Quase uma semana após o registro da agressão, a Polícia Civil do Governo de Minas Gerais ainda não conseguiu ouvir o depoimento do empresárioRafael Ferreira Birro de Oliveira, 35 anos,identificadocomo sendoo agressor da faxineiraLenirge Alves de Lima, de 50 anos.
Elefoi intimadoa prestar depoimento na última terça-feira (20),mas não compareceu. Neste dia, de acordo com a Polícia Civil, o advogado de Rafael Birro fez contato solicitando que o homem fosse ouvido em outro momento, de "forma reservada".
O caso aconteceu na sexta-feira (16), enquanto a faxineira lavava a calçada do prédio em que trabalha usando uma mangueira. Além de ser encharcada pelo empresário, Lenirge caiu na calçada e machucou o joelho(assista no vídeo mais abaixo) e braços.
A faxineira registrou um boletim de ocorrência no dia da agressão. No sábado (17), ela passou por um exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte.
Og1 Minastenta localizar o advogado do empresário.
Representação criminal
Na segunda-feira (19), três dias após seragredida, a faxineira fez uma representação criminal.
Não imaginava que eu ia passar esse final de semana da maneira que foi: sem dormir direito, sem comer, assustada, deprimida. Chegar aqui hoje foi muito difícil porque eu nunca passei por esse momento, nunca imaginei que eu ia ter que chegar em uma delegacia por causa de uma agressão. Minha esperança é que a justiça seja feita, que a justiça fique do meu lado e que aqui vou conseguir punir esse covarde", desabafou.
O caso segue no Juizado Especial Criminal. A vítima foi orientada a ir à Justiça,onde será marcada a data da primeira audiência criminal.
Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que o agressor passou pelo local, em frente a um condomínio. Valentão, e covardemente, ele tirou a mangueira das mãos da mulher com violência e a deixou encharcada.
A faxineira, que caiu no chão, machucou o joelho e braços.
Ele tomou a mangueira e já foi jogando no meu rosto, me sufocando, e eu sem poder gritar. O porteiro perguntou por que eu não gritei, mas não tinha como", disse Lenirge.
A constatação é de um estudo da psicóloga Vera Paiva e revela que o suicídio nem sempre é motivado por doenças mentais e que pode estar atrelado a motivos sociais
Texto Jornal USP
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Neste mês comemora-se o Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização da população acerca do suicídio, criada em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens entre 15 a 29 anos e 77% deles ocorre em países pobres.
O artigo Prevalência e determinantes sociais da ideação suicida entre estudantes brasileiros em escolas públicas do ensino médiobusca sanar uma lacuna nas estatísticas de suicídio entre jovens brasileiros. Comumente associado a doenças mentais, o suicídio pode estar atrelado a motivos sociais, “à desigualdade econômica, um crescimento de desemprego, da flexibilidade de emprego, a falta e a destruição das políticas de proteção social”, como explica a professora do Instituto de Psicologia da USP e um dos autores do estudo, Vera Paiva. Ela também ressalta que esse problema “tem sido associado com desigualdade de gênero”.
O estudo revela que a taxa de suicídio é maior entre meninos e que está diretamente ligada a fatores socioeconômicos, de bem-estar social e pertencimento, como a renda baixa, bullying e até ao estudo no período noturno. Ainda assim, jovens que estão diretamente expostos à LGBT+ fobia e que se assumem parte da comunidade LGBTQIA+ são o grupo mais afetado.
Mesmo que o número de suicídios não tenha aumentado consideravelmente na pandemia, o que aconteceu foi uma mudança nos grupos que o idealizam. “A gente não viu um aumento expressivo, a gente viu mudanças dos grupos que estão mais ou menos afetados”, explica a professora.
O papel da escola
O projeto, financiado pela Fapesp e liderado pela professora e por Marcos Roberto Vieira Garcia, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), surgiu a partir de uma demanda das escolas e dos professores para que o assunto de saúde mental fosse abordado nas escolas.
“A escola não tem condições plenas de resolver esse assunto, mas tem sim condições de evitar a discriminação, o bullying baseado em qualquer uma desses elementos e fazer o compartilhamento das situações de sofrimento”, ressalta Vera. “As professoras não são capacitadas para lidar com um evento de saúde mental ou lidar com famílias”, observa.
A atuação das escolas na prevenção do suicídio e na diminuição do sofrimento psicossocial desses grupos mais afetados é muito importante, porém, deve ser direcionado. Abordar o assunto, promover um ambiente de segurança a esses grupos, pautar temas como a LGBT fobia e estar atento a sinais são medidas que podem ser tomadas por essas instituições. Uma das melhores formas de prevenção, segundo Vera Paiva, é o sentimento de pertencimento e poder conversar e se reunir com pessoas parecidas.
Vera Paiva
Sistema de saúde
A culpabilização dos pacientes e o encaminhamento destes não são o mais recomendado. O Sistema Único de Saúde, que oferece acompanhamento nesses casos, não dispõe de atenção individualizada, o que é imprescindível. “A maior parte do que é oferecido para eles é o atendimento em grupo, e na primeira chegada eles querem ser recebidos individualmente, querem ser escutados individualmente”, explica a pesquisadora. “É necessário mudar o modo como o serviço de saúde acolhe os jovens”, finaliza Vera.
Fim do preconceito no mercado de trabalho, direito ao casamento homoafetivo, à adoção de filhos por casais de pessoas do mesmo sexo: a luta da comunidade LGBTQIA+ é pensada, na maioria das vezes, pela ótica adulta, deixando crianças e adolescentes em uma invisibilidade social que torna suas experiências pessoais ainda mais desafiadoras. Por isso mesmo, é preciso “marcar de uma maneira muito forte a existência dessas crianças”, alerta Regiani Abreu, que integra a ONG Mães pela Diversidade.
Criada em 2014, essa associação, formada por pais e mães que se posicionam contra a homofobia e a transfobia, colocacrianças e adolescentes LGBTQIA+ no centro de sua atuaçãoe enfatiza a importância do acolhimento da sociedade, e principalmente da família, para a superação de uma fase da vida já tradicionalmente complexa.
“Todos nós convivemos com crianças LGBT, inclusive na nossa infância, mas essas vivências são suprimidas, apagadas. Então um primeiro movimento é [pelo reconhecimento da] existência dessas crianças, e um segundo movimento é chamar toda a sociedade para que abrace nossos filhos, no sentido de admitir que existe um bullying, que existe uma supressão dessa existência”, destaca Abreu.
Representante da Mães pela Diversidade em São Paulo, ela enfatiza duas condições muito particulares em crianças e adolescentes LGBTQIA+: a falta de emancipação, financeira e legal, para que deixem seus lares quando não são aceitos por suas famílias, além de já estarem vivenciando fases especialmente delicadas de formação e afirmação de sua individualidade, personalidade.
“Mas se você tem acolhimento dentro da sua casa, se você tem para onde voltar apesar detodas as violências que possa vivenciar na rua, na escola, todo o bullying, se você tiver sua família para se refugiar, você consegue crescer de maneira íntegra, saudável, você consegue desenvolver suas potencialidades”, acredita Regiani Abreu.
“Um colo para onde voltar”
Entre os pais e mães que tendem a negar a sexualidade de seus filhos, ela conta ser comum que estes acreditem que seus comportamentos sejam ou para afrontá-los, ou apenas uma fase, ao que ela responde sem hesitar: “Nós somos feitos de fases. Então, por que não acolher esta fase dos nossos filhos?”.
Aos pais e mães que integram a ONG e trocam experiências para melhor acolher — e proteger — seus filhos, filhas e filhes, Abreu sugere: “É muito importante que as famílias saibam que esta é só mais uma característica do seu filho, e você não pode se pautar somente por ela. Então observe também se seu filho está alegre, se está aprendendo na escola, se está feliz, se alimentando bem, se tem amigos, como toda criança”.
Para potencializar essa luta pela visibilidade de crianças e adolescentes LGBTQIA+, o Mães pela Diversidade criou a campanha “Abrace nossos filhos”, que busca sensibilizar a sociedade sobre a condição desses jovens: “Agora, nesse momento, tem uma mãe aqui falando na rádio, mas também tem uma mãe falando em uma fábrica, uma mãe acolhendo outra mãe, acolhendo um jovem que foi expulso de casa, tem uma mãe que está distribuindo marmitas para LGBT’s em situação de rua. Nós somos muitas mães”.
A vice-presidenta do PCdoB, Manuela d’Ávila, relatou, pelas redes sociais nesta quinta-feira (10), algumas das inúmeras agressões que sofreu especialmente nos últimos oito anos, boa parte dos quais ligadas ao MBL e à extrema-direita.
A motivação de Manuela foi a declaração do deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP), o “Mamãe Falei”, do MBL, de que estaria com medo de sair à rua depois do vazamento e da repercussão do áudio misógino e preconceituoso no qual disse que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres”.
Ando nas ruas de cabeça erguida porque sei quem sou e o que defendo e sei quem são os mentirosos que me atacam
Eu lembro a primeira vez em que fui agredida por causa de uma fakenews: era 2014.
Eu estava tomando café com meu marido e um menino olhou para mim e passou a me agredir por conta de uma notícia mentirosa publicada num perfil de Twitter e num site que mentia ser de humor.
Pouco tempo depois, estava grávida e fui agredida numa ação orquestrada por um deputado ligado ao MBL.
Quando estava com quatro meses de gestação, o MBL (associados com blogs de extrema direita) criou uma fakenews em que diziam que eu havia ido aos Estados Unidos Fazer enxoval. As pessoas acreditaram. Eles usaram a foto de meu enteado ainda criança. Ele também passou a ser atacado nas redes sociais.
Quando Laura nasceu, o relato detalhado do meu parto foi feito nas redes sociais por uma médica que conseguiu informações e fez com que o dia seguinte ao nascimento de minha filha se transformasse numa batalha para barrar as publicações e comentários de ódio a nosso respeito.
Quando Laura tinha 45 dias foi agredida fisicamente porque a agressora acreditou na fakenews do enxoval nos Estados Unidos e também na ideia de que uma mulher como eu não poderia ter roupas para sua filha porque na Coreia não era assim.
Meu marido foi expulso de um clube porque era casado com uma comunista.
Em 2018, milhões de brasileiros compartilharam a notícia falsa que eu havia ligado 18 vezes para Adelio Bispo no dia da facada no candidato adversário.
Em 2021, minha filha foi fotografada na porta da escola.
Essa imagem foi distribuída inclusive pela esposa do vice-prefeito (ex presidente do MBL).
Logo em seguida, a mesma imagem passou a ser usada por grupos de ódio para nos ameaçar de morte e estupro.
Não consigo contar o número de vezes que fui agredida no supermercado ou na rua por conta dessas mentiras.
Há oito anos, eu sinto medo por mim e pelos meus.
Mas eu ando nas ruas de cabeça erguida porque sei quem sou e o que defendo e sei quem são os mentirosos que me atacam.
Já esse deputado tem medo de sair na rua porque descobriram exatamente quem ele é”.
Nas mensagens, às quais a coluna teve acesso, o parlamentar afirma que as refugiadas que ele encontrou na fronteira entre a Eslovênia e a Ucrânia “são fáceis porque são pobres”. Ele diz também que a fila da baladas brasileiras “não chega aos pés da fila de refugiados aqui”.
Vou te dizer, são fáceis, porque elas são pobres. E aqui minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’, e é inacreditável a facilidade”, diz o deputado, que é pré-candidato ao governo de São Paulo nas eleições deste ano e conta com apoio do ex-juiz Sergio Moro.
Sergio Moro
O Dep. Arthur do Val e Renan Santos, do @MBLivre, decidiram reportar in loco o conflito na fronteira da Ucrânia. Também angariaram ajuda financeira para amparar refugiados. É sempre louvável quando saímos do discurso e partimos para a prática.
MBL - Movimento Brasil Livre
Obrigado a TODOS que entraram nessa. Dá pra fazer coisas GIGANTES sem precisar esperar pelos outros. VAMOS PRA CIMA! MBL arrecada R$ 180 mil para ucranianos após ida de integrantes à fronteira do país @estadao: https://politica.estadao.com.br/blogs/coluna-do-estadao/mbl-arrecada-r-180-mil-para-ucranianos-apos-ida-de-integrantes-a-fronteira-do-pais/
“Só vou falar uma coisa para vocês: acabei de cruzar a fronteia a pé aqui, da Ucrânia com a Eslováquia. Eu juro, nunca na minha vida vi nada parecido em termos de ‘mina’ bonita. A fila das refugiadas… Imagina uma fila sei lá, de 200 metros, só deusa. Sem noção, inacreditável, fora de série. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui”, diz o deputado estadual em outro áudio.
Em outro trecho das mensagens, Mamãe Falei baixa ainda mais o nível e diz ter encontrado garotas que “se ela cagar, você limpa o c* dela com a língua”.
Mano, estou mal. Passei agora, 4 barreiras alfandegarias, duas casinhas pra cada pais. Eu contei, sã 12 policiais deusas. Que você casa e faz tudo que ela quiser. Eu estou mal cara, não tenho nem palavras para expressar. Quatro dessas eram minas que você se ela cagar você limpa o c* dela com a língua. Inacreditável. Assim que essa guerra passar eu vou voltar para cá”, diz o deputado estadual.
Procurada, a assessoria de imprensa do parlamentar [que tem ódio aos pobres] diz estar tentando entrar em contato com o deputado. A diferença de fuso horário entre o Brasil e a Ucrânia é de cinco horas.Mamãe Falei se filiou ao Podemos em janeiro deste ano, com objetivo de ser o nome apoiado por Moro ao Palácio dos Bandeirantes. Nas redes sociais, o ex-juiz afirmou que a iniciativa do deputado estadual e do coordenador do MBL, Renan Santos, de irem à Ucrânia é “louvável”.
Lenio Luiz Streck
O Dep. Mamãe Falei (que nome escroooto) está na Ucrânia. E, para nenhuma surpresa, faz Live machista, sexista e misógina. Para um trabalho completo, faltou só uma pitada de racismo. Tudo típico desse tipo de gente. Que se elegeu na onda da antipolítica. Criada pelo lavajatismo!
Moro não se ajuda. Se empolgou e elogiou seu apoiador Mamãe Falei. Pois não é que o tal Mamãe faz uma grande cagada e diz que as ucranianas são facinhas “de pegar” porque sao pobres (além de outros horrores que disse). Moro mandou abraço ao Mamãe! Não se ajuda! Bah!
Manuela
@ManuelaDavila
O áudio misógino do deputado do MBL é nojento. Mas não surpreende aqueles que conhecem a trajetória nefasta do indivíduo e de sua turma.
Natália Bonavides
@natbonavides
Enojantes as falas do deputado Arthur do Val. Soma mais um episódio racista e machista em sua “excursão” p/ Ucrânia. Áudios dão conta da forma assediosa e nojenta que o político narra as mulheres refugiadas. Absurdo que continue fazendo uma tragédia de cenário para caçar likes!
Marina Sena vem sendo atacada por um misterioso kacker.
Publica G1:
"Eu já vinha recebendo muito 'hate' por um incômodo das pessoas com a minha voz. Um dia lá em Taiobeiras eu sonhei em ser artista, mudar minha vida e da minha família, fiz o meu melhor, estou há 7 anos trabalhando, e agora finalmente eu consegui algum reconhecimento por tudo que já fiz", afirma a cantora mineira.
Hoje, posso dizer que a experiência tem se tornado insuportável, porque o que estão fazendo não é apenas dando suas opiniões, o que estão fazendo é bullying e isso é muito sério".
"Muita gente me fala: seja forte, sucesso é assim! Mas eu não posso achar normal isso, nem ninguém deveria, isso mostra a decadência em que se encontra a sociedade, e quantos artistas incríveis a gente deve perder por maldade".
"Tô triste, por mim, por todas as pessoas que passam por isso, mas tô muito mais triste por saber que é esse o mundo em que a gente vive, de pessoas tão ruins. Estamos em contato com o Instagram, que ainda não justificou nem explicou o que aconteceu. Espero que tudo se resolva logo".
Luísa Sonza, cantora que sempre foi muito atacada por haters, fez um post em solidariedade à Marina. Duda Beat, Sabrina Sato e Gloria Groove foram outras famosas que se manifestaram nas redes sociais.
Julgava que a língua ia facilitar a comunicação, mas já esbarrou muitas vezes com o preconceito: desde recusarem-se a falar com ela em situações profissionais por causa do seu sotaque a acusarem-na de ter vindo “roubar maridos”. Quinto episódio da série Nada contra, mas... Testemunhos na primeira pessoa para ver sem preconceitos e sem "mas"
Quando as pessoas percebem que é brasileira, Samara sente a pressão aumentar. “Você não pode errar, não pode ter algum comportamento ou vestir-se de uma maneira porque vão julgar-te por isso”. E não só. Pelo sotaque também. Depois de seis anos em Portugal, Samara “ainda” tem um sotaque carregado, uma aparente contradição a julgar pelos comentários que lhe são dirigidos. “O português não considera o português do Brasil uma língua.”
Samara já foi chamada à atenção no trabalho porque um cliente não gostou de ver expressões brasileiras escritas nos emails. Expressões como “por gentileza”. “Eu não tinha sido mal-educada, mas eles perceberam que eu sou brasileira e implicaram comigo”. A sua avaliação já veio com uma nota para melhorar o português europeu.
Ultrapassada a barreira da língua, surgem outros preconceitos. Samara ainda estava a estudar quando começou a procurar emprego e recorda duas entrevistas em que foi posta de lado por ser uma mulher brasileira. “Estava esperando uma resposta e o suposto empregador chegou ao pé de mim e disse que não me poderia contratar porque não sabia como se iria controlar ao meu lado. E eu pensei, como assim, controlar-se?”
Da segunda vez, uma posição numa seguradora foi-lhe negada por receio de que Samara acabasse por “seduzir os clientes”. A imagem de sedutora já foi tantas vezes associada a ela que deixou de ligar. “Uma vez eu saí do trabalho para ir comprar um café e, no meio do caminho, uma pessoa percebeu que eu era brasileira e me chamou de puta. Uma amiga minha que é portuguesa ouviu e perguntou: 'Não vai fazer nada?'. Eu não, já estou acostumada”.
Samara Washington não respondeu ao insulto, mas há conversas que não quer deixar de ter. Com os portugueses, sobre os seus preconceitos. E sobre o verdadeiro contributo dos imigrantes para as contas da Segurança Social. Em 2019, a Segurança Social obteve um saldo positivo de 884,4 milhões de euros com os imigrantes.
“Pode ser um assunto, maçante, batido. As pessoas dizem que já chega de falar disto. Mas não chega. Porque se a gente não fala, as pessoas nunca vão saber como é que é.”
No dia 25 de abril, o professor Sergio Ubiratã foi à Central de Flagrantes de Curitiba. Aos 61 anos, com 1,75m e 70kg, ele tinha lesões espalhadas pelo corpo e sangue esguichado na lataria do carro. Exames feitos dois dias depois, no Hospital XV, atestaram múltiplas contusões e ferimentos, mordedura humana, uma costela fraturada e traumatismo craniano leve. Apesar disso, o Boletim de Ocorrência (B.O.) registrado naquele dia descreve sua condição física como “íntegra”. O autor da agressão é um vizinho dez anos mais jovem, significativamente mais alto e forte: o policial civil Gilnei Hartleben Diel, que no B.O. aparece como “vítima”.
Foto: Sergio Ubiratã
Sergio e Gilnei são vizinhos desde 2013. Eles vivem em um condomínio no bairro Santa Cândida, em Curitiba, a três quadras da sede da Polícia Federal. Já tiveram uma boa relação, mas a convivência começou a ficar conflituosa em 2016, época do impeachment de Dilma Rousseff, por divergências políticas. “A gente tinha uma convivência interessante, um frequentava a casa do outro raramente, mas frequentava. Ele é pai de duas crianças pequenas que tinham uma relação muito boa com a minha neta, que vive conosco. Mas devido à questão ideológica, essa relação foi se deteriorando”, conta o professor.
“Ele já vinha me provocando em algumas oportunidades. Eu faço parte de um bloco carnavalesco, o Garibaldis e Sacis, e acredito que ele já tenha me visto fantasiado, então mexia comigo dizendo que eu era a rainha da bateria e essas coisas”, continua. “No domingo da agressão, o que aconteceu foi que ele entrou no condomínio, me viu na janela e começou a soltar beijinhos e a me chamar de bicha. Eu simplesmente fiquei ouvindo aquilo e deixei.”
Na versão de Sergio, o policial entrou em casa. Em seguida, ele saiu em direção ao seu carro, que estava estacionado em frente ao seu imóvel. Foi quando aconteceu o confronto. “Eu saí pela porta e ele já veio me xingando e me agredindo. Ele é bem maior que eu e é um policial, achei que podia até estar armado. A única coisa que eu fiz foi tentar me defender. Ele me bateu muito, até que um vizinho pulou e apartou. E aí eu entrei e liguei pro Felipe, meu advogado, que chamou a polícia.”
Apesar das lesões, a briga acabou ficando em segundo plano para o professor, tamanha a dor de cabeça que veio a seguir. “Durante o encaminhamento na delegacia, apareceu uma faca fake, disseram que eu estava armado, mas é uma mentira. A única coisa que eu tentei fazer foi jogar um jarro, um pequeno jarro de plástico que nem bateu nele direito.”
A versão levada ao B.O.
Quando recebeu a chamada de seu cliente, Felipe Lopes ligou para o 190 e correu para o local do crime. “A Polícia Militar chegou e decidiu nos conduzir para a Central de Flagrantes. Chegando lá, me deu um chá de cadeira de duas horas, eu fiquei inacessível ao Sergio. Quando eles me chamaram pra dentro da delegacia, tinha um B.O. que apontava a existência de uma faca que teria sido recolhida pela PM, mas que não foi objeto de atendimento da ocorrência lá na hora. O B.O. também descrevia o Sergio, que estava completamente machucado, como autor do fato e colocava o policial civil como vítima de agressão e ameaça”, relata o profissional.
Ele reitera que na delegacia foram desrespeitadas todas as suas prerrogativas de advogado e a seu cliente, foi negado o direito de registrar um novo boletim de ocorrência colocando o policial como agressor.
Tive acesso ao B.O. A descrição sumária da ocorrência é a seguinte:
“Equipe policial militar foi acionada via Copom para prestar atendimento à ocorrência na qual teriam dois indivíduos em vias de fato no condomínio. Chegando no local foi identificado o sr Gilnei Hartleben Diel, que teria entrado em discussão e posteriormente em luta corporal com seu vizinho Sergio Ubiratã Alves de Freitas, por motivos políticos. Gilnei informa que Sergio após proferir ofensas e ameaças, tentou lhe agredir com uma faca (objeto esse que foi apresentado a equipe policial e entregue a central de flagrantes.) onde conseguiu se desvencilhar e desarmar Sergio, em seguida entrando em luta corporal, em que certo momento Sergio pegou um vaso e tentou lhe acertar. Relata ainda que tem alguns processos anteriores contra Sergio. Sergio informou que após ser provocado por Gilnei vieram a discutir e entrar em luta corporal, e que em determinado momento pegou um vaso para tentar se defender tentando acertar sem êxito Gilnei. No local se fez presente Felipe Edurardo Lopes advogado de Sergio, que o acompanhou ate a elegacia. Na delegacia a equipe do Alpha do Cope acompanhou e ouviu o sr Gilnei pelo fato de ser policial civil. Resalta ainda que toda a ocorrência foi acompanhada pelo oficial cpu 20º bpm 2º ten. Zeck e seu motorista sd. Natan. Não foi necessário o uso de algemas pelo fato dos envolvidos se deslocarem por meios próprios com escolta policial. (sic)”
Na relação de objetos, consta uma arma branca: “01 faca de cozinha serrilhada, com cabo de madeira”. O caso foi atendido pelo delegado Pedro Maomé Machado, que estava de plantão. Nas redes sociais, ele se posiciona abertamente como bolsonarista.
Procurei o delegado via assessoria da Polícia Civil duas vezes: a primeira foi no dia 17 de junho, quando expus a queixa de Sergio e pontuei que Pedro Maomé Machado partilha da visão política de Gilnei. Perguntei se ele gostaria de se pronunciar, mas recebi uma nota protocolar que dizia: “A Polícia Civil do Paraná informa que os fatos ocorreram no dia 25 de abril deste ano, conforme boletim confeccionado pela Polícia Militar. No dia dos fatos, o caso foi atendido pela Central de Flagrantes de Curitiba e lavrado o termo circunstanciado. Este já foi encaminhado ao Poder Judiciário com audiência entre as partes já realizada no dia 16 de junho”. Na sexta (25), me dispus a ouvir o delegado novamente, até o fechamento. Desta vez, a assessoria respondeu que ele “não tem agenda para entrevista”.
A defesa do professor afirma que ele não avançou sobre o vizinho com uma faca e que a polícia não tomou o devido cuidado com a arma para preservar as investigações. “Eu só tive acesso ao Sergio por volta das nove da noite. Pouco antes disso, chegou a equipe do COPE e aí apareceu essa faca. Essa equipe só foi por conta d’ele (Gilnei) ser policial civil. O instrumento foi jogado em cima das mesas lá. Não é nada daquilo que a gente vê nos filmes, a arma não chegou no saco plástico. Simplesmente jogaram a faca em cima da mesa”, diz Felipe.
Sergio garante que nunca viu a faca antes e questiona: “O que a gente tem hoje é um caso que envolve a própria credibilidade das forças de segurança do Estado. Qualquer agente pode plantar uma prova e aí você fica refém dessa situação?”
De acordo com o professor, Gilnei tem câmeras apontando para a frente de sua casa e elas certamente registraram a agressão, mas as imagens não foram apresentadas até o momento. A reportagem não conseguiu fazer contato com o vizinho que apartou a briga, única testemunha ocular do fato. Ele também não falou com as autoridades. Sergio e Gilnei fizeram exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), mas os laudos também não estão disponíveis ainda.
Câmeras em frente à casa de Gilnei. Fotos anexadas ao processo
Como o crime registrado – ameaça – é de menor potencial ofensivo, o Termo Circunstanciado (TC) seguiu para o Poder Judiciário. A defesa de Sergio fez dois pedidos ao júri: a retificação do B.O. e o resultado do exame de lesões corporais. A audiência de conciliação entre as partes aconteceu na semana passada. O advogado de Gilnei apresentou uma proposta de respeito mútuo, que foi prontamente negada por Sergio, representado por Felipe. Eles preferiram seguir em frente para que sejam analisados os pedidos feitos no processo.
Injúrias
Liguei para Gilnei. Ele – um policial civil com dez anos de experiência em investigação – me disse que, desde 2016, Sérgio proferiu diversas “provocações verbais” pela janela de casa e chegou a injuriá-lo centenas de vezes nas redes sociais. “A certa altura, eu printei algumas coisas e fui conversar com ele. Eu disse: ‘por que que você está fazendo isso aí comigo? Eu nunca me posicionei, eu respeito a tua ideologia, eu só tenho outra.’ No mesmo dia, ele continuou a me injuriar pelo Facebook. E aí eu entrei com um processo contra ele, só que por uma inépcia da minha advogada – ela teria que ter feito uma queixa e acabou fazendo uma representação – isso aí foi arquivado.
Sobre a briga, ele foi pontual: “Ele continuava me provocando, me provocando e tal, aí nós acabamos desencontrando ali. Ele veio e me jogou um vaso de flor que acabou pegando no meu dedo. E como eu consegui me esquivar desse vaso, ele puxou uma faca serrilhada que ele usava acho que para jardinagem – estava no parapeito dele – e aí veio pra cima de mim. Eu consegui retirar a faca dele, apesar de ter sofrido um corte no braço e tal. E aí a gente acabou, né, entrando em luta corporal ali, até por função disso aí. (…) Eu tive várias lesões, tá? Elas estão laudadas lá no IML, mas no dia eu acabei não tirando foto. Eu fiquei totalmente arranhado, com lesões nas pernas, no braço, corte no braço.”
Pedi para ver os posts injuriosos, mas o policial se recusou a me enviar sob a justificativa de que seriam muitos: 180 a 200 publicações. Em seguida, falou que os prints estavam “oficialmente” registrados em três atas notariais disponíveis em um cartório de Curitiba. Fui atrás dessas certidões e me deparei com 23 prints de postagens políticas de Sergio e a transcrição de uma ligação telefônica.
Alguns dos posts que constam nas atas são direcionados à polícia, outros provocam alguém que Sergio chama de “vizinho”, “canalha” e “imbecil”. Por exemplo: “E aí, vizinho… como era mesmo? Moro livrai-nos do mal. Era isso? Kkkkk imbecil”, ele provoca numa publicação do dia 22 de janeiro de 2019. O nome de Gilnei não é expressamente mencionado nas publicações.
Um dos posts registrados em ata. Imagem: reprodução/Facebook
A ligação registrada é do dia 8 de outubro de 2018. Quem atendeu foi a neta de Sergio, que passou o telefone para o avô. Durante 8 minutos e 51 segundos, Gilnei recitou postagens de Facebook, fez menção à vez que teria ajudado a esposa de Sergio, que estaria passando mal, e cobrou respeito e gratidão dos vizinhos, além de uma retratação pública. Confira alguns trechos da conversa:
Gilnei: Sergio, esses dias tava olhando, assim na…. na rede social e aí eu vi uns ‘posts’ teus a respeito de mim e da minha família… assim Sergio: família?! Gilnei: não, família sim. Aí eu queria entender por quê… por exemplo, aqui uma: “aqui jaz a sanidade humana” Sergio: é… aqui jaz… com relação a isso aqui… Gilnei: tá, mas eu acho que assim… acho que você tá falando de mim, da minha esposa, dos meus filhos…. Sergio: não tô falando de você, Gil, tô falando de todos que assumem determinada opção política. (…) Gilnei: pois é, mas o o que que tu, o que que assim, Sergio…. assim, me desculpa, o que que tu tem na tua cabeça, cara??? Sergio: assim… é o seguinte Gilnei: eu te desrespeitei? Sergio: não, de jeito nenhum… Gilnei: eu alguma vez te falei: ah você é um pão com mortadela… você é um comunista safado? Sergio: isso pra mim não é agressão…
Quanto ao processo mencionado por Gilnei, apurei que de fato foi aberto e arquivado porque os prazos e formalidades legais não foram respeitados pelo próprio autor. Não tive acesso ao conteúdo da denúncia, já que correu em segredo de justiça, a pedido de Gilnei.
Perguntei ao advogado de Sergio sobre esse processo. Ele me respondeu: “Se ele fizesse acusações efetivamente sérias, teria dado outro tratamento na justiça. Fazer boletim de ocorrência qualquer um faz, mas bancar um processo até o final, isso não é pra qualquer um.”
Felipe ainda pontuou que condutas difamatórias não justificam a agressão perpetrada por um policial contra um idoso: “Então, discussões políticas de rede social se respondem com agressão violenta? Me parece que não.”
A entrevista com Gilnei foi curta. Antes de desligar, ele me disse: “Tá, Jéssica, mas assim, volto a te dizer: eu não autorizo a divulgação do meu nome. Por favor, senão nós vamos ter outro problema. Eu não quero ter outro problema”. Em seguida, ele me pediu, via WhatsApp, para retornar a ligação, então me perguntou se eu estava falando de um telefone pessoal e qual era a minha função no jornal
Apesar do pedido, em conversa com a edição, optamos por não ocultar o nome por três razões: não há impedimento legal; a informação é de interesse público, uma vez que Gilnei ocupa um cargo na segurança pública; e mencionar apenas o nome de Sergio nos pareceu bastante desequilibrado.
“Processo de intimidação”
O caso chegou à Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), que decidiu, por unanimidade, acionar o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Paraná, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “A nossa preocupação é que casos como esse venham a se repetir se não forem tomadas providências”, afirma o deputado Tadeu Veneri, presidente da Comissão.
“No relatório que fizemos há um pedido de providência com relação ao tratamento que foi dado pela Polícia Civil e também pela Polícia Militar, porque houve um isolamento do Sergio, que é o reclamante, durante o período em que ele faria o depoimento. Depois apareceu uma faca – e o Sergio diz que essa faca foi trazida por dois policiais e uma policial do COPE”, detalha Veneri.
“Os policiais civis e do COPE tiveram acesso à sala onde Sergio estava aguardando, inclusive o próprio policial que o agrediu, uma coisa absolutamente fora de contexto, né? Se você foi agredido por alguém, imagine estar numa sala e de repente chegar o agressor, tomar café, bater papo com todo mundo, depois chegarem mais amigos do agressor… É óbvio que tudo isso aí é um processo de intimidação”, opina. “A OAB também será acionada porque em certo momento o advogado do Sergio foi impedido de acompanhá-lo, coisa que é prerrogativa do advogado.”
O deputado ainda questiona a presença do Centro de Operações Policiais Especiais (COPE) durante o atendimento da ocorrência. “É claro que nos interessa saber qual é a posição do secretário de segurança sobre isso. Não é possível que a corporação faça uma cobertura do caso como se fosse uma agressão à própria corporação. Primeiro: a briga aconteceu num período em que o policial não estava em horário de trabalho. Segundo: foi entre duas pessoas sem que houvesse interferência de uma terceira. Terceiro: nós entendemos que agressões como essa têm que responder civilmente.”
O Ministério Público do Paraná informou que o caso “não é exatamente área de atribuição do Gaeco”, mas confirmou que recebeu as informações sobre o fato. A Polícia Civil do Paraná acrescentou que “administrativamente, a petição da defesa do noticiado chegou na Corregedoria-Geral no dia 10 de junho”. Desta forma, “a investigação preliminar está em tramitação na Corregedoria de Assuntos Internos.”
4 comentários sobre “Em briga por política, policial bolsonarista espanca professor e é registrado como vítima no B.O.”
Abominável a atitude do policial. Conheço o Prof. Sérgio há muitos anos e se há algo que posso afirmar com absoluta segurança é que ele não é uma pessoa violenta e jamais tentaria agredir alguém com faca, principalmente tratando- se de diferenças de pontos de vista em relação á politica
Põe a arma na mão de uma pessoa desqualificada como essa, despreparada, e é isso o que dá. Como passou em um exame psicotécnico? Imagine o que não deve ser da família desse cidadão de bem, o que não deve passar. Muito bom exemplo de policial… xerox mal feita e depauperada do ídolo dele.
Bolsonaro e Cláudio Castro no Palácio Laranjeiras, na quarta-feira 5, véspera do Massacre de Jacarezinho
O presidente da República Jair Bolsonaro e o governador do Rio Cláudio Castro (PSC) marcaram uma reunião secreta nesta quarta-feira no Palácio Laranjeiras, Zona Sul do Rio. Bolsonaro chegou ao local por volta de 16h40. A conversa virou a noite. Não deu outra, "o som de tiros no Jacarezinho deixou moradores da favela e de bairros próximos aterrorizados desde as primeiras horas de quinta-feira (6). Eram os primeiros minutos da operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro. Agentes da Polícia Civil ficaram na favela por nove horas - nove horas de terror para quem vive na comunidade". Uma das poucas favelas sem as milícias que comandam o crime na ex-Cidade Maravilhosa, ex-Capital do Samba, hoje entregue ao Rock in Rio. Nem com o Exército, com o general Braga interventor militar de Michel Temer, as forças armadas tiveram a audácia de invadir os territórios milicianos.
Né engraçado, Bolsonaro visita o governador na virada da noite, e a polícia amanhece na favela do Jacarezinho, favela cobiçada pela milícia? O objetivo, reclamam os moradores, "deixar nossos corpos, nossos ossos no chão" ensanguentado. O sangue de 29 corpos, 28 civis e um militar.
Agenda Nacional Pelo Desencarceramento
Em 2019 mais de 1.500 cartas das crianças da Maré/RJ foram enviadas para o Judiciário do Rio, descrevendo o horror das operações policiais. “Não gosto do helicóptero porque ele atira pra baixo e as pessoas morrem”
Bolsonaro pode ter convocado a polícia do Rio para enfrentar o STF, diz Nassif
247 - O jornalista Luis Nassif observa, no jornal GGN, que os apoiadores do bolsonarismo estão tentando justificar a chacina que deixou 25 mortos na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, utilizando o argumento de que a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, que determinou a suspensão de operações policiais nas comunidades durante a pandemia, teria permitido que as facções criminosas se armassem.
Para ele, “desde o início de governo, Bolsonaro se imiscuiu na segurança do Rio de Janeiro. A seu pedido, em maio de 2020 o então Ministro da Justiça Sérgio Moro afastou o delegado Ricardo Saadi, alegando problemas de “produtividade”. Conferiu-se, depois, que, sob Saadi, a Superintendência do Rio ostentou os melhores índices de produtividade de todo o país”. “Ao mesmo tempo, investiu contra a fiscalização da Receta Federal no porto de Itaguaí, no Rio, porta de entrada do contrabando de armas no país”, completa.
Nassif também destaca que “o ex-governador Wilson Witzel desmontou a Secretaria de Segurança e transformou a Polícia Civil e a Militar em Secretarias. Ou seja, sem nenhuma intermediação política e definindo, de moto próprio, as ações de repressão. Com a queda de Witzel, o sucessor Cláudio Castro nomeou os novos Secretários em acordo direto com Jair Bolsonaro”.
“No dia 5 de maio, Bolsonaro iniciou o dia com ataques ao Supremo. Deu declarações de enfrentamento nítido ao Supremo, sustentando que editaria uma medida contra os governadores que ‘não vai ser contestado por nenhum tribunal, porque será cumprido’”. “Na sequência, Bolsonaro rumou para o Rio de Janeiro e reuniu-se com o governador Cláudio Castro”, pontua. “No dia seguinte, explode a Operação que massacrou 25 pessoas”, observa o jornalista no texto.
“Na coletiva, o chefe da operação acusa diretamente o Supremo pela tragédia. Segundo ele, a decisão do Ministro Luiz Edson Fachin, de impedir operações durante a pandemia, permitiu o fortalecimento do tráfico, levando ao confronto. Esse mesmo discurso seria repetido no dia seguinte pelo principal porta-voz de Bolsonaro, jornalista Alexandre Garcia", diz Nassif.
"Massacre do Jacarezinho é terrorismo bolsonarista", diz Pannunzio
O jornalista Fábio Pannunzio, em artigo publicado neste sábado (8) intitulado "Massacre do Jacarezinho é terrorismo bolsonarista", evidenciou a influência da narrativa de Jair Bolsonaro na operação policial na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, que deixou 28 mortos.
Depois de destacar o silêncio de Bolsonaro diante do fato, que "não mereceu uma palavra sequer" do chefe do governo federal, o jornalista citou uma fala do delegado Rodrigo Oliveira, que falou à imprensa sobre a ação policial: “a Polícia Civil não vai se furtar de fazer com que a sociedade de bem tenha seu direito de ir e vir garantido”.
O termo "sociedade de bem", salienta Pannunzio, é "um mantra do bolsonarismo". "A ‘sociedade de bem’. O direito de ir-e-vir num local em que nenhum outro direito assiste à população. É possível ouvir a voz de Bolsonaro soprando no ouvido dos policiais a senha ideológica para que os jagunços da milícia civil fluminense fizessem o que fizeram".
"Qualificado como ‘dano colateral’ pelos insufladores da onda neofascista que varre o Brasil, o massacre no Jacarezinho foi na verdade uma inequívoca demonstração de força do bolsonarismo – especialmente do que ele é capaz, em sua escalada de brutalidade e selvageria", avalia o jornalista.
Nota deste correspondente: O ataque à creche, em Saudades, ação insana, cruel, solitária de um garoto de 18 anos, que sofria bullying. A chacina do Jacarezinho foi praticada por 250 militares da ativa, treinados e bem armados, que mataram a sangue frio 28 civis favelados, negros e pobres.
Primeira vereadora negra eleita na Câmara de Curitiba, Carol Dartora recebeu ameaças de morte por e-mail
Ataques contra vereadoras de várias cidades ocorreram em dezembro e polícia ainda busca autores. Vítimas relatam rotina de medo especialistas alertam para escalada das ameaças no país, enquanto os EUA refletem sobre banalização dos discursos de ódio nas redes
por ISADORA RUPP /El País
Injúrias raciais, infelizmente, não são uma novidade para a professora Ana Carolina Dartora, 37 anos. Primeiro vereadora negra eleita nos 327 anos da Câmara Municipal de Curitiba, e a terceira mais votada na capital paranaense nas eleições 2020, sua campanha foi permeada por ataques, sobretudo nas redes sociais. Até então, Carol Dartora ―como é conhecida a vereadora filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT)― considerava as mensagens inofensivas. Mas no início de dezembro ―logo após uma entrevista do prefeito Rafael Greca (DEM) na qual o mandatário disse discordar da existência de racismo estrutural na cidade― ela recebeu por e-mail uma mensagem a ameaçando de morte, inclusive com menção ao seu endereço residencial.
No texto, o remetente chama a vereadora de “aberração”, “cabelo ninho de mafagafos”, e diz estar desempregado e com a esposa com câncer. “Eu juro que vou comprar uma pistola 9mm no Morro do Engenho e uma passagem só de ida para Curitiba e vou te matar.” A mensagem dizia ainda que não adiantava ela procurar a polícia, ou andar com seguranças. Embora Carol tenha ouvido de algumas pessoas que as ameaças eram apenas “coisas da Internet”, especialistas ouvidos pelo EL PAÍS ponderam que não se deve subestimar os discursos de ódio ―a exemplo de toda a discussão que permeiam os Estados Unidos desde a quarta-feira, 6 de janeiro,quando extremistas apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio em protesto contra a derrota do presidente, provocando cinco mortes.
O e-mail, com texto igual, também foi enviado para Ana Lúcia Martins (PT), também a primeira mulher negra eleita para vereadora em Joinville (SC). As vereadoras trans Duda Salabert (PDT), de Belo Horizonte, e Benny Briolly (PSOL), de Niterói (RJ), também foram ameaçadas pelo mesmo remetente. Até aqui, as investigações policiais dão conta de que o ataque orquestrado partiu de uma célula neonazista que atua sobretudo nas profundezas da internet, a chamada deep web. O provedor do qual a mensagem foi enviada tem registro na Suécia, o que dificulta o rastreamento por parte das polícias civis e, no caso do Paraná, do Núcleo de Combate aos Cibercrimes.
“Fiquei olhando para a mensagem perplexa, sem conseguir processar muito. O espanto de outras pessoas do partido me deu o alerta”, contou Carol ao EL PAÍS. “A violência não é só objetiva. A violência política acompanha a minha trajetória e a das outras vereadoras ameaçadas, com barreiras que vão se criando para que a gente não tenha êxito. Nenhuma mulher deveria enfrentar tanta coisa para exercer um direito básico da democracia”, frisa.
Desde então, o medo faz parte do cotidiano da vereadora de Curitiba. “Tô tentando ser mais discreta. Estou pensando até em mudar o meu cabelo. Isso é muito minimizado, desprezado. As pessoas pensam que é bullying, coisa de Internet. É muito nítida a questão de gênero, do sexismo aliado ao racismo.” Mas foi na Internet, por exemplo, que foi planejado, durante semanas, os ataques ao Capitólio dos EUA por grupos de extrema-direita que não aceitam a derrota de Trump para o democrata Joe Biden. (Continua)
Abominável a atitude do policial. Conheço o Prof. Sérgio há muitos anos e se há algo que posso afirmar com absoluta segurança é que ele não é uma pessoa violenta e jamais tentaria agredir alguém com faca, principalmente tratando- se de diferenças de pontos de vista em relação á politica
Ahammmm
Muito assustador! Sempre novas situações para intimidar quem não defende esse desgoverno.
Põe a arma na mão de uma pessoa desqualificada como essa, despreparada, e é isso o que dá. Como passou em um exame psicotécnico? Imagine o que não deve ser da família desse cidadão de bem, o que não deve passar. Muito bom exemplo de policial… xerox mal feita e depauperada do ídolo dele.