Peça 3 – os movimentos de opinião pública
Xadrez sobre Bolsonaro, eleições e crime
Há muita semelhança entre movimentos de opinião no mercado de ações e no mercado político. No de ações, empresas não são “boas” ou “ruins”: são “baratas” ou “caras”.
O processo é simples. Determinada ação se valoriza bastante. A partir de determinado nível, considera-se que está “cara”. Ganham espaço, então, as notícias e avaliações negativas sobre a empresa. Deflagra-se um processo de vendas do papel que provocam o chamado “overshooting”, isto é, uma radicalização do movimento de queda. E vice-versa: quando a ação se torna excessivamente barata, há um movimento inverso de compra e de predomínio das avaliações positivas, e um chute para cima.
Há casos em que a queda é tão acentuada que se torna irreversível. É quando as ações viram pó.
O grande desafio dos jogadores – no mercado ou na política – é manter o movimento até o dia do vencimento, ou das eleições.
Neste momento, o ativo Lula está em alta, quase batendo no pico. E Bolsonaro está em baixa, quase ficando barato (para seus seguidores). Contribui para tanto a perda de rumo da chamada Terceira Via, e a mídia pretendendo aumentar o “overshooting” de Bolsonaro para vê-lo virar pó, e poder, então, explorar o antilulismo. É o que explica, em parte, a moderação da mídia, rompendo um pouco o silenciamento de Lula e permitindo aos comentaristas mais independentes análises menos falaciosas sobre o candidato.
Daqui até março haverá pequenas jogadas destinadas a definir o sobrevivente da Esquadra Brancaleone da Terceira Via, se João Dória Jr (muito mais pelo peso de São Paulo do que por sua empatia) ou Sérgio Moro.
A edição desta semana da Veja, com Sérgio Moro, mostra a aposta de André Esteves-BTG-Veja de colocar um pé na canoa de Moro. E, não dando certo, voltar para Dória. E, não dando certo, apoiar Lula.
Aliás, dado o histórico de más apostas de Veja, a capa deveria preocupar Moro.
Com esses movimentos, a trégua, para Lula, durará provavelmente até março. Digo provavelmente porque a prova dos 9 será a minissérie sobre a morte de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, anunciada pela Globoplay para o final do mês.
Na época, investigação conduzida pela Polícia Civil de São Paulo, governo tucano, concluiu por crime comum. Quando a investigação chegou ao Ministério Público Estadual, este tentou transformar em crime político.
A narrativa adquiriu tal grau de fantasia que, em determinado momento, até o publicitário mineiro Marcos Valério entrou na história, atraído por uma proposta de delação premiada. Aí se considerou que seria demais e a armação não foi em frente.
Mas o factóide continuará sendo ressuscitado em cada eleição. Aliás, desde os anos 90 pululam esses factoides em período eleitoral. Depois do desastre da Lava Jato, seria de se esperar mais bom senso por parte da mídia. Dado o histórico, é esperança vaga.
Por isso, de um lado, levantarão velhos fantasmas contra o PT. Do lado de Bolsonaro, tudo indica uma enorme armação em torno da facada desferida por Adélio.