentivados pelas ações do presidente.

O dirigente sindical citou levantamento da FENAJ de acordo com o qual, em 2018, foram registrados 135 casos de agressões a jornalistas, contra 430 em 2021. “Com Bolsonaro no governo, há três vezes mais agressões a jornalistas do que havia antes. É mais do que uma por dia! Desde que chegou à Presidência, ele é o principal agressor: em 2021, Bolsonaro realizou 147 agressões a jornalistas, 34% do total nacional”, destacou.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou 353 ataques a jornalistas entre o início deste ano e a semana passada. Outra entidade do setor, a Repórteres Sem Fronteiras, contabilizou no primeiro mês de campanha eleitoral mais de 2,8 milhões postagens com conteúdos ofensivos a jornalistas brasileiros.

 

A repórter da Folha de S. Paulo, Patrícia Campos Mello, participou do evento e fez relatos sobre as agressões que tem sofrido nos últimos anos. Ela foi vítima de ataques sexistas de Bolsonaro.

Patrícia é autora de uma série de reportagens que revelou um esquema de contratação de empresas para realizar disparos em massa durante as eleições de 2018, que fizeram dela alvo preferencial de bolsonaristas nas redes sociais.

“É muito estranho que, desde 2018, nós jornalistas, nós repórteres, tenhamo-nos transformado em alvo. Em um país democrático, supostamente democrático, que tem um governo eleito democraticamente, mas que a imprensa se transformou em um alvo, especialmente as mulheres”, disse Patrícia.

Ela lembrou os ataques que recebeu, entre eles, ligações, e ameaças de agressão física. Ela também recebeu muitas mensagens com conteúdo pornográfico.

O Negócio do Jair - Juliana Dal Piva - Grupo Companhia das Letras

Além de Patrícia, Bianca Santana, Juliana dal Piva, Flávia Oliveira, Carla Vilhena e outras jornalistas de diversos veículos de todo o Brasil participaram do evento com depoimentos em vídeo.

As profissionais contaram alguns dos casos de ataques sofridos e falaram sobre as consequências das agressões. Medo de exercer a profissão, depressão, e danos a saúde mental, foram alguns dos efeitos relatados.

Daniela Cristóvão, da Comissão de Liberdade de Imprensa da OAB, também esteve no evento e afirmou que quando um jornalista é ameaçado no desenvolvimento da sua profissão a cidadania de todos está ameaçada.

Na mesma linha ocorreu a participação de Ana Amélia, advogada e membro do grupo Prerrogativas. “A liberdade de imprensa é essencial ao jornalismo. Não existe democracia sem a liberdade de imprensa e sem o papel essencial, sério, informativo do jornalista”, disse.

“A principal aliada é a imprensa na luta pelos direitos humanos”, disse Ariel de Castro, do Tortura Nunca Mais. “Imagina o que acontece com os jornalistas que estão na periferia, no interior, que não estão em grandes órgãos de imprensa. E o assédio judicial?”, questiona.

O evento foi organizado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), FENAJ, Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Abraji, Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Repórteres sem Fronteiras (RSF), Instituto Vladimir Herzog, Associação Profissão Jornalista (ApJor), Barão de Itararé, Intervozes, Fotógrafas e Fotógrafos Pela Democracia, Associação Paulista dos Jornalistas Veteranos, Centro Acadêmico Vladimir Herzog e Centro Acadêmico Benevides Paixão.

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24
Set22

Os bastardos do coveiro

Talis Andrade

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O país enterrou mais de 685 mil brasileiros diante do escárnio de Bolsonaro. É chegada a hora dele enterrar os seus cúmplices em covas rasas

 

por Weiller Diniz

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O cercadinho do coveiro é povoado por ignorantes, zumbis, condenados e fichas-sujas, cujas lambanças se acumularam malcheirosas em uma necrópole que pretendeu necrosar a democracia, mas fracassou. Nesse sepulcro maligno, os malfeitores o rodeiam, os infames o exaltam, os degenerados o louvam, os vis o bajulam, os delinquentes o circundam, os salteadores o protegem, os assassinos o seguem, os fascistas o servem e os golpistas o celebram.  Apesar da retórica cínica sobre a inexistência de corrupção na pocilga, os sentenciados que focinham no chiqueirinho do Alvorada desmentem a falsa alegação ética. Os corruptos, alguns já condenados, os presos por outros delitos e os suspeitos de crimes diversos são muitos: Valdemar Costa Neto, Roberto Jefferson, Daniel Silveira, Fabrício Queiroz, Milton Ribeiro, Eduardo Cunha e Arthur Lira. Entre os apenados há os que não desencarnam jamais e insistem na sobrevida em mandatos parlamentares mesmo com as fichas imundas. Gradualmente os defuntos vão sendo enterrados pela Justiça Eleitoral. Outros são sepultados por decisões políticas e outros por expurgos eleitorais. O féretro bolsonarista se avoluma na reta final da campanha. Muitos dos marcados para morrer já se sentem desenganados, começando pelo próprio líder do cortejo fúnebre que cavou a sepultura com as próprias mãos. Em pânico, ao recusar a morte, cometeu seguidos suicídios que sacramentaram o clima de velório: o 7 de setembro, os funerais da rainha inglesa e a farsa na ONU.

A abrasividade das pesquisas vai exumando vários outros cadáveres políticos, esqueletos que só ficaram expostos a luz depois da doutrinação diabólica do bolsonarismo. Uma legião de mortos-vivos que, muito em breve, regressará à inexpressividade do pó das suas catacumbas infectas. Ministros e líderes da doutrina satânica do bolsonarismo que disputam pleitos majoritários perecem diante do réquiem estridente e impiedoso das sondagens eleitorais. O Rio Grande do Sul abriu covas coletivas para soterrar 3 múmias do bolsonarismo. Onyx Lorenzoni é a imagem mais moribunda da seita. Foi perdoado pelo juiz universal Sérgio Moro pelo crime de caixa 2, que ele alega não ser corrupção (“o que aconteceu comigo foi caixa 2, não tem nada a ver com corrupção”). Fez um acordo para se livrar da condenação e resfolega na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul. É a quase a mesma anemia profunda diagnosticada em Luiz Carlos Heinze, defensor de Bolsonaro e da cloroquina assassina na CPI da Pandemia e que está na UTI na disputa do Rio Grande do Sul com 4% das intenções de votos. No mesmo estado agônico, respirando por aparelhos, encontra-se o vice Hamilton Mourão em terceiro lugar na disputa pela vaga ao Senado Federal também no RS. O candidato de Bolsonaro em Minas Gerais, Carlos Vianna, líder do governo, é outro em estado terminal com cadavéricos 5% dos votos. A missa fúnebre também já foi encomendada para outro ex-líder de Bolsonaro, Major Vitor Hugo, com 4% dos votos em Goiás. Outra urna funerária já aberta é a do ex-ministro João Roma na Bahia, com anêmicos 7% de votos.

 

PILANTRA JURAMENTADO – Contra o Vento

Sepultura funesta e semelhante vai se abrindo em São Paulo. O candidato de Bolsonaro ao governo, Tarcísio de Freitas, treme diante da lápide gélida com a aproximação do terceiro colocado nas pesquisas, Rodrigo Garcia, já em situação de empate técnico, diminuindo a chance de avançar para um eventual 2 turno. Em avançado estado de putrefação, também em São Paulo, estão os candidatos ao Senado Janaína Paschoal – bolsonarista enterrada como indigente pelo ‘mito’ – e o astronauta-ministro Marcos Pontes. Outros ministros de Bolsonaro também definham rumo à Câmara Alta. Damares da Silva foi enterrada viva por Bolsonaro no Distrito Federal e Gilson Machado em Pernambuco está desfalecido, em contagem regressiva até o óbito formal. Mesmo desenlace anunciado para o ex-ministro Rogério Marinho no Rio Grande do Norte, em segunda colocação. Símbolo máximo da necrofilia bolsonarista, Sérgio Moro agoniza na disputa pelo Senado na disputa contra o criador Álvaro Dias. Entre os bolsonaristas que vão fracassando na disputa por governos estaduais estão ainda Márcio Bittar (AC), Rodrigo Cunha (AL), Manato (ES), entre outros cadáveres menos conhecidos. Os mais notórios – MG e RJ – descolaram da ameaça mortal do bolsonarismo. Entre os ex-ministros e líderes apenas Teresa Cristina vem escapando da maldição bolsonarista e respira na liderança pela disputa pelo Senado no seu estado. Há ainda uma legião de ex-ministros disputando eleições proporcionais ameaçados pelo espectro da mortandade bolsonarista. Entre eles Eduardo Pazuello, Osmar Terra, Ricardo Salles, Marcelo Alvares, Luiz Henrique Mandetta e Abraham Weintraub, que procura no exorcismo de Bolsonaro uma ressurreição. Muitos poderão antecipar o dia dos finados para 2 de outubro.

 

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Quem sobrevive e respira por aparelhos, milagrosamente, nessa xepa tumular, mesmo após duas condenações da Justiça por corrupção, é o atual presidente da Câmara. Arthur Lira, candidato a reeleição em Alagoas amparado por uma liminar eterna com o azedume da decomposição. A fermentação da corrupção é nauseante e levou para cadeia um prefeito aliado de Lira da cidade de Rio Largo, onde a malversação parece ser mais ampla que a largura do rio que banha a cidade adubada pelo orçamento secreto em seus fantásticos becos da propina. O nome do rio que passa por Rio Largo é sugestivo, Mundaú, que poderia ser rebatizado de imundaú. Arthur Lira é o homem mais estratégico do capitão. Ele segurou uma montanha de quase 150 pedidos de impeachment. O poder monárquico, indefensável em uma democracia, lhe permitiu apresentar uma fatura muito elevada na gestão do orçamento secreto que, de público, se transformou em privado, pulverizando os mandamentos constitucionais da publicidade e impessoalidade.

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Entre os apoiadores de Bolsonaro Arthur Lira é um forte concorrente no concurso da delinquência. Já foi condenado em duas ações por corrupção em Alagoas. Os dois casos se referem à Operação Taturana, deflagrada em 2007 pela PF para apurar desvios na Assembleia Legislativa, onde Lira exerceu mandatos de 1999 a 2011. Foi acusado de se apropriar de verba de gabinete do Legislativo e de vencimentos de funcionários, o berço das rachadinhas.  Às vésperas da eleição de 2022 estourou o escândalo do “beco da propina” em Rio Largo, município cujo prefeito é aliado de Lira. Também tem digitais dele no kit robótica e em sonegação. Lira ostenta a curiosa proeza de ter sido “desdenunciado”, “desacusado” de corrupção pela procuradora serviçal do governo, Lindôra Araújo. Só corrupção não é o bastante. Lira também acusado de violência doméstica por sua ex-mulher, Jullyene Lins, igualmente candidata a deputada em Alagoas. Lira disse ser o homem do antipresidente: “ninguém representa mais Bolsonaro em Alagoas do que eu…ninguém vai roubar isso”.  Exótico o verbo para um estado onde Lula tem quase 60% dos votos e os candidatos de Lira ao pleito majoritário suspiram.

Outros aliados de Bolsonaro já estão na missa de corpo presente e alguns já sentem o mal-estar e o desconforto com as decomposições extremistas e ficarão fora da festa cívica/eleitoral que se avizinha.  Por seis votos a um, o TER/RJ decidiu que o deputado federal Daniel Silveira está inelegível a qualquer cargo eleitoral em 2022. Em que pese o anúncio óbvio da defesa, de um recurso às instâncias superiores, a iniciativa é natimorta, dada a jurisprudência já firmada sobre o tema. Na decisão, o TRE levou em conta o argumento do Ministério Público Eleitoral de que o indulto presidencial concedido em 21 de abril – do mesmo teor dado por Donald Trump a Steve Bannon – extingue a pena de prisão, mas não susta os outros efeitos da condenação.  Em abril de 2022, o deputado foi condenado pela Suprema Corte a oito anos e nove meses de prisão, com a perda dos direitos políticos, por ter atentado contra as instituições e ter estimulado atos antidemocráticos. Em um vídeo que resultou na sua primeira prisão, o deputado defendeu o fechamento do STF e fez apologia ao AI-5, o mais nefasto dos Atos Institucionais da ditadura militar. Daniel Silveira já foi preso duas vezes. A primeira por ataques a ministros do STF em fevereiro de 2021 e a segunda por desrespeitar o uso da tornozeleira eletrônica por cerca de 30 vezes.

O Tribunal Superior Eleitoral também sepultou em 1º de setembro, por unanimidade, a candidatura de Roberto Jefferson à Presidência da República. A Corte entendeu que ele está inelegível até 24 de dezembro de 2023. O período refere-se ao prazo de 8 anos depois do cumprimento de pena de condenação. Jefferson foi condenado em 2012 pelo Supremo Tribunal Federal a sete anos de prisão no julgamento do caso do Mensalão. A pena terminaria em 2019. Em 2016, Jefferson teve a pena extinta por decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do STF. O  magistrado aplicou os efeitos de um indulto da presidente Dilma Rousseff em dezembro de 2015. A decisão declarou a pena extinta. Contudo, o perdão não anulou efeitos secundários da condenação, como a inelegibilidade.  Jefferson é entusiasta do golpe, vira e mexe incita a violência contra ministros do STF a quem já chamou de “lobistas” e “malandros”. “Nós temos que entrar lá e colocar para fora na bala, no pescoção, no chute na bunda, aqueles 11 malandros que se fantasiaram de ministros do Supremo Tribunal Federal”.“O povo já entendeu que, quando cessam as palavras – e elas estão acabando – principia a pólvora. E a pólvora não virá pelo Estado, pelas Forças Armadas: o povo vai lançar mão da pólvora para resolver estas situações”. “É o povo que botará fogo na primeira banana de dinamite”, ameaçou. O presidente do PTB incentivou o povo brasileiro a invadir a sede do Senado e a praticar vias de fato em desfavor dos senadores, especificamente dos que integraram a CPI da Pandemia.

Em São Paulo o esqueleto dos malfeitores é Eduardo Cunha, candidato a deputado federal e aliado de Bolsonaro. Cunha tem uma folha corrida de causar inveja aos demais bandoleiros e integra a elite do crime.  A carreira delinquente o levou à Câmara Federal entre fevereiro de 2003 e setembro de 2016, quando teve o mandato cassado. Depois de muitas chicanas e manobras, o plenário expeliu Cunha no dia 12 de setembro de 2016. Ele já estava afastado do mandato por determinação do STF. Acusado de mentir na CPI da Petrobrás, teve aberto contra si um processo que resultou na cassação por quebra de decoro, tornando-o inelegível até o final de 2026. Votaram pela absolvição apenas 10 parlamentares, entre eles o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Cunha capitaneou a trama que levou ao impeachment da ex-Presidente Dilma Rousseff. A torpeza foi uma vindita pelo PT não ter sido solidário a ele no processo por quebra do decoro no Conselho de Ética. Em março de 2016, o STF acatou por dez votos a zero a denúncia do então Procurador-Geral contra Cunha por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, tornando-o réu. Em 5 de maio de 2016, o plenário do STF unanimemente manteve a decisão do então ministro Teori Zavascki que determinou afastamento de Cunha do mandato de deputado federal e, consequentemente, do cargo de Presidente da Câmara.

Em 19 de outubro de 2016 foi preso preventivamente pela Polícia Federal e, em março de 2017, foi sentenciado a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em 18 de maio de 2017, teve um segundo mandado de prisão expedido pela Justiça. No final de março de 2020, teve a prisão preventiva substituída pela domiciliar em razão da pandemia, por ser do grupo de risco.  Em setembro de 2020, voltou a ser condenado na Lava Jato, e teve sua aposentadoria na ALERJ cassada. Cunha ganhou uma liminar do TRF-1 para ser candidato, mas ela foi cassada pelo então presidente do STF, Luís Fux. Cunha ganhou uma nova rodada judicial na esperança de ser candidato, mas é improvável que ela se sustente. Em sua prestação de contas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para disputar as eleições, Cunha declarou patrimônio de R$ 14,1 milhões. O valor é R$ 12,4 milhões superior ao apresentado em 2014, quando ele concorreu ao posto pela última vez.

Mamãe falhei é uma caricatura moribunda dos tempos sepulcrais do bolsonarismo. Egresso dos esquifes autoritários escreveu muito cedo o próprio epitáfio. Por causa de declarações sexistas envolvendo ucranianas já punidas pelas ruínas da anexação foi cassado e está inelegível. A cova se abriu ao ter um áudio, manchado por barro sexista, vazado do zap: “Ucranianas são fáceis, porque são pobres”, disse o então deputado estadual, Arthur do Val, que também atende por um falacioso heterônimo maternal. Nada difere do machismo de Bolsonaro à deputada Maria do Rosário em 2014 – pelo qual foi condenado – e da defesa do turismo sexual em 2019. O MBL foi pedra fundamental para a implosão do Brasil. Apoiou Bolsonaro, tentou impulsionar a candidatura fascista de Sérgio Moro, coveiro original do país, e hoje desfalece vítima das próprias contradições. Também por agressões contra a jornalista Vera Magalhães, idênticas à de Bolsonaro, Douglas Garcia pode repousar no mesmo jazigo dos inelegíveis.

O cortejo sinistro do coveiro Bolsonaro se repete. Em 2020 Bolsonaro apoiou candidatos a prefeito em 5 capitais e 45 pretendentes a vereador. Foram eleitos apenas 9 vereadores, menos de 20% dos apoiados por ele. Os postulantes às prefeituras foram exterminados. Apenas dois avançaram ao segundo turno e perderam. Os demais receberam a extrema-unção logo no primeiro turno. Em Fortaleza o então aliado de Bolsonaro se viu obrigado a se descolar do dedo podre para escapar da maldição. O capitão Wagner repele novamente Bolsonaro, agora na disputa pelo governo do Ceará. No Rio de Janeiro, Marcelo Crivella se tornou um dos cadáveres mais emblemáticos do sepulcro bolsonarista. Os outros ataúdes foram empilhados em São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Manaus. Celso Russomano colou a campanha em Bolsonaro e a estratégia foi mortífera. Amargou uma humilhante quarta colocação com pouco mais de 10% dos votos. Desencarnou ao somar sua rejeição com a imagem letal do capitão. Em Belo Horizonte, o escalado de Bolsonaro para morrer, Bruno Engler, foi enterrado por Alexandre Kalil. Em Manaus, o coronel Alfredo Menezes obteve desbotados 11% dos votos. Outra vítima da maldição foi em Recife. Após receber o bafejo de morte de Bolsonaro, a delegada Patrícia definhou, caiu nas pesquisas e acabou em quarto lugar. As capitais totalizavam 18 milhões de eleitores. Os bolsonaristas somaram pálidos 1,5 milhão de votos. Um cemitério eleitoral com menos de 10% dos votantes. O país enterrou mais de 685 mil brasileiros diante do escárnio de Bolsonaro. É chegada a hora dele enterrar os seus cúmplices em covas rasas.Image

 

23
Set22

E da costela de Bolsonaro foi criado o pior canalha brasileiro

Talis Andrade

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Ilustração: Victor Vilela para o Intercept Brasil

 

Nem mesmo o doutor Werneck, o cafajeste maior de Nelson Rodrigues, imaginaria o canalha forjado e recriado sob a organização e influência bolsonarista.

 

por Xico Sá /The Intercept

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O MILITAR Jair Messias Bolsonaro não criou o canalha nacional no laboratório do ódio do Palácio do Planalto. Isso é obra de séculos. O cafajeste “imbrochável” do palanque do 7 de setembro tampouco é uma criação original – a patente, óbvio, é da pornochanchada, o ciclo da sacanagem com humor do cinema brasileiro.

O presidente, no entanto, é pioneiro ao organizar e influenciar a canalhice para ataques contra as mulheres durante o seu mandato no governo. Haja covardia e perversidade, embora os seus seguidores fundamentalistas jurem (ajoelhados no milho do cinismo) que se trata apenas do combate ao “politicamente correto”, promessa de campanha de 2018.

Nem mesmo na galeria dos canalhas criados pelo cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues é possível encontrar um personagem que se compare, em atrocidade machista, à figura presidencial. Reli agora quase todos os episódios da série “A vida como ela é” e repassei as principais peças rodriguianas. Nem o doutor Werneck, no seu moralismo religioso de araque, alcança esse patamar bolsonarista no texto de “Bonitinha, mas ordinária”.  O Peixoto, no mesmo drama, também não é páreo. Muito menos o pobre Edgard diante daquele cheque de 5 mil cruzeiros que o sogro usa para testar o seu caráter.

Não há um só canalha de véspera ou canalha do dia seguinte – como Nelson definia o homem brasileiro na sua tragédia – capaz de imitar um paciente de covid-19 morrendo por falta de oxigênio. E olhe que o Peixoto topava qualquer tarefa degradante de um “cidadão de bem” da sua época. O Peixoto seria capaz de negar uma marmita a uma dona de casa faminta. Duvido, porém, que o Peixoto zombasse de uma vítima de tuberculose – era um sujeito cerimonioso diante da morte.

Bolsonaro imitou pessoas sem ar em live em março de 2021

Bolsonaro imitou pessoas sem ar em live em março de 2021

 

No critério de ataque direto às mulheres, a gestão do presidente se estabeleceu com as agressões provocadas por ele mesmo ou pelos seus  dublês que se multiplicaram como gremlins na água suja que escorreu da goteira bolsonarista. Somente na última quinzena, a prática banalizada e autorizada por Bolsonaro teve como alvo uma mesma jornalista, Vera Magalhães.

No primeiro ato de violência, o próprio capitão da extrema direita agrediu a colunista de “O Globo” ao falar da sua intimidade sexual e chamá-la de “vergonha para o jornalismo brasileiro”, em debate na TV Bandeirantes. O discípulo Douglas Garcia, deputado estadual do Republicanos de São Paulo, fez o bis do ataque, copiando as mesmas palavras, na TV Cultura – o parlamentar estava na claque do candidato a governador Tarcísio de Freitas, seu colega de partido.

Douglas Garcia - 1070 Dep Federal on Twitter: "Hoje mais cedo recebemos o  PR Bolsonaro em agenda oficial na cidade de SP. https://t.co/5mQ1SPqHKk" /  Twitter

Ameaças e patadas nas mulheres se tornaram rotina no mandato de Bolsonaro. Um dos mais prestigiados homens do clube dos cafajestes bolsonaristas, Pedro Guimarães foi obrigado a deixar o cargo de presidente da Caixa ao acumular dezenas de acusações de assédio sexual de funcionárias do banco.

 

Nem mesmo na galeria dos canalhas criados pelo cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues é possível encontrar um personagem que se compare, em atrocidade machista, à figura presidencial.
 

Seria injusto, porém, dizer que o militar só começou a agredir jornalistas depois de abastecido da testosterona presidencial. Em 1987, fez o gesto de arminha com os dedos e ameaçou de morte a repórter Cássia Maria: “Você vai se dar mal”. Ela havia publicado na revista Veja, um plano terrorista do então capitão do Exército para jogar bombas em quartéis e caixas d´águas do sistema de abastecimento do Rio de Janeiro. O objetivo seria um protesto contra a baixa remuneração da tropa. A reportagem rendeu um castigo de 15 dias de prisão para Jair Messias.

Em 2003, o então deputado federal da bancada carioca seguiu amplificando em Brasília sua brutalidade com as mulheres: “Só não te estupro porque você não merece”, atacou a colega de parlamento Maria do Rosário, do PT gaúcho. Nos ensaios preparativos para a disputa à Presidência, em 2016, elaborou “melhor” a fala criminosa, ao dizer os motivos pelos quais não estupraria a deputada: “Porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece”. A torcida da macharada misógina vibrou como um gol de final de campeonato.

No mesmo ano, ainda teve o voto pelo impeachment de Dilma Rousseff. Ali o machismo brabo desceu e chafurdou nos porões da ditadura. Bolsonaro dedicou a sua decisão ao coronel Brilhante Ustra, torturador da ex-presidente, o maior carrasco das mulheres entre os militares assassinos. Pra frente, Brasil.

Nem mesmo o doutor Werneck – o cafajeste maior de “Bonitinha, mas ordinária” – imaginaria o canalha forjado e recriado sob a organização e influência bolsonarista. É o canalha que odeia as mulheres, ataca jornalistas nos cercadinhos de Brasília ou nos debates, tira onda de playboy de clube de tiro e humilha donas de casa famintas com lacrações gravadas para o grupo de WhatsApp da motociata. Até o Peixoto cancelaria esse tipo.

13
Set22

A primeira vítima

Talis Andrade

O jornaleiro

 

Cesar Valente /objETHOS

Vocês, que nasceram ontem, talvez não consigam avaliar o tamanho da decepção que sinto sempre que vejo um colega, que tem quase tanto tempo de vida e profissão quanto eu, tratar com desleixo, incompetência ou mesmo má fé as informações que publica em seus espaços. A dor é ainda maior quando esse espaço é num veículo de comunicação que o remunera, teoricamente, por um trabalho profissional.

Esse sofrimento, embora possa parecer, não é coisa nova. Não surgiu com a popularização da internet e suas ferramentas. Bem antes, havia colegas que se entregavam ao uso preguiçoso e não raro delituoso do off. O off, como imagino que todos saibam, é aquela informação cuja fonte quer permanecer oculta.

Trata-se de um recurso muito útil em algumas situações. Na ditadura militar que infelicitou o Brasil, por exemplo, poderia ser necessário não citar o nome, para garantir a segurança daquela pessoa. Ou o emprego.

E, claro, é campo fértil para engodos, trapaças e plantações. Um jornalista aético pode servir a vários senhores publicando, como “de fonte próxima aos fatos”, informações de interesse deste ou daquele, para atingir algum objetivo situado a léguas de distância do que deveria ser o objetivo de uma informação jornalística.

Sem muita surpresa, mas nem por isso com menos tristeza, vez por outra vejo que o mesmo colega que me espantou fazendo mau uso do off, décadas atrás, agora faz mau uso do material que recebe em grupos de WhatsApp.

Houve tempo em que chamávamos alguns colegas apanhados no mau exercício da profissão, de “picaretas”. Era uma enorme vergonha, para a maioria de nós, ser chamado de “picareta”. Significava, no mínimo, que era possível comprar citações elogiosas, menções abonadoras, em textos revestidos daquela aura jornalística que lhes emprestava, em certa medida, fé pública.

Nem todos os leitores desconfiavam que as críticas (ou elogios) não eram resultado de uma apuração honesta dos fatos e suas circunstâncias, mas de um acerto financeiro qualquer, realizado sob um manto espesso de sigilo. E quem sabia de tais descaminhos, não tinha muito o que fazer. Ou nem sabia como reagir.

Olhávamos com certa inveja para os Conselhos Federais de outras profissões, no que eles representavam de possibilidade de controle do exercício profissional. Não só nunca conseguimos nos organizar para criar uma instituição semelhante, como em algumas das vezes em que essa ideia foi à público, houve um bombardeio intenso e de múltiplas origens, rotulando a coisa como “tentativa de censurar a imprensa”. Era o contrário, mas ninguém parecia disposto a ouvir, muito menos a conversar e entender.

Passaralhos e o muro

Durante algum tempo, em várias cidades, grupos grandes de jornalistas faziam a avaliação ética e moral da forma como a profissão era exercida, nas mesas dos bares. Não por acaso, alguns dos bares frequentados por jornalistas depois do expediente, onde essas discussões fundamentais se davam, tinham nomes como “Pé Sujo” ou “Sujinho”.

Os “maus jornalistas”, segundo as atas das reuniões de final de noite, escritas em papéis manchados de molho de pimenta e selados com a marca circular de algum copo de cerveja, não estavam nesses bares: jantavam nos restaurantes finos frequentados pelos donos das empresas jornalísticas. O que pode ser apenas rancorosa maledicência.

Mas, coincidência ou não, enquanto voejavam os passaralhos (nome vulgar que identifica uma leva de demissões de jornalistas. Nunca ficou muito claro a partir de que número de demissões simultâneas se autoriza o uso desse nome. Mas quando são demitidos mais de dez jornalistas de uma vez, trata-se, sem dúvida, de um passaralho), aqueles colegas que nos espantavam porque suas colunas vertebrais tinham uma flexibilidade quase olímpica, em geral sobreviviam e não eram alcançados nem pelas garras da contenção de despesas, nem da reacomodação organizacional.

Uma das lendas do jornalismo (surgida, como tantas, nos jornais dos Estados Unidos) era o muro que deveria separar a redação (onde era produzido o material editorial), do comercial (de onde vinham os recursos que financiavam a operação editorial). Como toda utopia, parecia não só muito razoável, como até exequível.

Ao comercial cabia oferecer, aos clientes interessados em fazer suas mensagens chegar aos leitores, ouvintes, telespectadores, espaços naquele veículo. Que seriam ocupados, mediante remuneração, por material publicitário produzido pelo cliente que, de maneira alguma, poderia confundir-se com o material editorial do veículo.

Tudo ia muito bem até que um dia um cliente, cheio da grana, fez a seguinte proposta para o vendedor de espaços comerciais de algum jornal: “Se o jornal fizer uma reportagem assim e assim, mostrando isto e aquilo, eu fecho um contrato de seis meses com vocês”. Claro que essa historinha é inventada. Acabei de pensar nela para exemplificar uma das tentações que atacavam diariamente os veículos. O que é verdade é que propostas como essa sempre fizeram brilhar os olhinhos de muita gente.

E o muro? Ora, quando se trata de dinheiro, os donos dos veículos nunca ficam em cima do muro. Sempre se preocupam com a viabilidade do negócio. Mais ou menos como os governos brasileiros sempre se preocupam com a governabilidade. Em nome da governabilidade, digo, da viabilidade, não custa nada reunir a chefia da redação e a chefia do comercial, para encontrar um ponto comum. Provavelmente no centro.

É importante lembrar a quem, apesar do que já foi dito, continua lendo, que ainda estamos no final do século passado, quando ainda havia jornais e veículos onde o comercial (ou o marketing) não estava hierarquicamente acima da chefia da redação. E essas conversas entre comercial e redação, intermediadas por figurões da “alta direção” da empresa, eram também conhecidas como “conversa de levar gato para tomar banho”.

Entre os chefes alguns eram mais resistentes, outros mais compreensivos e alguns decididamente coniventes. Alguns aceitavam pensar na possibilidade de incluir os temas na pauta, mas informavam que o material seria tratado com rigor profissional. Outros só faltavam pedir que o cliente mandasse o texto e as fotos. E, se não fosse possível, que não se preocupasse, que ele mandaria o texto para uma revisão antes da publicação.

Tive a felicidade de trabalhar num jornal cujas chefias estavam entre as que ainda resistiam ao assédio, ao charme, aos apelos e às vezes às ameaças do comercial e (não raro) dos acionistas controladores da empresa. Por incrível que possa parecer, o jornal se chamava Gazeta Mercantil e tratava, essencialmente, de economia e negócios.

Uma das formas que o jornal encontrou para ampliar as possibilidades de anúncio, foi a criação de cadernos especiais (chamados de Relatórios). Como fazer isso sem se entregar de corpo e alma ao “inimigo”? E respeitando o que o minucioso manual de redação do jornal prescrevia?

Conheço essa história porque fui, por alguns anos, “editor de Relatórios”, que era como me apresentava e pouca gente na própria redação ouvia sem perguntar “o que é mesmo que tu fazes? Qual é tua editoria?” E funcionava assim: eu e uma pequena equipe fixa produzíamos, com ajuda de repórteres da casa, chamados conforme a área, esses cadernos, que não eram diários.

Alguns temas, como “Oportunidades na Amazônia”, “Transporte Ferroviário”, “Bancos”, poderiam parecer, à primeira vista, caça-níqueis, uma capitulação editorial às pressões dos interesses dos anunciantes. Mas, para tranquilidade da minha consciência, eram elaborados com esmero jornalístico: jornalistas da sede eram enviados para reportagens que duravam vários dias, correspondentes em várias capitais eram acionados, a pauta era discutida internamente, sem a participação (e sem o conhecimento) do comercial.

O comercial sabia, claro, que estava sendo preparado um relatório sobre tal tema, com circulação tal dia. Alguns dos temas tinham sido sugeridos por eles. E cessava ali a troca de gentilezas. Mas eles sabiam que podiam oferecer a seus clientes da área, espaços num material que teria apuração cuidadosa, texto informativo e abundante: os relatórios tinham em média de oito a dez páginas tamanho standard.

Sem teto, mas com colunas

Claro que essas tentativas de relacionamento sadio com os financiadores da operação sempre muito cara que é o jornalismo de qualidade não foram suficientes. No começo do século XXI, o jornal definhou, rastejou e depois fechou, como tantos outros.

Com a crise se alastrando, e o desconhecimento de que crise, afinal, é essa, os jornais e veículos sobreviventes, assustados, começaram a entregar os anéis para tentar preservar os dedos. Se quisermos usar uma imagem bem educada.

A primeira vítima em toda crise que tenha componentes financeiros, nos veículos de comunicação, é a vergonha na cara. Desaparece. O pudor que eventualmente alguém teve, um dia, de vender uma pauta, de aceitar matéria paga, de cobrar por notinhas nas colunas, some completamente.

E, pior, foi substituída por uma volúpia aética de fazer caixa a qualquer custo. Por que ter motoristas para conduzir repórteres? Basta exigir, na contratação, carteira de habilitação para dirigir. Por que ter fotógrafos se os celulares têm câmeras ótimas e se o repórter que fará o texto tem celular? Por que ter repórteres se as principais informações estão na internet e custa nada transcrevê-las? Ou, se “todo mundo” tem assessoria de imprensa e manda material prontinho e grátis?

Aos poucos, os jornais sobreviventes ganharam uma aparência daquele antigo templo grego na Acrópole, o Partenon: dezenas de colunas que não sustentam coisa alguma, porque o teto já ruiu. Dezenas de colunas. Pra nada. Alguns jornais chegam ao ponto de cobrar dos colunistas para que publiquem suas colunas. Outros ainda remuneram (mal, claro) os colunistas, mas fazem vista grossa, ou até estimulam, os usos pouco republicanos daquele espaço.

E acabamos voltando ao lamento cheio de mimimi com que iniciei este comentário: o último dos moicanos, um dos escassos jornalistas ainda remunerados para escrever, que tem a dádiva de uma coluna (local onde, teoricamente, poderia tratar, com maior liberdade do que numa reportagem, das questões fundamentais da humanidade, ou pelo menos da rua onde ele/ela vive), joga décadas de história profissional na lata do lixo porque achou uma boa ideia aceitar a sugestão da esposa, do dono do jornal, de algum “empresário” cuja lancha usa de vez em quando e transcreveu, acriticamente, uma bobagem que recebeu pela internet.

O triste fim da história é que nem adianta chamar a atenção, avisar do equívoco, do desvio. Lembram que disse, há poucos parágrafos, que a primeira vítima nessas “crises” é a vergonha na cara? Pois é. Só quem ainda tem vergonha na cara, quando confrontado com algum equívoco ou erro que tenha cometido, trata de remendar, corrigir, desculpar-se. Não é, portanto, o caso.

 

 

30
Jul22

A chancelaria do cercadinho

Talis Andrade

www.brasil247.com - Foto Clauber Cleber Caetano/Ag. Brasil

 

O ápice da desmoralização veio na reunião golpista de Bolsonaro com os embaixadores

 

por Weiller Diniz

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A cartilha de desarticulação do Estado esfolou respeitadas instituições e políticas públicas brasileiras. Entre elas o plano real, programas sociais, a educação e a saúde que ainda vivem dias aflitivos de contínua ameaça, dada a inépcia de seus gestores, com ministros desonestos, equipes despreparadas e/ou mal-intencionadas. Uma das principais vítimas da ruína bolsonarista, entretanto, é a diplomacia, esquartejada impiedosamente desde os primeiros dias desse flagelo. Mentor e executor dos vexames mundiais foi Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores que, entre tantas sandices, é xenófobo, isolacionista e discípulo de um farsante que afirmava ser a terra plana.  A nódoa eterna do enxovalho planetário foi traçada pelo ex-chanceler que ideologizou o Itamaraty, pulverizou o multilateralismo, implodiu os blocos como o BRICs e o Mercosul e implantou a subserviência a Donald Trump em troca de reciprocidades que nunca se materializaram. A vassalagem foi inaugurada com a cessão da base de Alcântara, no aumento da importação de etanol com imunidade tributária para ajudar potenciais eleitores de Trump, isolamento na OMC e na dispensa de vistos para cidadãos norte-americanos. Nenhuma contrapartida.

Foram os menores pecados do exterminador da diplomacia brasileira. O ápice da desmoralização veio na reunião golpista de Bolsonaro com os embaixadores, onde tentou emporcalhar a democracia, mentiu e afrontou as instituições diante de uma plateia incrédula com os disparates oficiais. O capítulo mais aterrador da agônica diplomacia do cercadinho, já sob a gestão do ministro Carlos França. Em suas vadiagens mundo afora, fruto do ócio e do sádico desprezo pelo próprio país, o capitão Bolsonaro não se cansou de enxovalhar indistintamente os brasileiros por onde trotou, sempre bajulado por comitivas exóticas em hospedagens nababescas. O anão do cercadinho buscou camuflar sua pequenez administrativa e política em missões internacionais improdutivas, sempre priorizando nações com fortes convergências com sua índole ditatorial, mas que também não o respeitam. Entre as nações democráticas ele se sente desconfortável, deslocado. Por anda passa é um zumbi.

Em 2019 foi a estreia na chacota global. Havia, então, uma grande expectativa quanto ao discurso no importante Fórum Econômico Mundial, em Davos. Os investidores e líderes mundiais esperavam um pronunciamento de grande densidade envolvendo temas das prometidas reformas estruturantes. A decepção foi generalizada. Num dos pronunciamentos mais curtos já vistos numa sessão inaugural do evento – 15 pífios minutos – Bolsonaro repetiu tolices eleitorais e mostrou ao mundo o calibre do populismo tosco repisando temas eleitorais inservíveis para o encontro: “Tendo como lema Deus acima de tudo, acredito que nossas relações trarão infindáveis progressos para todos.”, disse o capitão da ignorância ao concluir sua intervenção inicial. “Não queremos uma América bolivariana como havia antes no Brasil com outros governos. Quero lhes deixar claro que a esquerda não vai prevalecer na América Latina, o que é muito positivo para a região e para todo o mundo”, acrescentou ao final de sua fala no auditório principal do centro de convenções de Davos. Mesmo teor anacrônico repetido na ONU anos depois. O suficiente para corar o Barão do Rio Branco. O acervo de estultices é inesgotável.

Foram apenas 2 dias de pura infâmia que mancharam a imagem do Brasil no exterior sob o servilismo e a gastança de uma comitiva com mais de 50 integrantes na delegação. O mesmo evento entrou para o anedotário mundial do despreparo de um chefe de Estado envolvendo um exótico diálogo com Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos. Nele o messias das cavernas obscurantistas disse querer explorar os recursos da Floresta Amazônica com os EUA. O conhecido ambientalista americano alegou não ter entendido o que o presidente brasileiro quis dizer. Nas cenas, Al Gore se aproxima de Bolsonaro para manifestar inquietação com a Amazônia, afirmando: “Estamos todos muito preocupados com a Amazônia, é algo que me toca profundamente”. O capitão reagiu toscamente: “Temos muita riqueza na Amazônia e eu adoraria explorar essa riqueza com os Estados Unidos”. O intérprete da pantomima era Ernesto Araújo. Parece inacreditável. O aumento da área desmatada na Amazônia foi um dos principais itens do desgaste Brasileiro no mundo, decisivo para esturricar nossa diplomacia.

Na abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2021 em Nova York, o estadista do cercadinho não se limitou a ridicularizar o Brasil. Mentiu despudoradamente: “Estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção”…“Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior”… “No Brasil, para atender aqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos e que perderam sua renda, concedemos um auxílio emergencial de US$ 800 para 68 milhões de pessoas em 2020”… “Lembro que terminamos 2020, ano da pandemia, com mais empregos formais do que em dezembro de 2019”… “Apoiamos a vacinação, contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada a vacina”…” Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina”…”Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial”.

Nos EUA, como alhures, Bolsonaro não passou de uma rudimentar irrelevância entre os líderes mundiais e objeto de jocosidades. Na cidade norte-americana era exigido o passaporte da vacinação contra a Covid-19 para frequentar lugares fechados, como restaurantes, cinemas, teatros e academias. Bolsonaro foi constrangido a almoçar em um lugar improvisado numa churrascaria brasileira. Foi montada uma área externa – cercada por uma grade e panos pretos que impediam a visão pelas pessoas da rua – para Bolsonaro e seu séquito driblarem as regras sanitárias. Outro embaraço foi ensejado pelo prefeito de Nova York, Bill De Blasio. Ele cobrou a vacinação contra a Covid-19 para participação na Assembleia da ONU. A organização do evento informou que não cobraria vacinação dos Chefes de Estado: “Precisamos mandar uma mensagem a todos os líderes mundiais, especialmente Bolsonaro, do Brasil, de que se você pretende vir aqui, você precisa ser vacinado. E se você não quer ser vacinado, nem venha, porque todos devem estar seguros juntos. Isso significa que todo mundo deve estar vacinado”, cobrou o democrata.

Em novembro 2021, os périplos de Jair Bolsonaro evidenciaram seu desprezo, dessa vez diante dos chefes de Estado do G20, em Roma. O capitão ficou deslocado, não conseguiu interagir com outros líderes mundiais, bateu papo com os garçons durante a recepção e o Brasil de Bolsonaro amargou a certeza de ser um pária mundial, insignificante para outras nações. Não pisasse o pé de Ângela Merkel, Jair Bolsonaro teria saído da Itália sem ser notado. É também o capitão da pisadinha. Para o Brasil ficou apenas a imagem da agressão selvagem a jornalistas brasileiros nas ruas da capital italiana. A vergonha foi de tal magnitude que Bolsonaro foi constrangido a desistir da segunda perna da excursão, em Glasgow, na Escócia. Uma reiteração da humilhação mundial. Ninguém o quer por perto. O tour desértico aos Emirados Árabes, Bahrein e Catar não produziu um resultado concreto, além de uma motociata poeirenta. Outra exibição internacional de despreparo onde verbalizou tolices incompreensíveis. Em Dubai chegou a dizer que tratou da “troca de presos políticos”. Para ele são presos políticos no Brasil Roberto Jefferson, Daniel Silveira, Zé Trovão e, em breve, Allan dos Santos, e outros delinquentes. Golpistas da pior laia.

A vadiagem de Jair Bolsonaro pela Rússia, epicentro de uma crise internacional, é a síntese da estupidez e da recorrente vergonha planetária imposta ao país. Depois de percorrer os 11 mil quilômetros que separam as duas capitais e posar no rigoroso inverno de Moscou, o mentecapto do cercadinho amarelou sob o cerco vermelho do Kremlin. Se rendeu a todos os protocolos sanitários que sabotava diariamente no Brasil, onde desfilou potencializando infecções e inflando o número de mortes. Foi colocado em confinamento, usou máscara, respeitou o distanciamento, fez uma bateria de testes de detecção da Covid-19 e bateu continência ao soldado comunista. Com portas fechadas na Europa, Bolsonaro queria demonstrar que não é um pária. Não conseguiu. Falseou, mentiu e reafirmou sua índole autoritária. Nunca um chefe de Estado foi tão desastroso à imagem do seu país. A solidariedade a Vladimir Putin na maior crise global recente esfarelou a diplomacia brasileira e apartou o Brasil das nações democráticas. A viagem teve a participação do gabinete do ódio e da ignorância, inclusive o chefe, Carlos Bolsonaro. O gabinete do ódio também foi na excursão injustificável a Israel atrás do spray contra Covid-19. Um festival de trapalhadas.

O saldo concreto na Rússia foi desastroso: uma anômala solidariedade a uma aliança entre os comunistas de fachada, Vladimir Putin da Rússia e Xi Jinping da China, outrora objeto de hostilidades xenófobas do Itamaraty e da família Bolsonaro na Pandemia. Além dos impactos negativos nos preços do petróleo (gasolina, diesel e gás de cozinha), que turbinou a alta inflação, o Brasil entrou na mira das retaliações de países democráticos da Europa. Um recado forte soou dos Estados Unidos. O porta-voz da Casa Branca anunciou que o Brasil estava “do outro lado”. “A leitura que eu tenho do presidente Putin é que ele é uma pessoa também que busca a paz. E qualquer conflito não interessa para ninguém no mundo. Por coincidência ou não, parte das tropas deixaram a fronteira e, pelo que tudo indica, é uma grande sinalização que o caminho para a solução pacífica se apresenta no momento para Rússia e Ucrânia”, ruminou Bolsonaro se sentindo patrono da paz mundial. A tacanhice foi ridicularizada mundo afora. Cinco dias depois, o presidente Putin reconheceu a autonomia de dois territórios separatistas e sete dias após a profecia pacifista de Bolsonaro, a Rússia invadiu o território Ucraniano. O tour pelo Kremlin foi um dos piores capítulos da vergonha mundial. Na segunda perna da perambulação, Bolsonaro ficou muito à vontade ao lado do ditador da sombria Hungria, Viktor Orbán, a quem chamou de “irmão”.

O vexame não é monopólio das viagens internacionais. Os mais graves ocorreram em solo brasileiro. No ápice da pandemia o então chanceler Ernesto Araújo quase saiu no braço com o embaixador chinês para proteger o filho “bananinha” de Bolsonaro. Ele abriu uma jihad contra a China, maior parceiro comercial do Brasil e o principal fornecedor de insumos e vacinas do mundo. “Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. […] +1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria inúmeras vidas. […] A culpa é da China e liberdade seria a solução”, delirou Eduardo Bolsonaro. Yang Wanming, embaixador, retrucou: “A parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês”. A própria embaixada da China publicou outra mensagem irônica: “As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos”, publicou a embaixada.

Ernesto reagiu apoplético em defesa do clã Bolsonaro, que tempos depois o enxotou do governo. “Já comuniquei ao embaixador da China a insatisfação do governo brasileiro com seu comportamento. Temos expectativa de uma retratação por sua postagem ofensiva ao chefe de Estado”, disse Araújo em nota. Ele teria pedido a troca do embaixador. Em abril de 2021 Araújo escreveu em seu blog um artigo intitulado “Chegou o comunavírus”, onde a crise sanitária seria parte de “plano comunista” que usaria a pandemia como uma oportunidade de “acelerar um projeto globalista”. Em novembro 2021, Eduardo Bolsonaro voltou a atacar a China, dizendo que o Partido Comunista Chinês espionaria o país caso uma empresa chinesa atuasse na tecnologia 5G. O embaixador chinês chamou a declaração do deputado de infame e advertiu que esse tipo de atitude prejudicaria as relações bilaterais. Sob o tacão de Araújo, o Itamaraty enviou uma carta à embaixada da China dizendo que a resposta tinha conteúdo “ofensivo e desrespeitoso”.

O último degrau da indigência diplomática, consequência do pânico eleitoral e da prisão iminente, foi a reunião com embaixadores para reiterar a retórica golpista. A cartilha Donald Trump foi reproduzida literalmente. Atrás nas pesquisas, Bolsonaro faz um esforço para desacreditar o sistema eleitoral, portanto, a própria democracia. Todas as supostas vulnerabilidades invocadas pelo capitão foram desmontadas. Escaldado pelo extremismo trumpista, que resultou na selvageria da invasão do Capitólio, apoiada por Bolsonaro, o governo de Joe Biden emitiu uma nota mortal contra as bravatas: “Os Estados Unidos confiam na força das instituições democráticas brasileiras. O país tem um forte histórico de eleições livres e justas, com transparência e altos níveis de participação dos eleitores. As eleições brasileiras, conduzidas e testadas ao longo do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas, servem como modelo para as nações do hemisfério e do mundo. Estamos confiantes de que as eleições brasileiras de 2022 vão refletir a vontade do eleitorado.” Outras nações democráticas foram na mesma linha. O mundo civilizado monitora atônito as molecagens do cercadinho.

Os EUA, na era pós-Trump, não engoliram o golpismo e o escárnio de Bolsonaro ter pretendido nomear o chapeiro Eduardo Bolsonaro para embaixador brasileiro em terras ianques. O “filé” que ele pretendia dar ao filho foi inviabilizado politicamente, mas foi a primeira demonstração do desprezo pelas instituições e desrespeito ao mundo, como todos os fascistas da história que acham que tudo podem. Os vergonhosos resultados econômicos e geopolíticos das vadiagens internacionais do capitão só realçam a relevância do Brasil na era Lula, quando o país era chamado e parabenizado em pautas da governança global, do combate às desigualdades, à fome, crise sanitária, situação climática e o desmatamento. Servem também para redimensionar o Brasil no exterior. O país é sempre bem-vindo ao debate mundial sobre temas globais relevantes e contemporâneos. Porém, é ignorado quando a agenda é a da mediocridade do cercadinho, medieval, bizarra, belicista e antidemocrática. A diplomacia do cercadinho foi um tiro no pé que não encontrou, obviamente, eco no mundo.

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Bolsonaro e Trump, uma charge que representa bem o encontro - Portal de  Notícias Estado do Acre

Bolsonaro: exposição de charges com presidente lambendo botas de Trump é  suspensa no RS

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15
Jan22

Bolsonaro bloqueou 82 jornalistas e oito veículos de comunicação

Talis Andrade

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por Pedro Teixeira /Abraji

Dos 315 bloqueios no Twitter contra profissionais de imprensa registrados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) até 11.jan.2022, 291 foram realizados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), seus filhos que também ocupam mandatos eletivos, ministros e secretários especiais de Estado, além de parlamentares que compõem a base de apoio do atual governo. O chefe do Executivo lidera a lista de bloqueadores, tendo distribuído 82 vetos.

Na visão do Twitter, a rede social não precisa interferir na decisão de autoridades de bloquearem usuários, “já que o recurso é prerrogativa de quem usa a rede social e é uma situação que não se desenrola pelo Twitter, mas sim por pessoas que utilizam a plataforma”. A declaração foi dada ao Núcleo Jornalismo, em matéria publicada na terça-feira (11.jan.2022), por Hugo Rodriguez Nicolat, diretor de Políticas Públicas do Twitter na América Latina. A reportagem tomou como base o monitoramento de bloqueios feito pela Abraji desde set.2020.

Em tutorial publicado no Youtube, a gigante da tecnologia afirma que o bloqueio pode ser usado por usuários para evitar ver postagens rudes, maldosas, sem senso, inadequadas ou perturbadoras. Jornalistas ouvidos pela Abraji afirmaram que foram bloqueados por criticar o presidente, por sua atuação como profissional de imprensa ou sequer sabem o motivo da represália.

“Eu não faço ideia do que motivou o bloqueio, mal ‘tuíto’ e não me lembro de ter marcado Bolsonaro em alguma publicação. Talvez tenha algo a ver com o trabalho da Brazilian Report, mas a empresa não foi bloqueada”, conta Gustavo Ribeiro, fundador do veículo que entrega um panorama do Brasil ao público estrangeiro e um dos 152 jornalistas bloqueados por 41 autoridades de Estado.

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19
Nov21

"Vai demorar muito para reconstruir o Brasil", diz Lula ao anunciar encontro com Macron em Paris

Talis Andrade
O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em conferência na Sciences Po, em Paris, dez anos após receber o título de Doutor Honoris Causa desta prestigiosa escola de política. 16 de novembro de 2021
O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em conferência na Sciences Po, em Paris, dez anos após receber o título de Doutor Honoris Causa desta prestigiosa escola de política. 16 de novembro de 2021 © RFI/ Paloma Varón

Em seu primeiro dia em Paris, terceira etapa de seu giro europeu, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva proferiu a conferência “Qual lugar para o Brasil no mundo de amanhã?” nesta terça-feira (16) na prestigiosa escola de ciências políticas Sciences Po de Paris, onde recebeu o título de Doutor Honoris Causa há dez anos. Em seu discurso sobre as relações entrre o Brasil e a Europa, Lula disse que vai se encontrar na capital francesa com o presidente francês Emmanuel Macron. 

Em seu giro pela Europa, Lula, que ontem foi apaudido de pé no Parlamento Europeu, na Bélgica, não cansa de reiterar o quanto é grato pela solidariedade que recebeu durante os seus 580 dias de prisão.

Em solo francês desde a manhã desta terça-feira, o ex-presidente brasileiro já encontrou a prefeita socialista de Paris, Anne Hidalgo, que lhe concedeu o título de cidadão honorário no ano passado, e citou, durante a conferência na Sciences Po, a solidariedade que recebeu do ex-presidente francês François Hollande (Partido Socialista) e do deputado de esquerda radical Jean-Luc Mélenchon (A França Insubmissa) durante seus dias no cárcere. 

Lula citou também o comitê Lula Livre Paris e os acampados que resistiram durante todo o tempo de sua prisão e lhe davam "bom dia" e "boa noite". Mas o que surpreendeu na noite desta terça-feira foi o anúncio de que ele se encontrará com o presidente francês. Lula não representa o Brasil oficialmente e não se sabe em que circunstâncias ocorrerá o encontro, mas ele é importante para a imagem do país na França, visto que o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, não mantém boas relações com o governo francês desde seu primeiro ano de mandato.

Em 2019, Bolsonaro se recusou a receber o chanceler Jean-Yves Le Drian, em visita a Brasília e com uma reunião agendada com o presidente, com uma desculpa de agenda cheia, mas fez uma live cortando o cabelo na hora em que deveria ocorrer o encontro. Depois, acusou Macron de ingerência sobre o Brasil, quando o presidente francês denunciou as queimadas na Amazônia. Logo em seguida, criticou a aparência da primeira-dama, Brigitte Macron. Neste contexto, o encontro entre líderes políticos dos dois países, que sempre tiveram laços de amizade, mas andavam se desentendendo após tantos conflitos diplomáticos, é um acontecimento simbólico.  

Comparação inevitável

Nos discursos de abertura, Laurence Bertrand Dorléac, presidente da Fundação Nacional de Ciências Políticas, e Olivier Dabène, presidente do Observatório Político da América Latima e o Caribe (OPALC), saudaram Lula com um "bem-vindo à sua casa" e destacaram que o ex-presidente foi o 16º a receber o título Honoris Causa e o primeiro a vir da América Latina. “Um evento que entrou para a história da Sciences Po, que é a sua casa. O Brasil é bem-vindo à Sciences Po", disse Bertrand Dorléac.

 

Lula fala na Sciences Po em Paris

 

Em sua fala, que foi aplaudida efusivamente diversas vezes pelos estudantes da instituição e demais presentes, Lula traçou um histórico da pobreza no Brasil e de como o seu governo priorizou a educação. 

"É inevitável comparar o Brasil que tínhamos há dez anos ao isolamento em que o país se encontra hoje", disse o ex-presidente. "O Brasil chegou a ser a sexta economia do mundo. Graças ao Bolsa Família, tiramos 36 milhões de pessoas da miséria. Em 2012, saímos do Mapa da Fome da ONU", continuou, lembrando que criou 18 universidades e reservou cotas para negros, indiígenas e alunos de escolas públicas. 

"Pela primeira vez, negros, pardos e filhos de trabalhadores chegaram a ser maioria nas universidades públicas do país. Reduzimos as desigualdades e aprofundamos a nossa democracia. Pela primeira vez, colocamos os trabalhadores e os pobres no orçamento da União. E vimos que o pobre era a solução, não um problema", afirmou. 

"Vivemos uma época de crescimento extraordinário do Brasil; éramos o país mais otimista do mundo. O país com mais esperança, mesmo sem ganhar uma Copa do Mundo desde 2002", disse o ex-presidente, fazendo a plateia francesa rir.

 

Críticas a Bolsonaro

Segundo Lula, transformações desta magnitude parecem intoleráveis paras as elites forjadas na escravidão.

Em seguida, ele lamentou a "destruição da Petrobras e do Bolsa Família: acabou porque eles entenderam que era um símbolo do governo do PT e precisavam destruir".

“Tenho 76 anos de idade e nunca vi a fome tão espraiada no Brasil como está agora. Temos 19 milhões de pessoas com fome e 16 milhões com algum problema de insegurança alimentar”, denuncia. Para ele, o "impeachment de Bolsonaro virá do povo, pelo voto democrático". "Chega", desabafou. 

"O governo Bolsonaro desmonta políticas públicas bem sucedidas, persegue cientistas e artistas, colocou o Brasil de costas para o mundo e quem mais sofre com isso é o povo brasileiro. Hoje ninguém investe no Brasil, porque não acredita em mentiras", segundo ele, por falta de credibilidade do atual governo. Lula citou as "fake news de Bolsonaro" como um dos fatores que afastam investidores.Image

"O Brasil, que era a menina dos olhos dos investidores se transformou numa coisa feia. Bolsonaro vai ao G20 e ninguém o cumprimenta ou cumprimenta por obrigação", analisa. Lula classifica o Brasil de hoje como "uma vergonha".

Quando o mundo dizia que o Brasil ia bem porque eu dava sorte, eu digo: "Se sorte é o que o Brasil precisa, então vamos eleger alguém que tenha sorte", disse, arrancando mais aplausos. 

Mas, mesmo otimista, Lula admitiu que "vai demorar muito mais para reconstruir o Brasil agora". 

 

26
Out21

"Bolsonaro é presidente do cercadinho. O do cercadão é André Esteves", diz Hildegard Angel

Talis Andrade

Exclusivo: vaza áudio do banqueiro André Esteves, que revela como ele  influi na Câmara e no Banco Central (assista) - Brasil 247

 

247 – A colunista Hildegard Angel, que integra o grupo de jornalistas pela democracia, ironizou o vídeo em que o banqueiro André Esteves fala como dono do Brasil e do governo Bolsonaro.

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Segundo Hildegard, isso explica o complexo de Jair Bolsonaro, porque ele manda apenas no seu cercadinho. Confira seus tweets e o vídeo de Esteves:

Hildegard Angel
Para André Esteves, Bolsonaro de boca fechada é um poeta, e pode até se reeleger, mantendo a mesma pauta. Para quê Bolsonaro, 01, 02, 03, 04, Guedes, Arthur Lira, se quem manda é o André? Restaure-se a monarquia, entronizando a Casa de Pactual, com a Dinastia dos Esteves.
@hilde_angel
Agora entendi o complexo de inferioridade de Bolsonaro, que toda hora esperneia e diz "o presidente sou eu", "quem manda sou eu". Bolsonaro é presidente só do do cercadinho. O presidente do cercadão é o André Esteves.

 

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