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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

25
Out22

Com Aristóteles, clamamos: deuses e bestas, fiquem fora da política!

Talis Andrade

nova política por vaccari.jpeg

 

Por Lenio Luiz Streck

Na crise da democracia, devemos ir aos clássicos. Aristóteles dizia que o homem é um ser sociável por natureza. É um politikon zoom, animal político. Ou isso, ou somos deuses. Ou somos bestas.

Por isso, foi enfático: a política é uma ciência estritamente humana, não é assunto nem de bestas nem de deuses.

Também Aristóteles dizia que, por ser um animal político, o ser humano busca parceiro(a) para se unir e formar família, grupos e assim vai.

Talvez hoje em dia o homem (ou mulher) busca parceiros de WhatsApp para formar neocavernas. É o novo "homowhatszapiens".

Acima dos grupos humanos estão os grupos de WhatsApp. Viva. E o TikTok, é claro.

Platão, professor de Aristóteles, talvez tenha sido o primeiro a criticar as bestas, os néscios. Contra esses, formulou a Alegoria da Caverna.

As sombras são sombras, denunciava. Mas de nada adiantava. O rei filósofo foi apedrejado ao dizer que as sombras não eram a realidade.

Hoje em dia já não há fatos. Há apenas narrativas. Mas, como vimos, isso é coisa velha. E, pior, sempre cabe qualquer narrativa. Eis o novo mundo. Vasto mundo. Que, assim, pode, sim, ser chamado de Raimundo, para desdizer o poema de Drummond.

Hoje já é possível dar às palavras o sentido que se quer, dando razão ao personagem Humpty Dumpty, de Alice Através do Espelho, de Lewis Carroll.

Como exercitar a democracia nestes tempos em que já não há fatos? Eis a pergunta de 2.500 anos de filosofia. E de política.

Pergunta-se: do modo como se apresentam, hoje, as redes sociais são compatíveis com a democracia?

As redes, com seus algoritmos e quejandos, criam seus próprios critérios de verificação. É esse o ponto. Daí a incompatibilidade com a democracia.

A democracia moderna é uma questão de linguagem pública. Há critérios para se dizer as coisas — e esses critérios são públicos, construídos intersubjetivamente.

Por isso não surpreende os "outsiders". Outsider é quem vem de fora do jogo de linguagem da política. As redes facilitam isso. Por quê? Ora, exatamente porque criam seus próprios critérios de verdade.

O que é uma república? A resposta é polis. É res pública. Coisa pública. Política. Coisa essencialmente pública. Porém, quando o meio de se fazer política passa a ser as redes, privatiza-se os critérios de verificação. Desaparece a mediação.

Daí passam a valer todos os paradoxos e paroxismos: gente contra a corrupção que tem orgulho de sonegar. Médico a favor de cloroquina. Médicos que possuem autonomia absoluta para receitar cloroquina; mas canabidiol, não. Pastores e evangelizadores que apoiam tortura, misturam o que é de Deus e o que é de César para prosperar (anti)politicamente com base na fé alheia. Fracassamos? A pergunta é retórica.

As redes permitem isso, porque, assumindo o já paradoxal papel de meio — porque não há mediação —, substituem a política, pública e tradicional, por um simulacro em que os critérios são ad hoc.

A mentira como critério da verdade.

A política foi degenerada — pelos tais outsiders — e, fundamentalmente, "evangelizada": pastores da fé e da carteira alheia, "padres" de festa junina — os outsiders de um Estado que é laico.

A esperança? Recuperar o politikon zoom. O animal político. E não as bestas "políticas".

Afinal, fatos existem, por mais que as narrativas queiram se impor. E, sim, as sombras eram mesmo sombras.

Às vezes, o padre é mesmo só de festa junina. E o que é de Deus não é de César.

A política é pública. Como disse Aristóteles, a política não é assunto nem de bestas nem de deuses.

Logo, como os tais "outsiders" e os protagonistas — que misturam religião e sua (anti)política — à toda evidência não são deuses, resta-lhes a segunda hipótese, segundo o velho Aristóteles: bestas.

 

velha política bhaz bruno lanza.jpeg

17
Out22

Mito da Caverna

Talis Andrade

Amazon.com.br eBooks Kindle: PLATÃO: O Mito da Caverna (Coleção Filosofia),  Platão

 

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Conclusões acerca do Mito da Caverna

por Francisco Porfírio

- - -

A metáfora proposta pela Alegoria da Caverna pode ser interpretada da seguinte maneira:

  1. Os prisioneiros: os prisioneiros da caverna são os homens comuns, ou seja, somos nós mesmos, que vivemos em nosso mundo limitado, presos em nossas crenças costumeiras.
  2. A caverna: a caverna é o nosso corpo e os nossos sentidos, fonte de um conhecimento que, segundo Platão, é errôneo e enganoso.
  3. As sombras na parede e os ecos na caverna: sombras e ecos nunca são projetados exatamente do modo como os objetos que os ocasionam são. As sombras são distorções das imagens e os ecos são distorções sonoras. Por isso, esses elementos simbolizam as opiniões erradas e o conhecimento preconceituoso do senso comum que julgamos ser verdadeiro.
  4. A saída da caverna: sair da caverna significa buscar o conhecimento verdadeiro.
  5. A luz solar: a luz, que ofusca a visão do prisioneiro liberto e o coloca em uma situação de desconforto, é o conhecimento verdadeiro, a razão e a filosofia.

Transcrevi trechos. Leia mais 

14
Jan22

O extremo como banalização da vida

Talis Andrade

 

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A tragédia anunciada em Capitólio, município de Minas Gerais, nos mostra que vivemos tempos extremos. Esperamos atos extremos para enxergarmos que algo não está certo

 

Por Isabelle Medeiros de Freitas /Mídia Ninja

Os fatos vivenciados no ultimo ano (2021) são muitos concretos para identificarmos um período repleto de extremidades. As queimadas quando ocorreram, por exemplo, foram muito fortes. A seca, quando veio, gerou grande estiagem, isso naturalmente geraria uma compensação natural, ou será que ninguém pensou que não? Chegamos até mesmo a ver fortes geadas que atingiram a principal região produtora de café do Brasil, o sul de Minas Gerais, essa mesma região que presenciou o último acontecimento, devido ao alto e previsível período de chuvas. E não pensemos que isso não esteja interligado ao dia a dia de cada um de nós, pois está, e principalmente sobre aquilo que chega a nossa mesa. Basta olharmos para uma das bebidas mais consumidas no país, o café, que gradualmente bate recorde de preços, com efeito direto na economia e no bolso do brasileiro, justamente por sua produção ter sido dificultada, vejam só: ora pela inflação, ora pela falta de política pública, ora pelo clima, ora pelo fato do agronegócio cavar a própria cova.

Há algum (bom) tempo, tem sido anunciada a necessidade de se debater o clima que, atacado pela ação do homem, tem ocasionado cada vez mais acontecimentos extremos para a humanidade. O acontecido nos Cânions de Capitólio não é uma exceção. É preciso debater a emergência climática no interior de nosso país!

O agravamento da La Niña, fenômeno climático capaz de aumentar drasticamente a quantidade de chuvas, é um dos fatores básicos que induziram para que o desprendimento da rocha acontecesse. Conforme podemos ver a seguir, no período do acidente (08 de janeiro de 2022) foi previsto o equivalente a 78.9 mm de água, do qual, caracteriza-se como um volume razoavelmente grande de chuva, o que facilitaria a pressão hidrostática sob a rocha, e consequentemente o rompimento e movimentação do bloco. Ou seja, as fraturas se encharcam de água e fazem com que a rocha se solte, ação essa gerada em decorrência do processo de intemperismo químico.

Acumulação de água no local do acidente. Fonte: Windy.com

 

Como ocorrem os tombamentos de bloco. Autoria: Rubson Pinheiro Maia – Universidade Federal do Ceará.

 

Importante ressaltar que, não apenas as forças exógenas atuaram aqui, mas os impactos aconteceram principalmente sob o comando da ação antrópica. Essa região, popularmente conhecida por ser uma ampla área de navegação turística, geram diversos ruídos, sejam eles hídricos, através do movimento dos motores dos barcos na água, e do próprio percurso da água em si, já que os vales são formados pelos rios existentes, ou sonoros, devido a música propagada em volumes absurdos pelos turistas nas lanchas. Agora pensem: isso acontecendo todos os dias, e multiplicado na alta temporada. Sim, altos impactos diretos por todos os lados.

Ao falarmos dos Cânions, falamos de um imenso maciço rochoso devidamente resistente, que possuem estruturas de quartzitos, cuja formação ocorreu há milhares de anos de forma lenta e natural, e nada mais são do que formas do relevo, onde vemos vales profundos, bonitos e imponentes. Dessa forma, qualquer fração de rocha não se desprenderia se não fosse por um acúmulo de fatores e estímulos, acúmulo esse que ocasionou em uma fratura visualmente notável desde meados de 2012, conforme na foto que ilustra o início deste texto. Porém, o turismo de massa resultou no que conhecemos de mais predatório e imprudente, fazendo com que diversas irregularidades fossem presenciadas por meio do uso do espaço, das construções civis em torno da área, da falta de assistência e direitos aos trabalhadores locais, do aumento de trabalho informal e da própria exploração destrutiva (antes do represamento havia uma pedreira, para exploração e extração de quartzo próximo deste local, hoje inativa).

Essa fórmula de uso e apropriação do espaço pode ser alterada. É preciso parar o desmonte de órgãos de conservação, monitoramento e fiscalização, cumprir as legislações ambientais e realizar, com os devidos profissionais da área, estudos mínimos, pois, tragédias como essas não ocorrem do dia para a noite e podem ser evitadas. E estas não são evitadas com a ganância humana, negligência, irresponsabilidade e um péssimo espectro do Governo Federal (leia-se também o atual Governo do Estado de Minas Gerais) que reverberam a forma mais pejorativa sobre essas pautas. Tragédias assim são evitadas com pesquisa, planejamento e prevenção ambiental. É possível fazer turismo de maneira sustentável e muitos lugares do Brasil podem ensinar sobre isso, com ações que respeitem os moradores locais, coloquem limites entre sociedade e o ambiente com consumo consciente e com propostas reais que façam gradativamente a economia acontecer de forma exponencial, com o mínimo de impacto negativo, já que a pauta econômica por aqui nessas situações é sempre usada como amuleto, então, mais do que urgente que utilizem de outras formas para sustentá-la.

Por fim, não façamos de Minas Gerais o cenário nacional dos desastres. Paremos de utilizar isso como metodologia produtiva, só em razão do capital. Não esperemos a próxima tragédia acontecer, nem tenhamos mais que consolar aqueles que perdem um ente querido para lembrar que o dinheiro pode estar acima de tudo, mas não está acima da natureza, e tão pouco que a paisagem é estática, pois não é, segue em constante transformação. E nessa transformação não há recurso que esteja acima das mudanças naturais e climáticas, acima de nossas vidas.

É necessário alterar os rumos da crise climática, civilizatória, política, cultural, estética, econômica e social no Brasil. Por natureza, precisamos deixar de ser um país colapsado.

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Observatório do Clima, 19 anos
@obsclima
Segue o Baile da Ilha Fiscal da destruição do Brasil. Hoje saiu um decreto presidencial que libera a destruição de QUALQUER CAVERNA do país, mediante declaração de "interesse público". in.gov.br/en/web/dou/-/d

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