Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

02
Abr23

De volta ao Brasil, Bolsonaro terá de sobreviver a investigações e aprender a ser oposição

Talis Andrade

 

Segurança reforçada em Brasília para a chegada de Jair Bolsonaro, após três meses de retiro em solo americano, pela derrota nas urnas. Ele será recebido por apoiadores e políticos em evento do PL e há até quem defenda desfile em carro aberto pela cidade. Analistas ouvidos pela RFI dizem que o ex-presidente não tem a mesma força eleitoral das urnas, mas continua vivo politicamente. Seu futuro, porém, depende da Justiça e do desempenho do governo Lula.

Jair Bolsonaro será recebido por apoiadores e políticos em evento do PL e há até quem defenda desfile em carro aberto pela cidade.

 

 

por Raquel Miura /RFI 

- - -

Eleitores fiéis esperam de Jair Bolsonaro uma postura ativa na política e na sociedade, com caravana pelo país a fim de reforçar pontes eleitorais e manter em alta o discurso da extrema direita. Políticos ligados ao ex-presidente defendem que ele seja uma caixa de ressonância contra o governo Lula, embora saibam que será preciso dosar a língua para não se enrolar nela e afastar a pecha de profeta do caos.

Já os adversários torcem para que Bolsonaro dispense energia respondendo a processos na Justiça. A Polícia Federal agendou para o próximo dia 5 o depoimento dele e de ex-assessores no caso das joias recebidas em 2021 do príncipe saudita Mohammed bin Salman. Mesmo com outros casos em curso no judiciário, a avaliação de alguns petistas é de que uma eventual prisão de Bolsonaro agora traria efeitos politicamente imprevisíveis e poderia inclusive ajudar o ex-presidente a construir a narrativa de que é um perseguido da Justiça. Por isso, entre seus rivais, o desejo é desidratá-lo com apurações e escândalos.

 
Imagem
 
 

Certo no meio político é que Bolsonaro, mesmo que não tenha a mesma força que conseguiu nas urnas, ainda conta com um capital político relevante e não está morto eleitoralmente. “Bolsonaro continua sendo um líder político que não pode ser desprezado, tanto que ele ainda mobiliza parte de um eleitorado da extrema direita que gostaria de vê-lo candidato à presidência em 2026”, afirmou à RFI a cientista política Luciana Santana, professora na Universidade Federal de Alagoas e na Universidade Federal do Piauí.

“Mas, claro, isso esbarra na instância judicial. E ele precisa responder a esses processos, precisa ser responsabilizado caso seja confirmada a sua participação em atos que atentem contra a Constituição, contra as instituições políticas brasileiras. Então esses novos passos é que vão dizer efetivamente se Bolsonaro vai se tornar uma carta fora do baralho. Hoje ainda não é”, disse Santana.

Diversas investigações

Há em curso investigações envolvendo Bolsonaro conduzidas pelo Supremo Tribunal Tribunal Federal, Polícia Federal e Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que apura abuso de poder econômico nas eleições. Outro ingrediente importante no jogo de cartas do ex-presidente é o sucesso ou não do governo Lula. 

“No mínimo ele parte de uma base entre 15 e 20% dos eleitores. Dependendo do desempenho do governo do PT, poderá ter até mais – sobretudo se não houver da parte do TSE alguma medida em relação à inelegibilidade do ex-presidente. Acho que não é carta fora do baralho”, avaliou à RFI o analista político e professor do Insper Carlos Melo.

“Acho que Bolsonaro tem viabilidade. Agora, tem uma série de escândalos que ele terá de explicar. E ele também não terá a máquina pública a seu favor como teve em 2022, e isso foi muito importante”, pondera Melo.

Antes de embarcar para o Brasil, Bolsonaro evitou falar com alguns jornalistas que o abordaram no saguão do aeroporto de Orlando, na Flórida. Mas conversou com a CNN numa sala VIP, quando afirmou que “não vai querer substituir os parlamentares da oposição. Eles é que vão dar o norte. Eu, no momento, sou um político sem mandato. Vou estar ao lado da nossa bancada”.

Futuro à direita

“Temos hoje em dia uma direita que cada vez mais se aglutina, sabe o que quer, tem um objetivo. Não é oposição irresponsável, oposição pela oposição”, afirmou o ex-presidente, que fez críticas ao governo Lula, citando invasões de terra e dizendo que “não tem como esse governo dar certo”.

Bolsonaro também afirmou que o resultado da última eleição foi apertado, mas que considera o assunto “página virada”. Revelou que, junto do PL, pretende participar das articulações políticas para a escolha de prefeitos ano que vem.

A disputa municipal é de fato apontada como teste interessante para o ex-presidente, especialmente a performance que aliados diretos dele terão no pleito. “Escândalos e processos judicais podem impactar a ambição política da família de Jair Bolsonaro, como na prefeitura do Rio, que deve ser disputada por um dos filhos. No caso da Michelle, não acho que ela será uma presidenciável", ressalta Luciana Santana. "Acho que ela está nos planos do PL por ser um quadro importante, tendo em vista sua ligação principalmente com os segmentos religiosos. Mas apostaria numa disputa dela  ao Legislativo e não à Presidência da República.”

O analista Carlos Melo também tem dúvidas sobre o protagonismo que caberá à ex-primeira-dama e lembra as desavenças entre ela e alguns filhos de Bolsonaro.  “Ela divide esse patrimônio bolsonarista com outros membros do clã. Até onde consta, o relacionamento entre eles é tortuoso, complicado, sobretudo com Carlos Bolsonaro –  mas pelo que se viu nesses meses, também com Flávio Bolsonaro. O PL está de olho no voto feminino, mas diria que é cedo falar em ocupar o lugar o marido”, analisa Carlos Melo.

Vida confortável em Brasília

Fugindo à tradição dos ex-presidentes, Bolsonaro continuará morando em Brasília, mesmo tendo o Rio de Janeiro como seu domicílio eleitoral. O ex-presidente vai morar com Michele numa mansão em condomínio fechado e cada um vai receber do PL um salário equivalente à remuneração de um deputado federal, hoje cerca de R$ 40 mil por mês.

Ele, como presidente de honra do partido, e ela, como presidente do PL Mulher, terão também salas à disposição na sede da legenda. Como o ex-presidente ainda recebe aposentadorias militar e parlamentar, o rendimento mensal do casal deverá passar dos R$ 130 mil.

Os partidos políticos recebem recursos públicos por meio do Fundo Eleitoral e a distribuição se dá pelo tamanho da bancada eleita. O Tribunal Superior Eleitoral estabeleceu em R$ 1,2 bilhão o limite de dotação desse fundo para o exercício de 2023.

 
 
Imagem
 
 
31
Mai22

Cláudio Castro contra câmaras no uniforme da polícia e chama vítimas de chacina do Jacarezinho de "vagabundos"

Talis Andrade

 

O governador do Rio de Janeiro não respeita o luto das famílias. A declaração foi concedida dias após da chacina da Vila do Cruzeiro, a terceira operação policial com o maior número de mortes. Para os soldados de Castro e Bolsonaro todos os moradores das favelas são bandidos. E o Rio, ex-Cidade Maravilhosa, virou zona de guerra. Apenas os bairros ricos e territórios das milícias são considerados livres de operações militares. 

 

 

247 - O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), chamou de "vagabundos", nesta segunda-feira (30), os mortos na operação policial na favela do Jacarezinho, zona norte da cidade do Rio, em maio de 2021. Foi a ação policial mais letal da região metropolitana do estado, com 28 mortes, das quais 24 foram arquivadas. Outras duas, com ao menos 23 mortes cada, aconteceram em Duque de Caxias, em 1998, e na Vila Cruzeiro, zona norte da capital, na última terça-feira (24).  

Um levantamento do Instituto Fogo Cruzado, divulgado na semana passada, também apontou que o estado do Rio teve 39 chacinas e 178 mortes em apenas um ano de gestão, durante o governo Cláudio Castro.

"Cada policial que eu perco, eu perco duas vezes. Por isso que aquele memorial lá, nós tombamos ele. O nome do André [o policial] não merece estar no meio de 27 vagabundos. O único herói que merecia um memorial é o André com seu filho, da idade do meu, que chora até hoje", disse Castro em coletiva de imprensa.

 

Foto: Selma Souza / Voz das ComunidadesFoto: Selma Souza / Voz das ComunidadesMemorial de Vítimas da Chacina do Jacarezinho é alvo de ataque - YouTube

 

Falta de amor ao próximo. De respeito aos mortos. O Memorial foi derrubado na marra pelos policiais que participaram da chacina. A maior chacina do Rio. A mais letal e desnecessária. Os soldados entraram na favela atirando, derrubando portas, matando os moradores nas ruas e nas casas. A fúria assassina. O prazer de matar de serial killers

 

O governador fez referência ao policial civil André Leonardo de Mello Frias, morto na operação, e que estava com o nome na placa retirada pela polícia. 

No dia 11 de maio, a Polícia Civil do Rio de Janeiro destruiu um memorial em homenagem às 28 vítimas da Chacina do Jacarezinho. O memorial, inaugurado cinco dias antes, foi uma iniciativa de moradores da comunidade, amigos e familiares dos mortos.

Os moradores da favela pensam diferente do governador. Em reportagem de Thayná de Souza e fotos de Selma Souza, a Voz das Comunidades publicou:

Exatamente após um ano, o nome dos 28 assassinados pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro no Jacarezinho está gravado eternamente na favela, considerada a mais negra da cidade. Do total, 27 eram moradores e 1 era servidor público. Por volta das 14h50, a marcha que relembra a maior chacina da história do Rio adentrou as ruas do Jacarezinho com mulheres negras à frente, segurando a faixa “28 mortos não é operação, é chacina! 1 ano sem respostas”, rumo ao memorial.

 

Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Chacina do Jacarezinho: 'Brasil foge de regras que se aplicam a uma guerra  e faz extermínio'

Rio: polícia põe em sigilo por 5 anos nomes da operação no Jacarezinho

Enquanto a caminhada seguia, alguns moradores que trabalhavam e andavam pelas ruas do Jaca paravam para ler os cartazes e observar. Frases de apoio puderam ser ouvidas e também diálogos que só quem é favelado entende. “Botaram essas polícia aí não sei pra quê”, comentou uma senhora com a outra, que respondeu de pronto: “Pra matar mais gente!”. “Eles tiram a vida dos outros” e “a escravidão não acabou!” também foram ditas em tom de indignação por moradoras enquanto a marcha seguia.

Durante a cerimônia de inauguração do memorial, mães, irmãs e primas estavam presentes. Tassiana Barbosa era irmã de criação de duas vítimas, Richard Gabriel, de 23 anos e Isaac Ferreira, de 22, que morava na mesma casa que ela, já que sua família não era de lá. “É muita tristeza depois de um ano ainda sem nenhuma justiça! Eu acho que isso nunca vai mudar. A gente que mora aqui até desacredita que algo vai ser feito. Se fosse na Zona Sul, seria totalmente diferente”, relatou. 

 

 PARA PROTEGER HOMICIDAS, GOVERNADOR CONTRA POLICIAIS UTILIZAREM CÂMERAS NO UNIFORME

 

Questionado sobre a possibilidade de outros batalhões policiais, e até a Polícia Civil, utilizarem câmeras no uniforme, Castro afirmou que "operação é planejada, tem estratégia e tem sigilo. Há de se tomar muito cuidado, principalmente pensando na vida do policial".

Na última sexta-feira (27), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin determinou que o governo do Rio de Janeiro ouça sugestões do Ministério Público, da Defensoria Pública do Estado e da Ordem dos Advogados do Brasil - seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ) na construção do plano, com o objetivo de reduzir a letalidade policial. 

Mônica Cunha, defensora dos direitos humanos, que teve seu filho Rafael assassinado pelo Estado com apenas 20 anos, disse emocionada: “A gente não aguenta mais ficar botando memorial em favela com o nome dos nossos”. Ela destacou também o que é sempre ignorado ao se tratar de corpos favelados, principalmente pretos. “Esses meninos são nossos filhos, nossos irmãos! Eu quero homem preto igual a você (apontou para o advogado e morador Joel Luiz), não quero homem preto com nome em memorial”.  

Joel Luiz, citado por Mônica, em seu discurso durante a homenagem, pontuou que essa chacina não se construiu em um dia, mas em séculos de escravidão. “28 mortes é um projeto do estado brasileiro”, completa. Sobre o sentimento durante o memorial, ele desabafa que hoje é um dia muito importante.

“Nesse primeiro aniversário de muitos que estão por vir, de que isso não vai ser mais um dia. Não foi só mais uma operação, que, na verdade, foi uma chacina. Não foi só mais uma manhã, mas um dia que a gente vai lembrar todo ano. Eu, enquanto estiver aqui, vou lembrar todo ano. Nem que seja por uma faixa, por fogos, por uma caminhada… Eu vou lembrar todo ano. Porque eu não vou e não podemos normalizar esse tipo de ação, sobretudo no nosso território. O que fica é: isso aconteceu, não pode mais acontecer e temos que lembrar para que não mais aconteça”, finaliza.

 

Na marretada derrubaram o Memorial. Os moradores decidiram pichar os muros. Os mortos inocentes jamais serão esquecidos
 
 
Polícia destrói memorial em homenagem a mortos da Chacina do Jacarezinho
RJ: entidades querem a reconstrução de memorial destruído no Jacarezinho |  Band
Memorial a 28 mortos no Jacarezinho é retirado por ser considerado apologia  ao tráfico | Rio de Janeiro | O DiaPolícia destrói memorial pelas vítimas da Chacina do Jacarezinho -  11/05/2022 - UOL Notícias
 
 
 
 

Um memorial que servia de homenagem aos 28 mortos na Chacina do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro, foi derrubado por policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE).

A CORE, grupo criado especialmente para invadir favelas e realizar operações, é uma unidade especial da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Os agentes usaram marretas e um caveirão, carro blindado, para destruir a estrutura.

A chacina do Jacarezinho foi a ação policial mais letal da história do estado do Rio.

O memorial, inaugurado no último dia 6 de maio, por moradores da comunidade e movimentos sociais, buscava homenagear os assassinados neste trágico episódio. 

Na estrutura do monumento derrubado estava escrito que “nenhuma morte deve ser esquecida. Nenhuma chacina deve ser ignorada”. Além disso, tinha os nomes dos mortos em placas de ferro.

 

Chacina do Jacarezinho mostra terrorismo policial no Brasil

 

Diversas entidades internacionais mobilizaram denúncias em relação a essa ação brutal da polícia do Rio. Os acontecimentos da chacina foram denunciados como uma violações graves de direitos humanos pela ONU.

O Jacarezinho é o bairro do Rio de Janeiro com o maior número de moradores mortos em chacinas decorrentes de operações policiais. 

Fica cada vez mais claro que o estado burguês e seu aparato policial fazem de tudo para assassinar, prender e eliminar a população dos bairros pobres. Depois de mortos, precisam apagar o seu legado e a sua memória. 

 

 

 

 

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub