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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

22
Jun20

Cabo Sudré, o matador da PM de São Paulo

Talis Andrade

PM que matou um menino de 12 anos em são paulo - YouTube

V - PM que matou menino de 12 anos em SP tem carreira marcada por cadáveres

Por Claudinho Silva, do SOS Racismo, e Laura Capriglione, dos Jornalistas Livres

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O PM Carioca, ou Cabo Thiago Santos Sudré, do 46º Batalhão de Polícia Militar do Interior, é um sujeito temido no bairro. Sob a condição de se manterem no anonimato, cinco moradores disseram quem é o Carioca:

“Ele vem sempre, a pretexto de fazer a ronda. Entra nos prédios, bate nas portas dos apartamentos. Invade. Vem sem mandado. Entra de qualquer jeito, sem autorização mesmo.”

“Ele é capaz de tudo, senhora. Contrariado, é capaz de enfiar um monte de drogas no primeiro que encontrar, só para acusar de tráfico. Destrói a vida da pessoa e da família, sem dó.”

“É um policial safado. Não é toda a polícia que é assim, mas esse é. Eu não sei o que está acontecendo com os órgãos públicos. Ele mata, forja o confronto e não dá nada contra ele.”

“Se ele não vai com a cara de uma pessoa, ele joga a sacolinha ali cheia de droga e forja um flagrante por tráfico. Ele tentou fazer isso com um amigo e se não fosse a mulher dele chorar e implorar…”

“É um bandido de farda, como aquele cara de São Paulo, chamado Cabo Bruno [refere-se ao ex-PM Florisvaldo de Oliveira, acusado por mais de cinquenta assassinatos na periferia de São Paulo durante os anos 1980]. Eu não sei como esse cara ainda está na polícia.” (Continua)

 

21
Jun20

Cabo Sudré, o Carioca, já se envolveu em pelo menos nove mortes e já o comparam ao Cabo Bruno, serial killer famoso nos anos 1980

Talis Andrade

miguel12 morto pelo cabo sudré .jpg

Miguel Gustavo Lucena de Souza, 12 anos, executado pelo cabo Sudré, da PM de São Paulo

 

 

IV - PM que matou menino de 12 anos em SP tem carreira marcada por cadáveres

Por Claudinho Silva, do SOS Racismo, e Laura Capriglione, dos Jornalistas Livres

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Miguel era conhecido no bairro porque estava sempre de costas para o vento, empinando pipa, ou correndo atrás de uma que tivesse sido cortada por cerol. Em seu quarto no Residencial Colônia Paraíso, ainda se vêem duas pipas penduradas na janela. Um tio deu ao irmão de Miguel um automóvel Escort velhíssimo, branco. Com os pneus murchos e sem motor, o veículo está estacionado há anos na área comum do prédio. Miguel gostava de passar horas e horas dentro da lata velha, imaginando que dirigia um possante esportivo. E dormia dentro, muitas vezes com outras crianças. O menino amava carros.

A ameaça do PM Carioca, aquela que foi feita no apartamento da família, calou fundo no menino. Ele parou de vender drogas e migrou para o comércio de doces e balas nos semáforos.

A mãe, assustada, levou-o para passar uns dias em Minas Gerais, para acalmar a tensão. Voltaram no dia 5 de setembro e, logo, o menino saiu para a rua. No dia 6, ele estava com a incrível quantia de R$ 75 no bolso, quando deu de cara com um “nóia” que acabara de roubar um Fox Vermelho. Fissurado demais para consumir crack, o ladrão topou “vender” o carro por R$ 150 para Miguel e um amigo, que juntou outros R$ 75. O carro ficaria por isso mesmo (R$ 150) e mais algumas prestações que nunca seriam pagas.

Então, entraram mais dois meninos na brincadeira e os quatro saíram dando rolezinho pela cidade. Foi por isso que a proprietária do carro não reconheceu nenhum dos adolescentes capturados no parque de diversões, como sendo os ladrões que lhe levaram o Fox. Não eram eles mesmo.

As lágrimas das duas mães

Por volta das 22h50, Andréia foi avisada da morte de seu filho. Ela correu ao Distrito Policial e tinha acabado de perguntar para o delegado de plantão quem havia matado Miguel, quando entrou no recinto o policial que até ali Andréia só conhecia pelo nome de “Carioca”. Ao vê-lo, ela foi até ele, dizendo: “Parabéns, você conseguiu. Estou indo comprar um caixão pequeno para o meu filho. Tá satisfeito?” O PM respondeu-lhe: “Sua louca! Se seu filho fosse bom, não estaria dentro de um carro roubado!”

A proprietária do carro, mãe de um menino da mesma idade de Miguel, ao saber da morte dele, fez questão de comparecer ao velório, realizado no dia seguinte no Cemitério Colônia Paraíso, bem perto do condomínio homônimo. “Eu trocaria mil carros para ter a vida do seu filho de volta”, ela disse a Andréia, os rostos das duas mulheres devastados pelas lágrimas. (Continua)

20
Jun20

É sempre a mesma história: “Resistência seguida de morte”

Talis Andrade

miguelmorto.jpg

Miguel morto: camisa do Corinthians no caixão

III - PM que matou menino de 12 anos em SP tem carreira marcada por cadáveres

Por Claudinho Silva, do SOS Racismo, e Laura Capriglione, dos Jornalistas Livres

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No caso do menino Miguel, o PM Carioca contou que o menino, em companhia de dois outros garotos, teria roubado um automóvel VW Fox vermelho por volta das 18 horas. Localizado o veículo, os policiais iniciaram uma perseguição pelas ruas da zona sul de São José dos Campos, que terminou quando os meninos entraram com o carro em um terreno descampado em que estava instalado um parquinho de diversões. Foi quando o carro colidiu com a grade do carrossel, pondo fim à aventura.

Do veículo saiu correndo o motorista, um adolescente de 17 anos. Dois meninos, de 13 e 14 anos também saíram do carro e jogaram-se no chão. Por fim, saiu Miguel, que estava no banco de trás do Fox. E aí a história contada pelo PM vira a mesma de sempre ­_“resistência seguida de morte”: Miguel teria tentado resistir à prisão, apontou uma arma para os policiais, ao que Carioca respondeu com dois disparos letais. Diz o boletim de ocorrência: “O óbito foi constatado pelo SAMU, viatura 11103, Dr. Leandro CRM 121002. Nada mais.”

O coronel PM José Eduardo Stanelis, comandante da tropa militar na região do Vale do Paraíba, disse que o garoto morto estava com um revólver INA calibre 32 nas mãos e escondia debaixo do tapete do veículo um simulacro de pistola da marca Smith & Wesson. “Então, provavelmente, eles estavam efetuando roubos na cidade”, raciocinou. (Continua)

miguel12 morto pelo cabo sudré .jpg

 

Trata-se de versão bem diferente da apresentada à reportagem dos Jornalistas Livres e do SOS Racismo por pessoas que estavam no parque de diversões na hora em que o garoto foi alvejado pelos tiros do PM. Nada menos do que 100 pessoas lotavam o local nos derradeiros minutos de vida do menino:

É mentira que Miguel andasse armado. Ele nunca pegou num revólver. Nem de brinquedo”, disseram vizinhos que pediram para não serem identificados por temerem retaliações do Carioca.

“Ele saiu com as mãos para cima, dizendo ‘Perdi, perdi’. Mas o Carioca atirou mesmo assim. O primeiro tiro pegou debaixo do braço [na região da axila]. Depois teve outro. E mais outro.”

“Foi uma correria desesperada no parque, mas logo depois as pessoas começaram a voltar e deu tempo de ver que Miguel estava jogado no chão, de costas, com as pernas dobradas. Ele ainda estava vivo quando o Carioca o pegou pelo pescoço –ficaram marcas de sua mão no pescoço fininho. Miguel morreu com os olhos esbugalhados e a boca aberta, tentando respirar”.

A versão dos PMs começou a desabar no descrédito já na delegacia onde foi lavrado o boletim de ocorrência. “Em sede policial, a vítima do crime de roubo, após olhar os conduzidos (adolescentes que estavam no Fox), não reconheceu nenhum deles como sendo os autores do crime de roubo que sofreu”.

Miguel era um dos seis filhos da cuidadora Andréia Gonçalves Pena, mulher negra, evangélica da Assembléia de Deus e chefe de família. O filho mais velho dela é estagiário na Embraer, cargo que obteve graças às notas excelentes no ensino médio. Uma filha, pelo mesmo motivo, conseguiu estágio em outra gigante da engenharia nacional, o CTA, o Centro Técnico Aeroespacial, jóia tecnológica mantida pela Aeronáutica. Miguel não fazia feio nos estudos e era seguidamente elogiado pelos professores da Escola Estadual José Frederico Marques. Mas o menino era sonhador demais.

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“Foi um sonho”: Residencial Colônia Paraíso

 

Quando a família mudou-se em 2015 para um dos 528 apartamentos de 48 metros quadrados do “Minha Casa, Minha Vida” encrustado no Campo dos Alemães, foi felicidade total. Ali, bem perto, ficava a ocupação do Pinheirinho, que se tornou tristemente famosa por causa da violenta ação de despejo de 6.000 moradores, ocorrida em 2012. O bairro parecia ter uma sina ruim, mas a inauguração do Residencial Colônia Paraíso deu uma grande esperança de dias melhores para aquele povo, apesar de o nome do conjunto habitacional ter sido tomado emprestado do cemitério vizinho, que se chama Cemitério Colônia Paraíso, ou Cemitério do Morumbi.

Foi o dia mais feliz da minha vida”, diz a mãe de Miguel, Andréia. “Nunca eu iria imaginar que a gente ia sofrer naquele lugar tudo o que estamos sofrendo”.

Com apenas 10 anos, já no novo endereço, o menino começou a fumar maconha. Logo, o tráfico o recrutou como “aviãozinho” –no organograma da criminalidade, são vendedores de drogas que atuam nas biqueiras. Os traficantes preferem usar crianças com menos de 12 anos nessa função, porque o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990, diz que menores de 12 anos são considerados crianças e, por isso, inimputáveis penalmente, ou seja, não podem sofrer nenhum tipo de penalidade. As medidas socioeducativas, como a internação na Fundação Casa, podem ser aplicadas apenas para adolescentes, na faixa etária entre 12 e 18 anos. Para Miguel, trabalhar como aviãozinho era uma forma de custear as “viagens” com a maconha.

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Receita psiquiátria de Miguel

A mãe, Andréia, nunca aceitou esse caminho para o filho. Ela deu uma surra nele no meio da rua, ao flagrá-lo vendendo drogas –e, por isso, foi chamada às falas pelo Conselho Tutelar. Internou-o durante 27 dias em uma clínica de recuperação para adictos em álcool e drogas, mas teve de tirá-lo porque a tenra idade dele não aconselhava a medida. Procurou ajuda no SAMA (Serviço Ambulatorial Especializado no Tratamento da Dependência Química em Mulheres e Adolescentes), onde uma psiquiatra receitou Carbamazepina, uma droga de tipo “faz tudo”, “indicada para o tratamento de afecções tão diferentes quanto crises convulsivas, doenças neurológicas tipo neuralgia do trigêmeo e para o tratamento do humor bipolar e da depressão, em adultos e crianças”. Implorou no altar e, por fim, pediu ao traficante para que não vendesse mais nada para o filho e nem o empregasse para passar drogas. Nada funcionou. (Continua) 

19
Jun20

A lista dos outros 8 mortos com a participação do cabo Sudré, o Carioca

Talis Andrade

PM que matou um menino de 12 anos em são paulo - YouTube

 

II - PM que matou menino de 12 anos em SP tem carreira marcada por cadáveres

 

Por Claudinho Silva, do SOS Racismo, e Laura Capriglione, dos Jornalistas Livres

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Dois suspeitos em janeiro de 2011

Na noite de 28 de janeiro de 2011, dois homens, não identificados, foram mortos a tiros pelo policial. Os suspeitos teriam roubado uma casa na rua Lorenzo Lotto, no Parque Maria Helena, zona sul da capital paulista. Segundo o que afirmou o PM no 92º DP (Distrito Policial), no Parque Santo Antônio, os suspeitos tentaram fugir em um Volkswagen Golf e, durante troca de tiros, foram mortos.

Um em março de 2014

Em 17 de março de 2014, o policial Sudré teria atirado e matado um motorista que teve apenas a idade revelada (33 anos) em Poço das Antas, Caraguatatuba, litoral de São Paulo. Após a participação no caso, ele foi transferido para o Vale do Paraíba.

Dois em maio de 2015

Em 29 de maio de 2015, o policial participou de uma intervenção que resultou na morte de mais dois suspeitos. Foram mortos Uanderson de Oliveira Gonçalves Martins, 18, e Lucas Aguiar, 17. Naquela ocorrência, segundo a investigação policial apurou, ele não atirou. Durante a ocorrência, os dois jovens estariam conduzindo um carro roubado na estrada Natan Sampaio, no Jardim Capetingal, em São José dos Campos, por volta das 4h. A equipe policial teria dado ordem para que os suspeitos parassem o carro, o que não aconteceu. Nenhum policial se feriu durante a ação.

Um em fevereiro de 2016

Na noite de 8 de fevereiro de 2016, o cabo atirou contra Matheus Pietro Santos Queres, 21, na rua Antônio José Matos Lima, no Parque Residencial União, também em São José dos Campos. Desta vez, o policial informou na delegacia que o suspeito estava com uma motocicleta Honda CB 300R roubada, e tinha sob posse uma arma de fogo de uso restrito. Os policiais só apresentaram o caso no 3º DP da cidade dois dias depois.

Um em abril de 2018

Na madrugada de 25 de abril de 2018, o policial estava na equipe que matou Bruno do Nascimento Barbosa, 28, no Parque Novo Horizonte, em São José dos Campos. Segundo a investigação policial, o cabo Sudré não atirou, mas participou da intervenção. Os policiais disseram na delegacia que Barbosa estava com uma arma e atirou contra eles, que “revidaram à injusta agressão”. Nenhum policial ficou ferido na ocorrência.

Um em janeiro de 2019

No noite de 5 de janeiro de 2019, o policial Sudré atirou contra um homem, identificado apenas pela idade (46), na rua Caravelas, no Parque Independência, também em São José dos Campos. Ele teria roubado um estabelecimento e, na tentativa de fuga, teria trocado tiros com o policial. (Continua)

 

17
Jun20

PM que matou menino de 12 anos em SP tem carreira marcada por cadáveres

Talis Andrade

 

miguel12 morto pelo cabo sudré .jpg

Cabo Sudré, o Carioca, já se envolveu em pelo menos nove mortes e já o comparam ao Cabo Bruno, serial killer famoso nos anos 1980

Por Claudinho Silva, do SOS Racismo, e Laura Capriglione, dos Jornalistas Livres

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O policial militar cabo Thiago Santos Sudré, de São José dos Campos (94 km de São Paulo), que matou no dia 6 de setembro o menino Miguel Gustavo Lucena de Souza, de 12 anos, dentro de um parque de diversões da cidade, tem um histórico sinistro de homicídios. Foi divulgado nesta quarta-feira pelo portal UOL que, antes de matar Miguel, o cabo Sudré, conhecido pela alcunha de “Carioca”, envolveu-se pelo menos em outras oito mortes. Todas as mortes que possuem algum registro referem-se àquilo que, no jargão policial, chama-se de resistência seguida de morte (quando o infrator tenta agredir o policial e este, para se defender da “injusta agressão”, atira em legítima defesa). Curiosamente, nenhuma das ocorrências resultou em ferimentos dos PMs envolvidos, o que enseja a suspeita de que, ou não tenha ocorrido a alegada “resistência”, ou que os infratores fossem ruins demais de pontaria.

O assassinato do menino Miguel foi revelado pelo SOS Racismo e pelos Jornalistas Livres. Segundo vizinhos, duas semanas antes, o mesmo cabo invadiu, sem mandado judicial, o apartamento familiar para ameaçar o menino e sua mãe, dizendo a ela: “Se eu pegar o Miguel na rua, pode comprar um caixão pequeno, porque ele não vai voltar mais”. Andréia, a mãe, ainda tentou explicar ao policial que o filho era “dependente químico”, ao que o PM respondeu: “Ele é uma sementinha do mal”. O diminutivo se explica: Miguel tinha apenas 1 metro e 33 centímetros de altura. Era um menininho negro, inteligente e sonhador. (Continua

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